Documento 190 - As Aparições Moronciais Jesus

   
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O Livro de Urântia

Documento 190

As Aparições Moronciais de Jesus

190:0.1 (2029.1) O JESUS ressuscitado prepara-se agora para passar um curto período de tempo em Urântia, com o propósito de experienciar a carreira moroncial ascendente de um mortal dos reinos. Ainda que esse período de vida moroncial esteja para ser passado neste mundo da sua encarnação mortal, sob todos os pontos de vista, porém, será o equivalente à contraparte da experiência dos mortais do sistema de Satânia, os quais passam pela vida moroncial progressiva nos sete mundos das mansões de Jerusém.

190:0.2 (2029.2) Todo esse poder que é inerente a Jesus — o dom da vida — , e o capacitou a ressuscitar dos mortos; é a dádiva mesma da vida eterna que ele outorga aos crentes dos reinos e que assegura, ainda agora, a sua ressurreição dos vínculos da morte natural.

190:0.3 (2029.3) Os mortais dos reinos levantar-se-ão na manhã da ressurreição com o mesmo tipo de corpo de transição, ou moroncial, que Jesus teve quando se levantou da tumba naquela manhã de domingo. Esses corpos não têm sangue circulando, e tais seres não se servem de alimentos materiais comuns; contudo, essas formas moronciais são reais. Quando os vários crentes viram Jesus, depois da sua ressurreição, eles realmente o viram; não foram logrados por ilusões, visões ou alucinações.

190:0.4 (2029.4) Uma fé inquebrantável na ressurreição de Jesus foi a característica cardinal da fé em todas as ramificações do ensinamento inicial do evangelho. Em Jerusalém, na Alexandria, na Antioquia e na Filadélfia, todos os educadores do evangelho uniram-se nesta fé implícita na ressurreição do Mestre.

190:0.5 (2029.5) Ao examinarmos o papel proeminente de Maria Madalena, ao proclamar a ressurreição do Mestre, deveria ficar registrado que Maria era a porta-voz principal para o corpo de mulheres, como Pedro o foi para os apóstolos. Não era uma dirigente das mulheres que trabalhavam para o Reino, mas era a sua instrutora principal e sua porta-voz para o público. Maria tornou-se uma mulher muito circunspecta, de tal modo que a sua ousadia ao falar com um homem, a quem ela considerou como sendo o jardineiro de José, apenas indica o quão aterrorizada ficara por haver encontrado a tumba vazia. Foram a profundidade e a agonia do seu amor e a plenitude da sua devoção, que a levaram a esquecer, por um momento, a convenção que impunha a proibição à mulher judia de abordar um homem estranho.

1. Os Arautos da Ressurreição

190:1.1 (2029.6) Os apóstolos não queriam que Jesus os deixasse; por isso não deram importância a todas as suas afirmações sobre a própria morte, nem às suas promessas de ressuscitar. Eles não estavam esperando a ressurreição do modo como ela veio e recusaram-se a acreditar nela até que se confrontassem compulsivamente com a evidência irrefutável e com a prova absoluta das suas próprias experiências.

190:1.2 (2030.1) Quando os apóstolos se recusaram a crer naquilo que as cinco mulheres relataram, quanto a terem visto e falado com Jesus, elas se retiraram: Maria Madalena voltou ao sepulcro e as outras foram de volta para a casa de José, onde estas últimas contaram a sua experiência para a filha dele e às outras mulheres. E as mulheres acreditavam naquilo que ouviam. Pouco depois das seis horas, a filha de José de Arimatéia e as quatro mulheres que haviam visto Jesus seguiram para a casa de Nicodemos, e ali relataram todos esses acontecimentos a José, a Nicodemos, a Davi Zebedeu e aos outros homens reunidos lá. Nicodemos e os outros duvidaram da sua história, duvidaram de que Jesus houvesse ressuscitado dos mortos; e conjecturavam se os judeus não teriam removido o corpo. José e Davi estavam dispostos a acreditar no que ouviram, tanto que se apressaram a sair e inspecionar a tumba; e encontraram tudo exatamente como as mulheres haviam descrito. E foram os últimos a ver o sepulcro assim, pois o sumo sacerdote enviou o capitão dos guardas do templo para a tumba, às sete horas e trinta minutos, a fim de retirar de lá as mortalhas. O capitão enrolou-as todas no lençol de linho e atirou-as dentro de um precipício próximo.

190:1.3 (2030.2) Do sepulcro, Davi e José foram imediatamente para a casa de Elias Marcos, onde se mantiveram em conferência com os dez apóstolos na sala de cima. Apenas João Zebedeu se achava disposto a acreditar, ainda que vagamente, que Jesus houvesse ressuscitado dos mortos. Pedro acreditou a princípio, mas, quando não encontrou o Mestre, caiu em dúvida profunda. Estavam todos dispostos a acreditar que os judeus haviam retirado o corpo de lá. Davi não argumentaria com eles, mas, quando saiu, ele disse: “Vós sois os apóstolos e devíeis compreender essas coisas. Não discutirei convosco; contudo, volto agora para a casa de Nicodemos, onde marquei de me reunir com os mensageiros esta manhã, e, quando eles estiverem reunidos, eu os enviarei para a sua última missão, como arautos da ressurreição do Mestre. Eu ouvi o Mestre dizer que, depois de morrer, ele iria ressuscitar ao terceiro dia, e eu creio nele”. E assim falando aos deprimidos e abandonados embaixadores do Reino, esse chefe autoconvocado da comunicação e da informação despediu-se dos apóstolos. Quando saía da sala de cima, ele deixou a bolsa de Judas, contendo todos os fundos apostólicos, no colo de Mateus Levi.

190:1.4 (2030.3) Eram aproximadamente nove horas e trinta minutos quando o último dos vinte e seis mensageiros de Davi chegou à casa de Nicodemos. Davi prontamente os reuniu no espaçoso pátio e disse-lhes:

190:1.5 (2030.4) “Homens e irmãos, durante todo esse tempo, vós tendes servido a nós, de acordo com um juramento feito a mim e a vós próprios, uns aos outros; e eu vos conclamo a testemunhar que nunca antes coloquei informação falsa nas vossas mãos. Estou a ponto de enviar-vos para a vossa última missão, como mensageiros voluntários do Reino e, assim fazendo, eu vos libero dos vossos juramentos e dissolvo o corpo de mensageiros. Homens, eu declaro a vós que terminamos nosso trabalho. O Mestre não mais tem necessidade de mensageiros mortais; ele ressuscitou dos mortos. Ele nos disse, antes de o haverem prendido, que iria morrer e que levantaria de novo ao terceiro dia. Eu vi a tumba — está vazia. Conversei com Maria Madalena e quatro outras mulheres que falaram com Jesus. Agora eu desfaço este grupo, me despeço de vós e vos envio para as vossas respectivas tarefas; e a mensagem que devereis levar aos crentes é: ‘Jesus ressuscitou dos mortos; a tumba está vazia’”.

190:1.6 (2030.5) A maioria daqueles que estavam presentes trataram de persuadir Davi a não fazer isso. Mas não conseguiram influenciá-lo. Então procuraram dissuadir os mensageiros, mas estes não deram ouvidos às palavras de dúvida. E assim, pouco antes das dez horas da manhã desse domingo, esses vinte e seis corredores saíram como os primeiros arautos do poderoso fato verdadeiro do Jesus ressuscitado. E eles começaram essa missão como haviam iniciado tantas outras, cumprindo o seu juramento feito junto a Davi Zebedeu e entre eles próprios. Esses homens depositavam uma grande confiança em Davi. Partiram para essa tarefa sem ao menos parar para falar com aqueles que haviam visto Jesus; pois eles acreditaram o suficiente na palavra de Davi. A maioria deles confiava no que Davi lhes havia dito e, mesmo aqueles que duvidavam, de algum modo, levaram a mensagem com a mesma certeza e com a mesma rapidez.

190:1.7 (2031.1) Os apóstolos, do corpo espiritual do Reino, nesse dia, estavam reunidos na sala de cima, onde manifestavam temor e expressavam dúvidas, enquanto aqueles leigos, representando a primeira tentativa de socialização do evangelho do Mestre, pela irmandade dos homens, sob as ordens do seu destemido e eficiente líder, corriam para proclamar o Salvador, ressuscitado, de um mundo e de um universo. E eles engajaram-se nesse serviço memorável, antes mesmo que os seus representantes escolhidos se mostrassem dispostos a acreditar na sua palavra ou a aceitar as provas das testemunhas.

190:1.8 (2031.2) Esses vinte e seis mensageiros foram despachados para a casa de Lázaro, em Betânia, e para todos os centros dos crentes, de Berseba, no sul de Damasco, Sidom, ao norte, e de Filadélfia, no leste, até Alexandria, no oeste.

190:1.9 (2031.3) Quando Davi deixou os seus irmãos, foi até a casa de José em busca da sua mãe; os dois então seguiram até Betânia, para juntarem-se à família de Jesus, que os aguardava. Davi hospedou-se com Marta e Maria, em Betânia, até que elas se desfizessem das suas posses terrenas; e depois ele as acompanhou em sua viagem para unirem-se ao seu irmão, Lázaro, na Filadélfia.

190:1.10 (2031.4) Cerca de uma semana depois, João Zebedeu levou Maria, a mãe de Jesus, até a sua casa em Betsaida. Tiago, o irmão mais velho de Jesus, permaneceu com a sua família em Jerusalém. Rute ficou em Betânia com as irmãs de Lázaro. O restante da família de Jesus voltou para a Galiléia. Davi Zebedeu saiu de Betânia com Marta e Maria, indo para a Filadélfia, no princípio de junho, no dia seguinte ao do seu casamento com Rute, a irmã mais nova de Jesus.

2. As Aparições de Jesus em Betânia

190:2.1 (2031.5) Da época da ressurreição moroncial até a hora da sua ascensão espiritual às alturas, Jesus fez dezenove aparições isoladas, na forma visível, para os seus crentes na Terra. Ele não apareceu para os seus inimigos, nem para aqueles que não poderiam fazer um uso espiritual da sua manifestação na forma visível. A sua primeira aparição foi para as cinco mulheres no sepulcro; a sua segunda, para Maria Madalena, também no sepulcro.

190:2.2 (2031.6) A terceira aparição ocorreu por volta do meio-dia nesse domingo, em Betânia. Pouco depois do meio-dia, Tiago, o irmão mais velho de Jesus, estava no jardim de Lázaro, de pé, diante da tumba vazia do irmão ressuscitado de Marta e Maria, repassando na sua mente as novidades trazidas uma hora atrás, pelo mensageiro de Davi. Tiago inclinava-se a acreditar sempre na missão do seu irmão mais velho na Terra, mas havia muito tempo que perdera o contato com o trabalho de Jesus e, assim, tinha deixado dominar-se por graves incertezas sobre as últimas afirmações dos apóstolos, de que Jesus era o Messias. Toda a família estava estupefata e bastante confundida com as notícias trazidas pelo mensageiro. E, quando Tiago ainda encontrava-se diante da tumba vazia de Lázaro, Maria Madalena chegou sobressaltada, e relatou à família as suas experiências daquela madrugada no sepulcro de José. Antes que ela tivesse terminado, chegaram Davi Zebedeu e sua mãe. Rute acreditou, é claro, nesse relato, e também Judá, depois de conversar com Davi e Salomé.

190:2.3 (2032.1) Nesse meio tempo, quando procuraram por Tiago, e antes de encontrarem-no, enquanto permanecia ali no jardim próximo da tumba, Tiago apercebeu-se de uma presença próxima, como se alguém tivesse tocado no seu ombro; e, quando ele voltou-se para olhar, pôde ver a aparição gradual de uma estranha forma ao seu lado. Ele ficou por demais atônito para falar e amedrontado demais para fugir. E então a estranha forma expressou-se com estas palavras: “Tiago, vim com a finalidade de chamar-te para o serviço do Reino. Dá as tuas mãos sinceramente aos teus irmãos e segue os meus passos”. Quando Tiago ouviu o seu nome sendo pronunciado, ele soube que era o seu irmão mais velho, Jesus, que se dirigia a ele. Todas as pessoas apresentavam dificuldades, maiores ou menores, para reconhecer a forma moroncial do Mestre, mas poucos encontravam dificuldade para reconhecer a sua voz e identificar, de algum outro modo, a sua encantadora personalidade, uma vez que ele houvesse começado a comunicar-se com eles.

190:2.4 (2032.2) Quando Tiago percebeu que Jesus estava dirigindo-se a ele, quase caiu de joelhos, exclamando: “Meu pai e meu irmão”; mas Jesus solicitou-lhe que ficasse de pé enquanto ele lhe falava. E caminharam pelo jardim conversando por quase três minutos; falaram sobre as experiências de tempos atrás e anteciparam os acontecimentos do futuro próximo. À medida que se aproximaram da casa, Jesus disse: “Adeus, Tiago, até quando eu os vir a todos juntos”.

190:2.5 (2032.3) Tiago correu para a casa, enquanto eles o procuravam em Betfage, exclamando: “Acabo de ver Jesus e de falar com ele, até mesmo conversei com ele. Não está morto; ele ressuscitou! E desapareceu diante de mim, dizendo: ‘Adeus, até quando eu os vir a todos juntos’”. Mal acabou de falar e Judá chegou e, então, em consideração a este, Tiago contou novamente a experiência que teve com Jesus no jardim. E todos começaram a acreditar na ressurreição de Jesus. Tiago agora anunciava que não iria voltar para a Galiléia, e Davi exclamou: “Ele está sendo visto não apenas por mulheres exaltadas; mesmo os homens de corações fortes começaram a vê-lo. Espero, eu próprio, vê-lo também”.

190:2.6 (2032.4) E Davi não teve de esperar muito, pois a quarta aparição de Jesus para o reconhecimento mortal ocorreu pouco antes das duas horas, nessa mesma casa de Marta e Maria, e Jesus surgiu, bem visivelmente, diante da sua família terrena e dos seus amigos, ao todo vinte pessoas. O Mestre apareceu na porta aberta, dos fundos, dizendo: “A paz esteja convosco. Saudações para aqueles que estiveram próximos de mim na carne e irmandade para os meus irmãos e irmãs no Reino do céu. Como pudestes duvidar? Por que titubeastes por tanto tempo, até seguir, do fundo do coração, a luz da verdade? Vinde, pois, todos vós à irmandade do Espírito da Verdade, no Reino do Pai”. Quando começaram a recobrar-se do choque inicial e do próprio espanto, e iam aproximar-se dele como que para abraçá-lo, Jesus desapareceu das suas vistas.

190:2.7 (2032.5) Todos queriam correr para a cidade e contar aos apóstolos hesitantes sobre o que havia acontecido, mas Tiago os conteve. Apenas a Maria Madalena foi permitido voltar à casa de José. Tiago proibiu que eles colocassem abertamente de público que essa visita moroncial havia acontecido, por causa de algumas coisas que Jesus havia dito a ele enquanto conversavam no jardim. Mas Tiago nunca revelou mais nada sobre a conversa com o Mestre ressuscitado nesse dia na casa de Lázaro, em Betânia.

3. Na Casa de José

190:3.1 (2033.1) A quinta manifestação moroncial de Jesus, para que os olhos dos mortais o reconhecessem, aconteceu na presença de umas vinte e cinco mulheres crentes reunidas na casa de José de Arimatéia, por volta das quatro horas e quinze minutos, nessa mesma tarde de domingo. Maria Madalena havia retornado à casa de José, apenas alguns minutos antes dessa aparição. Tiago, o irmão de Jesus, havia solicitado que nada fosse dito aos apóstolos a respeito da aparição do Mestre em Betânia. Ele não havia pedido a Maria que se abstivesse de contar o ocorrido às suas irmãs crentes. Assim, depois de ter pedido segredo a todas as mulheres, Maria relatou o que havia acontecido enquanto ela esteve com a família de Jesus em Betânia. E, no meio mesmo desse relato emocionante, um silêncio súbito e solene caiu sobre elas; e todas contemplaram bem próximo de si a forma totalmente visível de Jesus ressuscitado. Ele saudou-as dizendo: “A paz esteja convosco. Na comunhão do Reino não haverá judeus nem gentios, nem ricos nem pobres, nem livres ou escravos, nem homem ou mulher. Vós também sois chamadas a tornar pública a boa-nova da liberdade da humanidade por meio do evangelho da filiação a Deus no Reino do céu. Ide a todo o mundo proclamar este evangelho e confirmá-lo para os crentes na fé. E, enquanto fazeis isso, não vos esqueçais de ministrar aos doentes e fortalecer os que estão fracos e cheios de temor. E eu estarei sempre convosco, até mesmo nos confins da Terra”. E depois de falar assim, Jesus desapareceu da vista delas, enquanto as mulheres caíram com os seus rostos no chão e adorando-o em silêncio.

190:3.2 (2033.2) Das cinco aparições moronciais de Jesus ocorridas até esse momento, Maria Madalena havia testemunhado quatro.

190:3.3 (2033.3) Como resultado do envio dos mensageiros durante o meio da tarde e em conseqüência do vazamento inconsciente de indicações a respeito dessa aparição de Jesus na casa de José, um rumor chegou até os dirigentes judeus, durante o anoitecer, sobre o que estava sendo relatado em toda a cidade, de que Jesus havia ressuscitado e que muitas pessoas estavam declarando tê-lo visto. Os sinedristas encontravam-se profundamente perturbados com esses rumores. Após uma rápida conversa com Anãs, Caifás convocou uma reunião do sinédrio para as oito horas, naquela noite. Foi nessa reunião que foi tomada a decisão de expulsar das sinagogas qualquer pessoa que fizesse menção à ressurreição de Jesus. Foi sugerido mesmo que qualquer pessoa que afirmasse tê-lo visto deveria ser condenada à morte; essa proposta, contudo, não chegou a ser votada, já que a reunião dispersou-se em uma confusão que beirava ao pânico. Eles haviam ousado pensar que haviam acabado com Jesus. Mas estavam a ponto de descobrir que as dificuldades reais que teriam com o homem de Nazaré estavam apenas começando.

4. Aparição aos Gregos

190:4.1 (2033.4) Por volta das quatro horas e trinta minutos, na casa de um certo Flávio, o Mestre fez a sua sexta aparição moroncial para cerca de quarenta gregos crentes reunidos lá. Enquanto estavam empenhados em discutir os relatos da sua ressurreição, o Mestre manifestou-se em meio a eles, a despeito das portas estarem fechadas com ferrolhos seguros, e dirigindo-se a eles, ele disse: “A paz esteja convosco. Embora haja aparecido na Terra e entre os judeus, o Filho do Homem veio para ministrar a todos os homens. No Reino do meu Pai não haverá nem judeus nem gentios; vós sereis todos irmãos — os filhos de Deus. Ide, portanto, a todo o mundo, proclamar este evangelho da salvação, como vós o recebestes dos embaixadores do Reino, e eu os aceitarei em comunhão, na irmandade dos filhos, pela fé na verdade do Pai”. E, tendo falado-lhes assim, ele os deixou; e não mais o viram. Passaram toda a noite dentro da casa; achavam-se por demais tomados de um temor respeitoso e de um medo espantado e não se aventuraram a sair. E nenhum desses gregos dormiu naquela noite; permaneceram acordados, falando sobre essas coisas e esperando que o Mestre pudesse novamente vir a estar com eles. Nesse grupo achavam-se muitos dos gregos que haviam estado no Getsêmani, na ocasião em que Judas traiu Jesus com um beijo e os soldados o prenderam.

190:4.2 (2034.1) Os rumores da ressurreição de Jesus e os relatos a respeito das muitas aparições para os seus seguidores iam espalhando-se rapidamente, e toda a cidade encontrava-se tomada por uma forte emoção. O Mestre já havia aparecido para a sua família, para as mulheres e para os gregos e, dentro em pouco, manifestar- se-ia em meio aos apóstolos. O sinédrio logo irá começar a considerar os novos problemas que, de um modo tão repentino, se precipitaram sobre os governantes judeus. Jesus pensa muito nos seus apóstolos, mas deseja que sejam deixados a sós por algumas horas mais, em reflexão solene e em considerações profundas, antes de estar com eles.

5. A Caminhada com os Dois Irmãos

190:5.1 (2034.2) Em Emaús, cerca de onze quilômetros a oeste de Jerusalém, viviam dois irmãos pastores, que haviam passado a semana da Páscoa em Jerusalém assistindo aos sacrifícios, aos cerimoniais e às festas. Cleofas, o mais velho, acreditava parcialmente em Jesus; ao menos, havia sido expulso da sinagoga. O seu irmão, Jacó, não era crente, se bem que tivesse ficado bastante perplexo com o que havia ouvido sobre os ensinamentos e trabalhos do Mestre.

190:5.2 (2034.3) Nesse domingo, à tarde, a uns cinco quilômetros para fora de Jerusalém e a uns poucos minutos antes das cinco horas, enquanto esses dois irmãos caminhavam na estrada para Emaús, eles falavam com grande convicção sobre Jesus, dos seus ensinamentos, do seu trabalho e, mais especialmente, a respeito dos rumores de que a sua tumba estava vazia e de que algumas das mulheres haviam conversado com ele. Cleofas estava a meio caminho de acreditar nesses relatos, mas Jacó insistia em que tudo era provavelmente uma fraude. Enquanto eles conversavam e debatiam desse modo, a caminho de casa, a manifestação moroncial de Jesus, a sua sétima aparição, veio junto a eles à medida que caminhavam. Cleofas muitas vezes ouvira Jesus ensinar e comera com ele nas casas dos crentes de Jerusalém em várias ocasiões. Mas não reconheceu o Mestre nem mesmo quando ele falou abertamente com eles.

190:5.3 (2034.4) Depois de andar um pequeno trecho da estrada junto com eles, Jesus perguntou: “Quais palavras estavam sendo trocadas entre vós, com tamanha convicção, quando eu cheguei?” E quando Jesus falou, eles pararam e olharam para ele com uma triste surpresa. Disse Cleofas: “Como pode ser que estejas em Jerusalém e não saibas das coisas que aconteceram recentemente?” Então o Mestre perguntou: “Que coisas?” Cleofas replicou: “Se não sabes dessas questões, és o único em Jerusalém que não ouviu os rumores a respeito de Jesus de Nazaré, profeta de palavra e feitos poderosos diante de Deus e todo o povo. Os sacerdotes principais e governantes entregaram-no aos romanos e exigiram que o crucificassem. E, assim, muitos de nós estivemos esperando que fosse ele quem iria libertar Israel do jugo dos gentios. Mas isso não é tudo. É já o terceiro dia, desde que foi crucificado, e algumas mulheres nos deixaram estupefatos ao declarar que, muito cedo nesta manhã, foram ao seu sepulcro e o encontraram vazio. E essas mesmas mulheres afirmam que conversaram com esse homem; sustentam mesmo que ele ressuscitou dos mortos. E quando as mulheres relataram isso aos homens, dois dos seus apóstolos correram à tumba e também encontraram-na vazia” — aqui Jacó interrompeu o seu irmão para dizer: “Mas eles não viram Jesus”.

190:5.4 (2035.1) Enquanto caminhavam juntos Jesus disse a eles: “Quão vagarosos sois para compreender a verdade! Quando me dizeis que as vossas conversas são sobre os ensinamentos e o trabalho desse homem, então, posso eu esclarecer-vos já que estou mais do que familiarizado com tais ensinamentos. Não vos lembrais de que esse Jesus ensinou sempre que o seu Reino não é deste mundo; e que todos os homens, sendo filhos de Deus, deveriam encontrar libertação e liberdade no júbilo espiritual, na comunhão e na irmandade do serviço amoroso ao novo Reino da verdade do amor do Pai dos céus? Não lembrais que esse mesmo Filho do Homem proclamou que a salvação de Deus é para todos os homens; que ministrou aos doentes e aflitos e libertando quem que estava atado pelas correntes do medo e escravizados pelo mal? Não sabeis que esse homem de Nazaré disse aos seus discípulos, que deveria ir a Jerusalém, que seria entregue aos seus inimigos, e estes o levariam à morte; mas que ele se levantaria ao terceiro dia? Tudo isso não vos foi dito? E nunca lestes nas escrituras a respeito desse dia da salvação para os judeus e para os gentios, onde se diz que nele todas as famílias da Terra serão abençoadas; que ele ouvirá o apelo dos necessitados e salvará as almas dos pobres que o procuram; que todas as nações o chamarão de abençoado? Que esse Libertador será como a sombra de uma grande rocha em uma terra exaurida. Que ele alimentará o rebanho como um verdadeiro pastor, tomando as ovelhas nos seus braços e carregando-as ternamente no seu colo. Que ele abrirá os olhos dos cegos espirituais e trará os prisioneiros do desespero à liberdade plena e à luz; que todos aqueles que se encontram na escuridão verão a grande luz da salvação eterna. Que ele medicará os corações partidos, proclamará a liberdade aos aprisionados do pecado, e abrirá a prisão para aqueles que estão escravizados pelo medo e tolhidos pelo mal. Que confortará àqueles que estão de luto e outorgará a eles o júbilo da salvação em lugar da pena e do pesar. Que ele será o desejo de todas as nações e o júbilo eterno daqueles que buscam a retidão. Que esse Filho da verdade e da retidão se elevará sobre o mundo, com luz curativa e poder salvador; e até mesmo que salvará o seu povo dos pecados; que realmente buscará e salvará os que estão perdidos. Que não destruirá os fracos, e sim ministrará a salvação a todos os que têm fome e sede de retidão. Que aqueles que acreditam nele terão vida eterna. Que ele irá verter o seu espírito sobre toda a carne, e que esse Espírito da Verdade será para cada crente como uma fonte de água, fazendo jorrar a vida eterna. Não compreendestes quão grande foi o evangelho do Reino que esse homem entregou a vós? Não percebeis quão grande é a salvação que vem a vós?”

190:5.5 (2035.2) Nesta altura eles estavam chegando perto da cidade onde esses dois irmãos moravam. Nenhuma palavra esses dois homens disseram, desde que Jesus havia começado a ensinar a eles, enquanto caminhavam juntos pela estrada. Logo chegaram em frente à sua humilde morada e Jesus estava para deixá-los, indo estrada abaixo, mas eles solicitaram-lhe que entrasse e ficasse com eles. Eles insistiram, como era quase já o cair da noite, que ele permanecesse lá com eles. Finalmente Jesus consentiu e, logo que eles entraram na casa e se sentaram para comer. Deram a ele o pão para abençoar e, quando ele começou a parti-lo e a entregá-lo a eles, os olhos dos dois abriram-se, e Cleofas reconheceu que o convidado deles era o próprio Mestre. E quando ele disse: “É o Mestre” — o Jesus moroncial desapareceu da vista deles.

190:5.6 (2036.1) E então eles comentaram um com o outro: “Não é de espantar que os nossos corações estivessem queimando dentro de nós quando ele nos falou, enquanto caminhávamos pela estrada e enquanto ele abria ao nosso entendimento os ensinamentos das escrituras!”

190:5.7 (2036.2) Eles não se detiveram para comer. Haviam visto o Mestre moroncial e saíram correndo da casa, de volta a Jerusalém, para difundir a boa-nova do Salvador ressuscitado.

190:5.8 (2036.3) Por volta das nove horas, naquela noite, e pouco antes do Mestre aparecer aos dez apóstolos, esses dois irmãos emocionados irromperam na sala de cima, indo ao encontro dos apóstolos, declarando que haviam visto Jesus e conversado com ele. E contaram tudo o que Jesus tinha dito a eles e mesmo que não haviam reconhecido quem ele era, até o momento em que partiu o pão.

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