O Livro de Urântia
PARTE III
Esses documentos foram auspiciados por um Corpo de Personalidades do Universo Local, atuando por autorização de Gabriel de Salvington.
O Livro de Urântia
Documento 57
57:0.1 (651.1) AO OFERECER, aos anais de Urântia, estes excertos dos arquivos de Jerusém a respeito dos antecedentes e da história inicial deste planeta, fomos orientados a considerar o tempo em termos de uso corrente — segundo o calendário bissexto em uso, com 365¼ dias por ano. Via de regra, não será feita nenhuma tentativa de fornecer os anos com exatidão, embora isso esteja nos registros. Usaremos os números inteiros mais próximos como o melhor método de apresentar os fatos históricos.
57:0.2 (651.2) Quando nos referirmos a um evento como tendo acontecido um ou dois milhões de anos atrás, temos a intenção de datar tal ocorrência com um número de anos a contar das primeiras décadas do século vinte da Era Cristã. Iremos, assim, descrever esses acontecimentos, distantes no tempo, como havendo ocorrido em períodos exatos, ou seja, em milhares, milhões e bilhões de anos.
57:1.1 (651.3) Urântia tem a sua origem no vosso sol, e o vosso sol é uma das múltiplas conseqüências da nebulosa de Andronover, que foi outrora organizada para ser uma parte componente da potência física e da substância material do universo local de Nébadon. E essa grande nebulosa, por sua vez, teve a sua procedência na carga-força universal do espaço, no superuniverso de Orvônton, em uma época bastante remota.
57:1.2 (651.4) Esta narrativa inicia-se em um momento no qual os Mestres Primários Organizadores da Força do Paraíso já estavam, havia muito, com o pleno controle das energias-espaço, que mais tarde seriam organizadas para gerar a nebulosa de Andronover.
57:1.3 (651.5) Há 987 bilhões de anos, o organizador da força associado, o inspetor de número 811 307 da série de Orvônton, então em exercício e vindo de Uversa, reportou aos Anciães dos Dias que as condições do espaço eram favoráveis ao começo dos fenômenos de materialização em um certo setor do então segmento oriental de Orvônton.
57:1.4 (651.6) Há 900 bilhões de anos, atestam os arquivos de Uversa, o Conselho de Equilíbrio de Uversa, emitiu uma permissão para o governo do superuniverso, autorizando-o a despachar um organizador de força com a sua assessoria para a região previamente designada pelo inspetor de número 811 307. As autoridades de Orvônton encarregaram o descobridor original desse universo potencial de executar o mandado dos Anciães dos Dias, que convocava a organização de uma nova criação material.
57:1.5 (652.1) O registro dessa autorização significa que o organizador da força e os seus assessores já haviam partido de Uversa na longa jornada até aquele setor espacial, no lado leste, onde eles, subseqüentemente, dedicar-se-iam às atividades prolongadas que culminariam na emergência de uma nova criação física em Orvônton.
57:1.6 (652.2) Há 875 bilhões de anos, a enorme nebulosa de Andronover, de número 876 926, foi devidamente iniciada. Apenas a presença do organizador da força, e do seu pessoal de ligação. foi requisitada para desencadear o turbilhão de energia que finalmente se transformou nesse vasto ciclone espacial. Subseqüentemente ao início dessas circunvoluções nebulares, os organizadores da força viva simplesmente se retiraram, saindo perpendicularmente ao plano do disco em circunvolução e, desse momento em diante, as qualidades inerentes da energia passaram a assegurar a evolução progressiva e ordenada desse novo sistema físico.
57:1.7 (652.3) Nessa época, aproximadamente, a narrativa volta-se para a atuação das personalidades do superuniverso. Na realidade, a história tem o seu começo verdadeiramente nesse ponto, justamente quando os organizadores da força do Paraíso preparam-se para a retirada, havendo deixado prontas as condições da energia-espaço para a ação dos diretores de potência e dos controladores físicos do superuniverso de Orvônton.
57:2.1 (652.4) Todas as criações materiais evolucionárias nascem de nebulosas circulares e gasosas, e todas essas nebulosas primárias são circulares durante a primeira parte da sua existência gasosa. À medida que vão envelhecendo, geralmente adquirem a forma espiral e quando a sua função de formação solar chega ao fim, freqüentemente, terminam como acumulações de estrelas ou como enormes sóis cercados de um número variável de planetas, satélites e grupos menores de matéria, os quais se assemelham de muitos modos ao vosso diminuto sistema solar.
57:2.2 (652.5) Há 800 bilhões de anos, a criação de Andronover estava bem estabelecida como uma das magníficas nebulosas primárias de Orvônton. Quando os astrônomos de universos próximos observaram esse fenômeno do espaço, pouco puderam notar que lhes chamasse a atenção. Os cálculos estimativos da gravidade, feitos em criações adjacentes, indicaram que materializações de espaço estavam ocorrendo nas regiões de Andronover, mas isso era tudo.
57:2.3 (652.6) Há 700 bilhões de anos, o sistema de Andronover estava assumindo proporções gigantescas; e outros controladores físicos foram despachados para nove criações materiais circunvizinhas, a fim de propiciarem apoio e cooperação aos centros de potência desse novo sistema material, que tão rapidamente evoluía. Nessa época longínqua, todo o material legado às criações subseqüentes estava sendo mantido dentro dos confins dessa gigantesca roda espacial, que continuava sempre a girar e que, após alcançar o máximo do seu diâmetro, movia-se cada vez mais rapidamente enquanto continuava a condensar-se e a contrair-se.
57:2.4 (652.7) Há 600 bilhões de anos, o apogeu da mobilização de energia em Andronover foi alcançado; a nebulosa havia adquirido a sua massa máxima. Nessa época, era uma nuvem circular gigantesca de gás, com um formato como o de um esferóide achatado. Esse foi o período inicial de formação da massa diferencial e velocidade variável de circunvolução. A gravidade e outras influências estavam para iniciar o seu trabalho de conversão dos gases espaciais em matéria organizada.
57:3.1 (653.1) A enorme nebulosa agora começa gradualmente a assumir a forma de uma espiral e torna-se claramente visível, mesmo para os astrônomos de universos distantes. E a história natural da maioria das nebulosas é a mesma; antes de começarem a arrojar sóis e empreender o trabalho de construção de um universo, tais nebulosas espaciais secundárias em geral são vistas como fenômenos espirais.
57:3.2 (653.2) Quando os estudantes de astronomia, de sistemas vizinhos, naquela era longínqua, observaram essa metamorfose da nebulosa de Andronover, divisaram exatamente o mesmo que os astrônomos do século vinte divisam, quando apontam os seus telescópios para o espaço, e vêem as nebulosas espirais da idade presente no espaço exterior adjacente.
57:3.3 (653.3) Por volta da época do alcance da sua massa máxima, o controle da gravidade do conteúdo gasoso começou a enfraquecer e sobreveio o estágio da fuga do gás; o gás escapava em forma de dois braços gigantescos e distintos, tendo origem em lados opostos da massa-mãe. As rápidas revoluções desse enorme núcleo central logo conferiram uma aparência espiral a essas duas correntes de gás projetadas para fora. O resfriamento e condensação subseqüente de partes desses braços protuberantes finalmente conferiram a eles a sua aparência nodosa. Essas partes mais densas constituíram vastos sistemas e subsistemas de matéria física girando no espaço em meio à nuvem gasosa da nebulosa, enquanto esta se mantinha seguramente dentro da atração da gravidade da roda-mãe.
57:3.4 (653.4) Contudo, a nebulosa havendo começado a contrair-se, o acréscimo da sua velocidade de rotação reduzia ainda mais o controle da gravidade. Pouco tempo depois, as regiões gasosas exteriores começaram finalmente a escapar do abraço imediato do núcleo da nebulosa, passando ao espaço em circuitos de contornos irregulares, retornando às regiões nucleares para completar os seus circuitos, e assim sucessivamente. Mas isso foi apenas um estágio temporário de progressão nebular. A velocidade de giro, sempre crescente, logo fez com que enormes sóis fossem atirados ao espaço, em órbitas independentes.
57:3.5 (653.5) E foi isso o que aconteceu com Andronover, em idades extremamente longínquas. A roda de energia cresceu ainda mais, até atingir a sua expansão máxima e, então, quando sobreveio a contração, girou cada vez mais rápidamente até que, finalmente, o estágio centrífugo crítico foi alcançado e teve início a grande desagregação.
57:3.6 (653.6) Há 500 bilhões de anos nasceu o primeiro sol de Andronover. Este, como um raio flamejante, desprendeu-se da atração da gravidade materna e precipitou-se no espaço, em uma aventura independente no cosmo da criação. A sua órbita ficou determinada pela sua trajetória de escape. Esses jovens sóis rapidamente tornam-se esféricos e iniciam suas carreiras longas e cheias de acontecimentos como estrelas do espaço. Excetuando-se aqueles vindos de núcleos nebulares terminais, a grande maioria dos sóis de Orvônton teve um nascimento análogo. Esses sóis, que escapam desse modo, passam por períodos variados de evolução e serviço posterior no universo.
57:3.7 (653.7) Há 400 bilhões de anos, a nebulosa de Andronover iniciou o seu período de recaptação. Muitos dos sóis vizinhos e menores foram recaptados, em conseqüência do crescimento gradual e condensação posterior do núcleo materno. Logo foi inaugurada a fase terminal da condensação nebular, período que sempre precede à desagregação final de tais acumulações espaciais imensas de energia e de matéria.
57:3.8 (654.1) Foi cerca de um milhão de anos depois dessa época que Michael de Nébadon, Filho Criador do Paraíso, escolheu essa nebulosa em desintegração como local para a sua aventura de construção de um universo. Quase imediatamente, teve início a construção dos mundos arquitetônicos de Sálvington e os cem grupos de planetas-sede das constelações. Quase um milhão de anos foram necessários para completar esses agrupamentos de mundos especialmente criados. Os planetas-sede dos sistemas locais foram construídos durante um período que perdurou desde aquela época até cerca de cinco bilhões de anos atrás.
57:3.9 (654.2) Há 300 bilhões de anos, os circuitos solares de Andronover achavam-se bem estabelecidos; e o sistema nebular estava passando por um período transitório de relativa estabilidade física. Nessa época, o corpo de assessores de Michael chegou a Sálvington e o governo de Orvônton, em Uversa, deu reconhecimento à existência física do universo local de Nébadon.
57:3.10 (654.3) Há 200 bilhões de anos, presenciou-se a progressão na sua contração e condensação com enorme geração de calor no agrupamento central de Andronover, ou na massa do seu núcleo. Um espaço relativo surgiu até mesmo nas regiões próximas da roda do sol materno central. As regiões exteriores tornavam-se mais estabilizadas e bem organizadas; alguns planetas, girando em torno dos sóis recém-formados; e haviam resfriado-se suficientemente para tornarem-se adequados à implantação da vida. Os mais antigos planetas habitados de Nébadon datam dessas épocas.
57:3.11 (654.4) Então, o mecanismo completo do universo de Nébadon começa a funcionar pela primeira vez, e a criação de Michael é registrada em Uversa, como um universo para ser habitado e para a ascensão mortal progressiva.
57:3.12 (654.5) Há 100 bilhões de anos, o ápice nebular na tensão de condensação foi atingido; e o ponto de tensão máxima de aquecimento, alcançado. Esse estágio crítico de contenção do aquecimento-gravidade perdura por idades, algumas vezes, porém, mais cedo ou mais tarde, o calor vence a luta com a gravidade e o período espetacular de dispersão do sol tem início. E isso marca o fim da carreira secundária de uma nebulosa do espaço.
57:4.1 (654.6) O estágio primário de uma nebulosa é circular; o secundário é espiral; o estágio terciário é o da primeira dispersão solar; enquanto o quaternário abrange o segundo e último ciclo da dispersão solar, com o núcleo-mãe terminando como um agrupamento globular ou um sol solitário a funcionar tal qual o centro de um sistema solar terminal.
57:4.2 (654.7) Há 75 bilhões de anos, essa nebulosa havia alcançado o apogeu do seu estágio de família solar. Foi então o ponto culminante do primeiro período de perdas solares. A maioria desses sóis, desde então, apoderou-se de vastos sistemas de planetas, satélites, ilhas escuras, cometas, meteoros e nuvens de pó cósmico.
57:4.3 (654.8) Há 50 bilhões de anos, completava-se esse primeiro período de dispersão solar; a nebulosa terminava rapidamente o seu ciclo terciário de existência, durante o qual deu origem a 876 926 sistemas solares.
57:4.4 (654.9) Há 25 bilhões de anos, presenciou-se o completar do ciclo terciário da vida da nebulosa; o que acarretou a organização e uma relativa estabilização dos vastos sistemas estelares derivados dessa nebulosa matriz. Todavia, o processo de contração física e produção crescente de calor, continuou na massa central da nebulosa remanescente.
57:4.5 (655.1) Há dez bilhões de anos, teve começo o ciclo quaternário de Andronover. A temperatura máxima da massa nuclear havia sido atingida; o ponto crítico de condensação aproximava-se. O núcleo materno original encontrava-se em convulsões, sob a pressão combinada da sua própria tensão de condensação de calor interno e atração crescente da maré gravitacional do enxame adjacente de sistemas de sóis liberados. As erupções nucleares que estavam para inaugurar o segundo ciclo solar da nebulosa eram iminentes. O ciclo quaternário da existência nebular estava para começar.
57:4.6 (655.2) Há oito bilhões de anos, uma imensa erupção terminal teve início. Apenas os sistemas exteriores ficaram a salvo no momento de um cataclismo cósmico como esse. E assim foi o início do fim da nebulosa. Por um período de quase dois bilhões de anos estendeu-se a fase final de emissão de sóis.
57:4.7 (655.3) Há sete bilhões de anos, presenciou-se o ponto máximo da desagregação terminal de Andronover. Esse foi o período do nascimento de sóis terminais maiores e do ápice das perturbações físicas locais.
57:4.8 (655.4) Há seis bilhões de anos, ficaram assinalados o fim da desagregação terminal e o nascimento do vosso sol, o qüinquagésimo sexto antes do último sol da segunda família solar de Andronover. Essa erupção final do núcleo nebular deu nascimento a 136 702 sóis, a maioria dos quais é de globos solitários. O número total de sóis e sistemas solares a se originarem da nebulosa de Andronover foi de 1 013 628. O número do sol do vosso sistema solar é 1 013 572.
57:4.9 (655.5) Na época atual, a grande nebulosa de Andronover já não existe mais, mas está presente nos muitos sóis e suas famílias planetárias que se originaram daquela nuvem-mãe do espaço. O remanescente nuclear final dessa nebulosa magnífica ainda arde com um brilho avermelhado e continua a emitir luz e calor moderados para suas famílias planetárias remanescentes de cento e sessenta e cinco mundos, os quais agora giram em torno dessa mãe venerável de duas gerações poderosas de monarcas de luz.
57:5.1 (655.6) Há cinco bilhões de anos, o vosso sol era um globo em chamas, relativamente isolado, tendo atraído para si a maior parte da matéria que circulava na sua proximidade no espaço, resíduos do cataclismo recente que lhe havia dado origem.
57:5.2 (655.7) Hoje, o vosso sol alcançou uma estabilidade relativa, mas os seus ciclos de onze anos e meio de manchas solares comprovam que foi uma estrela variável na sua juventude. Durante os tempos primitivos do vosso sol, as contrações continuadas e o aumento gradual, conseqüente da temperatura, deram início a convulsões tremendas na sua superfície. Tais alterações, de proporções titânicas, necessitaram de três dias e meio para completar um ciclo de brilho variável. Esse estado variável, de pulsação periódica, tornou o vosso sol altamente sensível a certas influências exteriores, as quais iria em breve enfrentar.
57:5.3 (655.8) Assim, ficou estabelecido o cenário do espaço local, para a origem singular de Monmátia, sendo este o nome da família planetária do vosso sol, o sistema solar ao qual pertence o vosso mundo. Menos de um por cento dos sistemas planetários de Orvônton teve uma origem similar.
57:5.4 (655.9) Há quatro bilhões e meio de anos, o enorme sistema de Angona começou a aproximar-se da vizinhança do vosso sol, então solitário. O centro desse grande sistema era um gigante espacial escuro, sólido, altamente carregado e possuindo uma tremenda força de atração gravitacional.
57:5.5 (656.1) À medida que Angona se aproximava mais do vosso sol, em momentos de expansão máxima, e durante as pulsações solares, correntes de material gasoso eram atiradas no espaço, como línguas solares gigantescas. Inicialmente, tais línguas flamejantes de gás invariavelmente caíam de volta no sol, mas, no momento em que Angona se aproximava mais e mais, a atração da gravidade do gigantesco visitante tornou-se tão intensa que essas línguas de gás quebravam-se em certos pontos, e as suas raízes caíam novamente no sol, enquanto as partes mais externas destacavam-se, formando corpos independentes de matéria, de meteoritos solares, que imediatamente começaram a girar em volta do sol, em órbitas elípticas próprias.
57:5.6 (656.2) E à medida que o sistema de Angona se aproximava, as extrusões solares tornavam-se cada vez maiores; mais e mais matéria era retirada do sol e transformava-se em corpos circulantes, independentes, no espaço circunvizinho. Esse estado desenvolveu-se por cerca de quinhentos mil anos, até que Angona aproximou-se ao máximo do sol. Depois dessa aproximação, o sol, em conjunção com uma das suas periódicas convulsões internas, experimentou uma quebra parcial; e enormes volumes de matéria desprenderam-se simultaneamente de lados opostos dele. Do lado de Angona, foi sendo atraída uma vasta coluna de gases solares, pontiaguda em ambas as extremidades e com um bulbo protuberante no centro, e que se destacou permanentemente do controle imediato da gravidade do sol.
57:5.7 (656.3) Essa grande coluna de gases solares, que assim separou-se do sol, posteriormente converteu-se nos doze planetas do sistema solar. Os gases ejetados, por uma repercussão, do lado oposto do sol, causada pela maré, que correspondeu à extrusão desse ancestral gigantesco do sistema solar, condensaram-se desde então em meteoros e poeira do espaço, no sistema solar, embora uma grande parte dessa matéria haja sido recapturada posteriormente por gravidade solar, à medida que o sistema de Angona foi afastando-se no espaço remoto.
57:5.8 (656.4) Embora tenha conseguido êxito em extrair do sol o material ancestral dos planetas do sistema solar e um volume enorme de matéria, o qual agora circula em volta do sol como asteróides e meteoros, o sistema de Angona não assegurou para si nada dessa matéria solar. O sistema visitante não chegou perto o bastante para de fato roubar algo da substância do sol; no entanto aproximou-se o suficiente para atrair para o espaço intermediário todo o material que compreende o atual sistema solar.
57:5.9 (656.5) Os cinco planetas internos e os cinco planetas mais externos logo se formaram, ainda com tamanho reduzido, da matéria resfriada e dos núcleos condensados nas extremidades de massa menor, e mais afiladas, do gigantesco bulbo provocado pela gravidade, o qual Angona conseguiu destacar do sol, enquanto Saturno e Júpiter formaram-se das partes centrais e de maior massa do bulbo. A poderosa atração da gravidade de Júpiter e Saturno logo captou a maior parte do material roubado de Angona, o que é testemunhado pelo movimento retrógrado de alguns dos seus satélites.
57:5.10 (656.6) Júpiter e Saturno, que são derivados do centro mesmo da enorme coluna de gases solares superaquecidos, continham tanto material solar altamente aquecido que brilharam com uma luz reluzente e emitiram enormes volumes de calor; eles foram, em realidade, sóis secundários, durante um curto período posterior às suas formações, como corpos separados no espaço. Esses dois planetas maiores do sistema solar permaneceram altamente gasosos até os dias atuais, não se havendo ainda resfriado até o ponto da completa condensação ou solidificação.
57:5.11 (656.7) Os núcleos de contração de gás dos outros dez planetas logo atingiram o estágio de solidificação e, assim, começaram a puxar para si quantidades cada vez maiores da matéria meteórica que circulava no espaço vizinho. Os mundos desse sistema solar, de tal modo, tiveram uma dupla origem: núcleos de condensação de gás, mais tarde aumentados pela captação de quantidades enormes de meteoros. De fato, ainda continuam a captar meteoros, mas em quantidade bem mais reduzida.
57:5.12 (657.1) Os planetas não giram em torno do sol no plano equatorial da sua mãe solar, o que fariam se houvessem sido expelidos na rotação do sol. Na verdade, eles circulam no plano da extrusão solar de Angona, que formava um ângulo considerável com o plano equatorial do sol.
57:5.13 (657.2) Embora Angona tivesse sido incapaz de captar qualquer coisa da massa solar, o vosso sol acrescentou à sua família planetária, em metamorfose, uma parte da matéria do sistema visitante que circulava no espaço. Devido ao intenso campo gravitacional de Angona, a sua família planetária tributária mantinha órbitas a distâncias consideráveis do gigante escuro; e pouco depois da extrusão da massa ancestral do sistema solar, enquanto Angona ainda se encontrava na vizinhança do sol, três dos planetas maiores do sistema de Angona giravam tão próximos do maciço ancestral do sistema solar que a sua atração gravitacional, aumentada pela do sol, foi suficiente para contrabalançar a atração da gravidade de Angona e destacar permanentemente esses três tributários do visitante celeste.
57:5.14 (657.3) Todo o material do sistema solar derivado do sol estava originalmente dotado de uma direção homogênea de giro orbital e, não fora pela intrusão desses três corpos espaciais estrangeiros, todo esse material do sistema solar estaria ainda mantendo a mesma direção de movimento orbital. O que aconteceu foi que o impacto com os três tributários de Angona injetou novas forças direcionais exteriores ao sistema solar emergente, com o resultante aparecimento de um movimento retrógrado. Um movimento retrógrado, em qualquer sistema astronômico, é sempre acidental e surge sempre como resultado do impacto de colisão com corpos espaciais vindos de fora. Tais colisões podem nem sempre produzir o movimento retrógrado, mas nenhum movimento retrógrado jamais aparece, a não ser em um sistema que contenha massas de origens diversas.
57:6.1 (657.4) Subseqüentemente ao nascimento do sistema solar, seguiu-se um período de diminuição do derrame solar. Durante outros quinhentos mil anos, o sol continuou, decrescentemente, a derramar volumes sempre mais reduzidos de matéria no espaço adjacente. Mas, durante tais etapas primordiais de órbitas erráticas, quando os corpos circundantes aproximaram-se ao máximo do sol, o sol-mãe foi capaz de recapturar uma grande porção desse material meteórico.
57:6.2 (657.5) Os planetas mais próximos do sol foram os primeiros a ter as suas rotações desaceleradas pela fricção devida ao efeito da gravidade tipo maré. Essas influências gravitacionais contribuem também para a estabilização das órbitas planetárias, pois atuam como um freio sobre a velocidade de rotação em torno do eixo planetário, levando um planeta a girar sempre mais devagar, até que essa rotação axial cesse, deixando um hemisfério do planeta sempre voltado para o sol ou para o corpo maior, como é ilustrado pelo planeta Mercúrio e pela Lua, a qual gira sempre com a mesma face voltada para Urântia.
57:6.3 (657.6) Quando as fricções do tipo maré tornarem-se uniformizadas na Terra e na Lua, a Terra irá sempre voltar o mesmo hemisfério para a Lua e o dia e o mês serão análogos — com uma duração em torno de 47 dias. Ao atingir essa estabilidade de órbitas, as fricções do tipo maré reverterão a sua ação, não mais tendendo a afastar a Lua da Terra, mas gradualmente atraindo o satélite na direção do planeta. E então, naquele futuro distante, quando a Lua chegar à distância de cerca de dezoito mil quilômetros da Terra, a ação da gravidade desta provocará um colapso da Lua, pois uma explosão causada pela gravidade do tipo maré levará a Lua a despedaçar-se em pequenas partículas, que poderão reunir-se em torno do mundo, como anéis de matéria, semelhantes aos de Saturno, ou então, talvez, caindo gradualmente na Terra, como meteoros.
57:6.4 (658.1) Se os corpos espaciais possuírem tamanhos e densidades semelhantes, poderão ocorrer colisões. Contudo, se dois corpos espaciais de densidades semelhantes forem relativamente desiguais em tamanho, e o menor aproximar-se progressivamente do maior, a ruptura do corpo menor ocorrerá a partir do instante em que o raio da sua órbita tornar-se menor que duas vezes e meia o tamanho do raio do corpo maior. As colisões entre os gigantes do espaço, na verdade, são raras; contudo as explosões de corpos menores causadas pela gravidade do tipo maré são muito comuns.
57:6.5 (658.2) As estrelas cadentes ocorrem em enxames, porque são fragmentos de corpos maiores de matéria deslocados pela gravidade do tipo maré exercida por corpos circunvizinhos ainda maiores. Os anéis de Saturno são fragmentos de um satélite pulverizado. Uma das luas de Júpiter, no presente, está aproximando-se perigosamente da zona crítica de fraturamento, por causa do efeito da maré; e, dentro de uns poucos milhões de anos, ou será absorvida pelo planeta, ou será submetida aos efeitos fragmentadores da gravidade tipo maré. O quinto planeta do sistema solar, em um tempo muito remoto, percorria uma órbita irregular, periodicamente aproximando-se mais e mais de Júpiter, até que entrou na zona crítica de fragmentação, por causa da gravidade tipo maré, havendo sido fragmentado, rapidamente, convertendo-se no atual cinturão de asteróides.
57:6.6 (658.3) Há quatro bilhões de anos, presenciou-se a organização dos sistemas de Júpiter e Saturno, quase como são observados hoje, à exceção das suas luas, que continuaram a ter o seu tamanho aumentado durante vários bilhões de anos. De fato, todos os planetas e satélites deste sistema solar estão ainda crescendo, por causa de uma contínua captação de meteoros.
57:6.7 (658.4) Há três bilhões e meio de anos, os núcleos de condensação dos outros dez planetas estavam bem formados; e os núcleos da maioria das luas estavam intactos, embora alguns dos satélites menores se hajam unido, mais tarde, para formar as luas atuais maiores. Tal idade pode ser considerada a era da formação planetária.
57:6.8 (658.5) Há três bilhões de anos, o sistema solar estava funcionando quase como hoje o faz. Os seus membros continuavam a aumentar em tamanho, à medida que, em um ritmo prodigioso, os meteoros do espaço afluíam aos planetas e seus satélites.
57:6.9 (658.6) Por volta dessa época, o vosso sistema solar estava colocado no registro físico de Nébadon e tinha já o seu nome, Monmátia.
57:6.10 (658.7) Há dois bilhões e meio de anos, os planetas haviam aumentado imensamente o seu tamanho. Urântia era uma esfera bem desenvolvida, com cerca de um décimo da sua massa atual e estava ainda crescendo rapidamente por absorção de meteoros.
57:6.11 (658.8) Toda essa tremenda atividade é uma parte normal da edificação de um mundo evolucionário da ordem de Urântia e constitui a parte preliminar astronômica para o estabelecimento do cenário que é o começo da evolução física dos mundos do espaço, na preparação para as aventuras da vida no tempo.
57:7.1 (658.9) Durante esses tempos primitivos, as regiões do espaço do sistema solar estavam repletas de corpos diminutos, de fragmentações e condensação, e, na ausência de uma atmosfera protetora de combustão, esses corpos espaciais colidiam diretamente com a superfície de Urântia. Tais impactos incessantes mantinham a superfície do planeta mais ou menos aquecida, e isso começou, junto com a ação crescente da gravidade, à medida que a esfera ficava maior, a colocar em operação aquelas influências que gradualmente levaram os elementos mais pesados, como o ferro, a acumularem-se mais e mais no centro do planeta.
57:7.2 (659.1) Há dois bilhões de anos, a Terra, decididamente, começou a avantajar-se em relação à Lua. O planeta sempre havia sido maior do que o seu satélite, mas não havia tanta diferença entre os seus tamanhos até por volta dessa época, quando enormes corpos espaciais foram captados pela Terra. Urântia, então, tinha um quinto do seu tamanho atual e tornava-se grande o suficiente para manter a atmosfera primitiva que havia começado a surgir, como resultado do confronto elementar entre o interior aquecido e a crosta exterior que se resfriava.
57:7.3 (659.2) A atividade vulcânica definida data desses tempos. O calor interno da Terra continuava a aumentar pelo mergulho cada vez mais fundo dos elementos radioativos, ou mais pesados, trazidos do espaço pelos meteoros. O estudo desses elementos radioativos revelará que Urântia, na sua superfície, tem mais de um bilhão de anos. O relógio radioativo é o vosso indicador temporal mais confiável para obter estimativas científicas da idade do planeta, mas todos esses cálculos resultam por demais superficiais, porque os materiais radioativos, disponíveis para a vossa pesquisa, derivam completamente da superfície terrestre e, portanto, representam aquisições relativamente recentes desses elementos por parte de Urântia.
57:7.4 (659.3) Há um bilhão e meio de anos, a Terra possuía dois terços do seu tamanho atual, enquanto a Lua estava próxima da massa que hoje apresenta. Se comparado ao da Lua, o rápido aumento da Terra, em tamanho, capacitou-a a começar a roubar aos poucos a escassa atmosfera que o seu satélite possuía originalmente.
57:7.5 (659.4) A ação vulcânica nesse período atinge o seu apogeu. Toda a Terra é um verdadeiro inferno de fogo, então; a superfície assemelha-se ao seu estado de fusão anterior, antes que os metais mais pesados tivessem ido para o centro por força da gravidade. Essa é a idade vulcânica. Contudo, uma crosta constituída principalmente de granito, relativamente mais leve, forma-se aos poucos. O cenário vai sendo estabelecido para que o planeta possa um dia vir a sustentar a vida.
57:7.6 (659.5) A atmosfera primitiva do planeta evolui vagarosamente, agora contendo um pouco de vapor de água, monóxido de carbono, dióxido de carbono e cloreto de hidrogênio; mas com pouco ou nenhum nitrogênio e oxigênio livres. A atmosfera de um mundo na idade vulcânica apresenta um espetáculo estranho. Além dos gases acima mencionados, é pesadamente carregada pelos numerosos gases vulcânicos, e, à medida que o cinturão de ar amadurece, também é carregada pelos produtos da combustão das pesadas chuvas meteóricas que constantemente se abatem sobre a superfície do planeta. Essa combustão meteórica mantém o oxigênio atmosférico em um nível de quase exaustão e o bombardeamento meteórico ainda é tremendo.
57:7.7 (659.6) Com o tempo, a atmosfera tornou-se mais estabilizada e resfriada o suficiente para dar início à precipitação de chuva sobre a superfície rochosa quente do planeta. Durante milhares de anos, Urântia permaneceu envolvida por uma imensa e contínua camada de vapor. E nessas idades, o sol nunca brilhou sobre a superfície da Terra.
57:7.8 (659.7) Uma grande parte do carbono da atmosfera consistiu no substrato de formação dos carbonatos de vários metais que abundavam nas camadas superficiais do planeta. Mais tarde, quantidades ainda maiores desses gases carbônicos foram consumidas pela vida vegetal primitiva que proliferava.
57:7.9 (660.1) Os fluxos contínuos de lava e meteoros que caíam, mesmo nos períodos ulteriores, esgotavam quase completamente o oxigênio do ar. E, inclusive, os primeiros depósitos dos oceanos primitivos, logo depois de surgidos não continham nenhuma pedra colorida, nem xistos. Durante um longo tempo após o surgimento do oceano não houve virtualmente nenhum oxigênio livre na atmosfera; e este não surgiu em quantidades significativas até ter sido mais tarde gerado pelas algas marinhas e outras formas de vida vegetal.
57:7.10 (660.2) A atmosfera planetária primitiva da idade vulcânica oferece pouca proteção contra os impactos da colisão dos enxames meteóricos. Milhões e milhões de meteoros são capazes de penetrar nesse cinturão de ar, esmagando-se contra a crosta do planeta como corpos sólidos. À medida que passa o tempo, porém, um número cada vez menor de meteoros revela-se de tamanho suficiente para resistir ao escudo de fricção, cada vez mais forte, da atmosfera sempre mais rica em oxigênio nessas eras mais recentes.
57:8.1 (660.3) Há um bilhão de anos, deu-se o começo efetivo da história de Urântia. O planeta havia atingido aproximadamente o seu tamanho atual. E, por volta dessa época, foi colocado nos registros físicos de Nébadon e lhe foi dado o seu nome: Urântia.
57:8.2 (660.4) A atmosfera, junto com uma contínua precipitação de umidade, facilitava o resfriamento da crosta terrestre. A ação vulcânica logo equalizou a pressão do calor interno e a contração da crosta; e, quando a atividade vulcânica decresceu, rapidamente, os terremotos surgiram e, enquanto isso, o período de resfriamento e ajustamento da crosta progredia.
57:8.3 (660.5) A história geológica efetiva de Urântia começa quando a crosta terrestre se resfria suficientemente para permitir a formação do primeiro oceano. A condensação do vapor de água na superfície em resfriamento da Terra, uma vez iniciada, continuou virtualmente até completar-se. Ao fim desse período, o oceano recobria todo o planeta com uma profundidade média de quase dois quilômetros. As marés movimentavam-se então quase do mesmo modo observado atualmente, mas esse oceano primitivo não era salgado; praticamente consistia numa cobertura de água doce por todo o mundo. Naqueles dias, a maior parte do cloro estava combinada com vários metais, mas havia o suficiente, em combinação com o hidrogênio, para tornar essa água levemente ácida.
57:8.4 (660.6) No princípio dessa era longínqua, Urântia deve ser vista como um planeta coberto de água. Mais tarde, fluxos mais profundos de lava e mais densos, portanto, afloraram do fundo do que é o oceano Pacífico atual; e essa parte da superfície coberta de água tornou-se uma depressão considerável. A primeira massa de terra continental emergiu do oceano mundial como um ajuste que restabelecia o equilíbrio da crosta terrestre, a qual se tornava gradativamente mais espessa.
57:8.5 (660.7) Há 950 milhões de anos, Urântia apresenta o quadro de um grande continente de terra, cercado por uma vasta extensão de água, o oceano Pacífico. Os vulcões ainda são numerosos; e os terremotos tão freqüentes quanto graves. Os meteoros continuam a bombardear a Terra, mas vão diminuindo, de freqüência e tamanho. A atmosfera se limpa, mas a quantidade de dióxido de carbono continua elevada. A crosta terrestre estabiliza-se gradativamente.
57:8.6 (660.8) Por volta dessa época, Urântia foi designada para o sistema de Satânia, quanto à administração planetária, havendo sido colocada no registro de vida de Norlatiadeque. Então começou o reconhecimento administrativo da pequena e insignificante esfera, destinada a ser o planeta no qual, subseqüentemente, Michael engajar-se-ia no empreendimento estupendo da auto-outorga mortal, participando das experiências que levaram Urântia a tornar-se localmente conhecida desde então como o “mundo da cruz”.
57:8.7 (661.1) Há 900 milhões de anos, Urântia presenciou a chegada do primeiro grupo de exploração de Satânia, enviado de Jerusém, a fim de examinar o planeta e elaborar um relatório sobre a sua adaptabilidade para transformar-se numa estação de vida experimental. Essa comissão, constituída de vinte e quatro membros, abrangia Portadores da Vida, Filhos Lanonandeques, Filhos Melquisedeques, serafins e outras ordens de vida celeste, vinculadas à organização e administração inicial dos planetas.
57:8.8 (661.2) Após efetuar uma pesquisa cuidadosa no planeta, essa comissão retornou a Jerusém e apresentou um relatório favorável ao Soberano do Sistema, recomendando que Urântia fosse colocada no registro de vida experimental. O vosso mundo, desse modo, foi registrado em Jerusém como um planeta decimal; e os Portadores da Vida foram notificados de que lhes seria dada a permissão para instituir novos modelos de mobilização mecânica, química e elétrica, assim que, em um momento subseqüente, viessem com os mandados de transplantação e implantação da vida.
57:8.9 (661.3) No tempo devido, foram tomadas medidas para a ocupação planetária pela comissão mista dos doze de Jerusém, aprovadas pela comissão planetária dos setenta de Edêntia. E os planos propostos pelos conselheiros assessores dos Portadores da Vida, finalmente, foram aceitos em Sálvington. Logo depois, as teledifusões de Nébadon divulgaram o anúncio de que Urântia tornar-se-ia um cenário onde os Portadores da Vida iriam executar o seu sexagésimo experimento em Satânia, destinado a ampliar e a melhorar o tipo Satânia de modelos de vida de Nébadon.
57:8.10 (661.4) Pouco tempo depois de Urântia haver sido reconhecida pela primeira vez por intermédio das transmissões universais a todo Nébadon, foi-lhe conferido o status pleno de aceitação no universo. Logo depois, ela foi registrada nos arquivos dos planetas-sede do setor menor e do setor maior do superuniverso; e, antes que essa idade terminasse, Urântia havia entrado no registro da vida planetária em Uversa.
57:8.11 (661.5) Toda essa idade ficou caracterizada por tempestades freqüentes e violentas. A crosta inicial da Terra estava em um estado de fluência contínua. O resfriamento superficial alternava-se com imensos fluxos de lava. Em nenhum lugar podia ser encontrado, superficialmente, nada que fosse da crosta original do planeta. Tudo estava sendo misturado, muitas vezes, às lavas de origens profundas em extrusão; e de novo tudo era juntado aos depósitos subseqüentes do oceano primitivo, que abrangia todo o mundo.
57:8.12 (661.6) Em nenhum lugar, na superfície do mundo, serão encontradas mais das remanescentes modificadas dessas antigas rochas pré-oceânicas, do que no nordeste do Canadá, perto da baía de Hudson. Aquela extensa elevação granítica é composta de pedra que pertence às idades pré-oceânicas. As suas camadas de rocha foram aquecidas, dobradas, torcidas; e, de novo recurvadas e, uma vez mais, ainda, submetendo-se a todas essas experiências metamórficas de deformação.
57:8.13 (661.7) Ao longo das idades oceânicas, depositaram-se enormes camadas de pedra estratificada, livre de fossilizações, sobre esse antiqüíssimo fundo de oceano (a pedra calcária pode formar-se como resultado de uma precipitação química; nem todo o calcário mais antigo foi produzido por depósito de vida marinha). Em nenhuma dessas formações rochosas antigas serão encontradas evidências de vida; elas não contêm fósseis, a não ser que, por acaso, depósitos mais recentes, da idade das águas, se hajam misturado a essas camadas mais antigas, anteriores à vida.
57:8.14 (662.1) A crosta inicial da Terra era altamente instável, mas as montanhas não estavam em processo de formação. O planeta contraiu-se sob a pressão da gravidade, enquanto se formava. As montanhas não são resultado do colapso da crosta em resfriamento de uma esfera em contração; elas surgem mais tarde, sendo o resultado da ação da chuva, da gravidade e da erosão.
57:8.15 (662.2) A massa continental terrestre dessa era foi aumentando, até que cobriu quase dez por cento da superfície da Terra. Os terremotos graves só tiveram início depois que a massa continental de terra emergiu até bem acima do nível da água. Uma vez iniciados, aumentaram em freqüência e severidade, por idades sucessivas. Durante milhões e milhões de anos, os terremotos foram diminuindo, mas Urântia ainda apresenta uma média de quinze tremores por dia.
57:8.16 (662.3) Há 850 milhões de anos, teve início a primeira época de estabilização real da crosta da Terra. A maior parte dos metais mais pesados se havia assentado na direção do centro do globo; a crosta em resfriamento havia deixado de sofrer recalques em uma escala tão extensa quanto nas idades anteriores. Ficou estabelecido um melhor equilíbrio entre a extrusão de terra e o leito mais pesado do oceano. O fluxo do leito de lava sob a camada da crosta tomou quase uma dimensão mundial, e isso compensou e estabilizou as flutuações devidas ao resfriamento, contração e deslizamentos superficiais.
57:8.17 (662.4) A freqüência e a severidade das erupções vulcânicas e terremotos continuaram a diminuir. A atmosfera estava limpando-se dos gases vulcânicos e do vapor de água, mas a porcentagem de dióxido de carbono ainda era alta.
57:8.18 (662.5) As perturbações elétricas no ar e na terra também diminuíam. Os fluxos de lava haviam trazido à superfície uma mistura de elementos que diversificavam a crosta, isolando melhor o planeta de algumas das energias do espaço. E tudo isso foi muito útil para facilitar o controle da energia terrestre e estabilizar o seu fluxo, o que é revelado pelo funcionamento dos pólos magnéticos.
57:8.19 (662.6) Há 800 milhões de anos, presenciou-se a inauguração da primeira grande época de solo firme, a idade da emergência crescente dos continentes.
57:8.20 (662.7) Desde a condensação da hidrosfera terrestre, inicialmente em um oceano mundial e subseqüentemente no oceano Pacífico, deve-se ter em conta que este último corpo de água então cobria nove décimos da superfície da Terra. Os meteoros, caindo no mar, acumularam-se no fundo dos oceanos; pois, de um modo geral, os meteoros são compostos de materiais pesados. Aqueles que caíam em terra eram, em grande medida, oxidados e subseqüentemente desgastados pela erosão e, ainda, arrastados como aluviões até as bacias do oceano. Assim, o fundo do oceano tornou-se cada vez mais pesado e, acrescentado a isso havia o peso de um corpo de água de cerca de quinze quilômetros de profundidade, em alguns pontos.
57:8.21 (662.8) O crescente peso do oceano Pacífico continuou a agir no sentido de levantar a massa continental de Terra. A Europa e a África começaram a emergir das profundezas do Pacífico e, concomitantemente, também emergiram aquelas massas atualmente chamadas de Austrália, América do Sul e do Norte, e o continente da Antártida; enquanto o leito do oceano Pacífico iniciou mais um afundamento compensatório. Ao fim desse período, quase um terço da superfície do planeta consistia em terras, todas em um único corpo continental.
57:8.22 (662.9) Com esse aumento na elevação das terras, apareceram as primeiras diferenças climáticas no planeta. A elevação das terras, as nuvens cósmicas e as influências oceânicas constituíram-se nos fatores principais a causar as flutuações climáticas. A espinha dorsal da massa de terra asiática alcançou uma altitude de quase quinze mil metros, na época da emergência máxima das terras. Tivesse havido muita umidade no ar, flutuando sobre essas regiões sumamente elevadas, enormes capas de gelo ter-se-iam formado; e a idade do gelo teria chegado muito antes. Centenas de milhões de anos se passariam antes que tanta terra de novo surgisse acima da água.
57:8.23 (663.1) Há 750 milhões de anos, surgiram as primeiras fendas na massa de terra continental, como a grande fenda separando o norte e o sul, a qual mais tarde foi preenchida pelas águas do oceano e preparou o caminho para o movimento no sentido oeste dos continentes da América do Norte e América do Sul, inclusive a Groenlândia. A longa falha leste-oeste separou a África da Europa, distanciando do continente asiático as massas de terra da Austrália, das ilhas do Pacífico, e da Antártida.
57:8.24 (663.2) Há 700 milhões de anos, Urântia estava aproximando-se da maturidade em termos de condições necessárias à manutenção da vida. Os movimentos dos continentes continuavam; o oceano penetrava cada vez mais nas terras, formando longos dedos de mar e criando aquelas águas rasas e abrigadas, nas baías, que tão adequadas são como habitat da vida marinha.
57:8.25 (663.3) Há 650 milhões de anos, presenciou-se mais uma separação das massas terrestres e, conseqüentemente, mais uma expansão dos mares continentais. E essas águas estavam rapidamente atingindo aquele grau de salinidade essencial à vida de Urântia.
57:8.26 (663.4) Esses mares e os seus sucessores estabeleceram os registros de vida em Urântia, como foi subseqüentemente descoberto em páginas de pedra bem conservadas, volume sobre volume, à medida que uma era sucedeu à outra, e uma idade à outra. Na realidade esses mares internos das épocas remotas foram os berços da evolução.
57:8.27 (663.5) [Apresentado por um Portador da Vida, membro do Corpo original de Urântia e, atualmente, observador residente.]
O Livro de Urântia
Documento 58
58:0.1 (664.1) EM TODO o Satânia, há apenas sessenta e um mundos semelhantes a Urântia, planetas de modificação da vida. Os mundos habitados, na sua maioria, são povoados de acordo com técnicas estabelecidas e, em tais esferas, os Portadores da Vida têm pouca liberdade para fazer variar os seus planos de implantação da vida. Todavia, um mundo, entre dez, é designado como planeta decimal, e destinado ao registro especial dos Portadores da Vida; e, nesses planetas, é-nos permitido efetuar certos experimentos de vida, num esforço para modificar ou possivelmente aperfeiçoar o padrão dos tipos de seres vivos no universo.
58:1.1 (664.2) Há 600 milhões de anos, a comissão de Portadores da Vida, enviada de Jerusém, chegou em Urântia e começou o estudo das condições físicas preparatórias, para dar início à vida no mundo de número 606, do sistema de Satânia. Essa seria a nossa sexcentésima sexta experiência de iniciação da vida nos padrões de Nébadon, em Satânia, e a nossa sexagésima oportunidade de efetuar alterações e instituir modificações no projeto básico padrão da vida do universo local.
58:1.2 (664.3) Deve ficar claro que os Portadores da Vida não podem iniciar a vida antes de uma esfera estar amadurecida para a inauguração do ciclo evolucionário. E também não podemos promover um desenvolvimento mais rápido da vida do que aquele que pode ser suportado e acomodado pelo progresso físico do planeta.
58:1.3 (664.4) Os Portadores da Vida de Satânia haviam projetado um padrão de vida baseado no cloreto de sódio; e, portanto, nenhum passo poderia ser dado, no sentido de plantar essa vida, antes que as águas dos oceanos se houvessem tornado suficientemente salgadas. O tipo urantiano de protoplasma pode funcionar apenas em uma solução salina adequada. Toda a vida ancestral — vegetal e animal — evoluiu em um habitat dentro de tal solução salina. E mesmo os animais terrestres mais altamente organizados não poderiam continuar a viver, se essa mesma solução salina essencial não circulasse nos seus corpos, na corrente sangüínea, que livremente banha e literalmente submerge cada pequena célula viva nessa “profundidade marinha salgada”.
58:1.4 (664.5) Os vossos ancestrais primitivos circulavam livremente no oceano salgado; hoje, essa mesma solução salina oceânica circula livremente nos vossos corpos, banhando cada célula individual com um líquido químico comparável, em essência, à água salgada que estimulou as primeiras reações protoplasmáticas das primeiras células que funcionaram com vida no planeta.
58:1.5 (664.6) Contudo, quando essa idade tem início, Urântia encontra-se, em todos os sentidos, evoluindo para um estado favorável à sobrevivência das formas iniciais da vida marinha. De modo seguro e vagarosamente, os desenvolvimentos físicos na Terra e regiões espaciais adjacentes preparam o cenário para as futuras tentativas de implantar formas de vida tais que, conforme havíamos decidido, seriam as mais adaptáveis ao ambiente físico que despontava — tanto terrestre, quanto aéreo.
58:1.6 (665.1) Subseqüentemente, a comissão de Portadores da Vida de Satânia retornou a Jerusém, preferindo aguardar a quebra posterior da massa continental de terra, o que proporcionaria um número ainda maior de mares avançando terra adentro, e de baías abrigadas, antes de iniciarem de fato a implantação da vida.
58:1.7 (665.2) Num planeta em que a vida tem uma origem marinha, as condições ideais para a implantação da vida são providas por um grande número de braços de mares, em linhas extensas de praias de águas rasas, cheias de baías abrigadas; e essa distribuição das águas na Terra era, exatamente, a que se estava desenvolvendo com rapidez. Esses antigos mares interiores raramente excediam a profundidade de cento e cinqüenta a duzentos metros; e a luz do sol pode penetrar na água do oceano por mais de cento e oitenta metros.
58:1.8 (665.3) E foi a partir dessas baías de climas amenos e regulares, de uma idade posterior, que a vida vegetal primitiva encontrou seu caminho para a terra. Ali, o alto grau de carbono da atmosfera proporcionou às novas variedades de vida terrestre uma oportunidade de crescimento rápido e luxuriante. Embora essa atmosfera fosse, então, a ideal para o crescimento das plantas, ela continha um grau tão alto de dióxido de carbono que nenhum animal, e o homem menos ainda, poderia então haver vivido na face da Terra.
58:2.1 (665.4) A atmosfera planetária filtra para a Terra cerca de dois bilionésimos da luz total emanada do sol. Se a luz que cai sobre a América do Norte fosse taxada, a uma tarifa de dois centavos por quilowatt-hora, a conta de luz anual subiria a 800 quatrilhões de dólares. A conta de Chicago, da luz do sol, atingiria a soma considerável de mais de 100 milhões de dólares por dia. E deveria ser lembrado que vós recebeis do sol outras formas de energia — a luz não é a única contribuição solar que alcança a vossa atmosfera. Muitas energias solares derramam-se sobre Urântia, abrangendo comprimentos de ondas tanto acima quanto abaixo do alcance de reconhecimento da visão humana.
58:2.2 (665.5) A atmosfera da Terra é quase opaca para muitas das radiações solares no extremo ultravioleta do espectro. A maioria dessas ondas de comprimentos curtos é absorvida por uma camada de ozônio que existe até um nível de dezesseis quilômetros acima da superfície da Terra, e que se estende por mais outros dezesseis quilômetros no espaço. O ozônio que permeia essa região, nas condições que prevalecem na superfície da Terra, formaria uma camada de apenas dois milímetros e meio de espessura; essa quantidade relativamente pequena, e aparentemente insignificante, de ozônio, contudo, protege os habitantes de Urântia dos excessos das radiações ultravioleta, perigosas e destrutivas, presentes na luz do sol. Todavia, se essa camada de ozônio fosse ligeiramente mais espessa, vós estaríeis sendo privados dos raios ultravioleta, altamente importantes e provedores de saúde, que agora alcançam a superfície da Terra e que são os ancestrais de uma das vossas vitaminas mais essenciais.
58:2.3 (665.6) E, ainda assim, alguns dos menos imaginativos entre os vossos mecanicistas mortais insistem em ver a criação material e a evolução humana como um acaso. Os seres intermediários de Urântia reuniram cerca de cinqüenta mil fatos da física e da química que eles julgam ser incompatíveis com as leis das probabilidades do acaso, os quais, segundo eles defendem, demonstram inequivocamente a presença de propósito inteligente na criação material. E tudo isso não leva em conta o seu catálogo das mais de cem mil descobertas, fora do domínio da física e da química, que eles sustentam serem uma prova da presença da mente no planejamento, criação e manutenção do cosmo material.
58:2.4 (666.1) O vosso sol derrama um verdadeiro dilúvio de raios mortais, e a agradável vida que tendes em Urântia acontece devido à influência “fortuita” de mais de quarenta operações protetoras, aparentemente acidentais, semelhantes à ação dessa camada singular de ozônio.
58:2.5 (666.2) Não fora o efeito “cobertor” da atmosfera, à noite o calor perder-se-ia por irradiação e tão rapidamente que seria impossível manter a vida, exceto por dispositivos artificiais.
58:2.6 (666.3) A camada dos primeiros oito ou dez quilômetros inferiores da atmosfera da Terra é a troposfera; é a região dos ventos e correntes de ar que causam os fenômenos meteorológicos. Acima dessa região, está a ionosfera interna, e, mais acima, está a estratosfera. Subindo, da superfície da Terra, a temperatura vai caindo constantemente por dez ou doze quilômetros, altitude em que é registrada a temperatura de cerca de 56 graus Celsius abaixo de zero. Essa faixa de temperatura, entre 54 e 56 graus abaixo de zero, permanece sem alterações até uma altitude de mais de sessenta e cinco quilômetros; essa região de temperatura constante é a estratosfera. A uma altitude de setenta ou oitenta quilômetros, a temperatura começa a aumentar, e esse aumento continua até que, no nível das auroras boreais, uma temperatura de 650 graus Celsius é atingida, e é esse intenso calor que ioniza o oxigênio. No entanto, a temperatura nessa atmosfera rarefeita não pode ser comparável à sensação de calor na superfície da Terra. Lembrai-vos de que a metade de toda a vossa atmosfera está concentrada nos primeiros cinco mil metros. A altitude da atmosfera da Terra é indicada pelos arcos luminosos, os da mais elevada altitude, das auroras boreais — de cerca de seiscentos e cinqüenta quilômetros.
58:2.7 (666.4) Os fenômenos das auroras boreais estão diretamente relacionados às manchas solares, aqueles ciclones solares que turbilhonam em direções opostas acima e abaixo do equador solar, tal como o fazem os furacões terrestres tropicais. Tais perturbações atmosféricas giram em sentidos opostos, quando ocorrem acima ou abaixo do equador.
58:2.8 (666.5) O poder que as manchas solares têm de alterar as freqüências da luz mostra que esses centros de tempestades solares funcionam como enormes magnetos. Esses campos magnéticos são capazes de arrastar as partículas carregadas, das crateras das manchas solares, arrojando-as no espaço até a atmosfera externa da Terra, onde a sua influência ionizante produz os desdobramentos espetaculares da aurora boreal. Por isso, tendes os maiores fenômenos de auroras quando as manchas solares estão no seu apogeu — ou estarão, logo em seguida — , momento este em que as manchas estão em geral situadas perto do equador.
58:2.9 (666.6) Mesmo a agulha de bússolas é sensível a essa influência solar, pois elas inclinam-se ligeiramente para o leste quando o sol se levanta, e ligeiramente para o oeste quando o sol está preste a se pôr. Isso acontece todos os dias, mas, durante o apogeu do ciclo das manchas solares, a variação da bússola é duas vezes maior. Esses desvios diurnos da bússola ocorrem por reação ao aumento da ionização da atmosfera superior, que é produzida pela luz solar.
58:2.10 (666.7) É a presença de dois níveis diferentes, de regiões eletrificadas condutoras, na superestratosfera, que permite a transmissão, a longa distância, das vossas emissões radiofônicas de ondas curtas e longas. As vossas transmissões radiofônicas são, algumas vezes, perturbadas pelas terríveis tempestades que ocasionalmente assolam os domínios dessas ionosferas externas.
58:3.1 (666.8) Durante os primeiros tempos da materialização do universo, as regiões do espaço estão intercaladas com vastas nuvens de hidrogênio, muito semelhantes às nuvens astronômicas de poeira que agora caracterizam muitas regiões no espaço remoto. Uma grande parte da matéria organizada, que os sóis abrasadores reduzem e dispersam como energia radiante, originalmente era composta dessas nuvens espaciais primitivas de hidrogênio. Sob certas condições inusitadas, a desintegração dos átomos também ocorre no núcleo das massas maiores de hidrogênio. E todos esses fenômenos de constituição e desintegração do átomo, como nas nebulosas altamente aquecidas, são seguidos pela emergência de fluxos de marés de raios de energia radiante de comprimento curto. Acompanhando essas radiações diversas, há uma forma de energia-espaço desconhecida em Urântia.
58:3.2 (667.1) Essa carga de energia de raios curtos do espaço, no universo, é quatrocentas vezes maior do que todas as outras formas de energia radiante que existem nos domínios do espaço organizado. A emissão de raios espaciais curtos, originários seja das nebulosas abrasadoras ou de tensos campos elétricos, seja do espaço exterior ou das vastas nuvens de pó de hidrogênio, é modificada, qualitativa e quantitativamente, pelas flutuações e pelas súbitas mudanças nas tensões, na temperatura, na gravidade e nas pressões eletrônicas.
58:3.3 (667.2) Essas eventualidades, nas origens dos raios do espaço, são determinadas por muitas ocorrências cósmicas, bem como pelas órbitas de matéria circulante, que podem variar, de círculos modificados a elipses extremas. As condições físicas podem também ser grandemente alteradas, porque os elétrons algumas vezes giram no sentido oposto ao do comportamento da matéria mais grosseira, ainda que na mesma zona física.
58:3.4 (667.3) As imensas nuvens de hidrogênio são verdadeiros laboratórios cósmicos de química, abrigando todas as fases da energia em evolução e matéria em metamorfose. Atividades energéticas intensas também ocorrem nos gases marginais das grandes estrelas binárias, que com tanta freqüência se sobrepõem e, em conseqüência disso, se misturam profundamente. Contudo, nenhuma dessas atividades energéticas, tremendas e extensas, do espaço, exerce a menor influência sobre os fenômenos da vida organizada — o plasma germinador das coisas e seres vivos. Essas condições da energia espacial são inerentes ao meio ambiente essencial ao estabelecimento da vida, todavia não são efetivas nas modificações subseqüentes dos fatores de herança do plasma da germinação, como o são alguns dos raios mais longos de energia radiante. A vida implantada pelos Portadores da Vida resiste plenamente a toda essa torrente assombrosa de raios curtos de espaço da energia do universo.
58:3.5 (667.4) Todas essas condições cósmicas essenciais tinham que evoluir até um estado favorável, antes que os Portadores da Vida pudessem, de fato, iniciar o estabelecimento da vida em Urântia.
58:4.1 (667.5) Não vos deixeis confundir pelo fato de sermos chamados de Portadores da Vida. Podemos transportar a vida, e nós a transportamos aos planetas, mas não transportamos nenhuma vida para Urântia. A vida de Urântia é única, e original com o planeta. Esta esfera é um mundo de modificação da vida; toda a vida que surgiu aqui foi formulada por nós, aqui mesmo, no planeta; e não há outro mundo em todo o Satânia, e mesmo em todo o Nébadon, que tenha uma existência de vida igual a essa de Urântia.
58:4.2 (667.6) Há 550 milhões de anos, o corpo de Portadores da Vida retornou a Urântia. Em cooperação com os poderes espirituais e as forças suprafísicas, nós organizamos e iniciamos os modelos originais de vida desse mundo e os plantamos nas águas hospitaleiras desse reino. Toda a vida planetária (excluindo as personalidades extraplanetárias) até os dias de Caligástia, o Príncipe Planetário, teve a sua origem nas nossas três implantações originais, idênticas e simultâneas de vida marinha. Essas três implantações de vida foram designadas como sendo: a central ou eurasiana-africana, a oriental ou australásica, e a ocidental, que abrange a Groenlândia e as Américas.
58:4.3 (668.1) Há 500 milhões de anos, a vida marinha vegetal primitiva estava bem estabelecida em Urântia. A Groenlândia e a massa de terra do Ártico, junto com as da América do Sul e América do Norte, estavam começando a sua longa e lenta derivação para oeste. A África moveu-se ligeiramente para o sul, criando uma depressão a leste e, a oeste, a bacia do Mediterrâneo, entre ela própria e o corpo-mãe. A Antártida, a Austrália e a terra marcada pelas ilhas do Pacífico desprenderam-se ao sul e a leste, e derivaram para mais longe desde aquela época.
58:4.4 (668.2) Havíamos plantado a forma primitiva de vida marinha nas baías tropicais abrigadas dos mares centrais da segmentação leste-oeste da massa continental de terra que se desprendia. O nosso propósito, ao fazer três implantações de vida marinha, era assegurar que cada uma dessas grandes massas de terra tivesse vida nas suas águas marinhas quentes, quando a terra posteriormente se separasse. Previmos para a era seguinte, quando surgisse a vida terrestre, que grandes oceanos de água separariam tais massas continentais de terra à deriva.
58:5.1 (668.3) A deriva da terra continental continuou. O núcleo da Terra havia-se tornado tão denso e rígido quanto o aço, estando sujeito à pressão de quase 3 500 toneladas por centímetro quadrado, e, devido à enorme pressão da gravidade, foi e ainda é muito quente no seu interior profundo. A temperatura cresce, da superfície para dentro, até que, no centro, está ligeiramente acima da temperatura da superfície do sol.
58:5.2 (668.4) Os mil e seiscentos quilômetros exteriores da massa da Terra consistem principalmente em espécies diferentes de rocha. Por baixo, ficam os elementos metálicos mais densos e pesados. Nas primeiras idades pré-atmosféricas, o mundo estava, no seu estado altamente aquecido e de fusão, tão perto do estado fluido, que os metais mais pesados afundavam pesadamente para o interior. Aqueles que hoje se encontram próximos da superfície representam as exsudações de vulcões antigos, fluxos de lava posteriores e extensos, e depósitos meteóricos mais recentes.
58:5.3 (668.5) A crosta externa tinha cerca de sessenta e cinco quilômetros de espessura. Essa casca externa estava apoiada e repousava diretamente sobre um mar de basalto fundido, de espessura variável, uma camada móvel de lava fundida, mantida sob alta pressão, mas sempre tendendo a fluir, aqui e ali, para equalizar as flutuações das pressões planetárias, tendendo, desse modo, a estabilizar a crosta da Terra.
58:5.4 (668.6) Mesmo hoje, os continentes continuam a flutuar sobre essa almofada não cristalizada que é o mar de basalto fundido. Não fosse essa condição protetora, os terremotos mais severos fariam literalmente o mundo em pedaços. Os terremotos são causados por deslizamentos e deslocamentos da crosta externa sólida, e não pelos vulcões.
58:5.5 (668.7) As camadas de lava da crosta da Terra, quando esfriadas, formam granito. A densidade média de Urântia é um pouco maior do que cinco vezes e meia a da água; a densidade do granito é de menos do que três vezes a da água. O núcleo da Terra é doze vezes mais denso do que a água.
58:5.6 (668.8) Os fundos dos mares são mais densos do que as massas de terra, e é isso que mantém os continentes acima da água. Quando o fundo dos mares é expelido até um nível acima do mar, verifica-se que consiste em uma parte maior de basalto, uma forma de lava consideravelmente mais pesada do que o granito das massas de terra. E, por outro lado, se os continentes não fossem mais leves do que os fundos dos oceanos, a gravidade arrastaria as bordas dos oceanos até acima das terras, mas tais fenômenos não acontecem.
58:5.7 (668.9) O peso dos oceanos é também um fator que aumenta a pressão sobre os fundos dos oceanos. As camadas mais profundas e relativamente mais pesadas, dos fundos dos oceanos, mais o peso exercido pela água que está por cima, aproximam-se do peso dos continentes mais elevados, mas bem menos pesados. Todos os continentes, porém, tendem a deslizar lentamente para os oceanos. A pressão continental no nível do fundo do oceano é de cerca de 1 300 quilogramas por centímetro quadrado. Quer dizer, esta seria a pressão de uma massa continental que se eleva a 5 000 metros acima do fundo do oceano. A pressão de água no fundo do oceano é de cerca de apenas 350 quilogramas por centímetro quadrado. Essas pressões diferenciais tendem a fazer os continentes deslizarem na direção dos leitos dos oceanos.
58:5.8 (669.1) A depressão do fundo dos oceanos, durante as idades anteriores à vida, havia elevado uma massa continental solitária a uma altura tal que a sua pressão lateral tendia a fazer com que as bordas orientais, ocidentais e sulinas deslizassem para baixo, sobre os leitos subjacentes da lava semiviscosa, até as águas do oceano Pacífico, que rodeavam a massa continental. Isso compensava a pressão continental tão completamente, que não ocorreu nenhuma ruptura maior na margem oriental do continente asiático anterior, mas, desde então, essa linha costeira oriental tem estado suspensa sobre o precipício das profundezas oceânicas adjacentes, ameaçando deslizar para dentro de um túmulo marinho.
58:6.1 (669.2) Há 450 milhões de anos, aconteceu a transição da vida vegetal para a vida animal. Essa metamorfose teve lugar nas águas rasas das lagoas e das baías tropicais, abrigadas ao longo das linhas costeiras extensas dos continentes que se separavam. E esse desenvolvimento, todo ele inerente aos padrões originais da vida, deu-se gradativamente. Havia muitos estágios de transição entre as formas iniciais primitivas de vida vegetal e os organismos animais posteriores bem definidos. E, ainda hoje, persistem as formas de limos de transição, as quais não podem ser classificadas, seja como plantas, seja como animais.
58:6.2 (669.3) Ainda que a evolução da vida vegetal em vida animal possa ser determinada, e embora hajam sido encontradas séries graduais de plantas e animais que progressivamente se desenvolveram dos mais simples aos mais complexos e avançados organismos, vós não sereis capazes de encontrar esses elos de ligação entre as grandes divisões do reino animal, nem entre o mais elevado dos tipos de animais pré-humanos e o alvorecer dos homens das raças humanas. Esses chamados “elos perdidos” permanecerão para sempre perdidos, pela simples razão de nunca haverem existido.
58:6.3 (669.4) De era para era, aparecem espécies radicalmente novas de vida animal. Elas não evoluem como conseqüência da acumulação gradual de pequenas variações; surgem como novas ordens de vida, plenamente desenvolvidas, e aparecem subitamente.
58:6.4 (669.5) O aparecimento súbito de novas espécies e de ordens diversificadas de organismos vivos é totalmente biológico, estritamente natural. Nada há de sobrenatural ligado a essas mutações genéticas.
58:6.5 (669.6) No grau apropriado de salinidade nos oceanos, a vida animal evoluiu, e foi relativamente simples permitir que as águas salgadas circulassem nos corpos animais de vida marinha. Quando, porém, os oceanos se contraíram e a porcentagem de sal aumentou consideravelmente, esses mesmos animais desenvolveram a capacidade de reduzir a salinidade dos fluidos dos seus corpos, exatamente como aqueles organismos que aprenderam a viver na água doce adquiriram a capacidade de manter o grau adequado de cloreto de sódio nos fluidos dos seus corpos, por meio de técnicas engenhosas de conservação desse sal.
58:6.6 (669.7) O estudo das fossilizações de vida marinha dentro de rochas revela as lutas iniciais dos ajustamentos desses organismos primitivos. As plantas e os animais nunca deixaram de efetuar tais experimentos de ajustes. O ambiente mantém-se em constante alteração e os organismos vivos estão sempre lutando para acomodar-se a essas flutuações sem fim.
58:6.7 (670.1) O equipamento fisiológico e a estrutura anatômica de todas as ordens novas de vida respondem continuamente à ação das leis físicas, mas o dom subseqüente da mente é uma dádiva dos espíritos ajudantes da mente, de acordo com a capacidade inata do cérebro. A mente, ainda que não seja proveniente da evolução física, é integralmente dependente da capacidade do cérebro, proporcionada por desenvolvimentos puramente físicos e evolucionários.
58:6.8 (670.2) Durante ciclos quase sem fim de ganhos e perdas, de ajustes e reajustes, todos os organismos vivos progridem e regridem de uma idade para outra. Aqueles que alcançam a unidade cósmica perduram, enquanto aqueles que perdem essa meta cessam de existir.
58:7.1 (670.3) O vasto grupo de sistemas de rochas que constituiu a camada externa da crosta do mundo durante a era do alvorecer da vida, ou era Proterozóica, não aparece atualmente em muitos pontos na superfície da Terra. E, quando de fato emergem de baixo de todos os sedimentos das idades subseqüentes, serão encontrados apenas os remanescentes fósseis de vegetais e da vida animal muito primitiva. Algumas dessas rochas mais antigas, depositadas pela água, estão misturadas a camadas posteriores, e algumas vezes elas apresentam restos fósseis de algumas das formas anteriores de vida vegetal, enquanto, ocasionalmente, nas camadas mais superficiais podem ser encontradas algumas formas mais antigas de organismos marinhos animais primitivos. Em muitos locais, essas camadas mais antigas de rocha estratificada, que contêm os fósseis de vida marinha primitiva, tanto animal quanto vegetal, podem ser encontradas diretamente acima da pedra mais antiga e não diferenciada.
58:7.2 (670.4) Os fósseis dessa era trazem algas, plantas semelhantes a corais, protozoários primitivos e organismos esponjosos de transição. Contudo, a ausência desses fósseis nas camadas mais antigas não prova necessariamente que coisas vivas não existissem em outros locais, na época do seu depósito. A vida era esparsa durante esses tempos iniciais, e apenas vagarosamente gerou o seu caminho pela superfície da Terra.
58:7.3 (670.5) As rochas dessa idade mais antiga encontram-se agora na superfície da Terra, ou muito próximas da superfície, sobre mais de um oitavo da área atual de terras. A espessura média dessas pedras de transição, das mais antigas camadas de rocha estratificada, é de cerca de 2 500 metros. Em alguns pontos, esses antigos sistemas de rochas têm até 6 500 metros de espessura, mas, muitas das camadas, atribuídas a essa era, pertencem a períodos mais recentes.
58:7.4 (670.6) Na América do Norte, essa camada antiga e primitiva de rocha contendo fósseis vem à superfície nas regiões oriental, central e setentrional do Canadá. Também existe uma cordilheira intermitente dessa rocha na direção leste-oeste, que vai do estado da Pensilvânia e das antigas montanhas do Adirondack, a oeste, e atravessa os estados de Michigan, Wisconsin e Minnesota. Outras cordilheiras estendem-se desde as Terras Novas até o estado do Alabama, e do Alasca ao México.
58:7.5 (670.7) As rochas dessa era estão expostas aqui e ali em todo o mundo, mas nenhuma delas é de interpretação tão fácil como as vizinhas do lago Superior e do Grande Canyon no rio Colorado, onde essas rochas, que contêm fósseis primitivos, existentes em várias camadas, atestam as elevações e flutuações da superfície das terras naqueles tempos bastante remotos.
58:7.6 (670.8) Essa camada de pedra, o mais antigo estrato com fossilizações na crosta da Terra, foi desmoronada, dobrada e caprichosamente torcida, pelos solavancos dos terremotos e vulcões primitivos. Os fluxos de lava nessa era traziam muito ferro, cobre e chumbo até bem próximo da superfície planetária.
58:7.7 (670.9) Há poucos lugares na Terra onde essas atividades são mais graficamente visíveis do que no vale de Santa Croix, em Wisconsin. Nessa região, ocorreram cento e vinte e sete fluxos sucessivos de lava no solo, seguidos de submersões pela água, com o conseqüente depósito de rocha. Se bem que grande parte da sedimentação superior da rocha e dos fluxos intermitentes de lava esteja ausente, hoje em dia, e embora a base desse sistema esteja enterrada muito profundamente no solo, ainda assim, cerca de sessenta e cinco ou setenta desses registros estratificados de eras do passado atualmente encontram-se expostos à vista.
58:7.8 (671.1) Nessas idades iniciais, quando grande parte das terras estava próxima do nível do mar, ocorreram muitas submersões sucessivas e vários levantamentos. A crosta da Terra estava apenas entrando no seu último período de relativa estabilização. As ondulações das massas, as elevações e os mergulhos provocados pelo início da deriva continental contribuíram para a freqüência das submersões periódicas das grandes massas de terra.
58:7.9 (671.2) Durante esses tempos de vida marinha primitiva, grandes áreas das margens continentais afundaram nos mares a profundidades de um a oitocentos metros. Grande parte dos arenitos mais antigos e outros conglomerados representam as acumulações sedimentares dessas antigas margens. As rochas sedimentares, pertencentes a essa estratificação mais antiga, repousam diretamente sobre camadas que datam de muito antes da origem da vida, e remontam ao aparecimento inicial do oceano mundial.
58:7.10 (671.3) Algumas das camadas mais superficiais desses depósitos de rocha de transição contêm pequenas quantidades de xistos e de ardósias de cores escuras, indicando a presença de carbono orgânico e atestando a existência dos ancestrais das formas de vida vegetal que invadiram a Terra durante a era Carbonífera subseqüente, ou era do carvão. Boa parte do cobre nessas camadas de rochas resulta de depósitos de água. Um pouco desse cobre é encontrado nas fissuras de rochas mais antigas e vem da concentração de águas pantanosas turfosas de alguma antiga linha de costa abrigada. As minas de ferro da América do Norte e da Europa estão localizadas em depósitos e extrusões que repousam, em parte, sobre rochas mais antigas não estratificadas e, em parte, sobre essas rochas estratificadas posteriormente, dos períodos de transição de formação da vida.
58:7.11 (671.4) Essa era testemunha a disseminação da vida pelas águas do mundo; a vida marinha tornara-se já bem estabelecida em Urântia. O fundo dos mares rasos, mas longos, adentrando nas terras, está sendo gradualmente invadido por um crescimento profuso e luxuriante de vegetação, enquanto as águas da linha costeira encontram-se infestadas das formas simples de vida animal.
58:7.12 (671.5) Toda essa história está graficamente contada, nas páginas fossilizadas do vasto “livro de pedra”, o arquivo deste mundo. E as páginas desse gigantesco registro biogeológico dirão, infalivelmente, a verdade, tão logo vós adquirirdes a capacidade para fazer a interpretação delas. Muitos desses fundos marinhos antigos estão agora elevados bem acima do nível da superfície terrestre e os seus depósitos, de idade sobre idade, contam a história das lutas pela vida naqueles dias iniciais. Como disse o vosso poeta, é literalmente verdade que “o pó sobre o qual pisamos esteve vivo outrora”.
58:7.13 (671.6) [Apresentado por um membro do Corpo de Portadores da Vida de Urântia, atualmente residente neste planeta.]
O Livro de Urântia
Documento 59
59:0.1 (672.1) CONSIDERAMOS a história de Urântia tendo o seu começo há cerca de um bilhão de anos, abrangendo cinco eras maiores:
59:0.2 (672.2) 1. A era da pré-vida que se estende pelos primeiros quatrocentos e cinqüenta milhões de anos; aproximadamente desde a época em que o planeta atingiu o seu tamanho atual até o tempo do estabelecimento da vida. Os vossos pesquisadores designaram este período como a era Arqueozóica.
59:0.3 (672.3) 2. A era da aurora da vida que abrange os cento e cinqüenta milhões de anos seguintes. Esta época interpõe-se entre a era precedente, de pré-vida, ou idade dos cataclismos, e o período seguinte, de uma vida marinha mais desenvolvida. Esta é conhecida dos vossos pesquisadores como a era Proterozóica.
59:0.4 (672.4) 3. A era da vida marinha cobre os duzentos e cinqüenta milhões de anos subseqüentes. E é mais conhecida vossa como sendo a era Paleozóica.
59:0.5 (672.5) 4. A era da vida terrestre primitiva estende-se aos cem milhões de anos seguintes e vós a conheceis como a era Mesozóica.
59:0.6 (672.6) 5. A era dos mamíferos ocupa os últimos cinqüenta milhões de anos. Esta era, de tempos recentes, é a conhecida como era Cenozóica.
59:0.7 (672.7) A era de vida marinha, assim, cobre cerca de um quarto da vossa história planetária. Pode ser subdividida em seis longos períodos; cada um caracterizado por certos desenvolvimentos bem definidos, tanto nos domínios geológicos quanto nos reinos biológicos.
59:0.8 (672.8) No início dessa era, o fundo dos mares, as extensas plataformas continentais e numerosas bacias litorâneas rasas estão cobertas de prolífera vegetação. As formas mais simples e primitivas de vida animal já se encontram desenvolvidas, a partir dos organismos vegetais precedentes, e os organismos animais mais simples já percorrem o seu caminho gradualmente ao longo das linhas costeiras das várias massas de terra e, enfim, os inúmeros mares interiores fervilham de vida marinha primitiva. Como tão poucos desses organismos iniciais tinham carapaças, pouquíssimos foram preservados como fósseis. Todavia, o cenário está pronto para os capítulos de abertura daquele grande “livro de pedra” de preservação dos registros da vida, tão metodicamente depositado durante as idades que se sucederam.
59:0.9 (672.9) O continente da América do Norte é maravilhosamente rico em depósitos contendo fósseis de todas as eras de vida marinha. As primeiríssimas e mais antigas camadas estão separadas dos últimos estratos do período precedente por grandes depósitos erosivos que nitidamente distinguem esses dois estágios do desenvolvimento planetário.
59:1.1 (673.1) Por volta da aurora desse período de relativa quietude na superfície da Terra a vida está confinada aos vários mares interiores e à linha oceânica do litoral, pois não evoluiu ainda nenhuma forma de organismo terrestre. Os animais marinhos primitivos estão bem estabelecidos e preparados para o próximo desenvolvimento evolucionário. As amebas são os sobreviventes típicos desse estágio inicial de vida animal, tendo surgido mais para o final do período precedente de transição.
59:1.2 (673.2) Há 400 milhões de anos, a vida marinha, tanto a vegetal quanto a animal, está bastante bem distribuída por todo o mundo. O clima do planeta torna-se um pouco mais quente e mais regular. Há uma inundação geral dos litorais dos vários continentes, particularmente os da América do Sul e do Norte. Novos oceanos aparecem, e as massas mais antigas de água crescem amplamente.
59:1.3 (673.3) A vegetação agora, pela primeira vez, avança terra acima e logo faz um progresso considerável de adaptação a um habitat não marinho.
59:1.4 (673.4) Subitamente e sem gradação de ancestrais surgem os primeiros animais multicelulares. Os trilobitas evoluíram e, durante idades, eles dominam os mares. Do ponto de vista da vida marinha, esta é a idade dos trilobitas.
59:1.5 (673.5) Na parte mais recente dessa época, grande parte da América do Norte e Europa emergiu dos mares. A crosta da Terra estava temporariamente estabilizada; montanhas ou, melhor, altas elevações de terra ergueram-se ao longo das costas do Atlântico e do Pacífico, nas Antilhas e sul da Europa. Toda a região do Caribe estava bastante elevada.
59:1.6 (673.6) Há 390 milhões de anos, as terras estavam ainda elevadas. Em partes ocidentais e orientais da América e na Europa ocidental, podem ser encontrados os estratos de rocha depositados durante essas épocas, e essas são as rochas mais antigas a conter fósseis de trilobitas. Havia muitos longos golfos, em forma de dedo, com a água projetando-se para dentro das massas de terra, nos quais foram depositadas essas rochas contendo fósseis.
59:1.7 (673.7) Dentro de uns poucos milhões de anos, o oceano Pacífico estaria começando a invadir os continentes americanos. O afundamento da terra foi devido principalmente ao ajustamento da crosta, embora a movimentação lateral da terra, ou movimentação continental, fosse também um fator.
59:1.8 (673.8) Há 380 milhões de anos, a Ásia estava afundando, e todos os outros continentes experimentavam uma emersão de pouca duração. À medida, porém, que essa época avançou, o oceano Atlântico recém-surgido fazia grandes incursões em toda a costa adjacente. O Atlântico do norte ou os mares árticos estavam então ligados às águas meridionais do golfo. Quando esse mar do sul invadiu a depressão apalachiana, as suas ondas quebraram-se a leste contra montanhas tão altas quanto os Alpes; em geral, contudo, os continentes eram terras baixas e desinteressantes, bastante desprovidas de beleza cênica.
59:1.9 (673.9) Os depósitos sedimentares dessas idades são de quatro espécies:
59:1.10 (673.10) 1. Os conglomerados — matéria depositada perto das linhas de costa.
59:1.11 (673.11) 2. Os arenitos — depósitos feitos em águas rasas, mas onde as ondas eram suficientes para impedir o depósito de lodo.
59:1.12 (673.12) 3. Os xistos — depósitos feitos em águas mais profundas e calmas.
59:1.13 (673.13) 4. O calcário — incluem-se aqui os depósitos de conchas de trilobitas em águas profundas.
59:1.14 (673.14) Os fósseis de trilobitas dessa época apresentam certas uniformidades básicas, acompanhadas de variações bem assinaladas. Os desenvolvimentos animais iniciais das três implantações originais da vida eram característicos; aqueles que apareceram no hemisfério ocidental eram ligeiramente diferentes daqueles do grupo eurasiano e australásico, ou australiano-antártido.
59:1.15 (674.1) Há 370 milhões de anos, ocorreram submersões tremendas, quase totais, da América do Norte e América do Sul; seguidas dos afundamentos da África e Austrália. Apenas algumas partes da América do Norte permaneceram acima desses mares rasos do Cambriano. Cinco milhões de anos mais tarde, os mares estavam retraindo-se diante da elevação da terra. E todos esses fenômenos de afundamento e elevação de terras não eram drásticos, acontecendo vagarosamente durante milhões de anos.
59:1.16 (674.2) Os estratos, contendo fósseis dos trilobitas dessa época, afloram aqui e ali em todos os continentes, exceto na Ásia Central. Em muitas regiões, tais rochas são horizontais, mas, nas montanhas, elas são inclinadas e distorcidas por causa da pressão e das dobras. E tais pressões modificaram, em muitos locais, o caráter original de tais depósitos. O arenito transformou-se em quartzo, o xisto transformou-se em ardósia, enquanto o calcário converteu-se em mármore.
59:1.17 (674.3) Há 360 milhões de anos, as terras ainda estavam emergindo. A América do Norte e a América do Sul encontravam-se bem acima do mar. A Europa ocidental e as Ilhas Britânicas estavam emergindo, exceto partes do País de Gales, que se achavam profundamente submersas. Não havia grandes lençóis de gelo durante essas idades. Os depósitos supostamente glaciais que surgiram por causa desses estratos, na Europa, na África, na China e na Austrália, são devidos a montanhas glaciais ou ao deslocamento de detritos glaciais de origem recente. O clima, no todo global, era oceânico, não continental. Os mares do sul então eram mais quentes que atualmente e estendiam-se desde a América do Norte até as regiões polares. A corrente do golfo corria pela parte central da América do Norte, sendo defletida na direção leste para banhar e aquecer as margens da Groenlândia, fazendo daquele continente, hoje coberto por um manto de gelo, um verdadeiro paraíso tropical.
59:1.18 (674.4) A vida marinha era mais uniforme, em todo o planeta, sendo constituída de algas marinhas, organismos unicelulares, esponjas simples, trilobitas e outros crustáceos — camarões, caranguejos e lagostas. Três mil variedades de braquiópodes apareceram, no final desse período; e, dessas, apenas duzentas sobreviveram. Esses animais representam uma variedade de vida primitiva que chegou até o tempo presente praticamente sem se alterar.
59:1.19 (674.5) Mas os trilobitas eram as criaturas vivas predominantes. Eram animais sexuados e existiram em muitas formas; sendo maus nadadores, flutuavam preguiçosamente na água ou se rastejavam ao longo do fundo do mar, encolhendo-se por autoproteção, quando atacados pelos seus inimigos, surgidos posteriormente. E cresceram em comprimento, de cinco até trinta centímetros, e desenvolveram-se em quatro grupos distintos: os carnívoros, os herbívoros, os onívoros e os “comedores de lodo”. A capacidade de subsistir desse último grupo, em boa parte de matérias inorgânicas — sendo o último animal multicelular com essa capacidade — , explica a sua multiplicação e a sobrevivência prolongada.
59:1.20 (674.6) Esse era o quadro biogeológico de Urântia no final daquele longo período da história do mundo, abrangendo cinqüenta milhões de anos, que os vossos geólogos designaram como o Cambriano.
59:2.1 (674.7) Os fenômenos periódicos de elevação e afundamento das terras, característicos dessa época, foram bem graduais e não-espetaculares, sendo acompanhados de pouca ou nenhuma atividade vulcânica. Em todas essas sucessivas elevações e depressões de terras, o continente-mãe asiático não compartilhou totalmente da história das outras extensões de terra. Ele experimentou muitas inundações, mergulhando primeiro em uma direção, e depois em outra, mais particularmente na sua história primitiva, mas não apresenta os depósitos uniformes de rocha que podem ser descobertos nos outros continentes. Em épocas recentes, a Ásia tem sido a mais estável de todas as massas de terra.
59:2.2 (675.1) Há 350 milhões de anos, presenciou-se o começo da grande inundação de todos os continentes, exceto da Ásia Central. As massas de terra foram repetidamente cobertas de água; apenas as terras altas da costa permaneceram acima dessas oscilações de mares internos rasos, mas espalhados. Três inundações maiores caracterizaram esse período, mas, antes que ele terminasse, os continentes de novo emergiram; a emersão total de terra sendo em quinze por cento maior do que é atualmente. A região do Caribe estava bastante elevada. Esse período não é bem discernido na Europa, porque as flutuações de terra foram menores, enquanto a ação vulcânica foi mais persistente.
59:2.3 (675.2) Há 340 milhões de anos, ocorreu um outro extenso afundamento de terras, exceto na Ásia e na Austrália. As águas dos oceanos do mundo eram geralmente compartilhadas. Essa foi a grande idade dos depósitos calcários; grande parte das suas rochas foi depositada pelas algas que segregavam calcários.
59:2.4 (675.3) Uns poucos milhões de anos mais tarde, grandes porções dos continentes americanos e europeu começaram a emergir da água. No hemisfério ocidental, apenas um braço do oceano Pacífico permaneceu sobre o México e sobre a região das atuais Montanhas Rochosas, mas, perto do fim dessa época, as costas do Atlântico e do Pacífico começaram novamente a afundar.
59:2.5 (675.4) Há 330 milhões de anos, o mundo assistiu ao início de uma época de relativa calma, com muita terra novamente acima da água. A única exceção desse regime de quietude terrestre foi a erupção do grande vulcão da América do Norte, a leste do Kentucky, em uma das maiores atividades solitárias de vulcões que o mundo jamais conheceu. As cinzas desse vulcão cobriram mil e trezentos quilômetros quadrados, a uma profundidade de cinco a seis metros.
59:2.6 (675.5) Há 320 milhões de anos, ocorreu a terceira maior inundação desse período. As águas dessa inundação cobriram as terras submergidas pelo dilúvio precedente e, ao mesmo tempo, se estenderam até mais longe, em muitas direções, em todas as Américas e Europa. A parte leste da América do Norte e o oeste da Europa ficaram entre 3 000 e 4 500 metros sob a água.
59:2.7 (675.6) Há 310 milhões de anos, as massas de terra do mundo estavam novamente bem elevadas, excetuando-se a parte sulina da América do Norte. O México emergiu, criando assim o mar do golfo; e, desde então, este manteve a sua identidade.
59:2.8 (675.7) A vida, nesse período, continua a evoluir. O mundo, uma vez mais, está calmo e relativamente pacífico; o clima permanece suave e uniforme; as plantas das terras estão migrando para distâncias cada vez mais extensas e distantes das linhas litorâneas. Os modelos de vida acham-se bem desenvolvidos, embora poucos fósseis de plantas dessa época sejam encontrados.
59:2.9 (675.8) Essa foi a grande idade da evolução do organismo animal individual, embora muitas das mudanças básicas, tais como a transição de vegetal para animal, hajam ocorrido anteriormente. A fauna marinha desenvolveu-se até o ponto em que todo tipo de vida, abaixo da escala do vertebrado, estava representado nos fósseis daquelas rochas, que foram depositadas durante esses tempos. Mas todos esses animais eram organismos marinhos. Nenhum animal terrestre havia surgido ainda, excetuando-se uns poucos tipos de vermes que escavavam ao longo das linhas da costa; nem as plantas terrestres haviam ainda coberto os continentes; existia então muito dióxido de carbono no ar, para permitir a existência de respiradores de ar. Primariamente, todos os animais, excetuando-se alguns dos mais primitivos, dependiam direta ou indiretamente da vida vegetal para a sua existência.
59:2.10 (676.1) Os trilobitas ainda eram predominantes. Esses pequenos animais existiam em dezenas de milhares de modelos e foram os predecessores dos modernos crustáceos. Alguns dos trilobitas tinham entre vinte e cinco e quatro mil olhos minúsculos; outros possuíam rudimentos de olhos. Com o término desse período, os trilobitas dividiram o domínio dos mares com várias outras formas de vida invertebrada. Contudo, desapareceram totalmente durante o começo do período seguinte.
59:2.11 (676.2) As algas que segregavam o calcário estavam bastante espalhadas. Existiam milhares de espécies de ancestrais primitivos dos corais. Os vermes do mar eram abundantes, e havia muitas variedades de medusas que depois ficaram extintas. Os corais e os tipos posteriores de esponjas, então, evoluíram. Os cefalópodes estavam bem desenvolvidos, e sobreviveram como náutilos perolados, polvos, sibas e lulas dos tempos atuais.
59:2.12 (676.3) Havia muitas variedades de animais portadores de conchas, mas estas, então, não se faziam tão necessárias para propósitos defensivos, como nas idades subseqüentes. Os gastrópodes estavam presentes nas águas dos antigos mares, e incluíam os caramujos marinhos univalves, os moluscos e caracóis. Os gastrópodes bivalves atravessaram os milhões de anos, que nos separam daquela época, quase do mesmo modo como existiam então, e abrangem outros moluscos, mexilhões, ostras e vieiras. Os organismos valvulares abrigados em conchas também evoluíram, e esses braquiópodes viviam naquelas águas antigas de um modo bastante semelhante ao de hoje; inclusive, possuíam uma articulação e outras espécies de arranjos de proteção nas suas conchas.
59:2.13 (676.4) E assim termina a história evolucionária do segundo grande período da vida marinha, que é conhecido pelos vossos geólogos como o Ordoviciano.
59:3.1 (676.5) Há 300 milhões de anos, um outro grande período de submersão de terras teve início. A invasão dos antigos mares silurianos para o norte e para o sul engolfou a maior parte da Europa e da América do Norte. As terras não estavam muito elevadas acima do mar e, assim, não se produziram muitos depósitos ao longo das margens. Os mares estavam repletos de animais de conchas calcárias, e a queda dessas conchas, para o fundo do mar, gradualmente formou camadas muito espessas de calcário. Este é o primeiro vasto depósito de calcário, e cobre praticamente toda a Europa e a América do Norte, mas só aparece na superfície da Terra em poucos locais. A espessura dessa antiga camada de rocha tem, em média, trezentos metros, mas muitos desses depósitos, desde então, foram grandemente deformados pelos mergulhos, pelas sublevações e falhas, e muitos se transformaram em quartzo, xisto e mármore.
59:3.2 (676.6) Nas camadas de pedra desse período não são encontradas rochas ígneas nem lavas, exceto aquelas dos grandes vulcões do sul da Europa, da parte leste do Maine e dos fluxos de lava de Quebec. A ação vulcânica havia terminado em grande parte. Essa foi uma época de grande depósito de água; pouquíssima ou nenhuma montanha formou-se.
59:3.3 (676.7) Há 290 milhões de anos, o mar havia-se afastado consideravelmente dos continentes; e o fundo dos oceanos vizinhos estava afundando. As massas de terra achavam-se pouco alteradas, até que submergissem novamente. Os movimentos primitivos das montanhas de todos os continentes estavam começando, e a maior dessas elevações da crosta situava-se nos Himalaias, na Ásia e nas grandes Montanhas da Caledônia, estendendo-se da Irlanda à Escócia e indo até Spitzbergen.
59:3.4 (677.1) É nos depósitos dessa idade que grande parte dos gases, do petróleo, do zinco e do chumbo são encontrados, o gás e o petróleo derivando-se das enormes acumulações de matérias vegetal e animal depositadas na época das submersões anteriores da terra, enquanto os depósitos minerais representam a sedimentação das massas de águas estagnadas. Muitos dos depósitos de sal em rocha pertencem a esse período.
59:3.5 (677.2) Os trilobitas tiveram um rápido declínio, e o centro do cenário foi ocupado pelos moluscos maiores ou os cefalópodes. Esses animais cresceram até cinco metros de comprimento e cerca de trinta centímetros de diâmetro e tornaram-se os senhores dos mares. Essa espécie de animal apareceu de súbito e dominou a vida no mar.
59:3.6 (677.3) A grande atividade vulcânica dessa idade deu-se no setor europeu. Durante milhões e milhões de anos, essas erupções vulcânicas extensas e violentas não haviam ocorrido, do modo como o fazem agora, em torno da calha do Mediterrâneo e especialmente na vizinhança das Ilhas Britânicas. Esse fluxo de lava sobre a região das Ilhas Britânicas aparece hoje sob a forma de camadas alternadas de lava e de rocha, em uma espessura de oito mil metros. Essas rochas foram depositadas em fluxos intermitentes de lava, que se espalharam sobre um leito raso de mar, intercalando-se, assim, com os depósitos de rocha, e tudo isso foi subseqüentemente elevado muito acima do nível do mar. Violentos tremores de terra aconteceram no norte da Europa, notadamente na Escócia.
59:3.7 (677.4) O clima oceânico permaneceu suave e uniforme, e mares quentes banhavam as margens das terras polares. Fósseis de braquiópodes e outros animais marinhos podem ser encontrados nesses depósitos, até o Pólo Norte. Os gastrópodes, braquiópodes, esponjas e recifes de corais continuaram a crescer.
59:3.8 (677.5) O fim dessa época testemunha o segundo avanço dos mares silurianos e uma nova mistura das águas dos oceanos do sul e do norte. Os cefalópodes dominam a vida marinha, enquanto formas associadas de vida desenvolveram-se, diferenciando-se progressivamente.
59:3.9 (677.6) Há 280 milhões de anos, os continentes já haviam emergido, em grande parte, da segunda inundação siluriana. Os depósitos de rocha desse período de submersão são conhecidos na América do Norte como os calcários do Niágara, porque esse é o estrato de rocha sobre o qual as cataratas do Niágara caem agora. Essa camada de rocha estende-se desde as montanhas do leste à região do vale do Mississippi, mas não avança mais para o oeste, exceto no lado sul. Várias camadas estendem-se ao Canadá, partes da América do Sul, da Austrália e de boa parte da Europa, sendo que a espessura média dessa série do Niágara é de cerca de duzentos metros. Imediatamente por sobre o depósito do Niágara, em muitas regiões, pode ser encontrado um acúmulo de conglomerados, de xistos e rochas de sal. Essa é uma acumulação de sedimentações secundárias. Esse sal precipitou-se em grandes lagoas que se abriram e se fecharam, alternadamente, para o mar, e então ocorreu a evaporação, seguida do depósito de sal junto com outras matérias carreadas na solução. Em algumas regiões, esses leitos de rochas de sal têm vinte metros de espessura.
59:3.10 (677.7) O clima é regular e suave; os fósseis marinhos são depositados nas regiões árticas. Todavia, ao final dessa época, os mares estão tão excessivamente salgados que pouquíssimas vidas sobrevivem.
59:3.11 (677.8) Mais perto do final da submersão siluriana, acontece um grande aumento dos equinodermos — os lírios de pedra — , como fica evidenciado pelos depósitos de calcários crinóides. Os trilobitas quase desapareceram e os moluscos continuam sendo os monarcas dos mares; a formação de recifes de coral aumenta consideravelmente. Durante essa idade, nos locais mais favoráveis, os escorpiões aquáticos primitivos têm a sua primeira evolução. Logo em seguida, e subitamente, os verdadeiros escorpiões — que de fato respiram ar — fazem o seu aparecimento.
59:3.12 (678.1) Esses desenvolvimentos terminam o terceiro período de vida marinha, cobrindo vinte e cinco milhões de anos, e é conhecido dos vossos pesquisadores como o Siluriano.
59:4.1 (678.2) Na luta de toda uma idade entre terra e água, durante longos períodos o mar tem sido relativamente vitorioso; as épocas da vitória da terra, porém, estão prestes a chegar. E as derivas continentais até então não aconteceram, mas, algumas vezes, praticamente todas as terras do mundo estiveram ligadas por istmos delgados e pontes estreitas de terra.
59:4.2 (678.3) À medida que a terra emerge da última inundação siluriana, um período importante para o desenvolvimento do mundo e para a evolução da vida chega ao fim. É a aurora de uma nova idade da Terra. A paisagem nua e sem atrativos das épocas anteriores começa a se cobrir de uma vegetação luxuriante, e as primeiras florestas magníficas irão logo aparecer.
59:4.3 (678.4) A vida marinha dessa idade estava bastante diversificada, devido à segregação primitiva das espécies; porém, mais tarde, houve uma mistura e uma associação mais livre entre todos esses tipos diferentes. Os braquiópodes logo alcançaram o seu ápice, sucedidos pelos artrópodes; e os crustáceos cirrípedes fizeram a sua primeira aparição. Contudo, o maior acontecimento, dentre todos, foi o surgimento súbito da família dos peixes. E essa se tornou a idade dos peixes, o período da história do mundo caracterizado pelo tipo vertebrado de animais.
59:4.4 (678.5) Há 270 milhões de anos, os continentes estavam todos acima da água. Durante milhões e milhões de anos, nunca tanta terra havia estado acima da água ao mesmo tempo; foi uma das épocas de maior emersão de terras, em toda a história do mundo.
59:4.5 (678.6) Cinco milhões de anos mais tarde, as áreas de terras da América do Sul e América do Norte, da Europa, da África, do norte da Ásia e da Austrália estavam ligeiramente inundadas; na América do Norte, a submersão em uma época ou em outra havia sido quase completa; e as camadas resultantes de calcário iam de 150 a 1 500 metros de espessura. Esses vários mares devonianos inicialmente estenderam-se em uma direção e, então, em uma outra, de modo que o imenso mar ártico interior norte-americano encontrou uma saída para o oceano Pacífico pelo lado norte da Califórnia.
59:4.6 (678.7) Há 260 milhões de anos, ao final dessa época de depressões de terras, a América do Norte estava parcialmente repleta de mares, tendo conexões simultâneas com as águas do Pacífico, Atlântico, Ártico e do golfo. Os depósitos desses últimos estágios da primeira enchente devoniana têm, em média, trezentos metros de espessura. Os recifes de coral que caracterizaram tais épocas indicam que os mares interiores eram claros e rasos. Esses depósitos de coral estão expostos nos bancos do rio Ohio, próximos de Louisville, no Kentucky, e têm cerca de trinta metros de espessura, abrangendo mais de duzentas variedades. Essas formações de corais estendem-se ao Canadá e norte da Europa, indo até as regiões árticas.
59:4.7 (678.8) Em seguida a essas submersões, muitas das linhas litorâneas foram consideravelmente elevadas, de modo que os primeiros depósitos ficaram cobertos por lodo ou xisto. Há também um estrato vermelho de arenito que caracteriza uma das sedimentações devonianas; e tal camada vermelha estende-se sobre grande parte da superfície da Terra, sendo encontrada na América do Sul, América do Norte, Europa, Rússia, China, África e Austrália. Tais depósitos vermelhos sugerem condições áridas ou semi-áridas, mas o clima dessa época ainda era suave e regular.
59:4.8 (679.1) Durante todo esse período, a terra a sudoeste da ilha de Cincinnati permaneceu bem acima da água. Contudo, grande parte da Europa ocidental, incluindo as Ilhas Britânicas, submergiu. No País de Gales, Alemanha e outros locais na Europa, as rochas devonianas apresentam mais de 6 000 metros de espessura.
59:4.9 (679.2) Há 250 milhões de anos, testemunhou-se o aparecimento da família dos peixes, os vertebrados, um dos acontecimentos mais importantes de toda a pré-evolução humana.
59:4.10 (679.3) Os artrópodes, ou crustáceos, foram os ancestrais dos primeiros vertebrados. Os pioneiros da família dos peixes consistiram em dois ancestrais artrópodes modificados; um tinha um corpo longo conectado à cabeça e à cauda, enquanto o outro era um pré-peixe, sem espinha e sem mandíbulas. Todavia, esses tipos preliminares foram rapidamente destruídos quando os peixes, os primeiros vertebrados do mundo animal, fizeram o seu súbito aparecimento, vindos do norte.
59:4.11 (679.4) Muitos dos maiores peixes verdadeiros pertencem a essa idade; algumas das variedades com dentes alcançam oito a dez metros de comprimento; os tubarões dos dias atuais são os sobreviventes desses antigos peixes. Os peixes com pulmões e couraças alcançaram o seu ápice evolucionário e, antes que essa época terminasse, os peixes já se haviam adaptado tanto às águas salgadas, quanto à água doce.
59:4.12 (679.5) Verdadeiros estratos ósseos, com dentes e esqueletos de peixes, podem ser encontrados nos depósitos formados mais para o final desse período; bem como ricas camadas de fósseis situadas ao longo da costa da Califórnia, pois muitas baías abrigadas do oceano Pacífico estendiam-se até as terras daquela região.
59:4.13 (679.6) A Terra estava sendo rapidamente tomada pelas novas ordens de vegetação terrestre. Até então, poucas plantas havia que cresciam na terra seca; elas apenas cresciam nas proximidades da água. Agora, e de súbito, a prolífica família dos fetos, ou samambaias, apareceu e espalhou-se com rapidez sobre a superfície das terras, e rapidamente cresciam em todas as partes do mundo. Com troncos de sessenta centímetros de diâmetro e doze metros de altura, verdadeiros tipos de árvores logo se desenvolveram; mais tarde, as folhas evoluíram, mas essas variedades primitivas possuíam apenas folhagens rudimentares. Havia muitas plantas menores, mas os seus fósseis não são encontrados, pois elas foram destruídas, em geral, pelas bactérias que haviam surgido ainda mais cedo.
59:4.14 (679.7) À medida que a terra subia, a América do Norte tornava-se ligada à Europa por pontes de terra que se estendiam à Groenlândia. Hoje, a Groenlândia mantém os remanescentes dessas plantas terrestres primitivas sob o seu manto de gelo.
59:4.15 (679.8) Há 240 milhões de anos, partes das terras, não só da Europa como da América do Norte e América do Sul começaram a afundar. Esse afundamento marcou o aparecimento da última e menos extensa das enchentes devonianas. Os mares do Ártico novamente moveram-se para o sul, sobre grande parte da América do Norte; o Atlântico inundou uma grande parte da Europa e da Ásia ocidental, enquanto o Pacífico sul cobriu a maior parte da Índia. Essa inundação foi lenta no seu surgimento e igualmente lenta na sua retirada. As montanhas Catskill, ao longo da margem oeste do rio Hudson, constituem um dos maiores monumentos geológicos dessa época e podem ser encontrados na superfície da América do Norte.
59:4.16 (679.9) Há 230 milhões de anos, os mares continuavam a sua retirada. Grande parte da América do Norte estava acima da água, e atividades vulcânicas intensas ocorreram na região de São Lourenço (Canadá). O monte Royal, em Montreal, é o relevo erodido de um desses vulcões. Os depósitos de toda essa época são bem mostrados nas montanhas apalachianas da América do Norte, nas quais o rio Susquehanna sulcou um vale, expondo tais camadas sucessivas que atingiram uma espessura de mais de 4 000 metros.
59:4.17 (680.1) A elevação dos continentes continuou, e a atmosfera estava ficando rica em oxigênio. A Terra achava-se recoberta de vastas florestas de fetos com trinta metros de altura e árvores típicas daqueles dias; florestas silenciosas, nas quais nenhum som era ouvido, nem mesmo o farfalhar de uma folha, posto que essas árvores não tinham folhas.
59:4.18 (680.2) E assim chegava ao final um dos períodos mais longos da evolução da vida marinha, a idade dos peixes. Esse período da história do mundo perdurou durante quase cinqüenta milhões de anos e tornou-se conhecido dos vossos pesquisadores como o Devoniano.
59:5.1 (680.3) O surgimento dos peixes durante o período precedente marca o ápice da evolução da vida marinha. Desse ponto em diante, a evolução da vida terrestre torna-se cada vez mais importante. E esse período é aberto com o cenário quase que idealmente montado para o surgimento dos primeiros animais terrestres.
59:5.2 (680.4) Há 220 milhões de anos, uma grande parte das áreas das terras continentais, incluindo a maior parte da América do Norte, estava sobre as águas. A terra estava repleta de uma vegetação luxuriante; essa foi realmente a idade dos fetos. O dióxido de carbono ainda se fazia presente na atmosfera, mas em um grau decrescente.
59:5.3 (680.5) Pouco depois, a parte central da América do Norte foi inundada, formando-se dois grandes mares interiores. Os planaltos, ao longo das costas do Atlântico e do Pacífico, situavam-se pouco além das linhas costeiras atuais. Esses dois mares em breve tiveram as suas águas unidas e as diferentes formas de vida ali existentes puderam mesclar-se entre si, e a união dessas faunas marinhas deu início ao rápido declínio mundial da vida marinha e à abertura do período subseqüente de vida terrestre.
59:5.4 (680.6) Há 210 milhões de anos, os mares árticos, de águas quentes, cobriram a maior parte da América do Norte e Europa. As águas polares do sul inundaram a América do Sul e Austrália, ao passo que a África tanto quanto a Ásia encontravam-se grandemente elevadas.
59:5.5 (680.7) Quando os mares atingiram o seu nível mais alto, um novo desenvolvimento evolucionário subitamente aconteceu. Abruptamente, os primeiros animais terrestres surgiram. Numerosas espécies desses animais tornaram-se capazes de viver na terra e na água. Esses anfíbios respiravam o ar e desenvolveram-se dos artrópodes, cujas bexigas natatórias transformaram-se em pulmões.
59:5.6 (680.8) Das águas salgadas dos mares, os caramujos, os escorpiões e as rãs arrastaram-se para a terra. Hoje, as rãs ainda põem os seus ovos na água, e a sua cria ainda tem, no início, a forma de pequenos peixes, os girinos. Esse período bem que poderia ser conhecido como a idade das rãs.
59:5.7 (680.9) Logo depois, os insetos fizeram a sua primeira aparição e, juntamente com aranhas, escorpiões, baratas, grilos e gafanhotos, logo se espalharam pelos continentes do mundo. As libélulas mediam setenta e cinco centímetros de envergadura. Mil espécies de baratas desenvolveram-se, e algumas cresceram até o comprimento de dez centímetros.
59:5.8 (680.10) Dois grupos de equinodermos tornaram-se especialmente bem desenvolvidos, e constituem na realidade os fósseis-guias dessa época. Os grandes tubarões comedores de conchas também atingiram um alto grau de evolução e, por mais de cinco milhões de anos, predominaram nos oceanos. O clima era ainda suave e regular; a vida marinha pouco mudou. Os peixes de água doce estavam desenvolvendo-se e os trilobitas encontravam-se muito perto da extinção. Os corais eram escassos e grande parte do calcário estava sendo elaborada pelos crinóides. Os melhores calcários para a construção foram depositados durante essa época.
59:5.9 (681.1) As águas de muitos dos mares interiores eram tão pesadamente carregadas de cal e outros minerais, que interferiam grandemente no progresso e no desenvolvimento de muitas espécies marinhas. Finalmente, os mares ficaram limpos por causa de um grande depósito de pedras minerais, contendo, em alguns locais, zinco e chumbo.
59:5.10 (681.2) Os depósitos dessa primeira idade carbonífera têm uma espessura de 150 a 600 metros, consistindo em arenitos, xistos e calcário. Os estratos mais antigos trazem os fósseis de plantas e animais, tanto marinhos quanto terrestres, e junto, uma grande quantidade de sedimentos de cascalho. Pequenas quantidades de carvão explorável são encontradiças nesses estratos mais antigos. Tais depósitos, em toda a Europa, são bastante similares aos da América do Norte.
59:5.11 (681.3) Mais para o final dessa época, as terras da América do Norte começaram a elevar-se. Houve uma curta interrupção e o mar voltou a cobrir cerca de metade dos seus leitos anteriores. Essa foi uma inundação curta, e a maior parte da terra logo veio para bem acima da água. A América do Sul ainda estava ligada à Europa por intermédio da África.
59:5.12 (681.4) Essa época testemunhou o começo dos Vosges, da Floresta Negra e dos montes Urais. Cotos de outras montanhas mais antigas são encontrados em toda a Grã-Bretanha e na Europa.
59:5.13 (681.5) Há 200 milhões de anos, os estágios realmente ativos do período carbonífero iniciaram-se. Durante vinte milhões de anos, antes desse tempo, os primeiros depósitos de carvão estavam sendo precipitados, mas agora as atividades de formação de carvão em escala mais ampla estavam em processo. A duração real da época do depósito de carvão foi de um pouco mais de vinte e cinco milhões de anos.
59:5.14 (681.6) As terras estavam periodicamente indo para cima e para baixo, devido à mudança do nível do mar, ocasionada pelas atividades no fundo dos oceanos. Essa instabilidade na crosta — o assentamento e a elevação da terra — , somada à proliferação da vegetação dos pântanos costeiros, contribuiu para a produção de extensos depósitos de carvão, que levaram esse período a ser conhecido como o Carbonífero. E o clima ainda era suave em todo o mundo.
59:5.15 (681.7) As camadas de carvão alternaram-se com as de xisto, rocha e conglomerados. Essas camadas de carvão, na parte central e oriental dos Estados Unidos, variam entre doze e quinze metros de espessura. Muitos desses depósitos, porém, foram carreados durante as elevações subseqüentes da terra. Em algumas partes da América do Norte e Europa, o substrato que possui carvão tem 5 500 metros de espessura.
59:5.16 (681.8) A presença das raízes das árvores, na medida em que elas cresciam na argila que limita as camadas atuais de carvão, demonstra que o carvão foi formado exatamente onde ele agora é encontrado. O carvão, preservado pela água e modificado pela pressão, é o remanescente constituído dos restos da vegetação exuberante que crescia nos lamaçais e margens dos pântanos dessa idade longínqua. As camadas de carvão, freqüentemente, contêm gás e petróleo. Camadas de turfa, remanescentes da vegetação do passado, teriam sido convertidas em um tipo de carvão, quando submetidas a uma pressão apropriada e ao calor. O antracito foi submetido a uma pressão e um calor maiores do que os outros carvões.
59:5.17 (681.9) Na América do Norte, os estratos carboníferos apresentam-se em diversas camadas, o que indica o número de vezes que a terra afundou e de novo se elevou. Esse número é variável, desde dez, no Illinois, a vinte, na Pensilvânia, e desde trinta e cinco, no Alabama, a setenta e cinco, no Canadá. Tanto os fósseis de água doce quanto os de água salgada são encontráveis nas camadas de carvão.
59:5.18 (682.1) Durante toda essa época, as montanhas da América do Norte e América do Sul estavam em movimento, tanto os Andes quanto as Montanhas Rochosas ancestrais do sul elevavam-se. As grandes regiões de costas elevadas do Atlântico e do Pacífico começaram a afundar, tornando-se, finalmente, tão erodidas e submersas que as linhas da costa de ambos os oceanos afastaram-se até quase alcançarem a posição atual. Os depósitos dessa inundação têm uma espessura média de trezentos metros.
59:5.19 (682.2) Há 190 milhões de anos, testemunhou-se um alongamento para oeste do mar carbonífero da América do Norte, sobre a região atual das Montanhas Rochosas, com uma saída para o oceano Pacífico, pelo norte da Califórnia. O carvão continuou a ser depositado em todas as Américas e Europa, camada sobre camada, à medida que as terras da costa elevavam-se e afundavam-se durante essas idades de oscilação da linha costeira dos mares.
59:5.20 (682.3) Há 180 milhões de anos, chegou-se perto do fim do período Carbonífero, durante o qual o carvão se havia formado em todo o mundo — na Europa, Índia, China, África do Norte e Américas. Ao final do período de formação do carvão, a parte da América do Norte situada a leste do vale do rio Mississippi, elevou-se; e a maior parte dessa região permaneceu, desde então, acima do mar. Esse período de elevação da terra marca o começo das montanhas atuais da América do Norte, tanto na região apalachiana, quanto no oeste. Os vulcões estavam ativos no Alasca e Califórnia, bem como nas regiões de formações montanhosas da Europa e Ásia. A parte leste da América e a parte oeste da Europa estavam ligadas pelo continente da Groenlândia.
59:5.21 (682.4) A elevação das terras começou a modificar o clima marinho das eras precedentes e substituí-lo por um começo de clima continental menos ameno e mais variável.
59:5.22 (682.5) As plantas desses tempos eram portadoras de esporos; e o vento era capaz de disseminá-los em todas as direções. Os troncos das árvores carboníferas tinham, em geral, dois metros de diâmetro e trinta e cinco metros de altura. Os fetos modernos são verdadeiras relíquias dessas idades passadas.
59:5.23 (682.6) Em geral, essas foram épocas do desenvolvimento de organismos de água doce; pouca mudança ocorreu na vida marinha já existente. Mas o destaque fundamental desse período foi o surgimento súbito das rãs e seus muitos primos. Os traços característicos da vida da idade do carvão foram os fetos e pelas rãs.
59:6.1 (682.7) Esse período marca o fim do desenvolvimento evolucionário essencial na vida marinha e a abertura do período de transição que levou às idades subseqüentes dos animais terrestres.
59:6.2 (682.8) Essa foi uma idade de grande empobrecimento da vida. Milhares de espécies marinhas pereceram; e mal a vida se havia estabelecido na Terra. Foi uma época de atribulação biológica, a idade em que a vida quase desapareceu da face da Terra e da profundeza dos oceanos. Ao se aproximar o final da longa era de vida marinha, havia mais de cem mil espécies de coisas vivas na Terra. E ao fim desse período de transição, menos de quinhentas haviam sobrevivido.
59:6.3 (682.9) As peculiaridades desse novo período não se deviam tanto ao resfriamento da crosta da Terra nem à longa ausência de atividade vulcânica, mas a uma combinação inusitada de influências corriqueiras e preexistentes — as diminuições dos mares e a crescente elevação de enormes massas de terras. O suave clima marinho das épocas anteriores estava desaparecendo, e o tipo mais rude de clima continental se desenvolvia rapidamente.
59:6.4 (683.1) Há 170 milhões de anos, grandes ajustamentos e mudanças evolucionárias estavam ocorrendo em toda a face da Terra. As terras estavam elevando-se em todo o mundo, enquanto os leitos dos oceanos afundavam. Espinhaços montanhosos isolados surgiram. A parte leste da América do Norte estava bem acima do mar; a parte oeste elevava-se lentamente. Os continentes estavam cobertos de lagos salgados, grandes e pequenos; e de numerosos mares interiores, ligados aos oceanos por estreitos. A espessura dos estratos desse período de transição varia entre 300 e 2 100 metros.
59:6.5 (683.2) A crosta da Terra sofreu dobras consideráveis durante essas elevações das terras. Esse foi um tempo de emersão continental, excetuando-se o desaparecimento de algumas pontes de terra, que incluem aquelas entre os continentes que há tanto tempo tinham estado ligados, como a América do Sul e a África, bem como a América do Norte e a Europa.
59:6.6 (683.3) Gradualmente, os lagos e mares internos estavam secando em todo o mundo. Montanhas isoladas e geleiras regionais começaram a surgir, especialmente no hemisfério sul; e, em muitas regiões, os depósitos glaciais dessas formações locais de geleiras podem ser encontrados, mesmo entre alguns dos depósitos mais superficiais e recentes de carvão. Dois fatores climáticos novos surgiram — a invasão glacial e a aridez. Muitas das regiões mais altas da Terra haviam-se transformado em regiões áridas e estéreis.
59:6.7 (683.4) Durante esses tempos de mudanças climáticas, grandes variações também ocorreram na vida vegetal terrestre. As plantas de sementes tiveram a sua primeira aparição; e proporcionaram um suprimento melhor de alimento para a vida animal terrestre subseqüentemente em progresso. Os insetos passaram por uma mudança radical. Os estágios de repouso evoluíram, até satisfazer às exigências da suspensão da animação, durante o inverno e as secas.
59:6.8 (683.5) Entre os animais terrestres, as rãs alcançaram o seu apogeu na idade precedente e rapidamente declinaram; mas sobreviveram, por poderem viver longamente, até mesmo nas poças e nos açudes a ponto de secar daqueles tempos longínquos e extremamente difíceis. Durante essa idade de declínio, na África, as rãs deram o seu primeiro passo para evoluir, até se transformarem em répteis. E, posto que as massas de terra permaneceram ainda ligadas entre si, essa criatura pré-réptil, respiradora de ar, espalhou-se por todo mundo. Nessa época, a atmosfera estava tão modificada que servia admiravelmente para sustentar a respiração animal. Foi pouco depois da chegada dessas rãs pré-répteis, que a América do Norte ficou temporariamente isolada, de comunicação cortada com a Europa, Ásia e América do Sul.
59:6.9 (683.6) O resfriamento gradual das águas dos oceanos contribuiu muito para a destruição da vida oceânica. Os animais marinhos daquelas idades refugiaram-se temporariamente em três abrigos favoráveis: a atual região do golfo do México, a baía do Ganges, na Índia, e a baía siciliana da bacia do Mediterrâneo. E foi dessas três regiões que as novas espécies marinhas, nascidas da adversidade, mais tarde partiram para repovoar os mares.
59:6.10 (683.7) Há 160 milhões de anos, as terras estavam amplamente cobertas pela vegetação adaptada para sustentar a vida animal terrestre; e a atmosfera havia atingido as condições ideais para a respiração animal. Assim termina o período de redução da vida marinha e os tempos de provação, de adversidade biológica, que eliminaram todas as formas de vida, exceto aquelas que possuíam valor de sobrevivência e que, portanto, estavam qualificadas para funcionar como ancestrais da vida de desenvolvimento mais rápido, e mais altamente diferenciada, das idades que se seguiriam, na evolução planetária.
59:6.11 (684.1) O término desse período de atribulação biológica, conhecido dos vossos estudantes como o Permiano, marca também o fim da longa era Paleozóica, que abrange um quarto da história planetária, ou seja, duzentos e cinqüenta milhões de anos.
59:6.12 (684.2) O vasto berçário oceânico de vida, em Urântia, havia servido ao seu propósito. Durante as longas idades em que as terras ainda eram inadequadas para sustentar a vida, antes que a atmosfera contivesse oxigênio bastante para sustentar os animais terrestres superiores, o mar foi maternal e nutriu a vida primitiva do reino. Agora a importância biológica do mar diminui progressivamente, enquanto o segundo estágio da evolução começa a desenvolver-se nas terras.
59:6.13 (684.3) [Apresentado por um Portador de Vida de Nébadon, um daqueles que pertenceram ao corpo originalmente designado para Urântia.]
O Livro de Urântia
Documento 60
60:0.1 (685.1) A ERA de vida exclusivamente marinha terminou. A elevação das terras, o resfriamento da crosta e dos oceanos, a limitação dos mares e o aprofundamento conseqüente, junto com um grande aumento das terras na latitude norte, tudo isso conspirou grandemente para alterar o clima do mundo em todas as regiões mais afastadas da zona equatorial.
60:0.2 (685.2) A época do fechamento da era precedente, de fato, foi a idade das rãs; mas esses ancestrais dos vertebrados terrestres não predominavam mais, tendo sobrevivido em números bastante reduzidos. Pouquíssimos tipos sobreviveram às rigorosas provas do período precedente de tribulação biológica. Até mesmo as plantas portadoras de esporos estavam quase extintas.
60:1.1 (685.3) Os depósitos de erosão desse período foram, na sua maioria, de conglomerados, xisto e arenito. A gipsita e as camadas vermelhas, em todas essas sedimentações, tanto na América quanto na Europa, indicam que o clima desses continentes era árido. Esses distritos áridos estavam submetidos à grande erosão das violentas cargas de água periódicas, vindas dos planaltos da vizinhança.
60:1.2 (685.4) Poucos fósseis são encontrados nessas camadas, mas numerosas pegadas de répteis terrestres podem ser observadas no arenito. Em muitas regiões, os trezentos metros de arenito vermelho depositado nesse período não contêm fósseis. A vida dos animais terrestres era contínua apenas em certas partes da África.
60:1.3 (685.5) A espessura desses depósitos varia de 900 a 3 000 metros, chegando a 5 500 metros na costa do Pacífico. Posteriormente, a lava foi forçada, por entre muitas dessas camadas. As paliçadas do rio Hudson formaram-se pela extrusão da lava de basalto entre essas camadas de estratos triássicos. A ação vulcânica foi extensa em partes diferentes do mundo.
60:1.4 (685.6) Na Europa, especialmente na Alemanha e na Rússia, podem ser encontrados depósitos desse período. Na Inglaterra, o novo arenito vermelho pertence a essa época. O calcário ficou depositado nos Alpes do sul, em resultado de uma invasão marítima e pode agora ser visto nas peculiares paredes de calcário dolomítico, nos picos e pilares daquelas regiões. Essa camada é encontrada em toda a África e Austrália. O mármore de Carrara vem desse calcário modificado. Nada desse período será encontrado nas regiões sulinas da América do Sul, pois essa parte do continente permaneceu imersa, apresentando por isso apenas um depósito marinho em continuidade com as épocas anteriores e posteriores.
60:1.5 (686.1) Há 150 milhões de anos, começaram os períodos primitivos da vida terrestre da história do mundo. Em geral, a vida não foi bem, mas foi melhor do que durante o fechamento extenuante e hostil da era de vida marinha.
60:1.6 (686.2) Na abertura dessa era, as partes oriental e central da América do Norte, a metade norte da América do Sul, a maior parte da Europa, e toda a Ásia estão bem acima do nível do mar. A América do Norte, pela primeira vez, encontra-se isolada geograficamente, mas não por muito tempo, pois a ponte de terra do estreito de Behring emerge de novo, logo em seguida, ligando o continente com a Ásia.
60:1.7 (686.3) Grandes depressões desenvolveram-se na América do Norte, paralelamente às costas do Atlântico e do Pacífico. A grande falha a leste de Connecticut apareceu, um lado afinal afundando três quilômetros. Muitas dessas depressões norte-americanas foram mais tarde preenchidas por depósitos de erosão, como o foram também muitas das bacias de lagos de água doce e salgada das regiões montanhosas. Mais tarde, essas depressões preenchidas de terra elevaram-se grandemente pelos fluxos de lava ocorridos subterraneamente. As florestas petrificadas de muitas regiões pertencem a essa época.
60:1.8 (686.4) A costa do Pacífico, usualmente acima da água, durante as submersões continentais, ficou abaixo, excetuando-se a parte sulina da Califórnia e uma grande ilha, então existente, consistindo naquilo que é agora o oceano Pacífico. Esse antigo mar da Califórnia era rico em vida marinha e estendia-se para o leste até ligar-se à velha bacia do mar da região do meio-oeste.
60:1.9 (686.5) Há 140 milhões de anos, subitamente, e com apenas o indício dos dois ancestrais pré-répteis que se desenvolveram na África durante a época precedente, os répteis apareceram na sua forma plenamente evoluída. Eles desenvolveram-se rapidamente logo gerando crocodilos, répteis escamados e, finalmente, tanto as serpentes do mar como os répteis voadores. Os seus ancestrais de transição logo desapareceram.
60:1.10 (686.6) Esses dinossauros répteis, que evoluíram rapidamente, logo se tornaram os monarcas da sua idade. Eles eram ovíparos e distinguiam-se de todos os animais por causa dos seus pequenos cérebros que, pesando menos de meio quilo, controlavam corpos que chegaram, mais tarde, a pesar quarenta toneladas. Contudo, os répteis anteriores eram menores, carnívoros e caminhavam como os cangurus, nas suas pernas traseiras. Tinham os ossos ocos das aves e subseqüentemente desenvolveram apenas três dedos nos pés traseiros, e muitas das suas pegadas fósseis foram confundidas com as dos pássaros gigantes. Mais tarde, os dinossauros herbívoros evoluíram. Eles andavam sobre todas as quatro pernas, e uma ramificação desse grupo desenvolveu uma couraça protetora.
60:1.11 (686.7) Vários milhões de anos mais tarde, os primeiros mamíferos apareceram. Não eram placentários e demonstraram uma ligeira falha: nenhum sobreviveu. Esse foi um esforço experimental para melhorar os tipos de mamíferos, mas não teve êxito em Urântia.
60:1.12 (686.8) A vida marinha desse período era escassa, mas melhorou rapidamente com a nova invasão do mar, que novamente fez surgir longas linhas costeiras de águas rasas. E por que havia mais águas rasas circundando a Europa e a Ásia, as camadas mais ricas de fósseis podem ser encontradas nesses continentes. Hoje, ao estudardes a vida dessa idade, deveis examinar as regiões do Himalaia, Sibéria e Mediterrâneo, bem como da Índia e ilhas da bacia do Pacífico sul. Um traço importante da vida marinha foi a presença de multidões de belas amonites, cujos remanescentes fósseis são encontrados por todo o mundo.
60:1.13 (686.9) Há 130 milhões de anos, os mares haviam mudado pouquíssimo. A Sibéria e América do Norte estavam conectadas pela ponte de terra do estreito de Bering. Uma vida marinha rica e única apareceu na costa californiana do Pacífico, onde mais de mil espécies de amonites desenvolveram-se dos tipos mais elevados de cefalópodes. As mudanças na vida durante esse período foram de fato revolucionárias, não obstante haverem sido transitórias e graduais.
60:1.14 (687.1) Esse período se estendeu por mais de vinte e cinco milhões de anos e é conhecido como o Triássico.
60:2.1 (687.2) Há 120 milhões de anos, começou uma nova fase na idade dos répteis. O grande acontecimento desse período foi a evolução e declínio dos dinossauros. A vida animal terrestre alcançou o seu maior desenvolvimento, em tamanho, e havia virtualmente perecido da face da Terra ao final dessa idade. Os dinossauros evoluíram, em todos os tamanhos, de uma espécie de menos de sessenta centímetros de comprimento, até os imensos dinossauros não carnívoros, de vinte e dois metros de comprimento, que, desde então, jamais foram igualados, em porte, por nenhuma outra criatura viva.
60:2.2 (687.3) O maior dos dinossauros originou-se na parte oeste da América do Norte. Esses répteis monstruosos estão enterrados em toda a região das Montanhas Rochosas, ao longo de toda a costa do Atlântico na América do Norte, oeste da Europa, África do sul e Índia, mas não na Austrália.
60:2.3 (687.4) Essas criaturas pesadas tornaram-se menos ativas e fortes quando cresceram demais; e exigiam uma quantidade enorme de alimento, e a terra estava tão infestada por eles que literalmente morreram de fome e tornaram-se extintos — faltava-lhes inteligência para enfrentar a situação.
60:2.4 (687.5) Nessa época, a maior parte do leste da América do Norte, que desde muito se havia elevado, nivelou-se escoando para dentro do oceano Atlântico, de modo que a costa estendeu-se por várias centenas de quilômetros mais do que hoje. A parte oeste do continente ainda estava elevada, mas mesmo essas regiões foram mais tarde invadidas, tanto pelo mar do norte quanto pelo oceano Pacífico, que se estendeu para o leste até a região das Montanhas Negras de Dakota.
60:2.5 (687.6) Essa foi uma idade de água doce, caracterizada por muitos lagos interiores, como é mostrado pelos abundantes fósseis de água doce dos leitos chamados de Morrison, no Colorado, Montana e Wyoming. A espessura desses depósitos combinados de água doce e salgada varia entre 600 e 1 500 metros; mas pouquíssimo calcário está presente nessas camadas.
60:2.6 (687.7) O mesmo mar polar que se estendeu até tão distante na América do Norte, de igual modo, cobriu toda a América do Sul, excetuando-se as montanhas andinas que surgiram em seguida. A maior parte da China, bem como da Rússia foi inundada, mas a maior invasão de água entre todas se deu na Europa. Foi durante essa submersão que se depositou a admirável pedra litográfica da Alemanha do sul, aqueles extratos em que os fósseis, entre os quais as asas mais delicadas dos insetos de outrora, ficaram preservados como se fossem de ontem.
60:2.7 (687.8) A flora dessa idade foi muito como a da era precedente. Os fetos perduraram, enquanto as coníferas e pinheiros tornaram-se mais e mais como as variedades dos dias atuais. Algum carvão ainda estava sendo formado nas margens do norte do Mediterrâneo.
60:2.8 (687.9) O retorno dos mares melhorou o clima. Os corais espalharam-se pelas águas européias, atestando que o clima era ainda suave e regular, mas eles nunca mais apareceram nos mares polares, os quais lentamente se resfriavam. A vida marinha dessa época aperfeiçoou-se e desenvolveu-se bastante, especialmente nas águas européias. Tanto os corais quanto os crinóides, temporariamente, apareceram em maiores quantidades do que as até então existentes, enquanto os amonites dominaram a vida invertebrada dos oceanos, o seu tamanho médio era de sete a dez centímetros, embora uma espécie tenha atingido o diâmetro de dois metros. As esponjas estavam em toda parte; e não apenas as lulas, mas também as ostras continuaram a evoluir.
60:2.9 (688.1) Há 110 milhões de anos, os potenciais da vida marinha continuaram a despontar. O ouriço do mar foi uma das mutações destacadas dessa época. Caranguejos, lagostas, e os tipos modernos de crustáceos amadureciam. Mudanças notáveis ocorriam na família dos peixes, um tipo de esturjão surgiu pela primeira vez, mas as ferozes serpentes do mar, descendentes dos répteis terrestres, ainda infestavam os mares, todos, e ameaçavam destruir todas as famílias de peixes.
60:2.10 (688.2) Essa continuou a ser, por excelência, a era dos dinossauros. Eles devastaram a terra de um modo tal que duas espécies se refugiaram na água para se sustentar durante o período precedente de invasão dos mares. Essas serpentes marinhas representam um retrocesso na evolução. Enquanto algumas espécies novas progrediam, algumas linhagens permaneciam estacionárias e outras pendiam para o retrocesso, revertendo-se a um estado anterior. E isso foi o que aconteceu quando essas duas espécies de répteis abandonaram a terra.
60:2.11 (688.3) Com o passar do tempo, as serpentes marinhas cresceram, atingindo um tamanho tal que se tornaram muito morosas; e finalmente pereceram, por não possuírem cérebros suficientemente grandes que propiciassem a elas proteger os seus corpos imensos. Os seus cérebros pesavam menos do que sessenta gramas, não obstante o fato de que esses imensos ictiossauros algumas vezes crescessem até quinze metros de comprimento; a maioria sendo maior do que dez metros de comprimento. Os crocodilos marinhos foram também uma reversão do tipo terrestre de réptil; todavia, diferentemente das serpentes do mar, esses animais sempre retornavam à terra para porem os seus ovos.
60:2.12 (688.4) Logo depois que duas espécies de dinossauros migraram para a água, em uma tentativa fútil de autopreservação, dois outros tipos se lançaram ao ar por causa da amarga competição pela vida na terra. Mas esses pterossauros voadores não foram os ancestrais dos verdadeiros pássaros das idades subseqüentes. Eles evoluíram de dinossauros saltadores de ossos ocos, e as suas asas, com um comprimento de seis a oito metros, tinham o formato das asas dos morcegos. Esses antigos répteis voadores cresceram até três metros de comprimento, e tinham mandíbulas separadas como as das cobras atuais. Durante um certo tempo, esses répteis voadores pareciam ter tido muito êxito, mas deixaram de evoluir em linhagens que os capacitassem a sobreviver como navegadores aéreos. Eles representam os grupos de não-sobreviventes dos ancestrais dos pássaros.
60:2.13 (688.5) As tartarugas proliferaram durante esse período, aparecendo primeiro na América do Norte. Os seus ancestrais vieram da Ásia, passando pela ponte de terra do norte.
60:2.14 (688.6) Há cem milhões de anos, a idade dos répteis estava chegando ao seu fim. Os dinossauros, apesar da sua massa enorme, não passavam de animais sem cérebro, carentes de uma inteligência que lhes possibilitasse prover alimento suficiente para nutrir corpos de massas tão enormes. E, assim, esses preguiçosos répteis terrestres pereceram em números cada vez maiores. Daí em diante, a evolução seguirá o crescimento dos cérebros, não o da massa física, e o desenvolvimento dos cérebros caracterizará cada uma das épocas seguintes de evolução animal e progresso planetário.
60:2.15 (688.7) Esse período, abrangendo o apogeu e o começo do declínio dos répteis, estendeu-se por vinte e cinco milhões de anos, aproximadamente, e é conhecido como o Jurássico.
60:3.1 (688.8) O grande período cretáceo tem o seu nome derivado da predominância, nos mares, dos prolíficos foraminíferos geradores de cal. Este período leva Urântia até quase o fim da longa predominância dos répteis e testemunha o aparecimento das plantas com flores e a presença dos pássaros terrestres. Esses também são os tempos do término da derivação dos continentes para o oeste e para o sul, acompanhados de deformações tremendas da crosta terrestre e do fluxo da lava que se espalha, concomitantemente, por todos os lados, bem como de grandes atividades vulcânicas.
60:3.2 (689.1) Perto do final do período geológico precedente, grande parte das terras continentais estava acima da água, embora ainda não houvesse picos nas montanhas. Todavia, à medida que a movimentação da terra continental prosseguia, encontrou seu primeiro grande obstáculo no leito profundo do Pacífico. Essa contenção de forças geológicas deu ímpeto à formação de toda a vasta extensão de montanhas ao norte e ao sul, que vão desde o Alasca, descendo pelo México, até o cabo Horn.
60:3.3 (689.2) Esse período, assim, transforma-se no estágio de formação das montanhas modernas da história geológica. Antes dessa época, havia poucos picos nas montanhas, havia meramente protuberâncias de terras de grande extensão. A costa do Pacífico, então, começava a elevar-se, mas estava localizada a 1 100 quilômetros a oeste da linha atual das costas. As Serras estavam começando a se formar, o seu estrato de quartzo aurífero sendo um produto dos fluxos de lava dessa época. Na parte leste da América do Norte, a pressão das águas do Atlântico estava trabalhando também para causar a elevação das terras.
60:3.4 (689.3) Há cem milhões de anos, o continente norte-americano, bem como parte da Europa, estavam bem acima da água. O arqueamento dos continentes americanos continuava, resultando na metamorfose dos Andes na América do Sul e na gradual elevação das planícies a oeste na América do Norte. A maior parte do México afundou sob o mar, e o Atlântico sul invadiu a costa leste da América do Sul, finalmente atingindo a linha atual da costa. Os oceanos Atlântico e Índico, então, estavam aproximadamente como estão hoje.
60:3.5 (689.4) Há 95 milhões de anos, as massas de terra americanas e européias começaram a afundar novamente. Os mares do sul começaram a invadir a América do Norte e, gradualmente, estenderam-se para o norte, conectando-se ao oceano Ártico, gerando a segunda maior submersão do continente. Quando esse mar finalmente se retraiu, deixou o continente mais ou menos como está agora. Antes que essa grande submersão começasse, os planaltos apalachianos do leste haviam sido quase completamente desgastados, até o nível da água. As camadas multicoloridas de argila pura, utilizadas atualmente para manufaturar utensílios de cerâmica, foram depositadas nas regiões da costa do Atlântico, durante essa idade; a sua espessura média sendo de cerca de 600 metros.
60:3.6 (689.5) Grandes atividades vulcânicas ocorreram no sul dos Alpes e ao longo da linha costeira atual de montanhas da Califórnia. A maior deformação da crosta, em milhões e milhões de anos, teve lugar no México. Grandes mudanças também ocorreram na Europa, Rússia, Japão e na parte sul da América do Sul. O clima tornou-se crescentemente diversificado.
60:3.7 (689.6) Há 90 milhões de anos, as angiospermas emergiram desses mares cretáceos primitivos e logo cobriram o continente. Essas plantas terrestres subitamente apareceram junto com árvores: figueiras, magnólias e árvores de tulipas. Logo depois dessa época, as figueiras, as árvores de fruta-pão e as palmeiras espalharam-se pela Europa e planícies do lado oeste da América do Norte. Nenhum animal terrestre novo apareceu.
60:3.8 (689.7) Há 85 milhões de anos, o estreito de Bering fechou-se, isolando as águas em resfriamento dos mares do norte. Até então, a vida marinha das águas do golfo do Atlântico e aquelas do oceano Pacífico diferiam grandemente, devido às variações de temperatura dessas duas massas de água, as quais agora se tornavam uniformes.
60:3.9 (689.8) Os depósitos de calcário glauconito deram nome a esse período. As sedimentações dessas épocas são variegadas, consistindo de giz, xisto, arenito e pequenas porções de calcário, junto com carvão inferior ou lignita e, em muitas regiões, contêm petróleo. Essas camadas têm uma espessura que varia de 60 metros, em alguns locais, até 3 000 metros, na parte oeste da América do Norte e numerosas localidades européias. Esses depósitos podem ser observados nas inclinações deformadas das bases do lado leste das Montanhas Rochosas.
60:3.10 (690.1) Em todo o mundo, esses estratos encontram-se permeados de giz, e tais camadas porosas semi-rochosas recolhem a água nos seus afloramentos sinuosos, enviando-a para baixo, fornecendo desse modo suprimento de água para muitas das regiões atualmente áridas da Terra.
60:3.11 (690.2) Há 80 milhões de anos, grandes perturbações ocorreram na crosta da Terra. O avanço a oeste do movimento continental estava chegando a uma estabilização, e a energia enorme da força curva vagarosa exercida pela massa continental interior arremeteu-se sobre a linha da costa do Pacífico, tanto na América do Norte, quanto na América do Sul, e iniciou mudanças de repercussão profunda ao longo da costa do Pacífico, na Ásia. Essa elevação de terras, que circunda o Pacífico, culminou nas linhas atuais de montanhas tendo mais de quarenta mil quilômetros de comprimento. E os solevantamentos de terras que acompanharam o seu nascimento foram as maiores distorções de superfície ocorridas desde o aparecimento da vida em Urântia. Os fluxos de lava, tanto acima quanto abaixo da superfície das terras, eram muito extensos e espalhados.
60:3.12 (690.3) Há 75 milhões de anos, ficou assinalado o fim das derivações continentais. Do Alasca ao cabo Horn, a longa cordilheira de montanhas que acompanha a costa do Pacífico estava completa, mas havia ainda poucos picos.
60:3.13 (690.4) O contragolpe da paralisação da derivação continental continuou a elevar as planícies a oeste na América do Norte, enquanto, a leste, as desgastadas montanhas apalachianas, da região da costa do Atlântico, foram projetadas diretamente para o alto, com pouca ou nenhuma inclinação de mergulho.
60:3.14 (690.5) Há 70 milhões de anos, aconteceram as distorções da crosta, ligadas à elevação máxima da região das Montanhas Rochosas. Um grande segmento de rocha foi empurrado, a vinte e cinco quilômetros, na superfície, até a Colômbia Britânica; e ali as rochas cambrianas foram arremessadas obliquamente para cima das camadas do Cretáceo. Na declividade leste das Montanhas Rochosas, perto da fronteira canadense, houve um outro empurrão espetacular; neste podem ser encontradas as camadas de pedra, da pré-vida, afastadas por sobre os depósitos cretáceos, então recentes.
60:3.15 (690.6) Essa foi uma idade de atividades vulcânicas em todo o mundo, dando nascimento a numerosos pequenos cones vulcânicos isolados. Vulcões submarinos irromperam na região submersa do Himalaia. Grande parte do resto da Ásia, incluindo a Sibéria, estava ainda sob as águas.
60:3.16 (690.7) Há 65 milhões de anos, ocorreu um dos maiores fluxos de lava de todos os tempos. As camadas de depósito desse fluxo e do anterior são encontradiças nas Américas, ao sul e ao norte da África, na Austrália e em partes da Europa.
60:3.17 (690.8) Os animais terrestres sofreram pouquíssimas mudanças, mas, por causa da imensa emersão continental, especialmente na América do Norte, multiplicaram-se rapidamente. A América do Norte foi o grande campo para a evolução dos animais terrestres dessas épocas, a maior parte da Europa estando sob as águas.
60:3.18 (690.9) O clima ainda era quente e uniforme. As regiões do ártico estavam desfrutando de um clima muito semelhante ao atual na parte central e sul da América do Norte.
60:3.19 (690.10) Uma grande evolução da vida vegetal estava acontecendo. Entre as plantas terrestres as angiospermas predominavam, e muitas das árvores atuais tiveram o seu primeiro aparecimento, incluindo a faia, bétula, carvalho, nogueira, falso plátano, bordo e palmeiras modernas. As frutas, as gramíneas e os cereais eram abundantes, e essas gramas com sementes e árvores serviram, ao mundo das plantas, do modo que os ancestrais do homem foram para o mundo animal — os segundos em importância evolucionária apenas em relação ao aparecimento do próprio homem. Subitamente, e sem uma gradação preparatória, a grande família das plantas de flores sofreu mutação. E essa nova flora logo se espalhou pelo mundo inteiro.
60:3.20 (691.1) Há 60 milhões de anos, embora os répteis terrestres estivessem em declínio, os dinossauros continuaram como os monarcas terrestres, a liderança agora sendo tomada pelos tipos menores, mais ágeis e ativos de dinossauros carnívoros da variedade dos cangurus saltadores. Contudo, algum tempo antes haviam aparecido novos tipos de dinossauros herbívoros, cujo crescimento rápido aconteceu devido ao aparecimento das famílias terrestres das gramíneas. Um desses novos dinossauros, que se alimentava de gramíneas, era um verdadeiro quadrúpede, tendo dois chifres e, nos ombros, uma capa em forma de manto. O tipo terrestre de tartaruga apareceu, com seis metros de diâmetro, como também o moderno crocodilo e as cobras verdadeiras, do tipo moderno. Grandes mudanças estavam também ocorrendo nos peixes e em outras formas de vida marinha.
60:3.21 (691.2) As aves pernaltas e os pré-pássaros nadadores das idades primevas não haviam tido êxito no ar e, do mesmo modo, os dinossauros voadores também não o tiveram. Foram espécies de vida curta, logo se tornando extintas. E também ficaram submetidas à mesma condenação dos dinossauros, ou seja, à destruição, porque possuíam pouquíssima massa cerebral em relação ao tamanho do próprio corpo. Falhou essa segunda tentativa de gerar animais, que pudessem navegar pela atmosfera, como falhou também a tentativa abortada de produzir mamíferos durante essa idade e na precedente.
60:3.22 (691.3) Há 55 milhões de anos, a marcha evolucionária foi marcada pelo aparecimento súbito dos primeiros pássaros verdadeiros; uma pequena criatura semelhante a um pombo foi o ancestral de toda a vida avícola. Esse foi o terceiro tipo de criatura voadora a aparecer na Terra, e originou-se diretamente do grupo dos répteis; não veio dos dinossauros voadores dessa época, nem dos tipos anteriores de pássaros terrestres com dentes. E, assim, essa se tornou conhecida como a idade dos pássaros, bem como a do declínio dos répteis.
60:4.1 (691.4) O grande período Cretáceo estava próximo do seu fechamento, e o seu encerramento assinala o fim das grandes invasões dos mares adentro dos continentes. Isto é verdadeiro particularmente para a América do Norte, onde houvera nada menos do que vinte e quatro grandes inundações. E, embora hajam ocorrido submersões subseqüentes menores, nenhuma dessas pode ser comparada às extensas e longas invasões marítimas dessa idade e das precedentes. Esses períodos alternados, de predomínio da terra e do mar, ocorreram em ciclos de milhões de anos. Essas elevações e afundamentos do fundo dos oceanos e níveis de terra dos continentes aconteceram segundo ritmos multimilenares. E esses mesmos movimentos rítmicos da crosta continuarão, dessa época em diante, na história da Terra, mas com freqüências e extensões decrescentes.
60:4.2 (691.5) Esse período também testemunha o fim da deriva continental e da formação das modernas montanhas de Urântia. Todavia, a pressão das massas continentais e do momentum transversal das suas derivações seculares não é a influência exclusiva geradora das montanhas. O fator principal e básico, na determinação da localização de uma cadeia de montanhas, é a planície preexistente, ou a depressão, que se tornou preenchida pelos depósitos, relativamente menos pesados, gerados na erosão de terra e movimentos marinhos das idades precedentes. Essas áreas mais leves de terras, algumas vezes, têm de 4 500 a 6 000 metros de espessura; e, portanto, quando a crosta é submetida à pressão por uma causa qualquer, essas áreas mais leves são as primeiras a dobrar-se para cima, e a subir para permitir o ajustamento compensatório das forças e pressões em conflito, as quais trabalham na crosta da Terra ou sob a mesma. Algumas vezes esses levantamentos de terras ocorrem sem dobras. No caso, porém, do levantamento das Montanhas Rochosas, ocorreram grandes dobras e mergulhos, combinados com enormes arrastamentos das várias camadas, tanto subterrâneas quanto superficiais.
60:4.3 (692.1) As montanhas mais antigas do mundo estão localizadas na Ásia, na Groenlândia e ao norte da Europa, entre as do antigo sistema este-oeste. As montanhas de idade intermediária estão no grupo que circunda o oceano Pacífico e no segundo sistema europeu leste-oeste, as quais nasceram aproximadamente ao mesmo tempo. Essa gigantesca elevação tem quase dezesseis mil quilômetros de comprimento, estendendo-se desde a Europa até as elevações de terra nas Antilhas. As montanhas mais recentes estão no sistema das Montanhas Rochosas, onde, durante muito tempo, as elevações das terras ocorreram apenas para serem sucessivamente encobertas pelo mar, embora algumas dentre as terras mais elevadas hajam permanecido como ilhas. Depois da formação das montanhas de meia-idade, uma cordilheira montanhosa real elevou-se e estaria posteriormente destinada a ser encravada nas atuais Montanhas Rochosas, por toda uma arte combinada dos elementos da natureza.
60:4.4 (692.2) A região atual das Montanhas Rochosas norte-americanas não é a elevação original daquelas terras; aquela elevação havia sido, tempos atrás, nivelada pela erosão, e depois fora re-elevada. A cadeia frontal atual de montanhas é o que restou dos remanescentes da cadeia original, que fora re-elevada. Os picos de Pikes e Longs são exemplos notáveis dessa atividade na montanha, estendendo-se a duas ou mais gerações de vidas das montanhas. Esses dois picos mantiveram os seus topos sobre as águas, durante várias das inundações precedentes.
60:4.5 (692.3) Biologicamente, bem como geologicamente, essa foi uma idade ativa e cheia de acontecimentos na terra e sob as águas. Os ouriços do mar aumentaram em número, enquanto os corais e os crinóides diminuíram. Os amonites, de influência preponderante durante uma idade anterior, também declinaram rapidamente. Nas terras, as florestas de fetos foram amplamente substituídas pelas de pinheiros e outras árvores modernas, incluindo as gigantescas sequóias. Ao final desse período, enquanto os mamíferos placentários ainda não haviam surgido, o estágio biológico foi completamente estabelecido para o aparecimento, em uma idade subseqüente, dos primeiros ancestrais dos futuros tipos de mamíferos.
60:4.6 (692.4) E assim termina uma longa era de evolução do mundo, estendendo-se desde o primeiro aparecimento da vida terrestre até os tempos mais recentes dos ancestrais imediatos da espécie humana e das suas ramificações colaterais. Este, o período Cretáceo, engloba cinqüenta milhões de anos e encerra a era pré-mamífera da vida terrestre, que se estende por um período de cem milhões de anos, e é conhecido como o Mesozóico.
60:4.7 (692.5) [Apresentado por um Portador da Vida de Nébadon, designado para Satânia e agora atuando em Urântia.]
O Livro de Urântia
Documento 61
61:0.1 (693.1) A ERA dos mamíferos estende-se desde os tempos da origem dos mamíferos placentários até o fim da idade do gelo, abrangendo um pouco menos de cinqüenta milhões de anos.
61:0.2 (693.2) Durante essa era cenozóica a paisagem do mundo apresentou uma aparência atraente — colinas onduladas, vales amplos, rios largos e grandes florestas. Por duas vezes, durante esse espaço de tempo, o istmo do Panamá subiu e desceu; por três vezes, o mesmo aconteceu à ponte de terra do estreito de Behring. As espécies animais não só eram numerosas como variadas. As árvores estavam repletas de pássaros, e todo o mundo era um paraíso animal, não obstante a luta incessante das espécies animais em evolução, pela supremacia.
61:0.3 (693.3) Os depósitos acumulados de cinco períodos dessa era, que durou 50 milhões de anos, contêm os registros fósseis das dinastias sucessivas dos mamíferos e conduzem diretamente aos tempos do aparecimento factual do próprio homem.
61:1.1 (693.4) Há 50 milhões de anos, as áreas de terra do mundo estavam, em geral, acima da água ou apenas ligeiramente submersas. As formações e os depósitos desse período são tanto terrestres quanto marinhos, mas principalmente terrestres. Durante um considerável período de tempo, a terra gradualmente elevou-se, mas, simultaneamente, foi carreada pelas águas até os níveis mais baixos, na direção do mar.
61:1.2 (693.5) No início desse período, na América do Norte, os mamíferos do tipo placentário apareceram subitamente, e constituíram-se no mais importante desenvolvimento evolucionário até essa época. Ordens anteriores de mamíferos não placentários haviam existido, mas esse novo tipo surgiu direta e subitamente de um réptil ancestral preexistente, cujos descendentes haviam sobrevivido até o final dos tempos do declínio dos dinossauros. O pai dos mamíferos placentários foi um dinossauro pequeno, altamente ativo, carnívoro, do tipo saltador.
61:1.3 (693.6) Os instintos mamíferos básicos começaram a manifestar-se nesses tipos primitivos de mamíferos. Os mamíferos possuem uma vantagem imensa de sobrevivência sobre todas as outras formas de vida animal, pois eles podem:
61:1.4 (693.7) 1. Gerar uma progênie relativamente madura e bem desenvolvida.
61:1.5 (693.8) 2. Nutrir educar e proteger a sua progênie e cuidar dela com uma atenção afetuosa.
61:1.6 (693.9) 3. Empregar a capacidade superior do seu cérebro para a autoperpetuação.
61:1.7 (693.10) 4. Utilizar maior agilidade para escapar dos inimigos.
61:1.8 (693.11) 5. Aplicar a sua inteligência superior ao ajustamento e à adaptação ambiental.
61:1.9 (694.1) Há 45 milhões de anos, os espigões continentais foram elevados, em conseqüência de um afundamento bastante generalizado da linha costeira. A vida mamífera estava evoluindo rapidamente. Um réptil pequeno, um mamífero do tipo ovíparo, floresceu, e os ancestrais dos futuros cangurus povoaram a Austrália. Logo surgiram pequenos cavalos, rinocerontes ágeis, tapires com trombas, porcos primitivos, esquilos, lêmures, gambás e várias tribos de animais do tipo dos símios. Eram todos pequenos, primitivos e mais bem adaptados para viver nas florestas das regiões montanhosas. Uma grande ave terrestre, semelhante à avestruz, desenvolveu-se, atingindo uma altura de três metros, e punha um ovo de vinte e três por trinta e três centímetros. Esses foram os ancestrais dos futuros pássaros gigantes de passageiros, que eram tão altamente inteligentes e que outrora transportaram os seres humanos por via aérea.
61:1.10 (694.2) Os mamíferos da era Cenozóica primitiva viviam na terra, sob as águas, no ar e nos topos das árvores. Tinham de um a onze pares de glândulas mamárias, e todos eram cobertos por uma quantidade considerável de pêlos. Em comum com as ordens que surgiram posteriormente, eles desenvolveram duas dentições sucessivas e possuíam cérebros grandes, em relação ao tamanho dos seus corpos. Entre eles, contudo, não existia ainda nenhuma das espécies modernas.
61:1.11 (694.3) Há 40 milhões de anos, as áreas de terra do hemisfério norte começaram a elevar-se, e a isso se seguiram novos depósitos extensos de terras, bem como outras atividades terrestres, incluindo derramamentos de lava, arqueamentos com depósitos aluviais, formação de lagos e erosão.
61:1.12 (694.4) Durante a última parte dessa época, quase toda a Europa submergiu. Em seguida a uma ligeira elevação da terra, o continente ficou coberto de lagos e baías. O oceano Ártico, passando pela depressão nos Urais, escorreu para o sul, ligando-se ao mar Mediterrâneo, que se havia expandido então para a direção norte; as terras mais altas dos Alpes, Cárpatos, Apeninos e Pirineus estavam acima das águas, como ilhas de um mar. O istmo do Panamá estava acima da água; os oceanos Atlântico e Pacífico estavam separados. A América do Norte estava ligada à Ásia por meio da ponte de terra do estreito de Behring, e à Europa por meio da Groenlândia e da Islândia. O circuito das terras, nas latitudes norte, interrompia-se apenas nos estreitos Urais, que ligavam os mares árticos ao Mediterrâneo, então ampliado.
61:1.13 (694.5) Uma quantidade considerável de calcário foraminífero depositou-se nas águas européias. Hoje, essa mesma pedra foi elevada a uma altitude de 3 000 metros, nos Alpes, a 4 800 metros no Himalaia e a 6 000 metros no Tibete. Os depósitos de giz desse período são encontráveis ao longo das costas da África e Austrália, na costa oeste da América do Sul e nas Antilhas.
61:1.14 (694.6) Durante toda essa época, chamada Eocena, a evolução dos mamíferos e outras espécies de vida relacionadas a eles continuou, com pouca ou nenhuma interrupção. A América do Norte, então, estava ligada por terra a todos os continentes, excetuando-se a Austrália; e o mundo foi gradualmente tomado por uma fauna mamífera primitiva de vários tipos.
61:2.1 (694.7) Este período ficou caracterizado por uma evolução rápida e favorecida dos mamíferos placentários, a forma mais adiantada de vida mamífera desenvolvida durante essa época.
61:2.2 (694.8) Embora os primeiros mamíferos placentários hajam-se originado de ancestrais carnívoros, ramificações herbívoras logo se desenvolveram e, em breve, as famílias dos mamíferos onívoros também surgiram. As angiospermas eram o alimento principal dos mamíferos os quais rapidamente cresciam em número; a flora terrestre moderna, incluindo a maioria das plantas e árvores atuais, aparecera durante épocas anteriores.
61:2.3 (695.1) Há 35 milhões de anos, fica assinalado o começo da idade da predominância dos mamíferos placentários no mundo. A ponte de terra do sul era abrangente, religando o então enorme continente da Antártida à América do Sul, à África do sul e à Austrália. A despeito da concentração de massas de terra nas latitudes altas, o clima do mundo permaneceu relativamente suave, por causa do aumento enorme no tamanho dos mares tropicais; e também porque as terras não foram elevadas suficientemente a ponto de produzirem geleiras. Grandes fluxos de lava ocorreram na Groenlândia e na Islândia, e uma certa quantidade de carvão foi depositada entre essas camadas.
61:2.4 (695.2) Mudanças notáveis estavam ocorrendo na fauna do planeta. A vida marinha passava por uma grande modificação; a maior parte das ordens atuais de vida marinha existia, e os foraminíferos continuavam a exercer um importante papel. A vida dos insetos era muito semelhante à dos da era anterior. As camadas dos depósitos fósseis de Florissant, no Colorado, pertencem aos últimos anos dessa época longínqua. A maior parte das famílias dos insetos vivos remonta a esse período, porém muitos dos que então existiam estão extintos atualmente; os seus fósseis contudo ainda permaneçam.
61:2.5 (695.3) Essa foi, sobretudo, a idade da renovação e da expansão para os mamíferos, em terra firme. Dentre os mamíferos anteriores e mais primitivos, mais de cem espécies estavam extintas antes do término dessa época. Mesmo os mamíferos de grande porte, e de cérebros pequenos, pereceram logo. Os cérebros e a agilidade haviam substituído a couraça e o tamanho, na linha de progresso da sobrevivência animal. E, com a família dos dinossauros em declínio, os mamíferos assumiam lentamente o domínio da terra, destruindo rápida e completamente o remanescente dos seus ancestrais répteis.
61:2.6 (695.4) Com o desaparecimento dos dinossauros, outras grandes mudanças ocorreram nos vários ramos da família sauriana. Os membros sobreviventes das famílias primitivas de répteis são as tartarugas, as cobras e os crocodilos, junto com a venerável rã, o único grupo remanescente a representar os ancestrais iniciais do homem.
61:2.7 (695.5) Vários grupos de mamíferos tiveram a sua origem em um único animal, agora extinto. Essa criatura carnívora era algo como um cruzamento de um gato e uma foca; podia viver na terra ou na água e era altamente inteligente e muito ativa. Na Europa, o ancestral da família canina evoluiu, dando logo origem a muitas espécies de pequenos cães. Nessa mesma época, apareceram os roedores, incluindo os castores, os esquilos, os geômis, os camundongos e os coelhos, e logo se transformaram em uma forma notável de vida, e pouca mudança ocorreu nessa família desde então. Os depósitos posteriores desse período contêm os remanescentes fósseis de cães, gatos, guaxinins e doninhas, nas suas formas ancestrais.
61:2.8 (695.6) Há 30 milhões de anos, os tipos modernos de mamíferos começaram a surgir. Até então, os mamíferos haviam vivido, em grande parte, nas colinas, sendo do tipo das montanhas; subitamente começou a evolução do tipo das planícies, ou o tipo que tem casco, de espécies herbívoras, diferenciadas das com garras, de comedores de carne. Esses herbívoros vieram de um ancestral não diferenciado, que tinha cinco dedos nas patas e quarenta e quatro dentes, e que pereceu antes do fim dessa idade. A evolução dos dedos não avançou para além do estágio de três dedos durante esse período.
61:2.9 (695.7) O cavalo, um exemplo notável de evolução, viveu, durante essas épocas, tanto na América do Norte quanto na Europa, embora o seu desenvolvimento não se haja completado totalmente antes do fim da idade do gelo. Se bem que a família dos rinocerontes tenha aparecido no final desse período, apenas posteriormente ela conseguiu a sua maior expansão. Também se desenvolveu uma criatura pequena, semelhante a um porco, e que se tornou o ancestral de muitas espécies de suínos, queixadas e hipopótamos. Os camelos e as lhamas tiveram a sua origem na América do Norte, por volta da metade desse período, e povoaram as planícies do oeste. Mais tarde, as lhamas migraram para a América do Sul, os camelos para a Europa e logo ambos acabaram sendo extintos na América do Norte, embora uns poucos camelos hajam sobrevivido até a idade do gelo.
61:2.10 (696.1) Por volta dessa época, uma coisa notável aconteceu no lado oeste da América do Norte: os primeiros ancestrais dos antigos lêmures fizeram a sua primeira aparição. Embora essa família não possa ser considerada como a dos verdadeiros lêmures, o seu surgimento marcou o estabelecimento da linha da qual se originaram, subseqüentemente, os lêmures verdadeiros.
61:2.11 (696.2) Tal como as serpentes terrestres de uma idade anterior, que se fizeram aos mares, agora, uma tribo inteira de mamíferos placentários desertou a terra e fez dos oceanos a sua residência. E, desde então, permaneceu no mar, gerando as modernas e variadas baleias, golfinhos, masorpas, focas e leões-marinhos.
61:2.12 (696.3) A vida avícola do planeta continuou a desenvolver-se, mas com poucas mudanças evolucionárias importantes. A maioria dos pássaros modernos existia, incluindo as gaivotas, garças, flamingos, abutres, falcões, águias, corujas, codornas e avestruzes.
61:2.13 (696.4) Por volta do fechamento dessa época Oligocena, cobrindo dez milhões de anos, a vida vegetal, junto com a vida marinha e a dos animais terrestres, desenvolveu-se amplamente e tinha presença na Terra de um modo semelhante ao de hoje. Uma especialização considerável ocorreu subseqüentemente, mas as formas ancestrais da maioria das coisas vivas já existiam então.
61:3.1 (696.5) A elevação das terras e a separação dos mares estavam vagarosamente mudando o clima do mundo, resfriando-o gradativamente, mas o clima ainda era suave. As sequóias e as magnólias cresciam na Groenlândia, mas as plantas subtropicais estavam começando a migrar para o sul. No final dessa época, essas plantas e árvores de climas quentes haviam desaparecido, em grande parte, das latitudes ao norte, sendo substituídas por plantas mais robustas e pelas árvores que mudam de folhagem anualmente.
61:3.2 (696.6) Houve um grande acréscimo nas variedades das gramíneas, e os dentes de muitas espécies de mamíferos alteraram-se gradualmente, conformando-se aos tipos atuais que pastam.
61:3.3 (696.7) Há 25 milhões de anos, aconteceu uma ligeira submersão de terras, que se seguiu à longa época de elevação das terras. A região das Montanhas Rochosas permaneceu altamente elevada, de modo que o depósito feito pelo material de erosão continuou por todas as terras baixas a leste. As Serras foram bem re-elevadas; e, de fato, elas têm subido desde então. A grande falha vertical, de seis quilômetros e meio, na região da Califórnia, data dessa época.
61:3.4 (696.8) Há 20 milhões de anos, os mamíferos conheceram, de fato, a sua idade de ouro. A ponte de terra do estreito de Behring estava acima das águas, e muitos grupos de animais migraram para a América do Norte, vindos da Ásia, incluindo os mastodontes de quatro presas, os rinocerontes de pernas curtas e muitas variedades da família dos felinos.
61:3.5 (696.9) O primeiro cervo apareceu, e a América do Norte logo estava povoada de ruminantes — veados, bois, camelos, bisões e várias espécies de rinocerontes — , mas os porcos gigantes, de mais de um metro e oitenta centímetros de altura, extinguiram-se.
61:3.6 (697.1) Os imensos elefantes desse período, e dos subseqüentes, possuíam cérebros grandes, bem como corpos imensos e logo tomaram todo o mundo, exceto a Austrália. Dessa vez, o mundo estava dominado por um animal imenso, com um cérebro suficientemente grande para capacitá-lo a subsistir. Confrontado com a vida altamente inteligente dessas idades, nenhum animal do tamanho de um elefante poderia haver sobrevivido, a menos que possuísse um cérebro de grande porte e de qualidade superior. Pela sua inteligência e adaptabilidade, apenas o cavalo pode ser comparado ao elefante, que é ultrapassado apenas pelo próprio homem. E mesmo assim, das cinqüenta espécies de elefantes, em existência, quando da abertura desse período, apenas duas sobreviveram.
61:3.7 (697.2) Há 15 milhões de anos, as regiões montanhosas da Eurásia estavam-se elevando, e havia alguma atividade vulcânica em todas essas regiões, mas nada comparável aos fluxos de lava do hemisfério ocidental. Essas condições instáveis prevaleceram em todo o mundo.
61:3.8 (697.3) O estreito de Gibraltar fechou-se, e a Espanha ficou ligada à África pela antiga ponte de terra, mas o Mediterrâneo fluiu para o Atlântico por meio de um canal estreito, que se estendia através da França; os picos das montanhas e os planaltos surgiam como ilhas por sobre esse antigo mar. Mais tarde, esses mares europeus começaram a retrair-se. Mais tarde ainda, o Mediterrâneo ficou ligado ao oceano Índico, e, ao final dessa época, a região de Suez de tal modo estava elevada que o Mediterrâneo se tornou, durante um certo tempo, um mar salgado interior.
61:3.9 (697.4) A ponte de terra da Islândia submergiu, e as águas árticas misturaram-se às do oceano Atlântico. A costa atlântica da América do Norte rapidamente resfriou-se, mas a costa do Pacífico permaneceu mais quente do que é atualmente. As grandes correntes oceânicas estavam atuando e afetavam o clima do mesmo modo como o fazem hoje.
61:3.10 (697.5) A vida dos mamíferos continuou a evoluir. Enormes manadas de cavalos juntaram-se às de camelos, nas planícies do oeste da América do Norte; essa foi verdadeiramente a idade dos cavalos, bem como a dos elefantes. O cérebro do cavalo é próximo, em qualidade animal, ao do elefante, mas, sob um ponto de vista, é decididamente inferior, pois o cavalo nunca venceu completamente a tão sedimentada propensão de fugir quando amedrontado. O cavalo não tem o controle emocional do elefante, enquanto o elefante é, em muito, prejudicado pelo tamanho e pela falta de agilidade. Durante essa época, um animal evoluiu que, de algum modo, era como ambos, o elefante e o cavalo, mas foi logo destruído pela família dos felinos, que crescia rapidamente.
61:3.11 (697.6) No momento presente, em que Urântia entra em uma idade chamada “idade sem cavalos”, vós devíeis parar para ponderar o que esse animal significou para os vossos ancestrais. Os homens primeiro usaram os cavalos como alimento, depois para viajar e, mais tarde, na agricultura e na guerra. O cavalo tem servido à humanidade há um longo tempo e tem tido um papel importante no desenvolvimento da civilização humana.
61:3.12 (697.7) Os desenvolvimentos biológicos desse período contribuíram em muito para o estabelecimento do cenário que permitiu o aparecimento posterior do homem. Na Ásia Central, evoluíram os tipos verdadeiros tanto dos macacos primitivos quanto dos gorilas, tendo um ancestral em comum, agora extinto. Mas nenhuma dessas espécies está ligada à linha dos seres vivos que viriam a tornar-se, mais tarde, os ancestrais da raça humana.
61:3.13 (697.8) A família canina estava representada por vários grupos, notadamente de lobos e raposas; a tribo dos felinos, pelas panteras e pelos grandes tigres dentes-de-sabre, estes últimos tendo evoluído inicialmente na América do Norte. As famílias modernas de felinos e de caninos cresceram em número, no mundo inteiro. As doninhas, martas, lontras e guaxinins medraram e desenvolveram-se em todas as latitudes norte.
61:3.14 (698.1) Os pássaros continuaram a evoluir, embora poucas mudanças notáveis tenham ocorrido. Os répteis eram semelhantes aos dos tipos modernos — cobras, crocodilos e tartarugas.
61:3.15 (698.2) Assim, chegou ao fim uma idade muito cheia de acontecimentos e muito interessante da história do mundo. Essa idade do elefante e do cavalo é conhecida como a época Miocena.
61:4.1 (698.3) Esta é a época da elevação pré-glacial das terras, na América do Norte, na Europa e na Ásia. A terra foi alterada amplamente na sua topografia. As cadeias de montanhas surgiram, as correntes mudaram os seus cursos e os vulcões isolados irromperam em todo o mundo.
61:4.2 (698.4) Há 10 milhões de anos, começou uma idade de vastos depósitos localizados de terra, disseminados nas planícies dos continentes; mas a maioria dessas sedimentações foi removida mais tarde. Grande parte da Europa, nessa época, ainda estava sob as águas, incluindo regiões da Inglaterra, Bélgica e França; e o mar Mediterrâneo cobria grandes áreas do norte da África. Na América do Norte, extensos depósitos se fizeram nas bases das montanhas, nos lagos e nas grandes bacias terrestres. Esses depósitos têm, em média, apenas 60 metros de espessura, são mais ou menos coloridos e, neles, os fósseis são raros. Dois grandes lagos de água doce existiram na parte oeste da América do Norte. As Serras estavam elevando-se; Shasta, Hood, e Rainier estavam iniciando as suas carreiras como montanhas. Mas só na idade subseqüente, das geleiras, é que a América do Norte começou o seu deslocamento na direção das profundezas do Atlântico.
61:4.3 (698.5) Durante um curto espaço de tempo, toda a terra do mundo uniu-se novamente, excetuando-se a Austrália; e a última grande migração mundial de animais aconteceu. A América do Norte estava ligada tanto à América do Sul quanto à Ásia, e havia um intercâmbio livre da fauna animal. Preguiças, tatus, antílopes e ursos, vindos todos da Ásia, entraram na América do Norte, enquanto os camelos norte-americanos foram para a China. Os rinocerontes migraram para todo o mundo, exceto para a Austrália e para a América do Sul, mas se extinguiram no hemisfério ocidental, ao final desse período.
61:4.4 (698.6) Em geral, a vida do período precedente continuou a evoluir, e a disseminar-se. A família felina dominou a vida animal, e a vida marinha estava quase em compasso de espera. Muitos dos cavalos ainda tinham três dedos, mas os tipos modernos estavam em vias de aparecer; as lhamas e os camelos parecidos com girafas misturavam-se com os cavalos nos pastos das planícies. A girafa apareceu na África, tendo então um pescoço tão comprido quanto agora. Na América do Sul, as preguiças, tatus, tamanduás e o tipo sul-americano de macacos primitivos evoluíram. Antes que os continentes estivessem finalmente isolados, os animais de maior porte, os mastodontes, migraram para todos os lugares, excetuando-se a Austrália.
61:4.5 (698.7) Há cinco milhões de anos, o cavalo atingiu o seu estado atual de evolução e, da América do Norte, ele migrou para todo o mundo. O cavalo, no entanto, havia-se tornado extinto no continente da sua origem, muito antes da chegada do homem vermelho.
61:4.6 (698.8) O clima estava gradativamente ficando mais frio, as plantas terrestres estavam lentamente migrando para o sul. A princípio foi o frio crescente, no norte, que parou com as migrações dos animais para os istmos do norte; subseqüentemente, essas pontes de terra, na América do Norte, desfizeram-se. Logo depois, a ligação de terra entre a África e a América do Sul finalmente submergiu, e o hemisfério ocidental ficou isolado, quase como o é hoje. Dessa época em diante, tipos distintos de vida começaram a desenvolver-se nos hemisférios oriental e ocidental.
61:4.7 (699.1) E assim, esse intervalo de quase dez milhões de anos de duração chegou a um final, e não apareceu ainda o ancestral do homem. Essa, em geral, é designada como a época Pliocena.
61:5.1 (699.2) Ao final da época precedente, as terras da parte nordeste da América do Norte e do norte da Europa se haviam elevado em uma escala extensa; na América do Norte vastas áreas subiam a 9 000 metros de altitude e até mais. Os climas suaves haviam prevalecido anteriormente nessas regiões do norte, e as águas do Ártico estavam todas sujeitas à evaporação e continuaram sem se congelar até quase o final do período glacial.
61:5.2 (699.3) Simultaneamente a essas elevações das terras, as correntes dos oceanos mudaram de direção, e os ventos sazonais modificaram as suas direções. Essas condições finalmente geraram uma precipitação quase constante de umidade, vinda do movimento da atmosfera pesadamente saturada sobre os planaltos do norte. A neve começou a cair nessas regiões elevadas e, portanto, frias, e continuou caindo até atingir uma profundidade de 6 000 metros. As áreas de maior profundidade de neve, junto com a altitude, determinaram os pontos centrais do fluxo da pressão glacial subseqüente. E a idade glacial perdurou, enquanto essa precipitação excessiva continuou a cobrir esses planaltos do norte com um manto enorme de neve, que logo se metamorfoseou em um gelo sólido, mas movediço.
61:5.3 (699.4) Os grandes lençóis de gelo desse período estavam todos localizados nos pontos de elevação dos planaltos, não nas regiões montanhosas onde são encontráveis hoje. A metade das formações glaciais situava-se na América do Norte, um quarto na Eurásia, e o outro quarto em locais variados, principalmente na Antártida. A África pouco foi afetada pelo gelo, mas a Austrália foi quase totalmente coberta pela camada antártica de gelo.
61:5.4 (699.5) As regiões do norte, deste mundo, experimentaram seis invasões glaciais separadas e distintas e, por dezenas de vezes, ainda houve avanços e retrocessos ligados à atividade de cada camada individual de gelo. O gelo, na América do Norte, concentrou-se em duas regiões e, mais tarde, em três. A Groenlândia ficou coberta e a Islândia completamente enterrada sob o fluxo de gelo. Na Europa, em várias épocas, o gelo cobriu as Ilhas Britânicas, excetuando a costa ao sul da Inglaterra, e espalhou-se pela Europa oriental até a França.
61:5.5 (699.6) Há dois milhões de anos, a primeira etapa glacial norte-americana iniciou seu avanço para o sul. A idade do gelo estava em formação nessa época, e essa invasão glacial consumou-se, durando quase um milhão de anos, desde o seu avanço, dos centros de pressão ao norte, até a sua retirada. O lençol central de gelo estendeu-se ao sul, até o Kansas; os centros glaciais orientais e ocidentais, então, não eram tão extensos.
61:5.6 (699.7) Há um milhão e meio de anos, a primeira grande geleira estava em retirada, na direção norte. Nesse meio tempo, quantidades enormes de neve haviam caído na Groenlândia e na parte nordeste da América do Norte e, em breve, essa massa de gelo oriental começou a fluir para o sul. Essa foi a segunda invasão do gelo.
61:5.7 (699.8) Essas duas primeiras invasões do gelo não abrangeram a Eurásia. Durante essas épocas iniciais da idade do gelo, a América do Norte estava repleta de mastodontes, mamutes peludos, cavalos, camelos, veados, bois almiscarados, bisões, preguiças da terra, castores gigantes, tigres-dente-de-sabre, bichos preguiças tão grandes quanto elefantes, e muitos grupos de famílias de felinos e caninos. Contudo, dessa idade em diante, tiveram todos a sua população reduzida rapidamente, pelo frio crescente do período glacial. Mais para o final da idade do gelo, a maioria dessas espécies animais ficaram extintas na América do Norte.
61:5.8 (700.1) A vida na terra e na água, livre do gelo, mudou pouco em todo o mundo. Entre as invasões do gelo, o clima ficava quase tão suave quanto atualmente, talvez um pouco mais quente. As geleiras eram, afinal, fenômenos locais, embora se espalhassem, cobrindo áreas enormes. O clima costeiro variava consideravelmente entre as épocas de inatividade glacial e os tempos em que enormes icebergs, deslizando desde a costa do Maine, iam até o Atlântico ou, escapando pelo Puget Sound, chegavam ao Pacífico, ou, descendo ruidosamente pelos fiordes da Noruega, atingiam o mar do Norte.
61:6.1 (700.2) O grande acontecimento desse período glacial foi a evolução do homem primitivo. Ligeiramente a oeste da Índia, em uma terra agora sob as águas e em meio à progênie de imigrantes asiáticos do tipo norte-americano de lêmures, os mamíferos precursores do homem subitamente apareceram. Esses pequenos animais andavam principalmente com as suas pernas traseiras, e possuíam cérebros grandes em relação ao seu tamanho e em comparação aos cérebros de outros animais. Na septuagésima geração dessa ordem de vida, um novo grupo, mais elevado, de animais, diferenciou-se subitamente. Esses novos mamíferos intermediários — que tinham quase duas vezes o tamanho e a altura dos seus ancestrais e possuíam uma capacidade cerebral proporcionalmente maior — haviam acabado de firmarem bem a si próprios, quando os primatas, da terceira mutação vital, subitamente apareceram. (Nessa mesma época, um desenvolvimento retrógrado, na linhagem mamífera intermediária, deu origem aos ancestrais simianos; e, daqueles dias para cá, a ramificação humana tem-se adiantado em evolução progressiva, enquanto as tribos simianas permaneceram estacionárias ou de fato até mesmo retrocederam.)
61:6.2 (700.3) Há um milhão de anos, Urântia foi registrada como um mundo habitado. Uma mutação, na linhagem dos primatas em progressão, subitamente produziu dois seres humanos primitivos, os ancestrais verdadeiros da humanidade.
61:6.3 (700.4) Esse acontecimento ocorreu por volta da época do começo do terceiro avanço glacial; assim, pode-se perceber que os vossos primeiros ancestrais nasceram e criaram-se em um meio ambiente estimulante, revigorante e difícil. E os únicos sobreviventes desses aborígines de Urântia, os esquimós, ainda hoje preferem residir nos climas frígidos do norte.
61:6.4 (700.5) Os seres humanos não estavam presentes no hemisfério ocidental até perto do fim da idade do gelo. Todavia, durante as épocas interglaciais, eles passaram ao ocidente, contornando o Mediterrâneo, e logo tomaram o continente da Europa. Nas cavernas da Europa ocidental, podem ser encontrados ossos humanos misturados aos remanescentes de animais, tanto tropicais quanto árticos, atestando que o homem viveu nessas regiões durante as últimas épocas glaciais que avançavam e recuavam.
61:7.1 (700.6) Durante o período glacial, outras atividades estavam em progresso, mas a ação do gelo sobrepujou todos os outros fenômenos nas latitudes norte. Nenhuma outra atividade terrestre deixa evidências tão características na topografia. Os seixos rolados e as clivagens ou rachaduras na superfície são características, bem como caldeirões, lagos, pedras deslocadas e rochas pulverizadas, que não estão ligados a nenhum outro fenômeno na natureza. O gelo é responsável também por essas suaves intumescências, ou ondulações superficiais, conhecidas como colinas de aluviões. E uma invasão glacial, à medida que avança, desloca os rios e muda toda a face da Terra. Apenas as invasões glaciais deixam atrás de si essas aluviões reveladoras — montes de terra, lateral e frontalmente depositados. Esses depósitos de aluviões, particularmente as morenas de terra, estendem-se ao norte e a oeste, partindo da costa oriental da América do Norte. E são também encontradas na Europa e na Sibéria.
61:7.2 (701.1) Há 750 mil anos, a quarta camada de gelo, uma união dos campos centrais e orientais de gelo, na América do Norte, estava bem no seu caminho para o sul; no seu apogeu, alcançou o sul de Illinois, deslocando o rio Mississipi por oitenta quilômetros para o oeste e, a leste, estendendo-se para o sul, até o rio Ohio e a parte central da Pensilvânia.
61:7.3 (701.2) Na Ásia, a camada siberiana de gelo fez a sua invasão até o ponto máximo para o sul, enquanto, na Europa, o gelo que avançava parou bem diante da barreira montanhosa dos Alpes.
61:7.4 (701.3) Há 500 mil anos, durante o quinto avanço do gelo, um novo desenvolvimento acelerou o curso da evolução humana. Subitamente, e em uma geração, as seis raças de cores surgiram, por mutação da linhagem humana aborígine. Essa é uma data duplamente importante, já que assinala também a chegada do Príncipe Planetário.
61:7.5 (701.4) Na América do Norte, o quinto avanço glacial consistiu em uma invasão combinada de três centros de gelo. O lóbulo do leste, contudo, estendeu-se apenas até uma pequena distância abaixo do vale do Saint Lawrence, e a camada de gelo vinda do oeste pouco avançou para o sul. Mas o lóbulo central alcançou o sul, cobrindo a maior parte do estado de Iowa. Na Europa, essa invasão do gelo não foi tão extensa quanto a precedente.
61:7.6 (701.5) Há 250 mil anos, começou a sexta e última invasão glacial. E, a despeito do fato de que os planaltos do norte houvessem começado a afundar-se ligeiramente, esse foi o período de maior depósito de neve nos campos de gelo do norte.
61:7.7 (701.6) Nessa invasão, as três grandes camadas de gelo aglutinaram-se em uma única vasta massa de gelo, e todas as montanhas do oeste participaram dessa atividade glacial. Essa foi a maior de todas as invasões de gelo na América do Norte; o gelo movimentou-se para o sul a uma distância de mais de dois mil e quinhentos quilômetros dos seus centros de pressão; e a América do Norte experimentou as suas temperaturas mais baixas.
61:7.8 (701.7) Há 200 mil anos, durante o avanço da última invasão glacial, aconteceu um episódio que teve muito a ver com a marcha dos acontecimentos em Urântia — a rebelião de Lúcifer.
61:7.9 (701.8) Há 150 mil anos, o sexto e último período de invasão glacial alcançou os seus pontos mais afastados na extensão sul, a camada de gelo do oeste cruzando a fronteira canadense e a camada central vindo até o Kansas, Missouri e Illinois; a camada do leste avançando para o sul e cobrindo grande parte da Pensilvânia e do Ohio.
61:7.10 (701.9) Essa foi uma invasão glacial que gerou muitas línguas, ou lóbulos de gelo, e que moldou os lagos atuais, grandes e pequenos. Quando da sua retirada, o sistema norte-americano dos Grandes Lagos foi gerado. E os geólogos urantianos, com bastante precisão, deduziram os vários estágios desse desenvolvimento e supuseram, com muita correção, que esses corpos de água, em épocas diferentes, esvaziaram-se primeiro sobre o vale do Mississippi e depois, a leste, dentro do vale do rio Hudson e, finalmente, por uma passagem ao norte, na direção do Saint Lawrence. Agora faz trinta e sete mil anos desde que o sistema dos Grandes Lagos, ligados entre si, começou a descarregar suas águas na atual passagem do Niágara.
61:7.11 (702.1) Há 100 mil anos, durante o recuo da última invasão glacial, as vastas camadas do gelo polar começaram a se formar, e o centro da acumulação do gelo moveu-se consideravelmente para o norte. E, enquanto as regiões polares continuarem a ser cobertas de gelo, dificilmente será possível ocorrer outra idade glacial, independentemente de futuras elevações de terras, ou de modificações nas correntes dos oceanos.
61:7.12 (702.2) Essa última invasão glacial ficou cem mil anos avançando, e foi necessário um período semelhante de tempo para completar o seu recuo para o norte. As regiões temperadas têm ficado isentas de gelo, durante pouco mais de cinqüenta mil anos.
61:7.13 (702.3) O rigoroso período glacial destruiu muitas espécies e transformou inúmeras outras radicalmente. Muitas foram peneiradas sofridamente no vaivém das migrações, que se fizeram necessárias por causa do avanço e do recuo do gelo. Os animais que seguiram para frente e recuaram com as geleiras sobre a Terra, foram o urso, o bisão, a rena, o boi almiscarado, o mamute e o mastodonte.
61:7.14 (702.4) O mamute buscou as pradarias abertas, enquanto o mastodonte preferiu as bordas abrigadas das regiões de florestas. O mamute, até uma época recente, vagava do México ao Canadá; a variedade siberiana tornou-se coberta de lã. O mastodonte perdurou na América do Norte, até que fosse exterminado pelo homem vermelho, do mesmo modo que o homem branco, mais tarde, eliminou o bisão.
61:7.15 (702.5) Na América do Norte, durante a última geleira, o cavalo, o tapir, a lhama e o tigre-dentes-de-sabre ficaram extintos. Nos seus lugares, surgiram as preguiças, os tatus e os porcos aquáticos, vindos da América do Sul.
61:7.16 (702.6) As migrações forçadas da vida, diante do avanço do gelo, obrigaram as plantas e os animais a cruzamentos extraordinários e, com o recuo da invasão final do gelo, muitas das espécies árticas de plantas, tanto quanto de animais, ficaram abandonadas no alto de alguns picos de montanhas, aonde tinham ido para escapar da destruição pela invasão glacial. E assim, hoje, essas plantas e animais deslocados podem ser encontrados nos altos dos Alpes da Europa e mesmo nas montanhas apalachianas da América do Norte.
61:7.17 (702.7) A idade do gelo é o último período geológico completo, a chamada época Plistocena, cuja duração foi de mais de dois milhões de anos.
61:7.18 (702.8) Há 35 mil anos, fica demarcado o término da grande idade do gelo, exceto nas regiões polares do planeta. Essa data é também significativa, pois está bem próxima da chegada de um Filho Material e de uma Filha Material, marcando o começo da dispensação Adâmica, correspondendo, grosso modo, ao começo da época Holocena ou pós-glacial.
61:7.19 (702.9) Esta narrativa, estendendo-se desde o surgimento da vida dos mamíferos até o recuo do gelo e às épocas históricas, cobre um ciclo de quase cinqüenta milhões de anos. Este é o último período geológico — o atual — , que é conhecido pelos vossos pesquisadores como o Cenozóico, ou a era dos tempos recentes.
61:7.20 (702.10) [Auspiciado por um Portador da Vida Residente.]
O Livro de Urântia
Documento 62
62:0.1 (703.1) HÁ CERCA de um milhão de anos os ancestrais imediatos da humanidade fizeram o seu aparecimento por intermédio de três mutações sucessivas e súbitas, descendendo da raça primitiva do tipo lemuriano de mamíferos placentários. Os fatores dominantes desses lêmures primitivos derivavam do grupo ocidental, ou americano tardio, do plasma da vida evolutiva. Antes, porém, de estabelecer a linha direta de ancestralidade humana, essa descendência foi reforçada por contribuições da implantação central de vida evoluída na África. O grupo de vida oriental contribuiu pouco, ou de fato nada, para a verdadeira produção da espécie humana.
62:1.1 (703.2) Os lêmures primitivos vinculados à ancestralidade da espécie humana não eram diretamente relacionados às tribos preexistentes de gibãos e de macacos que então viviam na Eurásia e no norte da África, cuja progênie sobreviveu até a época presente. Nem eram uma progênie do tipo moderno de lêmures, embora vindos de um ancestral comum a ambos, mas há muito extinto.
62:1.2 (703.3) Enquanto esses lêmures primitivos evoluíam no hemisfério ocidental, o estabelecimento da ancestralidade mamífera direta da humanidade teve lugar no sudoeste da Ásia, na área original da implantação central de vida, mas mais para o lado das fronteiras das regiões a leste. Vários milhões de anos antes dessa época, o tipo norte-americano de lêmures havia imigrado para o oeste, atravessando a ponte de terra sobre o estreito de Behring e havia tomado lentamente o caminho do sudoeste ao longo da costa asiática. Essas tribos migrantes finalmente alcançaram a região salubre que fica entre o então expandido Mediterrâneo e as regiões de montanhas elevadas da península da Índia. Nessas terras, a oeste da Índia, eles uniram-se a outras linhagens favoráveis, estabelecendo assim a ancestralidade da raça humana.
62:1.3 (703.4) Com o passar do tempo, a costa marinha da Índia, a sudoeste das montanhas, gradualmente submergiu, isolando completamente a vida dessa região. Não havia nenhum caminho para se chegar nem para se escapar dessa península da Mesopotâmia ou da Pérsia, a não ser ao norte, e esse lado era repetidamente cortado pelas invasões das geleiras, vindas do sul. E foi, então, nessa área quase paradisíaca e, vindos dos descendentes superiores desse tipo lêmure de mamífero, que surgiram dois grandes grupos, formados pelas tribos dos símios dos tempos modernos e pela espécie humana dos dias atuais.
62:2.1 (703.5) Há pouco mais de um milhão de anos, os mamíferos precursores da Mesopotâmia, os descendentes diretos dos tipos lemurianos de mamíferos placentários norte-americanos, subitamente apareceram. Eles eram pequenas criaturas bastante ativas, de quase um metro de altura; e, se bem que não andassem habitualmente com as suas duas pernas traseiras, eles podiam facilmente permanecer eretos. Eram peludos e ágeis, e chilreavam à moda dos macacos; mas, diferentemente dos símios, eram carnívoros. Tinham um polegar primitivo opositivo, bem como um grande dedo do pé altamente útil para agarrar. Desse ponto em diante, as espécies pré-humanas desenvolveram sucessivamente o polegar opositivo, na medida em que perderam progressivamente o poder de agarrar do grande dedo do pé. As tribos posteriores de macacos mantiveram a capacidade preênsil do dedo grande do pé, mas nunca desenvolveram o tipo humano de polegar.
62:2.2 (704.1) Esses mamíferos precursores atingiam o crescimento pleno aos três ou quatro anos de idade, tendo uma longevidade potencial média de cerca de vinte anos. Em geral a sua progênie constituía-se de um único filho, embora gêmeos também nascessem ocasionalmente.
62:2.3 (704.2) Os membros dessa nova espécie tinham os maiores cérebros, em relação ao seu tamanho, entre todos os animais que haviam até então existido na Terra. Eles experimentaram muitas emoções e compartilhavam numerosos instintos, que, mais tarde, caracterizaram os homens primitivos; sendo altamente curiosos e demonstrando uma alegria considerável quando tinham êxito em qualquer ação. O apetite pelos alimentos e o desejo sexual eram bem desenvolvidos, e uma seleção sexual bem definida era manifestada em uma forma tosca de cortejo e de escolha dos companheiros. Eles lutariam ferozmente em defesa dos seus companheiros e eram bastante ternos nas associações de família, possuindo um senso de abnegação e de humildade que beirava a vergonha e o remorso. Eles eram muito afetivos e leais em relação aos seus parceiros, e de um modo tocante; mas, caso as circunstâncias os separassem, eles escolheriam novos parceiros.
62:2.4 (704.3) De estatura pequena e mentes aguçadas para avaliar os perigos do seu habitat na floresta, eles desenvolveram um medo extraordinário que os levou àquelas sábias medidas de precaução que contribuíram tão enormemente para a sua sobrevivência, tais como a construção de toscos abrigos que faziam nos topos altos das árvores, o que eliminava muitos dos perigos da vida no nível do solo. O começo das tendências para o medo, que a humanidade possui, data bem especificamente desses dias.
62:2.5 (704.4) Esses mamíferos precursores desenvolveram um espírito tribal como nunca antes existira. Eles eram, de fato, altamente gregários, sendo, no entanto, excessivamente agressivos, quando de algum modo perturbados nas buscas comuns da sua vida rotineira, e demonstravam temperamentos furiosos se a sua raiva fosse totalmente despertada. As suas naturezas belicosas, contudo, serviram a um bom propósito; grupos superiores não hesitavam em fazer guerra aos seus vizinhos inferiores e, assim, por meio da sobrevivência seletiva, a espécie foi melhorada progressivamente. Muito cedo, esses lêmures dominaram a vida das criaturas menores dessa região, e pouquíssimas das tribos mais antigas de símios não carnívoros sobreviveram.
62:2.6 (704.5) Esses agressivos pequenos animais multiplicaram-se e espalharam-se pela península da Mesopotâmia durante mais de mil anos, aperfeiçoando-se constantemente em tipo físico e inteligência em geral. Exatamente setenta gerações depois que essa nova tribo havia sido originada do mais elevado tipo de ancestral lemuriano, chegou a próxima época de desenvolvimento — a súbita diferenciação dos ancestrais nesse novo passo vital de evolução dos seres humanos de Urântia.
62:3.1 (704.6) Foi muito cedo, na carreira dos mamíferos precursores dos humanos, na habitação, no topo de uma árvore, de um casal superior dessas criaturas ágeis, que nasceram dois gêmeos, um masculino e um feminino. Comparados aos seus ancestrais, eles eram realmente duas belas pequenas criaturas. Tinham pouco pêlo nos seus corpos, mas isto não era uma desvantagem grande, pois eles viviam em um clima quente e uniforme.
62:3.2 (705.1) Esses filhos cresceram até a altura de um pouco mais de um metro e vinte. E, sob todos os pontos de vista, eram maiores do que os seus pais, tendo pernas mais longas e braços mais curtos. Possuíam polegares quase perfeitamente opositivos, quase tão bem adaptados aos trabalhos diversificados quanto o polegar humano atual. Caminhavam eretos, tendo pés quase tão bem adaptados para andar quanto as raças humanas posteriores.
62:3.3 (705.2) Os seus cérebros eram inferiores e menores do que os dos seres humanos, mas eram bastante superiores, e relativamente bem maiores do que os dos seus ancestrais. Os gêmeos, muito cedo, demonstraram ter uma inteligência superior e foram logo reconhecidos como os chefes de toda a tribo de mamíferos precursores do homem, realmente instituindo uma forma primitiva de organização social e uma divisão econômica, ainda que primária, do trabalho. Esses irmãos acasalaram-se e, em breve, desfrutaram da sociedade de vinte e um filhos, muito semelhantes a eles próprios, todos de mais de um metro e vinte de altura e, sob todos os pontos de vista, superiores à espécie ancestral deles. Esse novo grupo formou o núcleo dos mamíferos intermediários.
62:3.4 (705.3) Quando a população nesse grupo novo e superior cresceu, a guerra, de um modo implacável, irrompeu; e então, quando a luta terrível estava terminada, nenhum único indivíduo da raça preexistente e ancestral dos mamíferos precursores havia permanecido vivo. A ramificação menos numerosa, porém mais poderosa e inteligente da espécie, sobrevivera às custas dos seus ancestrais.
62:3.5 (705.4) E então, por quase quinze mil anos (seiscentas gerações), tal criatura tornou-se o terror dessa parte do mundo. Todos os animais grandes e ferozes, dos tempos anteriores, haviam perecido. Os grandes animais nativos dessas regiões não eram carnívoros, e as espécies maiores da família dos felinos, os leões e os tigres, ainda não haviam invadido esse lugar recôndito particularmente abrigado da superfície da Terra. E, por isso, esses mamíferos intermediários fizeram-se valentes e subjugaram tudo o que estava no seu setor da criação.
62:3.6 (705.5) Comparados à sua espécie ancestral, os mamíferos intermediários eram mais aperfeiçoados, em todos os sentidos. Até mesmo a duração do seu potencial de vida tornou-se mais longa, sendo de aproximadamente vinte e cinco anos. Inúmeros traços humanos rudimentares surgiram nessa nova espécie. Além das propensões inatas demonstradas pelos seus ancestrais, esses mamíferos intermediários eram capazes de demonstrar o desgosto, em algumas situações repulsivas. Eles possuíam também um instinto bem definido para criar reservas; eles escondiam a comida para o uso posterior e eram muito dados a colecionar seixos redondos e lisos e certos tipos de pedras arredondadas, que se adequavam bem para servir de munições defensivas e ofensivas.
62:3.7 (705.6) Esses mamíferos intermediários foram os primeiros a demonstrar uma propensão definida para a construção, como fica evidenciado pela rivalidade que tinham quanto a construir tanto as suas casas nos topos das árvores, quanto os abrigos subterrâneos de muitos túneis; eles foram a primeira espécie de mamíferos a buscar a segurança de abrigos nas árvores, e nos subterrâneos. Eles renunciaram à vida nas árvores, em grande parte, como locais únicos de abrigos, vivendo no chão durante o dia e dormindo no topo das árvores à noite.
62:3.8 (705.7) Com o passar do tempo, o aumento natural do número deles finalmente resultou em uma competição séria pela comida e em uma rivalidade por causa do sexo, e tudo isso culminou em uma série de batalhas destrutivas, que quase aniquilou toda a espécie. Essas lutas continuaram até que apenas um grupo de menos de cem indivíduos permaneceu vivo. Uma vez mais, porém, a paz prevalecia, e essa única tribo sobrevivente construiu de novo os seus lugares de dormir nos topos das árvores e uma vez mais retomou uma existência normal e semipacífica.
62:3.9 (705.8) Dificilmente podeis imaginar a margem pequena pela qual os vossos ancestrais pré-humanos, de tempos em tempos, puderam escapar da extinção. Tivesse a rã, ancestral de toda a humanidade, pulado cinco centímetros a menos em certa ocasião, e todo o curso da evolução teria sido profundamente alterado. A mãe lemuriana imediata da espécie dos mamíferos precursores escapou da morte, por um fio, não menos do que cinco vezes antes de dar nascimento ao pai da nova e mais elevada ordem de mamíferos. Contudo o que aconteceu, de mais próximo do fim, foi quando um relâmpago atingiu a árvore na qual a futura mãe dos gêmeos primatas estava dormindo. Ambos os mamíferos intermediários progenitores ficaram severamente abalados e seriamente queimados; três dos seus sete filhos foram mortos por esse golpe vindo dos céus. Esses animais em evolução eram quase que supersticiosos. O casal, cujo lar no topo de uma árvore havia sido golpeado, era realmente de líderes do grupo mais adiantado da espécie de mamíferos intermediários; e, seguindo o exemplo deles, mais da metade da tribo, abrangendo as famílias mais inteligentes, mudou-se para um local afastado cerca de três quilômetros dessa localidade e começou a construção de novas moradas nos topos das árvores e de novos abrigos terrestres — os seus abrigos transitórios no caso de perigo súbito.
62:3.10 (706.1) Logo depois de terminar a sua casa, essa dupla veterana, de tantas lutas, viu-se como progenitora orgulhosa de gêmeos, os mais interessantes e importantes animais que jamais nasceram no mundo até àquela época, pois foram eles os primeiros da nova espécie de primatas que constituiu o próximo passo vital da evolução pré-humana.
62:3.11 (706.2) Ao mesmo tempo em que esses primatas gêmeos nasciam, uma outra dupla — um macho e uma fêmea, especialmente retardados, da tribo de mamíferos intermediários, uma dupla que era inferior tanto mental quanto fisicamente — também deu nascimento a gêmeos. Esses gêmeos, um macho e uma fêmea, eram indiferentes às conquistas; estavam eles preocupados apenas em obter comida e, já que não comiam carne, logo perderam todo o interesse em ir procurar presas. Esses gêmeos retardados tornaram-se os fundadores das tribos modernas de símios. Os seus descendentes buscaram as regiões sulinas mais quentes, com seus climas suaves e abundância de frutas tropicais, onde retomaram a sua vida e, de um modo muito semelhante ao daqueles dias, com exceção daquelas ramificações que se acasalaram com os tipos mais primitivos de gibões e macacos; e que se deterioraram bastante em conseqüência disso.
62:3.12 (706.3) E, assim, pode ser prontamente percebido que o homem e o macaco estão vinculados apenas pelo fato de provirem dos mamíferos intermediários, de uma tribo na qual aconteceu o nascimento concomitante de dois pares de gêmeos com a sua subseqüente separação: o par inferior destinou-se a produzir os tipos modernos de macacos, babuínos, chipanzés e gorilas, enquanto o par superior ficou destinado a continuar a linha de ascensão, que evoluiu até o próprio homem.
62:3.13 (706.4) O homem moderno e os símios vieram da mesma tribo e espécie, mas não dos mesmos pais. Os ancestrais do homem descenderam da linhagem superior dos remanescentes selecionados dessa tribo de mamíferos intermediários, enquanto os símios modernos (excetuando certos tipos preexistentes de lêmures, gibões, macacos e outras criaturas do mesmo gênero) são descendentes do casal inferior desse grupo de mamíferos intermediários; uma dupla que sobreviveu apenas porque se escondeu, em um abrigo subterrâneo com estoque de alimentos, por mais de duas semanas, durante o último combate ferrenho da sua tribo, saindo apenas depois que as hostilidades haviam chegado completamente ao fim.
62:4.1 (706.5) Remontando agora ao nascimento dos gêmeos superiores, um macho e uma fêmea, aos dois membros líderes da tribo de mamíferos intermediários: esses dois bebês animais eram de uma ordem inusitada; tinham ainda menos pêlos nos seus corpos do que os seus pais e, ainda muito jovens, insistiram em andar eretos. Os seus ancestrais já haviam aprendido a andar com as pernas traseiras, mas esses primatas gêmeos permaneceram eretos desde o princípio. Eles atingiram uma altura de mais de um metro e meio e as suas cabeças resultaram maiores em comparação à de outros na mesma tribo. Se bem que houvessem aprendido desde muito cedo a se comunicar um com o outro, por meio de sinais e de sons, eles nunca foram capazes de fazer o seu povo compreender esses novos símbolos.
62:4.2 (707.1) Quando tinham cerca de quatorze anos de idade, eles fugiram da tribo, indo para o oeste, para criar a sua própria família e estabelecer a nova espécie de primatas. E essas novas criaturas são, muito apropriadamente, denominadas primatas, já que elas foram os ancestrais animais diretos e imediatos da própria família humana.
62:4.3 (707.2) Assim foi que os primatas vieram a ocupar uma região a oeste da costa da península da Mesopotâmia, quando então ela se projetava até o mar ao sul, enquanto as tribos menos inteligentes, mas intimamente relacionadas, viviam na ponta da península e até a linha das margens a leste.
62:4.4 (707.3) Os primatas eram mais humanos e menos animais do que os seus predecessores mamíferos intermediários. As proporções do esqueleto dessa nova espécie eram muito semelhantes às das raças humanas primitivas. Os tipos de mão e de pé humanos haviam-se desenvolvido plenamente, e essas criaturas podiam andar e mesmo correr tão bem quanto qualquer dos seus descendentes humanos posteriores. Eles abandonaram quase completamente a vida nas árvores, embora continuassem a recorrer aos topos das árvores por medida de segurança à noite, pois, como os seus ancestrais primitivos, estavam bastante sujeitos ao medo. O uso crescente das suas mãos muito fez para desenvolver a capacidade cerebral inerente; no entanto, ainda não possuíam mentes que pudessem ser realmente chamadas de humanas.
62:4.5 (707.4) Embora pela sua natureza emocional os primatas diferissem pouco dos seus antepassados, eles demonstravam possuir tendências como que mais humanas em todas as suas propensões. Eram, de fato, animais esplêndidos e superiores, alcançando a maturidade aos dez anos de idade aproximadamente e tendo uma expectativa de vida natural média de cerca de quarenta anos. Isto é, eles podiam ter essa longevidade se tivessem mortes naturais, mas, naqueles dias primitivos, poucos animais tinham uma morte natural; a luta pela existência era de todo muito intensa.
62:4.6 (707.5) E então, depois de quase novecentas gerações de desenvolvimento, cobrindo cerca de vinte e um mil anos desde a origem dos mamíferos precursores, os primatas subitamente geraram duas criaturas notáveis, os primeiros seres humanos verdadeiros.
62:4.7 (707.6) Assim foi que os mamíferos precursores, vindos do tipo norte-americano de lêmures, deram origem aos mamíferos intermediários, e esses mamíferos intermediários, por sua vez, produziram os primatas superiores, que se tornaram os ancestrais imediatos da raça humana primitiva. As tribos de primatas eram o último vínculo vital na evolução do homem, mas, em menos de cinco mil anos, nem um único indivíduo dessas tribos extraordinárias sobreviveu.
62:5.1 (707.7) Do ano 1934 d.C. até o nascimento dos dois primeiros seres humanos, contam-se exatamente 993 419 anos.
62:5.2 (707.8) Esses dois seres notáveis eram verdadeiros seres humanos. Possuíam polegares humanos perfeitos, como os tiveram muitos dos seus ancestrais, e tinham pés tão perfeitos quanto os das raças humanas atuais. Eles andavam e corriam na vertical, não eram trepadores; a função de agarrar com o dedo grande do pé havia desaparecido completamente. Quando o perigo os levava aos topos das árvores, eles subiam exatamente como os humanos de hoje o fariam. Eles escalariam um tronco de uma árvore como um urso, não como fariam o chipanzé ou o gorila, pendurando-se e pulando nos galhos.
62:5.3 (708.1) Esses primeiros seres humanos (e os descendentes deles) alcançavam plena maturidade aos doze anos de idade e possuíam um potencial de longevidade de cerca de setenta e cinco anos.
62:5.4 (708.2) Muitas emoções novas logo surgiram nesses humanos gêmeos. Eles experimentaram a admiração por objetos, tanto quanto por outros seres, e demonstraram ter uma vaidade considerável. Mas o avanço mais notável no desenvolvimento emocional foi o aparecimento súbito de um grupo novo de sentimentos realmente humanos, do grupo da adoração, abrangendo o respeito, a reverência, a humildade e até mesmo uma forma primitiva de gratidão. O medo, somado à ignorância quanto aos fenômenos naturais, estava para dar nascimento à religião primitiva.
62:5.5 (708.3) Não apenas tais sentimentos humanos manifestaram-se nesses humanos primitivos, mas muitos sentimentos mais altamente evoluídos estiveram também presentes, nas suas formas rudimentares. Eles eram levemente conhecedores da piedade, da vergonha e da reprovação, bem como conscientes de um modo mais acentuado do amor, ódio e vingança, estando também acentuadamente susceptíveis ao sentimento do ciúme.
62:5.6 (708.4) Esses primeiros seres humanos — os gêmeos — foram uma grande provação para os seus progenitores primatas. Eles eram tão curiosos e aventureiros que quase perderam as suas vidas, em várias ocasiões, antes dos seus oito anos de idade. E, como não podia deixar de ser, eles estavam já bastante marcados com cicatrizes, na época em que tinham doze anos.
62:5.7 (708.5) Muito cedo aprenderam a comunicação verbal; na idade de dez anos já haviam criado e aperfeiçoado uma linguagem de sinais e de palavras de quase cinqüenta idéias e haviam aperfeiçoado, em muito, e expandido a técnica de comunicação primitiva dos seus ancestrais. Todavia, por mais que tentassem, eles não foram capazes de ensinar, aos seus progenitores, senão umas poucas palavras, sinais e símbolos novos.
62:5.8 (708.6) Quando tinham cerca de nove anos de idade, e passeavam rio abaixo, em um dia luminoso, eles tiveram um relacionamento memorável. Todas as inteligências celestes estacionadas em Urântia, incluindo eu próprio, estavam presentes como observadoras das transações desse encontro amoroso ao meio-dia. Nesse dia memorável, eles chegaram ao entendimento de viverem juntos, um para o outro, e essa foi a primeira de uma série desses acordos, que finalmente culminou na decisão de partir, abandonando os seus semelhantes animais inferiores, indo na direção norte, mal sabendo que estavam assim fundando a raça humana.
62:5.9 (708.7) Embora estivéssemos todos grandemente preocupados com o que aqueles dois pequenos selvagens estavam planejando, nós éramos impotentes para controlar o trabalho das suas mentes; nós não influenciamos — nem poderíamos influenciar — arbitrariamente as suas decisões; todavia, dentro dos limites permissíveis da função planetária, nós, os Portadores da Vida, junto com os nossos colaboradores, todos conspiramos para conduzir os gêmeos humanos para o norte e para muito distante do seu povo peludo e ainda parcialmente habitante das árvores. E assim, em razão da escolha da própria inteligência deles, os gêmeos migraram e, devido à nossa supervisão, eles migraram em direção ao norte, para uma região apartada, onde escaparam da possibilidade da degradação biológica, que viria, caso se miscigenassem com os seus parentes inferiores das tribos primatas.
62:5.10 (708.8) Pouco antes da partida do seu lar na floresta, eles perderam a sua mãe em um ataque dos gibãos. Ainda que não possuísse a inteligência deles, ela tinha um afeto mamífero condigno e de uma ordem elevada pelos seus filhos e, destemidamente, deu a sua vida na tentativa de salvar o maravilhoso par. E o seu sacrifício não foi em vão, pois ela conteve os inimigos até que o pai chegasse com reforços para pôr os invasores a correr.
62:5.11 (709.1) Logo depois, esse jovem casal abandonou os seus companheiros para fundar a raça humana; o seu pai primata ficou desconsolado — e com o coração despedaçado. Recusava-se a comer, mesmo quando a comida era trazida a ele pelos seus outros filhos. Tendo perdido a sua brilhante progênie, a vida já não parecia digna de ser vivida entre os seus semelhantes comuns; assim, ele vagou pela floresta e foi atacado por gibões hostis, sendo golpeado até a morte.
62:6.1 (709.2) Nós, os Portadores da Vida em Urântia, passamos por uma longa vigília e uma espera cuidadosa desde o dia em que inicialmente plantamos o plasma da vida nas águas planetárias e assim, naturalmente, até que o aparecimento dos primeiros seres realmente inteligentes e volitivos trouxesse-nos uma grande alegria e uma satisfação suprema.
62:6.2 (709.3) Acompanhamos o desenvolvimento mental dos gêmeos, por meio da observação do funcionamento dos sete espíritos ajudantes da mente, destinados a Urântia, na época da nossa chegada ao planeta. Durante o longo desenvolvimento evolucionário da vida planetária, esses incansáveis ministradores da mente têm sempre registrado as suas habilidades crescentes de contatar as capacidades dos cérebros, em expansão sucessiva, das criaturas animais progressivamente superiores.
62:6.3 (709.4) A princípio, apenas o espírito da intuição podia funcionar no comportamento, de instintos e reflexos, da vida animal primordial. Com a diferenciação dos tipos mais elevados, o espírito da compreensão tornou-se capaz de dotar tais criaturas com a dádiva da associação espontânea de idéias. Mais tarde observamos o espírito da coragem entrar em ação; os animais em evolução realmente desenvolviam uma forma incipiente de autoconsciência de proteção. Depois do aparecimento dos grupos de mamíferos, nós observamos o espírito do conhecimento manifestando-se em medida crescente. E a evolução dos mamíferos mais elevados trouxe à função o espírito do conselho, com o crescimento resultante do instinto de grupo e com os começos do desenvolvimento social primitivo.
62:6.4 (709.5) Progressivamente, com o desenvolvimento dos mamíferos precursores e, em seguida, com o dos mamíferos intermediários e dos primatas, tínhamos observado o serviço implementado dos primeiros cinco ajudantes. Mas nunca os dois espíritos ajudantes restantes, os mais elevados ministradores da mente, haviam sido capazes de entrar em função no tipo de mente evolucionária de Urântia.
62:6.5 (709.6) Imaginai o nosso júbilo, um dia — os dois gêmeos estavam com cerca de dez anos de idade — quando o espírito da adoração fez o seu primeiro contato com a mente da gêmea fêmea e pouco depois com a do macho. Sabíamos que algo muito próximo da mente humana aproximava-se da culminância; e quando, cerca de um ano depois, eles finalmente resolveram, em conseqüência do pensamento meditativo e de decisão propositada, partir de casa e viajar para o norte, então o espírito da sabedoria começou a atuar em Urântia, nessas duas que são reconhecidas, agora, como mentes humanas.
62:6.6 (709.7) Houve uma nova e imediata ordem de mobilização dos sete espíritos ajudantes da mente. Estávamos cheios de expectativa; compreendíamos que se aproximava a hora longamente aguardada; sabíamos que estávamos no umbral da realização do nosso esforço prolongado para desenvolver e fazer evoluir em Urântia as criaturas dotadas de vontade.
62:7.1 (709.8) Nós não tivemos que esperar muito. Ao meio-dia, no dia seguinte ao da fuga dos gêmeos, aconteceu o teste inicial da transmissão dos sinais do circuito do universo no foco da recepção planetária de Urântia. Estávamos todos, evidentemente, agitados com a compreensão da iminência de um grande acontecimento; mas, já que este mundo era uma estação de experimento de vida, não tínhamos a menor idéia de como exatamente seríamos informados sobre o reconhecimento de haver vida inteligente no planeta. Mas não permanecemos na expectativa por muito tempo. Ao terceiro dia, depois da fuga dos gêmeos, e antes que o corpo dos Portadores da Vida partisse, chegou o arcanjo de Nébadon para o estabelecimento inicial do circuito planetário.
62:7.2 (710.1) Foi um dia memorável em Urântia, quando o nosso pequeno grupo reuniu-se perto do pólo planetário de comunicação espacial e recebeu a primeira mensagem de Sálvington, sobre o circuito de mente recentemente estabelecido no planeta. E essa primeira mensagem, ditada pelo comandante do corpo dos arcanjos, dizia:
62:7.3 (710.2) “Aos Portadores da Vida em Urântia — Saudações! Transmitimos a certeza do grande júbilo em Sálvington, em Edêntia e em Jerusém, em honra ao registro, na sede-central de Nébadon, do sinal da existência, em Urântia, de mente com a dignidade da vontade. A decisão propositada dos gêmeos, de partir na direção norte e de isolar-se da sua progênie, dos seus ancestrais inferiores, ficou registrada. Essa é a primeira decisão da mente — do tipo humano de mente — em Urântia, e automaticamente se estabelece o circuito de comunicação por meio do qual essa mensagem inicial de reconhecimento está sendo transmitida”.
62:7.4 (710.3) Em seguida, por esse novo circuito, vieram os cumprimentos dos Altíssimos de Edêntia, contendo instruções para os Portadores da Vida residentes, proibindo-nos de interferir no modelo de vida que tínhamos estabelecido. Fomos instruídos a não intervir nos assuntos do progresso humano. Não deve ser inferido que os Portadores da Vida tenham alguma vez interferido arbitrária e mecanicamente na realização natural dos planos evolucionários planetários, pois nós não o fazemos. Contudo, até essa época nos havia sido permitido manipular o meio ambiente para proteger o plasma vital de um modo especial, e era essa supervisão extraordinária, mas totalmente natural, que devia sofrer descontinuidade.
62:7.5 (710.4) E tão logo os Altíssimos tinham terminado de falar, a bela mensagem de Lúcifer, então soberano do sistema de Satânia, começou a entrar no planeta. Agora, os Portadores da Vida ouviam as palavras de boas-vindas do seu próprio chefe e recebiam a sua permissão para retornar a Jerusém. Essa mensagem de Lúcifer manifestava a aceitação oficial do trabalho dos Portadores da Vida em Urântia e absolvia-nos de qualquer crítica futura sobre qualquer dos nossos esforços para aperfeiçoar os modelos de vida de Nébadon, do modo como estavam estabelecidos no sistema de Satânia.
62:7.6 (710.5) Essas mensagens de Sálvington, Edêntia e Jerusém, marcavam formalmente o término da supervisão dos Portadores da Vida no Planeta, que havia durado toda uma longa época. Durante idades estivemos trabalhando, assistidos apenas pelos sete espíritos ajudantes da mente e pelos Mestres Controladores Físicos. E agora, havendo surgido nas criaturas evolucionárias do planeta, a vontade, a capacidade de escolher o poder de adorar e ascender, compreendíamos que o nosso trabalho havia acabado e que o nosso grupo se preparava para partir. Sendo Urântia um mundo de modificação da vida, nos foi dada a permissão para deixarmos aqui dois Portadores da Vida seniores com doze assistentes, e fui eu um dos escolhidos desse grupo e, desde então, tenho sempre estado em Urântia.
62:7.7 (710.6) Urântia foi formalmente reconhecida como um planeta de residência humana no universo de Nébadon, exatamente, 993 408 anos atrás (a contar do ano 1934 d.C.) A evolução biológica havia, uma vez mais, alcançado níveis humanos de dignidade de vontade; e, pois, o homem havia chegado ao planeta 606 de Satânia.
62:7.8 (710.7) [Auspiciado por um Portador de Vida de Nébadon, residente em Urântia.]
O Livro de Urântia
Documento 63
63:0.1 (711.1) URÂNTIA foi registrada como um mundo habitado quando os dois primeiros seres humanos — os gêmeos — tinham onze anos de idade, e antes que se houvessem transformado nos pais dos primogênitos da segunda geração de verdadeiros seres humanos. E, nessa ocasião de reconhecimento planetário formal, a mensagem do arcanjo de Sálvington terminava com estas palavras:
63:0.2 (711.2) “A mente humana apareceu no 606 de Satânia, e esses pais da nova raça serão chamados de Andon e Fonta. E todos os arcanjos oram para que essas criaturas possam rapidamente ser dotadas com a dádiva do espírito do Pai Universal, residindo nas suas pessoas”. Andon é um nome que em Nébadon significa “a primeira criatura, semelhante ao Pai, a demonstrar ter sede humana de perfeição”. Fonta significa “a primeira criatura, semelhante ao Filho, a demonstrar ter fome humana de perfeição.”
63:0.3 (711.3) Andon e Fonta não conheciam esses nomes até que lhes foram conferidos, quando da época da fusão deles com os seus Ajustadores do Pensamento. Quando da permanência mortal deles em Urântia, chamavam um ao outro de Sonta-an e de Sonta-en; Sonta-an significando “amado pela mãe”, e Sonta-en significando “amada pelo pai”. Eles deram esses nomes a si próprios, e os seus significados exprimem afeição e consideração mútuas.
63:1.1 (711.4) Sob muitos aspectos, Andon e Fonta foram o casal mais notável de seres humanos que jamais viveu na face da Terra. Esse par maravilhoso, os verdadeiros pais de toda a humanidade, sob todos os pontos de vista, foi superior a muitos dos seus descendentes imediatos; e ambos foram radicalmente diferentes de todos os seus ascendentes, tanto imediatos quanto remotos.
63:1.2 (711.5) Os pais desse primeiro casal humano eram aparentemente pouco diferentes da média da sua tribo, embora estivessem entre os membros mais inteligentes daquele grupo que primeiro aprendeu a atirar pedras e usar a clava para lutar. Eles também faziam uso de lascas pontiagudas de pedras, sílex e ossos.
63:1.3 (711.6) Enquanto ainda viviam com os seus pais, Andon havia amarrado uma lasca aguda de pedra na extremidade da clava, usando tendões animais com essa finalidade, e, em muitas oportunidades, fez uso dessa arma para salvar tanto a sua vida quanto a da sua igualmente aventureira e curiosa irmã, que infalivelmente o acompanhava em todas as suas caminhadas para explorações.
63:1.4 (711.7) A decisão de Andon e Fonta de deixar a tribo de primatas implica uma qualidade de mente muito acima da inteligência grosseira que caracterizou tantos descendentes seus, que se rebaixaram cruzando com os seus primos atrasados das tribos simianas. Mas o vago sentimento que eles possuíam, de serem algo mais do que meros animais, era devido à outorga da personalidade e da amplificação desta pela presença dos Ajustadores do Pensamento que passaram a residir nas suas mentes.
63:2.1 (712.1) Após decidirem fugir em direção ao norte, Andon e Fonta sucumbiram ao próprio medo durante um certo tempo, especialmente ao medo de desagradar ao pai e à família mais imediata. Eles imaginaram ser atacados por parentes hostis e, assim, reconheceram a possibilidade de encontrar a morte nas mãos dos seus já ciumentos companheiros de tribo. Quando jovens, os gêmeos tinham passado a maior parte do seu tempo em companhia um do outro e, por essa razão, nunca haviam sido muito populares entre os seus primos animais da tribo de primatas. E ainda pioraram a sua posição na tribo ao construírem uma morada isolada, e muito superior, em uma árvore.
63:2.2 (712.2) E foi nesse novo lar, no meio do alto das árvores, em uma noite em que foram despertados por uma violenta tempestade, ao se abraçarem ternamente por causa do medo, que decidiram final e completamente fugir do habitat tribal e daquele lar no topo das árvores.
63:2.3 (712.3) Eles haviam preparado já um refúgio tosco na copa de uma árvore, a meio dia de viagem para o norte. Esse foi o esconderijo secreto e seguro deles para o primeiro dia longe do lar na floresta. Não obstante os gêmeos compartilharem o medo mortal, comum aos primatas, de estarem no chão no meio da noite, eles aventuraram-se a partir, pouco antes do anoitecer, tomando a sua trilha para o norte. Se bem que fosse necessária da parte deles uma coragem inusitada para empreender essa viagem noturna, mesmo com a lua cheia, eles concluíram corretamente que era menos provável, desse modo, que sentissem a falta deles e que fossem perseguidos pelos companheiros da tribo e pelos parentes. E chegaram a salvo no local previamente preparado, um pouco antes da meia-noite.
63:2.4 (712.4) Na sua viagem para o norte, descobriram um depósito exposto de sílex e, encontrando muitas pedras com a forma adequada para vários usos, eles juntaram um suprimento para o futuro. Ao tentar lascar essas pedras de modo a que melhor se adaptassem para as várias finalidades, Andon descobriu a sua qualidade de fazer chispas e concebeu a idéia de fazer fogo. Mas essa concepção não se firmou na sua mente naquele momento, pois o clima estava salubre e pouca necessidade havia de fogo.
63:2.5 (712.5) Mas o sol do outono já estava indo baixo no céu e, ao rumarem para o norte, as noites ficaram cada vez mais frias. E eles já se viram forçados a fazer uso de peles de animais para se aquecer. Antes que se completasse uma lua desde que estavam ausentes de casa, Andon deu a entender à sua companheira que ele podia fazer fogo com as pedras duras. Eles tentaram por dois meses utilizar a faísca da pedra para acender um fogo, mas nada conseguiram. Cada dia, o casal bateria as pedras e tentaria fazer a ignição da madeira. Finalmente, numa certa tarde à hora do pôr do sol, o segredo da técnica foi descoberto quando ocorreu a Fonta subir em uma árvore próxima para apanhar o ninho abandonado de um pássaro. O ninho estava seco e era altamente inflamável e conseqüentemente produziu uma chama abundante quando a chispa lhe caiu em cima. Eles ficaram tão surpresos e assustados com o êxito, que quase perderam o fogo, mas salvaram-no adicionando o estímulo adequado e, então, começou a primeira busca de lenha pelos pais da humanidade.
63:2.6 (712.6) Esse foi um dos momentos mais jubilosos das suas curtas, mas aventurosas vidas. Durante toda a noite, permaneceram vigiando o fogo queimar, compreendendo vagamente que tinham feito uma descoberta que lhes tornaria possível desafiar o clima e, assim, se tornarem para sempre independentes dos seus parentes animais das terras do sul. Depois de três dias de descanso e de desfrute do fogo, eles prosseguiram a sua viagem.
63:2.7 (712.7) Os primatas ascendentes de Andon haviam sempre mantido vivo o fogo que tinha sido aceso pelos raios, mas nunca antes as criaturas da Terra haviam tido a posse de um método de começar o fogo quando quisessem. Todavia, demorou muito tempo para que os gêmeos ficassem sabendo que o musgo seco e outros materiais serviam para acender o fogo tão bem quanto os ninhos de pássaros.
63:3.1 (713.1) Quase dois anos transcorreram, desde a noite em que os gêmeos partiram de casa, antes que o seu primeiro filho nascesse. Eles o chamaram de Sontad; e Sontad foi a primeira criatura que nasceu, em Urântia, a ser enrolada em uma coberta protetora no momento do nascimento. A raça humana tinha tido o seu início, e com essa nova evolução surgiu o instinto de cuidar devidamente das crianças, as quais nasciam cada vez mais fracas; isso iria caracterizar o desenvolvimento progressivo da mente da ordem intelectual, em contraste com os tipos mais puramente animais.
63:3.2 (713.2) Andon e Fonta tiveram dezenove filhos ao todo, e viveram para desfrutar do convívio com quase meia centena de netos e meia dúzia de bisnetos. A família domiciliava-se em quatro abrigos contíguos na rocha, ou grutas, três das quais eram interligadas por passagens que tinham sido escavadas no calcário macio, com os instrumentos de pedra criados pelos filhos de Andon.
63:3.3 (713.3) Esses primeiros andonitas evidenciaram um espírito marcante de grupo; caçavam em grupos e nunca se distanciavam muito do local da própria casa. Pareciam compreender que eram um grupo isolado e singular de seres vivos e que, por isso, deviam evitar separar-se. Esse sentimento de parentesco íntimo sem dúvida era devido à ministração mental intensificada dos espíritos ajudantes.
63:3.4 (713.4) Andon e Fonta trabalharam incessantemente para nutrir e elevar o seu clã. Viveram até a idade de quarenta e dois anos, quando ambos foram mortos durante um abalo da terra, pela queda de uma rocha pendente. Cinco dos seus filhos e onze netos pereceram com eles, e quase vinte dos descendentes deles sofreram ferimentos sérios.
63:3.5 (713.5) Com a morte dos seus pais, Sontad, a despeito de estar com um pé seriamente ferido, assumiu imediatamente a liderança do clã e foi habilmente ajudado pela sua mulher, a sua irmã mais velha. A primeira tarefa deles foi rolar as pedras para enterrar definitivamente os seus pais, irmãos, irmãs e filhos mortos. Um significado indevido não deveria estar ligado a esse ato de enterrar. Suas idéias de sobrevivência depois da morte eram muito vagas e indefinidas, derivando-se essencialmente da vida dos sonhos fantásticos e variados que tinham.
63:3.6 (713.6) Essa família de Andon e Fonta manteve-se unida até a vigésima geração, quando um misto de competição pelos alimentos e de atrito social trouxe o começo da dispersão.
63:4.1 (713.7) Os homens primitivos — os andonitas — tinham olhos negros e uma tez bronzeada, algo como um cruzamento de amarelo com vermelho. A melanina é uma substância que dá a cor e que é encontrada nas peles de todos os seres humanos. É o pigmento original da pele andônica. Pela aparência geral e pela cor da pele, esses andonitas primitivos pareciam-se mais com os esquimós atuais do que com qualquer outro tipo vivo de seres humanos. Eles foram as primeiras criaturas a usarem peles de animais como proteção contra o frio; tinham um pouco mais de pêlos, nos seus corpos, do que os humanos dos dias atuais.
63:4.2 (713.8) A vida tribal dos ancestrais animais desses homens primitivos deixa antever o começo de numerosas convenções sociais e, com as emoções em expansão e os poderes cerebrais desses seres aumentados, houve um desenvolvimento imediato na organização social e uma nova divisão do trabalho no clã. Eles eram excessivamente imitativos, mas o instinto de jogar estava apenas ligeiramente desenvolvido e o senso de humor estava ainda quase inteiramente ausente. O homem primitivo sorria ocasionalmente, mas nunca se permitia o riso sincero. O humor foi um legado da raça Adâmica posterior. Esses primeiros seres humanos não eram tão sensíveis à dor nem tão reativos a situações desagradáveis como o foram muitos dos mortais evolutivos que surgiram mais recentemente. O parto dos filhos não era uma prova tão dolorosa, nem tão angustiante, para Fonta ou para a sua progênie imediata.
63:4.3 (714.1) Eles formavam uma tribo maravilhosa. Os homens lutariam heroicamente pela segurança das suas companheiras e da sua progênie; as mulheres eram afetuosamente devotadas aos seus filhos. Mas o seu patriotismo era inteiramente limitado ao clã imediato. Eles eram muito leais às suas famílias; morreriam sem questionar em defesa dos seus filhos, mas não eram capazes de captar a idéia de tentar fazer do mundo um lugar melhor para os seus netos. O altruísmo ainda não havia nascido no coração humano, se bem que todas as emoções essenciais, ao surgimento da religião, estivessem já presentes nesses aborígines de Urântia.
63:4.4 (714.2) Esses primeiros homens possuíam uma afeição tocante pelos seus companheiros e certamente tinham uma idéia real, se bem que tosca, da amizade. Era uma coisa comum, um pouco mais tarde, durante as suas batalhas constantes e repetidas com as tribos inferiores, ver um desses homens primitivos lutando valentemente com uma das mãos, enquanto, com a outra, tentava proteger e salvar um guerreiro companheiro ferido. Muitos dos traços mais nobres e altamente humanos, típicos do desenvolvimento evolucionário subseqüente, estavam já esboçados de modo tocante nesses povos primitivos.
63:4.5 (714.3) O clã andonita original manteve uma linha ininterrupta de liderança até a vigésima-sétima geração, quando, não surgindo nenhuma prole masculina entre os descendentes diretos de Sontad, dois possíveis governantes rivais do clã lançaram-se na luta pela supremacia.
63:4.6 (714.4) Antes da ampla dispersão dos clãs andonitas, uma linguagem bem desenvolvida evoluíra dos seus esforços iniciais para intercomunicar-se. Essa linguagem continuou a progredir e, quase quotidianamente, eram feitos acréscimos a ela por causa das novas invenções e adaptações ao meio ambiente, desenvolvidas por esse povo ativo, incansável e curioso. E essa linguagem tornou-se a palavra de Urântia, a língua da família humana inicial, até o aparecimento posterior das raças coloridas.
63:4.7 (714.5) À medida que o tempo passou, os clãs andonitas cresceram em número, e o contato das famílias em expansão gerou atritos e mal-entendidos. Apenas duas coisas ocupavam as mentes desses povos: a caça para obter a comida e a luta para vingar-se de alguma injustiça ou de algum insulto, reais ou supostos, da parte das tribos vizinhas.
63:4.8 (714.6) As contendas familiares cresceram, as guerras tribais irromperam e perdas sérias aconteceram entre os melhores elementos dos grupos mais capazes e avançados. Algumas dessas perdas foram irreparáveis, pois algumas das linhagens de maior valor, em capacidade e inteligência, ficaram para sempre perdidas para o mundo. Essa raça inicial e a sua civilização primitiva foram ameaçadas de extinção por essa guerra sem fim entre os clãs.
63:4.9 (714.7) É impossível a tais seres primitivos viverem muito tempo juntos em paz. O homem é descendente de animais lutadores e, quando estreitamente associados, tais povos sem cultura passam a irritar-se e ofendem uns aos outros. Os Portadores da Vida conhecem essa tendência entre as criaturas evolucionárias e, por isso, tomam as suas precauções de separações eventuais entre os seres humanos em desenvolvimento, em pelo menos três, e mais freqüentemente em seis raças distintas e separadas.
63:5.1 (715.1) As primeiras raças andonitas não penetraram muito longe na Ásia e, a princípio, não entraram na África. A geografia daqueles tempos apontava-lhes o norte, e cada vez mais para o norte esses povos viajaram, até serem impedidos pelo gelo da terceira invasão glacial que avançava vagarosamente.
63:5.2 (715.2) Antes que essa imensa camada de gelo alcançasse a França e as Ilhas Britânicas, os descendentes de Andon e Fonta haviam sido empurrados para o oeste na Europa e haviam-se estabelecido em mais de mil locais separadamente, ao longo dos grandes rios que iam até as águas, então quentes, do mar do norte.
63:5.3 (715.3) Essas tribos andonitas foram as primeiras moradoras das margens dos rios na França; e viveram ao longo do rio Somme por dezenas de milhares de anos. O Somme é o único rio que não mudou durante as eras glaciais, correndo para o mar, naqueles dias, do mesmo modo como o faz hoje. E isso explica por que tantas evidências dos descendentes andonitas são encontradas ao longo do vale do curso desse rio.
63:5.4 (715.4) Esses aborígines de Urântia não moravam em árvores, embora nas emergências eles ainda se refugiassem no topo delas. Eles habitavam regularmente no abrigo das falésias, ao longo dos rios e nas grotas das colinas, as quais lhes permitiam uma boa vista de quem se aproximasse e os abrigava contra os elementos do tempo. Assim, podiam desfrutar do conforto das suas fogueiras, sem serem muito incomodados pela fumaça. E tampouco eram realmente habitantes das cavernas, se bem que, em tempos posteriores, as camadas de gelo chegaram até o sul e empurraram os seus descendentes para dentro de cavernas. Eles preferiam acampar perto da borda de uma floresta e ao lado de uma correnteza.
63:5.5 (715.5) Muito cedo se tornaram notavelmente espertos a ponto de camuflar as suas moradas, parcialmente abrigadas, e demonstraram grande habilidade para construir quartos de dormir, de pedra, cabanas em forma de domo, para dentro das quais eles rastejavam à noite. A entrada desse abrigo era fechada, rolando-se uma pedra para a frente dela, uma grande pedra que tinha sido colocada do lado de dentro com esse propósito, antes que as pedras do teto fossem postas nos seus lugares.
63:5.6 (715.6) Os andonitas eram caçadores destemidos e bem-sucedidos e, à exceção de morangos selvagens e de certas frutas das árvores, viviam exclusivamente de carne. Do mesmo modo como Andon inventou o machado de pedra, também os seus descendentes logo descobriram e tornaram efetivo o uso da lança e do arpão. Afinal uma mente criadora de instrumentos funcionava em conjunção com uma mão destra no uso desse implemento, e esses humanos primitivos tornaram-se altamente hábeis na elaboração de ferramentas de pedra. Viajavam por toda parte, em busca da pedra mais dura, do mesmo modo que os humanos de hoje viajam aos confins da Terra em busca de ouro, platina e diamantes.
63:5.7 (715.7) E, de vários outros modos, essas tribos andonitas manifestaram um grau de inteligência que os seus descendentes retrógrados não atingiram em meio milhão de anos, ainda que, muitas vezes, hajam redescoberto vários métodos de acender o fogo.
63:6.1 (715.8) À medida que a dispersão andonita se estendeu, o status cultural e espiritual dos clãs retrocedeu por quase dez mil anos, até os dias de Onagar, que assumiu a liderança dessas tribos, trouxe a paz entre elas e, pela primeira vez, conduziu todas à adoração “d’Aquele que dá o alento aos homens e animais”.
63:6.2 (716.1) Andon havia se confundido muito em termos de filosofia; assim, havia escapado por pouco de tornar-se um adorador do fogo, em vista do grande conforto que se derivava da sua descoberta acidental. A razão, entretanto, desviou-o da sua própria descoberta, orientando-o para o sol como uma fonte superior de calor e de luz e mais inspiradora de temor e reverência; mas por ele estar muito longe também, não se tornou um adorador do sol.
63:6.3 (716.2) Os andonitas logo desenvolveram um medo dos elementos: trovão, relâmpago, chuva, neve, granizo e gelo. Mas a fome permanecia como o impulso mais constantemente recorrente nesses dias primitivos e, já que subsistiam basicamente de comer animais, finalmente, eles desenvolveram uma forma de adoração aos animais. Para Andon, os maiores animais comestíveis eram símbolos da força criativa e do poder de sustentação. De quando em quando, tornou-se um costume designar vários desses animais maiores como objeto de adoração. Durante o tempo em que estava em voga um animal em particular, contornos toscos dele eram desenhados nas paredes das cavernas e, mais tarde, com o progresso contínuo que se fazia nas artes, esse deus-animal era gravado em vários ornamentos.
63:6.4 (716.3) Os povos andonitas formaram, muito cedo, o hábito de renunciar a comer a carne do animal da veneração tribal. Brevemente, com a finalidade de impressionar mais fortemente as mentes dos seus jovens, eles estabeleceram uma cerimônia de reverência, que era feita em torno do corpo de um desses animais venerados; e, mais tarde ainda, essa celebração primitiva transformou-se, entre os seus descendentes, em cerimônias mais elaboradas e com sacrifícios. Essa é a origem dos sacrifícios como uma parte da adoração. Essa idéia foi elaborada por Moisés no ritual hebreu e conservada, no seu princípio, pelo apóstolo Paulo, como doutrina de expiação do pecado por meio do “derramamento de sangue”.
63:6.5 (716.4) Que o alimento tivesse sido uma coisa de importância tão suprema nas vidas desses seres humanos primitivos é mostrado pela prece ensinada a esses homens simples por Onagar, o seu grande educador. E essa prece era:
63:6.6 (716.5) “Ó Alento da Vida, no dia de hoje, dai-nos a nossa comida diária, livrai-nos da maldição do gelo, salvai-nos dos nossos inimigos da floresta e, com misericórdia recebei-nos no Grande Além”.
63:6.7 (716.6) Onagar mantinha o seu centro de apoio às margens setentrionais do antigo mar Mediterrâneo, na região onde está o atual mar Cáspio, em uma colônia chamada Oban; esse local de permanência era situado no ponto onde a trilha que vinha do sul da Mesopotâmia, e levava ao norte, fazia uma curva para oeste. De Oban, ele enviou educadores às colônias mais longínquas para disseminar as suas novas doutrinas de uma Deidade única e o seu conceito da vida futura, que ele denominava de Grande Além. Esses emissários de Onagar foram os primeiros missionários do mundo; foram também os primeiros seres humanos a cozinhar a carne, os primeiros a usar regularmente o fogo para o preparo da comida. Eles cozinhavam a carne nas extremidades de espetos e também em pedras quentes; posteriormente, eles tostavam grandes pedaços no fogo, mas os seus descendentes voltaram a usar, quase que inteiramente, a carne crua.
63:6.8 (716.7) Onagar nasceu há 983 323 anos (contados do ano 1934 d.C.) e viveu até os sessenta e nove anos de idade. O registro das realizações dessa mente mestra e desse líder espiritual dos dias anteriores ao Príncipe Planetário é uma récita emocionante sobre a organização desses povos primitivos em uma sociedade verdadeira. Ele instituiu um governo tribal eficaz, que continuou sem par durante as gerações seguintes por muitos milênios. Nunca mais, até a chegada do Príncipe Planetário, houve uma civilização tão altamente espiritual na Terra. Esse povo simples possuía uma religião real, ainda que primitiva, mas que foi subseqüentemente perdida com os seus descendentes em decadência.
63:6.9 (717.1) Ainda que ambos, Andon e Fonta tenham recebido Ajustadores do Pensamento, exatamente como muitos dos seus descendentes, não foi senão nos dias de Onagar que os Ajustadores e os serafins guardiães vieram em grande número para Urântia. E essa foi, de fato, a idade dourada do homem primitivo.
63:7.1 (717.2) Andon e Fonta, os fundadores esplêndidos da raça humana, receberam reconhecimento na época do julgamento de Urântia, quando da chegada do Príncipe Planetário, e, no tempo devido, eles emergiram, do regime dos mundos das mansões, com status de cidadania em Jerusém. Embora nunca lhes haja sido permitido voltar a Urântia, são conhecedores da história da raça que fundaram. Eles afligiram-se com a traição de Caligástia, lamentaram-se por causa da falta Adâmica, mas rejubilaram-se sobremaneira quando receberam o anúncio de que Michael havia selecionado o mundo deles como cenário para a sua auto-outorga final.
63:7.2 (717.3) Em Jerusém, tanto Andon quanto Fonta fusionaram-se aos seus Ajustadores do Pensamento, como o fizeram também vários dos seus filhos, inclusive Sontad, mas a maioria dos seus descendentes, mesmo os imediatos, apenas logrou a fusão com o Espírito.
63:7.3 (717.4) Andon e Fonta, pouco depois da sua chegada em Jerusém, receberam do Soberano do Sistema permissão para retornarem ao primeiro mundo das mansões e servirem junto às personalidades moronciais que dão as boas-vindas aos peregrinos do tempo, vindos de Urântia para as esferas celestes. E foram designados indefinidamente para esse serviço. Eles tentaram enviar saudações a Urântia por meio dessas revelações, mas esse pedido lhes foi sabiamente negado.
63:7.4 (717.5) E é essa a narração do capítulo mais heróico e fascinante em toda a história de Urântia, a história da evolução, das lutas de vida, da morte e da sobrevivência eterna dos progenitores singulares de toda a humanidade.
63:7.5 (717.6) [Apresentado por um Portador da Vida residente em Urântia.]
O Livro de Urântia
Documento 64
64:0.1 (718.1) ESTA é a história das raças evolucionárias de Urântia desde os dias de Andon e Fonta, há quase um milhão de anos, passando pela época do Príncipe Planetário até o fim da idade glacial.
64:0.2 (718.2) A raça humana tem quase um milhão de anos, e a primeira metade da sua história corresponde, grosso modo, aos dias anteriores à vinda do Príncipe Planetário para Urântia. A segunda metade da história da humanidade começa na época da chegada do Príncipe Planetário e do aparecimento das seis raças de cor e corresponde, grosso modo, ao período comumente considerado como a Idade da Pedra Lascada.
64:1.1 (718.3) O homem primitivo fez o seu aparecimento evolucionário na Terra há pouco menos de um milhão de anos, e teve uma experiência rude. Ele tentou escapar instintivamente do perigo de reproduzir-se com as tribos de símios inferiores. Contudo, ele não podia migrar para o leste, por causa das elevações tibetanas áridas, a 9 000 metros de altitude acima do nível do mar; nem podia ir para o sul, nem para o oeste, por causa da grande extensão do mar Mediterrâneo, que então se estendia para o leste, até o oceano Índico; e, quando foi para o norte, ele encontrou o gelo que avançava. Porém, ainda que a migração posterior tivesse sido bloqueada pelo gelo e, embora as tribos em dispersão houvessem se tornado cada vez mais hostis, os grupos mais inteligentes nunca alimentaram a idéia de ir para o sul, viver entre os seus primos peludos de intelecto inferior que habitavam em árvores.
64:1.2 (718.4) Muitas das primeiras emoções religiosas do homem brotaram do seu sentimento de impotência, quanto ao meio ambiente fechado de tal situação geográfica: montanhas à direita, água à esquerda e gelo pela frente. Esses andonitas progressivos, todavia, não queriam voltar para o sul; para junto dos seus parentes inferiores, habitantes de árvores.
64:1.3 (718.5) Esses andonitas, ao contrário dos hábitos dos seus parentes não humanos, evitavam as florestas. Nas florestas, o homem sempre se deteriorara; a evolução humana fez progresso apenas em terras abertas e nas latitudes mais elevadas. O frio e a fome das terras abertas estimulam a ação, a invenção e o espírito empreendedor. Enquanto essas tribos andonitas produziam os pioneiros da raça humana atual, em meio às rudes provações e privações dos rigorosos climas nórdicos, os seus primos atrasados deleitavam-se nas florestas tropicais sulinas da terra de sua origem primitiva comum.
64:1.4 (718.6) Esses acontecimentos ocorreram durante os tempos da terceira invasão glacial, que os vossos geólogos consideram como sendo a primeira. Os dois primeiros períodos glaciais não se estenderam à Europa setentrional.
64:1.5 (718.7) Durante a maior parte da idade glacial, a Inglaterra estava ligada por terra à França, enquanto, ulteriormente, a África esteve ligada à Europa pelo istmo Siciliano. Na época das migrações andônicas, havia uma contínua rota de terras que, passando pela Europa e pela Ásia, ligava a Inglaterra, a oeste, até Java, no leste; mas a Austrália de novo estava isolada, o que acentuava ainda mais o desenvolvimento de uma fauna peculiar sua.
64:1.6 (719.1) Há 950 mil anos, os descendentes de Andon e Fonta haviam migrado para bem longe, a leste e a oeste. Para irem até o oeste, eles passaram pela Europa, indo para a França e a Inglaterra. Posteriormente, penetraram em direção leste, até Java, onde os seus ossos foram recentemente encontrados — o chamado homem de Java — , e então prosseguiram no seu caminho para a Tasmânia.
64:1.7 (719.2) Os grupos que se dirigiram para o oeste ficaram menos contaminados pelas linhagens retrógradas, de origem ancestral comum, do que os que foram para o leste, que se miscigenaram livremente com os primos, animais inferiores. Esses indivíduos não progressistas derivaram para o sul e logo se uniram com as tribos inferiores. Mais tarde, um número crescente de descendentes mestiços deles retornou ao norte, para se miscigenar com os povos andônicos, que se expandiam rapidamente; e essas uniões infelizes infalivelmente deterioraram a raça superior. Os grupos primitivos mantinham, cada vez menos, a adoração d’Aquele Que Dá o Alento. Essa civilização primitiva, na sua aurora, estava ameaçada de extinção.
64:1.8 (719.3) E assim tem sido sempre em Urântia. As civilizações mais promissoras são as que se têm, sucessivamente, deteriorado e, finalmente, se extinguido, devido à loucura de permitir que os superiores procriem livremente com os inferiores.
64:2.1 (719.4) Há 900 mil anos, as artes de Andon e Fonta e a cultura de Onagar estavam em vias de desaparecimento da face da Terra; a cultura, a religião e mesmo a elaboração de trabalhos de pedra estavam na mais plena decadência.
64:2.2 (719.5) Esses foram tempos em que um grande número de grupos de mestiços inferiores estava chegando à Inglaterra, vindos do sul da França. Essas tribos eram tão misturadas com as criaturas simianas da floresta, que mal podiam ser consideradas humanas. Não tinham nenhuma religião, mas faziam trabalhos toscos de pedra e possuíam inteligência suficiente para fazer o fogo.
64:2.3 (719.6) Eles foram seguidos, na Europa, por um povo, de um certo modo superior e prolífico, cujos descendentes logo se espalharam por todo o continente, desde as geleiras, ao norte, até os Alpes e o Mediterrâneo, ao sul. Essas tribos são as chamadas raças de Heidelberg.
64:2.4 (719.7) Durante esse longo período de decadência cultural, os povos de Foxhall, da Inglaterra, e as tribos de Badonan, do noroeste da Índia, continuaram a manter algumas das tradições de Andon e alguns remanescentes da cultura de Onagar.
64:2.5 (719.8) Os povos de Foxhall estavam no extremo oeste e tiveram êxito em guardar o suficiente da cultura andônica; e também preservaram o seu conhecimento do trabalho na pedra; conhecimento esse que transmitiram aos seus descendentes, os antigos ancestrais dos esquimós.
64:2.6 (719.9) Embora os remanescentes dos povos de Foxhall tivessem sido os últimos a serem descobertos na Inglaterra, esses andonitas foram realmente os primeiros seres humanos que viveram naquelas regiões. Naquela época, uma ponte de terra ainda ligava a França e a Inglaterra; e, como a maioria dos primeiros povoados dos descendentes de Andon estava assentada ao longo dos rios e nas costas dos mares daquela época primitiva, esses povoados encontram-se agora sob as águas do canal da Mancha e do mar do Norte, com exceção de uns três ou quatro que estão ainda acima do nível do mar, na costa inglesa.
64:2.7 (720.1) Muitos dentre os povos de Foxhall, os mais inteligentes e espirituais, mantiveram a sua superioridade racial e perpetuaram os seus costumes religiosos primitivos. E esses povos, à medida que mais tarde se misturaram a linhagens subseqüentes, transladaram-se da Inglaterra para o oeste, depois de uma invasão glacial ulterior, e sobreviveram, constituindo os esquimós atuais.
64:3.1 (720.2) Além dos povos de Foxhall, no oeste, outro centro ativo de cultura subsistiu no leste. Esse grupo vivia nos sopés dos planaltos, no noroeste da Índia, entre as tribos de Badonan, que era um tetraneto de Andon. Esses povos foram os únicos descendentes de Andon que nunca praticaram o sacrifício humano.
64:3.2 (720.3) Esses badonitas das terras altas ocuparam um platô extenso, cercado de florestas, atravessado por correntezas e abundante em caça. Como alguns dos seus primos no Tibete, eles viviam em abrigos rudes de pedra, em grutas nas encostas e em galerias semi-subterrâneas.
64:3.3 (720.4) Enquanto as tribos do norte temiam cada vez mais o gelo, os que viviam perto das suas terras de origem tornaram-se excessivamente temerosos da água. Eles presenciaram a península da Mesopotâmia afundando gradativamente no oceano e, embora ela emergisse várias vezes, as tradições dessas raças primitivas cresceram em função dos perigos do mar e do medo de inundações periódicas. E esse temor, junto com a sua experiência de enchentes de rios, explica por que buscavam os planaltos como um local seguro onde viver.
64:3.4 (720.5) A leste do domínio dos povos de Badonan, nos montes Siwalik, da Índia do norte, podem ser encontrados fósseis que se aproximam dos tipos de transição entre o homem e os vários grupos pré-humanos, mais do que em quaisquer outros locais na Terra.
64:3.5 (720.6) Há 850 mil anos, as tribos superiores de Badonan começaram uma guerra de exterminação, dirigida contra os seus vizinhos inferiores e animalizados. Em menos de mil anos, a maior parte dos grupos animais dessas regiões fora destruída, ou recuara de volta para as florestas do sul. Essa campanha para a exterminação dos seres inferiores trouxe um ligeiro aperfeiçoamento nas tribos das montanhas daquela idade. E os descendentes miscigenados dessa raça badonita aprimorada apareceram nessa fase do desenvolvimento como um povo aparentemente novo — a raça de Neandertal.
64:4.1 (720.7) Os homens de Neandertal eram excelentes lutadores e faziam longas viagens. Espalharam-se gradativamente dos centros dos planaltos, no noroeste da Índia, para a França, a oeste, para a China, a leste, e mesmo descendo para o norte da África. Eles dominaram o mundo por quase meio milhão de anos, até o tempo da migração das raças evolucionárias de cor.
64:4.2 (720.8) Há 800 mil anos, a caça era abundante; muitas espécies de cervos, bem como de elefantes e de hipopótamos, perambulavam pela Europa. O gado era abundante; os cavalos e os lobos estavam em todos os lugares. Os homens de Neandertal foram grandes caçadores, e as tribos na França foram as primeiras a adotar a prática de dar aos caçadores de maior êxito o direito de escolha das esposas.
64:4.3 (721.1) A rena foi extremamente útil a esses povos de Neandertal, servindo de alimento, de roupa e de instrumentos, pois eles faziam vários usos dos seus chifres e ossos. Tinham pouca cultura, mas melhoraram, em muito, o trabalho de entalhe nas pedras, até que este atingiu quase o nível dos dias de Andon. As pedras maiores, presas a cabos de madeira, voltaram a ser usadas e serviam como machados e picaretas.
64:4.4 (721.2) Há 750 mil anos, o quarto lençol de gelo avançara para o sul. Com os implementos aperfeiçoados, os homens de Neandertal fizeram buracos no gelo que cobriam os rios do norte e, assim, podiam fisgar o peixe que vinha até esses orifícios. Essas tribos sempre recuavam diante do gelo que avançava e, nessa época, houve a maior invasão glacial na Europa.
64:4.5 (721.3) Nessa época, a glacial siberiana fazia a sua progressão máxima para o sul, compelindo o homem primitivo a deslocar-se mais para o sul, de volta às suas terras de origem. Mas a espécie humana, então, estava tão suficientemente diferenciada que o perigo de miscigenações futuras, com os seus parentes símios atrasados, diminuíra em muito.
64:4.6 (721.4) Há 700 mil anos, a quarta glacial, a maior de todas na Europa, estava começando a regredir; os homens e os animais estavam retornando para o norte. O clima era fresco e úmido, e o homem primitivo novamente prosperava na Europa e na Ásia ocidental. Gradualmente, as florestas espalharam-se para o norte, sobre a terra que havia sido tão recentemente coberta pelas geleiras.
64:4.7 (721.5) A vida dos mamíferos pouco havia mudado, por causa das grandes glaciais. Esses animais subsistiram naquele cinturão estreito de terra entre o gelo e os Alpes e, com o retrocesso das geleiras, de novo espalharam-se rapidamente por toda a Europa. Vindos da África, passando pela ponte de terra da Sicília, chegaram elefantes de presas retas, rinocerontes de imensos focinhos, hienas e leões africanos; e esses novos animais virtualmente exterminaram os tigres dentes-de-sabre e os hipopótamos.
64:4.8 (721.6) Há 650 mil anos, presenciou-se a continuação do clima suave. No meio do período interglacial, o tempo havia-se tornado tão quente que os Alpes ficaram quase despidos de gelo e de neve.
64:4.9 (721.7) Há 600 mil anos, as geleiras haviam-se retraído, então, ao máximo, na direção do norte e, depois de uma pausa de alguns milhares de anos, novamente iam para o sul, na sua quinta incursão. Entretanto, por cinqüenta mil anos, houve pouca modificação de clima. O homem e os animais da Europa modificaram-se pouco. A ligeira aridez do período anterior diminuiu e as geleiras alpinas desceram até muito baixo, nos vales dos rios.
64:4.10 (721.8) Há 550 mil anos, a geleira que avançava novamente empurrou o homem e os animais para o sul. Dessa vez, entretanto, o homem tinha muito espaço no largo cinturão de terra que se estendia para o nordeste, penetrando a Ásia, e que ficava entre a faixa de gelo e o mar Negro, grandemente expandido, então, como um braço do Mediterrâneo.
64:4.11 (721.9) Essas épocas, da quarta e da quinta glaciais, testemunharam ainda outra disseminação da cultura rude das raças do homem de Neandertal. Houve tão pouco progresso, contudo, que realmente parecia que a tentativa de produzir um tipo novo e modificado de vida inteligente em Urântia estava para fracassar. Por quase um quarto de milhão de anos, esses povos primitivos deixaram-se levar, caçando e lutando, por avanços esporádicos em algumas direções, mas, no todo, retrocedendo, certamente, se comparados aos seus ancestrais andônicos superiores.
64:4.12 (721.10) Durante essas idades de trevas espirituais, a cultura supersticiosa da humanidade decaiu até o seu nível mais baixo. O homem de Neandertal realmente não tinha nenhuma religião além de uma superstição vergonhosa. Eles tinham um medo mortal das nuvens, mais especialmente de nevoeiros e neblinas. Uma religião primitiva de medo das forças naturais desenvolveu-se gradativamente, enquanto a adoração de animais declinava, à medida que o aperfeiçoamento das armas, com a abundância da caça, tornou esse povo capaz de viver com menos ansiedade a respeito da própria alimentação; e as recompensas do sexo, aos melhores caçadores, levaram a um melhoramento nas habilidades da arte da caça. Essa nova religião do medo levou às tentativas de aplacar as forças invisíveis por trás dos elementos naturais, e culminou, posteriormente, com os sacrifícios de seres humanos para apaziguar essas forças físicas invisíveis e desconhecidas. E essa prática terrível do sacrifício humano tem sido perpetuada pelos povos mais atrasados de Urântia, até o século vinte desta era.
64:4.13 (722.1) Esses primitivos homens de Neandertal dificilmente poderiam ser chamados de adoradores do sol. Eles viviam mais o medo da escuridão; tinham um pavor mortal do cair da noite. Desde que a lua brilhasse um pouco, eles conseguiam manter o seu sangue-frio, mas, nas noites sem lua, eles chegavam ao pânico e começavam a sacrificar os seus melhores exemplares de homens e mulheres, em um esforço para induzir a lua a brilhar de novo. O sol, eles logo perceberam, voltaria regularmente, mas a lua, eles achavam que ela retornava por causa dos sacrifícios que faziam dos seus semelhantes. À medida que a raça avançou, o objeto e o propósito do sacrifício mudaram progressivamente, mas a oferta do sacrifício humano, como parte de um cerimonial religioso, perdurou ainda por um longo tempo.
64:5.1 (722.2) Há 500 mil anos, as tribos Badonan dos planaltos ao noroeste da Índia viram-se envolvidas em uma outra grande luta racial. Por mais de cem anos, essa guerra impiedosa gerou a violência e, quando a longa luta chegou ao fim, restavam apenas cerca de cem famílias. Esses sobreviventes eram, porém, os mais inteligentes e os mais desejáveis de todos os descendentes de Andon e Fonta, que então permaneciam vivos.
64:5.2 (722.3) E, entre esses badonitas dos planaltos, houve um acontecimento novo e estranho. Um homem e uma mulher que viviam na parte nordeste da região habitada dos planaltos, começaram subitamente a produzir uma família de crianças inusitadamente inteligentes. Essa foi a família sangique, os ancestrais de todas as seis raças coloridas de Urântia.
64:5.3 (722.4) Essas crianças sangiques, em número de dezenove, não apenas eram mais inteligentes do que os seus semelhantes, mas as suas peles manifestavam uma tendência única de tomar várias cores com a exposição à luz do sol. Dessas dezenove crianças, cinco eram vermelhas, duas alaranjadas, quatro amarelas, duas verdes, quatro azuis e duas índigo-negras. Essas cores tornaram-se mais pronunciadas à medida que as crianças foram ficando mais adultas e, quando, mais tarde, esses jovens se mesclaram aos seus companheiros de tribo, toda a sua progênie tendia para a cor de pele do ascendente sangique.
64:5.4 (722.5) E, agora, eu interrompo a narrativa cronológica, para chamar a vossa atenção à chegada do Príncipe Planetário, por volta dessa época, enquanto consideramos separadamente as seis raças sangiques de Urântia.
64:6.1 (722.6) Num planeta evolucionário normal, as seis raças evolutivas de cor aparecem uma a uma; o homem vermelho é o primeiro a evoluir e, durante idades, ele percorre o mundo, antes que as sucessivas raças coloridas apareçam. A emergência simultânea de todas as seis raças em Urântia, e em uma mesma família, foi bastante excepcional.
64:6.2 (723.1) O aparecimento dos primeiros andonitas, em Urântia, foi também um fato novo em Satânia. Em nenhum outro mundo, no sistema local, essa raça de criaturas volitivas evoluiu antes das raças evolucionárias de cor.
64:6.3 (723.2) 1. O homem vermelho. Esses povos eram espécimes notáveis da raça humana e, sob muitos aspectos, superiores a Andon e Fonta. Eles formavam o grupo mais inteligente e foram os primeiros filhos dos sangiques a desenvolverem uma civilização e um governo tribal. Eles sempre foram monógamos; mesmo os seus descendentes mistos raramente praticavam a poligamia.
64:6.4 (723.3) Em tempos posteriores, eles tiveram problemas sérios e prolongados com os seus irmãos amarelos na Ásia. Foram ajudados pela invenção prematura do arco e da flecha, mas, infelizmente, herdaram uma tendência forte dos seus antepassados, de lutar entre si próprios, e isso os enfraqueceu tanto que as tribos amarelas tornaram-se capazes de expulsá-los do continente asiático.
64:6.5 (723.4) Há cerca de 85 mil anos, os remanescentes relativamente puros da raça vermelha foram em massa para a América do Norte e, pouco depois disso, o istmo de Behring afundou, isolando-os assim. Nenhum homem vermelho jamais retornou à Ásia. No entanto, em toda a Sibéria, na China, na Ásia central, na Índia e na Europa, eles deixaram para trás muito do seu sangue misturado a outras raças coloridas.
64:6.6 (723.5) Quando o homem vermelho atravessou para a América, ele trouxe consigo grande parte dos ensinamentos e das tradições da sua origem primitiva. Os seus ancestrais imediatos tinham estado em contato com as últimas atividades da sede-central mundial do Príncipe Planetário. Contudo, pouco tempo depois de alcançar as Américas, o homem vermelho começou a perder de vista esses ensinamentos e ocorreu um grande declínio intelectual e espiritual na sua cultura. Logo, esses povos caíram de novo em lutas tão furiosas, entre eles próprios, que parecia que essas guerras tribais resultariam na rápida extinção desses remanescentes relativamente puros da raça vermelha.
64:6.7 (723.6) Por causa desse grande retrocesso, os homens vermelhos pareciam condenados quando, há cerca de sessenta e cinco mil anos, Onamonalonton surgiu como o seu líder e libertador espiritual. Ele trouxe uma paz temporária entre os homens vermelhos americanos e reavivou a sua adoração do “Grande Espírito”. Onamonalonton viveu até os noventa e seis anos de idade e manteve o seu núcleo central em meio às grandes sequóias da Califórnia. Muitos dos seus últimos descendentes chegaram até os tempos modernos, entre os Índios Pés Negros.
64:6.8 (723.7) Com o passar dos tempos, os ensinamentos de Onamonalonton transformaram-se em tradições vagas. As guerras fratricidas recomeçaram, e nunca mais, depois dos dias desse grande instrutor, surgiu outro líder que trouxesse uma paz universal entre eles. As raças mais inteligentes pereciam cada vez mais nessas lutas tribais e, não fora isso, uma grande civilização teria sido construída no continente norte-americano por esses homens vermelhos inteligentes e hábeis.
64:6.9 (723.8) Depois de haver passado para a América, vindo da China, o homem vermelho do norte nunca mais entrou em contato com outras influências do mundo (exceto o esquimó), até que, mais tarde, fosse descoberto pelo homem branco. E foi uma infelicidade que o homem vermelho tenha quase completamente perdido a sua oportunidade de ser elevado por uma mistura com o sangue Adâmico posterior. Como aconteceu, o homem vermelho não podia governar o homem branco, e não queria servir voluntariamente a ele. Nessas circunstâncias, se as duas raças não se misturam, uma ou a outra fica condenada.
64:6.10 (723.9) 2. O homem alaranjado. A característica que mais se destacava nessa raça era a sua necessidade peculiar de construir, de edificar toda e qualquer coisa, ainda que fosse empilhar grandes montes de pedras para ver qual tribo faria a pilha maior. Embora não fosse um povo progressivo, eles beneficiaram-se muito das escolas do Príncipe, enviando representantes para instruir-se ali.
64:6.11 (724.1) A raça laranja foi a primeira a seguir a linha da costa do Mediterrâneo na direção sul, até a África, quando esse mar afastava-se para o oeste. Entretanto, eles nunca firmaram favoravelmente pontos de apoio na África, e foram exterminados quando da chegada ulterior da raça verde.
64:6.12 (724.2) Antes do seu fim, esse povo perdeu muito terreno, espiritual e culturalmente; mas houve um grande recrudescimento de um nível superior de vida, em resultado da liderança sábia de Porshunta, a mente mestra dessa desafortunada raça, que a ela trouxe a sua ministração quando o seu centro geral era em Armagedon, há cerca de trezentos mil anos.
64:6.13 (724.3) A última grande luta, entre os homens alaranjados e os verdes, ocorreu na região do vale do baixo Nilo, no Egito. Essa guerra interminável durou quase cem anos e, no seu final, pouquíssimos representantes da raça alaranjada permaneciam vivos. Os restos dispersos desse povo foram absorvidos pelos homens verdes e, posteriormente, pelos índigo-negros, que chegaram mais tarde. Enquanto raça, contudo, o homem alaranjado deixou de existir há cerca de cem mil anos.
64:6.14 (724.4) 3. O homem amarelo. As tribos amarelas primitivas foram as primeiras a abandonar a caça, a estabelecer comunidades estáveis, e a desenvolver uma vida familiar baseada na agricultura. Intelectualmente, eles eram um pouco inferiores ao homem vermelho, mas, social e coletivamente, eles demonstraram ser superiores a todos os povos sangiques, no que se refere a fomentar a civilização de uma raça. Por haverem desenvolvido um espírito fraternal, com as várias tribos aprendendo a viver juntas em uma paz relativa, eles tornaram-se capazes de ir expulsando a raça vermelha à medida que iam gradualmente expandindo-se pela Ásia.
64:6.15 (724.5) Eles viajaram para longe das influências da sede-central espiritual do mundo e entraram em grandes trevas espirituais, depois da apostasia de Caligástia; mas esse povo teve uma idade brilhante, quando Singlangton, há cerca de cem mil anos, assumiu a liderança dessas tribos e proclamou a adoração da “Verdade Única”.
64:6.16 (724.6) A sobrevivência de números relativamente grandes de homens da raça amarela é devida ao pacifismo entre as tribos. Desde os dias de Singlangton, aos tempos da China moderna, a raça amarela tem estado entre as nações mais pacíficas de Urântia. Essa raça recebeu um legado pequeno, mas potente, da posterior descendência Adâmica importada.
64:6.17 (724.7) 4. O homem verde. A raça verde foi um dos grupos menos capazes de homens primitivos, e eles foram muito enfraquecidos pelas extensas migrações em várias direções. Antes da sua dispersão, essas tribos conheceram um grande renascimento cultural, sob a liderança de Fantad, há uns trezentos e cinqüenta mil anos.
64:6.18 (724.8) A raça verde separou-se em três grandes divisões. As tribos do norte foram vencidas, escravizadas e absorvidas pelas raças amarela e azul. O grupo do leste foi amalgamado aos povos da Índia daqueles dias, e alguns remanescentes ainda perduram em meio àqueles povos. A nação sulina entrou na África, onde destruiu a raça dos seus primos, quase igualmente inferiores, da raça alaranjada.
64:6.19 (724.9) Sob muitos aspectos, ambos os grupos estavam equiparadamente dotados para essa luta, pois ambos traziam linhagens da ordem dos gigantes; muitos dos seus líderes tinham entre dois metros e quarenta, e dois metros e sessenta de altura. Essas linhagens de homens verdes gigantes ficaram, na sua maioria, confinadas a essa nação sulina ou egípcia.
64:6.20 (725.1) Os remanescentes dos homens verdes vitoriosos foram absorvidos, subseqüentemente, pela raça índigo, o último dos povos coloridos a desenvolver-se e a emigrar do centro sangique original de dispersão das raças.
64:6.21 (725.2) 5. O homem azul. Os homens azuis formaram um grande povo. Muito cedo, eles inventaram a lança e, em seguida, elaboraram os rudimentos de muitas das artes da civilização moderna. O homem azul tinha o poder cerebral do homem vermelho, associado à alma e ao sentimento do homem amarelo. Os descendentes Adâmicos preferiam-nos a todas as raças coloridas posteriores que sobreviveram.
64:6.22 (725.3) Os homens azuis primitivos foram sensíveis às persuasões dos educadores do corpo de assessores do Príncipe Caligástia e foram lançados em uma grande confusão pelos ensinamentos deturpados dos líderes traidores. Como outras raças primitivas, eles nunca se recuperaram plenamente do abalo produzido pela traição de Caligástia, e também nunca conseguiram superar inteiramente a tendência de lutar entre si.
64:6.23 (725.4) Aproximadamente quinhentos anos depois da queda de Caligástia, ocorreu uma ampla renascença cultural e religiosa de um tipo primitivo — no entanto, real e benéfica. Orlandof tornou-se um grande instrutor da raça azul e conduziu muitas tribos de volta ao culto do Deus verdadeiro, sob o nome de “o Chefe Supremo”. Esse foi o maior avanço do homem azul, até tempos posteriores, quando essa raça foi tão enormemente elevada pelo acréscimo do sangue Adâmico.
64:6.24 (725.5) As pesquisas e explorações européias, sobre a antiga Idade da Pedra Lascada, têm muito a ver com a escavação dos instrumentos, ossos e objetos de artesanato desses antigos homens azuis, pois eles perduraram na Europa até tempos recentes. As chamadas raças brancas, de Urântia, são descendentes desses homens azuis, pois eles foram, primeiro, modificados por uma leve mistura com as raças amarela e vermelha e, mais tarde, foram elevados em muito pela assimilação de porções maiores da raça violeta.
64:6.25 (725.6) 6. A raça índigo. Do mesmo modo que os homens vermelhos foram os mais avançados de todos os povos sangiques, os homens negros foram os de menor progresso. Foram os últimos a migrar dos planaltos da sua origem. Eles foram para a África, tomaram posse do continente e, desde então, permaneceram sempre lá, salvo quando tirados dali à força, de épocas em épocas, como escravos.
64:6.26 (725.7) Isolados na África, os povos índigos, como o homem vermelho, receberam pouca ou nenhuma elevação racial que se poderia haver derivado da infusão do sangue Adâmico. A sós, na África, a raça índigo fez poucos avanços, até os dias de Orvonon, quando experimentou um grande despertar espiritual. Se bem que, mais tarde, quase se esqueceu do “Deus dos Deuses”, proclamado por Orvonon, não perdeu inteiramente o desejo de adorar o Desconhecido; pelo menos, manteve uma forma de adoração, até uns poucos milhares de anos.
64:6.27 (725.8) Não obstante o seu atraso, esses povos índigos têm o mesmo status, perante os poderes celestes, de qualquer das outras raças terrenas.
64:6.28 (725.9) Essas foram idades de lutas intensas entre as várias raças, contudo, próximo à sede-central do Príncipe Planetário, os grupos mais esclarecidos e de instrução mais recente viveram juntos em uma relativa harmonia, embora nenhuma grande conquista cultural das raças do mundo tenha sido realizada até o momento em que a eclosão da rebelião de Lúcifer causou uma séria interrupção nesse regime de harmonia.
64:6.29 (726.1) De tempos em tempos, todos esses diferentes povos conheceram renascimentos culturais e espirituais. Mansant foi um grande educador dos dias pós-Príncipe Planetário. Contudo, estamos fazendo menção apenas aos líderes destacados e educadores que influenciaram e inspiraram de modo marcante uma raça inteira. Com o passar dos tempos, muitos mestres menores surgiram, em regiões diferentes; e, no conjunto, eles contribuíram muito para a soma total das influências salvadoras que impediram um colapso cabal da civilização cultural, especialmente durante as idades longas e obscuras entre a rebelião de Caligástia e a chegada de Adão.
64:6.30 (726.2) Há razões boas, suficientes e em grande número que justificam o plano de fazer evoluir três ou seis raças coloridas, nos mundos do espaço. Embora os mortais de Urântia possam não estar em posição de saber apreciar todas essas razões, nós gostaríamos de chamar a atenção para as seguintes:
64:6.31 (726.3) 1. A variedade é indispensável, para dar oportunidade a um amplo funcionamento da seleção natural, levando à sobrevivência dos estratos superiores.
64:6.32 (726.4) 2. Raças mais fortes e melhores podem ser obtidas, em conseqüência de cruzamentos de povos diversos, quando essas raças diferentes são portadoras de fatores de uma herança superior. E as raças de Urântia ter-se-iam beneficiado de uma tal miscigenação antecipada, caso o povo resultante pudesse ter sido subseqüentemente elevado, de um modo efetivo, por uma miscigenação cuidadosa com a raça Adâmica superior. Uma tentativa de se efetuar um experimento assim, em Urântia, sob as condições raciais atuais, seria altamente desastrosa.
64:6.33 (726.5) 3. A competição é saudavelmente estimulada pela diversidade de raças.
64:6.34 (726.6) 4. As diferenças no status das raças e grupos, dentro de cada raça, são essenciais para o desenvolvimento da tolerância e do altruísmo humano.
64:6.35 (726.7) 5. A homogeneidade da raça humana não é desejável, antes que os povos de um mundo em evolução atinjam níveis relativamente altos de desenvolvimento espiritual.
64:7.1 (726.8) Quando os descendentes coloridos da família sangique começaram a multiplicar-se e a buscar oportunidades de expansão nos territórios adjacentes, a quinta glacial, ou segundo vossos cálculos geológicos, a terceira, já estava bem avançada, na sua arremetida para o sul, sobre a Europa e a Ásia. Essas primeiras raças coloridas haviam sido testadas, de um modo extraordinário, pelos rigores e privações da idade glacial da sua origem. Essa glacial foi tão extensa, na Ásia, que, por milhares de anos, a migração para o leste da Ásia ficou interrompida. E não foi possível alcançar a África, antes da última retração do mar Mediterrâneo, conseqüente da elevação da Arábia.
64:7.2 (726.9) Assim foi que, durante quase cem mil anos, esses povos sangiques espalharam-se pelos sopés das montanhas e misturaram-se, mais ou menos intensamente, não obstante a antipatia peculiar, mas natural, que cedo se manifestou entre as diferentes raças.
64:7.3 (726.10) Entre a época do Príncipe Planetário e a de Adão, a Índia tornou-se o lar das populações mais cosmopolitas jamais encontradas na face da Terra. Infelizmente, porém, essas misturas vieram a conter elementos excessivos das raças verde, alaranjada e índigo. Esses povos sangiques secundários tiveram uma existência mais facilitada e agradável nas terras do sul, e muitos deles posteriormente migraram para a África. Os povos sangiques primários, as raças superiores, evitaram os trópicos; a vermelha, indo para o nordeste até a Ásia, seguida de perto pelo homem amarelo, enquanto a raça azul mudou-se para o nordeste, ganhando a Europa.
64:7.4 (727.1) Os homens vermelhos começaram a migrar muito cedo para o nordeste, acompanhando o recuo do gelo, contornando os planaltos da Índia e ocupando todo o nordeste da Ásia. E foram seguidos de perto pelas tribos amarelas, que os expulsaram, subseqüentemente, da Ásia para a América do Norte.
64:7.5 (727.2) Quando os remanescentes de linhagem relativamente pura, da raça vermelha, abandonaram a Ásia, havia onze tribos, e o número deles era de pouco mais do que sete mil, entre homens, mulheres e crianças. Essas tribos estavam acompanhadas de três grupos pequenos, de ascendência mista, o maior dos quais sendo uma combinação das raças alaranjada e azul. Esses três grupos nunca confraternizaram plenamente com o homem vermelho e logo rumaram na direção sul, para o México e para a América Central, onde a eles se juntou, mais tarde, um pequeno grupo misturado de amarelos e vermelhos. Esses povos casaram-se todos entre si, fundando uma nova raça miscigenada, muito menos guerreira do que os homens vermelhos de linhagem pura. Em cinco mil anos, essa raça amalgamada dividiu-se em três grupos, estabelecendo respectivamente as civilizações do México, da América Central e da América do Sul. O ramo da América do Sul recebeu um leve toque do sangue de Adão.
64:7.6 (727.3) Numa certa extensão, os homens vermelhos e amarelos primitivos misturaram-se na Ásia, e a progênie dessa união emigrou para o leste e ao longo do litoral sulino e, finalmente, a raça amarela, que crescia rapidamente, expulsou-os para as penínsulas e as ilhas próximas da costa marítima. São eles os homens morenos de hoje em dia.
64:7.7 (727.4) A raça amarela continuou a ocupar as regiões centrais da Ásia oriental. De todas as seis raças coloridas, dela foram os que sobreviveram em maior número. Embora os homens amarelos, de quando em quando, entrassem em guerras raciais, eles não levavam adiante as guerras intermináveis e implacáveis de exterminação, como as que faziam os homens vermelhos, os verdes e os alaranjados. Essas três raças, virtualmente, destruíram-se antes que pudessem ser finalmente aniquiladas pelos seus inimigos das outras raças.
64:7.8 (727.5) Posto que a quinta glacial não se estendeu tanto para o sul, na Europa, o caminho estava parcialmente aberto para que esses povos sangiques migrassem para o noroeste; e, com o recuo do gelo, os homens azuis, junto com outros poucos pequenos grupos raciais, migraram para o oeste, acompanhando as velhas trilhas das tribos andônicas. Eles invadiram a Europa, em ondas sucessivas, ocupando a maior parte do continente.
64:7.9 (727.6) Na Europa, logo eles encontraram os descendentes de Andon, o homem de Neandertal, da sua ascendência primitiva comum. Esses antigos homens de Neandertal, europeus, haviam sido levados para o sul e para o leste pelas invasões glaciais, e assim estavam em posição de encontrar e de absorver rapidamente os seus primos invasores das tribos sangiques.
64:7.10 (727.7) Em geral, e desde o princípio, as tribos sangiques foram, sob muitos aspectos, bastante superiores e mais inteligentes do que os deteriorados descendentes dos homens andônicos das planícies; e a mistura dessas tribos sangiques com os homens de Neandertal levou a uma melhora imediata da raça mais antiga. Foi essa infusão do sangue sangique, mais especialmente a dos homens azuis, que produziu aquele desenvolvimento marcante nos povos de Neandertal, demonstrada nas ondas sucessivas de tribos cada vez mais inteligentes que se espalharam pela Europa, vindas do leste.
64:7.11 (727.8) Durante o período interglacial seguinte, essa nova raça de Neandertal disseminou-se desde a Inglaterra até a Índia. Os remanescentes da raça azul que haviam ficado na velha península Pérsica, posteriormente, miscigenaram-se com alguns outros elementos, sobretudo amarelos; e a mistura resultante, em uma certa medida, elevada subseqüentemente pela raça violeta de Adão, sobreviveu na forma das bronzeadas tribos nômades dos árabes modernos.
64:7.12 (728.1) Todos os esforços para identificar os ancestrais sangiques, dos povos modernos, deve levar em conta o aprimoramento posterior das linhagens raciais, pelo subseqüente acréscimo do sangue Adâmico.
64:7.13 (728.2) As raças superiores buscaram os climas do norte ou temperados, enquanto a raça alaranjada, a verde e a índigo, sucessivamente, penderam mais para a África, passando pela ponte recentemente elevada de terra que separava o mar Mediterrâneo, que recuava para o oeste, e o oceano Índico.
64:7.14 (728.3) O último dos povos sangiques a migrar do seu centro de origem racial foi o homem índigo. Por volta da época em que o homem verde estava eliminando a raça alaranjada, no Egito, e enfraquecendo muito a si próprio ao fazê-lo, o grande êxodo dos negros começou para o sul, através da Palestina, ao longo da costa; e, mais tarde, quando esses povos índigos, fisicamente fortes, invadiram o Egito, eles extinguiram totalmente os homens verdes, pela simples força numérica. Essa raça índigo absorveu os remanescentes dos homens alaranjados e muito da linhagem do homem verde, e algumas das tribos de homens da cor índigo ficaram consideravelmente aperfeiçoadas com essa amalgamação étnica.
64:7.15 (728.4) E assim parece que o Egito foi primeiramente dominado pelo homem alaranjado, depois pelo verde, seguido pelo homem índigo (negro) e, mais tarde ainda, por uma raça mestiça de índigo, azul e de homens verdes modificados. Todavia, muito antes da chegada de Adão, os homens azuis da Europa, e as raças mistas, da Arábia, haviam expulsado a raça índigo, do Egito, para pontos mais ao sul do continente africano.
64:7.16 (728.5) Ao chegar o fim das migrações sangiques, as raças verde e alaranjada já não existiam, o homem vermelho ocupava a América do Norte, o amarelo, a Ásia oriental, o homem azul, a Europa, e a raça índigo pendia para a África. A Índia abrigava uma mistura de raças sangiques secundárias e o homem moreno, uma mistura do vermelho e do amarelo, mantinha-se nas ilhas da costa asiática. Uma raça miscigenada, com um potencial bastante superior, ocupou os planaltos da América do Sul. Os andonitas mais puros viveram nas regiões do extremo norte da Europa e da Islândia, da Groenlândia e da parte nordeste da América do Norte.
64:7.17 (728.6) Durante os períodos de maior avanço da invasão glacial, as tribos andonitas do extremo oeste chegaram muito perto de serem empurradas, quase inteiramente, para o mar. Eles viveram durante anos em uma faixa estreita de terra, ao sul da ilha que atualmente é a Inglaterra. E era já uma tradição que essas invasões glaciais repetidas os empurrassem para o mar, quando a sexta e última glacial finalmente surgiu. Eles foram os primeiros aventureiros marítimos. Construíram barcos e começaram a procurar novas terras, que esperavam estar livres daquelas terríveis invasões de gelo. E alguns deles alcançaram a Islândia, outros, a Groenlândia, mas a grande maioria deles pereceu de fome e sede no mar aberto.
64:7.18 (728.7) Há pouco mais do que oitenta mil anos, pouco depois de o homem vermelho haver entrado no noroeste da América do Norte, o congelamento dos mares do norte e o avanço dos campos locais de gelo sobre a Groenlândia levaram os esquimós, descendentes dos aborígines de Urântia, a buscar uma terra melhor, um novo lar; e eles tiveram êxito, cruzando a salvo os estreitos fechados, que então separavam a Groenlândia das massas de terra do nordeste da América do Norte. Eles alcançaram o continente aproximadamente dois mil e cem anos depois que o homem vermelho chegou ao Alasca. Subseqüentemente, algumas das linhagens mistas dos homens azuis rumaram para o oeste, miscigenaram-se com os esquimós, mais recentemente, e essa união resultou em poucos benefícios para as tribos esquimós.
64:7.19 (728.8) Há cerca de cinco mil anos, um encontro casual aconteceu entre uma tribo indiana e um grupo esquimó solitário, nas praias do sudeste da baía de Hudson. Essas duas tribos acharam difícil comunicar-se uma com a outra, mas logo casaram entre si, e o resultado foi que esses esquimós foram finalmente absorvidos pelos homens vermelhos, mais numerosos. E isso representa o único contato do homem vermelho norte-americano, com qualquer outra linhagem humana, até aproximadamente mil anos atrás, quando pela primeira vez, o homem branco desembarcou por acaso nas terras da costa Atlântica.
64:7.20 (729.1) As lutas dessas idades primitivas foram caracterizadas pela coragem, pela bravura, e mesmo, pelo heroísmo. E todos nós lamentamos que tantos desses traços de vigor e de legitimidade dos vossos primeiros ancestrais houvessem sido perdidos nas raças mais recentes. Ainda que apreciemos o valor de muitos refinamentos da civilização que avança, sentimos a falta da persistência magnífica e da devoção soberba dos vossos primeiros ancestrais, que muitas vezes beiravam a grandeza e a sublimidade.
64:7.21 (729.2) [Apresentado por um Portador da Vida residente em Urântia.]
O Livro de Urântia
Documento 65
65:0.1 (730.1) A VIDA evolucionária material básica — a vida pré-mental — é formulada pelos Mestres Controladores Físicos e pela ministração da implantação da vida vinda dos Sete Espíritos Mestres, juntamente com a ministração ativa dos Portadores da Vida designados. Como resultado da função coordenada dessa criatividade tríplice, desenvolve-se uma capacidade física do organismo para possuir mente — mecanismos materiais de reação inteligente aos estímulos ambientais externos e, mais tarde, aos estímulos internos, ou influências que têm origem na própria mente do organismo.
65:0.2 (730.2) Há, então, três níveis distintos de produção e de evolução da vida:
65:0.3 (730.3) 1. O domínio da energia física — produto da capacidade da mente.
65:0.4 (730.4) 2. A ministração da mente, feita pelos espíritos ajudantes — influenciando a capacidade espiritual.
65:0.5 (730.5) 3. A dotação espiritual da mente mortal — culminando no outorgamento dos Ajustadores do Pensamento.
65:0.6 (730.6) Os níveis mecânicos, não ensináveis, de reação do organismo ao meio ambiente, são do domínio dos controladores físicos. Os espíritos ajudantes da mente ativam e regulam os tipos de mente adaptáveis ou ensináveis, não mecânicos — aqueles mecanismos de resposta dos organismos capazes de aprender a partir da experiência. E, à medida que os espíritos ajudantes manipulam, desse modo, os potenciais da mente, também os Portadores da Vida exercem um controle discriminador considerável sobre os aspectos ambientais do processo evolucionário, até o momento do aparecimento da vontade humana — a capacidade de conhecer Deus e o poder de optar por adorá-Lo.
65:0.7 (730.7) É o funcionamento coordenado e integrado dos Portadores da Vida, dos controladores físicos e dos espíritos ajudantes que condiciona o curso da evolução orgânica nos mundos habitados. E é por isso que a evolução — em Urântia, ou em outro lugar — tem sempre um propósito, nunca sendo acidental.
65:1.1 (730.8) Os Portadores da Vida são dotados com um potencial de metamorfose da personalidade que apenas poucas ordens de criaturas possuem. Esses Filhos do universo local são capazes de funcionar em três fases diversas do ser. Geralmente, eles cumprem os seus deveres como Filhos da fase intermediária, sendo esse o estado da sua origem. Todavia, um Portador da Vida, nesse estágio de existência, não poderia possivelmente funcionar sobre os domínios eletroquímicos como um fabricante de energias físicas e partículas materiais em unidades de existência vivente.
65:1.2 (730.9) Os Portadores da Vida são capazes de funcionar, e funcionam, nos três seguintes níveis:
65:1.3 (730.10) 1. O nível físico da eletroquímica.
65:1.4 (730.11) 2. A fase intermediária usual de existência quase moroncial.
65:1.5 (730.12) 3. O nível semi-espiritual avançado.
65:1.6 (731.1) Quando se preparam para empreender a implantação da vida, depois de haverem selecionado os locais para esse trabalho, os Portadores da Vida convocam a comissão de arcanjos de transmutação dos Portadores da Vida. Esse grupo consiste de dez ordens de personalidades diversas, incluindo os controladores físicos e seus colaboradores, e é presidido pelo comandante dos arcanjos, atuando nessa função por mandado de Gabriel e com a permissão dos Anciães dos Dias. Quando são circuitados adequadamente, tais seres podem efetuar modificações tais, nos Portadores da Vida, que os capacitam imediatamente para funcionar nos níveis físicos da eletroquímica.
65:1.7 (731.2) Depois que os modelos da vida houverem sido formulados e as organizações materiais estiverem devidamente completas, as forças supramateriais envolvidas na propagação da vida tornam-se imediatamente ativas, e assim a vida passa a existir. A partir daí, os Portadores da Vida retornam imediatamente à sua meia-fase intermediária normal de existência da personalidade, estado no qual podem manipular as unidades vivas e manobrar os organismos em evolução, mesmo estando despojados de toda a capacidade de organizar — de criar — novos padrões de matéria viva.
65:1.8 (731.3) Depois que a evolução orgânica houver seguido o seu curso, até um certo nível, e o livre-arbítrio do tipo humano houver aparecido nos organismos mais elevados em evolução, os Portadores da Vida devem abandonar o planeta ou então fazer votos de renúncia; quer dizer, devem comprometer-se a se abster de quaisquer tentativas de influir posteriormente no curso da evolução orgânica. E, quando esses votos são feitos voluntariamente, pelos Portadores da Vida que escolherem permanecer no planeta, como conselheiros futuros para aqueles a quem será confiada a tarefa de proteger as criaturas de vontade, recém-evoluídas, é convocada uma comissão de doze, presidida pelo comandante dos Estrelas Vespertinos, atuando com a autoridade do Soberano do Sistema e a permissão de Gabriel; e, então, esses Portadores da Vida são transmutados para a terceira fase da existência da personalidade — o nível semi-espiritual do ser. E, nessa terceira fase da existência, tenho eu funcionado em Urântia desde os tempos de Andon e Fonta.
65:1.9 (731.4) Aguardamos ansiosos pela época em que o universo possa estabelecer-se em luz e vida, um possível quarto estágio do ser, no qual seremos integralmente espirituais, mas nunca nos foi revelada a técnica por meio da qual poderemos alcançar esse desejável estado avançado.
65:2.1 (731.5) A história da ascensão do homem, partindo das algas marinhas até que chegue a ser o senhor da criação terrestre, de fato é uma epopéia de lutas biológicas e sobrevivência da mente. Os ancestrais primordiais do homem foram, literalmente, o limo e o lodo do fundo do oceano, nas baías e nas lagunas de águas mornas e estagnadas da vasta linha do litoral dos antigos mares interiores; aquelas mesmas águas nas quais os Portadores da Vida estabeleceram as três implantações independentes de vida em Urântia.
65:2.2 (731.6) Pouquíssimas espécies de tipos marinhos primitivos de vegetação que participaram daquelas mutações históricas, e que resultaram nos organismos na fronteira da vida animal, ainda hoje continuam existindo. As esponjas constituem os sobreviventes de um desses tipos primitivos intermediários, os organismos por meio dos quais se deu a transição gradual de vegetal até animal. Essas formas primitivas de transição, embora não sendo idênticas às esponjas modernas, foram muito semelhantes a elas; eram organismos verdadeiramente na fronteira — nem vegetais, nem animais — e que, finalmente, conduziram ao desenvolvimento das verdadeiras formas animais de vida.
65:2.3 (732.1) As bactérias, organismos vegetais simples de uma natureza muito primitiva, mudaram pouco desde o alvorecer da vida, exibindo mesmo um grau de retroação no seu comportamento parasitário. Muitos dos fungos também representam um movimento retrógrado de evolução, sendo plantas que perderam a sua capacidade de produzir clorofila e havendo-se transformado mais ou menos em parasitas. A maioria das bactérias que causam doenças, e os seus corpos auxiliares de vírus, realmente pertencem a esse grupo de fungos parasitas desertores. Durante idades intermediárias, todo o vasto reino da vida vegetal evoluiu de ancestrais, dos quais as bactérias também descendem.
65:2.4 (732.2) O tipo mais elevado de vida animal protozoária logo apareceu, e apareceu de repente. E, desses tempos longínquos, veio a ameba, o organismo animal típico, de uma célula, apenas um pouco modificada. Ela age, hoje, do mesmo modo como o fazia quando era ainda a mais recente das mais importantes realizações na evolução da vida. Essa diminuta criatura e seus primos protozoários são, para a criação animal, o que as bactérias são para o reino vegetal; representam a sobrevivência dos primeiros passos evolucionários primitivos na diferenciação da vida, ao lado do fracasso dos desenvolvimentos subseqüentes.
65:2.5 (732.3) Logo os tipos primitivos de animais unicelulares associaram-se em comunidades, primeiro, em um nível volvoxídeo e, depois, ao longo da linha da hidra e da medusa. E mais tarde ainda evoluíram, resultando em estrelas-do-mar, crinóides, ouriços-do-mar, centopéias, pepinos-do-mar, insetos, aranhas, crustáceos e grupos correlatos de vermes da terra e sanguessugas, seguidos logo pelos moluscos — ostras, polvo e caracol. Centenas e centenas de espécies surgiram e pereceram; e seja feita menção apenas àquelas que sobreviveram às longuíssimas lutas. Tais espécimes não progressivos, junto com a família dos peixes a surgir depois, representam atualmente os tipos estacionários de animais primitivos inferiores, ramificações da árvore da vida que deixaram de progredir.
65:2.6 (732.4) O cenário estava desse modo estabelecido para o aparecimento dos primeiros animais vertebrados, os peixes. Dessa família de peixes surgiram duas modificações únicas, a rã e a salamandra. E foi a rã que começou aquela série de diferenciações progressivas na vida animal as quais culminaram, finalmente, no próprio homem.
65:2.7 (732.5) A rã é um dos mais antigos ancestrais sobreviventes da raça humana, mas também deixou de evoluir, sendo hoje muito semelhante à dos seus tempos remotos. A rã é a única espécie ancestral das raças iniciais que ainda vive sobre a face da Terra. A raça humana não tem nenhum ancestral sobrevivente entre a rã e o esquimó.
65:2.8 (732.6) As rãs deram origem aos répteis, uma grande família animal que está virtualmente extinta, mas que, antes de deixar de existir, deu origem a toda a família de pássaros e às numerosas ordens de mamíferos.
65:2.9 (732.7) Provavelmente o maior salto, em toda a evolução pré-humana, foi dado quando um dos répteis transformou-se em um pássaro. Os tipos de pássaros de hoje — águias, patos, pombos e avestruzes — todos descenderam de répteis enormes de muitas eras atrás.
65:2.10 (732.8) O reino dos répteis, que descendeu da família da rã, é representado hoje por quatro divisões sobreviventes: duas não progressivas, as cobras e os lagartos, junto com os seus primos, os crocodilos e as tartarugas; uma parcialmente progressiva, a família dos pássaros e a quarta, a dos ancestrais dos mamíferos e a linha direta de descendentes da espécie humana. Contudo, ainda que há muito extinta, a enormidade passageira dos répteis encontrou eco nos elefantes e mastodontes, enquanto as suas formas peculiares ficaram perpetuadas nos cangurus saltadores.
65:2.11 (733.1) Apenas quatorze filos apareceram em Urântia, os peixes sendo os últimos; e nenhuma classe nova desenvolveu-se desde os pássaros e os mamíferos.
65:2.12 (733.2) Foi de um pequeno e ágil dinossauro réptil, de hábitos carnívoros, tendo um cérebro relativamente grande, que os mamíferos placentários surgiram subitamente. Esses mamíferos desenvolveram-se rapidamente e de muitos modos diferentes, não apenas dando surgimento às variedades modernas comuns, mas também evoluindo até os tipos marinhos, tais como as baleias e focas, e os navegadores do ar, como a família dos morcegos.
65:2.13 (733.3) O homem, assim, evoluiu dos mamíferos mais elevados, derivados principalmente da implantação ocidental da vida nos antigos mares abrigados, que iam de leste para oeste. Os grupos oriental e central de organismos vivos, desde o princípio, progrediram favoravelmente até alcançarem os níveis pré-humanos de existência animal. À medida que as idades passaram, porém, o foco oriental de implantação de vida não alcançou um nível satisfatório de status pré-humano de inteligência, tendo sofrido perdas tão repetidas e irrecuperáveis dos seus tipos mais elevados do plasma da germinação, que ficou para sempre destituído do poder de reabilitar as suas potencialidades humanas.
65:2.14 (733.4) Já que a qualidade da capacidade da mente para o desenvolvimento, nesse grupo oriental, foi definitivamente tão inferior àquela dos outros dois grupos, os Portadores da Vida, com o consentimento dos seus superiores, manipularam o ambiente de um modo tal a circunscreverem mais ainda essas linhagens inferiores pré-humanas de vida em evolução. Para aparências externas, a eliminação desses grupos inferiores de criaturas mostrou-se acidental, mas na realidade foi intencional.
65:2.15 (733.5) Mais tarde, no desenvolvimento evolucionário da inteligência, os ancestrais lemurianos da espécie humana estavam muito mais avançados na América do Norte do que em outras regiões; e foram, por isso, levados a migrar, da arena de implantação ocidental de vida, para o estreito de Behring, e, costa abaixo, ao Sudoeste da Ásia, onde continuaram a evoluir e a beneficiar-se do acoplamento de algumas linhagens do grupo central de vida. O homem evoluiu assim, de algumas linhagens ocidentais e centrais de vida, apenas nas regiões centrais e do Oriente-Próximo.
65:2.16 (733.6) Desse modo, a vida que foi plantada em Urântia evoluiu até a era glacial, quando, pela primeira vez, o próprio homem apareceu e começou a sua movimentada carreira planetária. E esse surgimento do homem primitivo na Terra, durante a era glacial, não foi puramente acidental; foi intencional. Os rigores e severidade climáticos da era glacial foram adequados, em todos os sentidos, aos propósitos de fomentar a produção de um tipo vigoroso de ser humano, com uma imensa capacidade de sobrevivência.
65:3.1 (733.7) Dificilmente será possível explicar à mente humana atual muitas das ocorrências estranhas e aparentemente grotescas do progresso evolucionário primitivo. Um plano com um propósito estava em andamento durante todas essas evoluções aparentemente estranhas das coisas vivas, mas não nos é permitido interferir arbitrariamente no desenvolvimento dos modelos de vida depois de colocados em operação.
65:3.2 (733.8) Os Portadores da Vida podem empregar todos os recursos naturais possíveis e utilizar todas e quaisquer circunstâncias fortuitas que irão elevar o desenvolvimento do progresso da vida experimental; mas não nos é permitido intervir mecanicamente, nem manipular arbitrariamente a conduta e o curso da evolução, seja das plantas, seja dos animais.
65:3.3 (733.9) Vós fostes informados de que os mortais de Urântia evoluíram por meio do desenvolvimento da rã primitiva, e que essa linhagem ascendente, levada em potencial dentro de uma única rã, escapou por pouco da extinção, em uma certa ocasião. Não se deve inferir disso, contudo, que a evolução da humanidade poderia ter sido impedida por um acidente nessa conjuntura. Naquele exato momento estávamos observando e estimulando nada mais do que mil linhagens de vida mutante, diferentes e muito distantes, que poderiam ter sido encaminhadas até vários modelos diferentes de desenvolvimento pré-humano. Essa rã ancestral, em particular, representava a nossa terceira seleção; as duas linhagens de vida anteriores haviam perecido, a despeito dos nossos esforços para sua conservação.
65:3.4 (734.1) Mesmo a perda de Andon e Fonta, caso ocorresse antes que tivessem tido uma progênie, embora isso houvesse retardado a evolução humana, não a teria impedido. Depois do aparecimento de Andon e Fonta, e antes que os potenciais humanos mutantes de vida animal estivessem exauridos, nada menos do que sete mil linhagens favoráveis haviam evoluído e poderiam haver culminado em alguma espécie de tipo humano em desenvolvimento. E muitas dessas raças melhores foram, subseqüentemente, assimiladas pelas várias ramificações das espécies humanas em expansão.
65:3.5 (734.2) Muito antes de o Filho e a Filha Material, elevadores biológicos, chegarem ao planeta os potenciais humanos das espécies animais em evolução haviam-se exaurido. Esse status biológico da vida animal é revelado aos Portadores da Vida por meio do fenômeno da terceira fase da mobilização do espírito ajudante, o que, de modo automático, ocorre concomitantemente com a exaustão da capacidade de toda vida animal de dar origem aos potenciais mutantes de indivíduos pré-humanos.
65:3.6 (734.3) A humanidade em Urântia deve resolver os problemas que tem com o desenvolvimento mortal das raças humanas — nenhuma raça mais irá evoluir de fontes pré-humanas em todo o tempo futuro. Esse fato, todavia, não exclui a possibilidade de se atingir níveis de desenvolvimento humano amplamente mais elevados, por meio de uma estimulação inteligente dos potenciais evolucionários ainda residentes nas raças mortais. Tudo o que nós, os Portadores da Vida, fazemos para fomentar e conservar as linhagens de vida, antes do aparecimento da vontade humana, o homem deve fazer por si próprio, depois de tudo isso e depois que deixarmos de lado a nossa participação ativa na evolução. De modo geral, o destino evolucionário do homem está nas suas próprias mãos, e a inteligência científica deve, mais cedo ou mais tarde, substituir o funcionamento aleatório da seleção natural descontrolada e da casualidade na sobrevivência.
65:3.7 (734.4) E, ao discutir o estímulo à evolução, não seria impróprio apontar que, em um futuro bem adiante, quando em algum momento estiverdes ligados a um corpo de Portadores da Vida, vós tereis oportunidades amplas e abundantes de fazer sugestões para se fazer quaisquer melhoramentos possíveis nos planos e na técnica de transplantar e de conduzir a vida. Sede pacientes! Se tiverdes boas idéias, se as vossas mentes forem férteis de métodos melhores de administração para qualquer parte dos domínios universais, ireis por certo ter uma oportunidade de apresentá-los aos vossos companheiros administradores nas idades que virão.
65:4.1 (734.5) Não negligencieis o fato de que Urântia foi designada para nós como um mundo de vida experimental. Fizemos, neste planeta, a nossa sexagésima tentativa de modificar e, se possível, de melhorar a adaptação, em Satânia, dos projetos de vida de Nébadon; e consta nos registros que realizamos numerosas modificações benéficas nos modelos médios da vida. Para ser específico, em Urântia, aprimoramos e demonstramos satisfatoriamente nada menos do que vinte e oito particularidades de modificação na vida, que serão de muita utilidade para todo o Nébadon durante todos os tempos futuros.
65:4.2 (735.1) Todavia, o estabelecimento da vida em nenhum mundo jamais é experimental, no sentido de que algo ainda não experimentado e desconhecido seja intentado. A evolução da vida é uma técnica sempre progressiva, diferencial e variável, mas não é jamais fortuita, descontrolada, nem inteiramente experimental, no sentido acidental.
65:4.3 (735.2) Muitas facetas da vida humana oferecem evidências abundantes de que o fenômeno da existência mortal foi inteligentemente planejado, de que a evolução orgânica não é um mero acidente cósmico. Quando uma célula viva é ferida, ela possui a capacidade de elaborar algumas substâncias químicas que têm o poder de estimular e ativar as células vizinhas normais, para que iniciem imediatamente a secreção de certas substâncias que facilitam os processos de cura na ferida; e, ao mesmo tempo, essas células normais e não feridas começam a proliferar — de fato começam a trabalhar, criando novas células para repor qualquer célula companheira que possa haver sido destruída por acidente.
65:4.4 (735.3) Essa ação e essa reação químicas, ligadas à cura de feridas e à reprodução das células, representam a escolha dos Portadores da Vida de uma fórmula que abrange mais de cem mil fases e aspectos de reações químicas possíveis e repercussões biológicas. Mais de meio milhão de experimentos específicos foram efetuados pelos Portadores da Vida nos seus laboratórios, antes que finalmente estabelecessem essa fórmula para o experimento de vida em Urântia.
65:4.5 (735.4) Quando os cientistas de Urântia souberem mais sobre essas substâncias que curam, tornar-se-ão mais eficazes no tratamento de lesões e, indiretamente, irão saber mais sobre como controlar certas doenças sérias.
65:4.6 (735.5) Desde que a vida foi estabelecida em Urântia, os Portadores da Vida têm melhorado essa técnica de cura, a qual, introduzida em um outro mundo de Satânia, ofereceu mais alívio da dor e exerceu um controle melhor sobre a capacidade de proliferação que têm as células vizinhas normais.
65:4.7 (735.6) Houve muitos aspectos singulares no experimento de vida de Urântia, mas os dois episódios que se destacaram foram o aparecimento das raças andônicas antes da evolução dos seis povos coloridos e, posteriormente, a aparição simultânea dos mutantes sangiques em uma única família. Urântia é o primeiro mundo em Satânia em que as seis raças coloridas surgiram da mesma família humana. Geralmente estas advêm de linhagens diversificadas de mutações independentes, dentro da raça animal pré-humana e, usualmente, aparecem no mundo uma de cada vez e sucessivamente, durante períodos longos de tempo, começando pelo homem vermelho, passando pelas diversas cores, e indo até o índigo.
65:4.8 (735.7) Uma outra variação destacável de procedimento foi a chegada tardia do Príncipe Planetário. Via de regra, o príncipe aparece em um planeta por volta da época do desenvolvimento da vontade; e, se esse plano houvesse sido obedecido, Caligástia poderia ter vindo para Urântia até mesmo durante a vida de Andon e Fonta, em vez de quase quinhentos mil anos mais tarde, simultaneamente com o aparecimento das seis raças sangiques.
65:4.9 (735.8) A um mundo habitado normal teria sido concedido logo um Príncipe Planetário, quando solicitado pelos Portadores da Vida, ou seja, quando apareceram Andon e Fonta, ou pouco tempo depois. Todavia, como Urântia havia sido designado como um planeta em que a vida é modificada, foi em conseqüência de um acordo antecipado que os observadores Melquisedeques, em número de doze, foram enviados como conselheiros dos Portadores da Vida, atuando como supervisores do planeta até a chegada subseqüente do Príncipe Planetário. Esses Melquisedeques vieram na época em que Andon e Fonta tomaram as decisões que tornaram possível aos Ajustadores do Pensamento residirem nas suas mentes mortais.
65:4.10 (736.1) Em Urântia, os esforços dos Portadores da Vida para melhorar os modelos da vida em Satânia necessariamente resultaram na produção de muitas formas aparentemente inúteis de vida transitória. Os ganhos já conquistados, no entanto, são suficientes para justificar as modificações dos modelos do projeto de vida feitas em Urântia.
65:4.11 (736.2) A nossa intenção era produzir uma manifestação antecipada da vontade na vida evolucionária de Urântia, e tivemos êxito. Em geral, só depois que as raças coloridas têm já algum tempo de existência é que a vontade emerge, usualmente aparecendo primeiro entre os tipos superiores de homens vermelhos. O vosso mundo é o único planeta de Satânia em que o tipo humano de vontade surgiu em uma raça anterior às raças coloridas.
65:4.12 (736.3) Contudo, em nossos esforços para chegar a essa combinação e associação de fatores de hereditariedade que finalmente conduziriam aos ancestrais mamíferos da raça humana, nos deparamos com a necessidade de permitir que acontecessem centenas ou mesmo milhares de outras combinações e associações relativamente inúteis de fatores de hereditariedade. É certo que muitos desses subprodutos aparentemente estranhos dos nossos esforços irão deparar com o vosso espanto quando escavardes para ir até o passado planetário, e posso muito bem compreender o quanto algumas dessas coisas podem tornar-se intrigantes sob o ponto de vista limitado da mente humana.
65:5.1 (736.4) Foi uma fonte de pesar para os Portadores da Vida que os nossos esforços especiais, para modificar a vida inteligente em Urântia, houvessem sido tão prejudicados por perversões trágicas que escaparam ao nosso controle: a traição de Caligástia e a falta Adâmica.
65:5.2 (736.5) Durante toda essa aventura biológica, todavia, a nossa maior decepção veio da reversão, em uma escala muito extensa e inesperada, de certas vidas vegetais primitivas aos níveis pré-clorofílicos de bactérias parasitárias. Essa eventualidade, na evolução da vida vegetal, provocou muitas doenças desoladoras nos mamíferos mais elevados, particularmente nas espécies humanas mais vulneráveis. Quando deparamos com essa situação de perplexidade, de um certo modo, nós não demos grande importância às dificuldades envolvidas, porque sabíamos que a combinação que viria subseqüentemente, do plasma da vida Adâmica, reforçaria de tal modo os poderes de resistência da mistura resultante de raças, a ponto de torná-la praticamente imune a todas as doenças produzidas pelos tipos vegetais de organismos. As nossas esperanças, porém, estavam fadadas à decepção, devido à infelicidade da falta Adâmica.
65:5.3 (736.6) O universo dos universos, incluindo esse pequeno mundo chamado Urântia, não está sendo administrado para adaptar-se apenas às nossas conveniências, nem apenas para receber a nossa aprovação e muito menos para gratificar os caprichos ou satisfazer à nossa curiosidade. Os seres sábios e Todo-Poderosos, responsáveis pela gestão do universo, sem dúvida sabem exatamente o que fazer; e assim é próprio aos Portadores da Vida e cabe às mentes mortais comportar-se, na espera, com a devida paciência e uma cooperação sincera com as regras da sabedoria, o reino do poder e a marcha do progresso.
65:5.4 (736.7) Evidentemente, certas compensações advêm depois das atribulações, tais como a outorga de Michael em Urântia. Independentemente dessas considerações, porém, os supervisores celestes mais recentes deste planeta expressam a sua confiança completa no triunfo último da evolução da raça humana e que, afinal, vinguem os nossos planos e modelos originais de vida.
65:6.1 (737.1) É impossível determinar com precisão, simultaneamente, a localização exata e a velocidade de um objeto em movimento; qualquer tentativa de medir uma dessas grandezas acarreta uma alteração inevitável na outra. O homem mortal depara com o mesmo tipo de paradoxo quando efetua a análise química do protoplasma. O químico pode elucidar a composição química do protoplasma morto, mas não pode discernir a organização física nem o funcionamento dinâmico do protoplasma enquanto está vivo. O cientista chegará mais e mais próximo dos segredos da vida, mas nunca os localizará e por nenhuma outra razão senão a de ter de matar o protoplasma para analisá-lo. O protoplasma morto pesa tanto quanto o protoplasma vivo, mas já não é o mesmo.
65:6.2 (737.2) Há um dom original de adaptação nas coisas e seres vivos. Em toda planta ou célula animal viva, em todo organismo vivo — material ou espiritual — , há um desejo insaciável de alcançar uma perfeição sempre crescente de ajuste ao ambiente, de adaptação do organismo para aumentar a realização da vida. Esses esforços intermináveis, de todas as coisas vivas, evidenciam a existência, dentro delas, de uma busca inata de perfeição.
65:6.3 (737.3) O mais importante passo na evolução das plantas foi o desenvolvimento da capacidade de produzir a clorofila, e o segundo maior avanço foi o esporo haver evoluído até uma semente complexa. O esporo é mais eficiente como um agente reprodutor, mas faltam-lhe os potenciais da variedade e da versatilidade inerentes à semente.
65:6.4 (737.4) Um dos mais úteis e complexos episódios na evolução dos mais elevados tipos de animais consistiu no desenvolvimento da capacidade do ferro, nas células do sangue circulante, de atuar com a dupla função de transportar o oxigênio e poder remover o dióxido de carbono. E essa atuação das células vermelhas do sangue ilustra como os organismos em evolução são capazes de adaptar suas funções ao ambiente variável e alterável. Os animais superiores, incluindo o homem, oxigenam os seus tecidos por meio da ação do ferro das células vermelhas do sangue, que levam o oxigênio até as células vivas e, de um modo também eficiente, retiram o dióxido de carbono. Outros metais, no entanto, podem servir ao mesmo propósito. A lula-choco emprega o cobre nessa função, e a seringa-do-mar utiliza o vanádio.
65:6.5 (737.5) A continuação desses ajustes biológicos é ilustrada pela evolução dos dentes nos mamíferos superiores em Urântia; os ancestrais distantes do homem tinham trinta e seis, então começou um reajustamento de adaptação, tendo o homem primitivo, e os seus parentes próximos, passado a ter trinta e dois dentes. Agora, a espécie humana tende vagarosamente para vinte e oito dentes. Ativa, e adaptativamente, o processo de evolução ainda está em progresso neste planeta.
65:6.6 (737.6) Todavia, muitos ajustes aparentemente misteriosos dos organismos vivos são puramente químicos, integralmente físicos. A qualquer momento, na corrente sangüínea de qualquer ser humano, há a possibilidade de acontecerem até 15 milhões de reações químicas entre os hormônios de uma dúzia de glândulas endócrinas.
65:6.7 (737.7) As formas inferiores de vida vegetal são totalmente sensíveis ao meio ambiente físico, químico e elétrico. Entretanto, à medida que se ascende na escala da vida, as ministrações da mente dos sete espíritos ajudantes tornam-se, uma a uma, mais atuantes; e a mente propõe-se cada vez mais ajustar, criar, coordenar e dominar. A capacidade dos animais de adaptar-se ao ar, à água e à terra não é um dom sobrenatural, mas um ajustamento suprafísico.
65:6.8 (738.1) A física e a química sozinhas não conseguem explicar como um ser humano evoluiu vindo do protoplasma primevo dos mares primitivos. A capacidade de aprender, a memória e a resposta diferenciada ao ambiente são dons da mente. As leis da física não reagem ao aperfeiçoamento; elas são invariáveis e imutáveis. As reações da química não são modificáveis pela educação; são uniformes, confiáveis. À parte a presença do Absoluto Inqualificável, as reações elétricas e químicas são previsíveis. Mas a mente pode tirar proveito da experiência, pode aprender de hábitos de reações comportamentais que respondem à repetição de estímulos.
65:6.9 (738.2) Os organismos pré-inteligentes reagem aos estímulos do ambiente, mas esses organismos, reativos à ministração da mente, podem ajustar e manipular o próprio ambiente.
65:6.10 (738.3) O cérebro físico, com o seu sistema nervoso associado, possui a capacidade inata de responder à ministração da mente; do mesmo modo que a mente, em desenvolvimento, de uma personalidade possui uma certa capacidade inata de receptividade ao espírito e, portanto, traz em si os potenciais do progresso e realização espiritual. A evolução intelectual, social, moral e espiritual depende da ministração da mente, feita pelos sete espíritos ajudantes e seus colaboradores suprafísicos.
65:7.1 (738.4) Os sete espíritos ajudantes da mente são versáteis ministradores da mente para as existências inferiores inteligentes do universo local. Essa ordem de mente é ministrada das sedes-centrais do universo local ou de algum mundo conectado a elas; as capitais dos sistemas, porém, têm uma influência na direção da função das mentes inferiores.
65:7.2 (738.5) Muitas coisas dependem do trabalho desses sete ajudantes, num mundo evolucionário. No entanto, são os ministros da mente; eles não se ocupam da evolução física, domínio este que é dos Portadores da Vida. A integração perfeita desses dons do espírito, contudo, com o procedimento ordenado e natural do desdobrar do regime inerente dos Portadores da Vida, é responsável pela incapacidade dos mortais de discernir, no fenômeno da mente, nada a não ser a mão da natureza e o trabalho de processos naturais; embora, ocasionalmente, chegais a ficar um tanto embaraçados para explicar a totalidade das reações ligadas às reações naturais da mente, naquilo em que é associada à matéria. E, caso Urântia estivesse evoluindo mais de acordo com os planos originais, iríeis observar menos fatos ainda a chamar a vossa atenção para o fenômeno da mente.
65:7.3 (738.6) Os sete espíritos ajudantes são mais comparáveis a circuitos do que a entidades e, nos mundos normais, estão circuitados com outros funcionamentos ajudantes em todo o universo local. Nos planetas de experimentação de vida, contudo, estão relativamente isolados. E, em Urântia, devido à natureza singular dos seus modelos de vida, os ajudantes menos elevados tiveram muito mais dificuldade para contatar os organismos evolucionários do que teriam tido no caso de um tipo mais padronizado de dotação de vida.
65:7.4 (738.7) Além disso, em um mundo evolucionário mediano, os sete espíritos ajudantes estão muito mais bem sincronizados com os estágios avançados do desenvolvimento animal do que jamais estiveram em Urântia. Respeitada uma única exceção, a dificuldade em contatar as mentes em evolução dos organismos de Urântia foi a maior que os ajudantes já tiveram em todas as suas operações no universo de Nébadon. Nesse mundo, desenvolveram-se muitas formas de fenômenos limítrofes — de combinações confusas dos tipos mecânicos não-ensináveis e ensináveis não-mecânicos de resposta do organismo.
65:7.5 (739.1) Os sete espíritos ajudantes não fazem contato com as ordens puramente mecânicas de resposta do organismo ao ambiente. Essas respostas pré-inteligentes dos organismos vivos pertencem puramente aos domínios da energia dos centros de potência, dos controladores físicos e seus congêneres.
65:7.6 (739.2) A aquisição do potencial de capacidade para aprender da experiência marca o início do funcionamento dos espíritos ajudantes, e eles funcionam nas mentes desde as mais inferiores das existências primitivas e invisíveis aos mais elevados tipos de mentes na escala evolucionária dos seres humanos. Eles são a fonte e o modelo para os comportamentos que, de outro modo, seriam mais ou menos misteriosos, e para as reações rápidas não completamente compreendidas da mente ao ambiente material. Essas influências, sempre fiéis e dignas de confiança, devem por muito tempo levar adiante as suas ministrações preliminares, antes que a mente animal atinja os níveis humanos de receptividade ao espírito.
65:7.7 (739.3) Os ajudantes funcionam exclusivamente na evolução da mente experiencial até o nível da sexta fase, o espírito da adoração. Nesse nível, ocorre aquela inevitável sobreposição de ministrações — fenômeno pelo qual o mais elevado desce para se coordenar com o inferior, em antecipação da realização subseqüente de níveis avançados de desenvolvimento. E ainda uma ministração espiritual adicional acompanha a ação do sétimo e último ajudante, o espírito da sabedoria. Em todos os ministérios do mundo do espírito, os indivíduos nunca experimentam transições abruptas de cooperação espiritual; essas mudanças são sempre graduais e recíprocas.
65:7.8 (739.4) Os domínios da reação física (eletroquímica), de resposta mental aos estímulos ambientais, deveriam sempre ser diferenciados e, por sua vez, devem todos ser reconhecidos como fenômenos à parte das atividades espirituais. Os domínios da gravidade física, mental e espiritual são reinos distintos de realidades cósmicas, não obstante as estreitas inter-relações.
65:8.1 (739.5) O tempo e o espaço estão indissoluvelmente ligados; há uma interassociação inata. Os atrasos no tempo são inevitáveis, em presença de certas condições do espaço.
65:8.2 (739.6) Se os atrasos prolongados, no tempo levado para efetuar as mudanças evolucionárias de desenvolvimento da vida vos deixam perplexos, eu diria que não podemos cronometrar os processos da vida, de modo a fazê-los desdobrarem-se mais rapidamente do que permite a metamorfose física de um planeta. Devemos esperar pelo desenvolvimento físico natural de um planeta; não temos absolutamente nenhum controle sobre a evolução geológica. Se as condições físicas permitissem, arranjaríamos para que acontecesse a completa evolução da vida em muito menos tempo do que um milhão de anos. Mas estamos todos sob a jurisdição dos Governantes Supremos do Paraíso, e o tempo não existe no Paraíso.
65:8.3 (739.7) O critério individual de medir o tempo é a duração de cada vida. Todas as criaturas são condicionadas, assim, pelo tempo e, portanto, consideram a evolução como sendo um processo excessivamente longo. Para aqueles de nós cujo ciclo de vida não é limitado por uma existência temporal, a evolução não parece ser uma transação tão prolongada. No Paraíso, onde o tempo não existe, essas coisas estão todas presentes na mente da Infinitude e nos atos da Eternidade.
65:8.4 (739.8) Do mesmo modo que a evolução da mente depende do lento desenvolvimento das condições físicas, ou é retardado por ele, também o progresso espiritual depende da expansão mental, e o retardo intelectual atrasa-o infalivelmente. Contudo, isso não quer dizer que a evolução espiritual seja dependente da educação, cultura ou sabedoria. A alma pode evoluir independentemente da cultura mental, mas não na ausência da capacidade mental e do desejo — a escolha da sobrevivência e a decisão de alcançar uma perfeição sempre crescente — de fazer a vontade do Pai no céu. Embora a sobrevivência possa não depender da posse de conhecimento e sabedoria, a progressão muito certamente depende.
65:8.5 (740.1) Nos laboratórios evolucionários cósmicos, a mente é sempre dominante sobre a matéria, e o espírito está sempre correlacionado à mente. Se essas dotações diversas não se sincronizarem e se coordenarem, isso pode causar atrasos no tempo; mas se o indivíduo realmente é sabedor de Deus e deseja encontrá-Lo e tornar-se como Ele, então, a sobrevivência está assegurada, a despeito dos obstáculos do tempo. O status físico pode prejudicar a mente; e o desvirtuamento mental pode retardar a realização espiritual, mas nenhum desses obstáculos pode derrotar uma escolha feita pela alma com toda a sua vontade.
65:8.6 (740.2) Quando as condições físicas estão amadurecidas, as evoluções mentais súbitas podem acontecer; quando o status da mente é propício, transformações espirituais súbitas podem ocorrer; quando os valores espirituais recebem o reconhecimento adequado, então os significados cósmicos tornam-se discerníveis; e a personalidade fica cada vez mais liberada dos obstáculos do tempo e redimida das limitações do espaço.
65:8.7 (740.3) [Promovido por um Portador da Vida de Nébadon, residente em Urântia.]
O Livro de Urântia
Documento 66
66:0.1 (741.1) O ADVENTO de um filho Lanonandeque em um mundo normal significa que a vontade, e a capacidade de escolher o caminho da sobrevivência eterna já se desenvolveram na mente do homem primitivo. Contudo, em Urântia, o Príncipe Planetário chegou quase meio milhão de anos depois do surgimento da vontade humana.
66:0.2 (741.2) Há cerca de quinhentos mil anos, concomitantemente com o aparecimento das seis raças coloridas ou sangiques, Caligástia, o Príncipe Planetário, chegou a Urântia. Havia quase meio bilhão de seres humanos primitivos na Terra, na época em que o Príncipe chegou, e eles estavam bem distribuídos pela Europa, Ásia e África. A sede-central do Príncipe, estabelecida na Mesopotâmia, localizava-se mais ou menos no centro da população do mundo.
66:1.1 (741.3) Caligástia era um Filho Lanonandeque, de número 9 344 da ordem secundária. Tinha experiência na administração dos assuntos do universo local em geral e, durante as últimas idades, com a gestão do sistema local de Satânia, em particular.
66:1.2 (741.4) Antes do reinado de Lúcifer, em Satânia, Caligástia havia pertencido ao comitê dos Portadores da Vida conselheiros em Jerusém. Lúcifer promoveu Caligástia, elevando-o a um posto no seu corpo de assessores pessoais, e ele desempenhou-se satisfatoriamente em cinco compromissos sucessivos de honra e de confiança.
66:1.3 (741.5) Há muito tempo, Caligástia vinha buscando ser designado como Príncipe Planetário, mas, repetidamente, quando o seu pedido era submetido à aprovação nos conselhos das constelações, ele deixava de receber o assentimento dos Pais da Constelação. Caligástia parecia especialmente desejoso de ser enviado como governador planetário a um mundo decimal ou de modificação da vida. A sua petição tinha já por várias vezes sido indeferida, antes que ele finalmente fosse designado para Urântia.
66:1.4 (741.6) Caligástia partiu de Jerusém para a sua missão de dirigir um mundo, com uma folha invejável de lealdade e de devoção ao bem-estar do universo de sua origem e permanência, não obstante uma certa característica sua de instabilidade, somada a uma tendência para discordar da ordem estabelecida em certas questões menores.
66:1.5 (741.7) Eu estava presente em Jerusém quando o brilhante Caligástia partiu da capital do sistema. Nenhum príncipe dos planetas jamais embarcou em uma carreira de governo de um mundo com uma experiência preparatória mais rica ou de melhores perspectivas do que Caligástia, naquele dia memorável, há meio milhão de anos. Uma coisa é certa: enquanto eu executava a minha missão de colocar a narrativa daquele evento nas transmissões do universo local, sequer por um momento, jamais eu alimentei sequer a mais leve idéia de que esse nobre Lanonandeque, dentro de tão pouco tempo, iria trair a sua missão sagrada, de custódia planetária, e mancharia tão horrivelmente o nome honrado da sua elevada ordem de filiação no universo. Eu realmente considerava Urântia como estando entre os cinco ou seis mais afortunados planetas em toda a Satânia, posto que teria uma mente tão experiente, brilhante e original no governo dos seus assuntos mundiais. E eu não compreendi, então, que Caligástia estava insidiosamente morrendo de amor por si próprio; e também, então, eu não compreendia, ainda plenamente, as sutilezas do orgulho da personalidade.
66:2.1 (742.1) O Príncipe Planetário de Urântia não foi enviado sozinho na sua missão, mas, sim, acompanhado pelo corpo usual de assistentes e assessores administrativos.
66:2.2 (742.2) À frente desse grupo estava Daligástia, o adjunto ligado ao Príncipe Planetário. Daligástia também era um Filho Lanonandeque secundário, sendo o número 319 407 daquela ordem. Ele possuía a graduação de assistente, na época da sua designação como adjunto de Caligástia.
66:2.3 (742.3) O corpo de assessores planetários incluía um grande número de cooperadores angélicos e uma hoste de outros seres celestes designados para fazer progredir os interesses e promover o bem-estar das raças humanas. Do vosso ponto de vista, porém, o grupo mais interessante de todos era o dos membros corpóreos do corpo de assessores do Príncipe — chamado algumas vezes de os cem de Caligástia.
66:2.4 (742.4) Esses cem membros rematerializados do corpo de assessores do Príncipe foram escolhidos por Caligástia entre mais de 785 000 cidadãos ascendentes de Jerusém os quais se fizeram voluntários para embarcar na aventura de Urântia. Cada um dos cem escolhidos vinha de um planeta diferente, e nenhum deles era proveniente de Urântia.
66:2.5 (742.5) Esses voluntários jerusemitas foram trazidos por transporte seráfico diretamente da capital do sistema até Urântia e, ao chegarem, permaneceram enserafinados até que pudessem ser providos com as formas da personalidade da natureza dual de serviço especial planetário: corpos reais constituídos de carne e sangue, mas também em sintonia com os circuitos de vida do sistema.
66:2.6 (742.6) Algum tempo antes da chegada desses cem cidadãos de Jerusém, os dois Portadores da Vida supervisores, residentes em Urântia, tendo previamente aperfeiçoado os seus planos, pediram a Jerusém e a Edêntia a permissão de transplantarem o plasma da vida de cem sobreviventes selecionados da raça de Andon e Fonta para os corpos materiais a serem projetados para os membros corpóreos do corpo de assessores do Príncipe. O pedido foi concedido por Jerusém e aprovado em Edêntia.
66:2.7 (742.7) Conseqüentemente, cinqüenta seres masculinos e cinqüenta femininos, da posteridade de Andon e Fonta, representando os sobreviventes das melhores linhagens daquela raça única, foram escolhidos pelos Portadores da Vida. Com uma ou duas exceções, esses andonitas contribuidores para o avanço da raça eram estranhos uns aos outros. Eles foram reunidos, de locais bastante distantes, sob a direção coordenada de Ajustadores do Pensamento e com a orientação seráfica, nas fronteiras da sede-central planetária do Príncipe. Ali, os cem sujeitos humanos foram entregues nas mãos da comissão de voluntários de Ávalon, altamente habilitados, os quais dirigiram a extração material de uma porção do plasma de vida desses descendentes de Andon. Esse material vivo foi então transferido para os corpos materiais, construídos para uso dos cem jerusemitas, membros do corpo de assessores do Príncipe. Nesse meio tempo, esses cidadãos recém-chegados da capital do sistema estavam sendo mantidos adormecidos no transporte seráfico.
66:2.8 (742.8) Essas transações, junto com a criação literal de corpos especiais para os cem de Caligástia, deu origem a numerosas lendas, muitas das quais subseqüentemente se fundiram com tradições posteriores a respeito da instalação planetária de Adão e Eva.
66:2.9 (743.1) Toda a transação de repersonalização, desde o momento da chegada dos transportes seráficos, trazendo os cem voluntários de Jerusém, até voltarem eles à consciência, já como seres triplos do reino, consumiu exatamente dez dias.
66:3.1 (743.2) A sede-central do Príncipe Planetário situava-se na região do golfo Pérsico daqueles dias, no distrito correspondente à futura Mesopotâmia.
66:3.2 (743.3) O clima e a paisagem da Mesopotâmia daqueles tempos eram de todo favoráveis aos empreendimentos do corpo de assessores do Príncipe e dos seus assistentes, e muito diferentes das condições que algumas vezes prevaleceram desde então. Era necessário que houvesse esse clima favorável como parte do ambiente natural destinado a induzir os urantianos primitivos a realizar certos avanços iniciais na cultura e na civilização. A grande tarefa daquelas idades era transformar o homem, de um caçador que era, em um pastor, com a esperança de que, daí em diante, ele fosse evoluir, transformando-se em um agricultor sedentário e amante da paz.
66:3.3 (743.4) A sede-central do Príncipe Planetário em Urântia era típica desse gênero de instalação em uma esfera jovem e em desenvolvimento. O núcleo do estabelecimento do Príncipe era uma cidade bastante simples, mas bela, envolvida por uma muralha de doze metros de altura. Esse centro de cultura do mundo era chamado de Dalamátia, em honra a Daligástia.
66:3.4 (743.5) A cidade estava distribuída em dez subdivisões, com as mansões da sede-central dos dez conselhos do corpo de assessores corpóreo situadas nos centros dessas subdivisões. No centro mesmo da cidade, estava o templo do Pai não visível. Os centros administrativos do Príncipe e seus adjuntos estavam instalados em doze salas agrupadas na proximidade imediata do próprio templo.
66:3.5 (743.6) Os edifícios da Dalamátia eram todos de um andar, com exceção da sede dos conselhos, que era de dois andares, e do templo central do Pai de todos, que era pequeno, mas com a altura de três andares.
66:3.6 (743.7) A cidade apresentava o melhor de tudo o que era edificado naqueles dias primitivos, em termos de materiais de construção — tijolos. Pouca pedra ou madeira era utilizada. A construção das casas e a arquitetura das cidades dos povos da vizinhança foram muito aperfeiçoadas pelo exemplo dado pela Dalamátia.
66:3.7 (743.8) Próximo à sede do Príncipe, moravam seres humanos de todas as cores e de todos os níveis. E, nessas tribos vizinhas, foram recrutados os primeiros estudantes das escolas do Príncipe. Embora essas primeiras escolas da Dalamátia fossem rudimentares, elas proporcionavam tudo o que podia ser feito pelos homens e mulheres daquela idade primitiva.
66:3.8 (743.9) O corpo de assessores corpóreo do Príncipe congregava em torno de si, continuamente, os indivíduos superiores das tribos vizinhas e, depois de formar e de inspirar esses estudantes, enviava-os de volta como instrutores e líderes dos seus respectivos povos.
66:4.1 (743.10) A chegada do corpo de assessores do Príncipe gerou uma impressão profunda. Se bem que quase mil anos tivessem sido necessários para que as novidades se espalhassem até terras longínquas, essas tribos próximas da sede da Mesopotâmia foram tremendamente influenciadas pelos ensinamentos e pela conduta dos cem novos habitantes de Urântia. E muito da vossa mitologia posterior proveio de lendas alteradas desses primeiros dias, quando esses membros do corpo de assessores do Príncipe foram repersonalizados, em Urântia, como supra-homens.
66:4.2 (744.1) O obstáculo sério à boa influência desses instrutores extraplanetários é a tendência dos mortais de considerá-los como deuses, mas, à parte a técnica pela qual apareceram na Terra, os cem de Caligástia — cinqüenta homens e cinqüenta mulheres — não recorreram a métodos supranaturais nem a manipulações supra-humanas.
66:4.3 (744.2) Entretanto, o corpo de assessores corpóreo era efetivamente supra-humano. Eles começaram a sua missão em Urântia como seres triplos extraordinários:
66:4.4 (744.3) 1. Eles tinham corpos e eram relativamente humanos, pois corporificavam o plasma real da vida de uma das raças humanas, o plasma vital andônico de Urântia.
66:4.5 (744.4) Esses cem membros do corpo de assessores do Príncipe eram divididos igualmente quanto ao sexo e segundo o seu status mortal anterior. Cada pessoa desse grupo era capaz de tornar-se co-progenitora de alguma nova ordem de seres físicos, mas eles haviam sido cuidadosamente instruídos a recorrerem à geração de progênie apenas sob certas condições. É costumeiro, para o corpo de assessores corpóreo de um Príncipe Planetário, gerar os seus sucessores algum tempo antes de retirar-se do serviço especial planetário. Usualmente, isso se dá na época da chegada do Adão e da Eva Planetários, ou pouco depois.
66:4.6 (744.5) Esses seres especiais, portanto, tinham pouca ou nenhuma idéia do tipo de criaturas materiais que seriam geradas por meio da sua união sexual. E, de fato, eles nunca souberam, pois antes do momento de dar esse passo, na continuação da sua missão no mundo, todo o regime estava transtornado pela rebelião, e aqueles que mais tarde funcionaram no papel de pais haviam sido já isolados das correntes de vida do sistema.
66:4.7 (744.6) Quanto à cor da pele e à língua, esses membros materializados do corpo de assessores de Caligástia pertenciam à raça andônica. Eles nutriam-se como faziam os mortais do reino, com uma diferença: os corpos recriados desse grupo ficavam plenamente satisfeitos com uma dieta sem carne. Isso foi uma das considerações que determinaram que eles residissem em uma região quente, com abundância de tipos de frutos e de nozes. A prática de subsistir de uma dieta sem carne data dos tempos dos cem de Caligástia, pois esse costume espalhou-se nas proximidades, e também até longe; e em muito afetou os hábitos de alimentação de muitas tribos vizinhas, grupos cuja origem vinha de raças evolucionárias que se alimentavam exclusivamente de carne.
66:4.8 (744.7) 2. Os cem eram seres materiais, mas supra-humanos, tendo sido reconstituídos em Urântia como homens e mulheres singulares de uma ordem elevada e especial.
66:4.9 (744.8) Esse grupo, se bem que desfrutando da cidadania provisória de Jerusém, era ainda de seres não fusionados aos seus Ajustadores do Pensamento; e, quando eles se fizeram voluntários e foram aceitos para o serviço planetário, de ligação com as ordens descendentes de filiação, os seus Ajustadores foram separados deles. Esses jerusemitas, todavia, eram seres supra-humanos — possuíam almas de crescimento ascendente. Durante a vida mortal na carne, a alma está em estado embrionário; ela nasce (ressuscita) na vida moroncial e experimenta um crescimento, passando pelos sucessivos mundos moronciais. E as almas dos cem de Caligástia haviam-se expandido assim, por meio das experiências progressivas dos sete mundos das mansões, alcançando o status de cidadania de Jerusém.
66:4.10 (744.9) Em conformidade com as suas instruções, o corpo de assessores não se engajou em reprodução sexuada. Contudo eles estudaram minuciosamente as suas constituições pessoais e exploraram cuidadosamente todas as fases imagináveis de enlaces intelectuais (da mente) e moronciais (da alma). E foi durante o trigésimo terceiro ano da sua permanência na Dalamátia, muito antes que a muralha estivesse terminada, que o número dois e o número sete, do grupo dos Danitas, acidentalmente descobriram um fenômeno que acompanhava o enlace dos seus eus moronciais (supostamente não-sexuais e não-materiais); e o resultado dessa aventura veio a ser a primeira das criaturas intermediárias primárias. Esse novo ser era totalmente visível para o corpo planetário de assessores e para os seus companheiros celestes, mas não era visível para os homens e mulheres das várias tribos humanas. Sob a autorização do Príncipe Planetário, todo o corpo de assessores corpóreo iniciou a produção de seres similares, e todos tiveram êxito, seguindo as instruções do par Danita pioneiro. Assim, finalmente, o corpo de assessores do Príncipe trouxe à vida o corpo original de 50 000 criaturas intermediárias primárias.
66:4.11 (745.1) Essas criaturas do tipo intermediário foram muito úteis para cuidar dos assuntos da sede-central do mundo. Elas eram invisíveis para os seres humanos, mas aos habitantes primitivos da Dalamátia foi ensinado sobre esses semi-espíritos não visíveis e, durante idades, eles se constituíram em todo o mundo espiritual para os mortais em evolução.
66:4.12 (745.2) 3. Os cem de Caligástia eram pessoalmente imortais, ou imperecíveis. Nas suas formas materiais, circulavam os antídotos complementares das correntes vitais do sistema; e se não houvessem perdido o contato com os circuitos da vida por causa da rebelião, eles teriam vivido indefinidamente até a chegada de um próximo Filho de Deus, ou até a sua liberação posterior, para reassumirem a viagem ininterrupta até Havona e o Paraíso.
66:4.13 (745.3) Esses complementos de antídotos das correntes de vida de Satânia eram derivados da fruta da árvore da vida, um arbusto de Edêntia enviado para Urântia pelos Altíssimos de Norlatiadeque, na época da chegada de Caligástia. Nos dias de Dalamátia, essa árvore crescia no jardim da parte central do templo do Pai invisível; e era a fruta da árvore da vida que permitia aos seres materiais do corpo de assessores do Príncipe viverem indefinidamente, enquanto tivessem acesso a ela, pois de outro modo seriam meros mortais.
66:4.14 (745.4) Embora não fosse de nenhuma valia para as raças evolucionárias, essa supernutrição era completamente suficiente para conferir vida contínua aos cem de Caligástia e também aos cem andonitas modificados que se encontravam associados a eles.
66:4.15 (745.5) Sobre isso deveria ser explicado que, na época em que os cem andonitas contribuíram com os membros do corpo de assessores do Príncipe, dando o seu plasma germinativo humano, os Portadores da Vida introduziram, nos seus corpos mortais, o complemento dos circuitos do sistema; e, assim, eles tornaram-se capacitados a viver concomitantemente com o corpo de assessores, século após século, desafiando a morte física.
66:4.16 (745.6) Os cem andonitas foram finalmente informados sobre a contribuição que deram para as novas formas dos seus superiores. Esses mesmos cem filhos das tribos de Andon foram mantidos, nas sedes-centrais, como assistentes pessoais do corpo de assessores corpóreo do Príncipe.
66:5.1 (745.7) Os cem organizaram-se para o serviço em dez conselhos autônomos de dez membros cada. Quando dois ou mais desses dez conselhos reuniam-se em uma sessão conjunta, essas assembléias de ligação eram presididas por Daligástia. Esses dez grupos eram constituídos do seguinte modo:
66:5.2 (745.8) 1. O conselho de alimentação e do bem-estar material. Este grupo era presidido por Ang. Esse hábil corpo tinha a especialidade de cuidar da comida, da água, das roupas e do avanço material das espécies humanas. Ensinava a escavação de poços, o controle das fontes e da irrigação. E ensinavam aos humanos provenientes de regiões mais altas e do norte os métodos mais aperfeiçoados de tratar as peles, para usá-las como vestes, e a tecelagem foi introduzida mais tarde, por instrutores de arte e ciência.
66:5.3 (746.1) Grandes avanços foram feitos nos métodos de armazenamento de alimentos. Os alimentos eram conservados pelo cozimento, a secagem e a defumação; e, assim, tornaram-se a primeira forma de propriedade. O homem aprendeu a se precaver contra o acaso da escassez, que periodicamente dizimava o mundo.
66:5.4 (746.2) 2. O conselho de domesticação e de utilização de animais. Este conselho dedicava-se à tarefa de selecionar e de criar os animais que melhor se adaptavam a transportar os seres humanos, a carregarem as suas cargas, para o fornecimento dos alimentos e, mais tarde, no serviço de cultivar o solo. Esse corpo especialista era dirigido por Bon.
66:5.5 (746.3) Vários tipos de animais úteis, agora extintos, foram domesticados, junto com alguns que continuaram como animais domesticados até os dias atuais. O homem há muito tinha convivência com o cão, e o homem azul já tinha tido êxito em domesticar o elefante. A vaca estava sendo melhorada, por uma criação cuidadosa, para tornar-se uma fonte utilíssima de alimento; a manteiga e o queijo tornaram-se artigos comuns na dieta humana. Os homens aprenderam a utilizar os bois para transportar cargas, mas o cavalo só foi domesticado algum tempo depois. Os membros desse corpo é que ensinaram inicialmente os homens a usar a roda para facilitar a tração.
66:5.6 (746.4) Foi nesses dias que os pombos-correio foram usados pela primeira vez, sendo levados em longas viagens, com o propósito de enviar mensagens ou pedidos de ajuda. O grupo de Bon teve êxito em treinar os grandes fandores como aves de transporte. Esses fandores, entretanto, tornaram-se extintos há mais de trinta mil anos.
66:5.7 (746.5) 3. Os consultores encarregados do controle de animais predadores. Não era suficiente que os primeiros homens tentassem domesticar certos animais, e, pois, deviam também aprender a proteger a si próprios de serem destruídos pelo restante dos animais hostis do mundo. Esse grupo era capitaneado por Dan.
66:5.8 (746.6) O propósito das muralhas das antigas cidades era a proteção contra animais ferozes, e também impedir ataques de surpresa de humanos hostis. Aqueles que moravam fora das muralhas e nas florestas dependiam de habitações nas árvores, de cabanas de pedras e da manutenção de fogueiras noturnas. Era muito natural, pois, que esses instrutores dedicassem muito tempo a instruir os seus alunos a melhorar as habitações humanas. Com o emprego de técnicas mais aprimoradas e o uso de armadilhas, um grande progresso foi feito na subjugação dos animais.
66:5.9 (746.7) 4. O corpo docente encarregado da disseminação e conservação do conhecimento. Esse grupo organizava e dirigia os esforços puramente educacionais daquelas idades primitivas. Era comandado por Fad. Os métodos educacionais de Fad consistiam na supervisão do sistema de empregos, acompanhada da instrução sobre métodos aperfeiçoados de trabalho. Fad formulou o primeiro alfabeto e introduziu um sistema de escrita. Esse alfabeto continha vinte e cinco caracteres. Como material de escrita, esses povos primitivos utilizavam cascas de árvores, tabuletas de argila, placas de pedra, uma forma de pergaminho feito de peles marteladas e uma forma rústica de um material como o papel, feito de ninhos de vespas. A biblioteca da Dalamátia, destruída logo depois da deslealdade de Caligástia, compreendia mais de dois milhões de registros separados, e era conhecida como a “casa de Fad”.
66:5.10 (746.8) O homem azul teve uma predileção por escrever com o alfabeto e fez o maior progresso nessa direção. O homem vermelho preferiu a escrita pictórica, enquanto as raças amarelas derivaram para o uso de símbolos, para palavras e idéias, de um modo semelhante aos que empregam atualmente. Contudo o alfabeto e muitas coisas mais ficaram posteriormente perdidas para o mundo, em meio à confusão que acompanhou a rebelião. A apostasia de Caligástia destruiu a esperança mundial de uma língua universal, pelo menos durante idades incontáveis.
66:5.11 (747.1) 5. A comissão da indústria e do comérci o. Este conselho era empregado para fomentar a indústria, dentro das tribos, e para promover o comércio entre os vários grupos pacíficos. O seu líder era Nod. Todas as formas de manufaturados primitivos eram estimuladas por esse corpo. Eles contribuíram diretamente para a elevação dos padrões de vida, fornecendo muitas novas mercadorias, para atrair a imaginação dos homens primitivos. Eles expandiram grandemente o comércio do sal beneficiado, produzido pelo conselho de ciência e arte.
66:5.12 (747.2) Entre esses grupos esclarecidos, educados nas escolas da Dalamátia, é que foi praticado o primeiro crédito comercial. Numa bolsa central de troca de créditos, eles forneciam fichas simbólicas, que eram aceitas em lugar dos objetos reais da troca. O mundo não melhorou esses métodos de negócios por centenas de milhares de anos.
66:5.13 (747.3) 6. O colegiado da religião revelada. Esse corpo tinha um funcionamento de efeito lento. A civilização de Urântia era literalmente forjada entre a bigorna da necessidade e os martelos do medo. Esse grupo, porém, tinha conseguido um progresso considerável nas suas tentativas de substituir o medo do Criador pelo medo da criatura (o culto dos fantasmas), quando os seus trabalhos foram interrompidos pelas desordens que vieram junto com a sublevação da secessão. O dirigente desse conselho era Hap.
66:5.14 (747.4) Nenhum membro do corpo de assessores do Príncipe apresentaria revelações que complicassem a evolução; eles apresentavam a revelação apenas como uma culminância, depois de se haverem esgotado as forças da evolução. Hap, contudo, cedeu ao desejo dos habitantes da cidade, para o estabelecimento de uma forma de serviço religioso. O seu grupo proveu os dalamatianos com os sete cânticos do culto de adoração e também deu a eles a frase laudatória diária e finalmente ensinou a eles “a oração do Pai”, que era:
66:5.15 (747.5) “Pai de todos, cujo Filho honramos, olha por nós com favor. Livra-nos do medo de todos, exceto de Ti. Faze com que sejamos um prazer para os nossos mestres divinos e, para sempre, coloca a verdade nos nossos lábios. Livra-nos da violência e da raiva; dá-nos respeito pelos mais velhos e por tudo o que pertença aos nossos vizinhos. Dá-nos pastos verdes, nesta estação, e rebanhos frutíferos para alegrar os nossos corações. Oramos para a rápida chegada do prometido elevador das raças e, pois, queremos fazer a vossa vontade neste mundo, como os outros a fazem em mundos longínquos”.
66:5.16 (747.6) Embora o corpo de assessores do Príncipe se limitasse a meios naturais e métodos comuns de melhora da raça, ele manteve a promessa da dádiva Adâmica de uma nova raça como meta do crescimento evolucionário, depois que o desenvolvimento biológico houvesse chegado ao seu apogeu.
66:5.17 (747.7) 7. Os guardiães da saúde e da vida. Esse conselho ocupava-se com a introdução de um sistema sanitário e com a promoção de medidas primitivas de higiene, e era liderado por Lut.
66:5.18 (747.8) Os seus membros ensinaram muitas coisas que foram perdidas durante a confusão das idades subseqüentes, e que nunca foram redescobertas até o século vinte. Eles ensinaram à humanidade que cozinhar, ferver e tostar eram meios de evitar-se a doença; e também que cozinhar reduzia grandemente a mortalidade infantil e antecipava o desmamar.
66:5.19 (747.9) Muitos dos primeiros ensinamentos dos guardiães de Lut sobre a saúde perduraram entre as tribos da Terra, até os dias de Moisés, embora se hajam tornado muito deturpados e grandemente alterados.
66:5.20 (748.1) O principal obstáculo contra a promoção da higiene entre esses povos ignorantes consistia no fato de que as causas reais de muitas doenças eram pequenas demais para serem vistas a olho nu, e também porque eles todos encaravam o fogo de um modo supersticioso. Foram necessários milhares de anos para persuadi-los a queimar os detritos. Nesse meio tempo, era necessário obrigá-los quase a enterrar o seu lixo em putrefação. O grande avanço sanitário dessa época veio com a disseminação do conhecimento a respeito da luz do sol, das suas propriedades provedoras de saúde e destruidoras de doenças.
66:5.21 (748.2) Antes da chegada do Príncipe, o banho havia sido uma cerimônia exclusivamente religiosa. De fato, era difícil persuadir os homens primitivos a lavar os seus corpos como uma prática saudável. Lut finalmente induziu os instrutores religiosos a incluir a limpeza com a água como parte das cerimônias de purificação a serem praticadas junto com as devoções do meio-dia, uma vez por semana, durante a adoração ao Pai de todos.
66:5.22 (748.3) Esses guardiães da saúde também buscaram introduzir o aperto de mão em substituição à troca de saliva e o beber do sangue, para selar a amizade pessoal e como uma demonstração de lealdade grupal. Todavia, quando fora da pressão compulsiva dos ensinamentos dos seus líderes superiores, esses povos primitivos não hesitavam em voltar às suas antigas práticas ignorantes e supersticiosas, que abalavam a saúde e aumentavam as doenças.
66:5.23 (748.4) 8. O conselho planetário de arte e ciência. Esse corpo muito fez para aperfeiçoar as técnicas industriais do homem primitivo e para elevar os seus conceitos de beleza. O seu líder era Mek.
66:5.24 (748.5) A arte e a ciência estavam em um nível muito baixo no mundo, mas os rudimentos da física e da química foram ensinados aos dalamatianos. A cerâmica estava avançada, as artes decorativas foram todas aperfeiçoadas, e os ideais da beleza humana foram grandemente elevados. A música, entretanto, pouco progrediu antes da vinda da raça violeta.
66:5.25 (748.6) Esses homens primitivos não consentiriam em experimentar a força do vapor, a despeito das repetidas estimulações dos seus instrutores; eles nunca puderam vencer o seu grande medo do poder explosivo do vapor confinado. Contudo, eles foram finalmente persuadidos a trabalhar com os metais e o fogo, se bem que uma peça de metal rubro de calor fosse um objeto aterrorizante para o homem primitivo.
66:5.26 (748.7) Mek fez muito para o avanço da cultura dos andonitas e para aprimorar a arte do homem azul. Uma combinação do homem azul com a linhagem de Andon produziu um tipo artisticamente dotado, e muitos deles tornaram-se escultores-mestres. Eles não trabalhavam na pedra nem no mármore, mas os seus trabalhos em argila, endurecidos no forno, adornavam os jardins da Dalamátia.
66:5.27 (748.8) Um grande progresso foi feito nas artes caseiras, a maioria das quais se perderam nas longas idades de sombras da rebelião, para nunca serem redescobertas até os tempos modernos.
66:5.28 (748.9) 9. Os governadores das relações tribais avançadas. Este era o grupo encarregado do trabalho de levar a sociedade humana ao nível de um estado. O seu chefe era Tut.
66:5.29 (748.10) Esses líderes contribuíram muito para provocar casamentos intertribais. Eles aconselharam os humanos a cortejar e a casar, após a devida liberação para isso, e da oportunidade plena de se conhecerem mutuamente. As danças puramente militares tornaram-se refinadas a ponto de servir a fins sociais preciosos. Muitos jogos competitivos foram introduzidos, mas esses povos antigos eram uma gente circunspeta; e o senso de humor não florescia nessas tribos primitivas. Poucas dessas práticas sobreviveram à desintegração posterior à insurreição planetária.
66:5.30 (749.1) Tut e os seus adjuntos trabalharam para promover associações grupais de natureza pacífica, para regulamentar e humanizar os assuntos da guerra, para coordenar as relações intertribais e para aprimorar os governos tribais. Na vizinhança da Dalamátia, desenvolveu-se uma cultura mais avançada, e essas relações sociais desenvolvidas em muito colaboraram para influenciar as tribos mais distantes. Todavia, o modelo de civilização que prevalecia na sede-central do Príncipe era totalmente diferente da sociedade bárbara que se desenvolvia em outros locais, do mesmo modo que a sociedade da Cidade do Cabo, nesse século vinte, na África do sul, é totalmente diferente da cultura tosca dos bosquímanos diminutos ao norte.
66:5.31 (749.2) 10. A corte suprema de coordenação tribal e de cooperação racial. Este conselho supremo era dirigido por Van e era a corte de apelação para todas as outras nove comissões especiais encarregadas da supervisão dos assuntos humanos. Esse conselho tinha uma função ampla, sendo-lhe confiadas todas as questões terrenas que não eram especificamente designadas aos outros grupos. Esse corpo seleto foi aprovado pelos Pais da Constelação de Edêntia, antes de serem autorizados a assumir as funções da corte suprema de Urântia.
66:6.1 (749.3) O grau de cultura de um mundo é medido pela herança social dos seres nativos, e a rapidez da sua expansão cultural é integralmente determinada pela capacidade dos seus habitantes de compreenderem as idéias novas e avançadas.
66:6.2 (749.4) A escravidão à tradição produz estabilidade e cooperação, pela ligação sentimental que faz do passado ao presente, entretanto, ao mesmo tempo, reprime a iniciativa e escraviza os poderes criativos da personalidade. Todo o mundo estava imobilizado pela rigidez do apego aos costumes tradicionais, quando os cem de Caligástia chegaram e começaram a proclamação do novo ensinamento da iniciativa individual, em meio aos grupos sociais daquela época. Contudo, essa regra benéfica foi interrompida de um modo tão rápido que as raças nunca se liberaram inteiramente da escravidão aos costumes; e os modismos continuam ainda dominando Urântia de um modo indevido.
66:6.3 (749.5) Os cem de Caligástia — graduados dos mundos das mansões de Satânia — conheciam bem as artes e a cultura de Jerusém, mas esse conhecimento é quase sem valor em um planeta bárbaro povoado por seres humanos primitivos. Esses seres sábios estavam suficientemente prevenidos para não imprimirem transformações de modo súbito, nem a elevação, em massa, das raças primitivas daqueles dias. Eles compreendiam bem a evolução lenta das espécies humanas, e se abstiveram sabiamente de qualquer tentativa radical de modificar o modo de vida humano na Terra.
66:6.4 (749.6) Cada uma das dez comissões planetárias pôs-se a fazer progredir lenta e naturalmente os objetivos confiados a eles. O seu plano consistia em atrair os seres com as melhores mentes das tribos vizinhas e, após educá-los, enviá-los de volta ao seu povo, como emissários da elevação social.
66:6.5 (749.7) Jamais foram enviados emissários estrangeiros para uma raça, salvo a pedido específico daquele povo. Aqueles que trabalharam para a elevação e o avanço de uma certa tribo ou raça sempre eram nativos daquela tribo ou raça. Os cem nunca tentavam impor os hábitos e costumes de uma outra raça, ainda que superior. Eles trabalhavam sempre pacientemente, para elevar e avançar os costumes já submetidos à prova do tempo em cada raça. A gente simples de Urântia trouxe seus costumes sociais para a Dalamátia, não para trocá-los por práticas novas ou melhores, mas para tê-los elevados pelos contatos com uma cultura mais aprimorada e pela associação com mentes superiores. O processo era lento, mas muito eficiente.
66:6.6 (750.1) Os educadores da Dalamátia procuravam acrescentar a seleção social consciente à seleção puramente natural da evolução biológica. Eles não desregraram a sociedade humana, mas aceleraram acentuadamente a sua evolução normal e natural. O seu motivo era o progresso por meio da evolução, e não a revolução por meio da revelação. A raça humana havia demorado idades para adquirir a pouca religião e a moral que tinha e esses supra-homens eram por demais conscientes para tirar da humanidade esses poucos avanços criando a confusão e a consternação que sempre resultam quando seres esclarecidos e superiores têm a intenção de elevar raças atrasadas, dando-lhes ensinamentos e esclarecimentos excessivos.
66:6.7 (750.2) Quando vão ao coração da África, onde os filhos e filhas devem permanecer sob o controle e a direção dos pais durante toda a vida, os missionários cristãos levam apenas confusão e ruptura de toda autoridade, quando buscam, em uma única geração, suplantar aquela prática, ensinando aos filhos que eles deveriam ser livres de toda restrição dos pais, após atingirem a idade de vinte e um anos.
66:7.1 (750.3) A sede-central do Príncipe era inteiramente modesta, embora de uma rara beleza, e projetada de modo a inspirar o respeito dos homens primitivos daquela época. Os edifícios não eram especialmente grandes, pois o motivo desses educadores importados era encorajar o desenvolvimento ulterior da agricultura por meio da introdução da criação de animais. As reservas de terras, dentro das muralhas da cidade, eram suficientes para comportar os pastos e a horticultura, para abastecerem uma população de cerca de vinte mil habitantes.
66:7.2 (750.4) O interior do templo central de adoração e das dez mansões dos conselhos dos grupos supervisores de supra-homens eram de fato belas obras de arte. E, ao mesmo tempo em que os prédios residenciais eram modelos de ordem e limpeza, tudo era muito simples e inteiramente primitivo, em comparação com os desenvolvimentos posteriores. Nessa sede-central de cultura, não eram empregados métodos que não pertencessem naturalmente a Urântia.
66:7.3 (750.5) O grupo corpóreo de assessores do Príncipe dispunha de moradas que, sendo simples, mas exemplares, eram mantidas como lares destinados a inspirar e a impressionar favoravelmente os estudantes observadores que estagiavam no centro social e sede educacional do mundo.
66:7.4 (750.6) A ordem definida da vida familiar, com toda a família vivendo reunida em uma residência, em um local relativamente estabelecido, data dessa época da Dalamátia e veio principalmente devido ao exemplo e aos ensinamentos dos cem e dos seus alunos. O lar como uma unidade social nunca se tornou um sucesso, antes que os supra-homens e as supramulheres da Dalamátia houvessem levado a humanidade a amar e planejar, para os seus netos e para os filhos dos seus netos. O homem selvagem ama os seus filhos, mas o homem civilizado ama também os seus netos.
66:7.5 (750.7) Os assessores do Príncipe viviam juntos, como pais e mães. É verdade que eles não tinham filhos próprios, mas os cinqüenta lares-modelo da Dalamátia nunca abrigaram menos do que quinhentas crianças adotadas, selecionadas junto às famílias superiores das raças andônicas e sangiques; muitas dessas crianças eram órfãs. E eram favorecidas pela disciplina e o aperfeiçoamento desses superpais; e então, após três anos nas escolas do Príncipe, onde entravam dos treze aos quinze anos, tornavam-se capazes para o casamento e prontas para receber as suas incumbências como emissários do Príncipe junto às tribos necessitadas das respectivas raças.
66:7.6 (751.1) Fad patrocinou o plano de educação da Dalamátia, executado como uma escola industrial na qual os alunos aprendiam fazendo e, por intermédio da qual, se formavam realizando as tarefas diárias necessárias. Esse plano de educação não ignorava o pensar e o sentir para o desenvolvimento do caráter; mas colocava o aperfeiçoamento manual em primeiro lugar. A instrução era individual e coletiva. Os alunos recebiam ensinamentos tanto dos homens quanto das mulheres, e também de uns e outros, atuando em conjunto. A metade da instrução desse grupo era separada por sexo; a outra metade era de educação mista. Os estudantes ganhavam destreza manual individualmente e, em grupos ou classes, eles socializavam-se. Eram educados para confraternizar com grupos mais jovens, grupos de adultos e de mais velhos, bem como para fazer trabalhos em equipe com os da mesma idade. Também estavam familiarizados com associações tais como os grupos familiares e equipes para jogos e classes escolares.
66:7.7 (751.2) Entre os últimos estudantes educados na Mesopotâmia para trabalhar com as suas raças respectivas, estavam os andonitas dos planaltos da Índia ocidental, junto com os representantes dos homens vermelhos e dos homens azuis; e, posteriormente, um pequeno número dos da raça amarela foi também recebido.
66:7.8 (751.3) Hap presenteou as raças primitivas com uma lei moral. Esse código era conhecido como “O caminho do Pai” e consistia dos sete mandamentos seguintes:
66:7.9 (751.4) 1. Não temerás nem servirás a nenhum Deus, senão ao Pai de todos.
66:7.10 (751.5) 2. Não desobedecerás ao Filho do Pai, o governante do mundo, nem faltarás com o respeito aos seus assessores supra-humanos.
66:7.11 (751.6) 3. Não mentirás quando fores chamado perante os juízes do povo.
66:7.12 (751.7) 4. Não matarás nem homens, nem mulheres, nem crianças.
66:7.13 (751.8) 5. Não roubarás nem os bens, nem o gado do teu vizinho.
66:7.14 (751.9) 6. Não tocarás na mulher do teu amigo.
66:7.15 (751.10) 7. Não faltarás com o respeito aos teus pais nem aos mais velhos da tribo.
66:7.16 (751.11) Essa foi a lei da Dalamátia por quase trezentos mil anos. E muitas das pedras sobre as quais essa lei estava gravada agora repousam sob as águas em locais distantes das margens da Mesopotâmia e da Pérsia. Tornou-se costume ter um desses mandamentos mentalizados a cada dia da semana, usando-o para saudações e ação de graças nas horas das refeições.
66:7.17 (751.12) A medida de tempo daqueles dias era o mês lunar, sendo esse período considerado como tendo vinte e oito dias. Essa foi, com exceção do dia e da noite, a única medida de tempo que esses povos primitivos conheceram. A semana de sete dias foi introduzida pelos educadores da Dalamátia e surgiu do fato de que sete era um quarto de vinte e oito. O significado do número sete no superuniverso, sem dúvida, ofereceu-lhes a oportunidade de inserir um motivo espiritual no modo comum de considerar o tempo. Contudo, o período de uma semana não tem uma origem na natureza.
66:7.18 (751.13) O campo em volta da cidade era bem colonizado, em um raio de cento e sessenta quilômetros. Na periferia imediata da cidade, centenas de alunos graduados das escolas do Príncipe empenhavam-se na criação de animais e, por outro lado, aplicavam as instruções que haviam recebido dos seus assessores e dos seus numerosos ajudantes humanos. Uns poucos cuidavam da agricultura e da horticultura.
66:7.19 (751.14) A humanidade não se dedicou à árdua tarefa da agricultura como um castigo de um suposto pecado. “Comerás dos frutos dos campos criados com o suor da tua fronte” não foi uma sentença de punição pronunciada por causa da participação do homem nas loucuras da rebelião de Lúcifer, sob a liderança do traiçoeiro Caligástia. O cultivo do solo é inerente ao estabelecimento de uma civilização avançada nos mundos evolucionários, e essa injunção foi o centro de toda a educação do Príncipe Planetário e do seu corpo de assessores, durante os trezentos mil anos que se interpuseram entre a sua chegada em Urântia e os dias trágicos em que Caligástia tomou o partido do rebelde Lúcifer. O trabalho com o solo não é uma maldição; é, antes, a mais alta bênção para todos aqueles a quem é permitido assim desfrutar da mais humana de todas as atividades do homem.
66:7.20 (752.1) No alvorecer da rebelião, a Dalamátia tinha uma população residente de quase seis mil habitantes. Esse número inclui os estudantes regulares, mas não abrange os visitantes e observadores, cujo número chegava sempre a mais de mil. Vós só podeis ter, contudo, pouca ou nenhuma idéia do progresso maravilhoso daqueles tempos distantes: praticamente todos os benefícios maravilhosos ganhos pela humanidade, naqueles dias, ficaram no esquecimento depois da horrível confusão e da escuridão espiritual abjeta que se seguiu à sedição e ao erro catastrófico de Caligástia.
66:8.1 (752.2) Ao recordar-nos da longa carreira de Caligástia, encontramos apenas uma característica que se destaca na sua conduta que poderia ser digna de atenção; ele era ultra-individualista. Tinha a tendência de tomar o partido de quase todos os protestos e, em geral, tinha simpatia por aqueles que davam expressão moderada a críticas implícitas. Detectamos o início do aparecimento dessa tendência de inquietude sob qualquer autoridade, de ressentir-se moderadamente de todas as formas de supervisão. Embora ligeiramente ofendido sob o aconselhamento dos mais experientes, e apesar de ficar impaciente de algum modo sob a autoridade superior, no entanto, quando teve de ser feito um teste, ele sempre demonstrou lealdade aos governantes do universo e obediência aos mandados dos Pais da Constelação. Nenhuma falta real foi jamais encontrada nele, até a época da sua vergonhosa traição a Urântia.
66:8.2 (752.3) Deveria ficar destacado que tanto Lúcifer quanto Caligástia haviam sido pacientemente instruídos e prevenidos afetuosamente sobre as suas tendências para as críticas e sobre o desenvolvimento sutil do orgulho do ego e, conseqüentemente, sobre o sentimento exagerado de auto-importância. Todavia, todos esses esforços para ajudá-los foram interpretados por eles como críticas sem fundamento e como interferências injustificadas nas suas liberdades pessoais. Ambos, Caligástia e Lúcifer julgavam que os seus conselheiros amigáveis estavam animados pelos mesmos motivos repreensíveis que começavam a dominar os seus próprios pensamentos distorcidos e os seus planos desviados. Eles julgaram os seus conselheiros altruístas segundo os seus próprios conceitos, cada vez mais egoístas.
66:8.3 (752.4) Desde a chegada do Príncipe Caligástia, a civilização planetária progrediu de um modo bastante normal por quase trezentos mil anos. Independentemente de ser uma esfera de modificação de vida e, portanto, sujeita a numerosas irregularidades e episódios inusitados de inconstância evolucionária, Urântia progrediu muito satisfatoriamente durante a sua carreira planetária até os tempos da rebelião de Lúcifer e da concomitante traição de Caligástia. Toda a história subseqüente foi definitivamente modificada por esse erro catastrófico, bem como pela posterior falta de Adão e Eva ao descumprirem a sua missão planetária.
66:8.4 (752.5) O Príncipe de Urântia ingressou nas trevas na época da rebelião de Lúcifer, precipitando, assim, uma longa confusão no planeta. E ficou, subseqüentemente, privado da autoridade de soberano pela ação coordenada dos governantes da constelação e de outras autoridades do universo. Ele participou das vicissitudes inevitáveis da isolada Urântia até o tempo da permanência de Adão no planeta, e contribuiu, em parte, para o fracasso do plano de elevar as raças mortais por meio da infusão do sangue vital da nova raça, a violeta — composta de descendentes diretos de Adão e Eva.
66:8.5 (753.1) O poder que o Príncipe caído tinha de perturbar os assuntos humanos foi enormemente restringido pela encarnação mortal de Maquiventa Melquisedeque, nos dias de Abraão; e, subseqüentemente, durante a vida de Michael na carne, esse Príncipe traidor foi finalmente despojado de toda a sua autoridade em Urântia.
66:8.6 (753.2) A doutrina de um diabo pessoal em Urântia, se bem que tenha algum fundamento, por causa da presença planetária do traidor e iníquo Caligástia, é, contudo, totalmente fictícia, quando apregoa que um tal “diabo” poderia influenciar a mente normal humana contra a sua escolha livre e natural. Mesmo antes da auto-outorga de Michael em Urântia, nem Caligástia nem Daligástia jamais foram capazes de oprimir os mortais, nem de coagir nenhum indivíduo normal a fazer qualquer coisa contra a sua vontade humana. O livre-arbítrio do homem é supremo nos assuntos morais; até mesmo o Ajustador do Pensamento residente recusa-se a compelir o homem a adotar sequer um único pensamento ou cometer um único ato contra a própria escolha da vontade do ser humano.
66:8.7 (753.3) E esse rebelde do reino, agora despojado de todo o poder de ser nocivo aos seus anteriores súditos, aguarda o julgamento final, a ser feito pelos Anciães dos Dias de Uversa; julgamento de todos aqueles que participaram da rebelião de Lúcifer.
66:8.8 (753.4) [Apresentado por um Melquisedeque de Nébadon.]
O Livro de Urântia
Documento 67
67:0.1 (754.1) OS PROBLEMAS relacionados à existência humana em Urântia são impossíveis de ser compreendidos sem um conhecimento de certas grandes épocas do passado, sobretudo a ocorrência da rebelião planetária e suas conseqüências. Embora esse levante não haja interferido seriamente no progresso da evolução orgânica, ele modificou acentuadamente o curso da evolução social e do desenvolvimento espiritual. Toda a história suprafísica do planeta foi profundamente influenciada por essa devastadora calamidade.
67:1.1 (754.2) Por trezentos mil anos, Caligástia havia atuado como encarregado de Urântia, quando Satã, o assistente de Lúcifer, fez uma das suas visitas periódicas de inspeção. E, quando Satã chegou a este planeta, a sua aparência de nenhum modo assemelhava-se às vossas caricaturas de majestade nefasta. Ele era, e ainda é, um Filho Lanonandeque de grande brilho. “E não é de se espantar, pois o próprio Satã é uma brilhante criatura de luz.”
67:1.2 (754.3) No decurso dessa inspeção, Satã informou a Caligástia que Lúcifer então propunha uma “Declaração de Liberdade”; e, como sabemos agora, o Príncipe concordou em trair o planeta, quando do anúncio da rebelião. As personalidades leais do universo demonstram ter um desdém peculiar pelo Príncipe Caligástia, pelo motivo da sua traição premeditada da confiança. O Filho Criador falou desse desprezo, quando disse: “Tu és como Lúcifer, o teu líder, pois tu perpetraste a iniqüidade dele de um modo culpável. Ele foi um falsificador desde o princípio, quando se auto-exaltava, porque não estava com a verdade”.
67:1.3 (754.4) Em todo o trabalho administrativo de um universo local, nenhum cargo é de confiança mais sagrada do que a fidelidade esperada de um Príncipe Planetário, que assume a responsabilidade pelo bem-estar e pela orientação dos mortais em evolução, em um mundo recentemente habitado. E, de todas as formas do mal, nenhuma é mais destrutiva para a constituição da personalidade do que a traição da confiança e a deslealdade à confiança dos amigos. Ao cometer deliberadamente esse pecado, Caligástia distorceu tão completamente a sua personalidade que a sua mente nunca mais foi capaz de recuperar plenamente o equilíbrio.
67:1.4 (754.5) Há muitas maneiras de ver o pecado, mas, do ponto de vista filosófico do universo, o pecado é a atitude de uma personalidade que está conscientemente resistindo a aceitar a realidade cósmica. O erro poderia ser considerado como uma concepção errônea ou uma distorção da realidade. O mal é uma compreensão parcial das realidades do universo, ou um ajustamento defeituoso a elas. O pecado, porém, é uma resistência proposital à realidade divina — uma escolha consciente de opor-se ao progresso espiritual — , ao passo que a iniqüidade consiste em um desafio aberto e persistente da realidade reconhecida, e significa um tal grau de desintegração da personalidade que beira a insanidade cósmica.
67:1.5 (755.1) O erro sugere uma falta de agudez intelectual; o mal, uma deficiência de sabedoria; o pecado, uma pobreza espiritual abjeta; a iniqüidade, todavia, indica o desaparecimento do controle da personalidade.
67:1.6 (755.2) E, quando o pecado, por tantas vezes, é escolhido e tão freqüentemente repetido, ele pode tornar-se habitual. Os pecadores habituais podem facilmente tornar-se iníquos, podem tornar-se rebeldes, com todo o seu ser, contra o universo e todas as suas realidades divinas. Ao mesmo tempo em que todas as formas de pecado podem ser perdoadas, duvidamos que o iníquo estabelecido possa jamais sentir um arrependimento sincero pelos seus erros ou aceitar o perdão pelos seus pecados.
67:2.1 (755.3) Pouco depois da inspeção de Satã, e quando a administração planetária estava às vésperas da realização de grandes coisas em Urântia, um dia, no meio do inverno dos continentes nórdicos, Caligástia teve uma conversa prolongada com o seu adjunto, Daligástia, depois da qual este último convocou os dez conselhos de Urântia para uma sessão extraordinária. Essa reunião foi aberta com a declaração de que o Príncipe Caligástia estava prestes a proclamar, a si próprio, o soberano absoluto de Urântia e exigia que todos os grupos administrativos abdicassem, colocando todas as suas funções e poderes nas mãos de Daligástia, designado como responsável, enquanto se fazia a reorganização do governo planetário e a redistribuição posterior desses cargos de autoridade administrativa.
67:2.2 (755.4) A apresentação dessa exigência surpreendente foi seguida pelo apelo magistral de Van, presidente do conselho supremo de coordenação. Esse eminente administrador e jurista de talento qualificou o decorrer da proposta de Caligástia como um ato que beirava a rebelião planetária e exortou os presentes a abster-se de toda participação, até que um apelo pudesse ser levado a Lúcifer, o Soberano do Sistema de Satânia. E este ganhou o apoio de todo o corpo de assessores. Em conseqüência, o apelo foi levado a Jerusém, de onde vieram ordens que designavam Caligástia como o supremo soberano de Urântia e que demandavam obediência absoluta e inquestionável aos mandados dele. E foi em resposta a essa surpreendente mensagem que o nobre Van fez o seu memorável discurso de sete horas de duração, no qual ele formalmente fazia a acusação de que Daligástia, Caligástia, e Lúcifer estavam desacatando a soberania do universo de Nébadon; e ele apelava para o apoio e a confirmação dos Altíssimos de Edêntia.
67:2.3 (755.5) Nesse ínterim, os circuitos do sistema foram cortados; Urântia estava isolada. Todos os grupos de vida celeste no planeta viram-se isolados subitamente e sem aviso, inteiramente privados, portanto, de todo conselho e aviso externo.
67:2.4 (755.6) Daligástia formalmente proclamou Caligástia o “Deus de Urântia e supremo perante todos”. Diante dessa proclamação, as questões ficavam claramente delineadas; e cada grupo separou-se de per si e deu início a deliberações, a discussões destinadas finalmente a determinar a sorte de cada personalidade supra-humana no planeta.
67:2.5 (755.7) Serafins, querubins e outros seres celestes estavam envolvidos nas decisões dessa luta amarga, desse conflito longo e pecaminoso. Muitos grupos supra-humanos que estavam em Urântia por acaso, na ocasião desse isolamento, ficaram detidos aqui e, como os serafins e os seus colaboradores, se viram obrigados a escolher entre o pecado e a retidão — entre os caminhos de Lúcifer e a vontade do Pai não visível.
67:2.6 (756.1) Por mais de sete anos, essa luta continuou. E as autoridades de Edêntia não quiseram interferir, nem intervir, enquanto todas as personalidades envolvidas não houvessem ainda tomado a sua decisão final. E Van, e os seus leais companheiros, só então receberam uma justificativa e foram liberados da sua prolongada ansiedade e expectativa intolerável.
67:3.1 (756.2) O eclodir da rebelião em Jerusém, a capital de Satânia, foi difundido pelo conselho Melquisedeque. Os Melquisedeques emergenciais foram imediatamente despachados para Jerusém; e Gabriel fez-se voluntário para atuar como representante do Filho Criador, cuja autoridade tinha sido desafiada. Junto com a teletransmissão do fato da rebelião, em Satânia, o sistema ficou isolado dos sistemas irmãos, em quarentena. Havia “guerra nos céus”, na sede-central de Satânia, e essa se espalhou até todos os planetas no sistema local.
67:3.2 (756.3) Em Urântia, quarenta membros do corpo dos cem assessores corpóreos (incluindo Van) recusaram-se a se unir à insurreição. Muitos dos assistentes humanos do corpo de assessores (os modificados e outros) foram também defensores bravos e nobres de Michael e do seu governo no universo. Houve uma perda terrível de personalidades, entre os serafins e os querubins. Quase a metade dos serafins administradores e de transição, designados para o planeta, ficou com o seu líder e com Daligástia, em apoio à causa de Lúcifer. Quarenta mil e cento e dezenove das criaturas intermediárias primárias deram as suas mãos a Caligástia, mas o restante desses seres permaneceu fiel à missão a eles confiada.
67:3.3 (756.4) O Príncipe traidor reuniu as criaturas intermediárias desleais e os outros grupos de personalidades rebeldes e organizou-os para executar as suas ordens, enquanto Van reunia as criaturas intermediárias leais e os outros grupos fiéis e começou a grande batalha para a salvação do corpo planetário de assessores e outras personalidades celestes ilhadas em Urântia.
67:3.4 (756.5) Durante os tempos dessa luta, os grupos leais moraram em um acantonamento sem muros e mal-protegido, a uns poucos quilômetros a leste de Dalamátia, mas as suas habitações eram guardadas dia e noite pelas criaturas intermediárias leais, sempre vigilantes e alertas, e eles tinham consigo a posse da inestimável árvore da vida.
67:3.5 (756.6) No eclodir da rebelião, os querubins e os serafins leais, com a ajuda de três criaturas intermediárias fiéis, assumiram a custódia da árvore da vida e permitiram apenas que os quarenta membros leais do corpo de assessores e os seus companheiros mortais modificados tivessem acesso à fruta e às folhas dessa planta energética. Era de cinqüenta e seis o número desses andonitas modificados associados ao corpo de assessores leais, pois dezesseis dos assistentes andonitas dos assessores desleais também recusaram-se a entrar na rebelião com os seus mestres.
67:3.6 (756.7) Durante os sete anos cruciais da rebelião de Caligástia, Van permaneceu totalmente devotado ao trabalho de servir à sua armada leal de homens, criaturas intermediárias e anjos. A clarividência espiritual e a constância moral que capacitaram Van a manter uma atitude tão inabalável de lealdade ao governo do universo foram o produto de: pensamento claro, raciocínio sábio, julgamento lógico, motivação sincera, propósito não-egoísta, lealdade inteligente, memória experiencial, um caráter disciplinado e uma consagração inquestionável da sua personalidade a cumprir a vontade do Pai no Paraíso.
67:3.7 (756.8) Essa espera de sete anos foi um tempo de exame de consciência e de disciplina de alma. Crises como essas, nos assuntos de um universo, demonstram a tremenda influência da mente como um fator na escolha espiritual. A educação, o aperfeiçoamento e a experiência são fatores preponderantes para a maioria das decisões vitais de todas as criaturas morais evolucionárias. É, porém, inteiramente possível ao espírito residente fazer contato direto com os poderes determinantes da decisão da personalidade humana, de modo a dotar a vontade totalmente consagrada da criatura com o poder de realizar atos extraordinários de leal devoção à vontade e ao caminho do Pai no Paraíso. E isso foi exatamente o que ocorreu na experiência de Amadon, o humano modificado ligado a Van.
67:3.8 (757.1) Amadon é o herói humano que se destaca na rebelião de Lúcifer. Este descendente masculino de Andon e Fonta foi um dos cem que contribuíram com o plasma da vida para o corpo de assessores do Príncipe e, desde aquele acontecimento, esteve ele ligado a Van como companheiro e assistente humano. Amadon escolheu permanecer com o seu chefe durante a luta prolongada e penosa. E foi uma visão inspiradora contemplar esse filho das raças evolucionárias mantendo-se inarredável diante dos sofismas de Daligástia; pois, durante a luta de sete anos, Amadon e os seus leais colaboradores resistiram como uma fortaleza inquebrantável a todos os ensinamentos enganosos do brilhante Caligástia.
67:3.9 (757.2) Caligástia, com um máximo de inteligência e uma vasta experiência nos assuntos do universo, desviou-se — abraçou o pecado. Amadon, com um mínimo de inteligência e totalmente desprovido de experiência do universo, permaneceu firme no serviço do universo e em lealdade ao seu companheiro. Van utilizou tanto a mente quanto o espírito, em uma combinação magnífica e eficiente de determinação intelectual e de clarividência espiritual, alcançando, com isso, um nível experimental de realização de personalidade da ordem mais elevada que se pode atingir. A mente e o espírito, quando totalmente unidos, têm o potencial para a criação de valores supra-humanos, e até mesmo de realidades moronciais.
67:3.10 (757.3) Uma récita dos acontecimentos sensacionais, sobre esses dias trágicos, não teria um fim. Afinal, porém, a última personalidade envolvida tomou a decisão definitiva final e, então, mas apenas então, chegou um Altíssimo de Edêntia com os Melquisedeques emergenciais, para assumir a autoridade em Urântia. Os anais panorâmicos do reino de Caligástia em Jerusém foram apagados, e foi inaugurada a era probacionária da reabilitação planetária.
67:4.1 (757.4) Quando foi feita a chamada final, constatou-se que os membros corpóreos do corpo de assessores do Príncipe haviam-se alinhado do modo seguinte: Van e todos os membros da sua corte de coordenação haviam permanecido leais. Ang e três dos membros do conselho de alimentação haviam sobrevivido. A junta de domesticação de animais foi toda arrastada pela rebelião, como foram todos os consultores para as conquistas de animais. Fad e cinco membros da faculdade de educação ficaram a salvo. Nod e todos da comissão de indústria e comércio uniram-se a Caligástia. Hap e todo o colégio da religião revelada permaneceram leais junto com Van e o seu nobre grupo. Lut e todo o conselho de saúde foram perdidos. O conselho de arte e de ciência permaneceu leal na sua totalidade, mas Tut e a comissão de governo tribal desviaram-se. Assim, pois, quarenta dos cem foram salvos e, mais tarde, transferidos para Jerusém, onde retomaram a sua carreira de ida até o Paraíso.
67:4.2 (757.5) Os sessenta membros do corpo planetário de assessores que se uniram à rebelião escolheram Nod como o seu líder. Trabalharam de todo o coração para o Príncipe rebelde, mas logo descobriram que estavam privados da sustentação dos circuitos de vida do sistema. E despertaram para o fato de que se haviam degradado até o status de seres mortais. Eles eram de fato supra-humanos, mas, ao mesmo tempo, materiais e mortais. No esforço para aumentar o número deles, Daligástia ordenou que recorressem imediatamente à reprodução sexual, sabendo muito bem que os sessenta originais e os seus quarenta e quatro colaboradores andonitas modificados estavam condenados a sofrer a extinção por morte, mais cedo ou mais tarde. Depois da queda da Dalamátia, a parte desleal do corpo de assessores migrou para o norte e para o leste. Os seus descendentes ficaram conhecidos por muito tempo como os noditas, e o seu local de morada como “a terra de Nod”.
67:4.3 (758.1) A presença desses extraordinários supra-homens e supramulheres, abandonados pela rebelião e unindo-se agora aos filhos e filhas da Terra, obviamente deu origem àquelas histórias tradicionais dos deuses descendo para reproduzir-se com os mortais. E assim originaram-se as mil e uma lendas de natureza mítica, baseadas apenas nos fatos dos dias pós-rebelião e que posteriormente encontraram um lugar nas lendas e tradições folclóricas dos vários povos cujos ancestrais tinham tido esse tipo de contato com os noditas e os seus descendentes.
67:4.4 (758.2) O grupo dos assessores rebeldes, privado da subsistência espiritual, finalmente teve morte natural. E a idolatria subseqüente das raças humanas, em grande parte, teve a sua origem no desejo de perpetuar a memória desses seres altamente enaltecidos dos dias de Caligástia.
67:4.5 (758.3) Quando o corpo dos cem assessores veio para Urântia, eles estavam temporariamente separados dos seus Ajustadores do Pensamento. Imediatamente depois da chegada dos administradores Melquisedeques, as personalidades leais (exceto Van) foram reenviadas a Jerusém e foram religadas aos seus Ajustadores, que estavam aguardando. Não conhecemos a sorte dos sessenta assessores rebeldes; os Ajustadores deles ainda permanecem em Jerusém. As questões, sem dúvida, ficarão como estão até que toda a rebelião de Lúcifer seja finalmente julgada e até que seja decretada a sorte de todos os seus participantes.
67:4.6 (758.4) Foi muito difícil para os seres como os anjos e as criaturas intermediárias conceberem que governantes brilhantes e de confiança como Caligástia e Daligástia pudessem desviar-se — cometendo o pecado da traição. Aqueles seres que caíram em pecado — não entraram deliberada ou premeditadamente na rebelião — foram desencaminhados pelos seus superiores, enganados pelos líderes em quem confiavam. E do mesmo modo foi fácil ganhar o apoio dos mortais evolucionários de mentalidade primitiva.
67:4.7 (758.5) A grande maioria dos seres humanos e supra-humanos que foram vítimas da rebelião de Lúcifer em Jerusém e nos vários planetas desviados, há muito já se arrependeram sinceramente da própria loucura; e acreditamos verdadeiramente que todos esses penitentes sinceros sejam reabilitados de alguma forma e reintegrados, em alguma fase do serviço no universo, quando os Anciães dos Dias finalmente completarem o recém-iniciado julgamento dos assuntos da rebelião de Satânia.
67:5.1 (758.6) Uma grande confusão reinou na Dalamátia e nas suas imediações, por quase cinqüenta anos depois da instigação da rebelião. Foi feita uma tentativa de reorganização completa e radical de todo o mundo; a revolução tomou o lugar da evolução, como política de avanço cultural e de aperfeiçoamento racial. Surgiu, entre os residentes superiores e parcialmente educados de Dalamátia e nas proximidades, um súbito avanço no status cultural, mas, quando esses métodos novos e radicais foram experimentados nos povos mais distantes, uma confusão indescritível e um pandemônio racial foi o resultado imediato. A liberdade foi rapidamente interpretada como licença pelos homens primitivos semi-evoluídos daqueles dias.
67:5.2 (758.7) Logo depois da rebelião, todo o corpo rebelde de assessores engajou-se em uma defesa enérgica da cidade, contra as hordas de semi-selvagens que sitiaram as suas muralhas, em conseqüência das doutrinas de liberdade que lhes haviam sido prematuramente ensinadas. E, anos antes que a magnífica sede-central do governo submergisse sob as ondas vindas do sul, as tribos maldirigidas e mal-instruídas do interior da Dalamátia, em assalto selvagens, já haviam caído sobre a esplêndida cidade, expulsando para o norte o corpo de assessores da secessão e os seus colaboradores.
67:5.3 (759.1) O esquema de Caligástia para a reconstrução imediata da sociedade humana, de acordo com as suas idéias de liberdade individual e grupal, demonstrou-se um fracasso e, de certo modo, rápida e totalmente. A sociedade depressa afundou de volta ao seu nível biológico antigo, e toda a luta pelo progresso começou novamente; sendo retomada não muito adiante de onde estava no começo do regime de Caligástia, pois esse levante havia deixado o mundo em uma confusão ainda pior.
67:5.4 (759.2) Cento e sessenta e dois anos depois da rebelião, uma onda de maré varreu a Dalamátia, e a sede-central do governo planetário afundou sob as águas do mar, e essa terra não emergiu de novo até que houvessem sido apagados quase todos os vestígios da nobre cultura daquelas idades esplêndidas.
67:5.5 (759.3) Quando a primeira capital do mundo foi assim tragada, ela abrigava apenas os tipos mais baixos das raças sangiques de Urântia; os renegados haviam já convertido o templo do Pai em um santuário dedicado a Nog, o falso deus da luz e do fogo.
67:6.1 (759.4) Os seguidores de Van logo se retiraram para os planaltos do oeste da Índia, onde estavam isentos dos ataques das confundidas raças das planícies. Desse local de retiro, eles planejaram a reabilitação do mundo como os seus antigos predecessores badonitas, inconscientemente, certa vez, haviam trabalhado para o bem-estar da humanidade, pouco antes dos dias do nascimento das tribos sangiques.
67:6.2 (759.5) Antes da chegada dos administradores Melquisedeques, Van colocou a administração dos assuntos humanos nas mãos de dez comissões, cada uma com quatro elementos, grupos idênticos àqueles do regime do Príncipe. Os Portadores da Vida seniores residentes assumiram a liderança temporária desse conselho de quarenta, que funcionou durante os sete anos de espera. Grupos semelhantes de amadonitas assumiram essas responsabilidades, quando os trinta e nove membros leais do corpo de assessores retornaram a Jerusém.
67:6.3 (759.6) Esses amadonitas descendiam do grupo dos 144 andonitas leais aos quais pertencia Amadon, o qual se tornou conhecido pelo seu nome. Esse grupo compreendia trinta e nove homens e cento e cinco mulheres. Cinqüenta e seis deles tinham o status de imortalidade, e todos (exceto Amadon) foram transladados junto com os membros leais do corpo de assessores. O restante desse nobre grupo continuou na Terra, até o fim dos seus dias mortais, sob a liderança de Van e Amadon. Eles foram o fermento biológico que se multiplicou e que continuou a fornecer lideranças ao mundo, durante as longas idades de trevas que se seguiram à rebelião.
67:6.4 (759.7) Van foi deixado em Urântia até o tempo de Adão, permanecendo como chefe titular de todas as personalidades supra-humanas funcionando no planeta. Ele e Amadon foram sustentados, durante mais de cento e cinqüenta mil anos, pela técnica da árvore da vida, em conjunção com a ministração especializada de vida dos Melquisedeques.
67:6.5 (759.8) Os assuntos de Urântia foram por um longo tempo administrados por um conselho de administradores planetários, composto de doze Melquisedeques, confirmado pelo mandado do regente sênior da constelação, o Pai Altíssimo de Norlatiadeque. Interassociado aos administradores Melquisedeques, havia um conselho assessor, formado por: um dos ajudantes leais do Príncipe caído, dois Portadores da Vida residentes, um Filho Trinitarizado, fazendo o seu aprendizado de aperfeiçoamento, um Filho Instrutor voluntário, um Brilhante Estrela Vespertino de Ávalon (periodicamente), os chefes dos serafins e dos querubins, os conselheiros de dois planetas vizinhos, o diretor geral da vida angélica subordinada, e Van, o comandante-chefe das criaturas intermediárias. E assim Urântia foi governada e administrada até a chegada de Adão. Não é de se estranhar que o corajoso e leal Van haja sido designado para um posto no conselho de administradores planetários o qual, por tão longo tempo, administrou os assuntos de Urântia.
67:6.6 (760.1) Os doze administradores Melquisedeques de Urântia fizeram um trabalho heróico. Eles preservaram os remanescentes da civilização, e as suas políticas planetárias foram fielmente executadas por Van. Mil anos depois da rebelião, ele mantinha mais de trezentos e cinqüenta grupos avançados espalhados em todo o mundo. Esses postos avançados de civilização consistiam, sobretudo, de descendentes dos andonitas leais, ligeiramente misturados com as raças sangiques, particularmente, os homens azuis e os noditas.
67:6.7 (760.2) Não obstante o terrível revés da rebelião existiam muitas linhagens boas e biologicamente promissoras na Terra. Sob a supervisão dos administradores Melquisedeques, Van e Amadon continuaram o trabalho de fomentar a evolução natural da raça humana, levando adiante a evolução física do homem até que se alcançasse o ponto culminante que justificasse o envio de um Filho e de uma Filha Material para Urântia.
67:6.8 (760.3) Van e Amadon permaneceram na Terra até pouco depois da chegada de Adão e Eva. Alguns anos depois disso, eles foram transladados para Jerusém onde Van foi religado ao seu Ajustador, que aguardava. Van agora serve a Urântia, enquanto espera a ordem de retomar o seu caminho bastante longo de perfeição até o Paraíso e para o destino não revelado do Corpo de Finalidade Mortal, ora em formação.
67:6.9 (760.4) Deveria ficar registrado que, quando Van apelou aos Altíssimos de Edêntia, depois de Lúcifer haver sustentado Caligástia em Urântia, os Pais da Constelação despacharam uma decisão imediata apoiando Van em todos os pontos da contenda. Esse veredicto não conseguiu chegar até Van, porque os circuitos planetários de comunicação foram cortados quando ele estava em trânsito. Só recentemente essa diretiva efetiva foi descoberta, alojada em um relé de transmissão de energia, onde ficara bloqueada desde o isolamento de Urântia. Sem essa descoberta, feita em conseqüência das investigações de criaturas intermediárias de Urântia, a liberação dessa decisão teria esperado o restabelecimento de Urântia nos circuitos da constelação. E esse acidente aparente, de comunicação interplanetária, pôde ocorrer porque os transmissores de energia podem receber e transmitir informações, mas não podem ter a iniciativa da comunicação.
67:6.10 (760.5) O status de Van, tecnicamente, nos anais jurídicos de Satânia, não foi estabelecido de fato, finalmente, senão quando essa diretriz dos Pais de Edêntia foi registrada em Jerusém.
67:7.1 (760.6) As conseqüências pessoais (centrípetas) da rejeição voluntária e persistente, que uma criatura faz da luz, são tanto inevitáveis quanto individuais, e não são senão do interesse da Deidade e da própria criatura. Essa colheita de iniqüidade, destruidora da alma, é o fruto interno da criatura volitiva iníqua.
67:7.2 (761.1) Entretanto, não acontece assim com as repercussões externas do pecado: as conseqüências impessoais (centrífugas) do abraçar do pecado são tão inevitáveis quanto coletivas, sendo do interesse de cada criatura que funciona dentro do raio de ação afetado por tais acontecimentos.
67:7.3 (761.2) Cerca de cinqüenta mil anos depois do colapso da administração planetária, os assuntos terrenos estavam tão desorganizados e atrasados que a raça humana se havia adiantado pouquíssimo em relação ao status evolucionário geral existente no tempo da chegada de Caligástia, trezentos e cinqüenta mil anos antes. Sob certos aspectos, fora feito algum progresso; em outras direções, muito terreno fora perdido.
67:7.4 (761.3) O pecado jamais tem efeitos puramente localizados. Os setores administrativos dos universos são como organismos; a condição de uma personalidade deve, em uma certa medida, ser compartilhada por todos. O pecado, sendo uma atitude da pessoa para com a realidade, está fadado a exibir a sua colheita negativa inerente sobre todo e qualquer nível relacionado de valores do universo. Contudo, as conseqüências plenas do pensamento errôneo, das ações más ou dos desígnios pecaminosos são experimentadas apenas no nível da realização propriamente dita. A transgressão de uma lei do universo pode ser fatal, no reino físico, sem envolver seriamente a mente, nem prejudicar a experiência espiritual. O pecado é carregado de conseqüências fatais para a sobrevivência da personalidade, apenas quando é uma atitude do ser por inteiro, quando representa a escolha da mente e a vontade da alma.
67:7.5 (761.4) O mal e o pecado têm suas conseqüências nos reinos material e social, e podem, algumas vezes, mesmo retardar o progresso espiritual em alguns níveis da realidade no universo, mas o pecado de um ser qualquer nunca rouba de outro a realização do direito divino da sobrevivência da personalidade. A sobrevivência eterna só pode ser colocada em perigo por decisões da mente e da escolha da alma do próprio indivíduo.
67:7.6 (761.5) O pecado em Urântia pouco fez que retardasse a evolução biológica, mas teve o efeito de privar as raças mortais do benefício pleno da herança Adâmica. O pecado retarda enormemente o desenvolvimento intelectual, o crescimento moral, o progresso social e a realização espiritual em massa. Não impede, todavia, a realização espiritual mais elevada de qualquer indivíduo que escolhe conhecer a Deus e cumprir sinceramente a Sua divina vontade.
67:7.7 (761.6) Caligástia rebelou-se, Adão e Eva cometeram uma falta, mas nenhum mortal subseqüentemente, nascido em Urântia, jamais sofreu algo na sua experiência espiritual pessoal por causa desses erros. Todos os mortais nascidos em Urântia, desde a rebelião de Caligástia, têm sido de alguma maneira penalizados no tempo, mas o bem-estar futuro dessas almas jamais foi colocado em perigo, no que quer que seja, em relação à sua eternidade. Nenhuma pessoa jamais é levada a sofrer de privação espiritual vital por causa do pecado de uma outra. O pecado é totalmente pessoal, quanto à culpa moral ou às conseqüências espirituais, não obstante possa ter as suas amplas repercussões nos domínios administrativos, intelectuais e sociais.
67:7.8 (761.7) Ainda que não possamos compreender por que a sabedoria permite essas catástrofes, podemos sempre discernir os efeitos benéficos dessas perturbações locais, quando elas são refletidas sobre o universo como um todo.
67:8.1 (761.8) Muitos seres corajosos resistiram à rebelião de Lúcifer nos vários mundos de Satânia; mas os registros de Sálvington retratam Amadon como o caráter mais destacado de todo o sistema, pela sua gloriosa rejeição das marés de sedição e pela sua devoção inquebrantável a Van — eles permaneceram juntos e determinados na sua lealdade à supremacia do Pai invisível e do seu Filho Michael.
67:8.2 (762.1) No momento desses acontecimentos memoráveis, eu permaneci em um posto em Edêntia, e ainda estou consciente da profunda alegria que provei, ao tomar conhecimento das transmissões de Sálvington que contam, dia após dia, sobre toda a firmeza incrível, a devoção transcendente e a lealdade maravilhosa desse que fora anteriormente um semi-selvagem nascido da linhagem experimental e original da raça andônica.
67:8.3 (762.2) De Edêntia a Sálvington, e mesmo até Uversa, por sete longos anos, a primeira pergunta, de toda vida celeste subordinada, a respeito da rebelião de Satânia, era ainda e sempre: “E Amadon, de Urântia, continua inarredável ainda?”
67:8.4 (762.3) Se a rebelião de Lúcifer prejudicou o sistema local e os seus mundos caídos, se a perda desse Filho e dos seus parceiros desviados obstruiu temporariamente o progresso da constelação de Norlatiadeque, então considerai o efeito imenso da que é conseqüência da atuação inspiradora desse que é um filho da natureza, e do seu grupo determinado de 143 camaradas, inquebrantáveis na luta pelos conceitos mais elevados da gestão e da administração do universo, contra a pressão tão tremenda e adversa exercida pelos seus superiores desleais. E permiti-me assegurar-vos de que tudo isso já trouxe, ao universo de Nébadon e ao superuniverso de Orvônton, um bem tão grande que não poderá jamais ser contrabalançado pela soma total de todo o mal e pesar da rebelião de Lúcifer.
67:8.5 (762.4) E é tudo uma iluminação de beleza tocante e de esplêndida magnificência da sabedoria do plano universal do Pai para mobilizar o Corpo de Finalidade Mortal do Paraíso; recrutando esse vasto grupo de servidores misteriosos do futuro, em sua maior parte provenientes da argila comum dos mortais de progressão ascendente — mortais como o invulnerável Amadon.
67:8.6 (762.5) [Apresentado por um Melquisedeque de Nébadon.]
O Livro de Urântia
Documento 68
68:0.1 (763.1) ESTE é o começo da narrativa da luta extensamente longa que a espécie humana tem travado para progredir, partindo de um status apenas ligeiramente melhor do que o de uma existência animal, passando pelas idades intermediárias e chegando aos tempos mais recentes, em que uma civilização real, ainda que imperfeita, foi desenvolvida entre as raças superiores da humanidade.
68:0.2 (763.2) A civilização é uma aquisição da raça; não é uma inerência biológica; e por isso é que todas as crianças devem ser criadas em um ambiente de cultura, e cada geração de jovens que se sucede deve receber uma nova educação. As qualidades superiores da civilização — científicas, filosóficas e religiosas — não são transmitidas de uma geração a outra pela hereditariedade direta. Essas realizações culturais são preservadas apenas pela conservação do esclarecimento na herança social.
68:0.3 (763.3) A evolução social de ordem cooperativa foi iniciada pelos instrutores da Dalamátia e, durante trezentos mil anos, a humanidade foi nutrida na idéia de atividades grupais. O homem azul, mais que todos, tirou proveito desses ensinamentos sociais, o homem vermelho, em uma certa medida, e o homem negro, menos do que todos. Em tempos mais recentes, a raça amarela, bem como a branca, têm apresentado o desenvolvimento social mais avançado de Urântia.
68:1.1 (763.4) Quando colocados em contato muito estreito, os homens freqüentemente aprendem a amar-se mutuamente, mas, no homem primitivo, o espírito do sentimento de irmandade e o desejo de contato com os seus semelhantes não fluíam naturalmente. As raças primitivas aprenderam, mais por meio de experiências tristes, que “na união, está a força”; e é essa falta de atração natural pela irmandade que agora constitui um obstáculo no caminho da realização imediata da irmandade dos homens em Urântia.
68:1.2 (763.5) Muito cedo, a associatividade transformou-se no preço da sobrevivência. O homem solitário era impotente, a menos que trouxesse uma marca tribal que testificasse que pertencia a um grupo que certamente vingar-se-ia de qualquer assalto cometido contra ele. Mesmo nos dias de Caim era fatal ir até muito longe sozinho, sem alguma marca de associação grupal. A civilização tornou-se a segurança do homem contra a morte violenta, e um alto preço é pago na submissão às inúmeras demandas das leis da sociedade.
68:1.3 (763.6) A sociedade primitiva era, então, baseada na reciprocidade das necessidades e na maior segurança das associações. E a sociedade humana evoluiu, em ciclos milenares, graças a esse medo do isolamento e por intermédio de uma cooperação relutante.
68:1.4 (763.7) Os seres humanos primitivos aprenderam, muito cedo, que os grupos são incomensuravelmente maiores e mais fortes do que a mera soma das suas unidades individuais. Cem homens unidos e trabalhando em uníssono podem mover uma grande pedra; duas dúzias de guardiães da paz bem treinados podem conter uma multidão em fúria. E, assim, a sociedade nasceu, não de um mero ajuntamento numérico, antes, porém, como resultado da organização de cooperadores inteligentes. Contudo, a cooperação não é uma característica natural do homem; ele aprende a cooperar, primeiro, por causa do medo e, então, mais tarde, porque ele descobre que um benefício maior advém de enfrentar assim as dificuldades do tempo e de se proteger contra os perigos supostos da eternidade.
68:1.5 (764.1) Os povos que se organizaram cedo desse modo, em uma sociedade primitiva, tiveram mais êxito nos seus avanços contra a natureza, bem como para defender-se dos seus semelhantes; eles tinham maiores possibilidades de sobrevivência; e, por isso, a civilização progrediu firmemente em Urântia, não obstante os seus inúmeros contratempos. E, apenas porque o valor da sobrevida ficou elevado, em conseqüência dos agrupamentos, é que os inúmeros erros do homem ainda não conseguiram parar nem destruir a civilização humana.
68:1.6 (764.2) A sociedade cultural contemporânea é um fenômeno bastante recente, e isso é mostrado, bastante bem, pela sobrevivência, nos dias atuais, de condições sociais tão primitivas como as que caracterizam os nativos australianos, os bosquímanos e os pigmeus da África. Entre esses povos atrasados, pode ser observado algo da hostilidade tribal primitiva, de suspeita pessoal, bem como outras características altamente anti-sociais que foram tão típicas de todas as raças primitivas. Esses remanescentes miseráveis, de povos não sociais de tempos antigos, são uma testemunha eloqüente do fato de que a tendência individualista natural do homem não pode ter êxito ao competir com as organizações e associações mais potentes e poderosas de progresso social. Tais raças atrasadas, cheias de desconfianças anti-sociais, que usam de um dialeto diferente a cada setenta ou oitenta quilômetros, ilustram o mundo no qual vós poderíeis estar vivendo atualmente, não fossem os ensinamentos do corpo de assessores corpóreos do Príncipe Planetário, combinados aos trabalhos posteriores do grupo Adâmico de elevadores raciais.
68:1.7 (764.3) A frase moderna “de volta à natureza” é um delírio de ignorância, uma crença na realidade de uma antiga “idade dourada” fictícia. A única base para a lenda da idade dourada são as existências históricas da Dalamátia e do Éden. Contudo, essas sociedades, ainda que aperfeiçoadas, estavam longe de ser a realização de sonhos utópicos.
68:2.1 (764.4) A sociedade civilizada é resultado dos esforços iniciais do homem para vencer a sua aversão ao isolamento. Isso, porém, não significa necessariamente qualquer afeição mútua, e o estado de turbulência atual de certos grupos primitivos ilustra bem o que as tribos primitivas tiveram de enfrentar. Todavia, embora os indivíduos de uma civilização possam ter, entre si, atritos e lutar uns contra os outros, e embora a civilização em si mesma possa parecer uma massa inconsistente de tentativas e de lutas, de fato, essa civilização evidencia um esforço sincero e não uma monotonia mortal de estagnação.
68:2.2 (764.5) Conquanto o nível da inteligência haja contribuído consideravelmente para o ritmo do progresso cultural, a sociedade tem, essencialmente, a finalidade de minimizar o elemento de risco no modo de vida individual, e tem progredido com a mesma rapidez com que tem tido êxito em reduzir a dor e aumentar o elemento de prazer na vida. Assim, todo o corpo social avança lentamente para uma meta de destino — a extinção ou a sobrevivência — dependendo de essa meta ser a da automanutenção ou autogratificação. A automanutenção origina a sociedade, ao passo que a autogratificação excessiva destrói a civilização.
68:2.3 (764.6) A sociedade preocupa-se com a autoperpetuação, com a automanutenção e com a autogratificação, mas a auto-realização humana é digna de tornar-se a meta imediata para muitos grupos culturais.
68:2.4 (765.1) O instinto gregário, no homem natural, dificilmente seria suficiente para explicar o desenvolvimento de organizações sociais tais como as que existem atualmente em Urântia. Embora essa propensão gregária inata seja a base da sociedade humana, grande parte da sociabilidade do homem é adquirida. Duas grandes influências que contribuíram para as primeiras associações de seres humanos foram a fome de alimentos e o amor sexual; o homem tem essas necessidades instintivas em comum com o mundo animal. Duas outras emoções que aproximaram os seres humanos e que os mantiveram unidos foram a vaidade e o medo, mais particularmente, o medo de fantasmas.
68:2.5 (765.2) A história é apenas o registro da luta milenar do homem pelo alimento. O homem primitivo pensava apenas quando estava faminto; poupar a comida foi o seu primeiro desprendimento e autodisciplina. Com o crescimento da sociedade, a fome de alimento cessou de ser o único incentivo para a associação mútua. Outras inúmeras espécies de fomes, a realização de várias necessidades, todas elas conduziram a humanidade a uma associação mais estreita. Hoje, porém, a sociedade desequilibrou-se com o superacúmulo de necessidades humanas supostas. A civilização ocidental do século vinte geme de cansaço sob a tremenda sobrecarga do fausto e da multiplicação desordenada dos desejos e das aspirações humanas. A sociedade moderna está suportando a pressão de uma das suas mais perigosas fases de interassociação, em grande escala e em um nível de interdependência altamente complicado.
68:2.6 (765.3) A fome, a vaidade e o medo dos fantasmas exerceram uma pressão social contínua, mas a gratificação do sexo foi transitória e espasmódica. Não foi o impulso do sexo por si só que compeliu os homens primitivos e as mulheres a assumirem os pesados encargos da manutenção de um lar. O lar primitivo era fundado na efervescência sexual masculina, privada da gratificação freqüente; e naquele amor materno devotado da fêmea humana, amor esse que, em uma certa medida, ela compartilha com as fêmeas de todos os animais superiores. A presença de uma criança indefesa determinou as primeiras diferenciações entre as atividades masculinas e as femininas; a mulher tinha de manter uma residência estabelecida, onde ela podia cultivar o solo. E, desde os tempos mais antigos, onde estava a mulher, ali, foi sempre considerado o lar.
68:2.7 (765.4) A mulher, assim, muito cedo se tornou indispensável ao esquema social em evolução, nem tanto por causa da paixão sexual efêmera, como em conseqüência da necessidade de alimento, ela era uma sócia essencial à automanutenção. Era a provedora de alimento, um burro de carga e uma companheira que podia suportar grandes abusos sem ressentimentos violentos e, além de todas essas características desejáveis, ela era um meio sempre disponível de gratificação sexual.
68:2.8 (765.5) Quase tudo de valor perdurável na civilização tem as suas raízes na família. A família foi o primeiro grupo pacífico de êxito, o homem e a mulher aprendendo a ajustar os seus antagonismos e, ao mesmo tempo, ensinando a busca da paz às suas crianças.
68:2.9 (765.6) A função do casamento na evolução é assegurar a sobrevivência da raça e não assegurar meramente a realização da felicidade pessoal; a automanutenção e a autoperpetuação são os objetivos reais do lar. A autogratificação é incidental e não essencial, exceto enquanto funciona como um incentivo para assegurar a união sexual. A natureza demanda a sobrevivência, mas as artes da civilização continuam a incrementar os prazeres do casamento e as satisfações da vida familiar.
68:2.10 (765.7) Se a vaidade for ampliada, abrangendo o orgulho, a ambição e a honra, então podemos discernir não apenas como essas propensões contribuem para a formação das associações humanas, mas também como elas mantêm os homens unidos, pois tais emoções tornam-se fúteis, se não têm uma audiência diante da qual se exibir. E a vaidade logo terá, somada a si, tantas outras emoções e impulsos, que pedem uma arena social na qual possam exibir-se e gratificar-se a si próprias. Esse conjunto de emoções deu origem aos primórdios de todas as artes, às cerimônias e a todas as formas de jogos esportivos e de competições.
68:2.11 (766.1) A vaidade contribuiu poderosamente para o surgimento da sociedade; mas, à época destas revelações, os impulsos desviados de uma geração cheia de ostentação ameaçam enlodar e submergir toda a estrutura complexa de uma civilização altamente especializada. O desejo do prazer tem, desde muito tempo, suplantado o desejo dos alimentos; as metas sociais legítimas de automanutenção estão transladando-se rapidamente para as formas ordinárias e ameaçadoras da autogratificação. A automanutenção edifica a sociedade; a autogratificação desenfreada, infalivelmente, destrói a civilização.
68:3.1 (766.2) Os desejos primitivos produziram a sociedade original, mas o temor dos fantasmas manteve-a unida e conferiu um aspecto extra-humano à sua existência. O medo comum era originalmente fisiológico: o medo da dor física, o medo de não satisfazer à fome, ou o medo de alguma calamidade terrestre; mas o medo dos fantasmas era uma nova e sublime espécie de terror.
68:3.2 (766.3) Provavelmente, o maior fator isolado para a evolução da sociedade humana haja sido o de sonhar com fantasmas. Se bem que a maior parte dos sonhos haja perturbado profundamente a mente primitiva, os sonhos sobre os fantasmas de fato aterrorizaram os homens primitivos, levando esses sonhadores supersticiosos aos braços uns dos outros, em uma ligação voluntária e sincera de proteção mútua contra os perigos imaginários, vagos e invisíveis do mundo dos espíritos. O sonhar com fantasmas foi uma das primeiras diferenças aparentes entre o tipo animal e o tipo humano de mente. Os animais não visualizam a sobrevivência depois da morte.
68:3.3 (766.4) Exceto por esse fator, o do fantasma, toda a sociedade alicerçava-se nas necessidades fundamentais e nas premências biológicas básicas. Contudo, o medo dos fantasmas introduziu um fator novo na civilização, um temor que transcende às necessidades elementares do indivíduo e que se eleva muito acima até mesmo das lutas para manter o grupo. O pavor dos espíritos dos mortos trazia à luz uma nova e surpreendente forma de temor, um terror apavorante e poderoso que contribuía para chicotear as ordens sociais então relaxadas, das idades primitivas, levando os grupos primários das tribos antigas a disciplinar-se de um modo mais sério e controlado. Essa superstição sem sentido, um pouco da qual ainda perdura, preparou as mentes dos homens, por intermédio do medo supersticioso do irreal e do supranatural, para a descoberta posterior do “temor do Senhor, que é o início da sabedoria”. Os infundados medos da evolução estão destinados a ser suplantados pelo respeito temeroso da Deidade, inspirado pela revelação. O culto primitivo do medo dos fantasmas tornou-se um elo social poderoso e, desde aqueles dias longínquos, a humanidade tem esforçado-se, às vezes mais, às vezes menos intensamente, para alcançar a espiritualidade.
68:3.4 (766.5) A fome e o amor aproximaram os homens uns dos outros; a vaidade e o medo dos fantasmas mantiveram-nos unidos. Todavia, essas emoções por si sós, sem a influência de revelações que promovem a paz, são incapazes de suportar as tensões das suspeitas e das irritações nas interassociações humanas. Sem a ajuda de fontes supra-humanas, a tensão da sociedade atinge a ruptura, ao atingir certos limites, e as próprias influências geradoras da mobilização social — fome, amor, vaidade e medo — conspiram para fazer a humanidade mergulhar na guerra e no derramamento de sangue.
68:3.5 (766.6) A tendência da raça humana para a paz não é um dom natural; ela deriva dos ensinamentos da religião revelada, da experiência acumulada pelas raças progressivas, porém, mais especialmente, dos ensinamentos de Jesus, o Príncipe da Paz.
68:4.1 (767.1) Todas as instituições sociais modernas provêm da evolução dos costumes primitivos dos vossos ancestrais selvagens; as convenções de hoje são os costumes de ontem, modificados e ampliados. O que o hábito é para o indivíduo, o costume é para o grupo; e os costumes grupais desenvolvem-se, formando os usos populares e as tradições tribais — o convencional massificado. Nesses começos primevos, todas as instituições da sociedade humana dos dias atuais tiveram uma origem humilde.
68:4.2 (767.2) Deve ter-se em mente que os costumes originaram-se de um esforço para ajustar a vida grupal às condições da coexistência de massa; os costumes foram a primeira instituição social do homem. E todas essas reações tribais nasceram do esforço para evitar a dor e a humilhação, buscando, ao mesmo tempo, desfrutar do prazer e do poder. A origem dos usos populares, tanto quanto a origem das línguas, é sempre inconsciente e não intencional e, portanto, sempre envolvida em mistério.
68:4.3 (767.3) O medo de fantasmas levou o homem primitivo a visualizar o sobrenatural e, assim, com segurança, foram assentadas as bases para aquelas influências sociais poderosas da ética e da religião, que, por sua vez, preservaram inviolados os costumes e as tradições da sociedade, de geração em geração. Uma coisa que logo estabeleceu e cristalizou os costumes foi a crença de que os mortos zelavam pelo modo segundo o qual eles tinham vivido e morrido; e, por isso, eles infligiriam punições severas aos mortais vivos que ousassem tratar com desdém e descuido as regras de vida que eles honraram, quando na carne. Tudo isso é mais bem ilustrado pela reverência atual que a raça amarela tem pelos seus ancestrais. As religiões primitivas, que surgiram mais recentemente, reforçaram muito o medo dos fantasmas, ao darem estabilidade às tradições, mas a civilização em avanço tem liberado cada vez mais a humanidade do cativeiro do medo e da escravidão da superstição.
68:4.4 (767.4) Antes da libertação e da liberalização, trazidas pelos ensinamentos dos mestres da Dalamátia, o homem antigo foi mantido como uma vítima indefesa do ritual das tradições; o selvagem primitivo era prisioneiro de um sem fim de cerimoniais. Tudo o que ele fazia, desde o momento em que acordava de manhã até a hora em que adormecia, na sua caverna, à noite, devia ser feito de uma única maneira, ou seja, de acordo com os usos e costumes da tribo. Ele era um escravo da tirania dos costumes; a sua vida nada continha de livre, de espontâneo ou de original. Não havia nenhum progresso natural, no sentido de uma existência mental, moral ou social mais elevada.
68:4.5 (767.5) O homem primitivo foi poderosamente dominado pelo costume; o selvagem era um verdadeiro escravo dos usos; mas, de tempos em tempos, surgiam aquelas personalidades diferentes que ousaram inaugurar modos novos de pensar e métodos aperfeiçoados de vida. A inércia do homem primitivo constitui, contudo, um freio de segurança biológica contra a precipitação demasiadamente súbita e os desajustes desastrosos que teria uma civilização de avanços excessivamente rápidos.
68:4.6 (767.6) Todavia, esses costumes não são, de todo, um mal não mitigado; a sua evolução deveria continuar. Seria quase fatal à continuação da civilização, se tentássemos modificá-los globalmente por meio de uma revolução radical. Os costumes têm sido o fio da continuidade a manter a civilização unida. O trajeto da história humana está repleto de vestígios, de costumes descartados e de práticas sociais obsoletas; mas nenhuma civilização que haja abandonado as suas tradições sobreviveu, a não ser adotando costumes melhores e mais adequados.
68:4.7 (767.7) A sobrevivência de uma sociedade depende principalmente da evolução progressiva dos seus costumes. O processo da evolução dos costumes surge do desejo da experimentação; novas idéias são levadas adiante — e a competição decorre daí. Uma civilização progressiva abraça as idéias avançadas e perdura; o tempo e as circunstâncias, afinal, determinam o grupo mais apto para sobreviver. Isso não significa, entretanto, que cada mudança, diferente e isolada, na composição da sociedade humana haja sido para melhor. Não! De fato, não! Pois tem havido muitos e vários retrocessos na longa luta da civilização de Urântia no sentido do progresso.
68:5.1 (768.1) A terra é o palco da sociedade; os homens são os atores. E o homem deve sempre ajustar as suas atuações de modo a adequar-se à situação das terras. A evolução dos costumes depende sempre da relação homem-terra; e ainda que seja difícil estabelecer tal relação, isso é verdadeiro. A técnica do homem para lidar com a terra, ou as artes da manutenção, somada aos seus padrões de vida, iguala-se à soma total dos usos populares, dos costumes. E a soma da adaptabilidade do homem às exigências da vida iguala-se à sua civilização cultural.
68:5.2 (768.2) As culturas humanas iniciais surgiram ao longo dos rios do hemisfério oriental, e houve quatro grandes passos na marcha progressiva da civilização. Eles foram:
68:5.3 (768.3) 1. O estágio da colheita. A coerção da alimentação, a fome, levou à primeira forma de organização industrial: as filas primitivas de colheita de alimentos. Algumas vezes, a marcha dessas filas de fome tinha quinze quilômetros de comprimento, quando passava pela terra, recolhendo o alimento. Esse foi o estágio nômade primitivo de cultura e é o modo de vida que os bosquímanos da África atualmente seguem.
68:5.4 (768.4) 2. O estágio da caça. A invenção das armas capacitou o homem a tornar-se um caçador e, assim, conseguir libertar-se consideravelmente da escravidão da nutrição. Um andonita, que refletia, havia ferido seriamente o pulso, em um combate violento, e redescobriu a idéia de usar um longo pedaço de ripa como braço e uma peça de pedra dura amarrada à sua extremidade com tendões, substituindo o pulso. Muitas tribos fizeram descobertas isoladas dessa espécie, e essas várias formas de martelos representavam um dos grandes passos para o progresso da civilização humana. Ainda hoje, alguns nativos australianos progrediram pouquíssimo além desse estágio.
68:5.5 (768.5) Os homens azuis tornaram-se hábeis na caça e nas armadilhas; e, fazendo barragens nos rios, eles pegavam peixes em grande quantidade, secando o excedente para usar no inverno. Muitas formas de ciladas e de armadilhas engenhosas eram empregadas na captura da caça, mas as raças mais primitivas não caçavam os animais de maior porte.
68:5.6 (768.6) 3. O estágio pastoral. Essa fase da civilização tornou-se possível pela domesticação dos animais. Os árabes e os nativos da África estão entre os mais recentes povos de pastores.
68:5.7 (768.7) A vida pastoral ofereceu um alívio maior para a escravidão da fome; o homem aprendeu a viver da renda do seu capital, do crescimento do seu rebanho; e isso proporcionou mais tempo livre para a cultura e para o progresso.
68:5.8 (768.8) A sociedade pré-pastoral fora uma sociedade de cooperação sexual, mas a difusão da criação de animais rebaixou as mulheres ao nível mais baixo da escravidão social. Em tempos mais primitivos, o dever do homem era assegurar o alimento animal, o trabalho da mulher sendo o de prover o alimento vegetal. Portanto, quando o homem ingressou na era pastoral da sua existência, a dignidade da mulher caiu grandemente. Ela continuava tendo de trabalhar para produzir os alimentos vegetais necessários à vida, enquanto o homem apenas precisava ir aos seus rebanhos para prover alimento animal em abundância. O homem, assim, tornou-se relativamente independente da mulher; durante toda a idade pastoral, o status da mulher declinou ininterruptamente. Ao fim dessa era, ela se havia transformado em pouco mais do que um animal humano, reduzido a trabalhar e a prover a descendência humana, do mesmo modo que se esperava dos animais do rebanho, que trabalhassem e dessem crias. Os homens das idades pastorais tinham um grande amor pelo seu gado; e é bastante lamentável que eles não tenham desenvolvido uma afeição mais profunda pelas suas esposas.
68:5.9 (769.1) 4. O estágio agrícola. Essa era surgiu com a domesticação das plantas, e representa o tipo mais elevado de civilização material. Ambos, Caligástia e Adão, esforçaram-se para ensinar a horticultura e a agricultura. Adão e Eva eram horticultores, não pastores, e a horticultura era uma cultura avançada naqueles dias. O cultivo das plantas exerce uma influência enobrecedora sobre todas as raças da humanidade.
68:5.10 (769.2) A agricultura fez mais do que quadruplicar a relação homem-solo no mundo. Ela pode ser combinada com as atividades pastorais do estágio cultural anterior. Quando se sobrepõem os três estágios, os homens caçam, e as mulheres cultivam o solo.
68:5.11 (769.3) Tem sempre havido desentendimentos entre os pastores e os cultivadores do solo. O caçador e o pastor eram militantes do tipo belicoso; o agricultor é um tipo mais amante da paz. A ligação com os animais sugere a luta e a força; a ligação com as plantas instila a paciência, a quietude e a paz. A agricultura e a indústria são as atividades da paz. Mas o ponto fraco de ambas, como atividades sociais do mundo, é que elas carecem de excitação e de aventura.
68:5.12 (769.4) A sociedade humana tem evoluído do estágio da caça, passando pelo pastoral, indo até o estágio territorial da agricultura. E cada estágio dessa civilização progressiva foi acompanhado por uma dose cada vez menor de nomadismo; cada vez mais, o homem passou a viver nos seus lares.
68:5.13 (769.5) E, atualmente, a indústria está suplementando a agricultura, com uma urbanização conseqüentemente crescente e com a multiplicação de grupos não agrícolas de classes de cidadania. Entretanto, uma era industrial não pode ter a esperança da sobrevivência se os seus líderes não reconhecem que mesmo os mais elevados desenvolvimentos sociais devem sempre se fundamentar em uma base agrícola sólida.
68:6.1 (769.6) O homem é uma criatura da terra, um filho da natureza; não importa quão sinceramente ele tente escapar da terra, em última instância, é certo que ele falhará. “Vós sois pó e ao pó ireis retornar” é literalmente verdadeiro sobre toda a humanidade. A luta básica do homem foi, é, e sempre será, pela terra. As primeiras ligações sociais dos seres humanos primitivos aconteceram com o propósito de ganhar essas lutas pela terra. Na relação homem-terra repousa toda civilização social.
68:6.2 (769.7) A inteligência do homem, por intermédio das artes e das ciências, elevou o rendimento da terra; ao mesmo tempo, o crescimento natural da prole foi, de um certo modo, colocado sob controle e, assim, ficou provido o sustento e o lazer para edificar uma civilização cultural.
68:6.3 (769.8) A sociedade humana é controlada por uma lei que decreta que a população deve variar diretamente segundo as artes de lidar com o solo e, inversamente, com um determinado padrão de vida. Durante essas idades primevas, até mesmo mais do que no presente, a lei da oferta e da demanda, no que diz respeito aos homens e à terra, determinou o valor estimado de cada qual. Durante os tempos de fartura de terras — de territórios não ocupados — a necessidade de homens era grande e, conseqüentemente, o valor da vida humana ficou bastante enaltecido; e, então, as perdas de vidas eram mais aterrorizantes. Durante os períodos de escassez de terra e da superpopulação correspondente, a vida humana adquiriu um valor relativamente menor e de um modo tal que a guerra, a fome e as epidemias eram encaradas com menos preocupação.
68:6.4 (770.1) Quando o rendimento da terra é reduzido, ou a população tem um aumento, a luta inevitável é retomada; os piores traços da natureza humana vêm à tona. A melhora no rendimento da terra, a ampliação das artes mecânicas e a redução da população tendem a realimentar o desenvolvimento do melhor aspecto da natureza humana.
68:6.5 (770.2) A sociedade, durante as épocas limítrofes de pioneirismo, faz desenvolver o lado de pouca habilidade da humanidade; enquanto as belas-artes e o progresso verdadeiramente científico, junto com a cultura espiritual, têm prosperado mais nos centros maiores de vida, todos, quando sustentados por uma população agrícola e industrial ligeiramente abaixo da relação homem-solo. As cidades sempre multiplicam o poder que os seus habitantes têm, seja para o bem, seja para o mal.
68:6.6 (770.3) O tamanho da família tem sido influenciado sempre pelos padrões de vida. Quanto mais elevado o padrão, tanto menor é a família, até o ponto em que há uma estabilização do crescimento, ou uma extinção gradual.
68:6.7 (770.4) Através das idades, os padrões de vida têm determinado a qualidade de uma população sobrevivente, em oposição à mera quantidade. Os níveis locais de vida de uma determinada classe dão origem a novas castas sociais, a novos costumes. Quando os padrões de vida tornam-se complicados demais, ou muito altamente luxuosos, rapidamente eles tornam-se suicidas. A casta é o resultado direto da elevada pressão social da competição aguda, produzida por populações densas.
68:6.8 (770.5) As raças iniciais muitas vezes recorreram a práticas destinadas a restringirem a população; todas as tribos primitivas matavam as crianças deformadas e adoentadas. Antes da época da compra das esposas, freqüentemente matavam-se as crianças femininas. As crianças, algumas vezes, eram estranguladas no nascimento, mas o método favorito era o do abandono. O pai de gêmeos geralmente insistia para que um fosse morto, pois os nascimentos múltiplos eram considerados como causados pela magia ou pela infidelidade. Como regra geral, contudo, os gêmeos do mesmo sexo eram poupados. Embora esses tabus sobre os gêmeos chegassem a ter sido quase universais, nunca foram parte dos costumes andonitas; esses povos sempre consideraram os gêmeos como bons presságios de sorte.
68:6.9 (770.6) Muitas raças aprenderam a técnica do aborto, e essa prática tornou-se muito comum depois do estabelecimento do tabu do nascimento de crianças entre os não casados. Durante muito tempo, o costume era de que uma jovem solteira matasse as suas crianças e, entre os grupos mais civilizados, esses filhos ilegítimos tornavam-se pupilos da mãe da moça. Muitos clãs primitivos foram virtualmente exterminados por causa da prática tanto do aborto quanto do infanticídio. Todavia, a despeito da tirania dos costumes, pouquíssimas crianças eram destruídas depois de terem sido tomadas no seio — a afeição materna é muito forte.
68:6.10 (770.7) Mesmo no século vinte, persistem alguns remanescentes dessas práticas primitivas de controle de população. Há uma tribo, na Austrália, cujas mães recusam-se a criar mais de duas ou três crianças. Não há muito tempo, uma tribo de canibais comia cada quinto filho que nascia. Em Madagáscar, algumas tribos ainda destroem todos os filhos nascidos em certos dias de má sorte, resultando na morte de cerca de vinte e cinco por cento de todas as crianças.
68:6.11 (770.8) De um ponto de vista mundial, a superpopulação nunca foi um problema sério no passado, mas, se as guerras diminuírem e se a ciência controlar cada vez mais as doenças humanas, isso pode tornar-se um problema sério, em um futuro próximo. Em tal momento, então, a grande prova de sabedoria da liderança do mundo se fará presente. Terão os governantes de Urântia o discernimento e a coragem de favorecer a multiplicação do ser humano mediano ou estabilizado, em vez dos extremos do supranormal e dos grupos enormemente crescentes de subnormais? O homem normal deveria ser favorecido; ele é a espinha dorsal da civilização e a fonte dos gênios mutantes da raça. O homem subnormal deveria ser mantido sob o controle da sociedade; não deveriam ser gerados mais do que o necessário deles, para trabalharem nos níveis mais baixos das indústrias e para as tarefas que requerem uma inteligência pouco acima dos níveis animais; tarefas que fazem um nível tão exíguo de exigências, a ponto de representarem verdadeiras escravidões e subjugação para os tipos mais elevados de seres humanos.
68:6.12 (771.1) [Apresentado por um Melquisedeque certa vez estabelecido em Urântia.]
O Livro de Urântia
Documento 69
69:0.1 (772.1) EMOCIONALMENTE, o homem transcende aos seus ancestrais animais pela sua capacidade de apreciar o humor, a arte e a religião. Socialmente, o homem demonstra a sua superioridade fabricando aparatos, sendo um comunicador e um criador de instituições.
69:0.2 (772.2) Quando os seres humanos mantêm grupos sociais durante muito tempo, tais agregações sempre resultam na criação de certas tendências de atividades que culminam em uma institucionalização. A maior parte das instituições humanas tem demonstrado fazer uma economia de trabalho, enquanto, ao mesmo tempo, contribuem com algo para melhorar a segurança grupal.
69:0.3 (772.3) O homem civilizado tem muito orgulho do caráter, da estabilidade e da continuidade das suas instituições estabelecidas, mas todas as instituições humanas são meramente os costumes acumulados do passado como têm sido conservados pelos tabus e dignificados pela religião. Tais legados transformam-se em tradições, e as tradições metamorfoseiam-se, finalmente, em convenções.
69:1.1 (772.4) Todas as instituições humanas servem a alguma necessidade social, passada ou presente, não obstante o desenvolvimento excessivo, delas, diminuir infalivelmente os méritos do valor individual, ofuscando a personalidade e menoscabando a iniciativa. O homem deveria antes controlar as suas instituições mais do que permitir a si próprio ser dominado por essas criações da civilização que avança.
69:1.2 (772.5) As instituições humanas são de três classes gerais:
69:1.3 (772.6) 1. As instituições de automanutenção. Estas instituições abrangem aquelas práticas que advêm da fome de alimentos e dos instintos ligados à autopreservação. Incluem a indústria, a propriedade, a guerra pelo ganho e todos os dispositivos reguladores da sociedade. Mais cedo ou mais tarde, o instinto do medo leva ao estabelecimento dessas instituições de sobrevivência, por meio de tabus, convenções e sanções religiosas. No entanto, o medo, a ignorância e a superstição têm exercido um papel proeminente na origem primitiva e no desenvolvimento subseqüente de todas as instituições humanas.
69:1.4 (772.7) 2. As instituições de autoperpetuação. Estes são os estabelecimentos da sociedade que resultaram do anseio sexual, do instinto maternal e das emoções ternas mais elevadas das raças. Elas abrangem a salvaguarda social do lar e da escola, da vida familiar, da educação, da ética e da religião. Incluem o costume do matrimônio, a guerra pela defesa e a construção dos lares.
69:1.5 (772.8) 3. As instituições de autogratificação. Estas são as práticas que nascem das propensões para a vaidade e das emoções do orgulho; e abrangem os costumes dos vestuários e adornos pessoais, os usos sociais, a guerra pela glória, as danças, os divertimentos, os jogos e outras formas de gratificação sensual. A civilização, porém, nunca gerou instituições específicas de autogratificação.
69:1.6 (773.1) Esses três grupos de práticas sociais estão intimamente inter-relacionados e são minuciosamente interdependentes um do outro. Em Urântia, eles representam uma organização complexa que funciona como um único mecanismo social.
69:2.1 (773.2) A indústria primitiva desenvolveu-se, vagarosamente, como uma forma de seguro contra os terrores da fome. Cedo, na sua existência, o homem começou a se pautar pelo exemplo de alguns dos animais que, durante uma colheita abundante, armazenam o alimento para os dias da escassez.
69:2.2 (773.3) Antes do alvorecer da frugalidade inicial e da indústria primitiva, o destino comum da tribo comum era a miséria e o sofrimento real. O homem primitivo tinha de competir com todo o mundo animal pelo seu alimento. O peso da competição sempre puxou o homem para baixo, até o nível bestial; a pobreza é um estado natural seu que é tirânico. A riqueza não é uma dádiva natural; ela resulta do trabalho, do conhecimento e da organização.
69:2.3 (773.4) O homem primitivo não demorou a reconhecer as vantagens da associação. A associação levou à organização; e o primeiro resultado da organização foi a divisão do trabalho, com a imediata economia de tempo e materiais. Essas especializações do trabalho surgiram como uma adaptação à premência — seguindo o trajeto da menor resistência. Os selvagens primitivos, na realidade, nunca fizeram nenhum trabalho com prazer, nem voluntariamente. Eles agiam conforme a coerção da necessidade.
69:2.4 (773.5) O homem primitivo não apreciava o trabalho pesado; ele não se apressaria, a menos que fosse para enfrentar algum perigo grave. O elemento do tempo no trabalho, a idéia de se fazer uma determinada tarefa dentro de um certo limite de tempo, é uma noção inteiramente moderna. Os antigos nunca se apressavam. Foi a demanda dupla da luta intensa pela existência e da constante elevação dos padrões de vida que conduziram as raças naturalmente inativas dos homens primitivos ao caminho da industriosidade.
69:2.5 (773.6) O trabalho, o esforço para a realização de projetos, é o que distingue o homem dos animais, cujos atos são totalmente instintivos. A necessidade do trabalho é a bênção suprema do homem. Todo o corpo de assessores do Príncipe trabalhava; eles fizeram muito para enobrecer o trabalho físico em Urântia. Adão foi um horticultor; o Deus dos hebreus trabalhava — ele era o criador e o sustentador de todas as coisas. Os hebreus foram a primeira tribo a dar um valor supremo à industriosidade; eles foram o primeiro povo a decretar que “aquele que não trabalhar não comerá”. No entanto, muitas das religiões do mundo remeteram-se ao ideal primitivo de ociosidade. Júpiter era um folião, e Buda tornou-se um adepto da reflexão no ócio.
69:2.6 (773.7) As tribos sangiques foram bastante industriosas quando residiam longe dos trópicos. Mas houve um longo combate entre os devotos preguiçosos da magia e os apóstolos do trabalho — aqueles que se faziam previdentes.
69:2.7 (773.8) As primeiras precauções humanas tiveram por objetivo a preservação do fogo, da água e do alimento. O homem primitivo, porém, era um especulador inato; sempre queria algo em troca de nada e, muito freqüentemente, naqueles tempos antigos, o sucesso obtido do trabalho paciente era atribuído aos encantamentos. A magia demorou a ceder caminho à previsão, à abnegação e à indústria.
69:3.1 (773.9) A divisão do trabalho na sociedade primitiva foi determinada antes pelas circunstâncias naturais e, depois, pelos fatores sociais. A seqüência primitiva da especialização no trabalho foi a seguinte:
69:3.2 (774.1) 1. A especialização baseada nos sexos. O trabalho da mulher derivou-se da presença seletiva dos filhos; as mulheres amam naturalmente os bebês mais do que os homens. E assim, a mulher tornou-se uma trabalhadora de rotina, enquanto o homem caçava e combatia, entrando em períodos acentuados de trabalho e outros de repouso.
69:3.3 (774.2) Ao longo das idades, os tabus têm contribuído para manter a mulher estritamente no seu próprio âmbito. O homem, muito egoisticamente, escolheu o trabalho mais agradável, deixando a rotina pesada para a mulher. O homem sempre se envergonhou de fazer o trabalho da mulher, mas a mulher nunca demonstrou nenhuma relutância em fazer o trabalho do homem. No entanto é estranho registrar que tanto os homens quanto as mulheres têm sempre trabalhado juntos para construir e mobiliar o lar.
69:3.4 (774.3) 2. As modificações devidas à idade e à doença. Essas diferenças determinaram a divisão posterior do trabalho. Os velhos e os aleijados muito cedo foram postos para trabalhar fazendo ferramentas e armas. Posteriormente, foram designados para os trabalhos da irrigação.
69:3.5 (774.4) 3. A diferenciação baseada na religião. Os curandeiros foram os primeiros seres humanos a ficarem isentos do árduo trabalho físico; eram uma classe profissional pioneira. Os ferreiros, por serem considerados magos, eram um pequeno grupo que competia com os curandeiros. A sua habilidade em trabalhar com os metais fez com que o povo os temesse. Os “ferreiros brancos” e os “ferreiros negros” deram origem às crenças primitivas na magia branca e na magia negra. E essa crença, mais tarde, relacionou-se com a superstição de bons e maus fantasmas, de espíritos bons e maus.
69:3.6 (774.5) Os ferreiros foram o primeiro grupo não religioso a desfrutar de privilégios especiais. Eram considerados neutros durante a guerra; e um ócio suplementar levou-os a tornarem-se, enquanto classe, os políticos da sociedade primitiva. Contudo, por causa de abusos crassos desses privilégios, os ferreiros tornaram-se universalmente detestados e, assim, os curandeiros não perderam tempo e fomentaram o ódio aos seus competidores. Nessa primeira disputa entre a ciência e a religião, a religião (a superstição) venceu. Depois de serem expulsos das aldeias, os ferreiros mantiveram os primeiros albergues, as casas de alojamento público, nos arredores dos povoados.
69:3.7 (774.6) 4. Os senhores e os escravos. A nova diferenciação no trabalho veio das relações do conquistador e do conquistado, e isso significou o começo da escravidão humana.
69:3.8 (774.7) 5. A diferenciação baseada em dons físicos e mentais diversos. Outras divisões do trabalho foram favorecidas pelas diferenças inerentes aos homens; os seres humanos não nascem iguais.
69:3.9 (774.8) Os primeiros especialistas na indústria foram os trabalhadores do sílex e os pedreiros; em seguida, vieram os ferreiros. Subseqüentemente, desenvolveu-se a especialização grupal; famílias e clãs inteiros dedicaram-se a determinadas espécies de trabalho. A origem de uma das primeiras castas de sacerdotes, à parte a dos curandeiros tribais, deveu-se à supersticiosa glorificação de uma família de fabricantes de espadas.
69:3.10 (774.9) O primeiro grupo de especialistas na indústria foi de exportadores de sal-gema e cerâmicas. As mulheres faziam a cerâmica simples, e os homens, a decorada. Entre algumas tribos, a tecelagem e a costura eram feitas pelas mulheres, em outras, pelos homens.
69:3.11 (774.10) Os primeiros comerciantes foram mulheres; eram empregadas como espiãs, praticando o comércio como uma segunda atividade. Em breve, o comércio expandiu-se; as mulheres atuando como revendedoras intermediárias. Em seguida, adveio a classe dos mercadores, que cobrava uma comissão, um lucro, pelos seus serviços. O crescimento das trocas fez surgir o comércio; e, em seguida à troca de produtos básicos, veio a troca de mão-de-obra especializada.
69:4.1 (775.1) Do mesmo modo que o casamento por contrato veio em seguida ao casamento pela captura, o comércio pela troca seguiu-se à posse pela força. Todavia, um período longo de pirataria interpôs-se entre as práticas iniciais da simples e silenciosa troca e o comércio posterior pelos métodos modernos de intercâmbio.
69:4.2 (775.2) As primeiras trocas foram conduzidas por comerciantes armados, que deixavam as suas mercadorias em um local neutro. As mulheres tiveram os primeiros mercados; foram as primeiras comerciantes, e isso aconteceu porque eram elas que carregavam as cargas; os homens eram os guerreiros. Os balcões de venda surgiram muito cedo e eram muros suficientemente altos para impedir que os comerciantes alcançassem uns aos outros, com as suas armas.
69:4.3 (775.3) Um fetiche passou a ser usado para manter a guarda nos depósitos de mercadorias para a troca pacífica. Os locais desses mercados eram seguros contra o roubo; nada seria removido, exceto por troca ou compra; com um fetiche guardando-as, as mercadorias estavam sempre a salvo. Os primeiros comerciantes eram escrupulosamente honestos no âmbito das suas próprias tribos, mas considerava-se como certo que trapaceassem com os estrangeiros distantes. Mesmo os hebreus primitivos reconheceram um código diferente de ética nos seus negócios com os gentios.
69:4.4 (775.4) Durante idades, a troca sem alardes continuou, antes que os homens se encontrassem, desarmados, no local sagrado do mercado. Essas mesmas praças dos mercados transformaram-se nos primeiros locais de santuários e ficaram conhecidos, mais tarde e em alguns países, como as “cidades-refúgio”. Qualquer fugitivo que chegasse ao local do mercado estava abrigado contra ataques.
69:4.5 (775.5) Os primeiros pesos utilizados foram os grãos de trigo e outros cereais. A primeira moeda de troca foi um peixe ou uma cabra. Mais tarde, a vaca tornou-se a unidade de troca.
69:4.6 (775.6) A escrita moderna originou-se nos primeiros registros comerciais; a primeira literatura do homem foi um documento de promoção comercial, uma publicidade de sal. Muitas das guerras primitivas foram feitas pela posse de depósitos naturais, tais como os da pedra, sal e metais. O primeiro tratado tribal formal dizia respeito à intertribalização de um depósito de sal. Nesses locais dos tratados, surgiram oportunidades de intercâmbios, amigáveis e pacíficos, de idéias e mesmo para que várias tribos se misturassem racialmente.
69:4.7 (775.7) A escrita progrediu, passando pelos estágios do “bastão mensagem”, de cordas com nós, dos desenhos figurativos, dos hieróglifos e dos colares de conchas, até os alfabetos primitivos, por meio de símbolos. O envio de mensagens evoluiu desde o sinal primitivo de fumaça até o correio por intermédio de corredores, cavaleiros, ferrovias, aviões, bem como telégrafo, telefone e comunicação sem fio.
69:4.8 (775.8) Idéias novas e métodos melhores eram levados a todo o mundo habitado pelos comerciantes dos povos da antiguidade. O comércio, ligado à aventura, levou à exploração e às descobertas. E tudo isso deu origem aos meios de transporte. O comércio tem sido um grande civilizador, mediante a promoção do intercâmbio cultural.
69:5.1 (775.9) O capital é o trabalho utilizado como uma renúncia do presente em favor do futuro. As economias representam uma forma de seguro de manutenção e de sobrevivência. O amealhar do alimento desenvolveu o autocontrole e criou os primeiros problemas entre o capital e o trabalho. O homem que tinha comida, desde que pudesse protegê-la dos ladrões, possuía uma vantagem clara sobre o homem sem nenhum alimento.
69:5.2 (775.10) O banqueiro primitivo era o homem valente da tribo. Ele guardava os tesouros grupais em depósito; e o clã inteiro defenderia a sua tenda em caso de ataque. Assim, a acumulação de capital individual e de riqueza grupal, de um modo imediato, conduziu à organização militar. Inicialmente, tais precauções eram destinadas a defender a propriedade contra a pilhagem estrangeira, porém, mais tarde, tornou-se costume manter a organização militar treinada e em forma, lançando ataques sobre a propriedade e a riqueza de tribos vizinhas.
69:5.3 (776.1) Os impulsos básicos que levaram à acumulação de capital foram:
69:5.4 (776.2) 1. A fome — associada à previsão. A economia e a preservação do alimento significavam poder e conforto para aqueles que possuíam previsão suficiente para prover às necessidades futuras. A estocagem dos alimentos era o seguro adequado contra a fome e as catástrofes. E todo o contexto dos costumes primitivos foi, na realidade, concebido para ajudar o homem a subordinar o presente ao futuro.
69:5.5 (776.3) 2. O amor pela família — o desejo de satisfazer às suas necessidades. O capital representa a poupança da propriedade, a despeito da pressão das necessidades do agora, a fim de assegurar para as exigências do futuro. Uma parte dessas necessidades futuras pode estar relacionada à posteridade do poupador.
69:5.6 (776.4) 3. A vaidade — o desejo de exibir as próprias acumulações de propriedade. A posse de muitas roupas era um dos primeiros sinais de distinção. A vaidade do colecionador logo apelou ao orgulho do homem.
69:5.7 (776.5) 4. A posição — o desejo intenso de comprar o prestígio social e político. Logo fez surgir a nobreza comercializada, e a admissão a ela dependia da prestação de certos serviços especiais à realeza, ou era concedida abertamente sob pagamento em dinheiro.
69:5.8 (776.6) 5. O poder — a aspiração de ser o senhor. O empréstimo de tesouros era empregado como um meio de escravização, pois, nesses tempos antigos, os juros dos empréstimos eram de cem por cento ao ano. Os emprestadores de dinheiro faziam-se de reis, criando um exército permanente de devedores. Os escravos estavam entre as primeiras formas de propriedade acumulada e, mais antigamente, a escravidão ao débito estendia-se até a posse do corpo após a morte.
69:5.9 (776.7) 6. O medo dos fantasmas dos mortos — um salário pago aos sacerdotes pela proteção. Os homens muito cedo começaram a dar presentes funerários aos sacerdotes, com vistas a terem as suas propriedades usadas para facilitar o seu progresso na próxima vida. O sacerdócio, assim, tornou-se muito rico; eram os magnatas entre os antigos capitalistas.
69:5.10 (776.8) 7. O desejo sexual — o desejo de comprar uma ou mais esposas. A primeira forma de comércio entre os homens foi a permuta de mulheres; e precedeu em muito ao comércio de cavalos. Todavia, a permuta de escravas do sexo nunca levou a sociedade a avançar; esse tráfico foi e é uma desonra racial, pois, ao mesmo tempo, entorpeceu o desenvolvimento da vida familiar e poluiu as aptidões biológicas dos povos superiores.
69:5.11 (776.9) 8. As inúmeras formas de autogratificação. Alguns homens buscaram a riqueza porque esta lhes conferia poder; outros lutaram pelas propriedades, porque elas significavam facilidades na vida. O homem primitivo (e, posteriormente, outros) tinha a tendência de dilapidar os seus recursos com o luxo. As bebidas e as drogas despertavam a curiosidade das raças primitivas.
69:5.12 (776.10) À medida que a civilização desenvolveu-se, os homens adquiriram novos incentivos para economizar; novas necessidades foram rapidamente acrescentadas à fome original. A pobreza tornou-se tão abominável que se supunha que apenas os ricos iam diretamente para o céu quando morriam. A propriedade tornou-se tão altamente valorizada que dar uma festa pretensiosa chegava a apagar a desonra de um nome.
69:5.13 (777.1) A acumulação de riquezas tornou-se logo um símbolo de distinção social. Os indivíduos, de certas tribos, acumulariam propriedades durante anos, só para causar impressão, queimando-as durante alguma festa ou distribuindo-as gratuitamente aos seus companheiros de tribo. Isso fazia deles grandes homens. Os próprios povos modernos comprazem-se com uma pródiga distribuição de presentes de Natal, e os homens ricos fazem doações a grandes instituições de filantropia e de ensino. As técnicas do homem variam, mas a sua disposição permanece inalterada.
69:5.14 (777.2) Todavia, também é bom assinalar que muitos ricaços de antigamente distribuíam parte da própria fortuna, em vista do medo de serem mortos por aqueles que cobiçavam os seus tesouros. Homens ricos, comumente, sacrificavam dezenas de escravos para exibir desdém pela riqueza.
69:5.15 (777.3) Embora o capital haja contribuído para liberar o homem, tem, em grande parte, também complicado a sua organização social e industrial. O abuso do capital, da parte de alguns capitalistas injustos, não contradiz o fato de o capital ser a base da sociedade industrial moderna. Por meio do capital e das invenções, a geração atual desfruta de um nível mais elevado, de liberdade, do que qualquer outra que a haja precedido na Terra. Isto é registrado aqui como um fato; e não como justificativa para os muitos usos errôneos do capital por parte de pessoas inconseqüentemente egoístas.
69:6.1 (777.4) A sociedade primitiva, com as suas quatro divisões — industrial, reguladora, religiosa e militar — , cresceu empregando o fogo, animais, escravos e propriedade.
69:6.2 (777.5) A capacidade de gerar o fogo separou, de um só golpe, e para sempre, o homem do animal; foi a descoberta humana básica. O fogo capacitou o homem a permanecer no solo durante a noite, pelo fato de os animais todos terem medo dele. O fogo encorajou os intercâmbios sociais noturnos; não apenas protegendo contra o frio e contra os animais selvagens, mas também sendo empregado como segurança contra os fantasmas. A princípio, foi usado mais para fornecer a luz do que o aquecimento; muitas tribos atrasadas recusavam-se a dormir, a menos que uma chama queimasse durante toda a noite.
69:6.3 (777.6) O fogo constituiu-se em um grande civilizador, provendo o homem com os seus primeiros meios de ser altruísta sem perda, capacitando-o a dar brasas vivas ao seu vizinho, sem privar-se a si mesmo do fogo. O fogo familiar, mantido sempre pela mãe ou a filha mais velha, foi o primeiro educador, pois exigia vigilância e confiabilidade. O lar primitivo não era um edifício, no entanto a família reunia-se em torno do fogo na lareira familiar. Quando um filho fundava um novo lar, ele levava um tição da lareira da família.
69:6.4 (777.7) Embora Andon, o descobridor de como fazer o fogo, evitasse considerá-lo um objeto de adoração, muitos dos seus descendentes viam a chama como um fetiche ou um espírito. Não souberam tirar os benefícios sanitários do fogo, pois não queimavam os detritos. O homem primitivo temia o fogo e sempre buscava mantê-lo para o bom humor, daí o uso dos incensos. Sob circunstância nenhuma, os antigos cuspiriam no fogo, nem caminhariam entre alguma pessoa e o fogo. Mesmo as piritas de ferro e as pedras de sílex, usadas para acender a chama, eram consideradas sagradas pela humanidade primitiva.
69:6.5 (777.8) Era um pecado extinguir uma chama; se uma tenda pegasse fogo, permitia-se que queimasse. Os fogos dos templos e dos santuários eram sagrados e nunca se permitia que se apagassem, exceto em vista do costume de fazerem um fogo novo, anualmente, ou depois de alguma calamidade. As mulheres eram escolhidas como sacerdotisas por serem as custódias dos fogos familiares.
69:6.6 (778.1) Os mitos primitivos sobre como o fogo veio dos deuses, nasceram da observação do fogo causado pelos relâmpagos. Essas idéias, de origem sobrenatural, conduziram diretamente à adoração do fogo; e o culto do fogo conduziu ao costume de “passar dentro do fogo”, uma prática levada até os tempos de Moisés. E a idéia de ter de passar-se pelo fogo, depois da morte, ainda persiste. O mito do fogo representou uma grande limitação e cativeiro nos tempos primitivos e ainda perdura no simbolismo dos persas.
69:6.7 (778.2) O fogo levou a cozinhar os alimentos, e “comer cru” tornou-se um termo de ridicularização. Cozinhar diminuiu o desperdício da energia vital necessária para a digestão dos alimentos e assim deixou ao homem primitivo alguma força para a cultura social; ao mesmo tempo, a criação de animais, reduzindo o esforço necessário para assegurar o alimento, proporcionava tempo para atividades sociais.
69:6.8 (778.3) Deveria ser lembrado que o fogo abriu as portas para a metalurgia e levou à descoberta subseqüente da energia do vapor e dos usos atuais da eletricidade.
69:7.1 (778.4) Inicialmente, todo o mundo animal era inimigo do homem; os seres humanos tinham de aprender a proteger a si próprios das bestas. O homem começou por comer os animais, mas posteriormente aprendeu a domesticá-los e fazer com que eles o servissem.
69:7.2 (778.5) A domesticação dos animais surgiu acidentalmente. Os selvagens caçavam os rebanhos quase como os índios americanos caçavam o bisão. Cercando o rebanho, podiam manter o controle dos animais, assim habilitando-se a matá-los à medida que necessitavam de alimento. Mais tarde, os currais foram construídos; e rebanhos inteiros seriam capturados.
69:7.3 (778.6) Fácil era domar alguns animais, mas, como o elefante, muitos deles não se reproduziriam no cativeiro. Descobriu-se logo que algumas espécies de animais submeter-se-iam à presença do homem e se reproduziriam no cativeiro. A domesticação de animais, assim, foi instaurada por meio da criação seletiva, uma arte que fez muito progresso desde os tempos da Dalamátia.
69:7.4 (778.7) O cão foi o primeiro animal a ser domesticado, e a experiência difícil de domesticá-lo começou quando um certo cão, depois de seguir um caçador durante todo o dia, finalmente foi para a casa com ele. Durante idades, os cães foram usados como alimento, para a caça, para o transporte e como companhia. No início, os cães apenas uivavam, posteriormente aprenderam a latir. O seu agudo sentido do olfato levou à impressão de que podia ver espíritos, e assim surgiu o culto do cão-fetiche. O uso do cão de guarda fez com que fosse possível a todo o clã dormir à noite. E, então, tornou-se costume empregar cães de guarda para proteger a casa contra os espíritos, tanto quanto contra os inimigos materiais. Quando o cão latia, era porque se aproximava algum homem ou animal; quando o cão uivava, no entanto, significava que os espíritos estavam próximos. E hoje, muitos ainda acreditam que o uivo de um cão, à noite, indica alguma morte.
69:7.5 (778.8) Quando ainda caçador o homem era muito gentil para com a mulher, mas após a domesticação dos animais, combinada à confusão gerada por Caligástia, muitas tribos passaram a tratar as suas mulheres de um modo vergonhoso. Eles as tratavam do mesmo modo como tratavam os seus animais. O tratamento brutal do homem para com a mulher constitui um dos capítulos mais negros da história humana.
69:8.1 (778.9) O homem primitivo nunca hesitou em escravizar os seus semelhantes. A mulher foi a primeira escrava, uma escrava da família. As populações pastorais escravizavam as mulheres, tomando-as como companheiras sexuais inferiores.Essa espécie de escravidão sexual surgiu diretamente da independência que o homem foi adquirindo em relação à mulher.
69:8.2 (779.1) Não faz muito tempo, a escravidão era o que aguardava os presos militares que se recusavam a aceitar a religião do povo conquistador. Nos tempos mais primitivos, os presos eram comidos, torturados até a morte, colocados para se digladiarem uns contra os outros, sacrificados aos espíritos, ou escravizados. A escravização foi um grande avanço em relação aos massacres e ao canibalismo.
69:8.3 (779.2) A escravidão foi um passo à frente, de um tratamento mais misericordioso aos prisioneiros de guerra. A emboscada de Ai, seguida do massacre total dos homens, mulheres e crianças, sendo que apenas o rei foi salvo para gratificar a vaidade do vencedor, é um quadro fiel da matança bárbara praticada mesmo por povos supostamente civilizados. O ataque contra Og, o rei de Bashan, foi igualmente brutal e radical. Os hebreus “destruíam completamente” os seus inimigos, tomando todas as suas propriedades como espólio. Eles impunham tributos a todas as cidades sob pena de “destruição de todos os varões”. No entanto, muitas das tribos dessa mesma época, movidas por um egoísmo tribal menor, tinham há muito iniciado a prática da adoção dos prisioneiros superiores.
69:8.4 (779.3) O caçador, tanto quanto o homem vermelho americano, não escravizava. Ou adotava ou matava os seus prisioneiros. A escravidão não prevaleceu em meio aos povos pastorais, porque necessitavam de poucos trabalhadores. Na guerra, os pastores tinham como prática matar todos os homens capturados e levar apenas as mulheres e as crianças como escravas. O código mosaico continha instruções específicas para transformar em esposas as mulheres prisioneiras. Caso não satisfizessem, elas seriam mandadas embora, mas aos hebreus não era permitido venderem, como escravas, essas consortes rejeitadas — o que foi, pelo menos, um avanço da civilização. Embora fossem ainda grosseiros, os padrões sociais dos hebreus, eles estavam bem mais adiantados que as tribos vizinhas.
69:8.5 (779.4) Os pastores foram os primeiros capitalistas; os seus rebanhos representavam um capital, e eles viviam dos rendimentos — o crescimento natural. E não estavam inclinados a confiar essa riqueza nas mãos, fosse de escravos, fosse de mulheres. Posteriormente, contudo, eles capturaram homens, e os forçaram a cultivar o solo. Essa é a origem primitiva da servidão — o homem preso à terra. Os africanos aprendiam muito facilmente a cultivar o solo e, por isso, vieram a se tornar a grande raça escrava.
69:8.6 (779.5) A escravidão foi um elo indispensável na corrente da civilização humana. Foi a ponte sobre a qual a sociedade passou do caos e da indolência à ordem e às atividades civilizadas; compeliu os povos atrasados e indolentes a trabalhar e, assim, a gerar bens e lazer para o avanço social dos seus superiores.
69:8.7 (779.6) A instituição da escravidão obrigou o homem a inventar um mecanismo regulador na sociedade primitiva; dando origem aos primórdios do governo. A escravidão demanda uma forte regulamentação e, durante a Idade Média européia, ela desapareceu virtualmente, porque os senhores feudais não podiam controlar os escravos. As tribos atrasadas dos tempos antigos, como a dos australianos nativos de hoje, nunca tiveram escravos.
69:8.8 (779.7) Bem verdade é que a escravidão era opressiva, mas foi nas escolas da opressão que o homem aprendeu a indústria. Os escravos afinal compartilharam das bênçãos de uma sociedade mais elevada, a qual tão involuntariamente haviam ajudado a criar. A escravidão gera uma organização de realização cultural e social, mas logo ataca insidiosamente a sociedade por dentro, revelando-se a mais grave de todas as doenças sociais destrutivas.
69:8.9 (779.8) As invenções mecânicas modernas transformaram a escravatura em algo obsoleto. A escravidão, como a poligamia, ficou ultrapassada porque não compensa, mas sempre se tem revelado desastroso libertar subitamente um grande número de escravos; complicações menores adviriam se emancipados de um modo gradativo.
69:8.10 (780.1) Hoje, os homens não são escravos sociais, mas milhares permitem que a ambição os faça escravos das dívidas. A escravidão involuntária abriu caminho para uma forma de servidão industrial nova, mais aperfeiçoada e modificada.
69:8.11 (780.2) Embora o ideal da sociedade seja a liberdade universal, o ócio nunca deveria ser tolerado. Todas as pessoas possuidoras de corpos aptos deveriam ser forçadas a cumprir ao menos uma quantidade de trabalho suficiente para se auto-sustentar.
69:8.12 (780.3) A sociedade moderna reverteu a sua marcha. A escravidão quase desapareceu; os animais domesticados ficaram ultrapassados. A civilização está buscando novamente o fogo — no mundo inorgânico — para conseguir energia. O homem saiu da selvageria por meio do fogo, dos animais e da escravidão; hoje, ele retroage, descartando a ajuda de escravos e de animais, buscando extrair do estoque elementar da natureza os novos segredos e fontes de riqueza e poder.
69:9.1 (780.4) Embora a sociedade primitiva tenha sido virtualmente comunitária, o homem primitivo não aderiu às doutrinas mais atuais de comunismo. O comunismo desses tempos primitivos não era uma mera teoria social, nem uma doutrina social; era um ajuste automático, simples e prático. Esse comunismo impediu a indigência e a miséria; a mendicância e a prostituição eram quase desconhecidas entre essas tribos antigas.
69:9.2 (780.5) O comunismo primitivo não nivelou o homem especialmente por baixo, nem exaltou a mediocridade, todavia premiou a inatividade e a ociosidade, sufocou a indústria e destruiu a ambição. O comunismo foi um patamar indispensável ao crescimento da sociedade primitiva, no entanto cedeu lugar à evolução de uma ordem social mais elevada, porque foi contrário a quatro fortes tendências humanas:
69:9.3 (780.6) 1. A família. O homem não apenas almeja acumular bens; ele deseja legar o seu capital e bens à sua progênie. Na sociedade comunitária primitiva, porém, o capital de um homem, ou era imediatamente consumido, ou distribuído ao grupo, quando da sua morte. Não havia herança de propriedade — o imposto sobre a herança era de cem por cento. Os costumes posteriores, que regeram a acumulação de capital e a herança de propriedades, foram avanços sociais distintos. E isso é verdade, não obstante os abusos grosseiros subseqüentes que acompanharam o mau emprego do capital.
69:9.4 (780.7) 2. As tendências religiosas. O homem primitivo também queria constituir uma propriedade, como um núcleo, para começar a vida na próxima existência. Esse motivo explica porque prevaleceu, durante tanto tempo, o costume de enterrar-se os pertences pessoais de um homem com ele. Os antigos acreditavam que apenas os ricos sobreviviam à morte com alguma dignidade e prazer imediatos. Aqueles que ensinaram a religião revelada, mais especialmente os instrutores cristãos, foram os primeiros a proclamar que os pobres poderiam ter a salvação nos mesmos termos que os ricos.
69:9.5 (780.8) 3. O desejo da liberdade e do lazer. Nos primeiros tempos da evolução social, a divisão dos ganhos individuais com o grupo era virtualmente uma forma de escravidão; o trabalhador tornava-se escravo do mais ocioso. Essa foi a fraqueza suicida do comunismo: os imprevidentes habitualmente vivendo dos que economizavam. Mesmo nos tempos modernos, os imprevidentes dependem do estado (os contribuintes que economizam) para cuidar deles. Aqueles que são desprovidos de capital ainda esperam que os que o têm os alimentem.
69:9.6 (780.9) 4. A necessidade de segurança e de poder. O comunismo foi finalmente destruído pelas fraudes dos indivíduos progressistas e prósperos, que recorreram a subterfúgios diversos no esforço de escapar da escravidão aos preguiçosos incapazes das próprias tribos. No princípio, porém, todo o amealhamento de bens era secreto; a insegurança primitiva impedia a acumulação visível de capital. E, mesmo em uma época posterior, ainda era muito perigoso acumular muita riqueza: o rei certamente forjaria alguma acusação para confiscar a propriedade de um homem de fortuna e, quando um homem rico morria, os funerais eram retardados até que a família doasse uma grande soma a uma instituição pública ou para o rei, como um imposto sobre a herança.
69:9.7 (781.1) Nos primeiros tempos, as mulheres eram uma propriedade da comunidade, e a mãe dominava a família. Os chefes primitivos possuíam toda a terra e eram proprietários de todas as mulheres; o casamento não se realizava sem o consentimento do governante tribal. Com o desaparecimento do comunismo, as mulheres passaram a ser propriedades individuais, e o pai gradualmente assumiu o controle doméstico. Assim, o lar teve o seu início, e os costumes polígamos, que prevaleciam, foram gradualmente dando lugar à monogamia. (A poligamia é a sobrevivência do elemento de escravidão da mulher no casamento. A monogamia é o ideal, livre de escravidão, da associação incomparável entre um homem e uma mulher, no empreendimento admirável da edificação de um lar, da criação de uma progênie, do cultivo mútuo e do auto-aperfeiçoamento.)
69:9.8 (781.2) Inicialmente, toda a propriedade, inclusive as ferramentas e as armas, eram uma posse comum da tribo. A propriedade privada inicialmente consistiu de todas as coisas que eram tocadas de um modo pessoal. Se um estranho bebia em uma xícara, essa xícara pertencia-lhe, a partir desse momento. Em seguida, qualquer lugar em que o sangue fosse derramado tornava-se propriedade da pessoa ou do grupo ferido.
69:9.9 (781.3) A propriedade privada era originalmente respeitada porque se supunha que estivesse carregada, assim, com alguma parte da personalidade do proprietário. A honestidade em relação à propriedade permanecia a salvo sob esse tipo de superstição; nenhuma polícia se fazia necessária para guardar os pertences pessoais. Não havia furtos dentro do grupo, embora os homens não hesitassem em apropriar-se dos bens de outras tribos. As relações de propriedade não terminavam com a morte; inicialmente, os objetos pessoais eram queimados, depois, enterrados com os mortos e, posteriormente, herdados pela família sobrevivente, ou pela tribo.
69:9.10 (781.4) Os objetos pessoais do tipo ornamental tiveram a sua origem no uso de amuletos. A vaidade e, ainda mais, o medo dos fantasmas, levaram o homem primitivo a resistir a todas as tentativas de despojamento dos seus amuletos favoritos, e tal propriedade era mais valorizada do que as necessidades reais.
69:9.11 (781.5) O espaço onde se dormia foi uma das primeiras propriedades do homem. Ulteriormente, os locais dos lares eram designados pelos chefes tribais, que detinham consigo a custódia de todos os bens imóveis em nome do grupo. Em breve, a colocação de uma lareira conferia propriedade; e, mais tarde ainda, um poço constituía o título à terra adjacente a ele.
69:9.12 (781.6) As nascentes e os poços estavam entre as primeiras propriedades privadas. Toda a prática do fetiche era utilizada para guardar os olhos-d’água, os poços, as árvores, a colheita e o mel. Com a perda da fé nos fetiches, as leis foram desenvolvidas para proteger os pertences privados; contudo, as leis da caça e o direito a caçar, em muito, precederam às leis da terra. O homem vermelho americano nunca compreendeu a propriedade privada de terras; ele não podia compreender a visão do homem branco.
69:9.13 (781.7) A propriedade privada foi, muito cedo, marcada pelas insígnias da família: esta, a origem longínqua da heráldica familiar. O bem imóvel podia também ser colocado sob a guarda dos espíritos. Os sacerdotes “consagrariam” um pedaço de terra, e este ficaria a partir dai sob a proteção dos tabus mágicos erigidos nele. Os proprietários dessas terras eram conhecidos como possuidores de uma “escritura sacerdotal de propriedade”. Os hebreus tinham um grande respeito por esses marcos de família: “Maldito seja aquele que retirar o marco da terra do seu vizinho”. Esses marcos de pedra tinham as iniciais do sacerdote. Mesmo as árvores, quando marcadas com as iniciais, tornavam-se propriedade privada.
69:9.14 (782.1) Primitivamente, apenas as colheitas eram propriedade particular; e as colheitas sucessivas conferiam títulos de propriedade; a agricultura assim foi a origem da propriedade privada de terras. Era dado, inicialmente, o direito de posse apenas vital aos indivíduos; com a morte, a propriedade da terra revertia para a tribo. Os primeiríssimos títulos de propriedade de terras concedidos pelas tribos a indivíduos foram os das sepulturas — a tumba familiar. Posteriormente, as terras pertenceram àqueles que as cercavam, mas as cidades sempre reservaram algumas terras para as pastagens públicas e para o uso em caso de sitiamento; essas “terras comuns” representam a sobrevivência da forma primitiva de propriedade coletiva.
69:9.15 (782.2) Finalmente, o estado destinou propriedades ao indivíduo, reservando-se o direito de taxação. Havendo assegurado os seus títulos, os donos de terras poderiam receber aluguéis, e a terra tornou-se uma fonte de renda — de capital. Finalmente, a terra tornou-se verdadeiramente negociável: permitindo vendas, transferências, hipotecas e execuções de hipotecas.
69:9.16 (782.3) A propriedade privada trouxe maior liberdade e mais estabilidade; contudo, somente depois que o controle e a direção da comunidade falharam, uma posse particular da terra passou a ter a sanção social: e isso foi imediatamente seguido por uma sucessão de escravos, de servos e classes de despossuídos de terra. Contudo a maquinaria aperfeiçoada gradualmente foi libertando o homem do trabalho escravo.
69:9.17 (782.4) O direito à propriedade não é absoluto; é puramente social. Mas, todo governo, lei, ordem, direitos civis, liberdades sociais e convenções, do modo como têm sido desfrutados pelos povos modernos, têm feito crescer a paz e a felicidade em torno da certidão de propriedade privada.
69:9.18 (782.5) A ordem social atual não é necessariamente certa — não sendo divina, nem sagrada — ; contudo, a humanidade procederá bem, caso se mobilize lentamente para fazer modificações. Aquilo que tendes é bastante melhor do que qualquer sistema conhecido pelos vossos ancestrais. Assegurai-vos, quando fordes fazer alterações, da ordem social, de que elas sejam para melhor. Não vos deixeis persuadir a experimentar as fórmulas já descartadas pelos vossos antepassados. Ide, avançai, não retrocedais! Que a evolução prossiga! Que não seja dado um passo para trás.
69:9.19 (782.6) [Apresentado por um Melquisedeque de Nébadon.]
O Livro de Urântia
Documento 70
70:0.1 (783.1) TÃO LOGO resolveu parcialmente o problema da sua subsistência, o homem deparou-se com a tarefa de regulamentar as relações humanas. O desenvolvimento das atividades organizadas requeria leis, ordem e ajustamentos sociais; a propriedade privada requeria uma administração.
70:0.2 (783.2) Num mundo evolucionário, os antagonismos são naturais; a paz é assegurada apenas por alguma espécie de sistema social regulador. Uma regulamentação social é inseparável de uma organização social; a associação implica alguma autoridade controladora. Um governo obriga uma coordenação dos antagonismos das tribos, dos clãs, das famílias e dos indivíduos.
70:0.3 (783.3) O governo é um desenvolvimento inconsciente; ele evolui por meio de tentativas e de erros. De fato, tem um valor para a sobrevivência; e por isso ele torna-se tradicional. A anarquia aumentou a miséria; e, conseqüentemente, o governo, a lei relativa e a ordem gradualmente emergiram ou estão emergindo. As demandas coercitivas na luta pela existência conduziram literalmente a raça humana por um caminho progressivo até a civilização.
70:1.1 (783.4) A guerra é um estado natural e uma herança do homem em evolução; a paz é o padrão social que mede o avanço da civilização. Antes da socialização parcial das raças em avanço, o homem era excessivamente individualista, extremamente desconfiado, e inacreditavelmente briguento. A violência é a lei da natureza, a hostilidade, a reação automática dos filhos da natureza, enquanto a guerra não é senão essas mesmas atividades praticadas coletivamente. E, no momento em que o tecido da civilização receber a pressão das complicações do avanço da sociedade, e onde isso acontecer, haverá sempre um retrocesso imediato, nocivo àqueles métodos iniciais de ajuste violento das irritações provenientes das interassociações humanas.
70:1.2 (783.5) A guerra é uma reação animalesca aos desentendimentos e às irritações; a paz acompanha a solução civilizada de todos esses problemas e dificuldades. As raças sangiques, junto com as adamitas, posteriormente deterioradas, e as noditas eram todas beligerantes. Aos andonitas muito cedo foi ensinada a regra de ouro e, ainda hoje, os seus descendentes esquimós vivem em boa medida segundo esse código; o costume é forte entre eles, e estão razoavelmente livres de antagonismos violentos.
70:1.3 (783.6) Andon ensinou os seus filhos a decidir as disputas cada um batendo em uma árvore com um bastão, ao mesmo tempo maldizendo a árvore: aquele que quebrasse o seu bastão primeiro era o vitorioso. Os andonitas posteriores decidiam as suas disputas fazendo um espetáculo público, no qual os disputantes zombavam uns dos outros e ridicularizavam-se mutuamente, enquanto a audiência apontava o vencedor por aclamação.
70:1.4 (783.7) Mas um fenômeno tal como a guerra não poderia existir antes que a sociedade houvesse evoluído o suficiente a ponto de experimentar, de fato, os períodos de paz e sancionar as práticas belicosas. O próprio conceito de guerra implica algum grau de organização.
70:1.5 (784.1) Com a emergência dos agrupamentos sociais, as irritações individuais começaram a ficar submersas nos sentimentos grupais, e isso promoveu a tranqüilidade intertribal, às custas, contudo, da paz intertribal. A paz, assim, inicialmente, foi desfrutada dentro do grupo, ou da tribo, que sempre detestava, odiava mesmo, os de fora do grupo ou estrangeiros. O homem primitivo considerava uma virtude derramar o sangue estrangeiro.
70:1.6 (784.2) Todavia, mesmo isso não funcionou a princípio. Quando os primeiros chefes tentaram resolver os desentendimentos, freqüentemente julgavam necessário, ao menos uma vez por ano, permitir as lutas de pedradas dentro da tribo. O clã dividia-se em dois grupos e tinha início uma batalha que durava todo um dia. E isso, por nenhuma outra razão, a não ser pelo divertimento proporcionado; eles realmente gostavam de lutar.
70:1.7 (784.3) A guerra perdura, porque o homem evoluiu do animal, tornando-se humano, e todos os animais são belicosos. Entre as causas primitivas da guerra estão:
70:1.8 (784.4) 1. A fome, que leva a surtidas em busca de alimento. A escassez de terras tem sempre trazido a guerra e, durante essas lutas, as primeiras tribos pacíficas praticamente foram exterminadas.
70:1.9 (784.5) 2. A escassez de mulheres — uma tentativa de aliviar a falta de ajuda doméstica. O rapto de mulheres tem sempre sido uma causa de guerra.
70:1.10 (784.6) 3. A vaidade — o desejo de exibir a bravura tribal. Grupos superiores lutavam para impor o seu modo de vida aos povos inferiores.
70:1.11 (784.7) 4. Os escravos — a necessidade de recrutas para as fileiras de trabalho.
70:1.12 (784.8) 5. A vingança era motivo de guerra quando uma tribo acreditava que outra tribo vizinha houvesse causado a morte de um companheiro de tribo. O luto continuava até que uma cabeça era trazida para a tribo. A guerra pela vingança foi considerada justificada, até uma época relativamente moderna.
70:1.13 (784.9) 6. A recreação — a guerra era encarada como uma recreação pelos jovens dessas épocas primitivas. Se não havia nenhum pretexto bom e suficiente para que a guerra surgisse, quando a paz se tornava opressiva, tribos vizinhas costumavam entrar em combates semi-amistosos, em escaramuças, como folguedos, para desfrutarem de um simulacro de batalha.
70:1.14 (784.10) 7. A religião — o desejo de fazer conversões para o próprio culto. As religiões primitivas, todas, aprovavam a guerra. Apenas em tempos recentes a religião começou a reprovar a guerra. Infelizmente, os sacerdócios primitivos, em geral, eram aliados do poder militar. Com o passar do tempo, um grande passo na direção da paz foi o esforço para se separar a igreja do estado.
70:1.15 (784.11) Essas antigas tribos faziam sempre a guerra sob a ordem dos seus deuses, sob o comando dos seus chefes ou dos seus xamãs. Os hebreus acreditavam num “Deus das batalhas”; e a narrativa do seu ataque aos midianitas é um recital das crueldades atrozes das antigas guerras tribais; esse ataque, com a matança de todos os homens e a posterior matança de todas as crianças do sexo masculino e de todas as mulheres que não eram virgens, teria estado à altura das tradições de um chefe tribal de duzentos mil anos atrás. E tudo isso foi executado em “nome do Senhor Deus de Israel”.
70:1.16 (784.12) E essa é uma narrativa da evolução da sociedade — a solução natural dos problemas das raças — , o homem elaborando o seu próprio destino na Terra. Tais atrocidades não são instigadas pela Deidade, não obstante haver uma tendência do homem de jogar a responsabilidade sobre os seus deuses.
70:1.17 (784.13) A misericórdia militar tem sido lenta para alcançar a humanidade. Mesmo quando uma mulher, Débora, governou os hebreus, a mesma crueldade global persistiu. O seu general, na vitória sobre os gentios, fez “todas as tropas caírem sob a espada e não sobrou ninguém”.
70:1.18 (785.1) Muito cedo, na história dessa raça, as armas envenenadas eram usadas. Todas as espécies de mutilações eram praticadas. Saul não hesitou em exigir cem prepúcios de filisteus, como o dote que Davi devia pagar pela sua filha Mical.
70:1.19 (785.2) As guerras primitivas eram lutadas entre as tribos como um todo, mas, em épocas posteriores, quando dois indivíduos de tribos diferentes tinham uma disputa, em vez de ambas as tribos lutarem, esses dois disputantes entravam em duelo. Tornou-se hábito também que dois exércitos decidissem tudo pelo resultado de uma disputa entre um representante escolhido de cada lado, como no exemplo de Davi e Golias.
70:1.20 (785.3) O primeiro refinamento da guerra foi a captura de prisioneiros. Em seguida, as mulheres passaram a ser eximidas das hostilidades, e depois veio o reconhecimento dos não-combatentes. As castas militares e os exércitos permanentes logo se desenvolveram, para marcharem de acordo com a crescente complexidade do combate. Esses guerreiros eram proibidos de entrar em contato com as mulheres, e estas, havia muito, tinham já deixado de combater, embora houvessem sempre alimentado e cuidado dos soldados e exortassem-nos à batalha.
70:1.21 (785.4) A prática de declarar guerra representou um grande progresso. Essas declarações de intenção de luta indicavam a consciência do senso de eqüidade, e a isso se seguiu o desenvolvimento gradual das regras do guerrear “civilizado”. Muito cedo se tornou costume não lutar perto de locais religiosos e, um pouco mais tarde, não combater em certos dias santos. Em seguida, veio o reconhecimento geral do direito de asilo; os fugitivos políticos receberam proteção.
70:1.22 (785.5) Assim, a guerra evoluiu gradualmente, da caçada primitiva ao homem, até o sistema, de um certo modo mais ordeiro, das nações “civilizadas” posteriores. Contudo, apenas lentamente a atitude social da amizade substituiu a inimizade.
70:2.1 (785.6) Nas idades passadas, uma guerra feroz instituiria mudanças sociais e facilitaria a adoção de idéias novas que, naturalmente, não teriam ocorrido em dez mil anos. O preço terrível, pago por algumas dessas vantagens vindas com as guerras foi a sociedade retroceder temporariamente à selvageria; tinha-se de abdicar da razão civilizada. A guerra é um remédio poderoso, de custo muito alto e muito perigoso; embora freqüentemente cure algumas desordens sociais, muitas vezes mata o paciente e destrói a sociedade.
70:2.2 (785.7) A necessidade constante da defesa nacional cria vários ajustamentos sociais novos e avançados. A sociedade, hoje, desfruta do benefício de uma longa lista de inovações úteis que, a princípio, eram exclusivamente militares; e a sociedade deve à guerra, até mesmo a dança, uma das formas primitivas de exercício militar.
70:2.3 (785.8) A guerra tem tido um valor social para as civilizações passadas, porque ela:
70:2.4 (785.9) 1. Impunha a disciplina e forçava a cooperação.
70:2.5 (785.10) 2. Premiava a firmeza e a coragem.
70:2.6 (785.11) 3. Fomentava e solidificava o nacionalismo.
70:2.7 (785.12) 4. Destruía os povos fracos e inaptos.
70:2.8 (785.13) 5. Dissolvia a ilusão da igualdade primitiva e estratificava seletivamente a sociedade.
70:2.9 (785.14) A guerra teve um certo valor evolucionário e seletivo; contudo, como a escravidão, deverá, em algum momento, ser abandonada, à medida que a civilização avança lentamente. As guerras de antigamente promoviam as viagens e o intercâmbio cultural; essas metas estão agora sendo mais bem cumpridas pelos métodos modernos de transporte e de comunicação. As guerras de outrora fortaleciam as nações, mas as lutas modernas alquebram a cultura civilizada. As guerras antigas resultavam na dizimação dos povos inferiores; o resultado líquido do conflito moderno é a destruição seletiva das melhores cepas humanas. As guerras primitivas promoviam a organização e a eficiência, mas agora estas se tornaram mais uma das metas da indústria moderna. Durante as idades passadas, a guerra era um fermento social, que impulsionava a civilização para a frente; esse resultado agora é mais bem alcançado pela ambição e pela invenção. A arte da guerra antiga sustentava o conceito de um Deus das batalhas, no entanto, para o homem moderno, foi dito que Deus é amor. A guerra serviu a muitos propósitos valiosos no passado, tem sido um andaime indispensável na construção da civilização, mas está tornando-se, rapidamente, a bancarrota cultural — incapaz de produzir dividendos, de algum ganho social, comensurável, sob qualquer ponto de vista, em comparação com as perdas terríveis que vêm junto.
70:2.10 (786.1) No passado, os médicos acreditaram na sangria como uma cura para muitas doenças; entretanto, depois, descobriram remédios melhores para a maioria das desordens. E, desse modo, deve a sangria internacional da guerra certamente dar lugar à descoberta de métodos melhores para curar os males das nações.
70:2.11 (786.2) As nações de Urântia entraram já na luta titânica do militarismo nacionalista contra o industrialismo e, de muitos modos, esse conflito é análogo à luta das idades, entre os pastores-caçadores e os agricultores. Se, porém, o industrialismo quiser triunfar sobre o militarismo, então deve evitar os perigos que o envolvem. Os perigos da indústria florescente, em Urântia, são:
70:2.12 (786.3) 1. A forte tendência ao materialismo, a cegueira espiritual.
70:2.13 (786.4) 2. A adoração do poder da riqueza, a distorção dos valores.
70:2.14 (786.5) 3. Os vícios vindos do luxo, a imaturidade cultural.
70:2.15 (786.6) 4. Os perigos crescentes da indolência, a insensibilidade ao senso do servir.
70:2.16 (786.7) 5. O crescimento de uma frouxidão racial indesejável, a deterioração biológica.
70:2.17 (786.8) 6. A ameaça da escravidão industrial padronizada, a estagnação da personalidade; pois se o trabalho é enobrecedor, a lida enfadonha é entorpecedora.
70:2.18 (786.9) O militarismo é autocrático e cruel — selvagem. Promove a organização social entre os conquistadores, mas desintegra os vencidos. O industrialismo é mais civilizado e deveria ser praticado de modo a promover a iniciativa e encorajar o individualismo. A sociedade deveria, de todos os modos possíveis, fomentar a originalidade.
70:2.19 (786.10) Não cometais o erro de glorificar a guerra; deveis, antes, discernir o que ela fez à sociedade, de modo tal que possais visualizar, com mais precisão, o que os seus substitutos devem prover, no fito de continuar o avanço da civilização. E, se esses substitutos adequados não forem providos, então vós podeis estar certos de que a guerra irá continuar ainda por muito tempo.
70:2.20 (786.11) O homem nunca aceitará a paz como um modo normal de vida, antes que tenha sido convencido, profunda e repetidamente, de que a paz é melhor para o seu bem-estar material; e o é até que a sociedade tenha provido, com sabedoria, os substitutos pacíficos, para a gratificação da tendência inerente de periodicamente soltar o impulso coletivo destinado a liberar as emoções e as energias que sempre se acumulam, próprias das reações de autopreservação da espécie humana.
70:2.21 (786.12) Mesmo tendo fim, a guerra deveria, contudo, ser honrada como a escola da experiência que levou uma raça de individualistas arrogantes a submeter-se a uma autoridade altamente concentrada — o dirigente executivo. A guerra à antiga selecionava, para a liderança, os homens inatamente grandes, mas a guerra moderna não faz mais isso. Para descobrir líderes, a sociedade deve agora se voltar para as conquistas da paz: a indústria, a ciência e a realização social.
70:3.1 (787.1) Numa sociedade mais primitiva a horda é tudo; até mesmo as crianças são propriedade comum dessa horda. A família em evolução tomou o lugar da horda na educação das crianças, enquanto os clãs e as tribos emergentes substituíram a horda enquanto unidade social.
70:3.2 (787.2) O instinto sexual e o amor materno instauraram a família. Mas o verdadeiro governo surge só quando os grupos das superfamílias começam a formar-se. Nos dias da pré-família, na horda, a liderança era provida por indivíduos informalmente escolhidos. Os bosquímanos da África nunca progrediram além desse estágio primitivo; eles não têm chefes na horda.
70:3.3 (787.3) As famílias tornaram-se unidas pelos laços de sangue dentro dos clãs, são as agregações de parentes; e os clãs, subseqüentemente, evoluíram, resultando nas tribos, as comunidades territoriais. A guerra e a pressão externa forçaram os clãs de parentesco à organização tribal, mas foram o comércio e o intercâmbio que mantiveram esses grupos primitivos juntos e com algum grau de paz interna.
70:3.4 (787.4) A paz em Urântia será promovida muito mais pelas organizações de comércio internacional do que pelos sofismas sentimentais de um planejamento visionário de paz. As relações de comércio têm sido facilitadas pelo desenvolvimento da língua e pelos melhores métodos de comunicação, bem como por melhores meios de transporte.
70:3.5 (787.5) A ausência de uma linguagem comum tem sempre impedido o crescimento de grupos de paz, conquanto o dinheiro se haja tornado a língua universal do comércio moderno. A sociedade moderna é mantida coesa, em grande parte, pelo mercado internacional. A motivação do ganho é um fator civilizador poderoso, quando potencializado pelo desejo de servir.
70:3.6 (787.6) Nas idades primitivas, cada tribo era cercada por círculos concêntricos de medo e suspeita crescentes; e, por esse motivo, em épocas passadas, era costume matar todos os desconhecidos e, mais tarde ainda, a tribo passou a escravizá-los. A velha idéia da amizade significava a adoção, pelo clã; e, ser membro do clã, significava a sobrevivência à morte — um dos conceitos mais antigos de vida eterna.
70:3.7 (787.7) A cerimônia de adoção consistia em beber-se o sangue um do outro. Em alguns grupos, a saliva era trocada em lugar de se beber o sangue, sendo esta a origem antiga da prática social do beijo. E todas as cerimônias de associação, fossem casamento ou adoção, sempre terminavam em festins.
70:3.8 (787.8) Ulteriormente, usava-se o sangue diluído em vinho tinto e, finalmente, apenas esse vinho era bebido, para selar a cerimônia de adoção, que ficava implícita no tilintar dos copos de vinho e consumada quando a bebida era engolida. Os hebreus tinham uma forma modificada dessa cerimônia de adoção. Os seus ancestrais árabes fizeram uso do juramento feito com a mão do candidato repousada sobre o órgão genital do nativo da tribo. Os hebreus tratavam os estrangeiros adotados com amabilidade e fraternidade. “O estranho que mora convosco será como aquele que nasceu entre vós, e vós o amareis como a vós próprios.”
70:3.9 (787.9) A “amizade ao hóspede” era uma relação de hospitalidade temporária. Quando os hóspedes convidados partiam, um prato seria quebrado pela metade, um pedaço era dado ao amigo que partia e, desse modo, podia servir de apresentação apropriada para um terceiro conviva que poderia vir em uma visita posterior. Era costume os hóspedes pagarem a sua estada contando histórias das suas viagens e aventuras. Os contadores de histórias dos tempos antigos tornaram-se tão populares que as tradições finalmente proibiram que exercessem os seus talentos, tanto nas estações da caça, quanto nas das colheitas.
70:3.10 (788.1) Os primeiros tratados de paz foram os “laços de sangue”. Os embaixadores da paz para duas tribos em guerra encontrar-se-iam, prestariam as suas homenagens de honra e, então, começariam a dar picadas na pele, até que sangrassem, depois do que eles engoliriam o sangue um do outro e assim declaravam a paz.
70:3.11 (788.2) As mais antigas missões de paz consistiam em delegações de homens que traziam as suas mais seletas donzelas para a gratificação sexual dos seus ex-inimigos, o desejo sexual sendo usado para combater o impulso da guerra. A tribo, assim honrada, faria uma visita de volta, oferecendo as suas donzelas; depois do que, a paz estaria firmemente estabelecida. E logo os casamentos entre as famílias dos chefes eram aprovados.
70:4.1 (788.3) O primeiro grupo pacífico foi a família, depois o clã, a tribo e, com o tempo, a nação, a qual finalmente tornou-se o estado territorial moderno. O fato de que os grupos pacíficos atuais se hajam expandido, há muito, além dos laços de sangue, abrangendo nações, é bastante encorajador a despeito do fato de que as nações de Urântia estejam ainda despendendo vastas somas na preparação de guerras.
70:4.2 (788.4) Os clãs eram grupos unidos pelo sangue, dentro da tribo, e deviam a sua existência a alguns interesses comuns, tais como:
70:4.3 (788.5) 1. A sua origem, podendo ser traçada até um ancestral em comum.
70:4.4 (788.6) 2. A fidelidade a um mesmo totem religioso.
70:4.5 (788.7) 3. O uso de um mesmo dialeto.
70:4.6 (788.8) 4. O compartilhar de um mesmo habitat.
70:4.7 (788.9) 5. O temor aos mesmos inimigos.
70:4.8 (788.10) 6. O fato de possuírem uma experiência militar em comum.
70:4.9 (788.11) Os chefes dos clãs eram sempre subordinados ao chefe tribal, e os governos tribais primitivos eram uma vaga confederação de clãs. Os australianos nativos nunca desenvolveram uma forma tribal de governo.
70:4.10 (788.12) Os chefes pacíficos dos clãs, em geral, governavam por meio da linhagem materna; os chefes tribais guerreiros estabeleciam a linha do pai. As cortes dos chefes tribais e dos primeiros reis consistiam nos chefes dos clãs, e era costume, várias vezes por ano, que eles fossem convidados à presença do rei. Isso o capacitava a vigiá-los e assegurar melhor a cooperação deles. Os clãs serviam a um propósito valioso, no autogoverno local, mas retardaram grandemente o crescimento de nações grandes e fortes.
70:5.1 (788.13) Todas as instituições humanas tiveram um começo, e o governo civil é um produto da evolução progressiva, exatamente como o matrimônio o é, tanto quanto a indústria e a religião. Dos primeiros clãs e tribos primitivas desenvolveram-se gradualmente as ordens sucessivas de governos humanos que surgiram e desapareceram, até chegar-se àquelas formas de regulamentação da ordem civil e social, que caracterizam a segunda terça parte do século vinte.
70:5.2 (788.14) Com a formação gradual das unidades familiares, as fundações do governo foram estabelecidas na organização do clã, o agrupamento de famílias consangüíneas. O primeiro corpo real de governo foi o conselho dos mais velhos. Esse grupo regulamentador era composto dos anciães que se haviam distinguido de alguma maneira pela sua eficiência. Desde muito cedo, a sabedoria e a experiência foram apreciadas, até mesmo pelo homem bárbaro; e seguiu-se uma longa idade de dominação dos mais velhos. Esse reinado, da oligarquia da idade, gradualmente evoluiu para a idéia patriarcal.
70:5.3 (789.1) Nos primeiros conselhos de anciães residia o potencial de todas as funções governamentais: a executiva, a legislativa e a judiciária. Quando o conselho interpretava os costumes correntes, era uma corte judicial; quando estabelecia novos modos de uso social, era uma legislatura; à medida que fazia cumprir esses decretos e atos, era o executivo. O presidente do conselho era um dos antecessores, do chefe tribal, a surgir mais tarde.
70:5.4 (789.2) Algumas tribos possuíam conselhos de mulheres e, de tempos em tempos, muitas tribos tinham mulheres governantes. Algumas tribos dos homens vermelhos preservaram os ensinamentos de Onamonalonton, seguindo a regra unânime do “conselho dos sete”.
70:5.5 (789.3) Foi difícil para a humanidade aprender que nem a paz, nem a guerra podem ser regidas por uma sociedade em debate. O “palavrório” primitivo raramente era útil. A raça aprendeu, muito cedo, que um exército comandado por um grupo de chefes de clãs não tinha a menor chance de vencer um exército forte, de um só comandante. A guerra tem sido sempre uma criadora de reis.
70:5.6 (789.4) A princípio, os chefes guerreiros eram escolhidos apenas para o serviço militar, e eles renunciavam a uma parte da sua autoridade, durante os tempos de paz, quando os seus deveres eram de uma natureza mais social. Gradativamente, porém, eles começaram a transgredir os intervalos de paz, tendendo a continuar governando de uma guerra até a próxima. Muitas vezes, eles percebiam que uma guerra não demorava a seguir-se à outra. Esses primitivos senhores das guerras não eram amantes da paz.
70:5.7 (789.5) Em tempos mais recentes, alguns chefes eram escolhidos por outros motivos, além dos serviços militares, sendo selecionados por causa de um físico excepcional ou por habilidades pessoais notáveis. Os homens vermelhos freqüentemente tinham dois grupos de chefes — os sachéns, ou os chefes na paz, e os chefes hereditários da guerra. Os governantes da paz eram também juízes e educadores.
70:5.8 (789.6) Algumas comunidades primitivas eram governadas por xamãs, ou pajés, que freqüentemente atuavam como chefes. Um mesmo homem atuaria como sacerdote, médico e chefe executivo. Muito freqüentemente as insígnias reais haviam sido, originalmente, os símbolos ou emblemas das vestes sacerdotais.
70:5.9 (789.7) E foi por meio desses passos que o setor executivo do governo gradualmente veio à existência. Os conselhos do clã e da tribo continuaram nas suas funções de consulta e como predecessores dos setores legislativo e judiciário, a surgirem mais tarde. Na África, hoje, todas essas formas primitivas de governo existem de fato entre as várias tribos.
70:6.1 (789.8) O governo efetivo do estado somente se estabeleceu com a adoção de um chefe com autoridade executiva plena. O homem julgou que o governo efetivo só poderia existir se ele conferisse poder a uma personalidade, e não pela adoção de uma idéia.
70:6.2 (789.9) O poder soberano surgiu do conceito da autoridade ou da riqueza familiar. Quando um pequeno monarca patriarcal tornava-se efetivamente um rei, algumas vezes era chamado de “pai do seu povo”. Ulteriormente, pensava-se que os reis brotassem dos heróis. E mais tarde ainda, o poder tornou-se hereditário, devido à crença na origem divina dos reis.
70:6.3 (789.10) A realeza hereditária evitou a anarquia, que anteriormente levara a uma grande devastação, entre a morte de um rei e a eleição do seu sucessor. A família tinha um chefe biológico; o clã, um líder escolhido naturalmente; a tribo e posteriormente o estado não tinham um líder natural, e isso foi mais uma razão para tornar hereditária a posição dos chefes-reis. A idéia das famílias reais e da aristocracia foi baseada também nas tradições da “posse de um nome” nos clãs.
70:6.4 (790.1) A sucessão dos reis acabou por ser encarada como sobrenatural; julgava-se que o sangue real remontava aos tempos da assessoria materializada do Príncipe Caligástia. Assim, os reis tornaram-se personalidades-fetiches, sendo temidos de um modo incomum; uma forma especial de linguagem sendo adotada para uso na corte. Mesmo em épocas recentes, acreditava-se que o toque dos reis poderia curar doenças, e alguns povos de Urântia ainda consideram os seus governantes como tendo uma origem divina.
70:6.5 (790.2) O rei-fetiche de outrora não raro era mantido em reclusão; ele era encarado como sendo sagrado demais para ser visto, a não ser nos dias de festa e dias santos. Um representante era ordinariamente escolhido para personificá-lo, e essa foi a origem dos primeiros-ministros. O primeiro oficial do gabinete era um administrador da alimentação; outros, em breve, vieram. Os governantes logo apontaram representantes para encarregar-se do comércio e da religião; e o desenvolvimento de um gabinete foi um passo direto para a despersonalização da autoridade executiva. Esses assistentes dos primeiros reis tornaram-se a nobreza aceita, e a esposa do rei elevou-se gradualmente à dignidade de rainha, à medida que as mulheres adquiriram maior estima.
70:6.6 (790.3) Os governantes inescrupulosos ganharam um grande poder, com a descoberta do veneno. A magia da corte primitiva era diabólica; os inimigos do rei morriam logo. Mas até mesmo o mais despótico tirano estava sujeito a algumas restrições; era pelo menos limitado pelo medo sempre presente de assassinato. Os curandeiros, feiticeiros e sacerdotes têm sido sempre um poderoso freio para os reis. Mais tarde, os proprietários de terras, considerados a aristocracia, exerceram uma influência restritiva. E, de tempos em tempos, os clãs e as tribos simplesmente se rebelavam e derrubavam os seus déspotas e tiranos. Aos governantes depostos, quando sentenciados à morte, era freqüentemente dada a opção de cometerem suicídio, o que deu origem à antiga moda social do suicídio em certas circunstâncias.
70:7.1 (790.4) A consangüinidade determinou os primeiros grupos sociais; os clãs de parentescos cresceram por associação. Os casamentos intertribais foram o próximo passo para a amplificação dos grupos, e a tribo complexa resultante foi o primeiro verdadeiro corpo político. O próximo avanço, no desenvolvimento social, foi a evolução dos cultos religiosos e dos clubes políticos. Estes, inicialmente, surgiram como sociedades secretas e, originalmente, eram integralmente religiosos; posteriormente, tornaram-se reguladores. A princípio, eram clubes de homens; mais tarde, grupos femininos apareceram. E em breve se dividiram em duas classes: a político-social e a místico-religiosa.
70:7.2 (790.5) Havia muitas razões para que essas sociedades fossem secretas, tais como:
70:7.3 (790.6) 1. O medo de cair no desagrado dos governantes, por causa da violação de algum tabu.
70:7.4 (790.7) 2. A finalidade de praticarem ritos religiosos minoritários.
70:7.5 (790.8) 3. O propósito de preservar valiosos segredos do “espírito” ou do comércio.
70:7.6 (790.9) 4. O desfrute de algum talismã ou magia especial.
70:7.7 (790.10) O fato em si, de serem secretas essas sociedades, conferia a todos os seus membros o poder do mistério sobre o resto da tribo. O que é secreto também tem o atrativo de alimentar a vaidade; os iniciados eram a aristocracia social da sua época. Depois da iniciação, os meninos caçavam com os homens; enquanto antes eles colhiam plantas com as mulheres. E era a humilhação suprema, uma desgraça tribal, fracassar nas provas da puberdade e, assim, ser obrigado a permanecer fora da morada dos homens, ficando com as mulheres e as crianças, e ser considerado afeminado. Além disso, aos não iniciados não era permitido casar.
70:7.8 (791.1) Os povos primitivos ensinavam muito cedo aos seus adolescentes o controle sexual. Tornou-se costume levar os meninos para longe dos pais, desde a puberdade até o casamento; a educação e o aperfeiçoamento deles eram confiados às sociedades secretas dos homens. E uma das funções primordiais desses clubes era manter o controle dos jovens adolescentes, impedindo, assim, filhos ilegítimos.
70:7.9 (791.2) A prostituição comercializada começou quando esses clubes de homens pagavam dinheiro pelo uso de mulheres de outras tribos. Contudo, os grupos mais antigos mantinham-se notavelmente isentos de licenciosidades sexuais.
70:7.10 (791.3) A cerimônia de iniciação, na puberdade, em geral durava um período de cinco anos. Muita autotortura e incisões dolorosas faziam parte dessas cerimônias. A circuncisão foi praticada, inicialmente, como um rito de iniciação de uma dessas fraternidades secretas. As marcas tribais eram feitas no corpo como uma parte da iniciação da puberdade; a tatuagem teve a sua origem com essas insígnias de membro de alguma sociedade. Essas torturas, junto com muita privação, tinham o intuito de endurecer esses jovens, de impressioná-los com a realidade da vida e das suas inevitáveis dificuldades. Esse propósito foi mais bem alcançado com os jogos atléticos e as disputas físicas que surgiram posteriormente.
70:7.11 (791.4) No entanto, as sociedades secretas de fato visavam o aperfeiçoamento da moral do adolescente; um dos propósitos principais das cerimônias da puberdade era fazer os rapazes compreenderem que deviam deixar as mulheres dos outros homens em paz.
70:7.12 (791.5) Seguindo esses anos de disciplina rigorosa e aperfeiçoamento, um pouco antes do casamento, os rapazes em geral eram liberados por um curto período de lazer e liberdade, depois do que voltavam para casar e aceitar toda uma vida de sujeição aos tabus tribais. E esse rito antigo continuou até os tempos modernos, sob a tola desculpa de uma despedida das “loucuras da juventude”.
70:7.13 (791.6) Muitas tribos posteriores aprovaram a formação de clubes secretos femininos, e o propósito deles era preparar as adolescentes para serem esposas e para a maternidade. Depois da iniciação, as meninas tornavam-se aptas para o casamento e lhes era permitido comparecer à “festa das noivas”, a festa das debutantes daqueles dias. Os grupos femininos contra o casamento logo passaram a existir.
70:7.14 (791.7) Em breve, os clubes não secretos apareceram, quando grupos de homens solteiros e mulheres celibatárias formaram as suas organizações separadas. Essas associações realmente foram as primeiras escolas. E, conquanto os clubes de homens e os das mulheres fossem freqüentemente dados a perseguir-se uns aos outros, algumas tribos avançadas, depois do contato com os instrutores de Dalamátia, experimentaram a educação mista, com escolas para ambos os sexos.
70:7.15 (791.8) As sociedades secretas contribuíram para a instauração das castas sociais, principalmente por causa do caráter misterioso das suas iniciações. Os membros dessas sociedades usavam máscaras, inicialmente, para afastar os curiosos dos seus rituais de luto — o culto dos ancestrais. Mais tarde, esse ritual transformou-se em pseudo-sessões espíritas, nas quais, segundo se dizia, apareciam fantasmas. As antigas sociedades de “renascimento” usavam emblemas e empregavam uma linguagem secreta especial; e também renegavam certas comidas e bebidas. Atuavam como uma polícia noturna e, assim, funcionavam em amplas gamas de atividades sociais.
70:7.16 (792.1) Todas as associações secretas impunham um juramento, o guardar do silêncio, e ensinavam a guardar os segredos. Essas ordens impressionavam e controlavam as multidões; e também atuavam como sociedades de vigilância, praticando, assim, a lei do linchamento. Elas foram os primeiros espiões, quando as tribos estavam em guerra, e a primeira polícia secreta, durante os tempos de paz. E, melhor ainda, mantinham os reis inescrupulosos em estado de insegurança. Para contrabalançar, os reis criaram a sua própria milícia secreta.
70:7.17 (792.2) Essas sociedades deram nascimento aos primeiros partidos políticos. O primeiro governo partidário foi “o forte” versus “o fraco”. Nos tempos antigos, uma mudança na administração só ocorria depois de uma guerra civil, dando, assim, prova abundante de que os fracos se haviam transformado em fortes.
70:7.18 (792.3) Esses clubes eram utilizados pelos mercadores para cobrar os seus débitos e pelos governantes para coletar os impostos. A tributação tem sido uma longa luta, uma das suas primeiras formas foi o dízimo, um décimo da caçada, ou dos espólios. As taxas, originalmente, eram cobradas para manter a casa do rei, mas concluiu-se que eram mais fáceis de ser coletadas se disfarçadas em oferendas para sustentar o serviço do templo.
70:7.19 (792.4) Pouco a pouco, essas associações secretas transformaram-se nas primeiras organizações de caridade e, posteriormente, nas primeiras sociedades religiosas — as precursoras das igrejas. Finalmente, algumas dessas sociedades tornaram-se intertribais, formando as primeiras fraternidades internacionais.
70:8.1 (792.5) A desigualdade mental e física dos seres humanos assegura o aparecimento de classes sociais. Os únicos mundos sem substratos sociais são os mais primitivos e os mais avançados. Na aurora de uma civilização, a diferenciação de níveis sociais ainda não começou, ao passo que um mundo estabelecido em luz e vida já apagou grandemente essas divisões da humanidade, que são tão características de todos os estágios evolucionários intermediários.
70:8.2 (792.6) À medida que a sociedade emergiu da selvageria até a barbárie, os seus componentes humanos tenderam a tornar-se agrupados em classes, pelas seguintes razões gerais:
70:8.3 (792.7) 1. Razões naturais — o contato, o parentesco e o casamento; as primeiras distinções sociais foram baseadas no sexo, na idade e no sangue — o parentesco com o chefe.
70:8.4 (792.8) 2. Razões pessoais — o reconhecimento da capacidade, da resistência, da habilidade e da firmeza; logo seguido pelo reconhecimento do domínio da linguagem, do conhecimento e da inteligência geral.
70:8.5 (792.9) 3. Razões de oportunidade — a guerra e a imigração resultaram na separação dos grupos humanos. A evolução das classes foi poderosamente influenciada pelas conquistas, a relação do vitorioso com o vencido, enquanto a escravidão trouxe a primeira divisão geral da sociedade, em livres e cativos.
70:8.6 (792.10) 4. Razões econômicas — os ricos e os pobres. A riqueza e a posse de escravos foi uma base genética para uma classe da sociedade.
70:8.7 (792.11) 5. Razões geográficas — as classes formaram-se em conseqüência do estabelecimento das populações nas regiões urbanas ou rurais. A cidade e o campo, respectivamente, contribuíram para a diferenciação do pastor-agricultor e do comerciante-industrial, com os seus pontos de vista e reações divergentes.
70:8.8 (792.12) 6. Razões sociais — as classes formaram-se gradativamente de acordo com o apreço popular do valor social dos diferentes grupos. Entre as primeiras divisões dessa espécie, estavam as demarcações entre os sacerdotes-professores, os governantes-guerreiros, os capitalistas-comerciantes, os trabalhadores comuns e os escravos. O escravo não podia jamais se transformar em um capitalista, embora algumas vezes o assalariado pudesse optar por juntar-se ao setor capitalista.
70:8.9 (793.1) 7. Razões vocacionais — como as vocações multiplicavam-se, elas tendiam a estabelecer castas e agremiações. Os trabalhadores dividiam-se em três grupos: as classes profissionais, incluindo os curandeiros, depois os trabalhadores qualificados, seguidos dos trabalhadores sem habilitação.
70:8.10 (793.2) 8. Razões religiosas — os primeiros clubes de cultos produziram as suas próprias classes, dentro dos clãs e das tribos, e a piedade e o misticismo dos sacerdotes há muito perpetuaram-nos como um grupo social separado.
70:8.11 (793.3) 9. Razões raciais — a presença de duas ou mais raças, dentro de uma certa nação, ou unidade territorial, resulta nas castas de cores. O sistema de castas original, na Índia, era baseado na cor, como também o era no Egito mais antigo.
70:8.12 (793.4) 10. Razões de idade — a juventude e a maturidade. Entre as tribos, o menino permanecia sob o cuidado do seu pai, enquanto o pai estava vivo; ao passo que a menina era colocada sob os cuidados da sua mãe, até que se casasse.
70:8.13 (793.5) As classes sociais flexíveis e mutáveis são indispensáveis a uma civilização em evolução, mas, quando a classe transforma-se na casta, quando os níveis sociais cristalizam-se, o aumento da estabilidade social tem como preço uma diminuição da iniciativa pessoal. A casta social resolve o problema de posicionar um indivíduo nas atividades econômicas, mas também restringe consideravelmente o desenvolvimento individual e impede, virtualmente, a cooperação social.
70:8.14 (793.6) As classes, na sociedade, havendo sido formadas naturalmente, perdurarão até que o homem gradualmente realize a sua obliteração evolucionária, por intermédio de uma manipulação inteligente dos recursos biológicos, intelectuais e espirituais de uma civilização em progresso, tais como:
70:8.15 (793.7) 1. A renovação biológica das linhagens raciais — a eliminação seletiva das linhagens humanas inferiores. Isso tenderá a erradicar muitas inadequações dentre os mortais.
70:8.16 (793.8) 2. O aperfeiçoamento educativo da capacidade cerebral aumentada, que surgirá desses aperfeiçoamentos biológicos.
70:8.17 (793.9) 3. A estimulação religiosa dos sentimentos de afinidade e de irmandade mortal.
70:8.18 (793.10) Todavia, essas medidas podem dar os seus verdadeiros frutos apenas em milênios no futuro distante, embora um grande aperfeiçoamento social resulte imediatamente da manipulação inteligente, sábia e paciente desses fatores de aceleração do progresso cultural. A religião é uma poderosa alavanca que retira a civilização do caos, mas ela é impotente, se separada do ponto de apoio que é a mente normal e sadia que se baseia na segurança de uma hereditariedade sadia e normal.
70:9.1 (793.11) A natureza não confere direitos ao homem, apenas a vida; e o mundo no qual se vive. A natureza não confere nem mesmo o direito de viver, como poderia ser deduzido ao considerar-se o que provavelmente aconteceria se um homem desarmado se visse frente a um tigre faminto numa floresta primitiva. A primeira dádiva da sociedade ao homem é a segurança.
70:9.2 (793.12) Gradualmente, a sociedade afirmou os seus direitos e, na época presente, eles são:
70:9.3 (793.13) 1. A certeza do suprimento de alimentos.
70:9.4 (793.14) 2. A defesa militar — a segurança, por meio da prontidão.
70:9.5 (793.15) 3. A preservação da paz interna — o impedimento da violência pessoal e da desordem social.
70:9.6 (794.1) 4. O controle sexual — o casamento, a instituição da família.
70:9.7 (794.2) 5. A propriedade — o direito de possuir.
70:9.8 (794.3) 6. O incentivo à competição individual e grupal.
70:9.9 (794.4) 7. A provisão de meios para a educação e a capacitação da juventude.
70:9.10 (794.5) 8. A promoção do intercâmbio e do comércio — o desenvolvimento econômico.
70:9.11 (794.6) 9. O aperfeiçoamento das condições de trabalho e sua remuneração.
70:9.12 (794.7) 10. A garantia da liberdade de práticas religiosas, com o fito de que todas as outras atividades sociais possam ser exaltadas, tornando-se motivadas espiritualmente.
70:9.13 (794.8) Quando os direitos são mais antigos do que qualquer conhecimento da sua origem, eles, muitas vezes, são chamados de direitos naturais. Contudo, os direitos humanos não são realmente naturais; são inteiramente sociais. Eles são relativos e estão sempre mudando, nada mais sendo do que regras de um jogo — os ajustes reconhecidos nas relações que governam os fenômenos sempre mutáveis da competição humana.
70:9.14 (794.9) O que pode ser considerado como certo, em uma idade, pode não ser visto assim, em uma outra. A sobrevivência de grandes números de deficientes e de degenerados não é devida a qualquer direito natural que tenha sido assim incumbido à civilização do século vinte, mas é que a sociedade dessa época e os costumes simplesmente decretaram-no desse modo.
70:9.15 (794.10) Poucos direitos humanos foram reconhecidos na Idade Média européia; e, então, todo homem pertencia a algum outro, e os direitos eram nada mais do que privilégios concedidos pelo estado ou pela igreja. E a revolta contra esse erro foi igualmente errônea, por haver levado à crença de que todos os homens nascem iguais.
70:9.16 (794.11) Os fracos e os inferiores têm sempre lutado por direitos iguais; eles têm sempre insistido em que o estado deve obrigar o forte e o superior a suprir as suas necessidades e também a compensá-los pelas deficiências que muito freqüentemente são o resultado natural da sua própria indiferença e indolência.
70:9.17 (794.12) Esse ideal de igualdade, porém, é fruto da civilização; não é encontrado na natureza. Mesmo a cultura, por si própria, demonstra conclusivamente a inerente desigualdade dos homens, pela própria capacidade cultural desigual deles. A realização súbita e não evolucionária da suposta igualdade natural levaria o homem civilizado rapidamente de volta aos hábitos rudes das idades primitivas. A sociedade não pode oferecer direitos iguais a todos, mas pode prometer administrar os direitos variáveis dos indivíduos com equanimidade e justiça. É assunto e dever da sociedade prover, ao filho da natureza, uma oportunidade justa e pacífica de buscar a automanutenção, de participar da autoperpetuação e, ao mesmo tempo, de desfrutar, em alguma medida, da autogratificação; e a soma de todas essas três constitui a felicidade humana.
70:10.1 (794.13) A justiça natural é uma teoria do homem; não é uma realidade. Na natureza, a justiça é puramente teórica, totalmente fictícia. A natureza provê apenas uma espécie de justiça — a da conformidade inevitável entre os resultados e as causas.
70:10.2 (794.14) A justiça, como concebida pelo homem, significa obter os próprios direitos e tem sido, por isso, uma questão de evolução progressiva. O conceito de justiça pode muito bem ser uma parte constituinte de uma mente dotada com espírito, mas esse conceito não vem à existência, na sua plenitude, nos mundos do espaço.
70:10.3 (794.15) O homem primitivo atribuía todos os fenômenos a uma pessoa. Em caso de morte, o selvagem perguntava, não o que o matou, mas quem o matou. O assassinato acidental, portanto, não era reconhecido e, na punição do crime, o motivo do criminoso era totalmente desconsiderado; o julgamento era feito de acordo com o dano causado.
70:10.4 (795.1) Nas sociedades mais primitivas, a opinião pública agia diretamente; não eram necessários oficiais da lei. Não havia privacidade na vida primitiva. Os vizinhos de um homem eram responsáveis pela sua conduta; e daí advinha o direito deles de intrometerem-se nos assuntos pessoais uns dos outros. A sociedade era regulada pela teoria de que o grupo do qual se era membro deveria ter um interesse no comportamento de cada indivíduo e que, em uma certa medida, devia controlá-lo.
70:10.5 (795.2) Muito cedo se acreditou que os fantasmas administravam a justiça por intermédio dos curandeiros e dos sacerdotes; e isso levou essas ordens a constituírem-se nos primeiros detetives de crimes e oficiais da lei. Os seus primeiros métodos de descobrir sobre os crimes consistiram em conduzir testes com veneno, fogo e dor. Esses testes selvagens nada mais eram do que técnicas rudes para arbitrar; eles não decidiam necessariamente sobre uma disputa com justiça. Por exemplo: quando o veneno era administrado, se o acusado vomitava, ele era inocente.
70:10.6 (795.3) O Antigo Testamento registra uma dessas provas, um teste de culpa conjugal. Se um homem suspeitava que a sua esposa estava sendo infiel a ele, ele levava-a ao sacerdote e declarava as suas suspeitas, depois do que o sacerdote preparava uma bebida que consistia em água benta e sujeira do chão do templo. Após a cerimônia devida, que incluía maldições ameaçadoras, a esposa acusada era obrigada a beber a poção asquerosa. Se ela fosse culpada, “a água que causa a maldição entraria nela e se tornaria amarga, e o seu ventre se inflamaria, e as suas coxas apodreceriam, e a mulher seria execrada pelo seu próprio povo”. Se, por acaso, uma mulher pudesse engolir essa bebida imunda sem demonstrar sintomas de doença física, ela era absolvida das acusações feitas pelo seu marido ciumento.
70:10.7 (795.4) Esses métodos atrozes de detectar um crime eram praticados por quase todas as tribos em evolução, em uma época ou outra. Os duelos são resquícios modernos do julgamento por provações.
70:10.8 (795.5) Não é de se espantar que os hebreus e outras tribos semicivilizadas praticassem essas técnicas primitivas, para ministrar a justiça, há três mil anos; mas é bastante surpreendente que homens de pensamento, posteriormente, tenham inserido esses vestígios de barbarismo nas páginas de uma coleção de escrituras sagradas. O pensamento reflexivo deveria deixar claro que nenhum ser divino jamais deu ao homem mortal tais instruções injustas, a respeito de como descobrir e julgar, nos casos de suspeita de infidelidade conjugal.
70:10.9 (795.6) Muito cedo, a sociedade adotou a atitude de compensação por retaliação: olho por olho, uma vida por outra vida. As tribos em evolução, todas, reconheceram esse direito de vingança de sangue. A vingança tornou-se uma meta na vida primitiva, mas a religião, desde então, tem modificado bastante essas práticas tribais primitivas. Os instrutores da religião revelada sempre proclamaram: “‘A vingança é minha’, diz o Senhor”. Matar por vingança, nos tempos primitivos, não era de todo diferente dos assassinatos atuais, feitos sob uma pretensa lei não escrita.
70:10.10 (795.7) O suicídio era um modo comum de retaliação. Se alguém não era capaz de vingar a si próprio, em vida, ele morria alimentando a crença de que retornaria como um fantasma e exerceria a ira sobre o seu inimigo. E, posto que essa crença fosse bastante geral, uma ameaça de suicídio, na porta do inimigo era, via de regra, suficiente para trazê-lo a bons termos. O homem primitivo não era muito apegado à vida; o suicídio, por causa de insignificâncias, era comum; mas os ensinamentos dos dalamatianos em muito reduziram esse costume, ao passo que, em tempos mais recentes, o lazer, o conforto, a religião e a filosofia uniram-se para tornar a vida mais doce e mais desejável. As greves de fome são, contudo, a forma moderna análoga desse método antigo de retaliação.
70:10.11 (796.1) Uma das expressões mais antigas de progresso na lei tribal era a de assumir a vingança de sangue como sendo uma questão da tribo inteira. Entretanto, torna-se estranho constatar que, mesmo então, um homem podia matar a sua esposa sem sofrer punição, desde que houvesse pagado integralmente por ela. Os esquimós de hoje, contudo, ainda deixam a penalidade de um crime, ainda que seja o de um assassinato, para a família vitimada decidir e ministrar a punição.
70:10.12 (796.2) Um outro avanço foi a imposição de multas pela violação dos tabus, a instituição de penalidades. Essas multas foram a primeira renda pública. A prática de se pagar “o dinheiro pelo sangue” também esteve em moda, como uma substituta da vingança sangrenta. Os danos correspondentes eram pagos, em geral, com mulheres ou com o gado; demorou muito tempo para que as multas de fato, as compensações monetárias, passassem a ser a punição de um crime. E, desde que a idéia da punição era essencialmente a de compensação, tudo, inclusive a vida humana, finalmente chegou a ter um preço que poderia vir a ser pago por danos causados a ela. Os hebreus foram os primeiros a abolir a prática de pagar com dinheiro o resgate pela vida. Moisés ensinou que eles não deviam “pagar resgate pela vida de um assassino, que é culpado de morte; certamente ele deverá ser posto para morrer”.
70:10.13 (796.3) A justiça foi exercida assim, primeiro pela família, depois pelo clã, e mais tarde pela tribo. A administração da verdadeira justiça começou ao se retirar a vingança das mãos dos grupos privados e familiares, entregando-a nas mãos do grupo social, o estado.
70:10.14 (796.4) A punição de queimar a pessoa viva foi, no passado, uma prática comum, reconhecida por muitos governantes antigos, inclusive Hamurabi e Moisés; este último determinou que muitos criminosos, particularmente aqueles cujos crimes eram de natureza sexual grave, fossem punidos, amarrados a um poste e queimados. Se “a filha de um sacerdote”, ou outra cidadã de proeminência, se voltasse para a prostituição pública, o costume hebreu era “queimá-la com fogo”.
70:10.15 (796.5) A traição — “a venda” ou a traição de um companheiro de tribo — foi o primeiro crime capital. O roubo de gado era universalmente punido com a morte sumária e, mesmo recentemente, o roubo de cavalos tem sido punido de modo semelhante. No entanto, com o passar do tempo, aprendeu-se que a punição do crime tinha um valor mais restringente pela certeza e rapidez, do que pela sua severidade.
70:10.16 (796.6) Quando a sociedade deixa de punir os crimes, o ressentimento grupal, em geral, afirma-se pela lei do linchamento; o estabelecimento de santuários foi um meio de escapar a essa súbita raiva grupal. O linchamento e o duelo representam a falta de disposição do indivíduo em deixar para o estado a reparação ao dano privado.
70:11.1 (796.7) É tão difícil fazer distinções nítidas entre costumes e leis, quanto precisar exatamente o momento, ao amanhecer, em que a noite é sucedida pelo dia. Os costumes são leis e regras policiais em gestação. Quando estabelecidos há muito tempo, os costumes indefinidos tendem a cristalizar-se em leis precisas, em regulamentações concretas e em convenções sociais bem definidas.
70:11.2 (796.8) A lei a princípio é sempre negativa e proibitiva; nas civilizações em avanço, ela torna-se cada vez mais positiva e diretiva. A sociedade primitiva operava de forma negativa, concedia ao indivíduo o direito de viver pela imposição a todos os outros do mandamento: “vós não matareis”. Toda a concessão de direitos ou de liberdade a um indivíduo envolve a restrição das liberdades de todos os outros indivíduos, e isso é efetuado pelo tabu, a lei primitiva. Toda a idéia do tabu é inerentemente negativa, pois a sociedade primitiva era totalmente negativa, na sua organização, e a administração primitiva da justiça consistia na obediência aos tabus. Originalmente, porém, essas leis aplicavam-se apenas aos companheiros da tribo, como é mais recentemente ilustrado pelos hebreus, que tinham um código diferente de ética para lidar com os gentios.
70:11.3 (797.1) O juramento teve origem na época de Dalamátia, em um esforço de tornar os testemunhos mais confiáveis. Esses juramentos consistiam em pronunciar uma praga sobre si próprio. Anteriormente nenhum indivíduo testemunharia contra o seu próprio grupo nativo.
70:11.4 (797.2) O crime era um assalto aos costumes da tribo, o pecado era a transgressão dos tabus, que tinham a sanção dos espíritos; e havia uma grande confusão decorrente da incapacidade de distinguir entre o crime e o pecado.
70:11.5 (797.3) O interesse próprio estabeleceu o tabu contra o assassinato; a sociedade santificou-o como um costume tradicional, enquanto a religião consagrou o costume como uma lei moral e, assim, todos os três se uniram para tornar a vida humana mais segura e sagrada. A sociedade não teria conseguido manter-se unida durante os tempos primitivos, caso os direitos não tivessem tido a aprovação da religião; a superstição tinha a força do policiamento moral e social nas longas idades evolucionárias. Os antigos, todos, pretendiam que as suas antigas leis e tabus tivessem sido dados aos seus ancestrais pelos deuses.
70:11.6 (797.4) A lei é um registro codificado de uma longa experiência humana, a opinião pública solidificou-a legalizando-a. Os costumes foram a matéria-prima da experiência acumulada, a partir da qual as mentes governantes posteriores formularam as leis escritas. O juiz antigo não tinha leis. Quando tomava uma decisão, ele simplesmente dizia: “é o costume”.
70:11.7 (797.5) A referência a precedentes, nas decisões das cortes, representa um empenho dos juízes em adaptar as leis escritas às condições mutáveis da sociedade. Isso proporcionou uma adaptação progressiva às condições sociais que se alteram, conjugada à influência moral provinda da continuidade tradicional.
70:11.8 (797.6) As disputas de propriedades foram tratadas de vários modos, tais como:
70:11.9 (797.7) 1. Pela destruição da propriedade disputada.
70:11.10 (797.8) 2. Pela força — as partes em litígio decidiam por meio do combate.
70:11.11 (797.9) 3. Por arbitragem — uma terceira parte decidia.
70:11.12 (797.10) 4. Por apelo aos mais velhos — e, mais tarde, às cortes.
70:11.13 (797.11) As primeiras cortes eram como que confrontos regrados entre pugilistas; os juízes eram árbitros, meramente. Eles cuidavam para que a luta fosse travada de acordo com as regras aprovadas. Numa corte, ao entrar em um combate, cada parte fazia um depósito, com o juiz, para poder pagar as custas e a multa, depois que um deles tivesse sido derrotado. “A força ainda era o direito.” Posteriormente, os argumentos verbais substituíram os golpes físicos.
70:11.14 (797.12) Toda a idéia da justiça primitiva não era tanto a de ser justo, era mais a de propor a disputa e assim impedir a desordem pública e a violência particular. Todavia, os homens primitivos não se ressentiam muito daquilo que agora seria considerado uma injustiça; era admitido àqueles que tinham o poder, que o usassem egoisticamente. Contudo, o status de qualquer civilização pode ser determinado, com bastante precisão, pela eficácia e eqüidade das suas cortes e pela integridade dos seus juízes.
70:12.1 (797.13) A grande luta, na evolução do governo, tem sido contra a concentração do poder. Os administradores do universo têm aprendido, da experiência, que os povos evolucionários, nos mundos habitados, são mais bem regulamentados pelo tipo representativo de governo civil, quando é mantido, então, por meio de uma coordenação eficaz do equilíbrio adequado de poder, entre o executivo, o legislativo e o judiciário.
70:12.2 (798.1) Se bem que a autoridade primitiva haja sido baseada na força, no poder físico, o governo ideal é o sistema representativo em que a liderança é baseada na capacidade; mas, naqueles dias de barbarismo, havia guerras demais para permitir que o governo representativo funcionasse efetivamente. Na longa luta, entre a divisão da autoridade e a unidade de comando, ganhava o ditador. Os poderes primitivos e difusos dos primeiros conselhos dos mais velhos eram gradualmente concentrados na pessoa do monarca absoluto. Depois, com o advento dos reis de fato, os grupos dos mais velhos persistiram como corpos de assessoria quase legislativo-judiciários; mais tarde, vieram as legislaturas com status de coordenação, e finalmente as cortes supremas de julgamento foram estabelecidas, separadamente das legislaturas.
70:12.3 (798.2) O rei era o executor dos costumes, da lei original ou da lei não escrita. Mais tarde, ele impôs os atos legislativos, levando à cristalização da opinião pública. Uma assembléia popular, como expressão da opinião pública, se bem que haja demorado a aparecer, marcou um grande avanço social.
70:12.4 (798.3) Os reis primitivos eram bastante limitados pelos costumes — pela tradição ou pela opinião pública. Nos tempos recentes, algumas nações de Urântia codificaram esses costumes, em uma base documentada, para governar.
70:12.5 (798.4) Os mortais de Urântia têm direito à liberdade; eles deveriam criar os seus sistemas de governo; deveriam adotar as suas constituições ou outras cartas de autoridade civil e de procedimento administrativo. E, havendo feito isso, eles deveriam selecionar os seus companheiros, os mais competentes e dignos, como chefes executivos. Para representantes no poder legislativo, deveriam eleger apenas aqueles que, intelectual e moralmente, fossem qualificados para arcar com essas responsabilidades sagradas. Como juízes dos seus tribunais mais altos e supremos, deveriam ser escolhidos apenas aqueles que fossem dotados de capacidade natural e que se tornaram sábios por meio de ampla experiência.
70:12.6 (798.5) Se os homens quiserem manter a sua liberdade depois de haver escolhido a sua carta de direitos, eles devem providenciar a sua interpretação sábia, inteligente e destemida, com o fito de que impedidos sejam:
70:12.7 (798.6) 1. A usurpação injustificada do poder, da parte do ramo executivo e do legislativo.
70:12.8 (798.7) 2. As maquinações de agitadores ignorantes e supersticiosos.
70:12.9 (798.8) 3. O retardamento do progresso científico.
70:12.10 (798.9) 4. O impasse gerado pelo predomínio da mediocridade.
70:12.11 (798.10) 5. O predomínio de minorias viciosas.
70:12.12 (798.11) 6. O controle por pretensos ditadores ambiciosos e espertos.
70:12.13 (798.12) 7. As desagregações desastrosas do pânico.
70:12.14 (798.13) 8. A exploração feita pelos inescrupulosos.
70:12.15 (798.14) 9. A escravização do cidadão ao governo, por meio de impostos.
70:12.16 (798.15) 10. As falhas da justiça social e econômica.
70:12.17 (798.16) 11. A união da igreja e do estado.
70:12.18 (798.17) 12. A perda da liberdade pessoal.
70:12.19 (798.18) São esses os propósitos e metas dos tribunais constitucionais, atuando como governadores sobre as máquinas do governo representativo, em um mundo evolucionário.
70:12.20 (799.1) A luta da humanidade para aperfeiçoar o governo em Urântia tem a ver com o perfeccionamento dos canais da administração, com a adaptação que se faz deles às sempre mutáveis necessidades do momento, com o aperfeiçoamento da distribuição do poder dentro do governo e, então, com a seleção de líderes administrativos realmente sábios. Conquanto exista uma forma de governo divina e ideal, ela não pode vir por meio da revelação, deve ser, portanto, lenta e laboriosamente descoberta pelos homens e mulheres de cada planeta, em todos os universos do tempo e do espaço.
70:12.21 (799.2) [Apresentado por um Melquisedeque de Nébadon.]
O Livro de Urântia
Documento 71
71:0.1 (800.1) O ESTADO é uma evolução útil da civilização; ele representa o ganho líquido que a sociedade retira das devastações e dos sofrimentos da guerra. Até mesmo a arte política do estadista é meramente uma técnica acumulada para ajustar a disputa competitiva de forças, entre as tribos e as nações em luta.
71:0.2 (800.2) O estado moderno é a instituição que sobreviveu na longa luta pelo poder grupal. O poder maior finalmente prevaleceu, e gerou uma criação de fato — o estado — e, junto, o mito moral da obrigação absoluta de o cidadão viver e morrer pelo estado. Mas o estado não tem uma gênese divina; nem mesmo é um produto da ação humana volitiva intencional; é uma instituição puramente evolucionária e a sua origem foi totalmente automática.
71:1.1 (800.3) O estado é uma organização social territorial reguladora; o estado mais forte, o mais eficiente e duradouro, é composto de uma nação única, cujo povo tem uma língua, costumes e instituições em comum.
71:1.2 (800.4) Os primeiros estados eram pequenos, resultantes todos de conquistas. Eles não se originavam de associações voluntárias. Muitos foram fundados por nômades conquistadores, que se arremetiam sobre grupos de pastores pacíficos ou colônias de agricultores, para subjugá-los e escravizá-los. Tais estados, resultantes de conquistas, ficaram forçosamente estratificados; as classes tornaram-se inevitáveis, e as lutas de classes sempre foram seletivas.
71:1.3 (800.5) As tribos de homens vermelhos, ao norte da América, nunca chegaram a se organizar de fato em um estado. Nunca progrediram mais adiante do que até uma confederação afrouxada de tribos, uma forma muito primitiva de estado. A que mais se aproximou de um estado foi a federação iroquesa, mas esse grupo de seis nações nunca funcionou de fato como um estado e não conseguiu sobreviver por causa da falta de alguns elementos essenciais à vida moderna nacional, tais como:
71:1.4 (800.6) 1. A aquisição e a herança da propriedade privada.
71:1.5 (800.7) 2. Cidades providas de agricultura e de indústrias.
71:1.6 (800.8) 3. Animais domésticos úteis.
71:1.7 (800.9) 4. Uma organização prática da família. Esses homens vermelhos ativeram-se à família materna e à herança de tio para sobrinho.
71:1.8 (800.10) 5. Um território definido.
71:1.9 (800.11) 6. Um chefe executivo forte.
71:1.10 (800.12) 7. A escravização dos prisioneiros — ou eles os adotavam ou os massacravam.
71:1.11 (800.13) 8. Conquistas decisivas.
71:1.12 (800.14) Os homens vermelhos eram democráticos demais; eles tinham um bom governo, mas este fracassou. Teriam finalmente evoluído até um estado, caso não tivessem encontrado prematuramente a civilização mais avançada do homem branco, que estava buscando os métodos de governo dos gregos e dos romanos.
71:1.13 (801.1) O êxito do estado romano baseou-se:
71:1.14 (801.2) 1. Na família paterna.
71:1.15 (801.3) 2. Na agricultura e na domesticação dos animais.
71:1.16 (801.4) 3. Na concentração da população — as cidades.
71:1.17 (801.5) 4. Na propriedade e nas terras privadas.
71:1.18 (801.6) 5. Na escravatura — nas classes de cidadania.
71:1.19 (801.7) 6. Na conquista e na reorganização dos povos fracos e atrasados.
71:1.20 (801.8) 7. Num território definido e com estradas.
71:1.21 (801.9) 8. Em governantes pessoais e fortes.
71:1.22 (801.10) A grande fraqueza da civilização romana e um fator do colapso final do império foi a disposição, supostamente liberal e avançada, para a emancipação do jovem, aos vinte e um anos de idade, e a liberação incondicional das moças, de modo que ficassem livres para casar-se com os homens da sua própria escolha, ou para circular pelo país tornando-se dissolutas. O dano à sociedade não consistiu nessas reformas em si mesmas, mas muito mais na maneira súbita e disseminada com que foram adotadas. O colapso de Roma indica o que pode ser esperado, quando um estado é submetido a uma rápida expansão, associada à degeneração interna.
71:1.23 (801.11) O estado embrionário tornou-se possível pelo declínio dos laços consangüíneos, em favor da ligação territorial; e essas federações tribais foram, em geral, firmemente cimentadas pelas conquistas. Ainda que uma soberania que transcende a todas as lutas menores e a todas as diferenças grupais seja característica do verdadeiro estado, muitas classes e castas ainda persistem nas organizações estatais posteriores, como remanescentes dos clãs e das tribos de dias passados. Os estados territoriais mais recentes e maiores tiveram uma longa e amarga luta com esses grupos de clãs consangüíneos menores, o governo tribal passando pela provação de uma transição valiosa, da autoridade da família, para a do estado. Durante tempos mais recentes, muitos clãs surgiram do comércio e de outras associações econômicas.
71:1.24 (801.12) O fracasso na integração do estado resulta no retrocesso às condições técnicas governamentais do pré-estado, tais como o feudalismo da Idade Média européia. Durante essas idades das trevas, o estado territorial entrou em colapso; e houve um retrocesso até surgirem os pequenos grupos encastelados, com o reaparecimento do clã e dos estágios tribais de desenvolvimento. Semi-estados semelhantes existem, até mesmo atualmente, na Ásia e na África, mas nem todos representam retrocessos evolucionários; muitos formam núcleos embrionários de estados do futuro.
71:2.1 (801.13) A democracia, como um ideal, é um produto da civilização, não da evolução. Ide devagar! Escolhei com cuidado! Pois os perigos da democracia são:
71:2.2 (801.14) 1. A glorificação da mediocridade.
71:2.3 (801.15) 2. A escolha de governantes vis e ignorantes.
71:2.4 (801.16) 3. O fracasso em reconhecer os fatos fundamentais da evolução social.
71:2.5 (801.17) 4. O perigo do sufrágio universal nas mãos de maiorias pouco instruídas e indolentes.
71:2.6 (801.18) 5. A escravidão à opinião pública; a maioria nem sempre está certa.
71:2.7 (802.1) A opinião pública, a opinião comum, sempre atrasou a sociedade; contudo, ela é valiosa, pois, conquanto retarde a evolução social, ela preserva a civilização. A educação da opinião pública é o único método seguro e verdadeiro de acelerar a civilização; a força é um expediente apenas temporário, e o crescimento cultural irá acelerar cada vez mais, se a arma que desfere projéteis der lugar à arma do voto. A opinião pública e os costumes são a energia básica e elementar da evolução social e do desenvolvimento do estado, mas para que tenha valor, para o estado, deve ser não violenta na sua expressão.
71:2.8 (802.2) A medida do avanço da sociedade é diretamente determinada pelo grau com que a opinião pública pode controlar o comportamento pessoal e pelas regulamentações do estado, por meio de expressões não violentas. Um governo realmente civilizado terá chegado quando a opinião pública estiver investida dos poderes do voto pessoal. As eleições populares nem sempre podem decidir corretamente as coisas, mas elas representam o modo certo, até mesmo de fazer uma coisa errada. A evolução não produz, de imediato, a perfeição superlativa, ela faz um ajustamento antes comparativo e de avanço prático.
71:2.9 (802.3) Há dez passos, ou estágios, na evolução de uma forma de governo representativo que seja prática e eficiente, e esses passos são:
71:2.10 (802.4) 1. A liberdade da pessoa. A escravidão, a servidão e todas as formas de sujeição humana devem desaparecer.
71:2.11 (802.5) 2. A liberdade da ment e. A menos que um povo livre esteja bem instruído — preparado para pensar inteligentemente e para planejar com sabedoria — , a liberdade, em geral, causa mais mal do que bem.
71:2.12 (802.6) 3. O âmbito da lei. A liberdade pode ser desfrutada apenas quando as vontades e os caprichos dos governantes humanos são substituídos pelos atos do legislativo, de acordo com a lei fundamental aceita.
71:2.13 (802.7) 4. A liberdade de discurso. Um governo representativo é inconcebível sem liberdade para todas as formas de expressão, para as aspirações e as opiniões humanas.
71:2.14 (802.8) 5. A segurança da propriedade. Nenhum governo pode resistir muito, se deixar de proporcionar o direito ao desfrute da propriedade pessoal de alguma forma. O homem anseia pelo direito de usar, controlar, dar, vender, alugar e legar a sua propriedade pessoal.
71:2.15 (802.9) 6. O direito de petição. O governo representativo assume o direito, que os cidadãos têm, de serem ouvidos. O privilégio de petição é inerente à cidadania livre.
71:2.16 (802.10) 7. O direito de governar. Não é suficiente ser ouvido; o poder de reivindicar deve progredir até à administração factual do governo.
71:2.17 (802.11) 8. O sufrágio universal. O governo representativo pressupõe um eleitorado inteligente, eficiente e universal. O caráter desse governo será determinado sempre pelo caráter e pelo calibre daqueles que o compõem. À medida que a civilização progride, o sufrágio, ainda que permanecendo universal, para ambos os sexos, deverá ser efetivamente modificado, reagrupado e diferenciado de outros modos.
71:2.18 (802.12) 9. O controle dos servidores públicos. Nenhum governo civil será útil e eficiente, a menos que os cidadãos possuam e façam uso de técnicas sábias para conduzir e controlar os cargos e os funcionários.
71:2.19 (802.13) 10. Uma representação inteligente e treinada. A sobrevivência da democracia depende de um governo representativo que tenha êxito; e isso é condicionado à prática de eleger aos postos públicos apenas os indivíduos tecnicamente treinados, que sejam intelectualmente competentes, socialmente leais e moralmente adequados. Apenas com essas precauções pode o governo do povo, pelo povo e para o povo ser preservado.
71:3.1 (803.1) A forma política ou administrativa de um governo tem pouca importância, desde que forneça os elementos essenciais ao progresso civil — liberdade, segurança, educação e ordem social. Não é o que um estado é, mas o que ele faz, que determina o curso da evolução social. E, afinal, nenhum estado pode transcender aos valores morais dos seus cidadãos, tais como exemplificados pelos seus líderes eleitos. A ignorância e o egoísmo assegurarão a queda, mesmo do mais elevado tipo de governo.
71:3.2 (803.2) Por mais que seja de se lamentar, o egoísmo nacional tem sido essencial à sobrevivência social. A doutrina do povo eleito tem sido um fator primordial na fusão das tribos e na edificação da nação, até os tempos modernos. Mas um estado só pode atingir os níveis ideais de funcionamento quando todas as formas de intolerância sejam controladas; elas são, para sempre, inimigas do progresso humano. E a intolerância é mais bem combatida sob a coordenação da ciência, do comércio, das diversões e da religião.
71:3.3 (803.3) O estado ideal funciona sob a força de três impulsos poderosos coordenados:
71:3.4 (803.4) 1. A lealdade ao amor, que advém da realização da irmandade humana.
71:3.5 (803.5) 2. O patriotismo inteligente, baseado em ideais sábios.
71:3.6 (803.6) 3. O discernimento cósmico, interpretado em termos de fatos, de necessidades e de metas planetárias.
71:3.7 (803.7) As leis do estado ideal são poucas em número e passaram da idade do tabu negativo para a era do progresso positivo, da liberdade pessoal, conseqüência de um autocontrole individual mais acentuado. O estado superior não apenas compele os seus cidadãos ao trabalho, mas também os incita a uma utilização proveitosa e enaltecedora do tempo crescente de lazer, resultante da liberação do trabalho pesado, advindo com a idade da máquina. O lazer deve produzir, tanto quanto consumir.
71:3.8 (803.8) Nenhuma sociedade tem avançado o suficiente quando permite a ociosidade ou tolera a pobreza. Mas a pobreza e a dependência nunca poderão ser eliminadas se as linhagens defeituosas e degeneradas forem sustentadas livremente e se lhes for permitido reproduzir-se sem restrição.
71:3.9 (803.9) Uma sociedade moral deveria almejar preservar o auto-respeito dos seus cidadãos e proporcionar a cada indivíduo normal uma oportunidade adequada de auto-realização. Esse plano de realização social produziria uma sociedade cultural da mais elevada ordem. A evolução social deveria ser encorajada pela supervisão governamental exercendo um mínimo de controle regulador. O melhor estado é aquele que coordena o máximo, enquanto governa o mínimo.
71:3.10 (803.10) Os ideais do estado devem ser alcançados pela evolução, pelo crescimento lento da consciência cívica: o reconhecimento da obrigação e do privilégio do serviço social. Depois do fim da administração por empreguismo e oportunismo político, a princípio, os homens assumem as responsabilidades do governo, como um dever, porém, mais tarde, eles buscam essa ministração como um privilégio, como a maior honra. O status da civilização, em qualquer nível, é fielmente retratado pelo calibre dos cidadãos que se apresentam voluntariamente para aceitar as responsabilidades do estado.
71:3.11 (803.11) Numa comunidade real, a questão de governar cidades e províncias é conduzida por especialistas e é administrada exatamente como quaisquer outras formas de associações econômicas e comerciais de pessoas.
71:3.12 (803.12) Nos estados avançados, o serviço político é considerado como sendo digno da mais elevada devoção dos cidadãos. A maior ambição dos cidadãos mais sábios e mais nobres é ganhar o reconhecimento civil, é ser eleito ou apontado para alguma posição de confiança no governo, e esses governos conferem as suas mais elevadas honras de reconhecimento por serviços aos seus servidores civis e sociais. Na seqüência da ordem, as honras são concedidas em seguida aos filósofos, aos educadores, aos cientistas, aos industriais e aos militares. Os pais são devidamente recompensados pela excelência dos seus filhos; e os líderes puramente religiosos, sendo os embaixadores de um Reino espiritual, recebem as suas recompensas reais em um outro mundo.
71:4.1 (804.1) A economia, a sociedade e o governo devem evoluir, se querem permanecer. As condições estáticas, em um mundo evolucionário, indicam decadência; apenas perduram aquelas instituições que se movem para a frente, junto com a corrente evolucionária.
71:4.2 (804.2) O programa progressivo de uma civilização em expansão abrange:
71:4.3 (804.3) 1. A preservação das liberdades individuais.
71:4.4 (804.4) 2. A proteção do lar.
71:4.5 (804.5) 3. A promoção da segurança econômica.
71:4.6 (804.6) 4. A prevenção das doenças.
71:4.7 (804.7) 5. A educação compulsória.
71:4.8 (804.8) 6. O emprego compulsório.
71:4.9 (804.9) 7. Uma utilização proveitosa do lazer.
71:4.10 (804.10) 8. Os cuidados pelos desventurados.
71:4.11 (804.11) 9. O aperfeiçoamento da raça.
71:4.12 (804.12) 10. A promoção da ciência e da arte.
71:4.13 (804.13) 11. A promoção da filosofia — da sabedoria.
71:4.14 (804.14) 12. A ampliação do discernimento cósmico — da espiritualidade.
71:4.15 (804.15) E esse progresso nas artes da civilização conduz diretamente à realização das metas humanas e divinas mais elevadas que os mortais buscam — a realização social da fraternidade dos homens e o status pessoal da consciência de Deus, que se torna revelado dentro de cada indivíduo, pelo seu desejo supremo de fazer a vontade do Pai dos céus.
71:4.16 (804.16) O surgimento da fraternidade genuína significa que foi alcançada uma ordem social na qual todos os homens rejubilam-se de carregar o fardo uns dos outros; de fato, eles desejam praticar a regra dourada. Mas essa sociedade ideal não pode ser realizada, se os fracos ou os perversos ficam à espera para tirar vantagens injustas e ímpias daqueles que estão principalmente possuídos pela devoção ao serviço da verdade, da beleza e da bondade. Nessa situação, apenas uma linha de conduta torna-se prática: os “adeptos da regra de ouro” podendo estabelecer uma sociedade progressista, na qual eles vivem de acordo com os seus ideais, enquanto mantêm uma defesa adequada contra os companheiros ignorantes que poderiam procurar explorar as suas predileções pacíficas ou destruir a sua civilização em avanço.
71:4.17 (804.17) O idealismo não poderá sobreviver nunca, em um planeta em evolução, se os idealistas de cada geração permitirem a si próprios ser exterminados pelos níveis mais vis da humanidade. E aqui está o grande teste do idealismo: pode uma sociedade avançada manter aquela prontidão militar que a torna protegida contra todos os ataques dos seus vizinhos, amantes da guerra, sem cair na tentação de empregar essa força militar em operações ofensivas contra outros povos, com propósitos de ganho egoísta ou de engrandecimento nacional? A sobrevivência nacional demanda a prontidão, e só o idealismo religioso pode impedir que a prontidão seja prostituída pela sua transformação, em agressão. Apenas o amor e a irmandade podem impedir que os fortes oprimam os fracos.
71:5.1 (805.1) A competição é essencial ao progresso social, mas a competição desordenada gera a violência. Na sociedade atual, a competição está, aos poucos, substituindo a guerra, ao determinar o lugar do indivíduo na atividade produtiva, bem como ao decretar a sobrevivência das próprias indústrias. (O assassinato e a guerra diferem entre si pelo status perante os costumes; o assassinato tendo estado fora da lei desde os primeiros tempos da sociedade, ao passo que a guerra nunca foi totalmente proscrita pelas leis da humanidade.)
71:5.2 (805.2) O estado ideal assume regulamentar a conduta social apenas o suficiente para afastar a violência da competição individual e para impedir a injustiça na iniciativa pessoal. E aqui está um grande problema de ordem estatal: como garantir a paz e a tranqüilidade na atividade produtiva, como pagar os impostos para sustentar o poder do estado e, ao mesmo tempo, impedir que os impostos prejudiquem essas atividades e que o estado se torne um parasita ou um tirano?
71:5.3 (805.3) Durante as idades iniciais de qualquer mundo, a competição é essencial à civilização progressiva. À medida que a evolução do homem progride, a cooperação torna-se cada vez mais eficaz. Nas civilizações avançadas, a cooperação é mais eficiente do que a competição. O homem primitivo é estimulado pela competição. A evolução primitiva é caracterizada pela sobrevivência do mais apto biologicamente; mas as civilizações posteriores são mais bem promovidas pela cooperação inteligente, por um espírito de fraternidade compreensiva e pela irmandade espiritual.
71:5.4 (805.4) Bem verdade é que a competição, na indústria, leva a desperdícios excessivos tornando-se altamente ineficaz; mas nenhuma tentativa de eliminar essa perda na atividade econômica deveria ser encorajada, se os ajustamentos acarretarem, até mesmo, a mais leve anulação de qualquer das liberdades fundamentais do indivíduo.
71:6.1 (805.5) A economia atual, motivada pelos lucros, está condenada, a menos que a motivação do lucro possa ser acrescida da motivação de servir. A competição impiedosa, baseada em interesses egoístas e de horizontes estreitos, é terminantemente destrutiva, até mesmo daquelas coisas que busca manter. A motivação exclusiva do lucro individualista é incompatível com os ideais cristãos — e mais incompatível ainda com os ensinamentos de Jesus.
71:6.2 (805.6) Na economia, a motivação do lucro está para a motivação do serviço, como o medo está para o amor, na religião. Mas a motivação do lucro não deve ser destruída, nem removida, subitamente; ela mantém muitos mortais no trabalho duro, os quais, de outro modo, ficariam indolentes. Não é necessário, contudo, que esse estimulador das energias sociais, para sempre, tenha objetivos puramente egoístas.
71:6.3 (805.7) O motivo do lucro nas atividades econômicas é de todo vil e totalmente indigno de uma ordem avançada de sociedade; contudo, é um fator indispensável no decorrer das primeiras fases da civilização. A motivação do lucro não deve ser afastada dos homens, até que eles estejam imbuídos de tipos superiores de motivações não lucrativas, para os seus esforços econômicos e para os seus serviços sociais — os anseios transcendentes de uma sabedoria superlativa, de uma fraternidade fascinante, e da excelência, na realização espiritual.
71:7.1 (806.1) O estado duradouro é fundamentado na cultura, dominado pelos ideais e motivado pelo serviço. O propósito da educação deve ser adquirir habilidade, buscar a sabedoria, realizar a individualidade e alcançar os valores espirituais.
71:7.2 (806.2) No estado ideal, a educação continua durante a vida e, algumas vezes, a filosofia torna-se a principal busca dos seus cidadãos. Os cidadãos dessa comunidade buscam a sabedoria como uma ampliação do seu discernimento dos significados nas relações humanas, das significações da realidade, da nobreza dos valores, das metas da vida e das glórias do destino cósmico.
71:7.3 (806.3) Os urantianos podem e devem ter a visão de uma nova sociedade cultural bem mais elevada. A educação saltará para novos níveis de valor, quando ultrapassar o sistema da economia, baseado puramente na motivação do lucro. A educação tem sido, por muito tempo, regionalista, militarista, exaltadora do ego e buscadora do sucesso; ela deve finalmente ser aberta para o mundo, tornar-se idealista, auto-realizadora e abrangente do ponto de vista cósmico.
71:7.4 (806.4) A educação passou, recentemente, do controle do clero para o dos advogados e homens de negócios. E finalmente deve ser entregue aos filósofos e cientistas. Os educadores devem ser seres livres, líderes de fato, com o fito de que a filosofia, a busca da sabedoria, possa tornar-se a busca principal na educação.
71:7.5 (806.5) A educação é a ocupação maior da vida; deve continuar durante toda a vida e de um modo tal que a humanidade possa gradualmente experimentar os níveis ascendentes da sabedoria mortal, que são:
71:7.6 (806.6) 1. O conhecimento das coisas.
71:7.7 (806.7) 2. A compreensão dos significados.
71:7.8 (806.8) 3. A apreciação dos valores.
71:7.9 (806.9) 4. A nobreza do trabalho — o dever.
71:7.10 (806.10) 5. A motivação das metas — a moralidade.
71:7.11 (806.11) 6. O amor pelo serviço — o caráter.
71:7.12 (806.12) 7. A clarividência cósmica — o discernimento espiritual.
71:7.13 (806.13) E então, por meio dessas realizações, muitos ascenderão à ultimidade da realização mortal da mente: a consciência de Deus.
71:8.1 (806.14) O único aspecto sagrado de qualquer governo humano é a divisão do estado nos três domínios de funções, o executivo, o legislativo e o judiciário. O universo é administrado de acordo com esse plano de separação das funções e da autoridade. À parte esse conceito divino de regulamentação social efetiva, ou de governo civil, pouco importa a forma de estado que um povo possa escolher, desde que os cidadãos estejam sempre progredindo no sentido da meta de um autocontrole maior e de um serviço social ampliado. A depuração intelectual, a sabedoria econômica, a habilidade social e a força moral de um povo são, todas, fielmente refletidas no estado.
71:8.2 (806.15) A evolução do estado requer progresso, de nível para nível, do seguinte modo:
71:8.3 (806.16) 1. A criação de um governo tríplice, com as ramificações de um poder executivo, um legislativo e um judiciário.
71:8.4 (806.17) 2. A liberdade para as atividades sociais, políticas e religiosas.
71:8.5 (807.1) 3. A abolição de todas as formas de escravidão e de servidão humana.
71:8.6 (807.2) 4. A capacidade dos cidadãos de controlar a arrecadação de impostos.
71:8.7 (807.3) 5. O estabelecimento da educação universal — o aprendizado, abrangendo do berço ao túmulo.
71:8.8 (807.4) 6. O ajustamento próprio, entre o governo local e o governo nacional.
71:8.9 (807.5) 7. O estímulo à ciência e ao controle das doenças.
71:8.10 (807.6) 8. O devido reconhecimento da igualdade dos sexos e do funcionamento coordenado de homens e mulheres no lar, na escola e na igreja; e com o serviço especializado das mulheres, na indústria e no governo.
71:8.11 (807.7) 9. A eliminação da escravidão do trabalho, por meio da invenção da máquina e pela subseqüente mestria sobre a idade da máquina.
71:8.12 (807.8) 10. A conquista dos dialetos — o triunfo de uma língua universal.
71:8.13 (807.9) 11. O fim da guerra — o julgamento internacional das diferenças nacionais e raciais, por intermédio das cortes continentais das nações, a que presidirá um supremo tribunal planetário, automaticamente recrutado, dos chefes que, periodicamente, se aposentam nas cortes continentais. As cortes continentais têm autoridade executiva; a corte mundial é consultivo-moral.
71:8.14 (807.10) 12. A tendência mundial da busca da sabedoria — a exaltação da filosofia. A evolução de uma religião mundial será o indício da entrada do planeta nas fases iniciais do seu estabelecimento em luz e vida.
71:8.15 (807.11) Esses são os pré-requisitos do governo progressivo e os sinais de identificação do estado ideal. Urântia está longe da realização desses ideais elevados, mas as raças civilizadas já tiveram um começo — a humanidade está na marcha em direção a destinos evolucionários mais elevados.
71:8.16 (807.12) [Auspiciado por um Melquisedeque de Nébadon.]
O Livro de Urântia
Documento 72
72:0.1 (808.1) COM A permissão de Lanaforge e a aprovação dos Altíssimos de Edêntia, eu estou autorizado a narrar certas coisas da vida social, moral e política da mais avançada raça humana que vive em um planeta não muito distante, pertencente ao sistema de Satânia.
72:0.2 (808.2) De todos os mundos de Satânia, que se tornaram isolados por causa da participação na rebelião de Lúcifer, esse planeta experienciou uma história a mais semelhante à de Urântia. A similaridade das duas esferas, sem dúvida, explica por que foi concedida a permissão para se fazer esta extraordinária apresentação, pois é muito inusitado que os governantes dos sistemas consintam na narração, em um planeta, dos assuntos de outro.
72:0.3 (808.3) Esse planeta, como Urântia, foi desviado pela deslealdade do seu Príncipe Planetário quando da rebelião de Lúcifer. O planeta recebeu um Filho Material pouco depois de Adão ter vindo para Urântia, e esse Filho também cometeu a falta, deixando a esfera isolada, pois um filho Magisterial nunca esteve auto-outorgado entre as suas raças mortais.
72:1.1 (808.4) Apesar de todas essas desvantagens planetárias, uma civilização muito superior está em evolução em um continente isolado, de tamanho comparável ao da Austrália. Essa nação tem cerca de 140 milhões de habitantes. O seu povo é formado de raças miscigenadas, com predominância da azul e da amarela, tendo uma proporção ligeiramente maior da raça violeta do que as chamadas raças brancas de Urântia. Tais raças diferentes não estão ainda integralmente miscigenadas, mas confraternizam-se e socializam-se de um modo bastante aceitável. A média de vida nesse continente, atualmente, é de noventa anos, quinze por cento mais alta que a de qualquer outro povo no planeta.
72:1.2 (808.5) Os mecanismos industriais dessa nação desfrutam de uma grande vantagem, que advém da topografia única do continente. Montanhas altas, nas quais cai uma chuva pesada durante oito meses em um ano, estão situadas bem no centro do país. Esse arranjo natural favorece a utilização do potencial hidráulico e facilita grandemente a irrigação do oeste, a quarta parte mais árida do continente.
72:1.3 (808.6) Esses povos se auto-sustentam, isto é, podem viver indefinidamente sem importar nada das nações vizinhas. Os seus recursos naturais são fartos e por meio de técnicas científicas eles aprenderam como compensar as suas deficiências no que concerne às coisas essenciais à vida. Eles usufruem de um comércio doméstico ativo, mas têm pouco comércio externo devido à hostilidade generalizada dos seus vizinhos de menos progresso.
72:1.4 (808.7) Essa nação continental, em geral, seguiu a tendência evolucionária do planeta: desde o desenvolvimento do estágio tribal, até o aparecimento de governantes fortes e reis; o que levou milhares de anos. Os monarcas incondicionais foram seguidos por muitas formas diferentes de governo — repúblicas abortadas, estados comunitários e ditaduras vieram e desapareceram, em uma profusão sem fim. Esse crescimento continuou até cerca de quinhentos anos atrás, quando, durante um período politicamente agitado, um dos poderosos ditadores de um triunvirato, da nação, passou por uma mudança íntima de ideais. Ele fez-se voluntário para abdicar, sob a condição de que um dos outros governantes, o mais vil dos outros dois, também renunciasse ao triunvirato ditatorial. Assim, a soberania do continente foi colocada nas mãos de um único governante. O estado unificado progrediu, sob um forte governo monárquico por mais de cem anos, durante os quais desenvolveu-se uma compreensiva carta de liberdades.
72:1.5 (809.1) A transição subseqüente, da monarquia para uma forma representativa de governo, foi gradual; os reis permaneceram como figurantes meramente sociais ou sentimentais; até finalmente desaparecerem, quando a linha masculina de descendência extinguiu-se. A república atual tem apenas duzentos anos de existência e, durante esse tempo, tem havido um progresso contínuo na direção das técnicas de governo, que iremos narrar; os últimos desenvolvimentos nos campos industriais e políticos tendo sido feitos na década passada.
72:2.1 (809.2) Essa nação continental tem, agora, um governo representativo, com uma capital nacional situada no centro do país. O governo central consiste em uma forte federação de cem estados relativamente livres. Esses estados elegem os seus governadores e legisladores, por dez anos, e nenhum deles pode ser candidato à reeleição. Os juízes do estado são apontados vitaliciamente pelos governadores e confirmados pelas legislaturas, que consistem em um representante para cada cem mil cidadãos.
72:2.2 (809.3) Há cinco tipos diferentes de governo metropolitano, dependendo do tamanho da cidade, mas nenhuma cidade pode ter mais de um milhão de habitantes. No conjunto, esses esquemas de governos municipais são muito simples, diretos e econômicos. Os poucos cargos da administração urbana são altamente almejados pelos tipos mais elevados de cidadãos.
72:2.3 (809.4) O governo federal abrange três divisões coordenadas: a executiva, a legislativa e a judicial. O chefe do executivo federal é eleito a cada seis anos, pelo sufrágio territorial universal. Ele não se candidata à reeleição, exceto a pedido das legislaturas de setenta e cinco estados, pelo menos, e apoiado pelos respectivos governadores dos estados, e por apenas um mandado adicional. Ele é aconselhado por um supergabinete, composto de todos os ex-chefes executivos vivos.
72:2.4 (809.5) A divisão legislativa abrange três câmaras:
72:2.5 (809.6) 1. A câmara superior, eleita por grupos de trabalhadores das indústrias, de profissionais liberais, de agricultores e de outros grupos, votando de acordo com a função econômica.
72:2.6 (809.7) 2. A câmara inferior, eleita por algumas organizações da sociedade, que compreendem os grupos sociais, políticos e filosóficos, não incluídos na indústria ou em outras profissões. Todos os cidadãos de boa posição participam da eleição de ambas as classes de representantes, mas são agrupados de modo diferente, dependendo de a eleição ser para a câmara superior ou para a inferior.
72:2.7 (809.8) 3. A terceira câmara — a de antigos estadistas — abrange os veteranos dos serviços cívicos e inclui muitas pessoas ilustres, nomeadas pelo chefe do executivo, pelos executivos regionais (subfederais), pelo chefe do supremo tribunal e pelos funcionários que presidem qualquer uma das outras câmaras legislativas. Esse grupo está limitado a cem membros, que são eleitos pela ação majoritária dos próprios antigos estadistas. Os membros têm função vitalícia e, quando surgem vagas, aquele que recebeu a maior votação entre os da lista dos indicados torna-se devidamente eleito. As incumbências desse corpo são puramente de assessoria, mas ele é um forte regulador da opinião pública e exerce uma influência poderosa sobre todos os setores do governo.
72:2.8 (810.1) Grande parte do trabalho da administração federal é efetuada pelas dez autoridades regionais (subfederais), cada uma delas consistindo na associação de dez estados. Essas divisões regionais são totalmente executivas e administrativas, não tendo funções legislativas nem judiciárias. Os dez postos de executivos regionais são apontados pessoalmente pelo chefe executivo federal, e o mandado deste coincide com o deles — seis anos. O supremo tribunal federal aprova a indicação desses dez executivos regionais e, ainda que não possa ser indicado novamente, o executivo que se aposenta torna-se automaticamente um assessor vinculado ao seu sucessor. Por outro lado, esses chefes regionais escolhem os seus próprios gabinetes de funcionários administrativos.
72:2.9 (810.2) Nessa nação, a justiça é feita por dois sistemas maiores de tribunais — os tribunais da lei e os tribunais socioeconômicos. Os tribunais da lei funcionam nos três níveis seguintes:
72:2.10 (810.3) 1. As cortes menores, de jurisdição municipal e local, de cujas decisões se pode apelar aos altos tribunais do estado.
72:2.11 (810.4) 2. As cortes supremas dos estados, cujas decisões são finais, para todas as questões que não envolvam o governo federal, e que não coloquem em perigo os direitos dos cidadãos e as suas liberdades. Os executivos regionais têm poder de levar qualquer caso imediatamente ao foro da suprema corte federal.
72:2.12 (810.5) 3. A suprema corte federal — o alto tribunal para julgamento das contendas nacionais e para os casos de apelações vindos das cortes dos estados. Esse supremo tribunal constitui-se de doze homens, acima dos quarenta e abaixo dos setenta e cinco anos de idade, que serviram por dois ou mais anos em algum tribunal estadual, e foram indicados para essa posição elevada pelo chefe executivo, com a aprovação majoritária do supergabinete e da terceira câmara da assembléia legislativa. Todas as decisões desse corpo judiciário supremo são tomadas por meio de pelo menos dois terços dos votos.
72:2.13 (810.6) Os tribunais socioeconômicos funcionam nas três divisões seguintes:
72:2.14 (810.7) 1. As cortes familiares, associados às divisões legislativas e executivas do sistema social e familiar.
72:2.15 (810.8) 2. As cortes educacionais — os corpos jurídicos vinculados aos sistemas de escolas estaduais e regionais e associados ao setor executivo e ao legislativo do mecanismo administrativo educacional.
72:2.16 (810.9) 3. As cortes industriais — os tribunais de jurisdições, investidos da autoridade plena para o esclarecimento de todos os mal-entendidos econômicos.
72:2.17 (810.10) A suprema corte federal não julga os casos socioeconômicos, exceto mediante os votos de três quartos do terceiro setor legislativo do governo nacional, a câmara dos antigos estadistas. Em outros casos, todas as decisões do alto tribunal da família, do tribunal educacional e do industrial representam a palavra final.
72:3.1 (811.1) Nesse continente, a lei não permite que duas famílias vivam sob o mesmo teto. E, já que as habitações grupais foram interditadas pela lei, a maioria dos tipos de edifícios de apartamentos múltiplos foi demolida. Os solteiros, contudo, ainda vivem em clubes, hotéis e outras formas de habitações grupais. A menor área em que se permite a uma família viver deve ter meio hectare de terra. Toda a terra e as outras propriedades usadas para propósitos de moradia são livres de impostos, até dez vezes o tamanho mínimo do lote para uma família.
72:3.2 (811.2) A vida familiar desse povo melhorou consideravelmente durante o último século. É obrigatório que os progenitores, tanto o pai quanto a mãe, freqüentem a escola de puericultura para os pais. Até mesmo os agricultores, que residem em pequenas colônias no campo, fazem esse estudo por correspondência, indo aos centros próximos para uma instrução oral, uma vez a cada dez dias — a cada duas semanas, pois a semana ali tem de cinco dias.
72:3.3 (811.3) As famílias têm, em média, cinco crianças, as quais ficam inteiramente sob o controle dos pais ou, em caso de morte de um ou de ambos, sob a guarda do tutor que for designado pelos tribunais da família. Considera-se uma grande honra, para qualquer família, ser recompensada com a guarda de um órfão de pai e mãe. Exames competitivos são feitos entre os pais, e o órfão é concedido ao lar daqueles que apresentem as melhores qualificações como pais.
72:3.4 (811.4) Esse povo considera o lar como a instituição básica da sua civilização. A expectativa é de que a parte de maior valor na educação de uma criança, da formação e aperfeiçoamento do seu caráter, seja provida pelos seus pais e no lar, e o pai dedica quase tanta atenção à cultura da criança quanto o faz a mãe.
72:3.5 (811.5) Toda a instrução sexual é ministrada em casa pelos pais ou por guardiães legais. A educação moral é oferecida pelos professores, durante os períodos de recreio, nas oficinas das escolas, mas a educação religiosa não é dada assim. A educação religiosa é considerada um privilégio exclusivo dos pais, pois a religião é vista como uma parte integral da vida do lar. A educação puramente religiosa é dada, publicamente, apenas nos templos de filosofia, pois esse povo desenvolveu as igrejas como instituições que não são tão exclusivamente religiosas como as igrejas de Urântia. Na filosofia desse povo, a religião é o esforço para conhecer a Deus e manifestar amor pelo semelhante, servindo a ele; mas essa não é uma concepção típica do status da religião nas outras nações nesse planeta. A religião é uma questão tão completamente da família, junto a esse povo, que não há locais públicos devotados exclusivamente a reuniões religiosas. Politicamente, a igreja e o estado, como os urantianos têm o habito de dizer, são inteiramente separados, mas há uma estranha superposição entre religião e filosofia.
72:3.6 (811.6) Até vinte anos atrás, os instrutores espirituais (comparáveis aos pastores de Urântia), que visitavam todas as famílias, periodicamente, para examinar as crianças e certificar-se de que elas foram instruídas adequadamente pelos seus pais, estavam sob a supervisão do governo. Esses conselheiros espirituais e examinadores estão agora sob a direção da recentemente criada Fundação do Progresso Espiritual, uma instituição sustentada por contribuições voluntárias. Essa instituição, possivelmente, não evoluirá mais, antes da chegada de um Filho Magisterial do Paraíso.
72:3.7 (811.7) As crianças permanecem legalmente submissas aos seus pais, até que tenham quinze anos, quando então lhes são dadas as primeiras iniciações às responsabilidades cívicas. Depois disso, a cada cinco anos, por cinco períodos consecutivos, exercícios públicos semelhantes são realizados para esses grupos etários; e, daí para a frente, as suas obrigações para com os pais diminuem, enquanto novas responsabilidades civis e sociais para com o estado são assumidas. O sufrágio é conferido aos vinte anos; o direito de casar sem o consentimento dos pais não é concedido antes dos vinte e cinco anos, e os filhos devem deixar o lar ao atingir a idade de trinta anos.
72:3.8 (812.1) As leis para o casamento e o divórcio são uniformes em toda a nação. O casamento antes dos vinte anos — a idade da emancipação civil — não é permitido. A permissão para o casamento só é concedida um ano depois da notificação da intenção e depois de ambos os noivos apresentarem certificados mostrando que eles foram devidamente instruídos, na escola de pais, a respeito das responsabilidades da sua vida de casados.
72:3.9 (812.2) As regulamentações para o divórcio são de certo modo indulgentes, no entanto, os decretos de separação, emitidos pelo tribunal da família, não podem ser obtidos antes de um ano depois de o pedido haver sido registrado, e o ano nesse planeta é consideravelmente mais longo do que em Urântia. Não obstante haver indulgência nas leis do divórcio, o índice atual de divórcios é de apenas um décimo daquele das raças civilizadas de Urântia.
72:4.1 (812.3) O sistema educacional dessa nação é compulsório e misto nas escolas pré-universitárias, que os estudantes freqüentam dos cinco aos dezoito anos. Essas escolas são bastante diferentes das de Urântia. Não há salas de aula, apenas um estudo é feito por vez e, depois dos três primeiros anos, todos os alunos tornam-se professores assistentes, instruindo os que estão abaixo deles. Os livros são usados apenas para assegurar a informação que ajudará a resolver os problemas que surgem nas oficinas-escola e nas fazendas-escola. Grande parte do mobiliário usado nesse continente, bem como muitos dos aparelhos mecânicos — esta é, ali, uma grande idade para as invenções e mecanização — são produzidos nessas oficinas. Adjacente a cada oficina existe uma biblioteca de trabalhos práticos, onde os estudantes podem consultar os livros necessários como referência. A agricultura e a horticultura são também ensinadas, durante todo o período educacional, nas vastas fazendas contíguas a cada escola local.
72:4.2 (812.4) Os deficientes mentais são educados apenas na agricultura e na criação de animais e são enviados, por toda a vida, para as colônias especiais de custódia, onde são separados por sexo, para impedir a paternidade, a qual é negada a todos os subnormais. Essas medidas restritivas têm estado em funcionamento por setenta e cinco anos; os mandados de internação são emitidos pelos tribunais da família.
72:4.3 (812.5) Todos tiram um mês de férias por ano. As escolas pré-universitárias são conduzidas durante nove meses, em um ano de dez meses, as férias sendo passadas com os pais ou amigos, em viagens. Essas viagens são uma parte do programa de educação do adulto e continuam durante toda a vida; os fundos para fazer frente a essas despesas são acumulados pelos mesmos métodos empregados para os fundos do seguro de assistência à velhice.
72:4.4 (812.6) Um quarto do tempo da escola é devotado aos jogos — competições atléticas. Os alunos destacam-se nas competições locais, depois nas estaduais e regionais, e em seguida vão para as provas nacionais de habilidade e perícia. Do mesmo modo, os concursos de oratória e música, tanto quanto os de ciência e filosofia, ocupam a atenção dos estudantes, desde as divisões sociais mais baixas, até chegarem aos concursos para as honras nacionais.
72:4.5 (812.7) A direção da escola é uma réplica do governo nacional, com os seus três setores correlatos, o corpo dos professores funcionando como a terceira divisão, a de assessoria legislativa. O objetivo principal da educação nesse continente é fazer de cada aluno um cidadão que se auto-sustente.
72:4.6 (813.1) Cada criança que se gradua no sistema de escola pré-universitária, aos dezoito anos, é um artesão habilidoso. Então, começa o estudo em livros e a busca de conhecimento especial seja nas escolas de adultos, seja nas universidades. Quando um estudante brilhante completa o seu trabalho antes do tempo previsto, lhe são concedidos, em recompensa, o tempo e os meios para que possa executar algum projeto almejado, do seu próprio invento. Todo o sistema educacional é concebido para treinar adequadamente o indivíduo.
72:5.1 (813.2) A situação industrial desse povo está longe dos seus ideais; o capital e o trabalho ainda têm os seus problemas, mas ambos estão ajustando-se a um plano de cooperação sincera. Nesse continente singular, os trabalhadores estão, cada vez mais, transformando-se em acionistas de todos os campos industriais; cada trabalhador inteligente está, aos poucos, tornando-se um pequeno capitalista.
72:5.2 (813.3) Os antagonismos sociais estão diminuindo, e a boa vontade está crescendo rapidamente. Nenhum problema econômico grave surgiu com a abolição da escravatura (há cerca de cem anos), já que um ajustamento foi feito gradualmente com a liberação de dois por cento deles, a cada ano. Aos escravos que passaram satisfatoriamente pelos testes mentais, morais e físicos, foi concedida a cidadania; muitos desses escravos superiores eram prisioneiros de guerra ou filhos desses prisioneiros. Há cerca de cinqüenta anos, eles deportaram os últimos dos escravos inferiores e, mais recentemente ainda, estão dedicando-se à tarefa de reduzir os números das suas classes degeneradas e viciosas.
72:5.3 (813.4) Esses povos desenvolveram recentemente novas técnicas para o ajuste de mal-entendidos industriais e para corrigir os abusos econômicos; técnicas essas que representam melhorias marcantes em relação aos antigos métodos de resolução dos problemas. A violência foi proscrita como comportamento para solucionar as desavenças pessoais ou industriais. Os salários, os lucros e outras questões econômicas não são rigidamente regulamentadas, mas são controladas, em geral, pelos legislativos industriais, enquanto todas as disputas que surgem na indústria passam pelos tribunais industriais.
72:5.4 (813.5) Os tribunais industriais têm apenas trinta anos de existência, mas estão funcionando muito satisfatoriamente. O mais recente desenvolvimento dispõe que, daquele momento em diante, os tribunais industriais reconheçam que a compensação legal recaia em uma das três divisões:
72:5.5 (813.6) 1. Taxas legais de juros sobre o capital investido.
72:5.6 (813.7) 2. Vencimentos razoáveis para os empregados habilitados nas operações industriais.
72:5.7 (813.8) 3. Salários justos e eqüitativos, pelo trabalho.
72:5.8 (813.9) E essas condições serão satisfeitas, inicialmente, de acordo com um contrato ou, no caso de uma diminuição nos lucros, as partes compartilharão proporcionalmente de uma redução transitória nos salários. E, daí em diante, todos os ganhos que excedam os encargos fixos serão considerados como dividendos e serão rateados entre todas as três categorias: a do capital, a dos conhecimentos especializados e a do trabalho.
72:5.9 (813.10) A cada dez anos, os executivos regionais ajustam e decretam as horas legais da jornada diária do trabalho. A indústria opera atualmente com uma semana de cinco dias, trabalhando quatro e descansando um. Esse povo trabalha durante seis horas por dia e, como os estudantes, durante nove meses em um ano de dez meses. As férias são, em geral, gastas em viagens e, havendo sido desenvolvidos, muito recentemente, novos meios de transporte, toda a nação está inclinada a viajar. O clima favorece as viagens, durante oito meses ao ano, e eles estão aproveitando ao máximo as oportunidades que surgem.
72:5.10 (813.11) Há duzentos anos, a motivação do lucro era inteiramente dominante na indústria, mas hoje está sendo rapidamente substituída por outras forças mais elevadas. A competição é forte nesse continente, mas grande parte dela foi transferida da indústria para o esporte, para as habilidades especiais, para a busca científica e para a realização intelectual. A competição é bastante ativa no serviço social e na lealdade ao governo. Entre os desse povo, o serviço público está rapidamente tornando-se um motivo principal de ambição. O homem mais rico do continente trabalha seis horas por dia no escritório da sua oficina de máquinas e então se apressa até a filial local da escola para estadistas, onde procura qualificar-se para o serviço público.
72:5.11 (814.1) O trabalho está-se tornando mais honroso nesse continente, e todos os cidadãos válidos, acima de dezoito anos, trabalham, seja em casa, seja nas fazendas, seja em alguma indústria reconhecida, seja nos serviços públicos, onde aqueles que estão temporariamente desempregados são absorvidos, ou então nos corpos de trabalhadores compulsórios nas minas.
72:5.12 (814.2) Esse povo começa também a nutrir uma nova forma de aversão social — a aversão pela ociosidade, tanto quanto pela riqueza pela qual não se trabalhou. Lenta, mas certamente, eles estão triunfando sobre as suas máquinas. No passado, também eles lutaram pela liberdade política e, subseqüentemente, pela liberdade econômica. Agora eles entram na fase de desfrutar de ambas e, além disso, começam a apreciar o seu lazer bem merecido, que pode ser dedicado a aumentar a auto-realização.
72:6.1 (814.3) Essa nação está fazendo um esforço determinado para substituir o tipo de caridade que destrói o auto-respeito, pelas garantias condignas do seguro governamental para a velhice. Essa nação proporciona a toda criança uma educação e a todo homem um trabalho; podendo, portanto, com êxito, manter um esquema de seguro para a proteção aos enfermos e idosos.
72:6.2 (814.4) Todas as pessoas desse povo devem aposentar-se da busca de remuneração pelo trabalho aos sessenta e cinco anos, a menos que tenham uma permissão do comissário do trabalho do estado, que lhes confira o direito a permanecer no trabalho até a idade de setenta anos. Essa idade limite não se aplica aos servidores do governo, nem aos filósofos. Os fisicamente incapacitados, ou permanentemente aleijados, podem ser colocados na lista de aposentados, a qualquer idade, por uma ordem da corte, contra-assinada pelo comissário de pensões do governo regional.
72:6.3 (814.5) Os fundos para as pensões de velhice provêm de quatro fontes:
72:6.4 (814.6) 1. Um dia dos ganhos, a cada mês, é requisitado pelo governo federal, para esse propósito, e, nesse país, todos trabalham.
72:6.5 (814.7) 2. Heranças — muitos cidadãos ricos deixam fundos para esse fim.
72:6.6 (814.8) 3. Os ganhos do trabalho compulsório nas minas do estado. Após os trabalhadores recrutados retirarem o próprio sustento e mais as suas próprias contribuições de aposentadoria, todos os ganhos do seu trabalho que excederem a tudo isso vão para esse fundo de pensão.
72:6.7 (814.9) 4. A renda de recursos naturais. Toda a riqueza natural do continente é mantida como um monopólio social pelo governo federal, e a renda proveniente dela é utilizada sempre para um propósito social, tal como: a prevenção de doenças, a educação dos gênios e as despesas com os indivíduos que representem promessas especiais nas escolas do estado. A metade da renda dos recursos naturais vai para o fundo de pensão para a velhice.
72:6.8 (814.10) Embora as fundações dedicadas aos seguros do estado e das províncias forneçam muitas formas de seguro de proteção, as pensões para a velhice são administradas apenas pelo governo federal, por meio dos dez departamentos regionais.
72:6.9 (814.11) Esses fundos governamentais há muito vêm sendo administrados honestamente. As penas mais pesadas, depois das penas dadas à traição e ao assassinato, aplicadas pelas cortes, estão ligadas à traição da confiança pública. As deslealdades sociais e políticas são atualmente consideradas os mais odientos de todos os crimes.
72:7.1 (815.1) O governo federal é paternalista apenas quanto à administração das pensões para a velhice e quanto a fomentar o gênio e a originalidade criativos; os governos dos estados estão ligeiramente mais preocupados com o cidadão individualmente, enquanto os governos das províncias locais são muito mais paternalistas ou socialistas. A cidade (ou algumas divisões dela) preocupa-se com questões como saúde, saneamento, normas de construção, ornamentação, suprimento de água, iluminação, aquecimento, recreação, música e comunicações.
72:7.2 (815.2) Em toda a indústria, a maior atenção é voltada para a saúde; alguns aspectos do bem-estar físico são considerados prerrogativas industriais e comunitárias, mas os problemas da saúde individual e da família são questões apenas para a preocupação pessoal. Na medicina, como em todos os outros assuntos puramente pessoais, é plano do governo interferir sempre menos.
72:7.3 (815.3) As cidades não têm poder para cobrar impostos, nem podem contrair débitos. Elas recebem dotações do tesouro do estado, per capita da sua população, e devem suplementar essa receita com os ganhos dos seus empreendimentos socializados e por meio das concessões de várias atividades comerciais.
72:7.4 (815.4) As instalações de trânsito rápido, que facilitam consideravelmente a expansão das fronteiras das cidades, ficam sob o controle municipal. Os corpos municipais de bombeiros são sustentados pelas fundações de prevenção de incêndios e de seguros, e todos os prédios na cidade e no campo são à prova de fogo — tem sido assim por mais de setenta e cinco anos.
72:7.5 (815.5) Não há funcionários municipais destacados para manter a paz; as forças policiais são mantidas pelo governo do estado. Esse departamento é recrutado quase que inteiramente junto aos solteiros entre vinte e cinco e cinqüenta anos. A maior parte dos estados aplica altos impostos aos solteiros, e estes são destinados a todos os homens que integram a polícia do estado. A força policial dos estados tem atualmente, em média, apenas um décimo do tamanho que tinha cinqüenta anos atrás.
72:7.6 (815.6) Há pouca ou nenhuma uniformidade entre os esquemas de impostos dos cem estados relativamente livres e soberanos, pois as condições econômicas e tudo o mais varia, consideravelmente, nas diferentes partes do continente. Cada estado tem dez disposições constitucionais básicas que não podem ser modificadas, a não ser com o consentimento da suprema corte federal; e um desses artigos impede a cobrança de um imposto de mais de um por cento sobre o valor de qualquer propriedade, durante um mesmo ano; os domicílios, urbanos ou não, estão isentos.
72:7.7 (815.7) O governo federal não pode contrair dívidas, e a aprovação por uma maioria de três quartos é exigida para que qualquer estado possa tomar recursos emprestados, a menos que seja para propósitos de guerra. Como o governo federal não pode incorrer em débito, em caso de guerra o Conselho Nacional da Defesa tem o poder de requisitar fundos dos estados, e também homens e materiais, segundo a necessidade. Todo débito, porém, deve ser pago em menos de vinte e cinco anos.
72:7.8 (815.8) A renda para manter o governo federal é retirada das cinco fontes seguintes:
72:7.9 (815.9) 1. Impostos sobre importações. Todas as importações estão sujeitas a uma tarifa destinada a proteger o padrão de vida desse continente, que está muito acima do de qualquer outra nação do planeta. Essas tarifas são estabelecidas pela mais alta corte industrial, depois que ambas as casas do congresso industrial houverem ratificado as recomendações do chefe executivo dos assuntos econômicos, o qual é apontado, em conjunto, por esses dois órgãos legislativos. A câmara industrial superior é eleita pelo trabalho, e a câmara baixa, pelo capital.
72:7.10 (816.1) 2. Direitos de patentes. O governo federal encoraja a invenção e as criações originais, nos dez laboratórios regionais, dando assistência a todos os tipos de gênios — artistas, autores, e cientistas — e protegendo as patentes deles. Em troca, o governo fica com a metade dos lucros advindos dessas criações e invenções, seja vindos de máquinas, livros, objetos de arte, plantas ou animais.
72:7.11 (816.2) 3. Imposto sobre a herança. O governo federal cobra uma taxa gradativa sobre a herança, que varia de um a cinqüenta por cento, dependendo do porte da propriedade e de outras condições.
72:7.12 (816.3) 4. Equipamento militar. O governo arrecada uma soma apreciável com os aluguéis dos equipamentos navais e militares, para uso comercial e recreativo.
72:7.13 (816.4) 5. Recursos naturais. A renda que provém dos recursos naturais, quando não destinada, na sua totalidade, aos propósitos específicos designados na constituição da federação, é revertida para o tesouro nacional.
72:7.14 (816.5) Os orçamentos federais, exceto os fundos de guerra solicitados pelo Conselho Nacional da Defesa, são propostos pela câmara legislativa superior, sancionados pela câmara baixa, aprovados pelo chefe executivo e, finalmente, validados pela comissão federal de orçamento. Os cem membros dessa comissão são indicados pelos governadores dos estados e eleitos pelos legislativos dos estados, para servirem por vinte e quatro anos, um quarto deles sendo eleito a cada seis anos. A cada seis anos esse corpo elege, por uma maioria de três quartos, um dos seus membros como chefe, e ele, assim, torna-se o diretor-controlador do tesouro federal.
72:8.1 (816.6) Além do programa compulsório básico de educação, que abrange desde a idade de cinco anos até os dezoito, as escolas superiores especiais são mantidas do modo seguinte:
72:8.2 (816.7) 1. Escolas de administração estatal. Essas escolas são de três classes: nacionais, regionais e dos estados. Os cargos públicos da nação estão agrupados em quatro divisões. A primeira divisão de responsabilidade pública é, sobretudo, relacionada à administração nacional, e todos os funcionários ocupantes desses postos devem ser graduados em ambas as escolas de administração estatal, a escola regional e a nacional. Na segunda divisão, os indivíduos podem aceitar um posto político, eletivo ou por designação, depois de se graduarem em qualquer das dez escolas superiores regionais de administração estatal; as suas missões envolvem responsabilidades na administração regional e nos governos dos estados. A terceira divisão inclui responsabilidades nos estados, e desses funcionários é exigido apenas que tenham graduações em administração estatal. Da quarta e última divisão de funcionários não é exigido que tenham graduação em administração estatal, pois esses cargos são exclusivamente designados. Essas posições representam postos menores de assistência, secretariado e tecnologia, os quais são desempenhados pelas várias profissões liberais que atuam em funções da administração do governo.
72:8.3 (816.8) Os juízes das cortes menores e dos estados têm graduações das escolas de administração estatal. Os juízes dos tribunais com jurisdição sobre questões sociais, educacionais e industriais têm graduações das escolas regionais de administração. Os juízes da suprema corte federal devem ter graduações de todas essas escolas de administração estatal.
72:8.4 (817.1) 2. Escolas de filosofia. Estas escolas são filiadas aos templos de filosofia e são mais ou menos ligadas à religião, como função pública.
72:8.5 (817.2) 3. Instituições de ciência. Estas escolas técnicas são coordenadas à indústria mais do que ao sistema educacional, e são administradas sob quinze divisões.
72:8.6 (817.3) 4. Escolas de aperfeiçoamento profissional. Essas instituições especiais proporcionam o aperfeiçoamento técnico para as várias profissões liberais, e são doze no total.
72:8.7 (817.4) 5. Escolas militares e navais. Próximo da sede nacional e nos vinte e cinco centros militares costeiros são mantidas as instituições dedicadas ao aperfeiçoamento militar dos cidadãos voluntários de dezoito a trinta anos de idade. O consentimento dos pais é exigido, antes de vinte e cinco anos, para que se tenha acesso a essas escolas.
72:9.1 (817.5) Embora as candidaturas a todos os cargos públicos estejam restritas aos graduados pelas escolas de administração pública estaduais, regionais ou federais, os líderes progressistas dessa nação descobriram uma falha séria no seu plano de sufrágio universal e, há cerca de cinqüenta anos, fizeram uma emenda constitucional provendo um esquema modificado de votação com as seguintes características:
72:9.2 (817.6) 1. Todo homem e toda mulher de vinte anos, ou mais, tem direito a um voto. Ao atingir essa idade, todos os cidadãos devem aceitar ser membros de dois grupos de votação. Ao primeiro eles pertencerão de acordo com a sua função econômica — industrial, liberal, agrícola ou comercial; ao segundo grupo eles pertencerão de acordo com as suas inclinações políticas, filosóficas e sociais. Todos os trabalhadores, desse modo, pertencem a algum grupo eleitoral econômico; e esses agrupamentos, como as associações não-econômicas, são regulamentados muito como o é o governo nacional, com a sua tríplice divisão de poderes. A afiliação a esses grupos não pode ser modificada por doze anos.
72:9.3 (817.7) 2. Por meio de uma indicação feita pelos governadores dos estados ou pelos executivos regionais e pelo mandado dos supremos conselhos regionais, os indivíduos que houverem prestado grandes serviços à sociedade, ou que hajam demonstrado uma sabedoria extraordinária no serviço do governo, podem ter um direito adicional de voto conferido a eles, mas com uma freqüência não maior do que a cada cinco anos, e esse direito adicional não deverá exceder a nove votos. O sufrágio máximo de qualquer votante múltiplo é de dez votos. Os cientistas, os inventores, os professores, os filósofos e os líderes espirituais também são reconhecidos, e, assim, são honrados com um poder político maior. Esses privilégios cívicos avançados são conferidos pelo estado e pelos supremos conselhos regionais, exatamente como os diplomas são conferidos pelas universidades especiais; e aqueles que os recebem ficam orgulhosos de colocar os símbolos desse reconhecimento cívico, junto com os seus outros diplomas, nas suas listas de realizações pessoais.
72:9.4 (817.8) 3. Todos os indivíduos sentenciados ao trabalho compulsório nas minas e todos os servidores governamentais mantidos pelos fundos dos impostos perdem o direito de voto, durante o período desses serviços. Isso não se aplica a pessoas idosas, que podem aposentar-se aos sessenta e cinco anos de idade.
72:9.5 (817.9) 4. Há cinco escalões de sufrágio, refletindo a média anual de impostos pagos anualmente para cada período de meia década. Aqueles que pagam impostos mais altos têm direito a votos extras até um máximo de cinco. Essa concessão independe de todos os outros reconhecimentos, mas, em nenhuma hipótese, uma pessoa pode ter direito a mais de dez votos.
72:9.6 (818.1) 5. Na época em que esse plano de sufrágio foi adotado, o método territorial de votação foi abandonado em favor do sistema funcional ou econômico. Todos os cidadãos, agora, votam como membros de grupos industriais, sociais ou de profissionais liberais, independentemente da sua residência. Assim, o eleitorado consiste em grupos solidificados, unificados e inteligentes, que elegem apenas os seus melhores membros para as posições de confiança e de responsabilidade no governo. Há uma exceção a esse esquema de voto funcional ou grupal: a eleição de um chefe do executivo federal, a cada seis anos, é feita com votos de toda a nação, e nenhum cidadão vota mais do que uma vez.
72:9.7 (818.2) Assim, exceto na eleição do chefe do executivo, o sufrágio é exercido por agrupamentos econômicos, profissionais, intelectuais e sociais de toda a cidadania. O estado ideal é orgânico, e todo grupo livre e inteligente de cidadãos representa um órgão vital e funcional dentro do organismo governamental maior.
72:9.8 (818.3) As escolas de administração estatal têm o poder de entrar com processos judiciais junto às cortes do estado, visando a desautorizar o voto de qualquer indivíduo defeituoso, indolente, indiferente ou criminoso. Esse povo reconhece que, quando cinqüenta por cento de uma nação é inferior ou ausente e tem direito ao voto, essa nação está condenada. Eles acreditam que o predomínio da mediocridade provoca a queda de qualquer nação. O voto é obrigatório, e pesadas multas são dadas a quem deixar de depositar o seu voto.
72:10.1 (818.4) Os métodos que esse povo tem para lidar com o crime, a insanidade e a degenerescência, ainda que possam agradar sob alguns aspectos, sem dúvida, sob outros, parecerão chocantes à maioria dos urantianos. Os criminosos comuns e os deficientes são, separadamente por sexo, colocados em colônias agrícolas, onde eles produzem mais do que o necessário para sustentar-se. Os criminosos habituais mais sérios ou incuravelmente insanos são sentenciados à morte, em câmaras de gases letais, pelos tribunais. Inúmeros crimes, afora o de assassinato, incluindo a traição da confiança governamental, também implicam a punição de morte, e a ação da justiça é certa e rápida.
72:10.2 (818.5) Esse povo está passando da era negativa para a era positiva da lei. Recentemente, eles chegaram a ponto de tentar a prevenção do crime sentenciando aqueles que se acredita serem assassinos e criminosos maiores, em potencial, ao serviço perpétuo nas colônias penais. Se esses condenados demonstrarem, subseqüentemente, que se tornaram como normais, eles podem ser libertados condicionalmente ou perdoados. O índice de homicídios, nesse continente, é apenas de um por cento do das outras nações.
72:10.3 (818.6) Os esforços para impedir que os criminosos e deficientes se reproduzam começaram há cerca de cem anos e já alcançaram resultados gratificantes. Não há prisões nem hospitais para os dementes. E há uma razão para tal: o número dessas pessoas é cerca de dez vezes menor do que em Urântia.
72:11.1 (818.7) Os graduados das escolas militares federais podem ser promovidos pelo presidente do Conselho Nacional da Defesa a “guardiães da civilização”, em sete escalões, de acordo com a capacidade e experiência. Esse conselho consiste em vinte e cinco membros, nomeados pelos tribunais superiores da família, da educação e das indústrias, confirmados pela suprema corte federal e presididos ex officio pelo chefe da assessoria coordenada de assuntos militares. Esses membros servem até os setenta anos de idade.
72:11.2 (819.1) Os cursos que esses oficiais nomeados fazem têm quatro anos de duração e são relacionados, invariavelmente, com a mestria de algum ofício ou profissão. O aperfeiçoamento militar nunca é dado sem estar associado a essa escolaridade industrial, científica ou profissional. Quando o aperfeiçoamento militar é completado, o indivíduo terá, durante os quatro anos do curso, recebido a metade da educação administrada em qualquer das escolas especiais, nas quais os cursos têm, do mesmo modo, quatro anos de duração. Desse modo, a criação de uma classe militar profissional é evitada, proporcionando a um grande número de homens a oportunidade de sustentar a si próprios, ao mesmo tempo em que lhes é assegurada a primeira metade de um aperfeiçoamento técnico ou profissional.
72:11.3 (819.2) O serviço militar, durante os tempos de paz, é puramente voluntário, e o alistamento em todos os ramos do serviço dura quatro anos, durante os quais todo homem segue uma linha especial de estudo, além do mestrado em táticas militares. A educação musical está entre as mais visadas das escolas militares centrais e dos vinte e cinco campos de aperfeiçoamento distribuídos pela periferia do continente. Durante os períodos de inatividade industrial, muitos milhares de desocupados são automaticamente utilizados para reforçar as defesas militares do continente, na terra, no mar e no ar.
72:11.4 (819.3) Embora esse povo mantenha um poderoso destacamento de guerra para a defesa contra a invasão pelos povos vizinhos hostis, deve ser lembrado, a seu favor, que eles nunca empregaram, durante mais de cem anos, esses recursos militares em uma guerra ofensiva. Eles tornaram-se civilizados a ponto de poder defender vigorosamente a civilização, sem ceder à tentação de utilizar o seu poderio de guerra para a agressão. Não houve guerras civis desde o estabelecimento do estado continental unido, mas, durante os dois últimos séculos, esse povo foi levado a travar nove violentos conflitos defensivos, três dos quais contra poderosas confederações de poderes mundiais. Embora essa nação mantenha uma defesa adequada contra ataques de vizinhos hostis, ela dedica muito mais atenção a formar estadistas, cientistas e filósofos.
72:11.5 (819.4) Quando essa nação está em paz com o mundo, todos os mecanismos de defesa móvel ficam integralmente empregados nos negócios, no comércio e na recreação. Quando a guerra é declarada, toda a nação mobiliza-se. Durante o período de hostilidades, os salários dos militares vêm de todas as indústrias, e os chefes de todos os departamentos militares tornam-se membros do gabinete do chefe do executivo.
72:12.1 (819.5) Embora a sociedade e o governo desse povo especial sejam, sob muitos aspectos, superiores àqueles das nações de Urântia, deveria ser esclarecido que nos outros continentes (há onze continentes nesse planeta) os governos são definitivamente inferiores aos das nações mais avançadas de Urântia.
72:12.2 (819.6) Atualmente, esse governo superior está planejando estabelecer relações diplomáticas com os povos inferiores e, pela primeira vez, um grande líder religioso surgiu advogando o envio de missionários até essas nações vizinhas. Tememos que eles estejam a ponto de incorrer no erro que tantos outros cometeram, quando tentaram impingir uma cultura e uma religião superiores a outras raças. Que coisa maravilhosa poderia ser feita naquele mundo, se essa nação continental de cultura avançada trouxesse até a si o melhor dos povos vizinhos e, então, depois de educá-los, enviasse-os de volta como emissários da cultura junto aos seus irmãos incivilizados! Claro está que, se um Filho Magisterial viesse logo a essa nação avançada, grandes coisas poderiam acontecer rapidamente nesse mundo.
72:12.3 (820.1) Esta narrativa sobre os assuntos de um planeta vizinho foi feita sob uma permissão especial, com a intenção de dar um avanço à civilização e de implementar a evolução dos governos em Urântia. Muito mais poderia ser dito, que sem dúvida causaria interesse e surpresa aos urantianos, mas a revelação feita desse modo atinge os limites daquilo que o nosso mandado permite.
72:12.4 (820.2) Os urantianos deveriam, contudo, observar que essa esfera irmã, da família de Satânia, não foi beneficiada nem por missões magisteriais nem por missões de auto-outorga de Filhos do Paraíso. Nem estão os vários povos de Urântia separados uns dos outros por uma disparidade tão grande de cultura como a que separa aquela nação continental dos seus irmãos planetários.
72:12.5 (820.3) A efusão do Espírito da Verdade proporciona uma fundamentação de base espiritual para a realização de grandes feitos, no interesse da raça humana do mundo de auto-outorga. Urântia está, portanto, muito mais bem preparada para uma realização mais imediata de um governo planetário, com as suas leis próprias, mecanismos, símbolos, convenções e línguas — e tudo o que poderia contribuir muito poderosamente para o estabelecimento da paz mundial, dentro da lei; e que poderia conduzir a um alvorecer futuro de uma verdadeira idade de busca e empenho espiritual, e essa idade é o portal planetário para as idades utópicas de luz e vida.
72:12.6 (820.4) [Apresentado por um Melquisedeque de Nébadon.]
O Livro de Urântia
Documento 73
73:0.1 (821.1) A DECADÊNCIA cultural e a pobreza espiritual, resultantes da desgraça de Caligástia e da confusão social conseqüente, pouco efeito tiveram sobre o status físico ou biológico dos povos de Urântia. A evolução orgânica continuou a passos largos, a despeito do retrocesso cultural e moral que, tão aceleradamente, se seguiu à deslealdade de Caligástia e de Daligástia. E veio um tempo, na história planetária, há quase quarenta mil anos, no qual os Portadores da Vida em serviço anotaram que, de um ponto de vista puramente biológico, o progresso do desenvolvimento das raças de Urântia estava aproximando-se do seu apogeu. Os administradores Melquisedeques, compartilhando dessa opinião, prontamente concordaram em aliar-se aos Portadores da Vida para uma petição aos Altíssimos de Edêntia, solicitando-lhes que Urântia fosse inspecionada com vistas a autorizar que fossem despachados, para este planeta, os elevadores biológicos, um Filho e uma Filha Materiais.
73:0.2 (821.2) E porque os Altíssimos de Edêntia haviam exercido a jurisdição direta sobre muitos dos assuntos de Urântia desde a queda de Caligástia e a ausência temporária de autoridade em Jerusém, esse pedido foi feito a eles.
73:0.3 (821.3) Tabamântia, supervisor soberano da série de mundos decimais ou experimentais, veio para inspecionar o planeta e, depois de uma pesquisa sobre o progresso racial, recomendou devidamente que fossem concedidos Filhos Materiais a Urântia. Pouco menos de cem anos depois da época dessa inspeção, Adão e Eva, um Filho e uma Filha Materiais do sistema local, chegaram e começaram o difícil intento de desembaraçar os assuntos confusos de um planeta atrasado pela rebelião e colocado sob a excomunhão do isolamento espiritual.
73:1.1 (821.4) Num planeta normal, a chegada do Filho Material, via de regra, prenunciaria a aproximação de uma grande idade de invenções, de progresso material e de esclarecimento intelectual. A era pós-Adâmica é a grande idade científica da maioria dos mundos, mas isso não se deu em Urântia. Embora o planeta tenha sido povoado por raças fisicamente qualificadas, as tribos definhavam em profunda selvageria e estagnação moral.
73:1.2 (821.5) Dez mil anos depois da rebelião, praticamente todos os avanços da administração do Príncipe haviam desaparecido; as raças do mundo estavam muito pouco melhores do que se esse Filho desencaminhado jamais houvesse vindo para Urântia. Apenas entre os noditas e os amadonitas, as tradições da Dalamátia e a cultura do Príncipe Planetário subsistiram.
73:1.3 (821.6) Os noditas eram os descendentes dos membros rebeldes, do corpo de assessores do Príncipe, o seu nome derivando-se do seu primeiro líder, Nod, que outrora havia presidido à comissão da indústria e comércio da Dalamátia. Os amadonitas eram os descendentes daqueles andonitas que optaram por permanecer leais junto com Van e Amadon. “Amadonita” é uma designação mais cultural e religiosa do que um termo racial; do ponto de vista racial, os amadonitas eram essencialmente andonitas. “Nodita” é um termo tanto cultural quanto racial, pois os noditas constituíram a oitava raça de Urântia.
73:1.4 (822.1) Existia uma inimizade tradicional entre os noditas e os amadonitas. Essa hostilidade estava constantemente vindo à superfície, quando a progênie desses dois grupos tentava algum empreendimento em comum. E mesmo mais tarde, nos assuntos do Éden, foi extremamente difícil para eles trabalharem juntos em paz.
73:1.5 (822.2) Pouco depois da destruição da Dalamátia, os seguidores de Nod ficaram divididos em três grandes grupos. O grupo central permaneceu na vizinhança imediata da sua terra de origem, perto das cabeceiras dos rios do golfo Pérsico. O grupo oriental migrou para a região das terras altas de Elam, a leste do vale do Eufrates. O grupo do ocidente situou-se na margem nordeste do Mediterrâneo, local correspondente à costa da Síria e ao território adjacente.
73:1.6 (822.3) Esses noditas acasalaram-se livremente com as raças sangiques e deixaram, atrás de si, uma progênie de qualidade. E alguns dos descendentes dos rebeldes da Dalamátia subseqüentemente juntaram-se a Van e aos seus seguidores leais nas terras do norte da Mesopotâmia. Ali, nas proximidades do lago Van e da região sulina do mar Cáspio, os noditas uniram-se e acasalaram-se com os amadonitas, e foram considerados entre os “poderosos homens de outrora”.
73:1.7 (822.4) Antes da chegada de Adão e Eva, esses grupos — de noditas e amadonitas — eram as raças mais avançadas e mais cultas da Terra.
73:2.1 (822.5) Durante quase cem anos, antes da inspeção de Tabamântia, Van e os seus companheiros, da sua sede geral de ética e cultura mundial, situada nos planaltos, haviam pregado o advento de um Filho de Deus prometido, um elevador racial, um instrutor da verdade e um sucessor digno para o traidor Caligástia. Embora a maioria dos habitantes do mundo, naqueles dias, demonstrasse pouco ou nenhum interesse por esse vaticínio, aqueles que estavam em contato próximo com Van e Amadon levaram esse ensinamento a sério e começaram a planejar para receber efetivamente o Filho prometido.
73:2.2 (822.6) Van contou aos seus companheiros mais próximos a história dos Filhos Materiais em Jerusém, sobre o que conhecera deles antes mesmo de vir para Urântia. Ele sabia muito bem que esses Filhos Adâmicos sempre viveram em casas simples, mas encantadoras, em jardins; e propôs, oitenta e três anos antes da chegada de Adão e Eva, que se devotassem à proclamação do advento deles e à preparação de um lar-jardim para recebê-los.
73:2.3 (822.7) Da sua sede nos planaltos, e de sessenta e um assentamentos bem distantes uns dos outros, Van e Amadon recrutaram um corpo de mais de três mil trabalhadores entusiasmados e dispostos, que, em uma assembléia solene, dedicaram-se a essa missão de preparar a chegada do Filho prometido — ou pelo menos aguardado.
73:2.4 (822.8) Van dividiu os seus voluntários em cem companhias, com um capitão em cada uma e um companheiro que servia na sua assessoria pessoal como oficial de ligação, mantendo Amadon como o seu próprio colaborador. Essas comissões todas começaram seriamente os seus trabalhos preliminares e o comitê de localização do Jardim partiu à procura do local ideal.
73:2.5 (822.9) Embora houvessem sido privados de muitos dos seus poderes para o mal, Caligástia e Daligástia fizeram tudo o que lhes foi possível para frustrar e obstruir o trabalho de preparação do Jardim. Contudo, as suas maquinações malignas foram em grande parte contrabalançadas pelas atividades fiéis das quase dez mil criaturas intermediárias leais que trabalharam incansavelmente para fazer com que o empreendimento progredisse.
73:3.1 (823.1) O comitê de localização esteve afastado por quase três anos. Fez um relatório favorável envolvendo três localizações possíveis: a primeira era uma ilha no golfo Pérsico; a segunda, a localização próxima ao rio subseqüentemente ocupada pelo segundo jardim; a terceira, uma longa e estreita península — quase uma ilha — que se projetava para oeste, na costa oriental do mar Mediterrâneo.
73:3.2 (823.2) O comitê foi, quase por unanimidade, a favor da terceira opção selecionada. Esse local foi escolhido, e dois anos foram necessários para transferir a sede cultural do mundo, incluindo a árvore da vida, para essa península no Mediterrâneo. Todos os grupos de moradores da península, exceto um, mudaram-se pacificamente, quando Van chegou com a sua companhia.
73:3.3 (823.3) Essa península no Mediterrâneo tinha um clima salubre e uma temperatura regular; esse clima era estável, devido às montanhas que circundavam o local e ao fato de que essa área era virtualmente uma ilha em um mar interior. Enquanto chovia copiosamente nos planaltos circundantes, raramente chovia no Éden propriamente dito. Todas as noites, porém, vinda da rede abrangente de canais artificiais de irrigação, uma “neblina subiria” e refrescaria a vegetação do Jardim.
73:3.4 (823.4) A linha do litoral dessa massa de terra era consideravelmente elevada, e o istmo ligando-a ao continente tinha apenas quarenta e três quilômetros de largura na parte mais estreita. O grande rio que banhava o Jardim vinha das terras mais altas da península e corria para o leste através do istmo peninsular até o continente, e daí atravessando as planícies da Mesopotâmia e indo para o mar adiante. Era engrossado por quatro afluentes cuja origem estava nas colinas costeiras da península Edênica e que são as “quatro cabeceiras” do rio que “saía do Éden” e que se confundiram, mais tarde, com os afluentes dos rios em torno do segundo jardim.
73:3.5 (823.5) As montanhas que circundavam o Jardim eram ricas em pedras e metais preciosos, embora pouquíssima atenção se desse a isso. A idéia predominante era de glorificação da horticultura e exaltação da agricultura.
73:3.6 (823.6) O local escolhido para o Jardim era, provavelmente, o de maior beleza no gênero em todo o mundo, e o clima era, então, o ideal. Em nenhum outro lugar havia uma localização que se pudesse prestar de um modo tão perfeito a tornar-se um paraíso de expressão botânica. Nesse ponto de convergência, o que havia de melhor na civilização de Urântia estava reunindo-se. Dos seus confins para o lado exterior, o mundo permanecia nas trevas, na ignorância e selvageria. O Éden era o único local luminoso em Urântia; e, por natureza, era um sonho de beleza e logo se tornou um poema de paisagens de glória perfeccionada e singular.
73:4.1 (823.7) Quando os Filhos Materiais, os elevadores biológicos, iniciam a sua permanência em um mundo evolucionário, o local da sua morada é freqüentemente chamado de Jardim do Éden, porque é caracterizado pela beleza da flora e pelo esplendor da botânica de Edêntia, a capital da constelação. Van conhecia bem esses costumes e por isso cuidou para que toda a península fosse entregue ao Jardim. O pastoreio e a criação de animais foram projetados para as terras contíguas do continente. Da vida animal, apenas os pássaros e as várias espécies domesticadas permaneceriam no parque. As instruções de Van eram de que o Éden deveria ser um jardim, e apenas um jardim. Nenhum animal jamais foi abatido dentro dos seus recintos. Toda a carne consumida pelos trabalhadores do Jardim, durante todos os anos da construção, foi levada até lá dos rebanhos mantidos sob custódia no continente.
73:4.2 (824.1) A primeira tarefa foi construir o muro de tijolos, através do istmo da península. E, uma vez completado o muro, o trabalho real de embelezamento da paisagem e de construção das casas poderia continuar sem obstáculos.
73:4.3 (824.2) Um jardim zoológico foi criado, com a construção de um muro menor, um pouco mais para fora do muro principal; o espaço entre os dois muros, ocupado por todos os tipos de animais selvagens, servia como uma defesa adicional contra ataques hostis. Esse zoológico estava organizado em doze grandes divisões, e caminhos murados ligavam essas divisões aos doze portões do Jardim; o rio e as suas pastagens adjacentes ocupando a área central.
73:4.4 (824.3) Na preparação do Jardim foram utilizados apenas trabalhadores voluntários, jamais um assalariado foi usado. Eles cultivavam o Jardim e cuidavam dos seus rebanhos para sustentar-se; e contribuições de comida eram também recebidas de crentes das vizinhanças. E esse grande empreendimento foi levado a um bom termo, a despeito das dificuldades que acompanharam a desordem do status do mundo durante esses tempos perturbados.
73:4.5 (824.4) Todavia, não sabendo quando viriam o Filho e a Filha esperados, Van causou uma grande decepção ao sugerir que a geração mais jovem também fosse treinada no trabalho de manter o empreendimento, para o caso de que a chegada deles fosse retardada. Isso pareceu uma admissão de falta de fé, da parte de Van, e provocou problemas consideráveis, causando muitas deserções. Van, porém, persistiu com o seu plano de prontidão, enquanto preenchia os lugares dos que desertaram com voluntários mais jovens.
73:5.1 (824.5) No centro da península edênica, encontrava-se o encantador templo de pedra do Pai Universal, o santuário sagrado do Jardim. Ao norte, a sede administrativa foi estabelecida; ao sul, foram construídas as casas para os trabalhadores e as suas famílias; a oeste, os terrenos estavam reservados para as escolas propostas para o sistema educacional do Filho esperado, enquanto a “leste do Éden” foram construídos os domicílios destinados aos Filhos prometidos e à progênie imediata deles. Os planos arquitetônicos para o Éden previam casas e terras abundantes para um milhão de seres humanos.
73:5.2 (824.6) No momento da chegada de Adão, embora apenas um quarto do Jardim estivesse pronto, havia milhares de quilômetros de valetas de irrigação terminadas e mais de vinte mil quilômetros de vias e estradas pavimentadas. Havia um pouco mais do que cinco mil construções de tijolos nos vários setores, e árvores e plantas além da conta. Era de sete o maior número de casas que compunham qualquer conglomerado no parque. E, embora as estruturas do Jardim fossem simples, eram bastante artísticas. As estradas e as vias eram bem construídas, e a ornamentação da paisagem, refinada.
73:5.3 (824.7) Os dispositivos sanitários do Jardim eram mais adiantados do que qualquer coisa que houvesse sido feita anteriormente em Urântia. A água, para beber, no Éden era mantida potável por meio da observância rígida de regulamentações sanitárias destinadas a conservar a sua pureza. Durante esses tempos iniciais, muita complicação adveio da negligência dessas regras, mas Van, gradativamente, inculcou nos seus companheiros a importância de não permitir que nada caísse nos reservatórios de água do Jardim.
73:5.4 (825.1) Antes que a rede do sistema de esgotos houvesse sido implantada, os edenitas enterravam escrupulosamente todo lixo ou material em decomposição. Os inspetores de Amadon faziam as suas rondas todos os dias, à procura de causas possíveis de doenças. Os urantianos só redespertaram a sua consciência para a importância da prevenção de doenças humanas em tempos posteriores, nos séculos dezenove e vinte. Antes da interrupção do regime Adâmico, um sistema coberto de condutos de tijolos para a rede de esgotos havia sido construído, correndo por baixo dos muros e desembocando no rio do Éden, a mais de um quilômetro e meio adiante do muro externo, o menor, do Jardim.
73:5.5 (825.2) Na época da chegada de Adão, a maior parte das plantas daquela região do mundo estava sendo cultivada no Éden. E muitas das frutas, cereais e nozes já haviam sido grandemente aperfeiçoadas. Muitos dos legumes e cereais modernos foram cultivados ali, pela primeira vez, mas dezenas de variedades de plantas comestíveis foram subseqüentemente perdidas para o mundo.
73:5.6 (825.3) Cerca de cinco por cento do Jardim destinava-se a um cultivo altamente artificial, quinze por cento estavam parcialmente cultivados e o remanescente foi deixado em um estado mais ou menos natural, aguardando a chegada de Adão, pois se considerou melhor terminar o parque de acordo com as idéias dele.
73:5.7 (825.4) E, assim, o Jardim do Éden se fez preparado para receber o Adão prometido e a sua consorte. E esse Jardim teria honrado um mundo sob administração perfeccionada e controle normal. Adão e Eva ficaram muito satisfeitos com o plano geral do Éden, embora houvessem feito muitas mudanças nas mobílias das suas próprias moradas pessoais.
73:5.8 (825.5) Embora o trabalho de embelezamento mal houvesse sido acabado na época da chegada de Adão, o local já era uma preciosidade de beleza botânica; e, durante a primeira temporada da sua estada no Éden, todo o Jardim tomou uma nova forma e assumiu novas proporções de beleza e grandeza. Nunca, antes dessa época nem depois, Urântia foi o abrigo de uma exposição de horticultura e agricultura tão completa e de tal beleza.
73:6.1 (825.6) No centro do templo do Jardim, Van plantou a árvore da vida, guardada por tanto tempo, cujas folhas eram para a “cura das nações”, e cujos frutos, por tanto tempo, haviam-no sustentado na Terra. Van sabia muito bem que Adão e Eva também dependeriam dessa dádiva de Edêntia para a manutenção das suas vidas, assim que aparecessem em Urântia na forma material.
73:6.2 (825.7) Os Filhos Materiais, quando nas capitais dos sistemas, não necessitam da árvore da vida para o seu sustento. Apenas quando são repersonalizados nos planetas é que eles dependem desse complemento para a imortalidade física.
73:6.3 (825.8) É possível que “árvore do conhecimento do bem e do mal” possa ser uma expressão, de sentido figurado, uma designação simbólica que abranja uma enorme quantidade de experiências humanas, mas a “árvore da vida” não foi um mito; ela era real e, por um período longo, esteve presente em Urântia. Quando os Altíssimos de Edêntia aprovaram a designação de Caligástia como o Príncipe Planetário de Urântia e os cem cidadãos de Jerusém como os membros do seu corpo de assessoria administrativa, eles enviaram ao planeta, por intermédio dos Melquisedeques, um arbusto de Edêntia, e essa planta cresceu e transformou-se na árvore da vida em Urântia. Essa forma de vida não inteligente é nativa nas esferas-sede da constelação, sendo também encontrada nos mundos-sede do universo local e dos superuniversos, bem como nas esferas de Havona, mas não nas capitais dos sistemas.
73:6.4 (826.1) Essa superplanta armazenava certas energias do espaço que são antídotos para os elementos que produzem os efeitos do envelhecimento na existência animal. A fruta da árvore da vida era como uma bateria de armazenamento de uma superquímica, que, quando ingerida, libera misteriosamente a força que o universo tem de prolongamento da vida. Essa forma de sustento era totalmente inútil para os seres evolucionários comuns de Urântia, mas era especificamente útil aos cem membros materializados do corpo de assessores de Caligástia e aos cem andonitas modificados que haviam contribuído com os seus plasmas vitais para o corpo de assessores do Príncipe, e a quem, em retribuição, foi dado tornarem-se possuidores daquele complemento de vida que lhes tornou possível utilizar a fruta da árvore da vida para prolongar, por um tempo indeterminado, as suas existências que, de outro modo, seriam como as dos mortais.
73:6.5 (826.2) Durante os dias do governo do Príncipe, a árvore estava crescendo na terra, no canteiro central e circular do templo do Pai. Quando eclodiu a rebelião, ela foi re-cultivada do seu núcleo central por Van e seus companheiros no seu acampamento temporário. Esse arbusto de Edêntia, em seguida, foi levado para um retiro nos planaltos, onde serviu, tanto a Van quanto a Amadon, por mais de cento e cinqüenta mil anos.
73:6.6 (826.3) Quando Van e os seus companheiros prepararam o Jardim para Adão e Eva, eles transplantaram a árvore de Edêntia para o Jardim do Éden, onde, de novo, ela cresceu no adro central circular de um outro templo dedicado ao Pai. Então, Adão e Eva periodicamente compartilharam dos seus frutos para manter a sua forma dual de vida física.
73:6.7 (826.4) Quando os planos do Filho Material foram desencaminhados, não foi permitido a Adão e à sua família levar o núcleo da árvore para fora do Jardim. Quando os noditas invadiram o Éden, foi-lhes dito que se tornariam como “deuses se eles comessem do fruto da árvore da vida”. Para sua surpresa, eles encontraram-na desguarnecida e puderam comer livremente do seu fruto durante anos, mas nada lhes sucedeu; eles eram todos mortais materiais do reino; faltava-lhes aquela dotação que atuava como complemento do fruto da árvore. E furiosos ficaram com a própria incapacidade de beneficiar-se da árvore da vida e, em conseqüência de uma das suas guerras internas, o templo e a árvore foram ambos destruídos pelo fogo; apenas a parede de pedra permaneceu de pé até que o Jardim posteriormente submergisse. Esse foi o segundo templo do Pai a desaparecer.
73:6.8 (826.5) E, agora, toda a carne em Urântia deve seguir o curso de vida e morte. Adão, Eva, os seus filhos e os filhos dos seus filhos, junto com os seus coligados, todos pereceram com o correr do tempo, tornando-se, assim, sujeitos ao esquema de ascensão do universo local, no qual a ressurreição nos mundos das mansões ocorre em seguida à morte material.
73:7.1 (826.6) Depois que Adão o deixou, o primeiro Jardim foi ocupado variadamente pelos noditas, pelos cutitas e pelos suntitas. Posteriormente, tornou-se a morada dos noditas do norte que se opunham a cooperar com os adamitas. A península, após Adão haver deixado o Jardim, esteve invadida por esses noditas inferiores durante quase quatro mil anos, quando, em conseqüência da atividade violenta dos vulcões da vizinhança e da submersão da ponte terrestre que ligava a Sicília à África, o fundo do mar Mediterrâneo a leste afundou, levando para baixo das águas toda a península Edênica. Concomitantemente com essa imensa submersão, a linha da costa oriental do Mediterrâneo foi grandemente elevada. E esse foi o fim da mais bela criação natural que Urântia jamais abrigou. O afundamento não foi súbito, várias centenas de anos foram necessárias para submergir completamente toda a península.
73:7.2 (827.1) Nós não podemos considerar esse desaparecimento do Jardim como sendo, de nenhum modo, resultado de um malogro dos planos divinos nem resultado dos erros de Adão e Eva. Consideramos a submersão do Éden apenas um acontecimento natural, mas parece-nos que a data do afundamento do Jardim haja sido programada para acontecer por volta da data em que se teriam acumulado reservas tais da raça violeta que fossem suficientes para empreender o trabalho de reabilitar os povos do mundo.
73:7.3 (827.2) Os Melquisedeques aconselharam Adão a não iniciar o programa de elevação racial e de mistura das raças antes que a sua própria família alcançasse o número de meio milhão de pessoas. Nunca se pretendera que o Jardim fosse a morada permanente dos adamitas. Eles deviam tornar-se emissários de uma nova vida para todo o mundo; eles deviam mobilizar-se para outorgar-se, generosamente, às raças necessitadas da Terra.
73:7.4 (827.3) As instruções dadas a Adão pelos Melquisedeques implicavam que ele deveria estabelecer sedes raciais, continentais e divisionais que ficariam a cargo dos seus filhos e filhas imediatos, enquanto ele e Eva deviam dividir o seu tempo entre essas várias capitais do mundo, como conselheiros e coordenadores da ministração, de âmbito mundial, da elevação biológica de avanço intelectual e de reabilitação moral.
73:7.5 (827.4) [Apresentado por Solônia, a seráfica “voz do Jardim”.]
O Livro de Urântia
Documento 74
74:0.1 (828.1) ADÃO E EVA chegaram a Urântia 37 848 anos antes do ano 1934 d.C. Era meia estação, e o Jardim estava em um pico de florescimento quando chegaram. E foi ao meio-dia, sem prévio anúncio, que dois transportes seráficos, acompanhados pelo pessoal de Jerusém, os encarregados do transporte dos elevadores biológicos até Urântia, aterrissaram suavemente na superfície do planeta em rotação, na vizinhança do templo do Pai Universal. Todo o trabalho de rematerialização dos corpos de Adão e Eva foi executado dentro dos recintos daquele santuário, recentemente criado. E, desde o momento da chegada, passaram-se dez dias até que eles fossem recriados na forma humana dual, para serem apresentados como os novos governantes do mundo. Eles recuperaram a consciência simultaneamente. Os Filhos e Filhas Materiais sempre servem juntos. É parte da essência do serviço deles, em todos os tempos e todos os lugares, não se separarem jamais. Eles estão destinados a trabalhar aos pares; raramente funcionam separadamente.
74:1.1 (828.2) O Adão e a Eva planetários de Urântia eram membros do corpo sênior de Filhos Materiais de Jerusém; e ali estavam inscritos conjuntamente sob o número 14 311. Eles pertenciam à terceira série física e tinham em torno de dois metros e cinqüenta de altura.
74:1.2 (828.3) Na época em que Adão foi escolhido para vir para Urântia, ele estava servindo, com a sua companheira, nos laboratórios de ensaios e de provas físicas de Jerusém. Por mais de quinze mil anos, eles haviam sido diretores da divisão de energia experimental aplicada à modificação de formas vivas. Bem antes disso, haviam sido instrutores nas escolas de cidadania para recém-chegados em Jerusém. E deve-se ter tudo isso em mente ao se considerar a narrativa da sua conduta posterior em Urântia.
74:1.3 (828.4) Quando foi emitida a proclamação convocando voluntários para a missão da aventura Adâmica em Urântia, todo o corpo sênior de Filhos e Filhas Materiais fez-se voluntário. Os examinadores Melquisedeques, com a aprovação de Lanaforge e dos Altíssimos de Edêntia, finalmente escolheram o Adão e a Eva que vieram posteriormente a funcionar como os elevadores biológicos de Urântia.
74:1.4 (828.5) Adão e Eva haviam permanecido leais a Michael durante a rebelião de Lúcifer; o casal, contudo, foi convocado perante o Soberano do Sistema e o seu gabinete inteiro, para serem examinados e receberem instruções. Os detalhes dos assuntos de Urântia foram-lhes totalmente apresentados; eles foram exaustivamente instruídos quanto aos planos que deveriam seguir, ao aceitarem as responsabilidades do governo de um mundo tão transtornado por conflitos. Foram colocados sob juramentos conjuntos de lealdade aos Altíssimos de Edêntia e a Michael de Sálvington. E foram devidamente aconselhados a considerar a si próprios como subordinados ao corpo de administradores Melquisedeques de Urântia, até que esse corpo de governo julgasse adequado entregar a direção do mundo ao encargo deles.
74:1.5 (829.1) Esse par de Jerusém deixou para trás de si, na capital de Satânia e em outros locais, cem descendentes — cinqüenta filhos e cinqüenta filhas — , criaturas magníficas que haviam escapado das armadilhas da progressão e que estavam todos funcionando como fiéis servidores, gozando da confiança do universo na época da partida dos seus pais para Urântia. Esses filhos estavam todos presentes ao belo templo dos Filhos Materiais, para assistir aos atos de despedida, ligados às últimas cerimônias da aceitação da outorga. Eles acompanharam os seus progenitores até a sede da desmaterialização da sua ordem e foram os últimos a despedir-se deles e a desejar-lhes o êxito divino, enquanto os dois adormeciam na perda da consciência da personalidade que precede a preparação para o transporte seráfico. Os filhos passaram juntos algum tempo no convívio da família, rejubilando-se de que os seus pais fossem, em breve, tornar-se os chefes visíveis, em realidade, os governantes exclusivos do planeta 606 do sistema de Satânia.
74:1.6 (829.2) E assim Adão e Eva deixaram Jerusém, em meio à aclamação e aos bons votos dos seus cidadãos. Eles partiram para as suas novas responsabilidades, equipados adequadamente e plenamente instruídos quanto a todos os deveres e perigos que encontrariam em Urântia.
74:2.1 (829.3) Adão e Eva adormeceram em Jerusém e, quando acordaram no templo do Pai em Urântia, na presença da imponente multidão reunida para dar-lhes as boas-vindas, eles ficaram face a face com dois seres de quem eles muito haviam ouvido falar, Van e o seu fiel companheiro Amadon. Esses dois heróis da secessão de Caligástia foram os primeiros a saudá-los no seu novo lar no Jardim.
74:2.2 (829.4) A língua do Éden era um dialeto andônico, que era o que Amadon falava. Van e Amadon haviam melhorado bastante essa língua, criando um novo alfabeto de vinte e quatro letras, e esperavam vê-la transformar-se na língua de Urântia, quando a cultura Edênica se espalhasse pelo mundo. Adão e Eva já haviam aprendido e dominavam esse dialeto humano antes de partirem de Jerusém, de modo que aquele filho de Andon ouviu o eminente novo governante do seu mundo dirigir-se a ele na sua própria língua.
74:2.3 (829.5) E, naquele dia, houve grande emoção e alegria em todo o Éden, enquanto os corredores apressaram-se para buscar os pombos-correios reunidos de locais próximos e distantes, gritando: “Soltem os pássaros; que eles levem a nova de que o Filho prometido chegou”. Centenas de colônias de crentes, ano após ano, haviam mantido fielmente as reservas desses pombos de criação doméstica exatamente para tal ocasião.
74:2.4 (829.6) Na medida em que a nova da chegada de Adão espalhou-se até longe, milhares de membros das tribos das proximidades aceitaram os ensinamentos de Van e Amadon, enquanto durante meses e meses os peregrinos continuaram a afluir ao Éden, para saudar Adão e Eva e homenagear o Pai não visível de todos.
74:2.5 (829.7) Logo depois do despertar, Adão e Eva foram acompanhados até a recepção formal na grande elevação ao norte do templo. Essa colina natural fora ampliada e preparada para a instalação dos novos governantes do mundo. Ali, ao meio-dia, o comitê de recepção de Urântia deu as boas-vindas a esse Filho e a essa Filha do sistema de Satânia. Amadon era quem presidia ao comitê, que constava de doze membros, abrangendo um representante de cada uma das seis raças sangiques; o dirigente em exercício das criaturas intermediárias; Annan, filha e porta-voz leal dos noditas; Noé, filho do arquiteto e construtor do Jardim e executor dos planos do seu falecido pai; e os dois Portadores da Vida residentes.
74:2.6 (830.1) O ato seguinte foi a entrega do encargo da custódia planetária a Adão e Eva, feita pelo Melquisedeque sênior, dirigente do conselho dos administradores de Urântia. O Filho e a Filha Materiais fizeram o juramento de fidelidade aos Altíssimos de Norlatiadeque e Michael de Nébadon e foram proclamados governantes de Urântia por Van, que então renunciou à autoridade titular, a qual por mais de cento e cinqüenta mil anos ele vinha mantendo, em virtude de um ato dos administradores Melquisedeques.
74:2.7 (830.2) E Adão e Eva foram vestidos com os mantos reais nessa ocasião, momento da sua entronização formal no governo do mundo. Nem todas as artes de Dalamátia haviam sido perdidas para o mundo; a tecelagem era ainda praticada nos dias do Éden.
74:2.8 (830.3) Então, foram ouvidas a proclamação do arcanjo e a voz de Gabriel que, por transmissão, decretou o julgamento da segunda lista de chamada de Urântia e a ressurreição dos sobreviventes adormecidos da segunda dispensação de graça e de misericórdia ao planeta 606 de Satânia. A dispensação do Príncipe havia passado; a idade de Adão, a terceira época planetária, abriu-se em meio a cenas de grandeza e de simplicidade; e os novos governantes de Urântia começaram o seu reinado sob condições aparentemente favoráveis, não obstante a confusão de âmbito mundial ocasionada pela falta de cooperação daquele que o precedera em autoridade no planeta.
74:3.1 (830.4) E agora, depois da sua instalação formal, Adão e Eva tornam-se conscientes, dolorosamente, do seu isolamento planetário. Silenciosas estavam as transmissões tão familiares para eles, e ausentes estavam todos os circuitos de comunicação extraplanetária. Os seus companheiros de Jerusém haviam ido para mundos onde tudo se passava normalmente, com um Príncipe Planetário bem estabelecido e um corpo de assessores experientes e competentes, prontos para recebê-los e cooperar com eles durante o início da experiência deles em tais mundos. Todavia, em Urântia, a rebelião havia modificado tudo. Aqui, o Príncipe Planetário estava muito presente e, ainda que privado de quase todo o seu poder de fazer o mal, ele era ainda capaz de tornar difícil e, em uma certa medida, arriscada a tarefa de Adão e Eva. Eram um Filho e uma Filha de Jerusém, circunspectos e desiludidos aqueles que passearam naquela noite pelo Jardim, sob o brilho da lua cheia, falando de planos para o dia seguinte.
74:3.2 (830.5) Assim terminou o primeiro dia de Adão e Eva na Urântia isolada, o confuso planeta da traição de Caligástia; e eles andaram e conversaram até tarde da noite, a primeira noite deles na Terra — e sentiram-se muito sós.
74:3.3 (830.6) O segundo dia de Adão na Terra foi passado em uma reunião com os administradores planetários e o conselho consultor. Pelos Melquisedeques e seus colaboradores, Adão e Eva souberam mais sobre os detalhes da rebelião de Caligástia e sobre o efeito que essa secessão teve sobre o progresso do mundo. E foi, no todo, uma história desencorajadora, esse longo relato dos desmandos nos assuntos mundiais. Souberam de todos os fatos a respeito do colapso completo do esquema de Caligástia para acelerar o processo de evolução social. Eles também chegaram a uma plena compreensão da loucura que fora tentar realizar o avanço planetário independentemente do plano divino de progresso. E assim terminou um dia triste, mas esclarecedor — o segundo dia deles em Urântia.
74:3.4 (831.1) O terceiro dia foi dedicado a uma inspeção do Jardim. Nos imensos pássaros de transporte — os fandores — , Adão e Eva viram, lá de cima, as vastas extensões do Jardim, enquanto eram carregados no ar por sobre esse que era o local mais belo da Terra. Esse dia de inspeção terminou com um enorme banquete em honra a todos aqueles que haviam trabalhado para criar esse jardim de beleza e de grandeza Edênica. E novamente, tarde na noite do seu terceiro dia, o Filho e a sua companheira caminharam no Jardim e falaram sobre a imensidão dos seus problemas.
74:3.5 (831.2) No quarto dia, Adão e Eva discursaram para uma assembléia do Jardim. Do monte inaugural, eles falaram ao povo a respeito dos seus planos para a reabilitação do mundo e esboçaram os métodos pelos quais eles iriam buscar redimir a cultura social de Urântia, dos níveis baixos até os quais caíra, em resultado do pecado e da rebelião. Esse foi um grande dia, e terminou com uma festa para o conselho de homens e mulheres que foram selecionados para assumir responsabilidades na nova administração dos assuntos mundiais. E notai bem: havia mulheres e homens também nesse grupo, e essa era a primeira vez que uma coisa assim ocorria na Terra, desde os dias da Dalamátia! Era uma inovação assombrosa contemplar Eva, uma mulher, partilhando as honras e as responsabilidades dos assuntos do mundo com um homem. E, assim, terminou o quarto dia na Terra.
74:3.6 (831.3) O quinto dia foi ocupado com a organização do governo temporário, a administração que devia funcionar até que os administradores Melquisedeques deixassem Urântia.
74:3.7 (831.4) O sexto dia foi dedicado a uma inspeção dos numerosos tipos de homens e animais. Ao longo dos muros do lado leste do Éden, Adão e Eva foram escoltados durante todo o dia, observando a vida animal do planeta e tendo um entendimento melhor sobre o que deveria ser feito para reverter a confusão transformando-a em ordem, em um mundo habitado por tal variedade de criaturas vivas.
74:3.8 (831.5) Muito surpreendeu aos que acompanhavam Adão nessa viagem, observar que ele entendia totalmente sobre a natureza e a função dos milhares e milhares de animais mostrados a ele. No mesmo instante em que ele olhava um animal, ele indicava a sua natureza e comportamento. Adão podia dar os nomes e a descrição da origem, da natureza e da função de todas as criaturas materiais que via. Aqueles que o conduziam nessa viagem de inspeção não sabiam que o novo governante do mundo era um dos mais peritos anatomistas de toda a Satânia; e Eva era igualmente conhecedora. Adão deixou os seus companheiros estupefatos, ao descrever uma quantidade imensa de coisas vivas pequenas demais para serem vistas pelos olhos humanos.
74:3.9 (831.6) Quando terminou o sexto dia de permanência na Terra, Adão e Eva descansaram pela primeira vez no seu novo lar no “leste do Éden”. Os primeiros seis dias da aventura em Urântia haviam sido bastante cheios e eles aguardavam, com grande prazer, ter um dia inteiro livre.
74:3.10 (831.7) As circunstâncias, porém, assim não permitiram. O acontecido no dia que passara, no qual Adão falara tão inteligentemente e tão profundamente sobre a vida animal de Urântia, além do seu discurso inaugural, cheio de mestria e feito com o encanto que lhe era peculiar, tinham de um tal modo conquistado os corações e os intelectos dos moradores do Jardim, que todos ficaram não só de coração aberto para aceitar o Filho e a Filha recém-chegados de Jerusém como governantes, mas a maioria estava a ponto de prostrar-se diante deles e de cultuá-los como deuses.
74:4.1 (832.1) Naquela noite, a que se seguiu ao sexto dia, enquanto Adão e Eva estavam adormecidos, coisas estranhas estavam acontecendo na vizinhança do templo do Pai, no setor central do Éden. Ali, sob os raios doces da lua, centenas de homens e mulheres cheios de emoção e entusiasmo, durante horas, escutaram os argumentos apaixonados dos seus líderes. Eles tinham boas intenções, mas simplesmente não conseguiam entender a simplicidade dos modos fraternais e democráticos dos seus novos governantes. E, muito antes do nascer do dia, os novos administradores temporários dos assuntos do mundo chegaram à conclusão virtualmente unânime de que Adão e a sua companheira eram exageradamente introvertidos e modestos. E decidiram que a Divindade havia descido à Terra em forma corpórea, que Adão e Eva eram, na realidade, deuses ou, de qualquer modo, estavam quase nesse estado, a ponto de serem dignos de uma reverência adoradora.
74:4.2 (832.2) Os incríveis acontecimentos dos primeiros seis dias de Adão e Eva na Terra haviam sido fortes demais para as mentes despreparadas até mesmo dos melhores homens da Terra; as suas cabeças estavam como que em um turbilhão, e eles haviam-se deixado levar pela proposta de trazer o nobre par até o templo do Pai, em pleno meio-dia, de modo que todos pudessem inclinar-se em adoração respeitosa e prostrar-se em humilde submissão. E os habitantes do Jardim estavam sendo realmente sinceros em tudo isso.
74:4.3 (832.3) Van protestou. Amadon estava ausente, fora encarregado da guarda de honra que permaneceria com Adão e Eva por toda a noite. Mas o protesto de Van foi posto de lado. Foi-lhe dito que também ele era por demais modesto, que também não se assumia; e que mesmo ele próprio não estava longe de ser um deus, ou, então, como teria ele vivido por tanto tempo na Terra, e se não fora, como havia causado um acontecimento tão importante como a vinda de Adão? E, como os edenitas superexcitados estavam a ponto de agarrá-lo e de carregá-lo até o monte para adoração, Van saiu de perto da multidão e, sendo capaz de comunicar-se com as criaturas intermediárias, enviou o líder delas com toda pressa até Adão.
74:4.4 (832.4) Era já quase a hora do alvorecer do sétimo dia deles, na Terra, quando Adão e Eva souberam das alarmantes novidades da proposta desses mortais bem-intencionados, mas desguiados; e então, ao mesmo tempo em que os pássaros de transporte estavam já batendo as asas para buscá-los e levá-los ao templo, as criaturas intermediárias, sendo capazes de fazer tais coisas, transportaram Adão e Eva ao templo do Pai. Era bem cedo na manhã desse sétimo dia e, do monte onde tinham sido recentemente recebidos, Adão adiantou-se para explicar sobre as ordens dos filhos divinos e deixou claro para aquelas mentes terrenas que apenas o Pai e aqueles a quem ele designava podiam ser cultuados ou adorados. Adão deixou bastante claro que ele aceitaria qualquer honraria e que receberia mesmo todo o respeito, mas nunca a adoração!
74:4.5 (832.5) Foi um dia memorável e, pouco antes do meio-dia, quase no momento da chegada do mensageiro seráfico trazendo a notícia de que Jerusém tomara conhecimento da instalação dos governantes do mundo, Adão e Eva, destacando-se da multidão, apontaram para o templo do Pai e disseram: “Ide agora até o emblema material da presença invisível do Pai e curvai-vos em adoração a Ele que nos fez a todos e que nos mantém vivos. E que esse ato seja a promessa sincera de que vós não sereis nunca mais tentados a adorar a ninguém senão a Deus”. E eles fizeram como Adão lhes havia mandado. O Filho e a Filha Materiais permaneceram de pé com as cabeças inclinadas, naquele pequeno monte, enquanto o povo se prostrava à volta do templo.
74:4.6 (832.6) E essa foi a origem da tradição do sabat, o dia do sábado. Sempre, no Éden, o sétimo dia foi devotado à reunião do meio-dia no templo; e o costume de consagrar o resto do dia à cultura pessoal perdurou por muito tempo. A manhã era dedicada aos aperfeiçoamentos físicos; a hora do meio-dia, à adoração espiritual; a tarde, à cultura da mente; enquanto a noite era passada em regozijo social. Isso nunca foi lei no Éden, mas permaneceu como costume enquanto a administração Adâmica conservou o seu poder na Terra.
74:5.1 (833.1) Por quase sete anos depois da chegada de Adão, os administradores Melquisedeques permaneceram nos seus postos, mas afinal chegou o momento em que eles passariam a administração dos assuntos do mundo para Adão e voltariam para Jerusém.
74:5.2 (833.2) A despedida dos administradores levou um dia inteiro e, durante a noite, os Melquisedeques, individualmente, deram a Adão e Eva os seus conselhos de despedida, com os melhores votos. Adão, por várias vezes, pedira aos seus conselheiros que permanecessem na Terra com ele, mas os seus pedidos foram sempre negados. Era chegado o momento em que os Filhos Materiais deveriam assumir toda a responsabilidade pela condução dos assuntos do mundo. E assim, à meia-noite, os transportadores seráficos de Satânia deixaram o planeta com quatorze seres, levando-os a Jerusém; o traslado de Van e Amadon ocorreu simultaneamente com a partida dos doze Melquisedeques.
74:5.3 (833.3) Tudo esteve relativamente bem em Urântia durante um certo tempo, e pareceu que Adão finalmente tornar-se-ia capaz de desenvolver algum plano para promover a expansão gradual da civilização edênica. Seguindo os conselhos dos Melquisedeques, ele começou a encorajar as artes da manufatura, com a idéia de desenvolver relações de comércio com o mundo exterior. Quando o Éden desagregou-se, havia mais de cem ateliês primitivos em funcionamento, e amplas relações de comércio com as tribos vizinhas haviam sido estabelecidas.
74:5.4 (833.4) Durante idades, Adão e Eva haviam sido instruídos na técnica de aperfeiçoar um mundo em prontidão com as suas contribuições especializadas para o avanço da civilização evolucionária; mas agora eles se viam frente a problemas prementes, tais como o estabelecimento da lei e da ordem em um mundo selvagem, de bárbaros e seres humanos semicivilizados. À parte a nata da população da Terra, reunida no Jardim, apenas uns poucos grupos, aqui e ali, estavam prontos de fato para acolher a cultura Adâmica.
74:5.5 (833.5) Adão fez um esforço heróico e determinado para estabelecer um governo mundial, mas deparou com uma resistência obstinada contra cada modificação. Adão já havia colocado em operação um sistema de controle grupal, em todo o Éden; havia confederado todas essas companhias na liga Edênica. Mas problemas realmente sérios ocorreram quando ele saiu do Jardim e procurou aplicar essas idéias junto às tribos exteriores. No momento em que os colaboradores de Adão começaram a trabalhar fora do Jardim, depararam-se com a resistência direta e bem planejada de Caligástia e Daligástia. O Príncipe caído fora deposto como governante do mundo, mas não havia sido afastado do planeta. Ele estava ainda presente na Terra e era capaz, pelo menos em uma certa medida, de resistir a todos os planos de Adão para a reabilitação da sociedade humana. Adão tentou prevenir as raças contra Caligástia, mas a tarefa foi dificultada em muito, porque o seu arquiinimigo era invisível aos olhos dos mortais.
74:5.6 (833.6) Mesmo entre os edenitas havia aquelas mentes confusas que pendiam para os ensinamentos que Caligástia disseminava, de uma liberdade pessoal desenfreada; e eles causavam contratempos sem fim para Adão; estavam constantemente perturbando os melhores planos de progressão ordeira e de desenvolvimento substancial. Adão foi obrigado, finalmente, a renunciar ao seu programa de socialização imediata e retomou o método de Van para a organização, dividindo os edenitas em companhias de cem, com capitães em cada uma delas e tenentes responsáveis para cada grupo de dez.
74:5.7 (834.1) Adão e Eva vieram para instituir um governo representativo em lugar da monarquia, mas não encontraram nenhum governo digno desse nome em toda a face da Terra. Momentaneamente, Adão abandonou todos os esforços de estabelecer um governo representativo e, antes do regime edênico entrar em colapso, ele teve êxito em estabelecer quase cem centros comerciais e sociais, onde individualidades fortes governavam no seu nome. A maioria desses centros havia sido organizada anteriormente por Van e Amadon.
74:5.8 (834.2) O envio de embaixadores de uma tribo para outra data dos tempos de Adão. Esse foi um grande passo adiante na evolução do governo.
74:6.1 (834.3) As terras da família Adâmica abrangiam um pouco mais do que oito quilômetros quadrados. À volta desse domínio, haviam sido tomadas as providências para alojar mais de trezentos mil seres da progênie de linhagem pura. Contudo, apenas a primeira unidade das construções projetadas foi construída. Antes que o tamanho da família Adâmica crescesse para além dessa reserva inicial, todo o plano Edênico foi alquebrado e o Jardim, evacuado.
74:6.2 (834.4) Adamson foi o primogênito da raça violeta de Urântia, sendo secundado pela sua irmã e por Evason, o segundo filho de Adão e Eva. Eva foi mãe de cinco crianças antes que os Melquisedeques partissem — três filhos e duas filhas. Em seguida vieram dois gêmeos. Antes da falta, Eva concebeu sessenta e três crianças, trinta e duas filhas e trinta e um filhos. Quando Adão e Eva deixaram o Jardim, a sua família consistia de quatro gerações, num total de 1 647 descendentes de pura linhagem. Eles tiveram quarenta e dois filhos depois de haverem deixado o Jardim, sem contar os dois descendentes de parentesco conjunto com uma linhagem mortal da Terra. E isso não inclui a descendência Adâmica entre os noditas e as raças evolucionárias.
74:6.3 (834.5) As crianças Adâmicas não tomavam leite de animais quando paravam de se nutrir do peito da mãe, com um ano de idade. Eva tinha acesso ao leite de uma grande variedade de nozes e aos sucos de muitas frutas e, conhecendo inteiramente a química e a energia desses alimentos, ela os combinava adequadamente para a nutrição dos seus filhos até o aparecimento dos dentes.
74:6.4 (834.6) Conquanto o cozimento fosse universalmente empregado fora do setor Adâmico do Éden, não se cozinhava nada no lar de Adão. Eles consideravam os seus alimentos — frutas, nozes e cereais — já preparados quando amadureciam. E comiam uma vez por dia, pouco depois do meio-dia. Adão e Eva também absorviam “luz e energia” diretamente de certas emanações do espaço, conjuntamente com a ministração da árvore da vida.
74:6.5 (834.7) Os corpos de Adão e de Eva emitiam uma luz difusa, e eles sempre usavam roupas em conformidade com os costumes dos povos aos quais se ligaram. Embora usassem pouca roupa durante o dia, à noite ficavam envoltos em cobertas noturnas. A origem do halo tradicional que envolve as cabeças dos homens supostamente pios e santos retroage aos dias de Adão e Eva. As emanações dos seus corpos eram tão fortemente obscurecidas pela roupa, e sendo assim apenas a auréola que se irradiava das suas cabeças era discernível. Os descendentes de Adamson sempre retratavam com esses halos o seu conceito de indivíduos que se acreditava serem extraordinários em desenvolvimento espiritual.
74:6.6 (834.8) Adão e Eva podiam comunicar-se um com o outro e com os seus filhos diretos a uma distância de oitenta quilômetros. Essa troca de pensamentos era feita por meio das auréolas delicadas de gás, localizadas muito perto das estruturas do seu cérebro. Por meio desse mecanismo, eles podiam enviar e receber oscilações de pensamentos. Esse poder, porém, foi instantaneamente suspenso quando eles cederam espaço nas suas mentes para a discórdia e a desagregação do mal.
74:6.7 (835.1) As crianças Adâmicas freqüentavam as suas próprias escolas, até a idade de dezesseis anos; as mais jovens sendo ensinadas pelas mais velhas. Os pequeninos se alternavam nas atividades a cada trinta minutos, os maiores a cada hora. E, de certo, era uma visão nova em Urântia observar essas crianças de Adão e Eva brincando, em atividades alegres e vivificantes, só pelo prazer da diversão. Os jogos e o humor das raças dos dias atuais derivam-se todos das raças Adâmicas. Os adamitas, todos, tinham uma elevada apreciação da música, bem como um agudo senso de humor.
74:6.8 (835.2) A média de idade para o noivado era dezoito anos, e esses jovens então iniciavam um curso de dois anos de instrução e preparo para assumir as responsabilidades maritais. Aos vinte anos, eles estavam aptos para o casamento; e, depois do casamento, começavam o trabalho das suas vidas ou entravam em preparação especial para ele.
74:6.9 (835.3) A prática de algumas nações posteriores, de permitir que nas famílias reais, supostamente descendentes dos deuses, os irmãos se casassem com as irmãs, data das tradições das progênies Adâmicas, pois eles não podiam senão casar-se entre irmãos. As cerimônias de casamento da primeira e segunda geração do Jardim eram sempre oficiadas por Adão e Eva.
74:7.1 (835.4) Os filhos de Adão, exceto pelos quatro anos em que freqüentavam as escolas do oeste, viviam e trabalhavam no “leste do Éden”. Eram educados intelectualmente até os dezesseis anos de idade, de acordo com os métodos das escolas de Jerusém. Dos dezesseis aos vinte anos, eles instruíam-se nas escolas de Urântia, na outra extremidade do Jardim, servindo ali também como professores para os graus anteriores.
74:7.2 (835.5) Todo o propósito do sistema das escolas do oeste do Jardim era a socialização. Os períodos matinais de recreação eram dedicados à horticultura e à agricultura práticas; os períodos da tarde, aos jogos competitivos. As noites eram gastas em relações sociais e no cultivo de amizades pessoais. A educação religiosa e sexual era considerada domínio do lar, um dever dos pais.
74:7.3 (835.6) O ensino nessas escolas incluía a instrução sobre:
74:7.4 (835.7) 1. Saúde e cuidados com o corpo.
74:7.5 (835.8) 2. A regra de ouro, o modelo das relações sociais.
74:7.6 (835.9) 3. A relação dos direitos individuais com os direitos grupais e as obrigações comunitárias.
74:7.7 (835.10) 4. A história e a cultura das várias raças da Terra.
74:7.8 (835.11) 5. Os métodos para implementar e fazer o comércio mundial progredir.
74:7.9 (835.12) 6. A coordenação dos deveres e emoções conflitantes.
74:7.10 (835.13) 7. O cultivo dos jogos, humor e substitutos competitivos para as lutas físicas.
74:7.11 (835.14) As escolas e todas as atividades do Jardim de fato estavam sempre abertas aos visitantes. Os observadores desarmados eram livremente admitidos ao Éden, para visitas curtas. Para permanecer no Jardim, um urantiano tinha de ser “adotado”. Ele recebia instruções sobre o plano e sobre o propósito da outorga Adâmica, expressava a sua intenção de aderir a essa missão, e então fazia a declaração de lealdade ao regime social de Adão e à soberania espiritual do Pai Universal.
74:7.12 (836.1) As leis do Jardim eram baseadas nos códigos mais antigos da Dalamátia e foram promulgadas sob sete diretrizes:
74:7.13 (836.2) 1. As leis sanitárias e de saúde.
74:7.14 (836.3) 2. As regulamentações sociais do Jardim.
74:7.15 (836.4) 3. O código das negociações e do comércio.
74:7.16 (836.5) 4. As leis da conduta eqüitativa e das competições.
74:7.17 (836.6) 5. As leis da vida familiar.
74:7.18 (836.7) 6. O código civil da regra de ouro.
74:7.19 (836.8) 7. Os sete mandamentos da lei moral suprema.
74:7.20 (836.9) A lei moral do Éden era pouco diferente dos sete mandamentos da Dalamátia. Mas os adamitas ensinavam muitas outras razões para esses mandamentos: por exemplo, a respeito da injunção contra o homicídio, a presença do Ajustador do Pensamento residente foi dada como um motivo a mais para não se destruir a vida humana. Eles ensinavam que “aquele que derramar o sangue humano terá o seu próprio sangue derramado pelo homem, pois Deus fez o homem à sua imagem”.
74:7.21 (836.10) A hora da adoração pública no Éden era o meio-dia; o pôr-do-sol era a hora da adoração familiar. Adão fez o que podia para desencorajar o uso de orações prontas, ensinando que a oração eficaz devia ser integralmente individual, que devia ser o “desejo da alma”; mas os edenitas continuaram a usar as preces e as formas transmitidas nos tempos da Dalamátia. Adão também se esforçou para substituir os sacrifícios de sangue, nas cerimônias religiosas, pelas oferendas de frutos da terra, mas pouco progresso havia sido feito antes da desagregação do Jardim.
74:7.22 (836.11) Adão tentou ensinar às raças sobre a igualdade dos sexos. O modo pelo qual Eva trabalhava ao lado do seu marido exercia uma profunda impressão sobre todos os moradores do Jardim. Adão ensinara a eles, definitivamente, que a mulher, em igualdade com o homem, contribui com aqueles fatores da vida que se unem para formar um novo ser. Até então, a humanidade havia presumido que toda a procriação residia “na força do pai para gerar”; e havia considerado a mãe como um simples instrumento para nutrir aqueles que nasceriam e amamentar o recém-nascido.
74:7.23 (836.12) Adão ensinou aos seus contemporâneos tudo o que podiam compreender e isso, relativamente falando, não era muito. Entretanto, os filhos mais inteligentes das raças da Terra aguardavam ansiosamente a época em que lhes seria permitido casar-se com os filhos superiores da raça violeta. E em que mundo diferente Urântia não se teria transformado, se esse grande plano de elevação das raças houvesse sido levado adiante! Mesmo sendo como foi, ganhos imensos resultaram da pouca quantidade do sangue dessa raça importada a qual foi assegurada incidentalmente aos povos evolucionários.
74:7.24 (836.13) E, assim, Adão trabalhou para o bem-estar e para a elevação do mundo da sua permanência. Todavia, era uma tarefa difícil conduzir esses povos mestiços e miscigenados por um caminho melhor.
74:8.1 (836.14) A história da criação de Urântia, em seis dias, foi baseada na tradição de que Adão e Eva haviam demorado exatamente seis dias para o seu estudo inicial do Jardim. Essa circunstância conferiu uma ratificação quase sagrada ao período de tempo da semana originalmente introduzido pelos dalamatianos. O tempo de seis dias que Adão passou inspecionando o Jardim e formulando os planos preliminares para a sua organização não foi preconcebido; foi trabalhado dia a dia. A escolha do sétimo dia para a adoração foi totalmente incidental, e ligada aos fatos aqui narrados.
74:8.2 (837.1) A lenda de que o mundo foi criado em seis dias veio bem posteriormente; de fato surgiu mais de trinta mil anos mais tarde. Um aspecto da narrativa, o repentino surgimento do sol e da lua, pode ter tido origem nas tradições de que o mundo haja outrora emergido subitamente de uma nuvem densa de partículas diminutas do espaço, que, durante muito tempo, haviam obscurecido tanto o sol quanto a lua.
74:8.3 (837.2) A história de que Eva fora criada da costela de Adão é uma condensação confusa da chegada Adâmica e da cirurgia celeste, ligada à troca de substâncias vivas associadas à vinda do corpo de assessores corpóreos do Príncipe Planetário, mais de quatrocentos e cinqüenta mil anos antes.
74:8.4 (837.3) A maioria dos povos do mundo tem sido influenciada pelas tradições de que Adão e Eva tinham formas físicas criadas para eles quando da sua chegada em Urântia. A crença de que o homem foi criado do barro era quase universal no hemisfério oriental; essa tradição pode ser encontrada desde as Ilhas Filipinas até a África, dando a volta ao mundo. E muitos grupos aceitaram essa história do homem vindo do barro, por alguma forma de criação especial, no lugar das crenças anteriores na criação progressiva — a evolução.
74:8.5 (837.4) Fora das influências da Dalamátia e do Éden, a humanidade tinha a tendência a acreditar na ascensão gradual da raça humana. A evolução não é uma descoberta moderna; os antigos entendiam o caráter lento e evolucionário do progresso humano. Desde o início da sua civilização, os gregos tinham idéias claras sobre isso, apesar da sua proximidade da Mesopotâmia. Embora as várias raças da Terra tenham se confundido nas suas noções de evolução, entretanto, muitas das tribos primitivas acreditavam e ensinavam que eram descendentes de vários animais. Os povos primitivos tinham o hábito de escolher para seus “totens” os animais da sua origem presumida. Certas tribos de índios norte-americanos acreditavam haverem tido a sua origem nos castores e coiotes. Certas tribos africanas ensinam que são descendentes de hienas; uma tribo malaia, que descendem dos lêmures; um grupo de Nova Guiné, que os seus membros vêm do papagaio.
74:8.6 (837.5) Os babilônios, em conseqüência do seu contato direto com os remanescentes da civilização dos adamitas, ampliaram e tornaram mais bela a história da criação do homem; eles ensinaram que este descendia diretamente dos deuses. E atinham-se a uma origem aristocrática da raça, a qual era incompatível até mesmo com a doutrina da criação a partir do barro.
74:8.7 (837.6) O relato do Antigo Testamento sobre a criação data de uma época muito posterior a Moisés; ele nunca ensinou aos hebreus uma história tão distorcida. Ele apresentou, sim, uma narrativa simples e condensada da criação aos israelitas, esperando com isso aumentar o seu apelo de adoração do Criador, o Pai Universal, a quem ele chamava de o Senhor Deus de Israel.
74:8.8 (837.7) Nos seus ensinamentos iniciais, com muita sabedoria, Moisés não tentou ir até antes da época de Adão e, posto que foi o instrutor supremo dos hebreus, as histórias de Adão tornaram-se intimamente associadas com as da criação. Que as tradições iniciais reconheciam as civilizações pré-Adâmicas é visivelmente mostrado pelo fato de que os editores posteriores, com a intenção de erradicar todas as referências aos assuntos humanos antes da época de Adão, esqueceram-se de retirar a referência indicadora da emigração de Caim para a “terra de Nod”, onde ele encontrou uma esposa.
74:8.9 (838.1) Os hebreus não tiveram uma língua escrita de uso generalizado, até muito depois de chegarem à Palestina. Eles aprenderam o uso de um alfabeto dos vizinhos filisteus, refugiados políticos da civilização superior de Creta. Os hebreus pouco escreveram até por volta de 900 a.C. e, não tendo nenhuma linguagem escrita até uma data tão tardia, eles tinham em circulação várias histórias diferentes da criação, mas, depois do cativeiro babilônio, eles inclinaram-se mais para a aceitação de uma versão mesopotâmica modificada.
74:8.10 (838.2) A tradição judaica ficou cristalizada no que se refere a Moisés e, por que ele se empenhou em restaurar a linhagem de Abraão até Adão, os judeus assumiram que Adão tivesse sido o primeiro homem de toda a humanidade. Yavé era o criador e ele deve haver feito o mundo justamente antes de criar Adão, já que se tinha Adão como o primeiro homem. E, então, a tradição dos seis dias de Adão entra na história, resultando que quase mil anos depois da estada de Moisés na Terra; a tradição da criação em seis dias foi escrita e ulteriormente atribuída a ele.
74:8.11 (838.3) Quando os sacerdotes judeus retornaram a Jerusalém, eles haviam já terminado de escrever a sua narrativa do começo das coisas. Logo eles reivindicaram essa narrativa como uma história recentemente descoberta da criação, escrita por Moisés. Contudo, os hebreus contemporâneos, da época de 500 a.C., não consideraram esses escritos como sendo revelações divinas, eles os consideraram como sendo o que os povos mais recentes chamam de narrativas mitológicas.
74:8.12 (838.4) Esse documento espúrio, com a reputação de ser um ensinamento de Moisés, foi trazido à consideração de Ptolomeu, o rei grego do Egito, que fez com que uma comissão de setenta eruditos o traduzisse para o grego, para a sua biblioteca em Alexandria. E, assim, essa narrativa encontrou o seu lugar entre aqueles escritos que posteriormente se tornaram uma parte das coleções ulteriores das “sagradas escrituras” dos hebreus e das religiões cristãs. E, por identificação com esses sistemas teológicos, durante um longo tempo, esses conceitos influenciaram profundamente a filosofia de muitos povos ocidentais.
74:8.13 (838.5) Os instrutores cristãos perpetuaram a crença de um “fiat” momentâneo para a criação da raça humana, e tudo isso levou diretamente à formação da hipótese de que haja havido uma idade de ouro, de bênção utópica, com a teoria da queda do homem ou do super-homem; e isso explica a condição não utópica da sociedade. Essas perspectivas da vida e do lugar do homem no universo eram, no mínimo, desencorajantes, posto que se baseavam na crença da regressão mais do que na progressão, bem como implicavam uma Deidade vingativa, a qual fez a sua cólera desabar sobre a raça humana, em retaliação pelos erros de certos administradores planetários de outrora.
74:8.14 (838.6) A “idade de ouro” é um mito, mas o Éden foi um fato; e a civilização do Jardim foi de fato arruinada. Durante cento e dezessete anos, Adão e Eva persistiam no Jardim, quando, por causa da impaciência de Eva e dos erros de julgamento de Adão, eles cometeram a presunção de desviar-se do caminho ordenado, trazendo rapidamente o desastre sobre si próprios e retardando, de um modo desastroso, o progresso do desenvolvimento em toda a Urântia.
74:8.15 (838.7) [Narrado por Solônia, a seráfica “voz do Jardim”.]
O Livro de Urântia
Documento 75
75:0.1 (839.1) DEPOIS de mais de cem anos de esforços em Urântia, Adão não podia constatar senão pouquíssimo progresso fora do Jardim; o mundo, em geral, não parecia estar melhorando o suficiente. A realização do aperfeiçoamento racial parecia estar muito distante; assim, a situação parecia desesperadora, a ponto de requerer algum remédio que não constava nos planos originais. Pelo menos era isso o que passava com freqüência pela mente de Adão, e foi isso que muitas vezes ele disse a Eva. Adão e a sua companheira eram leais, mas encontravam-se isolados dos seus semelhantes e estavam muito aflitos com a má situação do seu mundo.
75:1.1 (839.2) A missão Adâmica na Urântia experimental, estigmatizada e isolada pela rebelião, era uma tarefa descomunal. E o Filho e a Filha Materiais logo se tornaram conscientes das dificuldades e da complexidade do compromisso que assumiram com o planeta. Corajosamente, contudo, enfrentaram a tarefa de resolver os seus múltiplos problemas. Todavia, ao dedicarem-se ao importante trabalho de eliminar os seres defeituosos e degenerados dentre as linhagens humanas, eles ficaram bastante consternados. Não conseguiam encontrar uma saída para o dilema, e não podiam obter o conselho dos seus superiores de Jerusém, nem de Edêntia. E aqui estavam eles, isolados, confrontando-se dia a dia com algum contratempo novo e complexo, com algum problema que parecia insolúvel.
75:1.2 (839.3) Em condições normais, o primeiro trabalho do Adão e da Eva Planetários seria a coordenação e a mistura das raças. Em Urântia, porém, esse projeto parecia quase totalmente sem esperança, pois as raças, ainda que biologicamente adequadas, nunca haviam sido purgadas das suas linhagens atrasadas e defeituosas.
75:1.3 (839.4) Adão e Eva viram-se em uma esfera totalmente despreparada para a proclamação da irmandade dos homens, um mundo que tateava em uma obscuridade espiritual abjeta, afligido por uma confusão agravada pelo malogro da missão da administração precedente. A mente e a moral estavam em um nível baixo e, em lugar de começar a tarefa de efetuar a unificação religiosa, eles teriam de recomeçar o trabalho de conversão dos habitantes às mais simples formas de crenças religiosas. Em lugar de encontrarem uma língua pronta para ser adotada, depararam-se com a confusão mundial de centenas e centenas de dialetos locais. Nenhum Adão do serviço planetário fora, jamais, colocado em um mundo mais difícil; os obstáculos pareciam insuperáveis e os problemas aquém das possibilidades de solução por seres criados.
75:1.4 (839.5) Eles estavam isolados, e o terrível sentimento de solidão que os atormentava aumentava, ainda mais, pela partida antecipada dos administradores Melquisedeques. Só indiretamente, por meio das ordens angélicas, podiam eles comunicar-se com qualquer ser fora do planeta. A sua coragem enfraquecia-se aos poucos, os seus espíritos abatiam-se e algumas vezes mesmo a fé quase se lhes faltava.
75:1.5 (840.1) Esse era o verdadeiro quadro de consternação dessas duas almas nobres ao ponderarem sobre as tarefas com que se defrontavam. Ambos estavam altamente conscientes da tarefa descomunal que envolvia a execução da sua missão planetária.
75:1.6 (840.2) Nenhum, dentre os Filhos Materiais de Nébadon, provavelmente, jamais esteve diante de uma tarefa tão difícil e, aparentemente, tão sem esperança, como a que Adão e Eva enfrentavam diante da triste situação de Urântia. Se tivessem sido mais perspicazes, todavia, e mais pacientes, eles teriam, em algum momento, logrado êxito. Ambos, especialmente Eva, foram impacientes demais; não estavam dispostos a conformar-se com uma prova tão longa de resistência. Queriam ver alguns resultados imediatos, e eles os viram; mas os resultados conquistados assim revelaram-se os mais desastrosos, para eles próprios e para o seu mundo.
75:2.1 (840.3) Caligástia fazia visitas freqüentes ao Jardim e manteve várias conversas com Adão e Eva, mas eles mostraram-se intransigentes diante de todas as suas sugestões de ajustes e de tentativas de atalhos. Diante de si eles viam o suficiente, em matéria de resultados da rebelião, para que se produzisse neles uma efetiva imunidade contra todas essas propostas insinuantes. E, até mesmo a progênie jovem de Adão permaneceu imune às propostas de Daligástia. E, claro está, nem Caligástia nem o seu parceiro, tinham poder para influenciar qualquer indivíduo contra a sua própria vontade, e menos ainda para persuadir os filhos de Adão a fazerem algo errado.
75:2.2 (840.4) Deve ser lembrado que Caligástia era ainda o Príncipe Planetário titular de Urântia, um Filho desviado, entretanto ainda elevado, do universo local. Ele não foi deposto definitivamente senão na época de Cristo Michael em Urântia.
75:2.3 (840.5) E o Príncipe caído era persistente e determinado. Finalmente, ele desistiu de persuadir Adão e decidiu tentar um ardiloso ataque em flanco contra Eva. O maligno concluiu que a única esperança de sucesso repousava em um aproveitamento hábil das pessoas certas que pertenciam ao substrato superior do grupo nodita, os descendentes dos companheiros do seu antigo grupo de assessores corpóreo. E assim foram urdidos os planos para que a mãe da raça violeta caísse na cilada.
75:2.4 (840.6) Nada mais longe da intenção de Eva do que fazer alguma coisa que prejudicasse os planos de Adão ou que colocasse em perigo o seu cargo de confiança planetária. Conhecendo a tendência da mulher, de buscar resultados imediatos, mais do que de planejar com previdência para atingir efeitos de um alcance mais longo, os Melquisedeques, antes de partirem, haviam especialmente colocado Eva em guarda contra os perigos peculiares que ameaçavam a posição isolada deles no planeta, e haviam-na advertido em especial, para que nunca se afastasse do lado do seu companheiro, isto é, que não tentasse nenhum método pessoal ou secreto para fazer avançar os empreendimentos comuns. Eva havia seguido essas instruções muito criteriosamente, por mais de cem anos, e não lhe ocorreu que qualquer perigo pudesse estar vinculado às conversas, crescentemente privadas e confidenciais, que ela estava desfrutando com um certo líder nodita chamado Serapatátia. Todo o caso desenvolvia-se tão gradual e naturalmente que ela foi pega desprevenida.
75:2.5 (840.7) Os moradores do Jardim haviam estado em contato com os noditas desde os primeiros dias do Éden. Desses descendentes miscigenados, dos membros desviados do corpo de assessores de Caligástia, eles receberam muita ajuda e cooperação de valia e, por meio deles, o regime Edênico estava agora para encontrar a completa ruína e a sua destruição final.
75:3.1 (841.1) Adão havia acabado de completar os seus primeiros cem anos na Terra, quando Serapatátia chegou à liderança da confederação ocidental, ou síria, das tribos noditas com a morte do seu pai. Serapatátia era um homem de pele morena, um brilhante descendente do ex-chefe da comissão de saúde da Dalamátia, que se casara com uma das mulheres dotadas de uma mente superior, da raça azul, daqueles dias distantes. Essa linhagem vinha mantendo a autoridade durante muitas gerações e exercia grande influência sobre as tribos noditas ocidentais.
75:3.2 (841.2) Serapatátia fizera muitas visitas ao Jardim e ficara profundamente impressionado com a retidão da causa de Adão. E, pouco depois de assumir a liderança dos noditas sírios, ele anunciou a sua intenção de estabelecer uma associação com o trabalho de Adão e Eva no Jardim. A maioria do seu povo uniu-se a ele nesse programa, e Adão estava reconfortado com a nova de que a mais poderosa e mais inteligente de todas as tribos vizinhas havia, quase em bloco, apoiado o programa de elevação mundial; era decididamente encorajador. E, pouco depois desse grande acontecimento, Serapatátia e o seu novo corpo de assessores foram recebidos por Adão e Eva na sua própria casa.
75:3.3 (841.3) Serapatátia tornou-se um dos mais capazes e eficientes de todos os colaboradores de Adão. Ele era totalmente honesto e completamente sincero em todas as suas atividades; e nunca percebeu, nem mesmo mais tarde, que estava sendo usado, pelo astuto Caligástia, como uma arma circunstancial.
75:3.4 (841.4) Em breve, Serapatátia tornou-se o vice-presidente da comissão edênica de relações tribais e muitos planos foram feitos para uma continuidade mais vigorosa do trabalho de conquistar as tribos longínquas para a causa do Jardim.
75:3.5 (841.5) Ele teve muitas conferências com Adão e Eva — especialmente com Eva — e eles conversaram sobre muitos projetos para aperfeiçoar os seus métodos. Um dia, durante uma conversa com Eva, ocorreu a Serapatátia que seria de muita ajuda, enquanto esperavam pelo recrutamento de um grande número da raça violeta, se algo pudesse ser feito, nesse meio tempo, para o aprimoramento imediato das tribos necessitadas que permaneciam à espera. Serapatátia sustentava que, se os noditas, como a raça de maior progresso e grau de cooperação, pudessem ter um líder nascido deles, mas, com origem parcial de sangue violeta, iria isso se constituir em um vínculo poderoso que uniria esses povos mais estreitamente ao Jardim. E tudo isso foi magnífica e honestamente considerado como sendo para o bem do mundo, já que essa criança, a ser criada e educada no Jardim, exerceria para sempre uma grande influência sobre o povo do seu pai.
75:3.6 (841.6) Novamente deve ser enfatizado que Serapatátia era de todo honesto e totalmente sincero em tudo o que propunha. Nem por uma vez sequer ele suspeitou de que estava fazendo o jogo de Caligástia e Daligástia. Serapatátia era inteiramente leal ao plano de construir uma reserva forte da raça violeta, antes de tentar a elevação mundial dos confusos povos de Urântia. Todavia, isso requereria centenas de anos para se consumar, e ele era impaciente; e queria ver resultados imediatos — algo durante a sua própria vida. E deixou claro, para Eva, que Adão algumas vezes ficava desanimado com o pouco que fora realizado no sentido de elevar o mundo.
75:3.7 (841.7) Por mais de cinco anos, esses planos amadureceram secretamente. Afinal desenvolveram-se até o ponto em que Eva consentiu em ter um encontro secreto com Cano, a mente mais brilhante e o mais ativo líder da colônia vizinha de noditas amistosos. Cano tinha muita simpatia pelo regime Adâmico; de fato, ele era o líder espiritual sincero daqueles noditas vizinhos que eram favoráveis às relações amigáveis com o Jardim.
75:3.8 (842.1) A reunião fatal ocorreu durante o crepúsculo de uma tarde de outono, não muito longe da casa de Adão. Eva nunca antes havia visto o belo e entusiasmado Cano — e ele era um magnífico espécime, com a herança do físico superior e do intelecto destacado dos seus progenitores remotos do corpo de assessores do Príncipe. E Cano também acreditava profundamente na retidão do projeto de Serapatátia. (Fora do Jardim, a poligamia era uma prática comum.)
75:3.9 (842.2) Influenciada pelos elogios, pelo entusiasmo e uma grande persuasão pessoal, Eva, ali e então, consentiu em embarcar no empreendimento tão discutido, em acrescentar o seu próprio pequeno esquema de salvação do mundo ao plano divino maior e de alcance mais abrangente. Antes que ela compreendesse realmente o que acontecia, o passo fatal já fora dado. Estava feito.
75:4.1 (842.3) A vida celeste do planeta ficou em tumulto. Adão reconheceu que algo estava errado, e pediu a Eva para ficar a sós com ele no Jardim. E agora, pela primeira vez, Adão ouviu toda a história do plano longamente alimentado para acelerar a elevação do mundo, operando simultaneamente em duas direções: a consecução do plano divino, concomitantemente com a execução do plano de Serapatátia.
75:4.2 (842.4) E, enquanto o Filho e a Filha Materiais comungavam assim no Jardim sob a luz da lua, “a voz do Jardim” reprovou-os pela desobediência. E aquela voz não era senão o meu próprio anúncio, ao par edênico, de que eles haviam transgredido o pacto do Jardim; que eles haviam desobedecido às instruções dos Melquisedeques; que eles haviam cometido uma falta na execução dos seus juramentos de fidelidade ao Soberano do universo.
75:4.3 (842.5) Eva havia consentido em participar da prática do bem e do mal. O bem é o cumprimento dos planos divinos; o pecado é uma transgressão deliberada da vontade divina; o mal é a falha na adaptação dos planos e o desajuste das técnicas, resultando na desarmonia do universo e na confusão planetária.
75:4.4 (842.6) Todas as vezes que o par do Jardim comera do fruto da árvore da vida, o arcanjo guardião havia-lhes avisado de que era preciso abster-se de ceder às sugestões de Caligástia de combinar o bem e o mal. Eles tinham sido assim prevenidos: “No dia em que misturardes o bem e o mal, vós certamente vos tornareis como os mortais do reino; vós certamente morrereis”.
75:4.5 (842.7) Eva, na ocasião fatal do seu encontro secreto com Cano, contou-lhe sobre essa advertência, muitas vezes repetida, mas Cano, não sabendo da importância, nem da significação dessas admoestações, assegurou-lhe que os homens e as mulheres com bons motivos e intenções sinceras não podiam fazer o mal; que ela certamente não morreria, mas, em vez disso, renasceria na pessoa da progênie deles, que cresceria para abençoar e estabilizar o mundo.
75:4.6 (842.8) Esse projeto de modificação do plano divino, mesmo havendo sido concebido e executado com toda a sinceridade e apenas com os mais elevados motivos para o bem-estar do mundo, se constituiu no mal, porque representava o caminho errado de se alcançar fins probos, pois se distanciava do caminho certo, o plano divino.
75:4.7 (843.1) Bem verdade é que Eva havia achado Cano agradável à vista, e compreendeu tudo o que o seu sedutor tinha prometido por meio “de um novo e maior conhecimento dos assuntos humanos e de uma compreensão mais vivificada da natureza humana como complemento para a compreensão da natureza Adâmica”.
75:4.8 (843.2) Naquela noite, eu falei ao pai e à mãe da raça violeta no Jardim, tal como se tornou o meu dever nessas tristes circunstâncias. Eu escutei o recital de tudo o que levou a Mãe Eva à falta, e dei a ambos o conselho e a orientação a respeito da situação imediata. Alguns desses conselhos eles seguiram, outros eles desconsideraram. Essa conversa aparece assim nos vossos registros: “o Senhor Deus, chamando Adão e Eva no Jardim e perguntando: ‘onde estais vós?’” As gerações posteriores tiveram por hábito atribuir tudo o que fosse inusitado e extraordinário, fosse natural ou espiritual, à intervenção direta e pessoal dos Deuses.
75:5.1 (843.3) A desilusão de Eva foi verdadeiramente patética. Adão discerniu toda a conjuntura infeliz e, apesar do abatimento e do coração alquebrado, não manifestou senão piedade e compaixão pela sua companheira em erro.
75:5.2 (843.4) No desespero da compreensão do fracasso, Adão, no dia seguinte ao passo errado de Eva, procurou Laota, a brilhante mulher nodita que dirigia as escolas ocidentais do Jardim, e, com premeditação, cometeu a mesma loucura que Eva. Mas não entendais mal: Adão não foi seduzido; ele sabia exatamente o que fazia; deliberadamente, ele escolheu compartilhar do destino de Eva. Ele amava a sua companheira com uma afeição supramortal, e o pensamento da possibilidade de uma vigília solitária em Urântia, sem ela, era muito mais do que ele podia suportar.
75:5.3 (843.5) Quando souberam o que acontecera a Eva, os habitantes enfurecidos do Jardim ficaram furiosos e desgovernados; declararam guerra ao assentamento nodita vizinho. Saíram dos portões do Éden e precipitaram-se sobre aquele povo despreparado, destruindo-o — nem homem, mulher ou criança foram poupados. E Cano, o pai de Caim, ainda por nascer, também pereceu.
75:5.4 (843.6) Quando compreendeu claramente o que havia acontecido, Serapatátia foi vencido pela consternação e ficou fora de si, de medo e de remorso, e, no dia seguinte, afogou-se no grande rio.
75:5.5 (843.7) Os filhos de Adão procuraram confortar a sua mãe perturbada, enquanto o seu pai vagou, em solidão, durante trinta dias. Ao fim desse tempo, o bom senso voltou, e Adão retornou para a sua casa e começou a planejar a linha futura de conduta.
75:5.6 (843.8) As conseqüências das loucuras cometidas por pais mal orientados são partilhadas pelos filhos inocentes muito freqüentemente. Justos e nobres, os filhos e as filhas de Adão e Eva ficaram abatidos e tomados de uma tristeza inexplicável, por causa da inacreditável tragédia que havia caído tão súbita e brutalmente sobre eles. Nem em cinqüenta anos o mais velho desses filhos recuperar-se-ia da tristeza e da dor desses dias trágicos, especialmente do terror daquele período de trinta dias, durante o qual o seu pai esteve ausente de casa e enquanto a sua mãe permanecera, enlouquecida, na mais completa ignorância sobre o paradeiro ou o destino dele.
75:5.7 (843.9) E esses trinta dias foram, para Eva, como anos longos de tristeza e de sofrimento. Nunca essa nobre alma recuperou-se totalmente dos efeitos desse período atroz de sofrimento mental e de dor espiritual. Nenhum aspecto das suas privações seguintes, e das dificuldades materiais, pode comparar-se, na memória de Eva, a esses terríveis dias e noites horrorosas de solidão e de incerteza insuportável. Ela soube do ato irrefletido de Serapatátia, e não sabia se, por tristeza, o seu companheiro havia destruído a si próprio ou se tinha sido retirado do mundo em punição pelo erro dela. E quando Adão voltou, Eva teve uma tal satisfação de júbilo e gratidão, que nunca mais se apagou, durante toda a longa e difícil associação de vida e do árduo serviço deles.
75:5.8 (844.1) O tempo passou, mas Adão não estava certo sobre a natureza da ofensa que haviam cometido, até setenta dias depois da falta de Eva, quando os administradores Melquisedeques retornaram a Urântia e assumiram a jurisdição dos assuntos do mundo. E só então Adão soube que eles haviam fracassado.
75:5.9 (844.2) Contudo, outros problemas ainda se preparavam: as notícias do aniquilamento da colônia nodita vizinha do Éden não demoraram a alcançar as tribos de origem de Serapatátia ao norte e, em breve, um grande exército estava sendo reunido para marchar sobre o Jardim. E isso foi o começo de uma guerra longa e amarga entre os adamitas e os noditas, pois essas hostilidades prolongaram-se até muito tempo depois que Adão e os seus seguidores haviam emigrado para o segundo jardim, no vale do Eufrates. Houve uma intensa e prolongada “inimizade entre aquele homem e a mulher, entre a sua semente e a semente dela”.
75:6.1 (844.3) Quando soube que os noditas estavam em marcha, Adão procurou o conselho dos Melquisedeques, mas eles se recusaram a dar-lhe orientação. Disseram apenas que fizesse como achasse melhor, mas lhe prometeram uma cooperação amistosa, em tudo o que fosse possível, qualquer decisão que ele tomasse. Os Melquisedeques haviam sido proibidos de interferir nos planos pessoais de Adão e Eva.
75:6.2 (844.4) Adão sabia que Eva e ele haviam fracassado; a presença dos administradores Melquisedeques evidenciava isso, embora ele ainda não soubesse nada sobre o status pessoal deles, nem sobre o seu destino futuro. Durante uma noite inteira, esteve em reunião com alguns dos mil e duzentos seguidores leais que propunham seguir o seu líder e, no dia seguinte, ao meio-dia, esses peregrinos saíram do Éden em busca de novos lares. Adão não tinha nenhum gosto pela guerra e, assim sendo, sem fazer oposição, escolheu deixar o primeiro jardim para os noditas.
75:6.3 (844.5) Ao terceiro dia depois da sua partida do Jardim, a caravana Edênica foi detida pela chegada de transportes seráficos de Jerusém. E, pela primeira vez, Adão e Eva foram informados sobre o que seria dos seus filhos. Enquanto os transportes permaneciam à espera, àqueles filhos que haviam chegado à idade da escolha (vinte anos) foi dada a opção de permanecerem em Urântia com os seus pais ou tornarem-se pupilos dos Altíssimos de Norlatiadeque. Dois terços deles escolheram ir para Edêntia; cerca de um terço escolheu permanecer com os seus pais. Todas as crianças que não tinham idade para escolher foram levadas para Edêntia. Ninguém poderia ter assistido à dolorosa separação desse Filho Material e dessa Filha Material dos seus filhos, sem compreender quão difícil é o caminho do transgressor. Essa progênie de Adão e Eva agora está em Edêntia; e não sabemos o que deverá acontecer a eles.
75:6.4 (844.6) E foi uma caravana muito triste a que se preparou para continuar a sua viagem. Poderia ter havido algo mais trágico? Terem vindo a um mundo com as esperanças mais elevadas, terem sido tão auspiciosamente recebidos e, então, sair do Éden em desgraça, e ainda perder mais de três quartos dos seus filhos, antes mesmo de encontrar uma nova residência?
75:7.1 (845.1) Enquanto a caravana edênica estava parada, Adão e Eva foram informados da natureza das suas transgressões e avisados a respeito do seu destino. Gabriel apareceu para pronunciar o julgamento. E o veredicto foi o seguinte: o Adão e a Eva Planetários de Urântia são julgados em falta; violaram o pacto da sua missão de confiança como governantes deste mundo habitado.
75:7.2 (845.2) Ainda que abatidos pelo sentimento de culpa, Adão e Eva ficaram bastante reconfortados pelo anúncio de que os juízes deles, em Sálvington, os haviam absolvido de todas acusações de terem “desrespeitado o governo do universo”. Eles não tinham sido considerados culpados de rebelião.
75:7.3 (845.3) O par Edênico foi informado de que eles se tinham degradado ao status de mortais do reino; e que eles deviam então se conduzir, daí por diante, como um homem e uma mulher de Urântia, encarando o futuro das raças do mundo como o seu próprio futuro.
75:7.4 (845.4) Muito antes de Adão e Eva deixarem Jerusém, os seus instrutores haviam explicado detalhadamente a eles sobre as conseqüências de qualquer desvio vital dos planos divinos. Pessoalmente, e por repetidas vezes, tanto antes quanto depois de haverem chegado a Urântia, eu havia prevenido a ambos que a redução ao status de carne mortal seria, certamente, o resultado, a penalidade certa, que infalivelmente sucederia a uma falta na execução da missão planetária deles. Contudo, uma compreensão do status de imortalidade da ordem da Filiação Material é essencial para que se compreenda claramente as conseqüências da falta de Adão e Eva:
75:7.5 (845.5) 1. Adão e Eva, como os seus semelhantes de Jerusém, mantinham o status de imortais por intermédio da associação intelectual ao circuito de gravidade da mente do Espírito. Quando essa sustentação vital é interrompida, pela disjunção mental, então, a despeito do nível espiritual de existência da criatura, o status de imortalidade é perdido. O status mortal, seguido da dissolução física, era a conseqüência inevitável da falta intelectual de Adão e Eva.
75:7.6 (845.6) 2. O Filho e a Filha Materiais de Urântia, sendo também personalizados à semelhança da carne mortal deste mundo, eram, pois, dependentes da manutenção de um sistema circulatório dual: um, derivado das suas naturezas físicas, e, o outro, da superenergia armazenada no fruto da árvore da vida. E, sempre, o arcanjo custódio da árvore havia prevenido a Adão e a Eva de que a falta cometida contra a confiança neles depositada culminaria na degradação do status deles, e de que, pois, o acesso a essa fonte de energia seria negado a eles em seguida à sua falta.
75:7.7 (845.7) Caligástia tivera êxito na armadilha feita para Adão e Eva, mas não realizou o seu propósito de levá-los à rebelião aberta contra o governo do universo. Eles haviam feito algo de mal, no entanto, jamais foram culpados de desrespeito à verdade, nem de se alistarem conscientemente na rebelião contra o governo probo do Pai Universal e do seu Filho Criador.
75:8.1 (845.8) Adão e Eva realmente caíram do seu elevado estado de filiação material, até o status inferior de homem mortal. Mas isso não foi uma queda do homem. A raça humana tem sido elevada, a despeito das conseqüências imediatas da falta Adâmica. Embora o plano divino de doar a raça violeta aos povos de Urântia haja malogrado, as raças mortais têm tirado um imenso proveito da contribuição limitada que Adão e a sua descendência deram às raças de Urântia.
75:8.2 (846.1) Não houve uma “queda do homem”. A história da raça humana é de evolução progressiva, e a outorga Adâmica deixou os povos do mundo enormemente aprimorados em relação à sua condição biológica anterior. As linhagens superiores de Urântia agora trazem em si fatores de herança derivados de nada menos que quatro fontes separadas: a andonita, a sangique, a nodita e a Adâmica.
75:8.3 (846.2) Adão não deveria ser considerado como a causa de uma maldição sobre a raça humana. Conquanto haja falhado em levar adiante o plano divino, conquanto haja transgredido o seu pacto com a Deidade, conquanto ele e a sua companheira hajam sido, sem dúvida, degradados, no seu status, como criaturas, não obstante tudo isso, a sua contribuição para a raça humana em muito colaborou para avançar a civilização de Urântia.
75:8.4 (846.3) Ao estimar os resultados da missão Adâmica no vosso mundo, a justiça exige que se reconheça a condição do planeta. Adão foi colocado diante de uma tarefa quase impossível, quando, junto com a sua bela companheira, foi transportado de Jerusém para este planeta escuro e confuso. Todavia, houvessem eles se guiado pelos conselhos dos Melquisedeques e dos seus colaboradores, e houvessem eles sido mais pacientes, no final teriam tido êxito. Mas Eva escutou a propaganda insidiosa da liberdade pessoal e planetária de ação. E foi levada a experimentar com o plasma da vida, da ordem material de filiação, no sentido de permitir que a comenda da vida doada a ela fosse, prematuramente, misturada com a da ordem então miscigenada do projeto original dos Portadores da Vida, que havia sido previamente combinada à dos seres reprodutores outrora ligados ao corpo de assessores do Príncipe Planetário.
75:8.5 (846.4) Nunca, em toda a vossa ascensão ao Paraíso, ireis ganhar qualquer coisa se usardes o meio de intentar impacientemente esquivar-vos do plano estabelecido e divino, por meio de atalhos, invenções pessoais ou outros expedientes para melhorar o caminho da perfeição, para a perfeição e em prol da perfeição eterna.
75:8.6 (846.5) Em tudo e por tudo, provavelmente, nunca houve, em nenhum planeta de todo o Nébadon, um extravio tão desencorajador da sabedoria; mas não é surpreendente que esses passos em falso ocorram nos assuntos dos universos evolucionários. Somos parte de uma criação gigantesca e, portanto, não é estranho que algo acabe não trabalhando para a perfeição; o nosso universo não foi criado na perfeição. A perfeição é a nossa meta eterna, não a nossa origem.
75:8.7 (846.6) Se esse fosse um universo mecanicista, se a Primeira Grande Fonte e Centro fosse apenas uma força e não também uma personalidade, se toda a criação fosse uma vasta agregação de matéria física dominada por leis precisas, caracterizadas por ações energéticas invariáveis, então, a perfeição poderia predominar, a despeito mesmo do status incompleto do universo. Não haveria nenhum desacordo; não haveria nenhum atrito. Mas, no nosso universo em evolução, de perfeição relativa e de imperfeição, nós nos rejubilamos de que sejam possíveis o desacordo e o desentendimento, pois são as evidências do fato e do ato da personalidade no universo. E, se a nossa criação é uma existência dominada pela personalidade, vós podeis estar seguros das possibilidades da sobrevivência da personalidade, do seu avanço e da sua realização; podemos estar confiantes no crescimento da personalidade, na experiência e na aventura da personalidade. Quão glorioso é este universo, que é pessoal e progressivo, e não meramente mecânico, nem mesmo passivamente perfeito!
75:8.8 (846.7) [Apresentado por Solônia, a seráfica “voz do Jardim”.]
O Livro de Urântia
Documento 76
76:0.1 (847.1) QUANDO, sem opor resistência, Adão escolheu deixar o primeiro Jardim entregue aos noditas, ele e os seus seguidores não podiam ir para o oeste, pois os edenitas não tinham barcos adequados para tal aventura marinha. Não podiam ir para o norte, porque os noditas do norte estavam já em marcha na direção do Éden. Temiam ir para o sul, posto que as colinas daquela região estavam infestadas de tribos hostis. O único caminho aberto era o do leste e, assim, foram nessa direção para as então agradáveis regiões entre os rios Tigre e Eufrates. E muitos daqueles que foram deixados para trás, mais tarde viajaram para o leste a fim de juntarem-se aos adamitas no vale que seria o seu novo lar.
76:0.2 (847.2) Caim e Sansa nasceram, ambos, antes que a caravana Adâmica tivesse alcançado o seu destino, entre os rios na Mesopotâmia. Laotta, a mãe de Sansa, morreu no nascimento da sua filha; Eva sofreu muito, mas sobreviveu, devido à sua força superior. Eva amamentou Sansa, a criança de Laotta, a qual foi criada junto com Caim. Sansa cresceu e transformou-se em uma mulher de grande capacidade. Tornou-se a mulher de Sargan, o chefe das raças azuis do norte; e contribuiu para o avanço dos homens azuis daqueles tempos.
76:1.1 (847.3) Quase um ano inteiro foi necessário para que a caravana de Adão alcançasse o rio Eufrates. Encontrando-o na época de enchente, permaneceram acampados nas planícies a oeste da água corrente, durante quase seis semanas, até tomarem o caminho da terra, entre os rios, que se transformaria no segundo jardim.
76:1.2 (847.4) Quando chegou a notícia aos habitantes originais da terra do segundo jardim, de que o rei e alto sacerdote do Jardim do Éden estava marchando na direção deles, estes fugiram apressados para as montanhas do leste. Adão encontrou todo o território desejado vago, quando chegou. E ali, nessa nova localização, Adão e os seus colaboradores estabeleceram-se para trabalhar na construção de novas casas e estabelecer um novo centro de cultura e religião.
76:1.3 (847.5) Esse local era conhecido de Adão como uma das três opções originais do comitê designado para escolher as localizações possíveis, para o Jardim, propostas por Van e Amadon. Os dois rios, em si mesmos, eram uma boa defesa natural naqueles dias, e a uma pequena distância para o norte, do segundo jardim, o Eufrates e o Tigre aproximavam-se de tal modo que um muro de defesa, estendendo-se por noventa quilômetros, poderia ser construído para proteger o território ao sul, entre os rios.
76:1.4 (847.6) Após instalarem-se no novo Éden, tornou-se necessário adotar métodos rudimentares de vida; parecia inteiramente verdadeiro que a terra houvesse sido amaldiçoada. A natureza, uma vez mais, seguia livre o seu curso. E agora os adamitas seriam compelidos a arrancar a subsistência do solo despreparado e enfrentar as realidades da vida, em meio às hostilidades e incompatibilidades naturais da existência mortal. Eles encontraram o primeiro Jardim parcialmente preparado para esperá-los, mas o segundo tinha de ser criado pelo trabalho das suas próprias mãos e com o “suor dos seus rostos”.
76:2.1 (848.1) Menos de dois anos depois do nascimento de Caim, nasceu Abel, o primeiro filho de Adão e Eva a nascer no segundo jardim. Quando Abel chegou à idade de doze anos, escolheu ser um pastor; Caim havia escolhido seguir a agricultura.
76:2.2 (848.2) Ora, naqueles dias, era costume fazer-se, aos sacerdotes, oferendas das coisas disponíveis. Os pastores dariam dos seus rebanhos; os agricultores, dos frutos dos campos; e, de acordo com esse costume, Caim e Abel também faziam oferendas periódicas aos sacerdotes. Os dois meninos, por muitas vezes, haviam debatido sobre os méritos relativos das suas vocações, e Abel não demorou a perceber a preferência que era dada aos seus sacrifícios de animais. Em vão, Caim apelou para as tradições do primeiro Éden, para a preferência anterior dada aos frutos dos campos. Mas Abel não admitia isso, e escarnecia do desapontamento do irmão mais velho.
76:2.3 (848.3) Nos dias do primeiro Éden, de fato, Adão havia tentado desencorajar as oferendas com sacrifícios animais, de modo que Caim tinha um precedente a justificar os seus argumentos. Foi difícil, contudo, organizar a vida religiosa do segundo Éden. Adão estava sobrecarregado com mil e um detalhes ligados ao trabalho de construção, defesa e agricultura. Estando muito deprimido espiritualmente, ele confiou a organização da adoração e da educação àqueles que, sendo de origem nodita, haviam servido nessas funções no primeiro Jardim; e, mesmo depois de um tempo tão curto, os sacerdotes noditas que oficiavam estavam voltando aos padrões e regras dos tempos pré-Adâmicos.
76:2.4 (848.4) Os dois garotos nunca se deram muito bem, e essa questão dos sacrifícios contribuiu mais ainda para que entre eles crescesse um certo ódio. Abel sabia que era filho de Adão e Eva, e nunca deixara de ressaltar, perante Caim, que Adão não era o pai dele. Caim não era de raça violeta pura, pois o seu pai era da raça nodita, também misturada à linhagem azul e vermelha e ao sangue andônico aborígine. E, tudo isso, e mais a herança belicosa de Caim levaram-no a nutrir um ódio sempre crescente pelo seu irmão mais jovem.
76:2.5 (848.5) Os rapazes tinham respectivamente dezoito e vinte anos de idade, quando a tensão entre eles foi finalmente resolvida; um dia, os sarcasmos de Abel enfureceram tanto o seu belicoso irmão, que Caim chegou a ponto de deixar a sua ira fazê-lo voltar-se contra o irmão, matando-o.
76:2.6 (848.6) Uma observação da conduta de Abel estabelece o valor do meio ambiente e da educação como fatores do desenvolvimento do caráter. Abel tinha uma herança ideal, e a hereditariedade forma a base de todo o caráter; mas a influência de um ambiente inferior virtualmente neutralizou essa herança magnífica. Abel, especialmente durante os seus anos mais tenros, foi muito influenciado pelo meio ambiente desfavorável. E ter-se-ia tornado uma pessoa inteiramente diferente, caso tivesse vivido até os vinte e cinco ou trinta anos; a sua herança superior ter-se-ia então evidenciado. Conquanto um bom ambiente possa não contribuir muito para realmente superar os defeitos do caráter de uma hereditariedade vil, um mau ambiente pode muito efetivamente estragar uma hereditariedade excelente, ao menos durante os primeiros anos da vida. O bom ambiente social e a educação adequada são um solo e uma atmosfera indispensáveis, para se obter o máximo de uma boa herança.
76:2.7 (849.1) Da morte de Abel, os seus pais ficaram sabendo quando os seus cachorros trouxeram o rebanho para casa sem o amo. Para Adão e Eva, Caim estava-se convertendo na sombria lembrança da sua loucura, e eles o encorajaram na sua decisão de deixar o jardim.
76:2.8 (849.2) A vida de Caim na Mesopotâmia não foi exatamente feliz, pois, de um modo bastante singular, ele tornara-se o símbolo da falta Adâmica. Não que os seus companheiros fossem indelicados com ele, mas ele não era inconsciente do ressentimento de todos com a sua presença. Mas, como não trazia uma marca tribal, Caim sabia que seria morto pela primeira tribo vizinha que tivesse a chance de encontrá-lo. O medo e algum remorso levaram-no ao arrependimento. Caim nunca havia sido habitado por um Ajustador, havia desafiado sempre a disciplina da família e tratara sempre a religião do seu pai com desdém. Mas agora chegava até Eva, a sua mãe, e pedia a ajuda espiritual e os seus guiamentos, e, quando buscou honestamente a assistência divina, um Ajustador veio para residir nele. E esse Ajustador, que residiu nele e que olhava para fora, deu a Caim uma vantagem evidente de superioridade que o colocou na categoria da muito temida tribo de Adão.
76:2.9 (849.3) E, então, Caim partiu para a terra de Nod, a leste do segundo Éden. Tornou-se um grande líder de um grupo do povo do seu pai e, em uma certa medida, cumpriu as predições de Serapatátia, pois promoveu a paz dentro dessa divisão entre os noditas e os adamitas, durante o período da sua vida. Caim casou-se com Remona, prima distante sua, e o primeiro filho deles, Enoch, tornou-se o chefe dos noditas elamitas. E, durante centenas de anos, os elamitas e os adamitas continuaram vivendo em paz.
76:3.1 (849.4) À medida que o tempo passava, evidenciavam-se, no segundo jardim, cada vez mais as conseqüências da sua falta; e Adão e Eva sentiam muita saudade do seu lar anterior de beleza e de tranqüilidade, bem como dos seus filhos que haviam sido deportados para Edêntia. Era, de fato, patético observar esse casal magnífico reduzido ao status da carne comum do reino; mas eles suportaram com graça e coragem aquela diminuição no seu status.
76:3.2 (849.5) Adão sabiamente passava a maior parte do tempo ensinando aos seus filhos e companheiros a administração civil, métodos educacionais e devoções religiosas. Não fora essa previdência sua, e um pandemônio haveria irrompido, quando da sua morte. E desse modo, a morte de Adão só em muito pouco afetou a condução dos assuntos do seu povo. Contudo, muito antes de Adão e Eva morrerem, eles reconheceram que os seus filhos e os seus seguidores haviam gradualmente aprendido a esquecer os dias da sua glória no Éden. E, para a maioria dos seus seguidores, foi melhor que houvessem esquecido a grandeza do Éden, pois assim eles teriam menos possibilidades de sentir um descontentamento injustificado com o seu meio ambiente menos favorecido.
76:3.3 (849.6) Os governantes civis dos adamitas saíram hereditariamente dos filhos do primeiro jardim. O primeiro filho de Adão, Adamson (Adão ben Adão), fundou um centro secundário da raça violeta, ao norte do segundo Éden. O segundo filho de Adão, Evason, tornou-se um dirigente e um administrador magistral; foi um grande colaborador do seu pai. Evason não viveu tanto tempo quanto Adão, e o seu filho mais velho, Jansad, foi o sucessor de Adão na chefia das tribos adamitas.
76:3.4 (849.7) Os governantes religiosos, ou o sacerdócio, originaram-se de Set, o filho sobrevivente mais velho de Adão e Eva, nascido no segundo jardim. Ele nasceu cento e vinte e nove anos depois da chegada de Adão em Urântia. Set ficou absorvido pelo trabalho de aperfeiçoar o status espiritual do povo do seu pai, tornando-se o dirigente do novo sacerdócio do segundo jardim. O seu filho, Enos, fundou a nova ordem de adoração, e o seu neto, Kenan, instituiu o serviço exterior de missionários para as tribos vizinhas, próximas e distantes.
76:3.5 (850.1) O sacerdócio setita foi uma missão tríplice, abrangendo religião, saúde e educação. Os sacerdotes dessa ordem eram treinados para oficiar em cerimônias religiosas, para servir como médicos, inspetores sanitários e professores nas escolas do jardim.
76:3.6 (850.2) A caravana de Adão trouxera consigo, para a terra entre os rios, as sementes e os bulbos de centenas de plantas e cereais do primeiro Jardim; e, também, havia trazido consigo vastos rebanhos e alguns animais domesticados. E por isso, tiveram grandes vantagens sobre as tribos vizinhas. Desfrutavam de muitos dos benefícios da cultura anterior, do Jardim original.
76:3.7 (850.3) Até a época em que deixaram o primeiro Jardim, Adão e a sua família haviam sobrevivido sempre comendo frutas, cereais e nozes. A caminho da Mesopotâmia, pela primeira vez, haviam comido ervas e hortaliças. Logo se introduziu a prática de se comer carne, no segundo jardim, mas Adão e Eva nunca comeram carne como parte da sua dieta regular. E também Adamson e Evason, bem como os outros filhos da primeira geração do primeiro Jardim, nunca se tornaram carnívoros.
76:3.8 (850.4) Os adamitas superavam, em muito, os povos vizinhos nas realizações culturais e desenvolvimento intelectual. Criaram um terceiro alfabeto e, de outras formas, lançaram as fundações de grande parte das coisas que foram as precursoras da arte moderna, da ciência e da literatura. Nas terras entre o Tigre e o Eufrates, eles mantiveram as artes da escrita, os trabalhos em metal, a cerâmica, a tecelagem e produziram um tipo de arquitetura que não chegou a ser superada durante milhares de anos.
76:3.9 (850.5) A vida no lar dos povos violetas era a ideal, para a sua época e idade. As crianças eram submetidas a cursos de aperfeiçoamento na agricultura, no artesanato e na criação de animais, ou então eram educadas para desempenharem os deveres tríplices de um setita: ser um sacerdote, um médico e um professor.
76:3.10 (850.6) E, ao pensardes no sacerdócio setita, não deveis confundir esses mestres da saúde e da religião, de mente elevada e nobre, de verdadeiros educadores, com os sacerdócios adulterados e comercializados das tribos posteriores e das nações vizinhas. Os conceitos religiosos de Deidade e do universo que eles possuíam eram avançados e razoavelmente precisos, as suas regras de saúde eram excelentes para a sua época e os seus métodos de educação jamais foram superados.
76:4.1 (850.7) Adão e Eva, os fundadores da raça violeta de homens, formaram a nona raça humana a aparecer em Urântia. Adão e a sua progênie tinham olhos azuis e os povos violetas eram caracterizados pela pele clara e as cores claras de cabelos — amarelo, ruivo e castanho.
76:4.2 (850.8) Eva não sofria de dor durante o parto; nem a sentiam as raças evolucionárias primitivas. Apenas as raças misturadas, produzidas pela união do homem evolucionário com os noditas e, mais tarde, com os adamitas, é que passaram a sofrer as dores violentas do nascimento dos bebês.
76:4.3 (851.1) Adão e Eva, tanto quanto os seus irmãos em Jerusém, eram energizados por uma nutrição dual, subsistindo tanto do alimento quanto da luz, suplementados por certas energias suprafísicas, não reveladas em Urântia. A sua progênie de Urântia não herdou o dom de absorver a energia, nem o da circulação da luz. Eles tinham uma única circulação, o tipo humano de sustentação pelo sangue. E eram mortais por natureza, mas, ainda que tivessem vidas de longa duração, a longevidade teve a tendência de assumir a normalidade humana, em cada geração que se sucedeu.
76:4.4 (851.2) Adão e Eva e a sua primeira geração de filhos não usavam a carne de animais como alimento. Eles subsistiam integralmente dos “frutos das árvores”. Depois da primeira geração, todos os descendentes de Adão começaram a comer os produtos do leite, mas muitos deles continuaram a seguir uma dieta sem carne. Muitas das tribos do sul, às quais se uniram posteriormente, também não comiam carne. Mais tarde, a maior parte dessas tribos vegetarianas migrou para o leste e sobreviveu tal como estão todas agora, miscigenadas com os povos da Índia.
76:4.5 (851.3) Tanto a visão física quanto a espiritual de Adão e Eva eram muito superiores àquelas dos povos atuais. Os seus sentidos especiais eram muito mais aguçados; sendo capazes de ver as criaturas intermediárias e as hostes angélicas, os Melquisedeques e Caligástia, o Príncipe caído, que muitas vezes veio conversar com o seu nobre sucessor. Eles mantiveram essa capacidade de ver os seres celestes por mais de cem anos, depois da falta. Esses sentidos especiais não estavam assim tão agudamente presentes nos seus filhos e tendiam a diminuir a cada geração que se sucedia.
76:4.6 (851.4) Os filhos Adâmicos geralmente eram resididos por Ajustadores, pois todos eles possuíam uma capacidade indubitável de sobrevivência após a morte. Essa progênie superior não era tão sujeita ao medo quanto o são as crianças provindas da evolução. O temor ainda perdura nas raças atuais de Urântia, porque os vossos ancestrais receberam pouquíssimo do plasma vital de Adão, devido ao desvio prematuro dos planos para a elevação física racial.
76:4.7 (851.5) As células do corpo dos Filhos Materiais e da sua progênie são muito mais resistentes à doença do que as dos seres evolucionários naturais do planeta. As células do corpo, nas raças nativas, são afins daquelas dos organismos microscópicos e ultramicroscópicos causadores das doenças do reino. Esses fatos explicam por que os povos de Urântia têm de fazer tanto, por meio de esforços científicos, para resistir às inúmeras desordens físicas. Vós seríeis muito mais resistentes às doenças, se as vossas raças carregassem em si mais do plasma da vida Adâmica.
76:4.8 (851.6) Depois de se estabelecerem no segundo jardim, no Eufrates, Adão optou por deixar atrás de si o máximo possível do seu plasma de vida, para beneficiar o mundo depois da sua morte. E, desse modo, Eva tornou-se a chefe de uma comissão de doze, para o aperfeiçoamento da raça, e, antes de Adão morrer, essa comissão havia selecionado 1 682 exemplares do tipo mais elevado de mulheres de Urântia, sendo essas mulheres impregnadas com o plasma da vida Adâmica. Os seus filhos, todos, cresceram até a maturidade, exceto 112 deles, e o mundo, desse modo, foi beneficiado pelo acréscimo de 1 570 homens e mulheres superiores. Embora essas candidatas a mãe houvessem sido escolhidas de todas as tribos vizinhas e representassem a maioria das raças da Terra, a maioria foi escolhida da linhagem mais elevada dos noditas; e elas constituíram os primórdios da poderosa raça andita. As crianças nasceram e foram criadas nos ambientes tribais das suas respectivas mães.
76:5.1 (851.7) Não muito depois do estabelecimento do segundo Éden, Adão e Eva foram devidamente informados de que o arrependimento deles havia sido aceito e que, embora estivessem condenados a sofrer o destino dos mortais do seu mundo, eles deveriam certamente tornarem-se aptos para serem admitidos nas fileiras dos sobreviventes adormecidos de Urântia. Eles acreditaram plenamente nessa palavra de ressurreição e de reabilitação, que os Melquisedeques, de um modo tão tocante, proclamaram a eles. A sua transgressão havia sido um erro de julgamento e não um pecado de rebelião consciente e deliberada.
76:5.2 (852.1) Adão e Eva, como cidadãos de Jerusém, não possuíam Ajustadores do Pensamento, nem eram resididos por Ajustadores quando funcionaram em Urântia, no primeiro jardim. Todavia, pouco depois da sua redução ao status de mortais, eles tornaram-se conscientes de uma nova presença dentro deles e despertaram para a compreensão de que o status humano, combinado com o arrependimento sincero, havia tornado possível aos Ajustadores residir neles. Foi esse conhecimento, o de serem resididos pelos Ajustadores, que, em grande parte, animou a Adão e Eva durante o restante das suas vidas; eles sabiam que haviam falhado como Filhos Materiais de Satânia, mas sabiam também que a carreira do Paraíso ainda estava aberta para eles, como filhos ascendentes do universo.
76:5.3 (852.2) Adão sabia sobre a ressurreição dispensacional que ocorrera simultaneamente com a sua chegada no planeta, e acreditava que a sua companheira e ele, provavelmente, iriam ser repersonalizados quando da vinda de uma nova ordem de filiação. Ele não sabia que Michael, o soberano desse universo, devia muito em breve aparecer em Urântia; e acreditava que o próximo Filho a chegar fosse da ordem Avonal. Mesmo assim, e apesar de que ser um tanto difícil que compreendessem, foi sempre um conforto para Adão e Eva meditarem sobre a única mensagem pessoal que eles receberam de Michael. Essa mensagem, entre outras expressões de amizade e de conforto, dizia: “Eu considerei as circunstâncias da vossa falta, lembrei-me do desejo dos vossos corações, de serem sempre leais à vontade do meu Pai, e vós sereis chamados do abraço do sono mortal, quando eu vier a Urântia, caso os Filhos subordinados do meu Reino não vos buscarem antes dessa época”.
76:5.4 (852.3) E isso se constituiu em um grande mistério para Adão e Eva. Eles puderam compreender a promessa velada de uma possível ressurreição especial nessa mensagem, e essa possibilidade animou-os consideravelmente; todavia, eles não podiam captar o significado da notificação de que eles descansariam até o momento de uma ressurreição associada à vinda pessoal de Michael a Urântia. E assim, o par Edênico proclamou sempre que um Filho de Deus viria, em algum tempo, e transmitiu aos seus entes queridos a crença, ou, ao menos, a esperança ardente, de que o mundo dos seus desatinos e tristezas poderia possivelmente ser o reino em que o governante desse universo iria escolher para exercer a função de Filho auto-outorgado do Paraíso. Parecia bom demais para ser verdade, mas Adão alimentou o pensamento de que a Urântia transtornada pelas lutas poderia, afinal, vir a ser o mundo mais afortunado do sistema de Satânia, o planeta invejado por todo o Nébadon.
76:5.5 (852.4) Adão viveu 530 anos; morreu do que se poderia chamar de velhice. O seu mecanismo físico simplesmente desgastou-se; o processo de desintegração gradualmente venceu o processo de reposição, e veio o fim inevitável. Eva morrera dezenove anos antes, por causa de um coração enfraquecido. Ambos foram enterrados no centro do templo do serviço divino, que havia sido construído de acordo com os seus planos, logo depois de haver sido completado o muro da colônia. E essa foi a origem da prática de enterrar os homens e mulheres notáveis e pios sob os pisos dos locais de adoração.
76:5.6 (852.5) O governo supramaterial de Urântia, sob a direção dos Melquisedeques, continuou, mas o contato físico direto com as raças evolucionárias havia sido rompido. Desde os dias longínquos da chegada dos assessores corpóreos do Príncipe Planetário, até os tempos de Van e Amadon, e depois, até a chegada de Adão e Eva, representantes físicos do governo do universo tinham estado sediados no planeta. Todavia, com a falta Adâmica, esse regime, que se estendeu durante um período de mais de quatrocentos e cinqüenta mil anos, chegou ao fim. Nos âmbitos espirituais, os ajudantes angélicos continuaram a lutar em conjunção com os Ajustadores do Pensamento, trabalhando ambos heroicamente para a salvação do indivíduo; mas nenhum plano abrangente para o bem-estar mundial, de longo alcance, foi promulgado, para os mortais da Terra, até a chegada, nos tempos de Abraão e de Maquiventa Melquisedeque, o qual, com o poder, paciência e autoridade de um Filho de Deus, lançou as fundações para uma nova elevação e uma reabilitação espiritual da desafortunada Urântia.
76:5.7 (853.1) O infortúnio, contudo, não foi o único destino de Urântia; este planeta foi também o mais afortunado no universo local de Nébadon. Os urantianos deveriam considerar tudo isso, afinal, como um benefício, pois, se os erros dos seus ancestrais e as faltas dos seus primeiros governantes mundiais mergulharam o planeta em um estado de confusão sem esperança, deixando-o ainda mais confundido e em meio ao mal e ao pecado, foi esse mesmo passado de obscuridade que serviria de apelo a Michael de Nébadon e, de um tal modo, que o fez escolher este mundo como a arena onde revelaria a personalidade amorosa do Pai nos céus. Não que Urântia necessitasse de um Filho Criador para colocar em ordem os seus assuntos embaraçados; mas antes porque o mal e o pecado, em Urântia, proporcionariam ao Filho Criador um panorama de fundo mais contrastante contra o qual revelar o incomparável amor, a misericórdia e a paciência do Pai do Paraíso.
76:6.1 (853.2) Adão e Eva entraram no seu descanso mortal com uma forte fé nas promessas feitas pelos Melquisedeques de que eles iriam, em algum tempo, despertar do sono da morte, para reassumir a vida nos mundos das mansões, tão familiares a eles, desde os dias que precederam à sua missão na carne material da raça violeta em Urântia.
76:6.2 (853.3) Eles não permaneceram por muito tempo descansando no esquecimento do sono inconsciente dos mortais do reino. Ao terceiro dia, depois da morte de Adão, o segundo depois do seu enterro reverente, as ordens de Lanaforge, confirmadas pelos Altíssimos em exercício de Edêntia e ratificadas pelos Uniões dos Dias em Sálvington, agindo em nome de Michael, foram colocadas nas mãos de Gabriel, comandando que se fizesse o chamado especial dos distinguidos sobreviventes da falta Adâmica em Urântia. E, de acordo com esse mandado de ressurreição especial, o de número vinte e seis da série de Urântia, Adão e Eva foram repersonalizados e reconstituídos nas salas de ressurreição dos mundos das mansões de Satânia, junto com 1 316 dos seus companheiros de experiência do primeiro Jardim. Muitas outras almas leais já haviam sido transladadas à época da chegada de Adão, que foi acompanhada por um julgamento dispensacional, tanto dos sobreviventes adormecidos, quanto dos seres ascendentes qualificados vivos.
76:6.3 (853.4) Adão e Eva passaram rapidamente pelos mundos de ascensão progressiva até alcançarem a cidadania de Jerusém para, uma vez mais, serem residentes do planeta da sua origem, mas, desta vez, como membros de uma ordem diferente de personalidades do universo. Eles deixaram Jerusém como cidadãos permanentes — Filhos de Deus — e voltaram como cidadãos ascendentes — filhos do homem. E foram imediatamente designados para o serviço a Urântia, na capital do sistema e, mais tarde, foi atribuída a eles a condição de membros entre os vinte e quatro conselheiros que constituem o corpo atual de controle consultor de Urântia.
76:6.4 (854.1) E assim termina a história do Adão e da Eva Planetários de Urântia, uma história de provações, tragédia e triunfo; um triunfo ao menos pessoal, para os vossos bem-intencionados, mas iludidos, Filho e Filha Materiais; indubitavelmente uma história de triunfo final para o mundo deles e para os seus habitantes abalados pela rebelião e assaltados pelo mal. Considerando-se tudo isso, Adão e Eva deram uma contribuição poderosa para acelerar a civilização e para o progresso biológico da raça humana. Eles deixaram uma grande cultura na Terra, mas não foi possível que uma civilização, de tal modo avançada, sobrevivesse, por causa da diluição prematura e do desaparecimento ulterior da herança Adâmica. É o povo que faz uma civilização; a civilização não faz o povo.
76:6.5 (854.2) [Apresentado por Solônia, a seráfica “voz do Jardim”.]
O Livro de Urântia
Documento 77
77:0.1 (855.1) A MAIORIA dos mundos habitados de Nébadon abriga um ou mais grupos de seres únicos que existem em um nível de operação vital, que é intermediário entre o dos mortais dos reinos e o das ordens angélicas; e por isso eles são chamados de criaturas ou seres intermediários. Essas criaturas parecem ser um acidente do tempo, mas são encontradas em um âmbito tão vasto e são de uma ajuda tão preciosa que, há muito, nós as aceitamos como uma das ordens essenciais à nossa ministração planetária combinada.
77:0.2 (855.2) Em Urântia, duas ordens distintas de seres intermediários estão em função: o corpo primário ou o mais antigo, que veio à existência nos dias passados da Dalamátia, e o corpo secundário ou mais jovem, cuja origem data dos tempos de Adão.
77:1.1 (855.3) Os seres intermediários primários têm a sua origem em uma interligação única entre o material e o espiritual, em Urântia. Sabemos da existência de criaturas semelhantes em outros mundos e outros sistemas, mas elas originaram-se por meio de técnicas diferentes.
77:1.2 (855.4) É conveniente ter-se sempre em mente que as auto-outorgas sucessivas dos Filhos de Deus, em um planeta em evolução, produzem mudanças acentuadas na economia espiritual daquele reino e que, algumas vezes, modificam os trabalhos de interação das agências espirituais e materiais, em um planeta, e criam situações que são, de fato, difíceis de serem compreendidas. O status dos cem membros corpóreos da assessoria do Príncipe Caligástia ilustra, com precisão, essa interassociação única: como cidadãos moronciais ascendentes de Jerusém, eles eram criaturas supramateriais, sem as prerrogativas da reprodução. Como ministros planetários descendentes, em Urântia, eles eram criaturas materiais sexuadas, capazes de gerar uma progênie material (como alguns o fizeram mais tarde). O que não podemos explicar satisfatoriamente é como essas cem pessoas puderam funcionar no papel de progenitores, em um nível supramaterial, mas isso foi exatamente o que aconteceu. Um enlace supramaterial (não sexual) entre um membro masculino e um feminino da assessoria corpórea resultou no surgimento das primogênitas entre as criaturas intermediárias primárias.
77:1.3 (855.5) Imediatamente foi descoberto que as criaturas dessa ordem, a meio caminho entre o nível mortal e o angélico, seriam de grande utilidade no serviço dos assuntos da sede-central do Príncipe, e então cada par da assessoria corpórea recebeu a autorização para gerar um ser semelhante. Esse esforço resultou no primeiro grupo de cinqüenta criaturas intermediárias.
77:1.4 (855.6) Depois de um ano de observação do trabalho desse grupo único, o Príncipe Planetário autorizou a reprodução de seres intermediários sem restrição. Esse plano foi levado adiante enquanto perdurou o poder de criar, e o corpo original de 50 000 criaturas nasceu desse modo.
77:1.5 (856.1) Um período de meio ano interpunha-se entre a produção de um ser intermediário e o próximo e, quando um milhar desses seres havia nascido, de cada casal, não se criava mais nenhum. E não há explicação alguma disponível quanto ao porquê da exaustão desse poder, depois que a progênie atingia o número de mil. Todas as tentativas seguintes sempre resultaram em fracassos.
77:1.6 (856.2) Essas criaturas constituíram o corpo de informação da administração do Príncipe. Elas percorriam todos os lugares, estudando e observando as raças do mundo e prestando outros serviços inestimáveis ao Príncipe e ao seu corpo de assessores, na tarefa de influenciar a sociedade humana em áreas distantes da sede planetária.
77:1.7 (856.3) Esse regime continuou até os dias trágicos da rebelião planetária, que fez com que caíssem mais de quatro quintos das criaturas intermediárias primárias. O corpo leal aderiu ao serviço dos administradores Melquisedeques, funcionando sob a liderança titular de Van, até os dias de Adão.
77:2.1 (856.4) Embora esta narrativa seja sobre a origem, natureza e função das criaturas intermediárias de Urântia, o parentesco entre as duas ordens — a primária e a secundária — torna necessário que se interrompa a história das criaturas intermediárias primárias, neste ponto, para acompanhar-se a linhagem da descendência dos membros rebeldes do grupo de assessores corpóreos do Príncipe Caligástia, desde os dias da rebelião planetária até a época de Adão. Foi essa linhagem hereditária que, nos dias iniciais do segundo jardim, forneceu a metade da ascendência para as ordens secundárias de criaturas intermediárias.
77:2.2 (856.5) Os membros físicos da assessoria do Príncipe haviam sido formados como criaturas sexuadas com o propósito de participarem do plano de procriação de uma descendência que incorporasse as qualidades combinadas, da sua ordem especial, aliadas àquelas da linhagem selecionada das tribos de Andon e tudo isso em antecipação ao aparecimento posterior de Adão. Os Portadores da Vida haviam planejado um novo tipo de ser mortal que englobava a união da progênie conjunta da assessoria do Príncipe com a primeira geração da progênie de Adão e Eva. Haviam elaborado, assim, um plano que previa uma nova ordem de criaturas planetárias, as quais, eles esperavam, constituíssem os governantes e mestres da sociedade humana. Esses seres estavam destinados à soberania social, não à soberania civil. No entanto, já que esse projeto malogrou quase completamente, nunca saberemos de que espécies de aristocracia de liderança benigna e cultura ímpar Urântia ficou privada desse modo. Com efeito, a assessoria corpórea reproduziu-se depois da rebelião e, portanto, após haver sido privada da sua conexão com as correntes vitais do sistema.
77:2.3 (856.6) A era posterior à rebelião em Urântia presenciou muitos acontecimentos inusitados. Uma grande civilização — a cultura da Dalamátia — estava desmoronando. “Os Nefilins (Noditas) estavam na Terra, naqueles tempos e, quando esses filhos dos deuses foram até as filhas dos homens e elas conceberam deles, os seus filhos formaram os ‘poderosos homens de outrora’, os ‘homens de renome’”. Ainda que dificilmente fossem “filhos dos deuses”, os assessores do Príncipe e os seus primeiros descendentes eram considerados como tais pelos mortais evolucionários daqueles dias distantes; mesmo a sua estatura veio a ser aumentada pela tradição. Essa é, pois, a origem das lendas de um folclore quase universal, de deuses que desceram à Terra e que conceberam com as filhas dos homens uma antiga raça de heróis. E toda essa lenda foi ainda mais confundida com as misturas das raças dos adamitas, que apareceram mais tarde, no segundo jardim.
77:2.4 (857.1) Como os cem membros corpóreos da assessoria do Príncipe traziam o plasma do germe das linhagens humanas andônicas, seria naturalmente esperado que, se eles praticassem a reprodução sexual, a sua progênie em muito assemelhar-se-ia à progênie dos outros pais andonitas. Contudo, quando de fato se empenharam na reprodução sexual, os sessenta rebeldes do corpo de assessoria do Príncipe, seguidores de Nod, os seus filhos provaram ser muito superiores, em quase todos os sentidos, aos povos andonitas, e também superiores aos sangiques. Essa excelência inesperada não era caracterizada apenas por qualidades físicas e intelectuais, mas também por capacidades espirituais.
77:2.5 (857.2) Esses traços mutantes, que apareceram na primeira geração dos noditas, resultaram de certas mudanças que haviam sido infundidas na configuração e nos constituintes químicos dos fatores hereditários do plasma do germe andônico. Essas mudanças foram causadas pela presença, nos corpos dos membros da assessoria do Príncipe, de circuitos poderosos de manutenção da vida do sistema de Satânia. Esses circuitos de vida fizeram com que os cromossomas do modelo especializado urantiano se reorganizassem mais segundo os modelos padronizados do tipo de especialização de Satânia, da manifestação de vida ordenada de Nébadon. A técnica de metamorfose desse plasma do germe da vida, por meio da ação das correntes vitais do sistema, não é de todo diferente dos procedimentos por meio dos quais os cientistas de Urântia modificam os plasmas do germe das plantas e dos animais, pelo uso dos raios X.
77:2.6 (857.3) Assim, os povos noditas surgiram a partir de certas modificações peculiares e inesperadas que ocorreram no plasma da vida, que os cirurgiões de Ávalon haviam transferido dos corpos dos contribuidores andonitas para os dos membros do corpo de assessores corpóreos do Príncipe.
77:2.7 (857.4) Deveis recordar-vos de que os cem andonitas contribuidores do plasma do germe converteram-se, por sua vez, em possuidores do complemento orgânico da árvore da vida, de um modo tal que as correntes da vida de Satânia também fizeram parte dos seus corpos. Os quarenta e quatro andonitas modificados que aderiram ao corpo de assessores do Príncipe, na rebelião, também procriaram entre si e prestaram uma grande contribuição para melhorar a linhagem do povo nodita.
77:2.8 (857.5) Esses dois grupos, abrangendo 104 indivíduos, que traziam em si o plasma do germe andonita modificado, constituem os ancestrais dos noditas, a oitava raça a aparecer em Urântia. E essa nova característica da vida humana, em Urântia, representa uma outra fase da execução do plano original de se utilizar este planeta como um mundo de modificação de vida, não obstante haja sido esse um dos desenvolvimentos não previstos.
77:2.9 (857.6) Os noditas de linhagem pura foram uma raça magnífica, mas, gradativamente, misturaram-se aos povos evolucionários da Terra, e não demorou muito para que ocorresse uma grande deterioração. Dez mil anos depois da rebelião, eles haviam perdido terreno até um ponto em que o seu tempo médio de vida chegou a ser apenas um pouco maior do que o das raças evolucionárias.
77:2.10 (857.7) Quando os arqueólogos desenterraram os blocos de argila com os registros dos sumérios, os mais recentes descendentes dos noditas, eles descobriram listas de reis sumérios que remontam a vários milhares de anos atrás; e à medida que esses registros recuam no tempo, os reinados individuais desses reis têm a duração de vinte e cinco ou trinta anos, até cento e cinqüenta anos ou mais. Essa duração maior dos reinados dos reis mais antigos significa que alguns dos governantes noditas (descendentes imediatos do corpo de assessores do Príncipe) viveram mais tempo do que os seus sucessores mais recentes e também indica um esforço de remontar as suas dinastias até a época da Dalamátia.
77:2.11 (857.8) O registro de vidas individuais tão prolongadas é devido também à confusão entre os meses e os anos como medidas de tempo. Isso pode ser também observado na genealogia bíblica de Abraão e nos primeiros registros dos chineses. A confusão do mês de vinte e oito dias, ou estação, com o ano de mais de trezentos e cinqüenta dias, introduzido posteriormente, é responsável pelas versões das tradições de vidas humanas tão longas. Há registros de um homem que viveu por mais de novecentos “anos”. Esse período representa setenta anos incompletos, e essas vidas foram consideradas como muito longas durante muito tempo, e posteriormente esse ciclo de vida foi definido como “três vintenas mais dez”.
77:2.12 (858.1) A medição do tempo pelo mês de vinte e oito dias perdurou até muito tempo depois de Adão. Quando, porém, os egípcios fizeram a reforma do calendário, há aproximadamente sete mil anos, eles o fizeram com uma grande precisão, introduzindo o ano de 365 dias.
77:3.1 (858.2) Depois da submersão da Dalamátia, os noditas trasladaram-se para o norte e para o leste, e logo fundaram a nova cidade de Dilmum, como o seu centro racial e cultural. E cerca de cinqüenta mil anos depois da morte de Nod, quando a progênie do corpo de assessores do Príncipe se havia tornado numerosa demais para subsistir nas terras imediatamente vizinhas da sua nova cidade de Dilmum e, depois de se haverem estendido além de seus limites para realizar matrimônios com as tribos andonitas e sangiques vizinhas das suas fronteiras, ocorreu aos seus líderes que algo deveria ser feito para preservar a sua unidade racial. Conseqüentemente, um conselho das tribos foi convocado e, depois de muito deliberar, adotou-se o plano de Bablot, um descendente de Nod.
77:3.2 (858.3) Bablot propôs edificar um templo pretensioso de glorificação racial no centro do território então ocupado por eles. Esse templo devia ter uma torre nunca vista em todo o mundo. Devia ser um memorial monumental da sua grandiosidade momentânea. Havia muitos que queriam esse monumento erigido em Dilmum, mas outros argumentavam que uma estrutura tão grande deveria ser colocada a uma distância segura dos perigos do mar, lembrando-se das tradições da submersão da sua primeira capital, Dalamátia.
77:3.3 (858.4) Bablot planejou os novos edifícios como sendo o núcleo do futuro centro da cultura e civilização noditas. O seu conselho finalmente prevaleceu e a construção teve início de acordo com os seus planos. A nova cidade chamar-se-ia Bablot, em honra ao arquiteto e construtor da torre. Esse local posteriormente ficaria conhecido como Bablod e finalmente como Babel.
77:3.4 (858.5) Mas, de algum modo, os noditas estavam ainda divididos quanto aos sentimentos em relação aos planos e propósitos desse empreendimento. Os seus líderes não estavam todos de acordo a respeito dos planos de construção, nem sobre a finalidade das edificações depois de prontas. Após quatro anos e meio de trabalho, adveio uma grande disputa a respeito do objetivo e do motivo pelos quais se construía a torre. As contendas tornaram-se tão amargas que todo o trabalho parou. Os carregadores de comida espalharam as novas sobre as discussões e um grande número de tribos começou a amontoar-se no local da construção. Três pontos de vista diferentes foram propostos sobre o propósito da construção da torre:
77:3.5 (858.6) 1. O grupo maior, de quase a metade, desejava ver a torre construída como um memorial da história nodita e da sua superioridade racial. Eles achavam que devia ser uma estrutura grande e imponente, que devia suscitar a admiração de todas as futuras gerações.
77:3.6 (858.7) 2. A segunda maior facção queria que a torre fosse destinada a comemorar a cultura Dilmum. Eles previam que Bablot viesse a ser um grande centro de comércio, de arte e de manufatura.
77:3.7 (859.1) 3. O contingente menor e minoritário sustentava que a edificação da torre representava uma oportunidade de redimir o desatino dos seus progenitores, por haverem participado da rebelião de Caligástia. Eles sustentavam que a torre deveria ser dedicada à adoração do Pai de todos, e que todo o propósito da nova cidade deveria ser o de substituir a Dalamátia — de funcionar como o centro cultural e religioso para os povos bárbaros vizinhos.
77:3.8 (859.2) O grupo religioso foi logo derrotado na votação. A maioria rejeitou a doutrina de que os seus antepassados haviam sido culpados de rebeldia; esse estigma racial ofendia-os. Havendo eliminado um dos três ângulos da disputa e não havendo conseguido decidir-se entre os outros dois, por debate, eles entraram em luta. Os religiosos, não combatentes, fugiram para as suas casas no sul, ao passo que os seus companheiros lutaram até quase se aniquilar.
77:3.9 (859.3) Há cerca de doze mil anos, foi feita uma segunda tentativa de erigir a torre de Babel. As raças miscigenadas dos anditas (os noditas e os adamitas) propuseram-se levantar um novo templo sobre as ruínas da primeira estrutura, mas não houve respaldo suficiente para o empreendimento; ele veio abaixo com o peso da própria pretensão. Durante muito tempo, essa região ficou conhecida como a terra de Babel.
77:4.1 (859.4) A dispersão dos noditas foi um resultado imediato dos conflitos internos a respeito da torre de Babel. Essa guerra interna reduziu, em grande parte, o número dos noditas mais puros e, sob muitos aspectos, tornou-se responsável pelo fracasso que tiveram em estabelecer uma grande civilização pré-Adâmica. Dessa época em diante, a cultura nodita caiu em declínio, por mais de cento e vinte mil anos, até que foi elevada pela infusão Adâmica. Todavia, mesmo nos tempos de Adão, os noditas eram ainda um povo muito capaz. Grande parte dos seus descendentes de sangue misto estava entre os construtores do Jardim, e vários capitães do grupo de Van eram noditas. Algumas das mentes mais capazes a serviço da assessoria de Adão eram dessa raça.
77:4.2 (859.5) Três dos quatro grandes centros noditas foram estabelecidos imediatamente depois do conflito de Bablot:
77:4.3 (859.6) 1. Os noditas ocidentais, ou sírios. Os remanescentes do grupo nacionalista, ou os memorialistas raciais, dirigiram-se para o norte, unindo-se aos andonitas para fundar os centros ulteriores noditas, a noroeste da Mesopotâmia. Esse foi o maior grupo de noditas em dispersão, que contribuiu muito para a aparição posterior da linhagem assíria.
77:4.4 (859.7) 2. Os noditas orientais, ou elamitas. Os partidários da cultura e do comércio migraram em grandes números para o leste até Elam e ali se uniram com as tribos sangiques miscigenadas. Os elamitas de trinta ou quarenta mil anos atrás, em grande parte, haviam adquirido a natureza sangique, se bem que houvessem continuado a manter uma civilização superior à dos bárbaros das vizinhanças.
77:4.5 (859.8) Depois do estabelecimento do segundo jardim, era costumeiro aludir-se a essa colônia nodita vizinha como “a terra de Nod”; e, durante o longo período de paz relativa entre esse grupo nodita e os adamitas, as duas raças ficaram altamente fundidas, pois mais e mais passou a ser um costume dos Filhos de Deus (os adamitas) casar-se com as filhas dos homens (as noditas).
77:4.6 (860.1) 3. Os noditas centrais, ou pré-sumérios. Um grupo pequeno, na embocadura dos rios Tigre e Eufrates, conservou, mais que outros, a sua integridade racial. Eles subsistiram por milhares de anos, e afinal deram origem à descendência nodita que, misturada aos adamitas, fundou os povos sumérios dos tempos históricos.
77:4.7 (860.2) E tudo isso explica como os sumérios apareceram tão súbita e misteriosamente no cenário da Mesopotâmia. Os pesquisadores nunca serão capazes de determinar a origem dessas tribos remontando ao princípio dos sumérios, que tiveram a sua origem duzentos mil anos antes da submersão da Dalamátia. Sem nenhum vestígio da sua origem em outro lugar no mundo, essas tribos antigas subitamente se apresentam no horizonte da civilização com uma cultura plenamente desenvolvida e superior, abrangendo templos, trabalhos em metal, agricultura, animais, cerâmica, tecelagem, leis comerciais, códigos civis, cerimonial religioso, e um sistema de escrita antigo. No começo da era histórica, já tinham, havia muito, perdido o alfabeto da Dalamátia, tendo adotado o sistema peculiar da escrita originada em Dilmum. A língua suméria, ainda que virtualmente perdida para o mundo, não era semítica; tinha muito em comum com as chamadas línguas arianas.
77:4.8 (860.3) Os registros, bem elaborados, deixados pelos sumérios descrevem o local de uma notável colônia que se situava no golfo Pérsico, próximo da antiga cidade de Dilmum. Os egípcios chamavam de Dimat essa cidade de glória antiga, enquanto, mais tarde, os sumérios adamizados confundiram a primeira e a segunda cidade nodita com a Dalamátia e chamaram todas três de Dilmum. E os arqueólogos já encontraram as antigas placas de argila suméria que falam desse paraíso terreno “onde os Deuses pela primeira vez abençoaram a humanidade, com o exemplo de uma vida civilizada e cultural”. E essas placas, descritivas de Dilmum, o paraíso de homens e de Deus, estão agora silenciosamente guardadas nas prateleiras empoeiradas de muitos museus.
77:4.9 (860.4) Os sumérios bem sabiam do primeiro e do segundo Éden, mas, a despeito de casamentos extensivos entre eles e os adamitas, continuaram a considerar os residentes do norte do jardim como sendo uma raça estrangeira. O orgulho dos sumérios, por serem da cultura andita mais antiga, levou-os a ignorar essas novas perspectivas de glória, em favor da grandeza e da tradição paradisíaca da cidade de Dilmum.
77:4.10 (860.5) 4. Os noditas do norte e os amadonitas — os vanitas. Esse grupo surgiu antes do conflito de Bablot. Esses noditas mais setentrionais eram descendentes daqueles que haviam abandonado a liderança de Nod, e dos seus sucessores, para ligar-se a Van e a Amadon.
77:4.11 (860.6) Alguns dos primeiros colaboradores de Van estabeleceram-se, posteriormente, em locais próximos das margens do lago que ainda leva o seu nome, e as suas tradições cresceram em torno dessa localidade. Ararat tornou-se a sua montanha sagrada, tendo, para os vanitas dos tempos posteriores, um significado análogo ao que o monte Sinai teve para os hebreus. Há dez mil anos os vanitas, ancestrais dos assírios, ensinavam que a sua lei moral, de sete mandamentos, havia sido dada pelos Deuses a Van, no monte Ararat. Eles acreditavam firmemente que Van e o seu companheiro Amadon foram levados vivos, para fora do planeta, enquanto estavam no topo da montanha, absortos na adoração.
77:4.12 (860.7) O monte Ararat era a montanha sagrada da Mesopotâmia do norte e, posto que grande parte das vossas tradições desses tempos antigos foi adquirida por meio da história da enchente da Babilônia, não é nenhuma surpresa que o monte Ararat e a sua região fossem posteriormente imbricados com as histórias mais recentes dos judeus sobre Noé e o dilúvio universal.
77:4.13 (860.8) Por volta de 35 000 a.C., Adamson visitou uma das antigas colônias mais orientais dos antigos vanitas, e ali fundou o seu centro de civilização.
77:5.1 (861.1) Havendo delineado os antecedentes noditas da linhagem dos seres intermediários secundários, esta narrativa deveria agora considerar a metade Adâmica dos seus ancestrais, pois os seres intermediários secundários são também netos de Adamson, o primogênito da raça violeta de Urântia.
77:5.2 (861.2) Adamson fez parte daquele grupo, de filhos de Adão e Eva, que escolheu permanecer na Terra com o seu pai e sua mãe. E esse primogênito de Adão havia ouvido Van e Amadon falarem várias vezes na história do seu lar, nos planaltos do norte e, algum tempo depois do estabelecimento do segundo jardim, ele decidiu partir em busca daquelas terras dos sonhos da sua juventude.
77:5.3 (861.3) Adamson tinha 120 anos de idade, nessa época, e era pai de trinta e dois filhos da pura linhagem do primeiro Jardim. Ele queria permanecer com os seus pais e ajudá-los a edificar o segundo jardim, mas estava bastante perturbado pela perda da sua companheira e seus filhos, todos os quais haviam escolhido ir para Edêntia junto com as outras crianças Adâmicas, preferindo tornar-se pupilos dos Altíssimos.
77:5.4 (861.4) Adamson não queria abandonar os seus pais em Urântia, não estava inclinado a fugir das provações nem dos perigos, mas achava o ambiente do segundo jardim longe de satisfatório. E muito fez para adiantar ali as atividades iniciais de defesa e de construção, mas decidiu ir para o norte, na primeira oportunidade. E, se bem que a sua partida tenha sido totalmente amigável, Adão e Eva lamentaram muito ter de perder o seu filho mais velho, de vê-lo ir para um mundo estranho e hostil de onde, temiam, ele nunca fosse voltar.
77:5.5 (861.5) Uma companhia de vinte e sete membros foi com Adamson para o norte, em busca do povo das suas fantasias de infância. De fato, em pouco mais de três anos, o grupo de Adamson encontrou o objeto da sua aventura e, entre os desse povo, ele descobriu uma maravilhosa e bonita jovem, de vinte e três anos, que dizia ser a última descendente de linhagem pura do corpo de assessores do Príncipe. Essa mulher, Ratta, dizia que os seus ancestrais eram todos descendentes de dois membros caídos do corpo de assessores do Príncipe. Ela era a última da sua raça, não tendo irmãos nem irmãs vivos. Já havia decidido não se casar, havia acabado de decidir não deixar nenhuma progênie, mas entregou o seu coração ao majestoso Adamson. E quando ouviu a história do Éden, de como as predições de Van e de Amadon haviam realmente acontecido, e, quando ficou sabendo da falta cometida no Jardim, ficou possuída por um único pensamento — desposar esse filho e herdeiro de Adão. E rapidamente a mesma idéia tomou conta de Adamson e, em pouco mais de três meses, eles estavam casados.
77:5.6 (861.6) Adamson e Ratta tiveram uma família de sessenta e sete crianças. Deram origem a uma grande linhagem de dirigentes do mundo, mas fizeram algo mais. Deve ser relembrado que esses dois seres eram ambos realmente supra-humanos. Dos filhos que tiveram, a cada quatro que nascia, o quarto era um ser de uma ordem excepcional. Muitas vezes era invisível. Nunca, na história do mundo, havia acontecido tal coisa. Ratta ficou bastante impressionada — e até mesmo supersticiosa — , mas Adamson sabia muito bem da existência das criaturas intermediárias primárias e concluiu que alguma coisa semelhante devia estar acontecendo diante dos seus olhos. Quando veio o segundo ser de comportamento estranho, ele decidiu que os dois deviam acasalar-se, pois que um era masculino e o outro feminino; e essa é a origem da ordem secundária de seres intermediários. Dentro de cem anos, antes que esse fenômeno tivesse o seu fim, quase dois mil seres foram trazidos à existência.
77:5.7 (862.1) Adamson viveu por 396 anos. Muitas vezes ele voltou para visitar o seu pai e sua mãe. A cada sete anos, ele e Ratta viajavam para o sul, até o segundo jardim e, nesse meio tempo, as criaturas intermediárias o mantinham informado a respeito do bem-estar do seu povo. Durante a vida de Adamson, elas prestaram um grande serviço, com a edificação de um novo centro mundial independente, para a verdade e a retidão.
77:5.8 (862.2) Adamson e Ratta, assim, tiveram sob o seu comando esse corpo maravilhoso de ajudantes, que trabalhou com eles durante as suas longas vidas, ajudando-os na propagação da verdade avançada e na disseminação de padrões espirituais, intelectuais e físicos mais elevados de vida. E os resultados desse esforço de melhorar o mundo nunca foram totalmente eclipsados pelos retrocessos posteriores.
77:5.9 (862.3) Os adamsonitas mantiveram uma cultura elevada por quase sete mil anos depois da época de Adamson e Ratta. Mais tarde, miscigenaram-se com os vizinhos noditas e andonitas e foram igualmente incluídos entre os “poderosos homens de outrora”. E alguns dos avanços daquela idade perduraram até tornar-se uma parte latente do potencial cultural que mais tarde floresceu, resultando na civilização européia.
77:5.10 (862.4) Esse centro de civilização estava situado na região a leste da extremidade sulina do mar Cáspio, perto do Kopet Dagh. A uma baixa altitude, nos contrafortes do Turquestão, estão os vestígios daquilo que certa vez foi a sede adamsonita da raça violeta. Nesses locais dos planaltos situados em uma antiga faixa estreita de fertilidade, que se estende na parte baixa dos contrafortes da cadeia do Kopet, quatro culturas diversas surgiram, em vários períodos, fomentadas por quatro grupos diferentes de descendentes de Adamson. O segundo desses grupos migrou para o oeste, até a Grécia e as ilhas do Mediterrâneo. O restante dos descendentes de Adamson migrou para o norte e para o oeste, trazendo para a Europa as raças mistas da última onda de linhagem andita que veio da Mesopotâmia, e que estão também enumeradas entre os anditas-arianos invasores da Índia.
77:6.1 (862.5) Enquanto as criaturas intermediárias primárias tiveram uma origem supra-humana, a ordem secundária é uma progênie de linhagem Adâmica pura unida a um descendente humanizado de ancestrais comuns do corpo primário.
77:6.2 (862.6) Entre os filhos de Adamson, houve apenas dezesseis desses progenitores peculiares de criaturas intermediárias secundárias. Esses filhos excepcionais eram igualmente divididos quanto ao sexo, e cada casal era capaz de produzir uma criatura intermediária secundária, a cada setenta dias, por meio de uma técnica combinada de ligação sexual e não sexual. E esse fenômeno nunca havia sido possível na Terra antes daquela época, e não mais aconteceu desde então.
77:6.3 (862.7) Esses dezesseis filhos viveram e morreram como mortais do reino (exceto pelas suas peculiaridades), mas a sua progênie eletricamente energizada vive indefinidamente, não estando sujeita às limitações da carne mortal.
77:6.4 (862.8) Cada um dos oito casais finalmente produziu 248 criaturas intermediárias e, assim, o corpo secundário original — em um total de 1 984 — veio à existência. Há oito subgrupos de criaturas intermediárias secundárias. Elas são designadas como A-B-C, a primeira, a segunda, a terceira e assim por diante. E depois há as D-E-F, a primeira, a segunda e assim por diante.
77:6.5 (862.9) Depois da falta de Adão, as criaturas intermediárias primárias retornaram para o serviço dos administradores Melquisedeques, enquanto as do grupo secundário permaneceram ligadas ao centro de Adamson até a morte dele. Trinta e três dessas criaturas intermediárias secundárias, chefes da sua organização, quando da morte de Adamson, tentaram mudar toda a ordem, levando-a para o serviço dos Melquisedeques, efetivando, assim, uma ligação com as do corpo primário. Mas não tendo conseguido efetivar isso, desertaram do restante dos seus companheiros e passaram em bloco ao serviço dos administradores planetários.
77:6.6 (863.1) Depois da morte de Adamson, o remanescente das criaturas intermediárias secundárias tornou-se uma influência estranha, desorganizada e independente, em Urântia. Daquela época aos dias de Maquiventa Melquisedeque, elas levaram uma existência irregular e não organizada. Foram parcialmente recolocadas sob controle por esse Melquisedeque, mas ainda eram uma fonte de muitas confusões até os dias de Cristo Michael. E, durante a permanência dele na Terra, todas elas tomaram as suas decisões finais quanto ao seu destino futuro; a maioria leal alistou-se, então, sob a liderança das criaturas intermediárias primárias.
77:7.1 (863.2) A maioria das criaturas intermediárias primárias entrou em pecado na época da rebelião de Lúcifer. Quando foi feito um balanço da devastação da rebelião planetária, entre outras perdas, foi descoberto que das 50 000 originais, 40 119 criaturas estavam ligadas à secessão de Caligástia.
77:7.2 (863.3) O número original das criaturas intermediárias secundárias era de 1 984 e, destas, 873 não se alinharam com a direção de Michael e foram devidamente recolhidas e internadas quando do juízo planetário de Urântia no dia de Pentecostes. Ninguém pode prever o futuro dessas criaturas caídas.
77:7.3 (863.4) Os dois grupos de criaturas intermediárias rebeldes estão agora mantidos sob custódia, aguardando o julgamento final dos assuntos da rebelião do sistema. Mas elas fizeram muitas coisas estranhas na Terra, antes da inauguração da presente dispensação planetária.
77:7.4 (863.5) Essas criaturas intermediárias desleais eram capazes de revelarem a si próprias aos olhos mortais, sob certas circunstâncias. Isso foi especialmente verdadeiro no caso dos parceiros de Belzebu, líder das criaturas intermediárias secundárias apóstatas. Contudo, essas criaturas únicas não devem ser confundidas com certos querubins e serafins rebeldes que também estavam na Terra até a época da morte e da ressurreição de Cristo. Alguns dos escritores da antiguidade designaram essas criaturas intermediárias rebeldes como espíritos do mal e como demônios, e os serafins e querubins apóstatas como anjos maus.
77:7.5 (863.6) Em nenhum mundo, os espíritos do mal podem possuir a mente de qualquer mortal, depois da vida outorgada de um Filho do Paraíso. Mas antes dos dias de Cristo Michael em Urântia — antes da vinda universal dos Ajustadores do Pensamento e da efusão do espírito do Mestre sobre toda a carne — , essas criaturas intermediárias rebeldes chegaram de fato a ser capazes de influenciar as mentes de certos mortais inferiores e, de um certo modo, de controlar as suas ações. Isso era realizado de um modo muito semelhante àquele pelo qual as criaturas intermediárias leais funcionam quando elas servem eficientemente como guardiãs de contato das mentes humanas, dos membros do corpo de reserva do destino de Urântia, naqueles momentos em que o Ajustador está, com efeito, destacado da personalidade durante uma sessão de contato com inteligências supra-humanas.
77:7.6 (863.7) Não é mera figura de retórica quando os registros afirmam: “E trouxeram a Ele toda a sorte de pessoas doentes, aqueles que estavam possuídos por diabos e aqueles que eram lunáticos”. Jesus sabia reconhecer a diferença entre a insanidade e a possessão demoníaca, embora tais estados fossem bastante confundidos nas mentes daqueles que viveram naqueles dias e naquela geração.
77:7.7 (863.8) Mesmo antes de Pentecostes, nenhum espírito rebelde podia dominar uma mente humana normal, mas, desde aquele dia, mesmo as mentes fracas de mortais inferiores estão livres de tais possibilidades. Desde a vinda do Espírito da Verdade, a suposta expulsão de diabos tem sido uma questão de confusão da crença na possessão demoníaca, com a histeria, a insanidade e a debilidade mental. No entanto, apenas porque a auto-outorga de Michael tenha, para sempre, libertado todas as mentes humanas em Urântia da possibilidade de possessão demoníaca, não deveis imaginar que isso não pudesse ter sido um risco, em idades anteriores.
77:7.8 (864.1) Todo o grupo de criaturas intermediárias rebeldes está, no presente, mantido como prisioneiro por ordem dos Altíssimos de Edêntia. Elas não mais perambulam por este mundo, cometendo o mal. Independentemente da presença dos Ajustadores do Pensamento, a efusão do Espírito da Verdade sobre toda a carne tornou para sempre impossível aos espíritos desleais, de qualquer espécie ou descrição, que invadam, novamente, até mesmo a mais fraca das mentes humanas. Desde o dia de Pentecostes tornou-se impossível acontecer qualquer coisa parecida com a possessão demoníaca neste mundo.
77:8.1 (864.2) No último julgamento deste mundo, quando Michael transferiu daqui os sobreviventes adormecidos do tempo, as criaturas intermediárias foram deixadas para trás, nos seus lugares, para ajudar no trabalho espiritual e semi-espiritual no planeta. Agora elas operam como um corpo único, abrangendo ambas as ordens, em um total de 10 992 criaturas. Formam As Criaturas Intermediárias Unidas de Urântia, que atualmente são dirigidas alternadamente pelos membros mais antigos de cada ordem. Esse regime tem prevalecido desde a sua união, em um grupo único, pouco depois de Pentecostes.
77:8.2 (864.3) Os membros da ordem mais antiga, ou primária, são geralmente conhecidos por números; em geral recebem nomes tais como 1-2-3, a primeira, 4-5-6, a primeira, e assim por diante. Em Urântia, as criaturas intermediárias Adâmicas são designadas alfabeticamente, para que sejam distinguidas das designações numéricas das criaturas intermediárias primárias.
77:8.3 (864.4) Ambas as ordens são de seres não-materiais, no que diz respeito à nutrição e à absorção de energia, mas elas compartilham de muitos aspectos humanos e são capazes de entender e desfrutar do vosso humor e a vossa adoração. Quando ligadas aos mortais, elas entram no espírito do trabalho humano, de descanso e de diversão. Mas as criaturas intermediárias não dormem, nem possuem poderes de procriação. Num certo sentido, as criaturas do grupo secundário são diferenciadas segundo as linhas de masculinidade e de feminilidade, freqüentemente sendo chamadas de “ele” ou de “ela”. Trabalham quase sempre juntas, em duplas ou casais.
77:8.4 (864.5) As criaturas intermediárias não são homens nem são anjos, mas as criaturas secundárias, pela sua natureza, estão mais próximas do homem do que do anjo; são, de um certo modo, das vossas raças e, portanto, muito compreensivas e compassivas no seu contato com os seres humanos; são de um valor inestimável para os serafins, no seu trabalho com as várias raças da humanidade, e para essas raças; e ambas as ordens são indispensáveis aos serafins que servem como guardiães pessoais dos mortais.
77:8.5 (864.6) As Criaturas Intermediárias Unidas de Urântia estão organizadas para o serviço junto com os serafins planetários, de acordo com os dons inatos e as habilidades adquiridas, nos grupos seguintes:
77:8.6 (864.7) 1. As Criaturas Intermediárias Mensageiras. Este grupo tem nomes; formam um corpo pequeno que presta grande ajuda, em um mundo evolucionário, no serviço da comunicação pessoal rápida e de confiança.
77:8.7 (864.8) 2. As Sentinelas Planetárias. As criaturas intermediárias são guardiãs, são sentinelas dos mundos do espaço. Elas executam tarefas importantes como observadoras para todos os numerosos fenômenos e tipos de comunicação que são de importância para os seres sobrenaturais do reino. Elas patrulham o Reino invisível espiritual do planeta.
77:8.8 (865.1) 3. As Personalidades de Contato. Nos contatos feitos com os seres mortais dos mundos materiais, tais como os que foram feitos com o sujeito por meio de quem essas comunicações foram transmitidas, as criaturas intermediárias são sempre utilizadas. Elas são um fator essencial nessas ligações entre o nível espiritual e o material.
77:8.9 (865.2) 4. Os Ajudantes do Progresso. Estas são as mais espirituais das criaturas intermediárias, e estão distribuídas como assistentes das várias ordens de serafins que funcionam em grupos especiais no planeta.
77:8.10 (865.3) As criaturas intermediárias variam muito nas suas habilidades de fazer contato com os serafins, acima delas, e com os seus primos humanos, abaixo. É bastante difícil, por exemplo, para as criaturas intermediárias primárias fazer contato direto com agências materiais. Elas estão consideravelmente mais próximas do tipo angélico de ser e são, portanto, usualmente designadas para trabalhar e para ministrar, junto com as forças espirituais residentes no planeta. Elas atuam como companhia e guia para os visitantes celestes e os hóspedes estudantes, enquanto as criaturas secundárias ficam quase que exclusivamente ligadas à ministração aos seres materiais do reino.
77:8.11 (865.4) As 1 111 criaturas intermediárias secundárias leais estão engajadas em missões importantes na Terra. Se comparadas às suas companheiras primárias, elas são decididamente materiais. Existem exatamente fora do campo da visão mortal e possuem latitude suficiente de adaptação para fazer, à vontade, contato físico com o que os humanos chamam de “coisas materiais”. Essas criaturas únicas têm certos poderes definidos sobre as coisas do tempo e do espaço, como também sobre os animais do reino.
77:8.12 (865.5) Muitos dos fenômenos materiais atribuídos aos anjos têm sido realizados pelas criaturas intermediárias secundárias. Quando os primeiros instrutores do evangelho de Jesus foram jogados dentro das prisões pelos líderes religiosos ignorantes daquela época, um verdadeiro “anjo do Senhor” “abriu as portas da prisão à noite e os conduziu para fora”. Mas no caso da libertação de Pedro, depois da execução de Tiago, por ordem de Herodes, foi uma criatura intermediária secundária quem executou o trabalho atribuído a um anjo.
77:8.13 (865.6) O principal trabalho delas, hoje, é o de serem colaboradoras invisíveis na ligação pessoal daqueles homens e mulheres que constituem o corpo da reserva planetária de destino. Foi o trabalho desse grupo secundário, competentemente auxiliado por algumas criaturas do corpo primário, que provocou a coordenação das personalidades e das circunstâncias, em Urântia, que finalmente induziram os supervisores celestes planetários a iniciar as petições que resultaram na concessão dos mandados que tornaram possíveis as séries de revelações, das quais esta apresentação é uma parte. Deve ficar claro, porém, que as criaturas intermediárias não estão envolvidas com os espetáculos sórdidos que são executados sob a designação geral de “espiritismo”. As criaturas intermediárias que atualmente estão em Urântia, todas as quais têm um status honorável, de modo nenhum, estão ligadas aos fenômenos da chamada “mediunidade”; e ordinariamente não permitem aos humanos presenciar as suas atividades físicas e outros contatos com o mundo material, algumas vezes necessários, tais como seriam percebidos pelos sentidos humanos.
77:9.1 (865.7) As criaturas intermediárias podem ser consideradas como o primeiro grupo de habitantes permanentes a ser encontrado nas várias ordens de mundos nos universos, em contraste com os ascendentes evolucionários, tais como as criaturas mortais e as hostes angélicas. Esses cidadãos permanentes são encontrados em vários pontos na ascensão ao Paraíso.
77:9.2 (866.1) De modo contrário às várias ordens de seres celestes, que estão destinadas a ministrar em um planeta, as criaturas intermediárias vivem em um mundo habitado. Os serafins vêm e vão, mas as criaturas intermediárias permanecem e permanecerão e, por serem do planeta, além de se prestarem como ministradoras, elas asseguram o único regime de continuidade que harmoniza e conecta as administrações sempre mutantes das hostes seráficas.
77:9.3 (866.2) Como cidadãos de fato de Urântia, as criaturas intermediárias, ou os intermediários, têm um interesse íntimo quanto ao destino desta esfera. Elas formam uma associação resoluta, que trabalha persistentemente para o progresso do seu planeta de nascimento. A sua determinação é sugerida no lema da sua ordem: “Tudo o que as Criaturas Intermediárias Unidas querem fazer, as Criaturas Intermediárias Unidas o fazem”.
77:9.4 (866.3) Ainda que a sua capacidade de ultrapassar os circuitos de energia permita que a partida do planeta seja factível para qualquer criatura intermediária, elas comprometeram-se individualmente a não abandonar o planeta antes de serem liberadas pelas autoridades do universo, algum dia. As criaturas intermediárias ficam ancoradas em um planeta até que cheguem as idades estabelecidas de luz e vida. À exceção de 1-2-3, a primeira, nenhuma criatura intermediária leal jamais partiu de Urântia.
77:9.5 (866.4) 1-2-3, a primeira, a primogênita da ordem primária, foi liberada dos deveres planetários imediatos pouco depois de Pentecostes. Essa intermediária nobre permaneceu firme junto com Van e Amadon durante os dias trágicos da rebelião planetária, e a sua liderança destemida foi um forte instrumento na redução das baixas da sua ordem. Atualmente, ela serve em Jerusém como membro do conselho dos vinte e quatro, tendo já uma vez funcionado como governadora geral de Urântia, depois de Pentecostes.
77:9.6 (866.5) As criaturas intermediárias estão vinculadas ao planeta, mas, do mesmo modo que os mortais conversam com os viajantes de longe e assim aprendem a respeito dos mundos e lugares distantes do planeta, as criaturas intermediárias conversam com os viajantes celestes para aprenderem sobre os locais longínquos do universo. Assim elas tornam-se familiarizadas com este sistema e com este universo, e mesmo com Orvônton e as suas criações irmãs e, desse modo, elas preparam-se para a cidadania em níveis mais elevados de existência como criaturas.
77:9.7 (866.6) Embora as criaturas intermediárias hajam sido trazidas à existência já plenamente desenvolvidas — não experienciando nenhum período de crescimento, nem desenvolvimento a partir da imaturidade — , elas nunca cessam de crescer em sabedoria e em experiência. Como os mortais, são criaturas evolucionárias e têm uma cultura que é uma verdadeira conquista evolucionária. Há muitas grandes mentes e espíritos poderosos no corpo das criaturas intermediárias de Urântia.
77:9.8 (866.7) De um ponto de vista mais amplo, a civilização de Urântia é produto conjunto dos mortais de Urântia e das criaturas intermediárias de Urântia; e isso é verdadeiro a despeito das diferenças factuais entre os dois níveis de cultura, diferenças estas que não serão compensadas antes das idades de luz e vida.
77:9.9 (866.8) A cultura das criaturas intermediárias, sendo o produto de uma cidadania planetária imortal, é relativamente imune às vicissitudes temporais que assaltam a civilização humana. As gerações de homens esquecem; o corpo das criaturas intermediárias relembra; e tal memória é a sede do tesouro das tradições do vosso mundo habitado. Assim, a cultura de um planeta permanece sempre presente no planeta e, sob as circunstâncias apropriadas, esse tesouro de memória de acontecimentos passados torna-se disponível, do mesmo modo que a história da vida e dos ensinamentos de Jesus foi dada, pelas criaturas intermediárias de Urântia, aos seus primos na carne.
77:9.10 (867.1) As criaturas intermediárias são os ministros hábeis que compensam a lacuna entre os assuntos materiais e os espirituais de Urântia, lacuna esta que surgiu com a morte de Adão e Eva. São igualmente as vossas irmãs mais velhas, camaradas na longa luta para atingir um status estabelecido de luz e vida em Urântia. As Criaturas Intermediárias Unidas são um corpo testado contra rebeliões; e elas irão fielmente cumprir a sua parte na evolução planetária até que este mundo atinja a meta das idades; até aquele dia distante em que, de fato, a paz reinar na Terra, e houver, de verdade, boa vontade nos corações dos homens.
77:9.11 (867.2) Devido ao valioso trabalho executado por essas criaturas, concluímos que elas são uma parte verdadeiramente essencial da economia espiritual dos reinos. E, nos mundos em que a rebelião não desfigurou os assuntos planetários, elas são de ajuda ainda maior para os serafins.
77:9.12 (867.3) Toda a organização dos espíritos elevados, das hostes angélicas, e das companheiras intermediárias está devotada entusiasticamente a realizar o plano do Paraíso, para a ascensão progressiva e a realização da perfeição dos mortais evolucionários, um dos assuntos supernos do universo — o magnífico plano de sobrevivência, de trazer Deus até o homem e então, por uma espécie sublime de associação, de elevar o homem até Deus e, mais adiante ainda, até a eternidade do serviço e de alcance da divindade — tanto para os mortais quanto para as criaturas intermediárias.
77:9.13 (867.4) [Apresentado por um Arcanjo de Nébadon.]
O Livro de Urântia
Documento 78
78:0.1 (868.1) O SEGUNDO Éden foi o berço da civilização durante quase trinta mil anos. Os povos Adâmicos mantiveram-se na Mesopotâmia, enviando de lá os seus descendentes para os confins da Terra e, mais tarde, miscigenados já com as tribos noditas e sangiques, ficaram conhecidos como anditas. Dessa região, partiram os homens e mulheres que iniciaram os feitos dos tempos históricos, e que tão enormemente aceleraram o progresso cultural em Urântia.
78:0.2 (868.2) Este documento descreve a história planetária da raça violeta, começando logo após a falta de Adão, por volta de 35 000 a.C., perdurando até a miscigenação dessa raça com as raças nodita e sangique, por volta de 15 000 a.C., para formar os povos anditas, até que desaparecessem finalmente das suas terras natais na Mesopotâmia, por volta de 2 000 a.C.
78:1.1 (868.3) Embora as mentes e a moral das raças estivessem em um nível bastante baixo na época da chegada de Adão, a sua evolução física teve continuidade, não tendo sido afetada pelas premências da rebelião de Caligástia. A contribuição de Adão para o status biológico das raças, não obstante um fracasso parcial do empreendimento, elevou enormemente os povos de Urântia.
78:1.2 (868.4) Adão e Eva também contribuíram muito com tudo o que havia de valor para o progresso social, moral e intelectual da humanidade; a civilização foi imensamente estimulada pela presença da sua progênie. Contudo, há trinta e cinco mil anos, o mundo possuía pouquíssima cultura, em geral. Alguns centros de civilização existiram aqui e ali, mas a maior parte de Urântia permanecia mergulhada na selvageria. A distribuição racial e cultural era a seguinte:
78:1.3 (868.5) 1. A raça violeta — os adamitas e os adamsonitas. O centro principal da cultura adamita estava localizado no segundo jardim, no triângulo formado pelos rios Tigre e Eufrates, de fato o berço das civilizações ocidental e indiana. O centro secundário da raça violeta, ao norte, era a sede-central dos adamsonitas, situada a leste da margem sulina do mar Cáspio, perto das montanhas de Kopet. Desses dois centros, a cultura e o plasma de vida dessa raça expandiram-se para as terras vizinhas, o que estimulou imediatamente todas as raças.
78:1.4 (868.6) 2. Os pré-sumérios e outros noditas. Na Mesopotâmia, estavam também presentes, perto da embocadura dos rios, os remanescentes da antiga cultura dos dias da Dalamátia. Com o passar dos milênios, esse grupo tornou-se plenamente miscigenado com os adamitas ao norte, mas nunca perdeu inteiramente as suas tradições noditas. Vários outros grupos noditas, que se haviam estabelecido no Levante, foram, em geral, absorvidos pela raça violeta no curso da sua expansão posterior.
78:1.5 (869.1) 3. Os andonitas mantiveram cinco ou seis colônias bastante representativas ao norte e a leste da sede-central dos adamsonitas. E, também, se espalharam pelo Turquestão, enquanto algumas das suas ilhas isoladas persistiram em toda a Eurásia, especialmente nas regiões montanhosas. Esses aborígines ocuparam, ainda, a parte norte do continente eurasiano, junto com a Islândia e a Groenlândia, mas, havia muito, tinham sido expulsos das planícies da Europa pelos homens azuis, e dos vales dos rios mais longínquos da Ásia, pela raça amarela que se expandia.
78:1.6 (869.2) 4. Os homens vermelhos ocuparam as Américas, havendo sido expulsos da Ásia mais de cinqüenta mil anos antes da chegada de Adão.
78:1.7 (869.3) 5. A raça amarela. Os povos chineses estavam bem estabelecidos no controle da Ásia Oriental. As suas colônias mais avançadas estavam situadas a nordeste da China moderna, nas regiões fronteiriças com o Tibete.
78:1.8 (869.4) 6. A raça azul. Os homens azuis encontravam-se espalhados por toda a Europa, mas os seus melhores centros de cultura situavam-se nos vales, então férteis, da bacia do Mediterrâneo e no noroeste da Europa. A absorção do homem de Neandertal, em grande parte, retardou a cultura dos homens azuis, todavia, por outro lado, eles eram os mais agressivos, aventureiros e os mais exploradores de todos os povos evolucionários da Eurásia.
78:1.9 (869.5) 7. A Índia pré-dravidiana. A complexa mistura de raças na Índia — abrangendo todas as raças da Terra e, especialmente, a verde, a alaranjada e a negra — manteve uma cultura ligeiramente acima daquela das regiões limítrofes.
78:1.10 (869.6) 8. A civilização do Saara. Os elementos superiores da raça índigo tiveram as suas colônias de maior progresso nas terras que agora formam o grande deserto do Saara. Esse grupo negro-índigo trazia extensivamente as linhagens das raças alaranjada e verde que submergiram.
78:1.11 (869.7) 9. A bacia do Mediterrâneo. A raça mais altamente miscigenada, fora da Índia, ocupava o que é agora a bacia do Mediterrâneo. Ali, os homens azuis do norte e os saarianos do sul encontraram-se e miscigenaram-se com os noditas e os adamitas do oriente.
78:1.12 (869.8) Esse era o panorama do mundo antes do início das grandes expansões da raça violeta, por volta de vinte e cinco mil anos atrás. A esperança futura de civilização repousava no segundo jardim, entre os rios da Mesopotâmia. No sudoeste da Ásia havia o potencial de uma grande civilização, a possibilidade da propagação, para o mundo, de idéias e de ideais que haviam sido salvos dos dias da Dalamátia e dos tempos do Éden.
78:1.13 (869.9) Adão e Eva haviam deixado atrás de si uma progênie limitada, mas poderosa; assim, os observadores celestes, em Urântia, aguardavam ansiosamente para descobrir como se comportariam esses descendentes do Filho e da Filha Materiais faltosos.
78:2.1 (869.10) Durante milhares de anos, os filhos de Adão trabalharam ao longo dos rios da Mesopotâmia, resolvendo ali os problemas de irrigação e controle de inundações ao sul, aperfeiçoando as suas defesas ao norte e tentando preservar as suas tradições de glória do primeiro Éden.
78:2.2 (869.11) O heroísmo demonstrado na liderança do segundo jardim constitui um dos épicos mais extraordinários e inspiradores da história de Urântia. Essas almas esplêndidas nunca perderam completamente de vista o propósito da missão Adâmica e, por isso, rechaçaram com valentia as influências das tribos vizinhas inferiores e, ao mesmo tempo, enviaram voluntariamente, em um fluxo constante, os seus filhos e filhas mais dotados como emissários, às raças da Terra. Algumas vezes, essa expansão esgotava a sua própria cultura, mas esses povos superiores sempre conseguiam reabilitar-se.
78:2.3 (870.1) O status da civilização, da sociedade e da cultura dos adamitas estava muito acima do nível geral das raças evolucionárias de Urântia. Apenas entre as antigas colônias de Van e Amadon, e entre os adamsonitas, havia uma civilização equiparável, de algum modo. No entanto, a civilização do segundo Éden foi uma estrutura artificial — não havia passado pela evolução — e, portanto, estava fadada a deteriorar-se até alcançar um nível natural de evolução.
78:2.4 (870.2) Adão deixou uma grande cultura intelectual e espiritual atrás de si, mas não era adiantada quanto aos instrumentos mecânicos, pois toda civilização é limitada pelos recursos naturais disponíveis, pela genialidade inata e por um lazer suficiente para assegurar que a inventividade dê frutos. A civilização da raça violeta teve como fundamento a presença de Adão e as tradições do primeiro Éden. Depois da morte de Adão e, à medida que essas tradições enfraqueceram com o passar dos milênios, o nível cultural dos adamitas deteriorou-se sem cessar até atingir um estado de equilíbrio, balanceado com o status dos povos vizinhos e com as capacidades naturais de evolução cultural da raça violeta.
78:2.5 (870.3) Contudo, os adamitas constituíam uma nação verdadeira, por volta de 19 000 a.C., contando com quatro milhões e meio de integrantes, e eles já haviam espalhado milhões de descendentes seus pelos povos vizinhos.
78:3.1 (870.4) Durante muitos milênios, a raça violeta conservou as tradições pacíficas do Éden; e isso explica a demora em efetivar conquistas territoriais. Quando sofreram a pressão do excesso de população, em vez de gerarem guerras para assegurar mais territórios, eles enviaram o excesso de habitantes como instrutores para as outras raças. Os efeitos culturais dessas primeiras migrações não perduraram, mas a absorção dos educadores, dos comerciantes e dos exploradores adamitas foi biologicamente revigorante para os povos vizinhos.
78:3.2 (870.5) Alguns dos adamitas logo viajaram para o oeste, até o vale do Nilo, outros penetraram a leste na Ásia, mas estes últimos foram uma minoria. O movimento maciço das épocas posteriores foi mais para o norte e dali para o oeste. No conjunto, foi uma leva gradual, mas incessante; a maior parte indo para o norte e, depois, contornando o mar Cáspio, indo para oeste e penetrando na Europa.
78:3.3 (870.6) Há cerca de vinte e cinco mil anos, um grande número de adamitas mais puros achava-se adiantado na sua rota para o norte. E, à medida que penetravam na direção norte, tornavam-se cada vez menos Adâmicos, até que, na época em que ocuparam o Turquestão, já estavam completamente misturados a outras raças, particularmente a dos noditas. Pouquíssimos da linhagem pura dos povos violetas chegaram a penetrar as terras remotas da Europa ou da Ásia.
78:3.4 (870.7) Entre 30 000 e 10 000 a.C., as misturas raciais, que marcaram época, estavam acontecendo no Sudoeste da Ásia. Os habitantes dos planaltos do Turquestão eram um povo viril e vigoroso. No noroeste da Índia, persistia uma boa parte da cultura dos dias de Van. E ainda, ao norte dessas colônias, o melhor dos andonitas primitivos havia sido conservado. E essas duas raças, de cultura e caráter superiores, foram absorvidas pelos adamitas que se deslocavam para o norte. Essa amalgamação levou à adoção de muitas idéias novas; facilitou o progresso da civilização e fez avançar, em muito, todas as manifestações da arte, da ciência e da cultura social.
78:3.5 (871.1) Quando terminou o período das primeiras migrações Adâmicas, por volta de 15 000 a.C., já havia mais descendentes de Adão na Europa e na Ásia Central do que em qualquer outro local do mundo, ultrapassando mesmo os da Mesopotâmia. As raças azuis européias haviam sofrido amplas impregnações. As terras agora denominadas Rússia e Turquestão foram ocupadas, em toda a sua extensão sul, por uma grande reserva de adamitas misturados aos noditas, andonitas e sangiques vermelhos e amarelos. A Europa do sul e a faixa mediterrânea foram ocupadas por uma raça mista de andonitas e de povos sangiques — alaranjados, verdes e índigos — com um toque da linhagem adamita. A Ásia Menor e as terras da Europa Central do leste foram ocupadas por tribos predominantemente andonitas.
78:3.6 (871.2) Nessa época, uma raça de cores combinadas, bastante reforçada por elementos que vieram da Mesopotâmia, estabeleceu-se no Egito e preparou-se para assumir a cultura em desaparecimento do vale do Eufrates. Os povos negros mudaram-se mais para o sul da África e, do mesmo modo que a raça vermelha, ficaram virtualmente isolados.
78:3.7 (871.3) A civilização do Saara havia sido dissipada pela seca; e a da bacia do Mediterrâneo, pelas enchentes. As raças azuis ainda não tinham tido êxito em desenvolver uma cultura avançada. Os andonitas ainda estavam dispersos nas regiões árticas e da Ásia Central. As raças verde e alaranjada haviam sido exterminadas, enquanto tais. A raça índigo encontrava-se a caminho do sul da África, para começar lá a sua lenta, longa e contínua deterioração racial.
78:3.8 (871.4) Os povos da Índia permaneceram estagnados, em uma civilização que não progredia; os homens amarelos estavam consolidando as suas posições na Ásia Central; o homem moreno ainda não havia iniciado a sua civilização nas ilhas próximas do oceano Pacífico.
78:3.9 (871.5) Essas distribuições raciais, associadas a mudanças climáticas abrangentes, prepararam o mundo para a inauguração da era andita da civilização de Urântia. Essas migrações primitivas prolongaram-se por um período de dez mil anos, desde 25 000 a 15 000 a.C. As migrações posteriores ou anditas aconteceram no período entre 15 000 e 6 000 a.C.
78:3.10 (871.6) Demorou tanto tempo para que as primeiras levas de adamitas atravessassem a Eurásia, que a sua cultura, em muito, ficou perdida no trânsito. Só os anditas que vieram mais tarde se deslocaram com velocidade suficiente para levar a cultura edênica a grandes distâncias da Mesopotâmia.
78:4.1 (871.7) As raças anditas foram a mistura primária da raça violeta, de linhagem pura, com os noditas, acrescidas dos povos evolucionários. Em geral, deve-se considerar os anditas como tendo uma percentagem muito maior de sangue Adâmico do que as raças modernas. No conjunto, o termo andita é usado para designar os povos cuja herança racial violeta é de um oitavo a um sexto. Os urantianos modernos, mesmo as raças brancas nórdicas, trazem muito menos do que essa percentagem do sangue de Adão.
78:4.2 (871.8) Os primeiros povos anditas tiveram origem nas regiões adjacentes à Mesopotâmia, há mais de vinte e cinco mil anos, e consistiam em uma combinação de adamitas e noditas. O segundo jardim estava cercado, em círculos concêntricos, pelo sangue violeta decrescente e foi na periferia desse foco de fusão racial que nasceu a raça andita. Mais tarde, quando os adamitas e os noditas, em migração, entraram nas regiões, então férteis do Turquestão, logo se misturaram aos habitantes superiores e a mistura racial resultante levou o tipo andita mais para o norte.
78:4.3 (872.1) Sob todos os pontos de vista, os anditas foram a melhor raça humana a surgir em Urântia, desde os dias dos povos violetas de linhagem pura. Eles englobavam a maior parte dos tipos superiores dos remanescentes, que sobreviveram, das raças adamitas e noditas e, mais tarde, de algumas das melhores linhagens de homens amarelos, azuis e verdes.
78:4.4 (872.2) Esses anditas primitivos não eram arianos, eles eram pré-arianos. Não eram brancos, eram pré-brancos. E não eram nem um povo ocidental, nem oriental. É a herança andita, todavia, que confere à mistura poliglota, das chamadas raças brancas, aquela homogeneidade generalizada que tem sido chamada de caucasóide.
78:4.5 (872.3) As linhagens mais puras da raça violeta traziam consigo a tradição Adâmica da busca da paz, o que explica por que os primeiros deslocamentos das raças haviam sido migrações de natureza mais pacífica. À medida, porém, que os adamitas se uniram às raças noditas, as quais nessa época eram raças beligerantes, os seus descendentes anditas tornaram-se, para a sua época, os mais hábeis e sagazes militaristas que jamais viveram em Urântia. Os deslocamentos que os mesopotâmios fizeram, a partir daí, tinham, cada vez mais, as características militares e tornaram-se mais semelhantes às verdadeiras conquistas.
78:4.6 (872.4) Esses anditas eram aventureiros; de natureza nômade. Um aumento do sangue sangique ou andonita tendia a estabilizá-los. Contudo, ainda assim, os seus descendentes mais recentes nunca descansaram até que houvessem circunavegado pelo globo e descoberto o último dos continentes remotos.
78:5.1 (872.5) A cultura do segundo jardim perdurou por vinte mil anos, mas experimentou um declínio contínuo até cerca do ano 15 000 a.C., quando o renascimento do sacerdócio setita e a liderança de Amosad inauguraram uma era brilhante. As ondas maciças de civilização que mais tarde se espalharam pela Eurásia seguiram, imediatamente, a grande renascença do Jardim, conseqüente das numerosas uniões dos adamitas com os noditas misturados dos arredores, para formar os anditas.
78:5.2 (872.6) Esses anditas inauguraram novos avanços em toda a Eurásia e no norte da África. Da Mesopotâmia até o Sinquiang, a cultura andita era dominante, e a contínua migração para a Europa era constantemente reposta pelas novas levas chegadas da Mesopotâmia. Não seria correto, porém, falar dos anditas, na Mesopotâmia, como uma raça propriamente dita, antes do começo das migrações finais dos descendentes mistos de Adão. Nessa época, mesmo as raças do segundo jardim haviam-se tornado tão misturadas que não mais podiam ser consideradas adamitas.
78:5.3 (872.7) A civilização do Turquestão estava sendo constantemente vivificada e renovada por levas recém-chegadas da Mesopotâmia, especialmente de cavaleiros anditas mais recentes. A língua mãe, chamada ariana, estava em processo de formação nos planaltos do Turquestão; era uma mistura do dialeto andônico daquela região com a língua dos adamsonitas e dos anditas posteriores. Muitas das línguas modernas são derivadas da fala primitiva dessas tribos da Ásia Central que conquistaram a Europa, a Índia, e a parte de cima das planícies da Mesopotâmia. Essa língua antiga emprestou aos idiomas ocidentais toda aquela similaridade que os faz serem chamados todos de arianos.
78:5.4 (872.8) Por volta de 12 000 a.C., três quartos das raças anditas do mundo residiam no norte e no leste da Europa e, quando aconteceu o êxodo posterior final da Mesopotâmia, sessenta e cinco por cento dessas últimas ondas de emigração entraram na Europa.
78:5.5 (873.1) Os anditas não apenas migraram para a Europa, como para o norte da China e da Índia e muitos grupos penetraram nos confins da Terra, como missionários, educadores e comerciantes. Levaram uma contribuição considerável aos grupos de povos sangiques, no norte do Saara. Entretanto, apenas uns poucos educadores e comerciantes conseguiram penetrar na África, mais para o sul da cabeceira do Nilo. Mais tarde, indivíduos miscigenados anditas e egípcios seguiram, descendo para as costas leste e oeste da África, até abaixo do equador, mas não chegaram a Madagascar
78:5.6 (873.2) Esses anditas foram os conquistadores da Índia, chamados dravidianos e, mais tarde, arianos; e a sua presença na Ásia Central elevou grandemente os ancestrais dos turanianos. Dessa raça, muitos viajaram para a China, tanto pelo Sinquiang, quanto pelo Tibete; e acrescentaram qualidades apreciáveis às raças chinesas posteriores. De tempos em tempos, pequenos grupos chegavam até o Japão, Formosa, Índias Orientais e China do sul; se bem que poucos houvessem entrado na parte sulina da China pela via costeira.
78:5.7 (873.3) Cento e trinta e dois membros dessa raça, embarcados em uma frota de barcos pequenos vindos do Japão, finalmente alcançaram a América do Sul e, por meio de casamentos com os nativos dos Andes, deram nascimento aos ancestrais dos governantes posteriores dos Incas. Eles cruzaram o oceano Pacífico por etapas curtas, permanecendo nas muitas ilhas que achavam pelo caminho. As ilhas do grupo da Polinésia eram mais numerosas e maiores do que agora, e esses navegadores anditas, junto com alguns dos que os seguiram, modificaram biologicamente os grupos nativos durante o seu trânsito. Muitos centros de civilização florescentes surgiram nessas que agora são terras submersas, como resultado da penetração andita. A ilha de Páscoa, há muito, havia sido um centro administrativo e religioso de um desses grupos perdidos. Contudo, dos anditas que navegaram o Pacífico, de muito tempo atrás, apenas cento e trinta e dois chegaram às terras continentais das Américas.
78:5.8 (873.4) As conquistas migratórias dos anditas continuaram até a sua dispersão final, entre 8 000 e 6 000 a.C. À medida que saíam da Mesopotâmia, eles esgotavam continuamente as reservas biológicas da sua origem e fortaleciam visivelmente os povos vizinhos. E, em cada nação para onde viajaram, contribuíram com o humor, a arte, a aventura, a música e os manufaturados. Eles eram hábeis domesticadores de animais e especialistas em agricultura. Ao menos naquela época, a presença deles em geral melhorava as crenças religiosas e as práticas morais das raças mais antigas. E, assim, a cultura da Mesopotâmia espalhou-se calmamente pela Europa, Índia, China, norte da África e pelas Ilhas do Pacífico.
78:6.1 (873.5) As três últimas ondas de anditas deixaram a Mesopotâmia entre 8 000 e 6 000 a.C. Essas três grandes ondas de cultura saíram de um modo forçado da Mesopotâmia, pela pressão das tribos das colinas, no sentido leste, e da hostilidade dos homens das planícies do oeste. Os habitantes do vale do Eufrates e dos territórios adjacentes fizeram o seu êxodo final em várias direções:
78:6.2 (873.6) Sessenta e cinco por cento deles entraram na Europa pelo caminho do mar Cáspio, para conquistar as raças brancas recém-surgidas — em uma combinação dos homens azuis e dos anditas primitivos — e para amalgamar-se com elas.
78:6.3 (873.7) Dez por cento, incluindo um grupo grande de sacerdotes setitas, mudaram-se para o leste, atravessando os planaltos elamitas e indo até o planalto iraniano e o Turquestão. Muitos dos seus descendentes, mais tarde, encaminharam-se para a Índia junto com os seus irmãos arianos das regiões mais setentrionais.
78:6.4 (874.1) Dez por cento dos mesopotâmios voltaram-se para o leste, durante a sua trajetória para o norte, entrando em Sinquiang, onde se fundiram com os habitantes anditas amarelos. A maioria da progênie, bem-dotada, dessa união racial entrou, mais tarde, na China e contribuiu muito para o melhoramento imediato do ramo nortista da raça amarela.
78:6.5 (874.2) Dez por cento desses anditas em fuga encaminharam-se para a Arábia e entraram no Egito.
78:6.6 (874.3) Cinco por cento dos anditas da cultura mais elevada do distrito costeiro junto às embocaduras do Tigre e do Eufrates, os quais não se haviam misturado com as tribos inferiores vizinhas, recusaram-se a deixar a sua terra natal. Esse grupo representou a sobrevivência de muitas linhagens superiores de noditas e de adamitas.
78:6.7 (874.4) Os anditas haviam evacuado quase inteiramente essa região, por volta de 6 000 a.C.; embora os seus descendentes, amplamente miscigenados com as raças sangiques vizinhas e com os andonitas da Ásia Menor, estivessem ali para batalhar contra os invasores do norte e do leste, em uma época posterior.
78:6.8 (874.5) A idade cultural do segundo jardim terminou por causa da infiltração crescente das linhagens inferiores vizinhas. A civilização mudou-se para o oeste, no Nilo, e para as ilhas do Mediterrâneo, onde continuou a progredir e a avançar até muito depois da deterioração da sua fonte de origem, na Mesopotâmia. E esse afluxo descontrolado de povos inferiores preparou o caminho para as futuras conquistas, de toda a Mesopotâmia, pelos bárbaros do norte, os quais puseram fim à linhagem residual de maior capacidade. Mesmo em anos posteriores, os resíduos culturais ainda ressentiam-se da presença desses invasores toscos e ignorantes.
78:7.1 (874.6) Os moradores ribeirinhos estavam acostumados às inundações nas margens dos rios em certas estações; essas enchentes periódicas eram acontecimentos anuais nas suas vidas. Contudo, perigos novos ameaçavam o vale da Mesopotâmia, por causa das alterações geológicas progressivas ao norte.
78:7.2 (874.7) Por milhares de anos, depois que o primeiro Éden submergira, as montanhas na costa leste do Mediterrâneo e aquelas a noroeste e a nordeste da Mesopotâmia continuaram a elevar-se. Essa elevação dos planaltos foi bastante acelerada por volta de 5 000 a.C., e isso, junto com o aumento da precipitação de neve nas montanhas ao norte, causou enchentes sem precedentes em todas as primaveras, em todo o vale do Eufrates. Essas enchentes nas primaveras tornaram-se cada vez piores, até que finalmente os habitantes das regiões ribeirinhas tiveram de mudar-se para os planaltos a leste. Por quase mil anos, dezenas de cidades ficaram praticamente desertas em conseqüência desses dilúvios.
78:7.3 (874.8) Quase cinco mil anos depois, quando os sacerdotes hebreus em cativeiro na Babilônia, buscaram ligar a Adão a origem do povo judeu, encontraram uma grande dificuldade em reconstituir a história. Então ocorreu a um deles abandonar esse esforço, deixar que o mundo inteiro afundasse na própria perversidade, à época da enchente de Noé, e ficar, assim, em uma posição melhor para atribuir a origem de Abraão a um dos três filhos sobreviventes de Noé.
78:7.4 (875.1) As tradições de uma época em que a água cobria toda a superfície da Terra são universais. Muitas raças alimentam a história de uma enchente de amplidão mundial, em alguma época das idades passadas. A história bíblica de Noé, da arca e da enchente, é uma invenção do sacerdócio hebreu durante o seu cativeiro na Babilônia. Nunca houve uma enchente universal, desde que a vida foi estabelecida em Urântia. A única época em que a superfície da Terra esteve completamente coberta pela água foi durante as idades arqueozóicas, antes que as terras começassem a aparecer.
78:7.5 (875.2) Entretanto, Noé existiu realmente; foi um fabricante de vinho em Aram, uma colônia junto ao rio, perto de Erec. Ele mantinha um registro escrito dos dias de alta do rio, ano após ano. Chegou a ser bastante ridicularizado, quando subia e descia o vale do rio, advogando que todas as casas devessem ser feitas de madeira, no feitio de barcos; e que os animais da família fossem colocados a bordo todas as noites, quando se aproximasse a estação das enchentes. Ia, todos os anos, às colônias ribeirinhas da vizinhança prevenir sobre enchentes que, chegariam dentro de alguns dias. Finalmente, veio um ano no qual as enchentes anuais aumentaram bastante, por causa de uma chuva anormalmente pesada, de modo que a súbita elevação das águas levou toda a aldeia; apenas Noé e os mais próximos, na sua família, salvaram-se na sua casa flutuante.
78:7.6 (875.3) Essas enchentes completaram a dissolução da civilização andita. Ao fim desse período de dilúvio, o segundo jardim não existia mais. Apenas no sul, e entre os sumérios, alguns vestígios da glória anterior prevaleceram.
78:7.7 (875.4) Os remanescentes dessa civilização, uma das mais antigas, podem ser encontrados nessas regiões da Mesopotâmia, bem como a nordeste e a noroeste delas. Contudo, vestígios ainda mais antigos dos dias da Dalamátia existem sob as águas do golfo Pérsico; e o primeiro Éden está submerso na extremidade leste do mar Mediterrâneo.
78:8.1 (875.5) Quando a última dispersão andita alquebrou a espinha dorsal biológica da civilização da Mesopotâmia, uma pequena minoria dessa raça superior permaneceu na sua região natal, próxima das embocaduras dos rios. Esses foram os sumérios e, por volta de 6 000 a.C., eles haviam-se tornado uma descendência amplamente andita, embora a sua cultura tivesse um caráter mais exclusivamente nodita e eles se ativessem às antigas tradições da Dalamátia. Esses sumérios das regiões da costa, entretanto, eram os últimos anditas na Mesopotâmia. Contudo, as raças da Mesopotâmia já estavam intensamente mescladas nessa época, como fica evidenciado pelos tipos de crânios encontrados nos túmulos dessa era.
78:8.2 (875.6) Foi durante a época das enchentes que Susa prosperou intensamente. A primeira cidade, de altitude menos elevada, foi inundada, de modo tal que o segundo núcleo, ou o mais alto, sucedeu à parte baixa como sede do artesanato, bastante peculiar, daqueles dias. Com a diminuição posterior das enchentes, Ur tornou-se o centro da indústria de cerâmica. Por volta de sete mil anos atrás, Ur localizava-se no golfo Pérsico; as aluviões fluviais que se depositaram ali elevaram, desde então, as terras até os seus limites atuais. Essas colônias sofreram menos durante as enchentes por causa das obras de proteção e controle e em função da maior abertura na embocadura dos rios.
78:8.3 (875.7) Os pacíficos cultivadores de grãos dos vales do Eufrates e do Tigre há muito vinham sendo fustigados pelas incursões dos bárbaros do Turquestão e do planalto iraniano. Agora, porém, uma invasão planejada do vale do Eufrates era provocada pelo aumento da seca nos pastos dos planaltos. E essa invasão foi ainda mais séria porque os pastores e os caçadores dos arredores possuíam muitos cavalos domados. Foi a posse dos cavalos que lhes deu uma grande vantagem militar sobre os seus ricos vizinhos do sul. Em pouco tempo eles invadiram toda a Mesopotâmia, expulsando as últimas ondas de cultura, as quais se espalharam por toda a Europa, pelo oeste da Ásia e pelo norte da África.
78:8.4 (876.1) Esses conquistadores da Mesopotâmia levavam, nas suas fileiras, muitas das melhores linhagens anditas das raças miscigenadas do norte do Turquestão, incluindo algumas das linhagens de Adamson. Essas tribos menos avançadas, mas mais vigorosas do norte, rapidamente, e com grande disposição, assimilaram os resíduos da civilização da Mesopotâmia. E logo formaram aqueles povos híbridos encontrados no vale do Eufrates, no começo dos anais da história. E logo reviveram muitas fases da civilização moribunda da Mesopotâmia, incorporando as artes das tribos do vale e grande parte da cultura dos sumérios. Intentaram até mesmo construir a terceira torre de Babel e, mais tarde, adotaram o termo como nome para a sua nação.
78:8.5 (876.2) Quando esses cavaleiros bárbaros do nordeste invadiram todo o vale do Eufrates, eles não conquistaram os remanescentes dos anditas que habitavam as cercanias da embocadura do rio, no golfo Pérsico. Por causa da sua inteligência superior, esses sumérios foram capazes de defender-se com armas melhores e com o seu amplo sistema de canais militares, o qual era um complemento do esquema de irrigação, feito por meio de tanques de intercomunicação. E formavam um povo unido, porque possuíam uma religião grupal única. Assim, foram capazes de manter a sua integridade racial e nacional, até muito tempo depois de os vizinhos do noroeste haverem sido fragmentados, em cidades-estados isoladas. Nenhum desses grupos de cidades foi capaz de superar os sumérios unificados.
78:8.6 (876.3) E os invasores do norte logo aprenderam a confiar neles, e a dar valor a esses sumérios amantes da paz, pois eram educadores e administradores hábeis. Eram muito respeitados e procurados como instrutores de arte e trabalhos industriais, como diretores comerciais e como governantes civis, por todos os povos do norte e do Egito, a oeste, e até a Índia, a leste.
78:8.7 (876.4) Após a queda da primeira confederação suméria, as cidades-estados posteriores foram governadas pelos descendentes apóstatas dos sacerdotes setitas. E só depois de conquistarem as cidades da vizinhança é que esses sacerdotes denominaram-se reis. Os reis posteriores das cidades não conseguiram formar uma confederação poderosa antes dos dias de Sargon, por causa dos ciúmes que uns tinham das deidades dos outros. Cada cidade acreditava que o seu deus municipal fosse superior a todos os outros deuses e, conseqüentemente, recusava subordinar-se a qualquer liderança comum.
78:8.8 (876.5) Esse longo período de governo fraco dos sacerdotes citadinos terminou com Sargon, o sacerdote de Kish, que se proclamou rei e iniciou a conquista de toda a Mesopotâmia e terras adjacentes. E, durante um certo período, isso acabou com as cidades-estados, governadas e tiranizadas por sacerdotes; cada cidade tendo o seu próprio deus municipal e práticas cerimoniais próprias.
78:8.9 (876.6) Após o rompimento dessa confederação Kish, seguiu-se um período longo de guerras constantes entre essas cidades dos vales, na disputa da supremacia, que se alternou entre Sumer, Akad, Kish, Erec, Ur e Susa.
78:8.10 (876.7) Por volta de 2 500 a.C., os sumérios sofreram sérios reveses nas mãos dos suítas e guitas do norte. Lagash, a capital suméria construída sobre as terras das aluviões das enchentes, caiu. Erec manteve-se por trinta anos após a queda de Akad. Na época do estabelecimento do governo de Hamurabi, os sumérios haviam sido absorvidos pelas fileiras dos semitas do norte, e os anditas da Mesopotâmia foram apagados das páginas da história.
78:8.11 (877.1) De 2 500 até 2 000 a.C., os nômades andaram fazendo estragos desde o oceano Atlântico até o Pacífico. Foi com os neritas que se deu a investida final contra o grupo do mar Cáspio, de descendentes mesopotâmios das raças anditas e andonitas miscigenadas. Tudo aquilo que os bárbaros deixaram de arruinar na Mesopotâmia, as mudanças climáticas subseqüentes fizeram-no com êxito.
78:8.12 (877.2) E essa é a história da raça violeta, depois dos dias de Adão, e do destino que teve a sua terra natal, entre o Tigre e o Eufrates. A sua antiga civilização finalmente caiu, devido à emigração dos povos superiores e da imigração de seus vizinhos inferiores. Contudo, muito antes de haverem, as cavalarias bárbaras, conquistado o vale, grande parte da cultura do Jardim já se havia propagado até a Ásia, a África e a Europa, para ali produzir os fermentos que resultaram na civilização do século vinte de Urântia.
78:8.13 (877.3) [Apresentado por um Arcanjo de Nébadon.]
O Livro de Urântia
Documento 79
79:0.1 (878.1) A ÁSIA é o berço da raça humana. Foi em uma península do sul desse continente que Andon e Fonta nasceram; nos planaltos daquilo que agora é o Afeganistão, os seus descendentes badonan fundaram um centro primitivo de cultura que subsistiu por mais de meio milhão de anos. Nesse foco oriental da raça humana, os povos sangiques diferenciaram-se da linhagem andônica, e a Ásia foi o seu primeiro lar, o seu primeiro território de caça e o seu primeiro campo de batalha. A parte sudoeste da Ásia testemunhou as civilizações dos dalamatianos, dos noditas, dos adamitas e dos anditas sucederem-se; partindo dessas regiões, o potencial da civilização moderna espalhou-se pelo mundo.
79:1.1 (878.2) Por mais de vinte e cinco mil anos, até quase 2000 a.C., o centro da Eurásia era predominantemente andita, embora isso estivesse diminuindo. Nas terras baixas do Turquestão, os anditas voltaram-se para o oeste, contornando os lagos interiores na direção da Europa e, partindo dos planaltos dessa região, infiltraram-se na direção leste. O Turquestão oriental (o Sinkiang) e, em uma extensão menor, o Tibete, foram as entradas antigas através das quais esses povos da Mesopotâmia penetraram nas montanhas, indo até as terras setentrionais dos homens amarelos. A infiltração andita na Índia veio dos planaltos do Turquestão, até o Punjab e, dos pastos iranianos, passando através do Beluchistão. Essas primeiras migrações não foram conquistas, em nenhum sentido, foram, antes, a corrente contínua das tribos anditas indo para a Índia ocidental e para a China.
79:1.2 (878.3) Durante quase quinze mil anos, os centros de cultura mista andita perduraram na bacia do rio Tarim, no Sinkiang e, para o sul, nas regiões dos planaltos do Tibete, onde amplamente os anditas e os andonitas miscigenaram-se. O vale do Tarim era, a leste, o posto fronteiriço da verdadeira cultura andita. Ali construíram as suas colônias e mantiveram relações de comércio com os chineses desenvolvidos, a leste, e com os andonitas, ao norte. Naquela época, a região do Tarim tinha uma terra fértil; as chuvas eram abundantes. A leste, o Gobi era uma terra de gramagens abertas, onde os pastores gradativamente voltavam-se para a agricultura. Essa civilização pereceu quando os ventos chuvosos passaram a soprar para o sudoeste, entretanto, nos seus bons dias, ela rivalizava com a própria Mesopotâmia.
79:1.3 (878.4) Por volta de 8000 a.C., a aridez vagarosamente crescente das regiões dos planaltos da Ásia Central começou a expulsar os anditas para os fundos dos vales e as costas marítimas. Essa seca crescente não apenas os levou para os vales do Nilo, do Eufrates, dos rios Indo e Amarelo, como também provocou um novo desenvolvimento na civilização andita. Uma nova espécie de homens, os comerciantes, começou a aparecer em grande quantidade.
79:1.4 (879.1) Quando as condições climáticas tornaram a caça desvantajosa para os anditas migrantes, eles não seguiram o curso evolucionário das raças mais antigas, tornando-se pastores. O comércio e a vida urbana surgiram. Do Egito, através da Mesopotâmia e do Turquestão, até os rios da China e da Índia, as tribos mais altamente civilizadas começaram a concentrar-se nas cidades consagradas à manufatura e ao comércio. Adônia, localizada perto da atual cidade de Askabad, tornou-se a metrópole comercial da Ásia Central. O comércio de pedras, metal, madeira e cerâmica acelerou-se tanto por via terrestre quanto pela fluvial.
79:1.5 (879.2) Contudo, a seca sempre crescente, trouxe gradualmente um grande êxodo andita das terras do sul e do leste do mar Cáspio. A maré de migração começou a mudar da direção norte para o sul, e os cavaleiros da Babilônia começaram a invadir a Mesopotâmia.
79:1.6 (879.3) A aridez crescente na Ásia Central colaborou ainda mais para reduzir a população e para tornar esse povo menos guerreiro; e, quando as chuvas decrescentes, ao norte, forçaram os andonitas nômades a irem para o sul, houve um êxodo prodigioso de anditas do Turquestão. Esse foi o movimento final, dos chamados arianos, para o levante e para a Índia. Esse movimento marcou o ápice daquela longa dispersão dos descendentes miscigenados de Adão, durante a qual todos os povos asiáticos e a maioria dos povos das ilhas do Pacífico foram, em uma certa medida, aperfeiçoados por essas raças superiores.
79:1.7 (879.4) Assim, ao dispersarem-se no hemisfério oriental, os anditas ficaram desprovidos das suas terras originais na Mesopotâmia e no Turquestão, pois foi esse movimento abrangente dos andonitas para o sul que diluiu os anditas na Ásia Central quase até o seu desaparecimento.
79:1.8 (879.5) Contudo, no século vinte, depois de Cristo, ainda há traços de sangue andita entre os povos turanianos e tibetanos, como é testemunhado pelos tipos louros que ocasionalmente são encontráveis nessas regiões. Os anais primitivos dos chineses registram a presença de nômades de cabelos vermelhos ao norte das pacíficas colônias do rio Amarelo, e ainda há pinturas que registram fielmente a presença tanto do tipo andita louro quanto dos tipos mongóis morenos na bacia do Tarim de muito tempo atrás.
79:1.9 (879.6) A última grande manifestação do gênio militar submergido dos anditas da Ásia Central ocorreu em 1200 d.C., quando os mongóis, sob o comando de Gengis Khan, começaram a conquista da maior parte do continente asiático. E, como os anditas do passado, esses guerreiros proclamavam a existência de “um só Deus no céu”. A dissolução prematura do seu império retardou em muito o intercâmbio cultural, entre o Ocidente e o Oriente, e foi um grande obstáculo ao crescimento do conceito monoteísta na Ásia.
79:2.1 (879.7) A Índia é o único local em que todas as raças de Urântia foram miscigenadas, a invasão andita trazendo a última contribuição. Nos planaltos a noroeste da Índia, as raças sangiques vieram à existência e, sem exceção, os membros de cada raça penetraram no subcontinente da Índia, nos seus primórdios, deixando atrás de si a mais heterogênea mistura de raças que existe em Urântia. A Índia antiga atuou como uma bacia coletora para as raças em migração. A base da península anteriormente era um pouco mais estreita do que é agora, grande parte dos deltas do Ganges e do Indo sendo um trabalho dos últimos cinqüenta mil anos.
79:2.2 (879.8) As mais antigas misturas de raças na Índia formam uma combinação de raças vermelhas e amarelas migratórias com os andonitas aborígines. Esse grupo foi enfraquecido, posteriormente, quando absorveu maior porção dos extintos povos verdes do leste, bem como um grande número da raça laranja. O grupo foi ligeiramente aperfeiçoado por meio de uma miscigenação limitada com os homens azuis, mas sofreu excessivamente com a assimilação de grande número de membros da raça índigo. Todavia, os chamados aborígines da Índia dificilmente são representativos desse povo primitivo; eles são, antes, a facção sulina, inferior e oriental, que nunca foi plenamente absorvida pelos anditas primitivos, nem pelos seus primos arianos a surgirem mais tarde.
79:2.3 (880.1) Por volta de 20 000 a.C., a população da parte ocidental da Índia já se havia tornado matizada pelo sangue Adâmico e, nunca na história de Urântia, qualquer povo combinou tantas raças diferentes. Infelizmente, porém, as linhagens sangiques secundárias predominaram, e foi uma verdadeira calamidade que as raças azul e vermelha estivessem tão amplamente ausentes dessa fusão racial do passado longínquo. Se tivesse havido mais linhagens sangiques primárias, elas teriam contribuído muito para o engrandecimento do que poderia ter sido uma civilização ainda mais desenvolvida. A situação desenvolveu-se assim: o homem vermelho foi destruindo a si próprio nas Américas, o homem azul espalhava-se pela Europa, e os descendentes primitivos de Adão (e a maioria dos posteriores) demonstravam pouco desejo de miscigenação com os povos de cores mais escuras, fosse na Índia, África ou outros lugares.
79:2.4 (880.2) Por volta de 15 000 a.C., o impulso de uma população crescente no Turquestão e no Irã ocasionou o primeiro movimento andita realmente extenso na direção da Índia. Durante quase quinze séculos, esses povos superiores afluíram para os planaltos do Beluchistão, espalhando-se pelos vales do Indo e do Ganges, indo vagarosamente para o sul, pelo Decã adentro. Essa pressão andita vinda do noroeste levou muitas das linhagens inferiores do sul e do leste para a Birmânia e para o sul da China, mas não o suficiente para salvar os invasores da obliteração racial.
79:2.5 (880.3) A Índia não teve êxito em conseguir a hegemonia da Eurásia, em boa medida por uma questão quase que de topografia; a pressão da população vinda do norte apenas levou a maioria do povo para o sul, para o território decrescente do Decã, cercado pelo mar de todos os lados. Se houvessem existido terras adjacentes para a emigração, as raças inferiores teriam sido expulsas para todas as direções, e as linhagens superiores teriam alcançado uma civilização mais elevada.
79:2.6 (880.4) O que ocorreu foi que esses conquistadores anditas primitivos fizeram um esforço desesperado para preservar a sua identidade e para estancar a maré de engolfamento racial, com o estabelecimento de restrições rígidas para os casamentos inter-raciais. Entretanto, por volta de 10 000 a.C, os anditas haviam sido absorvidos, mas toda a massa do povo havia sido amplamente aperfeiçoada por essa absorção.
79:2.7 (880.5) A mistura das raças é sempre vantajosa, pelo favorecimento da versatilidade da cultura e pela contribuição para uma civilização mais desenvolvida, entretanto, se predominarem os elementos inferiores das linhagens raciais, essas realizações não duram muito tempo. Uma cultura poliglota pode ser preservada apenas se as linhagens superiores se reproduzirem com uma margem suficiente de segurança sobre a inferior. A multiplicação irrestrita dos inferiores é infalivelmente suicida para a civilização cultural, se a reprodução dos superiores for decrescente.
79:2.8 (880.6) Se os conquistadores houvessem ultrapassado em três vezes o próprio número, ou se eles houvessem expulsado ou destruído a terça parte menos desejável dos habitantes alaranjado-verde-índigos, então a Índia ter-se-ia tornado um dos principais centros mundiais de civilização cultural e teria, indubitavelmente, atraído mais das ondas posteriores dos mesopotâmios que fluíram para o Turquestão e dali para o norte, até a Europa.
79:3.1 (881.1) A mesclagem dos conquistadores anditas da Índia com as raças nativas resultou, finalmente, naquele povo misturado que tem sido chamado de dravidiano. Os dravidianos mais primitivos e mais puros possuíam uma capacidade grande para conquistas culturais, a qual foi continuamente sendo enfraquecida à medida que a sua herança andita tornou-se cada vez mais atenuada. E foi isso o que condenou essa civilização embrionária da Índia há quase doze mil anos. Todavia, a infusão do sangue de Adão, mesmo em pequena quantidade, produziu uma aceleração bem marcada no desenvolvimento social. Essa linhagem composta produziu, imediatamente, então, a mais versátil civilização na Terra.
79:3.2 (881.2) Não muito depois de conquistar a Índia, os anditas dravidianos perderam o contato racial e cultural com a Mesopotâmia, mas a abertura posterior de linhas marítimas e rotas para as caravanas restabeleceram tais conexões; em nenhum momento, dentro dos últimos dez mil anos, a Índia esteve inteiramente fora de contato com a Mesopotâmia, a oeste, e com a China, a leste, embora as barreiras das montanhas houvessem favorecido grandemente as relações com o oeste.
79:3.3 (881.3) A cultura e os ensinamentos religiosos superiores dos povos da Índia datam dos primeiros tempos do domínio dravidiano e são devidos, em parte, ao fato de tantos sacerdotes setitas haverem entrado na Índia, tanto na invasão inicial dos anditas quanto na invasão posterior ariana. O fio do monoteísmo que atravessa a história religiosa da Índia vem, então, dos ensinamentos dos adamitas no segundo jardim.
79:3.4 (881.4) Desde 16 000 a.C., um grupo de cem sacerdotes setitas entrou na Índia e quase conquistou religiosamente a metade oeste daquele povo poliglota, mas a sua religião não perdurou. Depois de cinco mil anos, as suas doutrinas da Trindade do Paraíso haviam-se degenerado no símbolo trino do deus do fogo.
79:3.5 (881.5) Todavia, durante mais de sete mil anos, até o fim das migrações anditas, o status religioso dos habitantes da Índia esteve muito acima daquele do resto do mundo em geral. Durante esses tempos, a Índia prometera produzir a civilização cultural, religiosa, filosófica e comercial líder do mundo. E não fora pela completa absorção dos anditas pelos povos do sul, esse destino provavelmente ter-se-ia realizado.
79:3.6 (881.6) Os centros dravidianos de cultura localizavam-se nos vales dos rios, principalmente do Indo e do Ganges e, no Decã, ao longo dos três grandes rios que fluem através dos Gates orientais, até o mar. As colônias ao longo da costa marítima dos Gates ocidentais deviam a sua proeminência às relações marítimas com a Suméria.
79:3.7 (881.7) Os dravidianos estavam entre os primeiros povos a construírem cidades e entrarem extensivamente no negócio de exportação e importação, por terra e mar. Por volta de 7000 a.C., caravanas de camelos estavam fazendo viagens regulares à distante Mesopotâmia e os navios dos dravidianos avançaram pela costa, atravessando o mar da Arábia, até as cidades sumérias do golfo Pérsico, e aventurando-se pelas águas da baía de Bengala até as Índias Orientais. Um alfabeto, junto com a arte de escrever, foi importado da Suméria por esses navegantes e mercadores.
79:3.8 (881.8) Essas relações comerciais contribuíram grandemente para a maior diversificação de uma cultura cosmopolita, resultando no primeiro aparecimento de muitos refinamentos e mesmo dos luxos da vida urbana. Quando os arianos que vieram depois entraram na Índia, eles não reconheceram, nos dravidianos, os seus primos anditas submergidos nas raças sangiques, mas encontraram uma civilização bem avançada. Apesar das limitações biológicas, os dravidianos fundaram uma civilização superior, que foi bem difundida em toda a Índia e sobreviveu, no Decã, até os tempos modernos.
79:4.1 (882.1) A segunda penetração andita na Índia foi a invasão ariana durante um período de quase quinhentos anos, no meio do terceiro milênio antes de Cristo. Essa migração marcou o êxodo terminal dos anditas das suas terras natais no Turquestão.
79:4.2 (882.2) Os centros arianos iniciais estavam espalhados pela metade norte da Índia, notadamente a noroeste. Esses invasores nunca completaram a conquista do país, e a sua negligência causou o seu fracasso posterior. Por serem em menor número, tornaram-se vulneráveis e foram absorvidos pelos dravidianos do sul, que se espalharam mais tarde, por toda a península, exceto as províncias do Himalaia.
79:4.3 (882.3) Os arianos exerceram pouca influência racial sobre a Índia, exceto nas províncias do norte. No Decã, a sua influência foi mais cultural e religiosa do que racial. A maior persistência do chamado sangue ariano no norte da Índia não é devida apenas à sua presença em maior número nessas regiões, mas também ao fato de que eles foram reforçados, ulteriormente, por novos conquistadores, comerciantes e missionários. Até o primeiro século antes de Cristo, havia uma infiltração contínua de sangue ariano no Punjab, sendo que o último influxo acompanhou as campanhas dos povos helênicos.
79:4.4 (882.4) Na planície do Ganges, os arianos e os dravidianos finalmente misturaram-se, produzindo uma cultura elevada, sendo esse centro reforçado por contribuições do nordeste, vindas da China.
79:4.5 (882.5) Na Índia, muitos tipos de organizações sociais floresceram, de tempos em tempos, indo dos sistemas semidemocráticos dos arianos às formas despóticas e monárquicas de governo. Todavia, o aspecto mais característico dessa sociedade foi a persistência de grandes castas sociais, que foram instituídas pelos arianos em um esforço para perpetuar a identidade racial. Esse sistema elaborado de castas tem sido preservado até a época presente.
79:4.6 (882.6) Das quatro grandes castas, afora a primeira, foram todas estabelecidas em um esforço, de antemão condenado ao fracasso, para impedir a amalgamação social dos conquistadores arianos com os seus súditos inferiores. Contudo, a primeira casta, a dos instrutores-sacerdotes, provém dos setitas; os brâmanes do século vinte da era cristã são descendentes culturais, em linha direta, dos sacerdotes do segundo jardim, embora os seus ensinamentos em muito discordem daqueles dos seus ilustres predecessores.
79:4.7 (882.7) Quando os arianos entraram na Índia, eles trouxeram consigo os seus conceitos de Deidade, como haviam sido preservados nas tradições remanescentes da religião do segundo jardim. Os sacerdotes brâmanes, porém, jamais foram capazes de resistir à força viva do paganismo que surgiu do contato súbito com as religiões inferiores do Decã, após a obliteração racial dos arianos. Desse modo, a vasta maioria da população caiu nos laços das superstições escravizadoras das religiões inferiores; e foi assim que a Índia não conseguiu produzir a alta civilização antevista nos tempos mais antigos.
79:4.8 (882.8) O despertar espiritual do sexto século antes de Cristo não perdurou na Índia, tendo morrido antes mesmo da invasão muçulmana. Algum dia porém um Gautama ainda maior pode surgir para liderar toda a Índia, na procura do Deus vivo, e então o mundo observará a fruição das potencialidades culturais de um povo versátil, que, por tanto tempo, permaneceu entorpecido sob o efeito de uma visão espiritual estagnada.
79:4.9 (883.1) A cultura apóia-se em uma base biológica, mas um sistema de castas por si só não podia perpetuar a cultura ariana, pois a religião, a verdadeira religião, é a fonte indispensável da energia mais elevada que leva os homens a estabelecer uma civilização superior, baseada na fraternidade humana.
79:5.1 (883.2) Enquanto a história da Índia é aquela da conquista andita e da sua absorção final por outros povos evolucionários, a história da Ásia oriental é mais propriamente a dos sangiques primários, particularmente a do homem vermelho e do homem amarelo. Essas duas raças escaparam em larga medida da miscigenação com a decadente linhagem de Neandertal, que retardou tanto o homem azul na Europa, preservando, assim, o potencial superior do tipo sangique primário.
79:5.2 (883.3) Enquanto os primeiros homens de Neandertal espalharam-se por toda a extensão da Eurásia, a sua asa oriental foi a mais contaminada pelas linhagens animais, mais degradadas. Esses tipos subumanos foram impelidos para o sul pelo quinto período glacial, a mesma camada de gelo que bloqueou, durante tanto tempo, a migração sangique para a Ásia oriental. E, quando o homem vermelho caminhou para o norte, pelos planaltos da Índia, ele encontrou o nordeste da Ásia isento desses tipos subumanos. A organização tribal das raças vermelhas formou-se antes do que a de quaisquer outros povos, e eles foram os primeiros a migrar do foco sangique da Ásia central. As linhagens Neandertal inferiores foram destruídas ou expulsas das terras firmes pelas migrações posteriores das tribos amarelas. Todavia, o homem vermelho reinara absoluto na Ásia oriental por quase cem mil anos, antes que as tribos amarelas chegassem.
79:5.3 (883.4) Há mais de trezentos mil anos, o corpo principal da raça amarela entrou na China, vindo do sul numa migração costeira. A cada milênio, eles penetravam mais profundamente no interior do continente, e não fizeram contato com os seus irmãos que emigravam do Tibete até tempos relativamente recentes.
79:5.4 (883.5) A pressão crescente da população levou a raça amarela, que se movia para o norte, a começar a invadir as terras de caça do homem vermelho. Essas intromissões, combinadas a antagonismos raciais naturais, culminaram em um aumento das hostilidades e, assim, teve início a luta crucial pelas terras férteis da Ásia longínqua.
79:5.5 (883.6) A história dessa disputa milenar entre as raças vermelha e amarela é um épico da história de Urântia. Por mais de duzentos mil anos, essas duas raças superiores travaram guerras amargas e contínuas. Nas lutas iniciais, os homens vermelhos foram mais bem-sucedidos em geral: as suas expedições espalhavam a devastação nas colônias amarelas. Todavia, o homem amarelo era bom aluno na arte da guerra e logo manifestou uma habilidade especial de conviver pacificamente com os seus compatriotas; os chineses foram os primeiros a aprender que na união está a força. As tribos vermelhas continuaram com os seus conflitos de destruição mútua e, logo, começaram a sofrer derrotas repetidas nas mãos agressivas dos implacáveis chineses, que continuaram sua marcha inexorável para o norte.
79:5.6 (883.7) Há cem mil anos, as tribos dizimadas da raça vermelha lutavam, acuadas pelo gelo da última era glacial que diminuía, e, quando a passagem de terra para o Oriente, sobre o estreito de Bering, tornou-se atravessável, essas tribos não demoraram a abandonar as margens inóspitas do continente asiático. Oitenta e cinco mil anos passaram-se desde que os últimos homens vermelhos puros partiram da Ásia, mas a longa luta deixou a sua marca genética sobre a raça amarela vitoriosa. Os povos chineses do norte, junto com os siberianos andonitas, assimilaram muito da linhagem vermelha e, com isso, foram consideravelmente beneficiados.
79:5.7 (884.1) Os índios norte-americanos nunca tiveram contato real com a progênie andita de Adão e Eva, tendo sido expulsos das suas terras natais asiáticas cerca de cinqüenta mil anos antes da chegada de Adão. Durante a idade das migrações anditas, as linhagens puras estavam-se espalhando pela América do Norte como tribos nômades, caçadores que praticavam a agricultura apenas em uma pequena proporção. Essas raças e os grupos culturais permaneceram quase completamente isolados do restante do mundo, desde a sua chegada às Américas até o primeiro milênio da era cristã, quando foram descobertos pelas raças brancas da Europa. Até aquela época, os esquimós eram o mais próximo da raça branca, que as tribos de homens vermelhos do norte jamais haviam visto.
79:5.8 (884.2) A raça vermelha e a amarela são as únicas linhagens humanas que alcançaram um alto grau de civilização, longe das influências dos anditas. A cultura ameríndia mais antiga foi o centro Onamonalonton, na Califórnia, mas que em 35 000 a.C. desapareceu. No México, na América Central e nas montanhas da América do Sul, as civilizações posteriores, mais duradouras, foram fundadas por uma raça predominantemente vermelha, mas contendo uma mistura considerável das raças amarela, alaranjada e azul.
79:5.9 (884.3) Essas civilizações foram produtos evolucionários dos sangiques, ainda que traços de sangue andita houvessem alcançado o Peru. Excetuando-se os esquimós, na América do Norte, e uns poucos anditas polinésios na América do Sul, os povos do hemisfério ocidental não tiveram nenhum contato com o resto do mundo até o fim do primeiro milênio depois de Cristo. No plano Melquisedeque original para o aperfeiçoamento das raças de Urântia, havia sido estipulado que um milhão dos descendentes da pura linha de Adão deveriam elevar os homens vermelhos das Américas.
79:6.1 (884.4) Algum tempo após haverem afugentado o homem vermelho para a América do Norte, os chineses em expansão expulsaram os andonitas dos vales dos rios da Ásia oriental, empurrando-os, ao norte, para a Sibéria e, a oeste, até o Turquestão, para onde eles iriam, dentro em pouco, entrar em contato com a cultura superior dos anditas.
79:6.2 (884.5) Na Birmânia e na península da Indochina, as culturas da Índia e da China misturaram-se e fundiram-se para produzir as civilizações sucessivas daquelas regiões. A raça verde, já desaparecida, perdurou nessa região em uma proporção maior do que em qualquer outro lugar do mundo.
79:6.3 (884.6) Muitas raças diferentes ocuparam as ilhas do Pacífico. Em geral, as ilhas do sul, que eram então maiores, foram ocupadas pelos povos portadores de uma alta percentagem de sangue das raças verde e índigo. As ilhas do norte foram ocupadas pelos andonitas e, mais tarde, por raças que traziam proporções elevadas das linhagens amarelas e vermelhas. Os ancestrais do povo japonês não foram expulsos do continente antes de 12 000 a.C., quando foram desalojados por um vigoroso avanço em direção ao litoral sul, da parte das tribos chinesas do norte. O seu êxodo final não foi devido tanto à pressão populacional quanto à iniciativa de um chefe a quem eles vieram a considerar como um personagem divino.
79:6.4 (885.1) Como os povos da Índia e do Levante, tribos vitoriosas de homens amarelos estabeleceram os seus primeiros centros ao longo da costa e rio acima. As colônias costeiras encontraram dificuldades nos anos seguintes, pois as inundações crescentes e os cursos mutantes dos rios tornaram insustentável a situação das cidades nas planícies.
79:6.5 (885.2) Há vinte mil anos, os ancestrais dos chineses haviam construído uma dúzia de grandes centros de ensinamento e cultura primitiva, especialmente ao longo do rio Amarelo e do Yangtze. Esses centros começaram logo a se reforçarem, com a chegada de uma corrente firme de povos mistos superiores vindos do Sinkiang e do Tibete. A migração do Tibete para o vale do Yangtze não foi tão extensiva como no norte, nem os centros tibetanos foram tão avançados como aqueles da bacia do Tarim, mas ambos os movimentos tinham uma certa quantidade de sangue andita no lado oriental das colônias ribeirinhas.
79:6.6 (885.3) A superioridade da antiga raça amarela era devida a quatro grandes fatores:
79:6.7 (885.4) 1. Genético. Diferentemente dos seus primos azuis na Europa, as raças vermelha e amarela haviam escapado grandemente da mistura com linhagens humanas degradadas. Os chineses do norte, reforçados já por quantidades pequenas das estirpes superiores vermelhas e andônicas, iriam em breve beneficiar-se de um considerável influxo de sangue andita. Os chineses do sul não tiveram tanto sucesso nesse sentido, e padeciam, já havia muito, da absorção da raça verde, enquanto, mais tarde, iriam ser ainda mais enfraquecidos pela infiltração das multidões dos povos inferiores expulsos da Índia pela invasão dravidiano-andita. Existe hoje, na China, uma diferença definida entre as raças do norte e do sul.
79:6.8 (885.5) 2. Social. A raça amarela aprendeu logo o valor da paz entre si mesmos. O pacifismo interno contribuiu muito para o crescimento demográfico, bem como para assegurar a disseminação da sua civilização entre muitos milhões de indivíduos. Entre 25 000 e 5 000 a.C, a mais densa massa de civilização em Urântia encontrava-se na China Central e do norte. O homem amarelo foi o primeiro a realizar a solidariedade racial — o primeiro a alcançar uma civilização social, cultural e política em larga escala.
79:6.9 (885.6) Os chineses de 15 000 a.C eram militaristas agressivos; eles não se haviam enfraquecido devido a uma reverência excessiva ao passado. Formavam um corpo compacto de pouco menos de doze milhões de homens, que falavam a mesma língua. Nessa época, eles construíram uma verdadeira nação, muito mais unida e homogênea do que as uniões políticas de tempos históricos.
79:6.10 (885.7) 3. Espiritual. Durante a era das migrações anditas, os chineses estavam entre os povos mais espirituais da Terra. Uma longa adesão à adoração da Verdade Única, proclamada por Singlangton manteve-os à frente da maioria das outras raças. O estímulo de uma religião desenvolvida e avançada, muitas vezes, é um fator decisivo no desenvolvimento cultural; à medida que a Índia definhava, a China ia à frente, sob o estímulo revigorante de uma religião para a qual a verdade era colocada em um relicário, como se fora a Deidade suprema.
79:6.11 (885.8) Essa adoração da verdade provocou uma pesquisa e uma investigação destemida das leis da natureza e dos potenciais da humanidade. Os chineses de seis mil anos atrás eram, outrossim, estudantes ardorosos e empenhados na sua busca da verdade.
79:6.12 (885.9) 4. Geográfico. A China é protegida pelas montanhas a oeste e pelo oceano Pacífico, a leste. Apenas ao norte fica aberto o caminho para a invasão e, desde a época do homem vermelho até a vinda dos descendentes posteriores dos anditas, o norte não foi ocupado por nenhuma raça agressiva.
79:6.13 (886.1) E, não fora a barreira das montanhas, e mais tarde o declínio da sua cultura espiritual, a raça amarela teria atraído para si, sem dúvida, a maior parte das migrações anditas que foram para o Turquestão e teria, inquestionável e rapidamente, dominado a civilização do mundo.
79:7.1 (886.2) Há cerca de quinze mil anos, os anditas, em número considerável, atravessaram a garganta de Ti Tao e espalharam-se pelo vale superior do rio Amarelo, entre as colônias chinesas de Kansu. E, em breve, penetraram na direção leste, no Honan, onde estavam situadas as colônias de maior progresso. Essa infiltração do oeste era meio andonita e meio andita.
79:7.2 (886.3) Os centros de cultura do norte, ao longo do rio Amarelo, haviam sempre sido mais desenvolvidos que as colônias do sul, no Yangtze. Dentro de poucos milhares de anos depois da chegada, mesmo em pequenos números, desses mortais superiores, as colônias ao longo do rio Amarelo haviam-se distanciado das aldeias Yangtze e alcançado uma posição avançada sobre os seus irmãos do sul, a qual foi mantida desde então.
79:7.3 (886.4) Não é que houvesse tantos anditas, nem que a sua cultura fosse tão superior, mas a miscigenação deles produziu uma raça mais versátil. Os chineses do norte receberam uma quantidade suficiente de sangue andita para estimular moderadamente suas mentes inatamente dotadas, mas não tanto que as inflamasse com a curiosidade exploradora tão característica das raças brancas do norte. Essa infusão mais limitada de herança andita foi menos perturbadora da estabilidade inata do tipo sangique.
79:7.4 (886.5) As ondas posteriores de anditas trouxeram com eles alguns dos avanços culturais da Mesopotâmia; isso é especialmente verdadeiro a respeito das últimas ondas de migração vindas do Ocidente. Elas melhoraram, em muito, as práticas econômicas e educacionais dos chineses do norte; e, embora a sua influência sobre a cultura religiosa da raça amarela haja sido pouco duradoura, os seus descendentes posteriores contribuíram muito para um despertar espiritual subseqüente. As tradições anditas da beleza do Éden e da Dalamátia, contudo, influenciaram as tradições chinesas; as lendas chinesas primitivas situam “a terra dos deuses” no Ocidente.
79:7.5 (886.6) O povo chinês só começou a construir cidades e a engajar-se na manufatura depois de 10 000 a.C., posteriormente às alterações climáticas no Turquestão e à chegada dos últimos imigrantes anditas. A infusão desse novo sangue não acrescentou tanto à civilização do homem amarelo, mas estimulou um desenvolvimento posterior rápido das tendências latentes das raças chinesas superiores. De Honan a Shensi, os potenciais de uma civilização avançada estavam dando frutos. A metalurgia e todas as artes da manufatura datam dessa época.
79:7.6 (886.7) As semelhanças entre alguns dos métodos primitivos chineses e mesopotâmios no cálculo do tempo, na astronomia e na administração do governo eram devidas às relações comerciais entre esses dois centros bastante distantes. Os mercadores chineses viajavam pelas rotas terrestres, atravessando o Turquestão e a Mesopotâmia, mesmo nos tempos dos sumérios. E essas trocas não eram unilaterais, pois o vale do Eufrates beneficiava-se consideravelmente delas, tanto quanto os povos das planícies do Ganges; porém as alterações climáticas e as invasões nômades do terceiro milênio antes de Cristo reduziram grandemente o volume de comércio que passava pelas rotas de caravanas da Ásia Central.
79:8.1 (887.1) Conquanto o homem vermelho haja sofrido excessivamente pelas guerras, não é de todo impróprio dizer que o desenvolvimento do Estado, em meio aos chineses, haja sido retardado pelo cuidado da sua conquista da Ásia. Eles tinham um grande potencial de solidariedade racial que, no entanto, deixou de desenvolver-se apropriadamente por causa da ausência do estímulo contínuo da presença do perigo de agressão externa.
79:8.2 (887.2) Com a realização da conquista completa da Ásia Oriental, o antigo estado militar gradualmente desintegrou-se — as guerras passadas foram esquecidas. Da luta épica com a raça vermelha, apenas perdurou a tradição vaga de uma disputa antiga, com os povos arqueiros. Os chineses logo se voltaram para a agricultura, o que acentuou ainda mais as suas tendências pacíficas. Ao mesmo tempo, a população indicava uma relação homem-solo bem abaixo do ponto de saturação agrícola, e isso veio contribuir ainda mais para a vida pacífica do país.
79:8.3 (887.3) A consciência de realizações do passado (um tanto reduzidas, no presente), o conservadorismo de um povo, em sua maioria de agricultores, e uma vida familiar bem desenvolvida deram nascimento à veneração dos ancestrais, culminando no costume de honrar os homens do passado quase até a adoração. Uma atitude bastante semelhante prevaleceu entre as raças brancas na Europa, durante cerca de quinhentos anos depois da queda da civilização greco-romana.
79:8.4 (887.4) A crença e a adoração da “Verdade Única” , como ensinada por Singlangton, nunca deixou de existir inteiramente; mas, com o passar do tempo, a busca de uma verdade nova e mais elevada foi obscurecida pela tendência crescente de venerar aquilo que já fora estabelecido. Lentamente, o gênio da raça amarela desviou-se da busca do desconhecido e voltou-se para a preservação do conhecido. E essa é a razão para a estagnação daquela que havia sido a civilização que mais rapidamente progredira no mundo.
79:8.5 (887.5) Entre 4 000 e 500 a.C, a reunificação política da raça amarela foi consumada, mas a união cultural dos centros dos rios Yangtze e Amarelo havia já sido efetuada. Essa reunificação política dos grupos tribais mais recentes não foi feita sem conflito, mas a estima que a sociedade tinha pela guerra permaneceu baixa; a adoração dos ancestrais, a multiplicação dos dialetos e nenhum apelo para a ação militar, durante milhares e milhares de anos, haviam tornado esse povo ultrapacífico.
79:8.6 (887.6) A despeito do fracasso em cumprir a promessa do desenvolvimento rápido até um estado avançado, a raça amarela avançou, progressivamente, para uma realização nas artes da civilização, sobretudo nos domínios da agricultura e da horticultura. Os problemas hidráulicos enfrentados pelos agricultores em Shensi e Honan demandaram uma cooperação grupal, para que fossem solucionados. Essa irrigação e as dificuldades para a conservação do solo contribuíram, em grande medida, para o desenvolvimento da interdependência dos grupos de agricultores, com a conseqüente promoção da paz entre eles.
79:8.7 (887.7) Os desenvolvimentos precoces na escrita, junto com o estabelecimento de escolas, logo contribuíram para a disseminação do conhecimento em uma escala nunca antes igualada, mas a natureza enfadonha do sistema da escrita ideográfica colocou um limite numérico nas classes instruídas, a despeito do aparecimento, logo a seguir, da imprensa. Acima de tudo, o processo de padronização social e de dogmatização religioso-filosófica continuou crescente. O desenvolvimento religioso da veneração dos ancestrais tornou-se ainda mais complexo, por um influxo de superstições envolvendo a natureza do culto, mas os vestígios prolongados de um conceito real de Deus ficaram preservados no culto imperial de Shang-ti.
79:8.8 (888.1) A grande fraqueza da veneração dos ancestrais é que ela promove a filosofia do retrógrado. Por mais sábio que seja recolher a sabedoria do passado, é insano considerá-lo como uma fonte exclusiva de verdade. A verdade é relativa e está em expansão; ela vive sempre no presente, alcançando uma nova expressão em cada geração de homens — e mesmo em cada vida humana.
79:8.9 (888.2) A grande força de uma veneração dos ancestrais é o valor que tal atitude dá à família. A estabilidade espantosa e a persistência da cultura chinesa são uma conseqüência da preponderância da posição dada à família, pois a civilização é diretamente dependente de um funcionamento eficiente da família; e, na China, a família alcançou uma importância social e até mesmo um significado religioso que poucos povos atingiram.
79:8.10 (888.3) A devoção filial e a lealdade familiar, exigidas no culto crescente dos ancestrais, asseguraram a edificação de relações familiares superiores e de grupos familiares duradouros, o que facilitou a preservação da civilização, por causa dos fatores que se seguem:
79:8.11 (888.4) 1. A conservação da propriedade e das riquezas.
79:8.12 (888.5) 2. A comunhão da experiência de mais de uma geração.
79:8.13 (888.6) 3. A educação eficiente das crianças nas artes e nas ciências do passado.
79:8.14 (888.7) 4. O desenvolvimento de um forte senso do dever, a elevação da moralidade e a ampliação da sensibilidade ética.
79:8.15 (888.8) O período formativo da civilização chinesa, iniciada com a vinda dos anditas, continua até o grande despertar ético, moral e semi-religioso do sexto século antes de Cristo. E a tradição chinesa mantém um registro de lembrança do passado evolucionário: a transição da família matriarcal para a família patriarcal, o estabelecimento da agricultura, o desenvolvimento da arquitetura, a iniciação da indústria — todas essas etapas são narradas sucessivamente. E essa história apresenta, com uma precisão maior do que qualquer outra narrativa semelhante, um quadro da ascensão magnífica de um povo superior, desde os níveis da barbárie. Durante esse tempo, os chineses passaram, de uma sociedade agrícola primitiva para uma organização social mais elevada, abrangendo as cidades, as manufaturas, a metalurgia, as trocas comerciais, o governo, a escrita, a matemática, a arte, a ciência e a imprensa.
79:8.16 (888.9) A civilização antiga da raça amarela perdurou, assim, através dos séculos. Já se passaram quase quarenta mil anos desde que os primeiros avanços importantes foram feitos na cultura chinesa e, embora tenha havido muitos retrocessos, a civilização dos filhos de Han está mais próxima de apresentar um quadro contínuo de progresso até o século vinte. Os desenvolvimentos mecânico e religioso das raças brancas têm sido de ordem elevada, mas nunca ultrapassaram os chineses na lealdade familiar, na ética grupal, nem na moralidade pessoal.
79:8.17 (888.10) Essa cultura antiga contribuiu muito para a felicidade humana; milhões de seres humanos têm vivido e morrido abençoados pelas suas realizações. Durante séculos, essa grande civilização descansou sobre os louros do passado, entretanto está redespertando ainda agora, para visualizar novamente, as metas transcendentes da existência mortal, para retomar a luta incessante por um progresso sem fim.
79:8.18 (888.11) [Apresentado por um Arcanjo de Nébadon.]
O Livro de Urântia
Documento 80
80:0.1 (889.1) EMBORA o homem azul europeu não haja, por si próprio, alcançado uma grande civilização cultural, ele proveu uma base biológica que produziu, quando as suas raças de sangue adamizado mesclaram-se com os últimos invasores anditas, uma das raças mais fortes e capazes de atingir uma civilização dinâmica a surgir em Urântia desde a época da raça violeta e dos seus sucessores anditas.
80:0.2 (889.2) Os povos brancos modernos incorporaram as linhagens sobreviventes de sangue Adâmico, tornando-se misturados às raças sangiques, com um pouco da raça vermelha e da amarela, porém mais especialmente da azul. Há uma percentagem considerável da linhagem andonita original em todas as raças brancas e mais ainda das raças noditas iniciais.
80:1.1 (889.3) Antes dos últimos anditas serem expulsos do vale do Eufrates, muitos dos seus irmãos haviam penetrado na Europa como aventureiros, professores, comerciantes e guerreiros. Durante os primeiros tempos da raça violeta, a bacia do Mediterrâneo era protegida pelo istmo de Gibraltar e pela ponte siciliana de terra. Certos comércios marítimos bem primitivos do homem foram estabelecidos nesses lagos interiores, nos quais os homens azuis do norte e os homens do Saara, vindos do sul, encontraram os noditas e os adamitas vindos do Oriente.
80:1.2 (889.4) Na parte oriental da bacia do Mediterrâneo, os noditas haviam estabelecido uma das suas mais vastas culturas e, partindo dos centros destas, haviam penetrado, em uma certa medida, na Europa do sul e, mais especialmente na África do norte. Os sírios noditas-andonitas, de cabeças avantajadas, introduziram, muito cedo, a cerâmica e a agricultura nas suas colônias, no delta do Nilo, um rio cujo nível subia vagarosamente. E também importaram ovelhas, cabras, bovinos e outros animais domésticos, e trouxeram métodos bastante aperfeiçoados de metalurgia, pois a Síria de então era o centro dessa indústria.
80:1.3 (889.5) Durante mais de trinta mil anos, o Egito recebeu um fluxo contínuo de mesopotâmios, que trouxeram consigo a sua arte e cultura para enriquecer as do vale do Nilo. Todavia, o ingresso de grandes números de povos do Saara deteriorou grandemente a civilização primitiva ao longo do Nilo, de tal forma que o Egito atingiu o seu nível cultural mais baixo há cerca de quinze mil anos.
80:1.4 (889.6) Contudo, durante tempos anteriores, pouco houve que impedisse a migração dos adamitas para o oeste. O Saara era um pasto aberto repleto de pastores e agricultores. Esses povos do Saara nunca se empenharam na manufatura, nem eram construtores de cidades. Eram um grupo negro-índigo que trazia uma linhagem muito extensa das raças verde e alaranjada extintas. E receberam, porém, uma quantidade muito limitada de herança violeta, antes que o deslocamento, para cima, das terras e a mudança na direção dos ventos úmidos houvessem dispersado os remanescentes dessa civilização próspera e pacífica.
80:1.5 (890.1) O sangue de Adão foi compartilhado com a maioria das raças humanas, mas algumas delas asseguraram para si mais do que outras. As raças miscigenadas da Índia e os povos mais escuros da África não apresentavam atrativos para os adamitas. Eles ter-se-iam miscigenado livremente com a raça vermelha, não estivesse ela tão distante nas Américas, e estavam amigavelmente dispostos a miscigenar-se com a raça amarela, mas essa raça, do mesmo modo, era de difícil acesso, pois estava na distante Ásia. E, portanto, quando impulsionados pela aventura, ou pelo altruísmo, ou quando expulsos do vale do Eufrates, muito naturalmente eles optaram pela união com as raças azuis da Europa.
80:1.6 (890.2) Os homens azuis, então dominantes na Europa, não tinham práticas religiosas que fossem repulsivas aos primeiros imigrantes adamitas, e havia uma grande atração sexual entre as raças violeta e azul. O melhor dentre aqueles da raça azul considerava uma alta honraria que lhe fosse permitido acasalar com os adamitas. Os homens azuis alimentavam a ambição de se tornarem suficientemente hábeis e artísticos a ponto de ganhar a afeição de alguma mulher adamita, e a mais alta aspiração de uma mulher azul superior era receber as atenções de um adamita.
80:1.7 (890.3) Lentamente, esses filhos migrantes do Éden uniram-se com os tipos mais elevados da raça azul, revigorando as suas práticas culturais e, ao mesmo tempo, exterminando, sem piedade, os traços residuais do sangue Neandertal. Essa técnica de mistura racial, combinada com a eliminação das linhagens inferiores, produziu uma dúzia, ou mais, de grupos viris e progressistas de homens azuis superiores, uma das quais vós denominastes os Cro-Magnons.
80:1.8 (890.4) As primeiras ondas da cultura mesopotâmia tomaram, por essas e outras razões, das quais a menos importante foi o trajeto mais favorável de imigração, quase que exclusivamente, o caminho da Europa. E foram essas circunstâncias que determinaram os antecedentes da moderna civilização européia.
80:2.1 (890.5) A expansão inicial da raça violeta para a Europa foi interrompida por certas mudanças climáticas e geológicas bastante súbitas. Com o recuo dos campos de gelo ao norte, os ventos que trazem as chuvas do oeste voltaram-se para o norte, gradualmente transformando as grandes regiões de pasto aberto do Saara em um deserto estéril. Essa seca dispersou os habitantes do grande platô do Saara, que eram morenos e de baixa estatura, de olhos escuros, mas de cabeças alongadas.
80:2.2 (890.6) Os elementos índigos mais puros mudaram-se para o sul, para as florestas da África Central, onde, desde então, permaneceram. Os grupos mais miscigenados espalharam-se em três direções: as tribos superiores do oeste migraram para a Espanha e dali foram para as partes adjacentes da Europa, formando os núcleos das posteriores raças morenas de crânios longos do Mediterrâneo. A divisão menos progressista do leste do platô do Saara migrou para a Arábia e, de lá, atravessou o norte da Mesopotâmia e da Índia, indo para o distante Ceilão. O grupo central foi para o norte e para o leste, para o vale do Nilo e para dentro da Palestina.
80:2.3 (890.7) É esse substrato secundário da raça sangique que sugere um certo grau de parentesco com os povos modernos espalhados desde o Decã e o Irã, à Mesopotâmia, e ao longo de ambas as margens do mar Mediterrâneo.
80:2.4 (890.8) Por volta da época dessas alterações climáticas na África, a Inglaterra separou-se do continente, e a Dinamarca emergiu do mar, enquanto o istmo de Gibraltar, protegendo a bacia oeste do Mediterrâneo, em conseqüência de um terremoto, deu caminho ao solevantamento rápido, desse lago interior, até o nível do oceano Atlântico. Em breve, a ponte de terra da Sicília submergiu, fazendo do Mediterrâneo um mar e ligando-o com o oceano Atlântico. Esse cataclismo da natureza alagou muitas colônias de humanos e ocasionou a maior perda de vida por inundação, em toda a história do mundo.
80:2.5 (891.1) Esse engolfamento da bacia do Mediterrâneo restringiu imediatamente os movimentos dos adamitas para o oeste, enquanto o grande influxo dos saarianos levou-os a buscar saídas para as populações crescentes ao norte e a leste do Éden. À medida que os descendentes de Adão deixaram os vales do Tigre e do Eufrates, indo para o norte, eles encontraram barreiras montanhosas e o mar Cáspio, então expandido. E, por muitas gerações, os adamitas caçaram, pastorearam e cultivaram o solo nas vizinhanças das suas colônias espalhadas pelo Turquestão. Vagarosamente, esse povo magnífico ampliou o seu território na Europa. No entanto, agora os adamitas entravam na Europa vindos do leste, e encontraram a cultura do homem azul milhares de anos atrasada em relação à da Ásia; pois essa região havia estado quase que inteiramente fora de contato com a Mesopotâmia.
80:3.1 (891.2) Os centros antigos de cultura do homem azul eram localizados ao longo de todos os rios da Europa, mas apenas o Somme agora corre no mesmo canal que fluía durante os tempos pré-glaciais.
80:3.2 (891.3) Ao referirmo-nos ao homem azul como tendo permeado o continente europeu, verificamos que havia dezenas de tipos raciais. Mesmo há trinta e cinco mil anos, as raças azuis européias já eram um povo altamente miscigenado, que trazia em si linhagens de sangue tanto vermelho quanto amarelo, enquanto, nas terras costeiras do Atlântico e nas regiões da Rússia atual, eles haviam absorvido uma considerável parcela de sangue andonita e, ao sul, eles estiveram em contato com os povos do Saara. Seria vão, contudo, tentar enumerar os vários grupos raciais.
80:3.3 (891.4) A civilização européia desse período inicial pós-Adâmico foi uma combinação única do vigor e da arte dos homens azuis com a imaginação criativa dos adamitas. Os homens azuis eram uma raça de grande vigor, mas deterioraram em muito o status cultural e espiritual dos adamitas. Foi muito difícil para estes últimos imprimir aos cromagnonianos a sua religião, por causa da tendência de muitos deles de trapacear e de corromper as jovens virgens. Por dez mil anos, a religião na Europa esteve em um nível baixo, se comparada aos desenvolvimentos realizados na Índia e no Egito.
80:3.4 (891.5) Os homens azuis eram perfeitamente honestos em tudo o que faziam e eram totalmente isentos dos vícios sexuais dos adamitas miscigenados. Eles respeitavam a virgindade, apenas praticando a poligamia quando a guerra gerava carência de homens.
80:3.5 (891.6) Esses povos cromagnonianos eram uma raça valente e previdente. Mantinham um sistema eficiente de educação das crianças. Ambos os progenitores participavam desses trabalhos e os serviços das crianças mais velhas eram plenamente utilizados. Cada criança era cuidadosamente treinada no trato da arte, no trabalho com o sílex e na vigilância e cuidado das cavernas. Numa tenra idade, as mulheres já estavam versadas nas artes domésticas e rudimentos da agricultura, enquanto os homens eram já hábeis caçadores e guerreiros corajosos.
80:3.6 (891.7) Os homens azuis foram caçadores, pescadores e coletores de alimentos; foram hábeis construtores de barcos. Faziam machados de pedra, cortavam árvores, erigiam abrigos de toras parcialmente sob a terra e com telhados de peles. E há povos que ainda fazem abrigos semelhantes na Sibéria. Os Cro-Magnons do sul, em geral, viviam em cavernas e grutas.
80:3.7 (892.1) Não era incomum, durante os rigores do inverno, que as sentinelas montando guarda, de pé à noite, à entrada das cavernas, congelassem até a morte. Eles tinham coragem, mas, acima de tudo, eram artistas; a mesclagem Adâmica acelerou subitamente a imaginação criativa. O auge da arte do homem azul foi atingido há cerca de quinze mil anos, antes dos dias em que as raças de pele mais escura tivessem vindo da África para o norte através da Espanha.
80:3.8 (892.2) Por volta de quinze mil anos atrás, as florestas dos Alpes estavam-se espalhando extensamente. Os caçadores europeus estavam sendo conduzidos para os vales dos rios e para a beira-mar, pela mesma coerção climática que havia transformado as afortunadas terras de caça do mundo em desertos secos e estéreis. Ao mesmo tempo em que os ventos de chuva mudaram-se para o norte, os grandes pastos abertos da Europa ficaram cobertos de florestas. Essas grandes modificações climáticas relativamente súbitas levaram as raças de caçadores em espaço aberto da Europa, a transformar-se em pastores e, em uma certa medida, em pescadores e em cultivadores do solo.
80:3.9 (892.3) Essas mudanças, embora resultando em avanços culturais, produziram algumas regressões biológicas. Durante a era anterior de caça, as tribos superiores haviam-se casado com os tipos mais elevados de prisioneiros de guerra e, invariavelmente, destruído os que consideravam inferiores. Contudo, quando começaram a estabelecer-se em colônias e a se engajar na agricultura e comércio passaram a poupar a vida de muitos dos presos medíocres, mantendo-os como escravos. E foi a progênie desses escravos que, subseqüentemente, deteriorou bastante todo o tipo cromagnoniano. Esse retrocesso cultural continuou até receber um impulso novo do Oriente, quando a invasão final e maciça dos mesopotâmios varreu a Europa, absorvendo rapidamente o tipo e a cultura Cro-Magnon e iniciando a civilização das raças brancas.
80:4.1 (892.4) Enquanto os anditas espalharam-se na Europa, em um fluxo contínuo, houve sete invasões maiores; os últimos a chegarem vindo a cavalo, em três grandes levas. Alguns entraram na Europa pelo caminho das ilhas do mar Egeu, subindo o vale do Danúbio, mas a maioria das primeiras e mais puras linhagens migrou para o noroeste da Europa pelas rotas do norte, atravessando as terras de pastos dos rios Volga e Don.
80:4.2 (892.5) Entre a terceira e a quarta invasão, uma horda de andonitas vinda do norte entrou na Europa, provindo da Sibéria pelo caminho dos rios russos e pelo Báltico. Eles foram assimilados imediatamente pelas tribos anditas do norte.
80:4.3 (892.6) As primeiras expansões da raça violeta mais pura foram muito mais pacíficas do que as dos seus descendentes anditas posteriores, semimilitarizados e amantes das conquistas. Os adamitas eram pacíficos; os noditas beligerantes. A união dessas raças, mais tarde misturadas às raças sangiques, produziu os competentes e ativos anditas, que fizeram verdadeiras conquistas militares.
80:4.4 (892.7) Mas o cavalo foi o fator evolucionário que determinou o domínio dos anditas no Ocidente. O cavalo deu aos dispersivos anditas a vantagem até então inexistente da mobilidade, capacitando os últimos grupos de cavaleiros anditas a progredirem rapidamente pelo mar Cáspio, para invadir toda a Europa. Todas as ondas anteriores de anditas haviam-se movimentado tão vagarosamente que tinham a tendência de desagregar-se quando a uma grande distância da Mesopotâmia. Todavia, essas últimas levas moviam-se tão rapidamente que alcançaram a Europa em grupos coesos, ainda conservando, em alguma medida, a mais alta cultura.
80:4.5 (893.1) Todo o mundo habitado, afora a China e a região do Eufrates, havia feito um progresso cultural muito limitado durante dez mil anos, quando os rudes e rápidos cavaleiros anditas surgiram no sétimo e no sexto milênio antes de Cristo. À medida que avançaram para o Ocidente, através das planícies russas, absorvendo o que de melhor havia do homem azul e exterminando o pior, as raças se amalgamaram em um único povo. Esses foram os ancestrais das chamadas raças nórdicas, os antepassados dos povos escandinavos, alemães e anglo-saxões.
80:4.6 (893.2) Não tardou muito para que as raças azuis superiores tivessem sido totalmente absorvidas pelos anditas, em todo o norte da Europa. Apenas na Lapônia (e, em uma certa medida, na Bretanha) o andonita mais antigo conservou algo como uma identidade.
80:5.1 (893.3) As tribos do norte da Europa estavam sendo continuamente reforçadas e elevadas pela firme onda de migração da Mesopotâmia através das regiões russas do sul do Turquestão e, quando as últimas ondas da cavalaria andita varreram a Europa, já havia mais homens com herança andita naquela região do que seriam encontrados em todo o resto do mundo.
80:5.2 (893.4) Durante três mil anos, a sede militar dos anditas do norte localizou-se na Dinamarca. Desse ponto central, saíram as sucessivas ondas de conquistas, que se tornaram cada vez menos anditas e cada vez mais brancas, pois o passar dos séculos testemunhou a miscigenação final dos conquistadores mesopotâmios com os povos conquistados.
80:5.3 (893.5) Enquanto o homem azul havia sido absorvido no norte, e finalmente havia sucumbido aos ataques da cavalaria branca que penetrou no sul, as tribos da raça branca misturada, que avançavam, encontraram uma resistência obstinada e prolongada dos Cro-Magnons, mas a sua inteligência superior e as suas sempre crescentes reservas biológicas capacitaram-nos a extinguir completamente a raça mais antiga.
80:5.4 (893.6) Lutas decisivas entre o homem branco e o homem azul foram travadas no vale do Somme. Ali, a flor da raça azul, enfrentou, amarga e renhidamente, os anditas que progrediam na direção sul e, por mais de quinhentos anos, esses cromagnonianos defenderam com êxito os seus territórios, antes de sucumbir à estratégia militar superior dos invasores brancos. Tor, o comandante vitorioso dos exércitos do norte, na batalha final do Somme, tornou-se o herói das tribos brancas do norte e, mais tarde, foi reverenciado como um deus por alguns deles.
80:5.5 (893.7) As fortalezas do homem azul, que perduraram por mais tempo, estavam no sul da França, mas a última grande resistência militar foi vencida ao longo do Somme. A conquista seguinte progrediu por meio da penetração comercial, pela pressão populacional ao longo dos rios, e por meio de contínuos relacionamentos de ordem matrimonial com os superiores, combinado à exterminação implacável dos inferiores.
80:5.6 (893.8) Quando o conselho tribal dos anciães anditas determinava que um prisioneiro inferior era incapaz, ele era, por meio de uma cerimônia elaborada, entregue aos sacerdotes Xamãs, que o acompanhavam ao rio e ministravam os ritos da iniciação aos “felizes territórios de caça” — o afogamento letal. Desse modo, os invasores brancos da Europa exterminaram todos os povos que encontravam os quais não eram rapidamente absorvidos pelas suas próprias fileiras, e assim os homens azuis chegaram ao extermínio — e rapidamente.
80:5.7 (893.9) O homem azul cromagnoniano constituiu a base biológica para as raças européias modernas, mas eles sobreviveram apenas depois de absorvidos por estes últimos vigorosos conquistadores da sua terra natal. A linhagem azul trouxe muita robustez e muito vigor físico às raças brancas da Europa, mas o humor e a imaginação das raças híbridas dos povos europeus derivaram dos anditas. Essa união do andita com o homem azul, resultando nas raças brancas do norte, produziu uma queda imediata da civilização andita, um atraso de natureza transitória. Finalmente, a superioridade latente desses bárbaros do norte manifestou-se, culminando na civilização européia atual.
80:5.8 (894.1) Por volta de 5 000 a.C., as raças brancas em evolução eram predominantes em todo o norte da Europa, incluindo a Alemanha do norte, o norte da França e as Ilhas Britânicas. A Europa Central, durante algum tempo, foi controlada pelo homem azul e pelos andonitas de cabeça redonda. Estes últimos habitavam principalmente o vale do Danúbio e nunca foram, em realidade, inteiramente desalojados pelos anditas.
80:6.1 (894.2) Desde os tempos das últimas migrações anditas, a cultura esteve em declínio no vale do Eufrates e o centro imediato da civilização deslocou-se para o vale do Nilo. O Egito tornou-se o sucessor da Mesopotâmia como sede do grupo mais avançado da Terra.
80:6.2 (894.3) O vale do Nilo começou a sofrer de inundações um pouco antes dos Vales da Mesopotâmia, entretanto saiu-se muito melhor. Tais contratempos iniciais foram mais do que compensados pela corrente contínua de imigrantes anditas e, assim, a cultura do Egito, embora seja derivada realmente da região do Eufrates, pareceu ir adiante. Contudo, por volta de 5 000 a.C., durante o período das inundações na Mesopotâmia, havia sete grupos distintos de seres humanos no Egito; todos eles, exceto um, haviam vindo da Mesopotâmia.
80:6.3 (894.4) Quando ocorreu o último êxodo do vale do Eufrates, o Egito foi afortunado em receber muitos dentre os mais hábeis artistas e artesãos. Esses artesãos anditas sentiram-se bastante em casa, pois estavam profundamente acostumados às inundações, irrigações e estações secas da vida ribeirinha. Apreciaram a posição protegida do vale do Nilo, onde ficariam bem menos sujeitos a ataques e invasões hostis do que ao longo do Eufrates. E acrescentaram muito à habilidade dos egípcios com a metalurgia. Ali, eles trabalhavam os minérios de ferro vindos do monte Sinai, em vez dos vindos das regiões do mar Negro.
80:6.4 (894.5) Os egípcios reuniram, muito cedo, as deidades municipais em um elaborado sistema nacional de deuses. Desenvolveram uma teologia extensa e possuíam um sacerdócio igualmente extenso, mas opressivo. Vários líderes diferentes buscaram reviver os remanescentes dos primeiros ensinamentos religiosos dos setitas, mas esses esforços tiveram duração curta. Os anditas construíram as primeiras estruturas de pedra no Egito. A primeira e a mais bela das pirâmides de pedra foi erigida por Imhotep, um gênio da arquitetura andita, quando serviu como primeiro ministro. As edificações anteriores haviam sido feitas com tijolos e, embora muitas estruturas de pedra houvessem sido erigidas em partes diferentes do mundo, essa era a primeira no Egito. Todavia, a arte de construir decaiu fortemente desde os dias desse grande arquiteto.
80:6.5 (894.6) Essa época brilhante de cultura foi interrompida bruscamente por guerras internas ao longo do Nilo; e o país foi logo invadido, como o fora a Mesopotâmia, pelas tribos inferiores da inóspita Arábia e pelos negros do sul. E, em resultado disso, o progresso social esteve em contínuo declínio durante mais de quinhentos anos.
80:7.1 (895.1) Durante o declínio da cultura na Mesopotâmia, uma civilização superior perdurou por algum tempo nas ilhas do leste do Mediterrâneo.
80:7.2 (895.2) Aproximadamente em 12 000 a.C., uma brilhante tribo andita migrou para Creta. Essa foi a única ilha colonizada tão prematuramente por esse grupo superior e passaram-se quase dois mil anos antes que os descendentes desses marinheiros se espalhassem pelas ilhas vizinhas. Esse grupo era composto de anditas de crânio estreito e de pequena estatura, que se haviam mesclado, por casamento, com a divisão vanita dos noditas do norte. Todos tinham estaturas abaixo de um metro e oitenta e haviam sido literalmente expulsos do continente pelos seus companheiros maiores e inferiores. Esses imigrantes em Creta eram altamente hábeis na arte da tecelagem, metalurgia, cerâmica, encanamentos e uso da pedra como material de construção. Eles faziam uso da escrita e continuaram como pastores e agricultores.
80:7.3 (895.3) Quase dois mil anos depois da colonização de Creta, um grupo dos descendentes de Adamson, de estatura elevada, chegou à Grécia pelas ilhas do norte, vindo quase que diretamente do seu lar nos planaltos da Mesopotâmia. Esses progenitores dos gregos foram levados para o Ocidente por Sato, um descendente direto de Adamson e de Ratta.
80:7.4 (895.4) O grupo que finalmente se estabeleceu na Grécia consistia de trezentos e setenta e cinco dos povos selecionados e superiores, que faziam parte do fim da segunda civilização dos Adamsonitas. Esses filhos mais recentes de Adamson traziam as linhagens, então mais valiosas, das raças brancas emergentes. De uma ordem intelectual elevada, eles eram, fisicamente, considerados os mais belos dos homens desde os dias do primeiro Éden.
80:7.5 (895.5) Dentro de pouco tempo, a Grécia e a região das ilhas do mar Egeu sucederam à Mesopotâmia e ao Egito, como centro ocidental de comércio, arte e cultura. Porém, como se deu no Egito, de novo praticamente toda arte e ciência do mundo Egeu vinha da Mesopotâmia, exceto pela cultura dos ancestrais Adamsonitas dos gregos. Toda a arte e todo o gênio desses povos ulteriores são um legado direto à posteridade de Adamson, o primeiro filho de Adão e Eva, e da sua extraordinária segunda esposa, uma filha descendente direta da assessoria nodita pura do Príncipe Caligástia. Não é de admirar-se, vendo as suas tradições mitológicas, que os gregos descendam diretamente dos deuses e de seres supra-humanos.
80:7.6 (895.6) A região do Egeu passou por cinco estágios culturais distintos, cada um menos espiritualizado do que o precedente e, em breve, a última era gloriosa da arte pereceu sob o peso dos medíocres descendentes, rapidamente multiplicados, dos escravos danubianos que haviam sido importados pelas gerações posteriores de gregos.
80:7.7 (895.7) Durante essa idade, em Creta, o culto da mãe entre os descendentes de Caim atingiu o seu auge. Esse culto glorificava Eva, na adoração da “grande mãe”. As imagens de Eva estavam em toda parte. Milhares de santuários públicos foram erigidos em toda a Creta e na Ásia Menor. E esse culto da mãe perdurou até os tempos de Cristo; mais tarde se incorporando à primitiva religião do cristianismo, sob a forma da glorificação e adoração de Maria, a mãe terrena de Jesus.
80:7.8 (895.8) Por volta de 6 500 a.C., já havia ocorrido um grande declínio na herança espiritual dos anditas. Os descendentes de Adão encontravam-se extremamente dispersados e haviam sido virtualmente engolfados pelas raças humanas mais antigas e mais numerosas. E essa decadência da civilização andita, junto com o desaparecimento dos seus padrões religiosos, deixou em condições deploráveis as raças espiritualmente empobrecidas do mundo.
80:7.9 (896.1) Por volta de 5 000 a.C., as três linhagens mais puras dos descendentes de Adão estavam na Suméria, na parte norte da Europa e na Grécia. Toda a Mesopotâmia deteriorava-se, vagarosamente, pela afluência de raças misturadas e mais escuras que se infiltravam, vindas da Arábia. E a vinda desses povos inferiores contribuiu ainda para que os resíduos biológicos e culturais dos anditas se espalhassem mais. Partindo de todo o crescente fértil, os povos mais aventureiros foram para o oeste, até as ilhas. Esses imigrantes cultivavam tanto os grãos quanto os legumes, e trouxeram consigo animais domesticados.
80:7.10 (896.2) Por volta de 5 000 a.C., uma hoste poderosa de mesopotâmios progressistas saiu do vale do Eufrates e estabeleceu-se na ilha de Chipre; essa civilização foi eliminada cerca de uns dois mil anos depois, pelas hordas dos bárbaros vindas do norte.
80:7.11 (896.3) Outra grande colônia estabeleceu-se no Mediterrâneo, perto do local onde ulteriormente Cartago formar-se-ia. E, do norte da África, grandes números de anditas entraram na Espanha e, mais tarde, mesclaram-se, na Suíça, aos seus irmãos que anteriormente haviam ido para a Itália, vindos das ilhas do mar Egeu.
80:7.12 (896.4) Quando o Egito seguiu a Mesopotâmia, em declínio cultural, muitas das famílias mais capacitadas e avançadas fugiram para Creta, incrementando assim grandemente essa civilização já avançada. Mais tarde, a chegada de grupos inferiores do Egito ameaçou a civilização de Creta, e as famílias de maior cultura mudaram-se para o oeste, indo para a Grécia.
80:7.13 (896.5) Os gregos não eram apenas grandes instrutores e artistas, eles eram também os maiores comerciantes e colonizadores do mundo. Antes de sucumbir à maré enchente de coisas inferiores que finalmente engolfaram a sua arte e o seu comércio, eles tiveram êxito em implantar tantos postos adiantados de cultura, a oeste, que uma grande parte dos avanços na civilização grega primitiva perdurou junto aos povos posteriores do sul da Europa, e muitos dos descendentes miscigenados desses Adamsonitas tornaram-se incorporados às tribos das terras continentais adjacentes.
80:8.1 (896.6) Os povos anditas do vale do Eufrates migraram para o norte, até a Europa, onde se misturaram aos homens azuis, e para o oeste, para as regiões do Mediterrâneo, onde se misturaram com os remanescentes dos já misturados saarianos e com os homens azuis do sul. E esses dois ramos da raça branca estiveram, e ainda estão, bastante separados pelos sobreviventes braquicéfalos das tribos andonitas anteriores da montanha, que outrora haviam habitado essas regiões centrais.
80:8.2 (896.7) Esses descendentes de Andon estavam dispersos pela maior parte das regiões montanhosas da Europa central e sudeste. Eles foram freqüentemente reforçados por aqueles que chegavam da Ásia Menor, região essa que ocuparam com uma força considerável. Os antigos hititas eram originários diretamente da linhagem andonita; as suas peles pálidas e as cabeças amplas eram típicas daquela raça. Os ancestrais de Abraão tinham essa linhagem, e ela contribuiu muito para a aparência fisionômica característica dos seus descendentes judeus posteriores que, ainda que tendo uma cultura e uma religião derivada dos anditas, falavam uma língua muito diferente. A sua língua era claramente andonita.
80:8.3 (897.1) As tribos que moravam em casas erigidas sobre pilotis ou em pranchas de troncos, sobre os lagos da Itália, da Suíça, e do sul da Europa, eram os postos avançados das migrações africanas, egeanas e, mais especialmente, danubianas.
80:8.4 (897.2) Os danubianos eram andonitas, lavradores e pastores que haviam chegado à Europa, passando pela península balcânica, e que se deslocaram lentamente na direção norte no vale do Danúbio. Faziam cerâmica e cultivavam a terra, preferindo viver nos vales. A colônia danubiana mais ao norte foi a de Liège, na Bélgica. Essas tribos deterioraram-se rapidamente, ao afastar-se do centro e da fonte da sua cultura. Um produto dessas primeiras colônias é uma cerâmica da melhor qualidade.
80:8.5 (897.3) Os danubianos tornaram-se adoradores da mãe por causa do trabalho dos missionários de Creta. Essas tribos amalgamaram-se posteriormente com grupos de marinheiros andonitas, que vieram em barcos, da costa da Ásia Menor, e que também eram adoradores da mãe. Grande parte da Europa central achava-se, assim, logo colonizada por esses tipos mistos de raças de braquicéfalos brancos, que praticavam a adoração materna e o rito religioso de cremar os mortos, pois era hábito desses adoradores da mãe queimar os seus mortos em cabanas de pedra.
80:9.1 (897.4) As combinações raciais na Europa, ao final das migrações anditas, podem ser generalizadas nas três raças brancas seguintes:
80:9.2 (897.5) 1. A raça branca do norte. Essa raça, chamada nórdica, consistiu primariamente do homem azul mais o andita, mas também trazia uma quantidade considerável de sangue andonita e, junto, quantidades menores do sangue dos sangiques vermelhos e amarelos. A raça branca do norte, assim, incorporou essas quatro entre as linhagens humanas mais desejáveis. Contudo, sua maior herança proveio do homem azul. O nórdico típico primitivo era dolicocéfalo, alto e louro. Contudo, já há muito tempo, essa raça tornou-se profundamente mesclada a todas as ramificações dos povos brancos.
80:9.3 (897.6) A cultura primitiva da Europa, que foi encontrada pelos invasores nórdicos, era a dos danubianos, em retrocesso, misturados ao homem azul. As culturas nórdico-dinamarquesa e danubiano-andonita encontraram-se no Reno e amalgamaram-se ali, como é testemunhado pela existência de dois grupos raciais na Alemanha, hoje.
80:9.4 (897.7) Os nórdicos deram continuidade ao comércio do âmbar da costa báltica, fazendo um grande comércio com os braquicéfalos do vale do Danúbio, através da passagem de Brenner. Esse contato extenso com os danubianos conduziu os nórdicos ao culto da mãe e, durante vários milhares de anos, a cremação dos mortos foi quase universal na Escandinávia. Isso explica por que os restos mortais das raças brancas mais primitivas, embora enterrados em toda a Europa, não são encontráveis — apenas o são as suas cinzas em urnas de pedra e argila. Esses homens brancos também construíam habitações; eles nunca viveram em cavernas. E, novamente, isso explica por que há tão pouca evidência da cultura primitiva do homem branco, embora a do tipo cromagnoniano, antecedente dele, esteja bem conservada nas cavernas e grutas, onde ficou seguramente selada. De qualquer modo, houve no norte da Europa, algum dia, uma cultura primitiva dos retrógrados danubianos e do homem azul e, em seguida, aquela que era de um homem branco, o qual apareceu subitamente e era bastante superior.
80:9.5 (897.8) 2. A raça branca central. Embora esse grupo inclua o sangue do homem azul, do amarelo e dos anditas, é predominantemente andonita. Esse povo é braquicéfalo, moreno e atarracado. Eles estão colocados como uma cunha entre as raças nórdicas e as mediterrâneas: a ampla base dessa cunha repousa na Ásia, com o vértice penetrando o leste da França.
80:9.6 (898.1) Durante quase vinte mil anos, os andonitas haviam sido empurrados cada vez mais para o norte da Ásia Central pelos anditas. Por volta de 3 000 a.C., uma aridez crescente estava conduzindo esses andonitas de volta ao Turquestão. Esse empurrão recebido pelos andonitas, para a direção sul, continuou por mais de mil anos e, dividindo-se ao redor dos mares Cáspio e Negro, eles penetraram na Europa pelos caminhos dos Balcãs e da Ucrânia. Essa invasão incluiu os grupos restantes dos descendentes de Adamson e, durante a metade posterior do seu período, a invasão levou consigo um número considerável de anditas iranianos, bem como muitos dos descendentes dos sacerdotes setitas.
80:9.7 (898.2) Por volta de 2 500 a.C., o curso para o oeste, que empurrava os andonitas, alcançou a Europa. E essa invasão, de toda a Mesopotâmia, da Ásia Menor e da base do Danúbio, pelos bárbaros das montanhas do Turquestão, constituiu o mais sério e prolongado de todos os retrocessos culturais até aquela época. Esses invasores definitivamente andonizaram o caráter das raças centro-européias, as quais permaneceram, desde então, caracteristicamente alpinas.
80:9.8 (898.3) 3. A raça branca do sul. Essa raça morena mediterrânea consistiu em uma combinação dos anditas com o homem azul, com um pouco menos de sangue andonita do que a do norte. Esse grupo também absorveu uma considerável quantidade de sangue sangique secundário, por intermédio dos saarianos. Em épocas posteriores, essa divisão sulina da raça branca recebeu uma infusão de fortes elementos anditas vindos do leste do Mediterrâneo.
80:9.9 (898.4) As regiões costeiras do Mediterrâneo, todavia, não foram permeadas pelos anditas até os tempos das grandes invasões nômades de 2 500 a.C. O comércio e o tráfego por terra foram quase suspensos durante esses séculos da invasão dos nômades às regiões mediterrâneas do leste. Essa interferência nas viagens terrestres trouxe a grande expansão do tráfego e do comércio marítimo. O comércio no Mediterrâneo, por via marítima, estava em plena atividade, há cerca de quatro mil e quinhentos anos. E esse desenvolvimento do tráfego marítimo resultou em uma expansão súbita dos descendentes dos anditas por todo o território costeiro da bacia do Mediterrâneo.
80:9.10 (898.5) Essas misturas raciais constituíram a base da raça do sul da Europa, a mais miscigenada de todas. E, desde essa época, essa raça tem sido submetida ainda a outras miscigenações, sobretudo com os povos anditas azul-amarelos da Arábia. Essa raça mediterrânea é, na realidade, tão livremente mesclada com os povos vizinhos, a ponto de ser virtualmente indiscernível como um tipo separado, mas os seus membros, em geral, são de estatura baixa, de cabeça alongada, e morenos.
80:9.11 (898.6) No norte, os anditas suprimiram os homens azuis por meio da guerra e do casamento, mas, no sul, eles sobreviveram em maior número. Os bascos e os bérberes representam a sobrevivência de dois ramos dessa raça, mas mesmo esses povos miscigenaram-se profundamente com os saarianos.
80:9.12 (898.7) Esse foi o quadro da miscigenação racial apresentado na Europa central, por volta de 3 000 a.C. Apesar da falta Adâmica parcial, os tipos mais elevados miscigenarem-se.
80:9.13 (898.8) Esses foram os tempos da Nova Idade da Pedra, que se sobrepôs à posterior Idade do Bronze. Na Escandinávia, era já a Idade do Bronze, associada ao culto da mãe. No sul da França e na Espanha, era a Nova Idade da Pedra, associada à adoração do sol. Essa foi a época da edificação de templos circulares e sem teto, para o sol. As raças brancas européias eram de construtores de muita atividade, que se deliciavam em levantar grandes pedras como memoriais ao sol, como o fizeram, posteriormente, os seus descendentes, em Stonehenge. A voga da adoração ao sol indica que esse foi um grande período para a agricultura, no sul da Europa.
80:9.14 (899.1) As superstições dessa era de adoração do sol, relativamente recente, ainda perduram junto aos povos da Bretanha. Embora já tenham sido cristianizados, há mais de mil e quinhentos anos, esses bretões ainda conservam os amuletos da Nova Idade da Pedra para afastar o mau-olhado. Eles ainda conservam os aerólitos, nas chaminés, como proteção contra relâmpagos. Os bretões nunca se mesclaram com os nórdicos escandinavos. Eles são sobreviventes dos habitantes andonitas originais da Europa ocidental, misturados ao sangue mediterrâneo.
80:9.15 (899.2) Todavia, é uma falácia presumir classificar os povos brancos como sendo nórdicos, alpinos e mediterrâneos. Houve uma mesclagem geral, forte e intensa demais, para permitir tais agrupamentos. Em um dado momento, houve uma divisão bastante bem definida da raça branca nesses tipos, mas, desde então, ocorreu uma intermiscigenação bastante propagada, passando a não ser mais possível identificar essas diferenciações com qualquer clareza. Mesmo em 3 000 a.C., os antigos grupos sociais já não eram de só uma raça, não mais do que os atuais habitantes da América do Norte.
80:9.16 (899.3) Essa cultura européia, durante cinco mil anos, continuou expandindo-se e se intermesclando, em uma certa medida. A barreira da língua, entretanto, impediu a reciprocidade plena entre as várias nações ocidentais. Durante o último século, essas culturas vêm tendo uma oportunidade melhor, de combinação e mesclagem, na população cosmopolita da América do Norte; e o futuro desse continente será determinado pela qualidade dos fatores raciais com os quais lhe é permitido compor as suas populações atuais e futuras; bem como pelo nível mantido na sua cultura social.
80:9.17 (899.4) [Apresentado por um Arcanjo de Nébadon.]
O Livro de Urântia
Documento 81
81:0.1 (900.1) APESAR do malogro, cheio de altos e baixos, no andamento projetado dos planos de aprimoramento do mundo, nas missões de Caligástia e de Adão, a evolução orgânica básica da espécie humana continuou a levar as raças adiante, na escala do progresso humano e do desenvolvimento racial. A evolução pode ser retardada, mas não pode ser detida.
81:0.2 (900.2) A influência da raça violeta, embora em números inferiores aos que haviam sido planejados, desde os dias de Adão, produziu um avanço de civilização que ultrapassou em muito o progresso alcançado pela humanidade durante toda a sua existência anterior, de quase um milhão de anos.
81:1.1 (900.3) Durante cerca de trinta e cinco mil anos depois dos dias de Adão, o berço da civilização foi o sudoeste da Ásia, estendendo-se desde o leste do vale do Nilo e ligeiramente para o norte, através do norte da Arábia, pela Mesopotâmia e pelo Turquestão. E o clima foi o fator decisivo para o estabelecimento da civilização naquela área.
81:1.2 (900.4) Foram as grandes mudanças climáticas e geológicas no norte da África e no oeste da Ásia que puseram fim às primeiras migrações dos adamitas, impedindo-os de chegarem à Europa pelo Mediterrâneo expandido e desviando a corrente de migração ao norte e ao leste, para dentro do Turquestão. Quando se completaram as elevações das terras e se deram as mudanças climáticas decorrentes, por volta de 15 000 a.C., a civilização estava em um estado de paralisação mundial, exceto pelos fermentos culturais e pelas reservas biológicas dos anditas, ainda confinados a leste pelas montanhas, na Ásia, e a oeste, pelas florestas em expansão da Europa.
81:1.3 (900.5) A evolução climática agora está para realizar aquilo em que todos os outros esforços falharam, isto é, compelir o homem eurasiano a abandonar a caça, fazendo-o atender aos apelos mais avançados do pastoreio e da agricultura. A evolução pode ser lenta, mas é extremamente eficaz.
81:1.4 (900.6) Posto que os agricultores primitivos empregassem tão generalizadamente os escravos, o lavrador, outrora, de um certo modo era menosprezado, tanto pelos caçadores quanto pelos pastores. Durante idades, cultivar o solo foi considerado inferior; e daí vem a idéia de que o trabalho com o solo é uma maldição, enquanto, na verdade, é a maior de todas as bênçãos. Mesmo nos dias de Caim e Abel, os sacrifícios de vida perpetrados pelos pastores ainda eram tidos em uma estima maior do que as oferendas dos agricultores.
81:1.5 (900.7) Em geral o homem evoluiu até a condição de agricultor, vindo da condição de caçador e passando pelo período de transição da era do pastoreio, e isso foi verdadeiro também entre os anditas; contudo, mais freqüentemente, a coerção evolucionária da necessidade climática levaria tribos inteiras a passarem diretamente da condição de caçadores para a de agricultores de êxito. Esse fenômeno, todavia, da passagem imediata da caça à agricultura ocorreu apenas naquelas regiões em que havia um grau elevado de mistura racial com a linhagem violeta.
81:1.6 (901.1) Os povos evolucionários (notadamente os chineses) aprenderam logo a plantar as sementes, e cultivar o cuidado pelas colheitas, mediante a observação do crescimento das sementes acidentalmente umedecidas ou que haviam sido colocadas nas sepulturas, como alimento para os falecidos. Todavia, em todo o sudoeste da Ásia, ao longo dos leitos férteis dos rios e das planícies adjacentes, os anditas estavam levando adiante as técnicas avançadas de agricultura, herdadas dos seus ancestrais que haviam feito da agricultura e da jardinagem os seus trabalhos principais, dentro das fronteiras do segundo jardim.
81:1.7 (901.2) Durante milhares de anos, os descendentes de Adão haviam cultivado o trigo e a cevada, tais como haviam sido aperfeiçoados no Jardim, nos planaltos da fronteira superior da Mesopotâmia. Os descendentes de Adão e de Adamson encontraram-se ali, fizeram comércio e relacionaram-se socialmente.
81:1.8 (901.3) Foram essas mudanças forçadas nas condições de vida que levaram uma parte tão grande da raça humana a tornar-se onívora na sua prática alimentar. E a combinação de trigo, arroz e legumes com a carne dos rebanhos, na dieta, marcou um grande passo adiante na saúde e no vigor desses povos antigos.
81:2.1 (901.4) O crescimento da cultura baseia-se no desenvolvimento dos utensílios da civilização. E os instrumentos que o homem utilizou para a sua ascensão desde a selvageria foram eficazes apenas na medida em que liberaram a energia do homem para a realização de tarefas mais elevadas.
81:2.2 (901.5) Vós, que viveis agora em meio às cenas atuais da cultura que brota e do progresso inicial nos assuntos sociais, e que tendes algum tempo livre para pensar de fato sobre a sociedade e a civilização, não deveis negligenciar o fato de que os vossos primeiros ancestrais pouco ou nenhum tempo tiveram para um lazer que pudesse ser dedicado à reflexão cuidadosa e ao pensamento social.
81:2.3 (901.6) Os primeiros quatro grandes avanços na civilização humana foram:
81:2.4 (901.7) 1. O domínio do fogo.
81:2.5 (901.8) 2. A domesticação de animais.
81:2.6 (901.9) 3. A escravização dos prisioneiros.
81:2.7 (901.10) 4. A propriedade privada.
81:2.8 (901.11) Embora a primeira grande descoberta, a do fogo, finalmente haja descerrado as portas do mundo científico, foi, nesse sentido, de pouca valia para o homem primitivo. Pois se recusava ele a reconhecer as causas naturais como sendo as explicações para os fenômenos comuns.
81:2.9 (901.12) Na indagação sobre a origem do fogo, a história simples de Andon e da pedra foi substituída pela lenda de como um certo Prometeu tê-lo-ia roubado do céu. Os antigos buscavam uma explicação sobrenatural para todos os fenômenos naturais que não estavam dentro do alcance da sua compreensão pessoal; e muitos povos modernos continuam fazendo isso. A despersonalização dos fenômenos chamados naturais tem durado idades, e ainda não se completou. No entanto, a busca franca, honesta e destemida das causas verdadeiras deu origem à ciência moderna: transformou a astrologia na astronomia, a alquimia na química e a magia em medicina.
81:2.10 (901.13) Na idade da pré-máquina, o único modo pelo qual o homem podia realizar um trabalho, sem que ele próprio o fizesse, era usando um animal. A domesticação de animais colocou, nas suas mãos, instrumentos vivos cujo uso inteligente preparou o caminho para a agricultura e o transporte. E, sem esses animais, o homem não poderia ter avançado do seu estado primitivo até os níveis subseqüentes da civilização.
81:2.11 (902.1) A maior parte dos animais adequados para a domesticação era encontrada na Ásia, especialmente nas regiões central e sudoeste. Essa foi uma razão pela qual a civilização progrediu mais rapidamente naquele local, do que em outras partes do mundo. Muitos desses animais haviam sido domesticados por duas vezes anteriormente e, na idade andita, eles o foram ainda uma vez. O cão, entretanto, havia permanecido com os caçadores desde então, sendo adotado pelo homem azul bastante tempo antes.
81:2.12 (902.2) Os anditas do Turquestão foram os primeiros povos a domesticar o cavalo de um modo completo, e essa é outra razão pela qual a sua cultura foi predominante durante tanto tempo. Por volta de 5 000 a.C., os agricultores da Mesopotâmia, do Turquestão e da China haviam iniciado a criação de ovelhas, cabras, vacas, camelos, cavalos, aves e elefantes. E empregaram, como bestas de carga, o touro, o camelo, o cavalo e o boi do Tibete, o iaque. O homem havia sido, ele próprio, durante uma certa época, a besta de carga. Um dos dirigentes da raça azul chegou a ter, certa vez, cem mil homens na sua colônia de carregadores forçados.
81:2.13 (902.3) As instituições da escravidão e da propriedade privada de terras surgiram com a agricultura. A escravidão elevou o padrão de vida dos donos e senhores e proporcionou mais lazer para a cultura social.
81:2.14 (902.4) O selvagem é um escravo da natureza, mas a civilização científica está conferindo vagarosamente uma liberdade crescente à humanidade. Por meio do fogo e da ajuda de animais, vento, água, eletricidade e outras fontes não descobertas de energia, o homem tem-se libertado, e continuará a libertar-se da necessidade de trabalhar incansavelmente. A despeito dos problemas transitórios gerados por prolíficas invenções de máquinas, os benefícios finais que se derivarão dessas invenções mecânicas são inestimáveis. A civilização não poderá florescer jamais, e muito menos se estabelecer, antes que o homem tenha tempo livre para pensar, planejar e imaginar novos e melhores modos de fazer as coisas.
81:2.15 (902.5) O homem primeiro simplesmente apoderou-se do seu abrigo, viveu sob as saliências de rochas ou residiu em cavernas. Em seguida, adaptou os materiais naturais, como a madeira e a pedra, para criar cabanas para a família. E, finalmente entrou no estágio criativo de construir a sua casa, aprendeu a manufaturar tijolos e outros materiais de construção.
81:2.16 (902.6) Os povos dos planaltos do Turquestão foram os primeiros das raças mais modernas a construir as suas casas de madeira, casas não muito diferentes das primitivas cabanas de troncos dos colonos pioneiros americanos. Nas planícies, as habitações humanas eram feitas de tijolos; mais tarde, de tijolos queimados.
81:2.17 (902.7) As raças fluviais mais antigas faziam as suas cabanas colocando troncos altos no chão, circularmente; os topos eram então colocados juntos e eram entrelaçados com juncos transversais formando o esqueleto da cabana e toda essa invenção assemelhando-se a uma imensa cesta invertida. Essa estrutura podia então ser emplastrada com argila e, depois de secar ao sol, resultaria em uma habitação muito útil à prova de água.
81:2.18 (902.8) Foi dessas cabanas primitivas que se originou, de modo independente, a idéia subseqüente de confecionar várias espécies de cestas. Dentro de um desses grupos, surgiu a idéia de fazer a cerâmica, depois que se observaram os efeitos de emplastrar essas molduras de mastros com a argila umedecida. A prática de endurecer a cerâmica no fogo foi descoberta quando uma dessas cabanas primitivas cobertas de argila acidentalmente queimou-se. As artes dos dias antigos muitas vezes derivavam de ocorrências acidentais resultantes da vida cotidiana dos povos primitivos. Ao menos isso foi quase totalmente verdadeiro no que concerne ao progresso evolucionário da humanidade, até a vinda de Adão.
81:2.19 (903.1) Enquanto a cerâmica fora inicialmente introduzida pela assessoria do Príncipe, há cerca de meio milhão de anos, a elaboração de vasilhames de cerâmica havia praticamente cessado durante mais de cento e cinqüenta mil anos. Apenas os noditas pré-sumérios da costa do golfo continuavam fabricando vasilhames de argila. A arte da cerâmica foi revivida durante a época de Adão. A disseminação dessa arte foi simultânea com a ampliação das áreas desérticas da África, da Arábia e da Ásia Central; e espalhou-se, em ondas sucessivas de aprimoramento de técnica, desde a Mesopotâmia até o hemisfério oriental.
81:2.20 (903.2) Essas civilizações da idade andita nem sempre podem ser reconhecidas pelos estágios da sua cerâmica ou outras artes. O curso regular da evolução humana foi tremendamente complicado pelos regimes tanto da Dalamátia, quanto do Éden. Ocorre, com freqüência, que os vasos e os implementos mais recentes sejam inferiores aos produtos iniciais dos povos anditas mais puros.
81:3.1 (903.3) A destruição, causada pelo clima, das pradarias abertas e ricas de caça do Turquestão, começando por volta de 12 000 a.C., compeliu os homens daquelas regiões a recorrerem a novas formas de indústria e de manufatura bruta. Alguns se voltaram para o cultivo de rebanhos domesticados, outros se tornaram agricultores ou coletores de alimentos cultivados pela água, mas o tipo mais elevado do intelecto andita escolheu engajar-se no comércio e na manufatura. E tornou-se mesmo um costume de tribos inteiras dedicar-se ao desenvolvimento de uma única indústria. Do vale do Nilo ao Hindo Kush e do Ganges até o rio Amarelo, o principal negócio das tribos superiores tornou-se o cultivo do solo, com o comércio como uma segunda atividade.
81:3.2 (903.4) O crescimento do comércio e da manufatura de matérias básicas, para vários artigos de comércio, serviu útil e diretamente para culminar naquelas comunidades primitivas e semipacíficas que de tanta influência foram na disseminação da cultura e das artes da civilização. Antes da era do comércio mundial amplo, as comunidades sociais eram tribais — grupos familiares expandidos. O comércio trouxe o relacionamento de tipos diferentes de seres humanos, contribuindo, assim, para um intercâmbio mais rápido entre as culturas.
81:3.3 (903.5) Há cerca de doze mil anos, a era das cidades independentes estava surgindo. E essas cidades primitivas de comércio e de manufatura eram sempre cercadas de zonas de agricultura e de criação de gado. Se bem que seja verdade que a indústria haja sido impulsionada pela elevação dos padrões de vida, não deveríeis ter idéias errôneas sobre os refinamentos na vida urbana primitiva. As raças iniciais não eram excessivamente ordenadas, nem limpas; e a comunidade primitiva mediana ficava mais alta, de trinta a sessenta centímetros, a cada vinte e cinco anos, por causa da mera acumulação de sujeira e lixo. Algumas dessas antigas cidades então ficam mais elevadas em relação ao terreno vizinho rapidamente, porque as suas cabanas de barro não cozido duravam pouco e era costume construir novas habitações diretamente sobre a ruína das antigas.
81:3.4 (903.6) O uso difundido de metais era uma das características dessa era das primeiras cidades industriais e comerciais. Vós já encontrastes uma cultura do bronze no Turquestão, que é anterior a 9 000 a.C., e os anditas muito cedo aprenderam a trabalhar com o ferro, o ouro e também o cobre. Todavia, as condições longe dos centros mais avançados da civilização eram muito diferentes. Não houve períodos distintos, como as idades da pedra, do bronze e do ferro; todas três existiram ao mesmo tempo, em localidades diferentes.
81:3.5 (904.1) O ouro foi o primeiro metal a ser procurado pelo homem: era fácil de trabalhar e, inicialmente, era usado apenas como ornamento. O cobre foi o próximo a ser empregado, entretanto, não de um modo mais amplo, antes de misturado ao estanho para fazer o bronze, de maior dureza. A descoberta da mistura do cobre e do estanho, para fazer o bronze, foi feita por um dos adamsonitas do Turquestão, cuja mina de cobre, nos planaltos, estava localizada perto de uma jazida de estanho.
81:3.6 (904.2) Com o aparecimento da manufatura rudimentar e com o começo da indústria, o comércio rapidamente tornou-se uma influência mais forte para a disseminação da civilização cultural. A abertura dos canais de comércio por terra e mar facilitou grandemente as viagens e a combinação das culturas, bem como a fusão das civilizações. Por volta de 5 000 a.C., o cavalo teve o seu uso generalizado nas terras civilizadas e semicivilizadas. Essas raças posteriores não apenas tinham o cavalo domesticado, mas também várias espécies de carroças e de carruagens. Idades antes, a roda havia sido usada, agora, todavia, os veículos equipados com elas tornavam-se universalmente empregados no comércio e na guerra.
81:3.7 (904.3) O comerciante que viajava e o explorador errante fizeram mais para o avanço da civilização histórica do que todas as outras influências combinadas. As conquistas militares, a colonização e as empresas missionárias, fomentadas pelas religiões posteriores, também foram fatores na disseminação da cultura; mas todos esses foram fatores secundários para as relações de comércio, as quais foram mais aceleradas ainda com as artes e as ciências da indústria em rápido desenvolvimento.
81:3.8 (904.4) A infusão do sangue Adâmico nas raças humanas não apenas acelerou o ritmo da civilização, como estimulou também, grandemente, as suas tendências para a aventura e para a exploração, a tal ponto que a maior parte da Eurásia e do norte da África, em breve, estaria ocupada pelos descendentes miscigenados dos anditas em rápida multiplicação.
81:4.1 (904.5) No momento em que se fez o contato com o alvorecer dos tempos históricos, toda a Eurásia, o norte da África e as Ilhas do Pacífico estavam povoados com as raças compostas da mesclagem da humanidade. E as raças de hoje resultaram da combinação e da recombinação dos cinco sangues humanos básicos de Urântia.
81:4.2 (904.6) Cada uma das raças de Urântia foi identificada por certas características físicas distintas. Os adamitas e os noditas tinham a cabeça longa; os andonitas tinham a cabeça larga. As raças sangiques tinham cabeças de tamanho mediano, os homens amarelos e os azuis tendendo a ter cabeças largas. As raças azuis, quando combinadas com a linhagem andonita, decididamente ficavam com as cabeças grandes. Os sangiques secundários tinham a cabeça de tamanho mediano ou longo.
81:4.3 (904.7) Embora essas dimensões do crânio ajudem a decifrar as origens raciais, o esqueleto inteiro torna-se bem mais confiável. No desenvolvimento inicial das raças de Urântia, havia originalmente cinco tipos distintos de estrutura do esqueleto:
81:4.4 (904.8) 1. A andônica, a dos aborígines de Urântia.
81:4.5 (904.9) 2. A dos sangiques primários, vermelhos, amarelos e azuis.
81:4.6 (904.10) 3. A dos sangiques secundários, alaranjados, verdes e índigos.
81:4.7 (904.11) 4. A dos noditas, descendentes dos dalamatianos.
81:4.8 (904.12) 5. A dos adamitas, a raça violeta.
81:4.9 (904.13) Posto que esses cinco grandes grupos raciais se intermesclaram amplamente, a combinação contínua tendeu a obscurecer o tipo andonita, por meio da dominância da hereditariedade sangique. Os lapônios e os esquimós são combinações das raças andonitas e sangiques azuis. A estrutura do esqueleto de ambas é a que mais se aproxima de haver preservado o tipo andônico aborígene. Todavia, os adamitas e os noditas tornaram-se tão miscigenados com as outras raças que eles podem ser detectados apenas como uma ordem caucasóide generalizada.
81:4.10 (905.1) Em geral, por conseguinte, à medida que são desenterrados os remanescentes humanos dos últimos vinte mil anos, será impossível distinguir claramente os cinco tipos originais. O estudo dessas estruturas ósseas revelará que a humanidade está agora dividida em aproximadamente três classes:
81:4.11 (905.2) 1. A caucasóide — a mistura andita das linhagens noditas e Adâmicas, modificadas posteriormente pela mistura com os sangiques primários e (alguns) secundários e por um cruzamento andônico considerável. As raças brancas ocidentais, junto com alguns povos indianos e turanianos, estão incluídas nesse grupo. O fator de unificação dessa divisão é a maior ou menor proporção da herança andita.
81:4.12 (905.3) 2. A mongolóide — o tipo sangique primário, incluindo as raças originais vermelha, amarela e azul. Os chineses e os ameríndios pertencem a este grupo. Na Europa, o tipo mongolóide foi modificado pela mistura com os sangiques secundários e pela mistura andônica; e mais ainda pela infusão de sangue andita. Os povos malaios e outros povos indonésios estão incluídos nessa classificação, embora contenham uma alta percentagem de sangue sangique secundário.
81:4.13 (905.4) 3. A negróide — o tipo sangique secundário, que, originalmente, incluía a raça alaranjada, a verde e a índigo. Esse tipo é mais bem ilustrado pela raça negra, e será encontrado na África, na Índia e na Indonésia, nos locais em que as raças sangiques secundárias estiverem localizadas.
81:4.14 (905.5) No norte da China, há uma certa combinação dos tipos caucasóide e mongolóide; no Levante, os caucasóides e os negróides mesclaram-se entre si; na Índia, como na América do Sul, todos os três tipos estão representados. E as características dos esqueletos dos três tipos que sobrevivem, ainda perduram e ajudam a identificar os ancestrais mais recentes das raças humanas dos dias atuais.
81:5.1 (905.6) A evolução biológica e a civilização cultural não estão necessariamente correlacionadas; a evolução orgânica pode continuar desembaraçadamente em qualquer idade, em meio até mesmo à decadência cultural. Todavia, quando períodos longos da história humana são pesquisados, será observado que, finalmente, a evolução e a cultura tornam-se relacionadas como causa e efeito. A evolução pode avançar na ausência da cultura, mas a civilização cultural não floresce sem um respaldo adequado de progresso racial anterior. Adão e Eva não introduziram nenhuma arte de civilização estranha ao progresso da sociedade humana, mas o sangue Adâmico aumentou a capacidade inerente às raças e fez acelerar o ritmo do desenvolvimento econômico e o progresso industrial. A dádiva de Adão aprimorou o poder cerebral das raças, acelerando grandemente, com isso, os processos da evolução natural.
81:5.2 (905.7) Mediante a agricultura, a domesticação dos animais e o aprimoramento da arquitetura, a humanidade gradualmente escapou da pior fase da luta incessante pela sobrevivência e começou a busca para descobrir como tornar mais doce o processo da vida; e isso foi o começo dos esforços para atingir padrões cada vez mais altos de conforto material. Por meio da manufatura e da indústria, o homem está gradativamente aumentando o conteúdo de prazer da vida mortal.
81:5.3 (906.1) A sociedade cultural, entretanto, não é como um grande clube beneficente, de privilégios herdados, no qual todos os homens já nascem com acesso livre e em total igualdade. É pouco mais elevada que uma corporação de trabalhadores das terras, sempre em avanço, admitindo nas suas fileiras apenas a nobreza daqueles trabalhadores que lutam para fazer do mundo um lugar melhor onde os seus filhos, e os filhos dos seus filhos, possam viver e avançar em idades subseqüentes. E essa agremiação da civilização cobra caras taxas de admissão, impõe disciplinas estritas e rigorosas, pune com pesadas penalidades a todos os dissidentes e não conformistas; ao mesmo tempo só conferindo pouquíssimos privilégios ou licenças pessoais, tais como os de uma segurança maior contra os perigos comuns e as ameaças raciais.
81:5.4 (906.2) A comunidade social é uma forma de seguro de sobrevivência, que os seres humanos aprenderam poder ser proveitosa; conseqüentemente, a maior parte dos indivíduos está disposta a pagar o custo desse seguro com o auto-sacrifício e a redução da liberdade pessoal, os quais a sociedade cobra dos seus membros em troca por essa alta proteção grupal. Em resumo, o mecanismo social dos dias atuais é um plano de seguro baseado na tentativa e no erro, destinado a proporcionar algum grau de segurança e de proteção contra um retorno às condições terríveis e anti-sociais que caracterizaram as experiências iniciais da raça humana.
81:5.5 (906.3) A sociedade torna-se, assim, um esquema cooperativo para assegurar a liberdade civil por intermédio de instituições: a liberdade econômica por meio do capital e da invenção, a liberdade social por meio da cultura e a liberdade da violência por meio da regulamentação policial.
81:5.6 (906.4) O poder da força não gera o direito, mas impõe os direitos comumente reconhecidos de cada geração que se sucede. A missão primeira do governo é a definição do direito, da regulamentação justa e equânime das diferenças de classe, e a imposição da igualdade de oportunidades sob as regras da lei. Todo direito humano está associado a um dever social; o privilégio grupal é um mecanismo de segurança que infalivelmente demanda o pagamento total dos custos rigorosos do serviço grupal. E os direitos grupais, bem como os do indivíduo, devem ser protegidos; e deve-se incluir nisso a regulamentação das propensões sexuais.
81:5.7 (906.5) A liberdade sujeita à regulamentação grupal é a meta legítima da evolução social. A liberdade sem restrições é um sonho vão e fantasioso das mentes humanas instáveis e volúveis.
81:6.1 (906.6) Conquanto a evolução biológica haja sempre prosseguido avante, muito da evolução cultural saiu do vale do Eufrates, em ondas que sucessivamente se enfraqueceram com o passar do tempo, até que toda a posteridade de pura linhagem Adâmica, finalmente havia ido adiante proporcionando enriquecimento às civilizações da Ásia e Europa. As raças não se misturaram totalmente, as suas civilizações, contudo, combinaram-se em uma medida considerável. A cultura espalhou-se lentamente por todo o mundo. E essa civilização deve ser mantida e fomentada, pois não existem hoje novas fontes de cultura, nem novos anditas para revigorar e estimular o lento progresso da evolução da civilização.
81:6.2 (906.7) A civilização, como agora se desenvolve em Urântia, nasceu e baseou-se nos fatores seguintes:
81:6.3 (906.8) 1. As circunstâncias naturais. A natureza e a extensão da civilização material é, em grande medida, determinada pelos recursos naturais disponíveis. O clima, as condições meteorológicas e as numerosas condições físicas são fatores na evolução da cultura.
81:6.4 (907.1) Quando da abertura da era andita, havia apenas duas áreas extensas e férteis de caça livre em todo o mundo. Uma, na América do Norte, totalmente ocupada pelos ameríndios; a outra, ao norte do Turquestão, parcialmente ocupada por uma raça andônico-amarela. Os fatores decisivos para a evolução de uma cultura superior, no sudoeste da Ásia, foram a raça e o clima. Os anditas eram um grande povo, mas o fator crucial na determinação do curso da sua civilização foi a aridez crescente do Irã, do Turquestão e do Sinkiang, e isso os forçou a inventar e adotar métodos novos e avançados para arrancar a sobrevivência das suas terras cada vez menos férteis.
81:6.5 (907.2) A configuração dos continentes e outras situações de arranjos das terras têm tido uma grande influência na determinação da paz ou da guerra. Pouquíssimos urantianos já tiveram uma oportunidade tão favorável para um desenvolvimento contínuo e sem perturbações, como o que foi desfrutado pelos povos da América do Norte — protegidos praticamente de todos os lados por vastos oceanos.
81:6.6 (907.3) 2. Os bens de capital. A cultura nunca se desenvolve sob condições de pobreza; o lazer é essencial ao progresso da civilização. O caráter individual de valor moral e espiritual pode ser adquirido na ausência da riqueza material, mas uma civilização cultural apenas deriva-se das condições de prosperidade material que fomentam o lazer combinando-o à ambição.
81:6.7 (907.4) Durante os tempos primitivos, a vida em Urântia era uma questão séria e sombria. E foi para escapar dessa luta incessante e desse trabalho interminável que a humanidade adotou a tendência constante de deslocar-se para os climas salubres dos trópicos. Ainda que essas zonas mais quentes de habitação proporcionassem algum alívio da luta intensa pela existência, as raças e as tribos que assim buscaram tal comodidade raramente utilizaram o seu tempo livre, imerecido, para o avanço da civilização. O progresso social invariavelmente tem surgido dos pensamentos e planos daquelas raças que têm aprendido, mediante o seu trabalho inteligente, como conseguir viver da terra com menos esforço e com dias mais curtos de trabalho, ficando assim capazes para desfrutar de uma margem bem merecida e proveitosa de lazer.
81:6.8 (907.5) 3. O conhecimento científico. Os aspectos materiais da civilização devem sempre aguardar a acumulação de dados científicos. Depois da descoberta do arco, da flecha e da utilização da força animal, muito tempo passou até que o homem aprendesse a aproveitar o vento e a água, vindo em seguida o emprego do vapor e da eletricidade. Lentamente, contudo, as ferramentas da civilização se aprimoraram. A tecelagem, a cerâmica, a domesticação dos animais e a metalurgia foram seguidas pela idade da escrita e da imprensa.
81:6.9 (907.6) Conhecimento é poder. A invenção sempre precede à aceleração do desenvolvimento cultural, em uma escala mundial. A ciência e a invenção beneficiaram-se, mais do que tudo, da imprensa escrita; e a interação de todas essas atividades culturais e inventivas acelerou enormemente o ritmo do avanço cultural.
81:6.10 (907.7) A ciência ensina o homem a falar a linguagem nova da matemática e adestra o seu modo de pensar em linhas de precisão exatas. E a ciência também estabiliza a filosofia por meio da eliminação do erro: enquanto purifica a religião, ao exterminar a superstição.
81:6.11 (907.8) 4. Os recursos humanos. A força de trabalho do homem é indispensável à disseminação da civilização. Em condições de igualdade, um povo numeroso dominará a civilização de uma raça menos numerosa. E daí, uma nação que fracassa no crescimento da sua população impede, até certo ponto, a plena realização do destino nacional, mas há um ponto a partir do qual um crescimento maior da população torna-se suicida. A multiplicação até números além da proporção ótima homem-terra normal tem de significar ou um rebaixamento nos padrões de vida ou uma expansão imediata das fronteiras territoriais, por meio da penetração pacífica ou da conquista militar ou ocupação forçada.
81:6.12 (908.1) Vós vos espantais, algumas vezes, com as devastações da guerra, mas devíeis reconhecer a necessidade da produção de mortais, em grandes quantidades, de modo a proporcionar ampla oportunidade para o desenvolvimento social e moral; com tal fertilidade planetária, o problema sério da superpopulação logo ocorre. Os mundos habitados são pequenos, na sua maior parte. Urântia está dentro da média, talvez seja ligeiramente menor. A estabilização ótima para a população nacional eleva a cultura e impede a guerra. E sábia é a nação que sabe quando cessar o crescimento.
81:6.13 (908.2) Entretanto, o continente mais rico em depósitos naturais, e mais avançado em equipamentos mecânicos, terá pouco progresso se a inteligência do seu povo estiver em declínio. O conhecimento pode ser alcançado com a educação; mas a sabedoria indispensável à verdadeira cultura apenas pode ser assegurada por meio da experiência e de homens e mulheres inatamente inteligentes. Um povo assim é capaz de aprender da experiência; e pode tornar-se verdadeiramente sábio.
81:6.14 (908.3) 5. A eficácia dos recursos materiais. Muitas coisas dependem da sabedoria, na utilização dos recursos naturais, do conhecimento científico, dos bens de capital e dos potenciais humanos. O fator principal na civilização primitiva foi a força exercida pelos sábios mestres sociais; o homem primitivo tinha a civilização literalmente imposta a ele pelos seus contemporâneos superiores. As minorias bem organizadas e superiores têm governado amplamente este mundo.
81:6.15 (908.4) O poder da força não gera o direito, mas a força gera tudo o que tem acontecido, e tudo o que é, na história. Só recentemente Urântia alcançou o ponto em que a sociedade está disposta a debater a ética do poder e do direito.
81:6.16 (908.5) 6. A eficácia do idiom a. A disseminação da civilização deve resultar da língua. As línguas vivas, e em crescimento, asseguram a expansão do pensamento e do planejamento civilizados. Durante as idades iniciais, avanços importantes foram feitos na língua. Hoje, há uma grande necessidade de maiores desenvolvimentos lingüísticos, para facilitar a expressão do pensamento que evolui.
81:6.17 (908.6) As línguas evoluíram a partir de associações grupais, cada grupo local desenvolvendo o seu próprio sistema de troca por meio das palavras. As línguas cresceram por intermédio dos gestos, sinais, gritos, sons imitativos, entonação e acentos na vocalização dos alfabetos subseqüentes. O idioma é a ferramenta mais importante para o homem, e mais útil ao pensamento; no entanto, nunca floresceu antes que grupos sociais conquistassem algum tempo de lazer. A tendência de brincar com as palavras desenvolve novas palavras — a gíria corrente. Se a maioria adota a gíria, então o seu uso integra-a na língua. A origem dos dialetos é ilustrada pela indulgência para com o “linguajar infantil” em um grupo familiar.
81:6.18 (908.7) As diferenças entre as línguas têm sido sempre a grande barreira à expansão da paz. A conquista de dialetos deve preceder à disseminação de uma cultura, para a raça, o continente ou o mundo inteiro. Uma língua universal promove a paz, assegura a cultura e aumenta a felicidade. Mesmo quando os idiomas de um mundo ficam reduzidos a uns poucos, a mestria desses idiomas pelos povos de liderança cultural influencia poderosamente a realização de uma paz e de uma prosperidade de alcance mundial.
81:6.19 (908.8) Embora pouquíssimo progresso haja sido conseguido em Urântia, no sentido de desenvolver um idioma internacional, muito tem sido realizado pelo estabelecimento das trocas no comércio internacional. E essas relações internacionais deveriam ser fomentadas, todas, pois elas envolvem os idiomas, o comércio, a arte, a ciência, os jogos competitivos e a religião.
81:6.20 (909.1) 7. A eficácia dos equipamentos mecânicos. O progresso da civilização está relacionado diretamente ao desenvolvimento e à posse de equipamentos, máquinas e canais de distribuição. Os equipamentos aperfeiçoados, as máquinas engenhosas e eficientes determinam a sobrevivência dos grupos que competem na arena da civilização em avanço.
81:6.21 (909.2) Nos tempos iniciais, a única energia aplicada ao cultivo da terra era a energia humana. Foi uma luta renhida a de substituir os homens pelos bois, já que isso deixa os homens sem emprego. Ultimamente, as máquinas começaram a deslocar os homens, e cada avanço desses contribui diretamente para o progresso da sociedade, pois libera a energia humana para realizar tarefas mais valiosas.
81:6.22 (909.3) A ciência, guiada pela sabedoria, pode tornar-se a grande liberadora social do homem. Uma idade mecânica pode tornar-se desastrosa apenas para uma nação cujo nível intelectual é baixo demais para que se descubram os métodos sábios, e as técnicas confiáveis, ao êxito do ajustamento às dificuldades da transição que advém da perda súbita do emprego por parte de grandes populações, em conseqüência da invenção rápida demais de novos tipos de maquinário economizador de mão-de-obra.
81:6.23 (909.4) 8. O caráter da vanguarda que porta o archote. A herança social capacita o homem a ficar de pé nos ombros de todos aqueles que o precederam e que contribuíram com algo para a soma da cultura e do conhecimento. Nessa tarefa de passar o archote cultural para a próxima geração, o lar será sempre a instituição básica. Em seguida, vêm a vida social e os jogos; a escola vindo por último, sendo contudo igualmente indispensável em uma sociedade complexa e altamente organizada.
81:6.24 (909.5) Os insetos nascem totalmente educados e equipados para a vida — de fato levam uma existência estreita e puramente instintiva. O bebê humano nasce sem uma educação; por conseguinte, o homem possui a propriedade de, pelo controle educacional da geração mais recente, poder modificar grandemente o curso evolucionário da civilização.
81:6.25 (909.6) No século vinte, as influências que mais contribuem para o avanço da civilização e da cultura são o crescimento marcante na mobilidade mundial do homem e o aprimoramento, sem paralelos, dos meios de comunicação. Contudo, o aprimoramento da educação não se manteve à altura da estrutura social em expansão; nem a valoração moderna da ética desenvolveu-se à altura do crescimento feito em direções mais puramente intelectuais e científicas. E a civilização moderna está estagnada quanto ao desenvolvimento espiritual, bem como quanto à salvaguarda da instituição do lar.
81:6.26 (909.7) 9. Os ideais raciais. Os ideais de uma geração esculpem os canais do destino da posteridade imediata. A qualidade da vanguarda social, porta-archotes, determinará se a civilização irá para a frente ou para trás. Os lares, as igrejas e as escolas, em uma geração, predeterminam a tendência do caráter da geração subseqüente. O impulso moral e espiritual de uma raça, ou de uma nação, determina amplamente a velocidade cultural dessa civilização.
81:6.27 (909.8) Os ideais elevam a fonte do curso social. E nenhum curso elevar-se-á a uma altura maior do que a da sua fonte, não importa a técnica de pressão ou de controle direcional empregada. O poder impulsor, mesmo dos aspectos mais materiais de uma civilização cultural, reside nas realizações menos materiais da sociedade. A inteligência pode controlar o mecanismo da civilização, a sabedoria pode dirigi-lo, mas o idealismo espiritual é a energia que realmente eleva e faz avançar a cultura humana de um nível de realização para outro.
81:6.28 (910.1) A princípio, a vida era uma luta pela existência; agora, por um padrão de vida; em seguida, a luta será pela qualidade do pensamento, que é a próxima meta terrena da existência humana.
81:6.29 (910.2) 10. A coordenação dos especialistas. A civilização tem avançado enormemente devido a uma divisão inicial do trabalho e devido ao seu posterior corolário, o da especialização. A civilização agora depende da coordenação eficaz dos especialistas. À medida que a sociedade se expande, deve ser encontrado algum método de reagrupar os vários especialistas.
81:6.30 (910.3) Os especialistas sociais, artísticos, técnicos e industriais continuarão a multiplicar-se e a aumentar as suas habilidades e a sua destreza. A diversificação da habilidade e a diversidade do seu emprego, finalmente, irão enfraquecer e desintegrar a sociedade humana, caso não sejam desenvolvidos meios eficazes de coordenação e de cooperação. A inteligência, que é capaz de tal inventividade e de tal especialização, entretanto, deveria ser totalmente competente para entabular métodos adequados de controle e de ajuste de todos os problemas que resultam do crescimento rápido da invenção e do ritmo acelerado da expansão cultural.
81:6.31 (910.4) 11. Os mecanismos para encontrar os empregos. A próxima idade, do desenvolvimento social, estará incorporada a uma cooperatividade e a uma coordenação melhores e mais efetivas da especialização sempre crescente e em expansão. E como o trabalho se diversifica cada vez mais, algumas técnicas para encaminhar os indivíduos às ocupações adequadas devem ser delineadas. O maquinário não é a única causa do desemprego em meio aos povos civilizados de Urântia. A complexidade econômica e o aumento constante da especialização industrial e profissional aumentam os problemas de colocação do trabalhador.
81:6.32 (910.5) Não é suficiente treinar os homens para o trabalho; em uma sociedade complexa, devem ser providos também os métodos eficazes para encontrar os seus locais de trabalho. Antes de treinar os cidadãos nas técnicas altamente especializadas de como ganhar a sobrevivência, eles deveriam ser treinados em um ou mais métodos de trabalho comum, de comércio ou de ocupações, que lhes permitissem manter-se trabalhando mesmo estando transitoriamente desempregados nos seus trabalhos especializados. Nenhuma civilização pode sobreviver sustentando, por muito tempo, grandes grupos de desempregados. Com o tempo, até mesmo os melhores cidadãos tornar-se-ão corrompidos e desmoralizados por aceitar o sustento do tesouro público. Mesmo a caridade privada torna-se perniciosa, quando aplicada por muito tempo a cidadãos sãos e capazes.
81:6.33 (910.6) Uma sociedade a tal ponto especializada não considerará com simpatia as antigas práticas comunais e feudais dos povos antigos. É bem verdade que muitos serviços comuns podem ser socializados de um modo aceitável e proveitoso, mas os seres humanos altamente treinados e ultra-especializados podem ser mais bem gerenciados por alguma técnica de cooperação inteligente. A coordenação modernizada e a regulamentação fraternal produzirão uma cooperação mais durável do que os métodos mais antigos e mais primitivos de comunismo ou de instituições reguladoras ditatoriais, baseadas na força.
81:6.34 (910.7) 12. A disposição de cooperar. Um dos grandes obstáculos ao progresso da sociedade humana é o conflito entre os interesses e o bem-estar dos grupos humanos maiores e mais socializados, e o das associações humanas menores, de mente opositora e associal, para não mencionar os indivíduos isolados e de mentalidade anti-social.
81:6.35 (910.8) Nenhuma civilização nacional perdura, a menos que os seus métodos educacionais e os seus ideais religiosos inspirem um tipo elevado de patriotismo inteligente e de devoção nacional. Sem essa espécie de patriotismo inteligente e de solidariedade cultural, todas as nações tendem a desintegrar-se devido aos ciúmes provincianos e aos interesses egoístas locais.
81:6.36 (911.1) Para que a civilização mundial seja mantida, depende-se de que os seres humanos aprendam a viver juntos, em paz e fraternidade. Sem uma coordenação eficiente, a civilização industrial fica submetida às ameaças dos perigos da ultra-especialização: a monotonia, a limitação e a propensão para a provocação de desconfiança e ciúme.
81:6.37 (911.2) 13. Uma liderança eficiente e sábia. Na civilização, muito, muitíssimo mesmo, depende de um espírito entusiasta e que constitua uma liderança poderosa. Dez homens são de pouco mais valia do que um só, para levantar um grande peso, a menos que o levantem juntos — todos ao mesmo tempo. E tal trabalho de equipe — a cooperação social — depende de uma liderança. As civilizações culturais do passado e do presente têm-se baseado na cooperação inteligente dos cidadãos para com os líderes sábios e progressistas; e até que o homem evolua até níveis mais elevados, a civilização continuará a depender de uma liderança sábia e vigorosa.
81:6.38 (911.3) As grandes civilizações nascem de uma correlação sagaz entre a riqueza material, a grandeza intelectual, o valor moral, a astúcia social e o discernimento cósmico.
81:6.39 (911.4) 14. As mudanças sociais. A sociedade não é uma instituição divina; é um fenômeno da evolução progressiva; e o progresso da civilização é sempre retardado, quando os seus líderes são lentos em fazer as mudanças, na organização social, essenciais para que seja acompanhado o ritmo dos desenvolvimentos científicos da época. Por tudo isso, as coisas não devem ser desprezadas apenas porque sejam velhas, nem uma idéia deveria ser incondicionalmente adotada apenas porque é original e nova.
81:6.40 (911.5) O homem deveria ser destemido para fazer experimentos com os mecanismos da sociedade. Sempre, porém, essas aventuras de ajuste cultural deveriam ser controladas pelos que estão plenamente familiarizados com a história da evolução social; e esses inovadores deveriam sempre ser aconselhados pela sabedoria daqueles que tiveram experiência prática no domínio do experimento social ou econômico em pauta. Nenhuma grande mudança social ou econômica deveria ser realizada subitamente. O tempo é essencial a todos os tipos de ajuste humano — físico, social ou econômico. Apenas os ajustes morais e espirituais podem ser feitos no impulso do momento, e mesmo estes requerem o passar do tempo para que ocorra a manifestação plena das suas repercussões materiais e sociais. Os ideais da raça são o apoio e a segurança maiores durante os tempos críticos em que a civilização estiver na transição de um nível para o outro.
81:6.41 (911.6) 15. A prevenção do colapso na transição. A sociedade é fruto de idades após idades de tentativa e de erro; é aquilo que sobreviveu aos ajustes e reajustes seletivos, nos estágios sucessivos da longa elevação da humanidade, desde os níveis animais até os níveis humanos, em todo o planeta. O grande perigo para qualquer civilização — em qualquer momento — é a ameaça de colapso, durante a época de transição dos métodos estabelecidos do passado para os procedimentos novos e melhores do futuro, os quais, todavia, não estão ainda testados.
81:6.42 (911.7) A liderança é vital para o progresso. A sabedoria, o discernimento interior e a previsão são indispensáveis para que as nações perdurem. A civilização só está realmente em perigo quando a liderança capaz começa a desaparecer. E a quantidade dessa liderança sábia nunca excedeu a um por cento da população.
81:6.43 (911.8) E foi por esses degraus fortes da escada evolucionária que a civilização escalou até o ponto em que tiveram início essas influências poderosas a culminarem na cultura de expansão rápida do século vinte. E apenas mediante a sua adesão a esses fatores essenciais é que o homem pode esperar manter as suas civilizações atuais, contribuindo, ao mesmo tempo, para o desenvolvimento contínuo e a sobrevivência segura delas.
81:6.44 (912.1) Essa é a essência da luta longuíssima dos povos da Terra para implantar a civilização, desde a idade de Adão. A cultura dos dias atuais é o resultado líquido dessa evolução ardorosa. Antes da invenção da imprensa, o progresso era relativamente lento, pois uma geração não podia tão rapidamente beneficiar-se das realizações dos seus predecessores. Agora, todavia, a sociedade humana está saltando para a frente sob a força do momentum acumulado de todas as idades pelas quais a civilização tem lutado.
81:6.45 (912.2) [Promovido por um Arcanjo de Nébadon.]
O Livro de Urântia
Documento 82
82:0.1 (913.1) O MATRIMÔNIO — o acasalamento — advém da bissexualidade. O casamento é a reação de ajustamento do homem a essa bissexualidade, enquanto a vida familiar é a soma total resultante de todos os ajustes e adequações evolucionárias. O matrimônio é duradouro, não é inerente à evolução biológica; todavia, ele é a base de toda evolução social e tem, conseqüentemente, assegurada a continuação da sua existência, de alguma forma. O casamento deu o lar à humanidade, e o lar é a glória que coroa toda a longa e renhida luta evolucionária.
82:0.2 (913.2) Embora as instituições religiosas, sociais e educacionais sejam todas essenciais à sobrevivência da civilização cultural, a família é a mestra civilizadora. Uma criança aprende a maior parte das coisas essenciais da vida com a sua família e os vizinhos.
82:0.3 (913.3) Os humanos dos tempos antigos não possuíam uma civilização social muito rica, mas, fiel e eficientemente, passaram aquela que tiveram à próxima geração. E vós deveríeis reconhecer que a maioria das civilizações do passado continuou a evoluir com um mínimo de outras influências institucionais, pois o lar funcionava efetivamente. Hoje, a raça humana possui uma rica herança social e cultural, que deve ser, sábia e eficientemente, passada às gerações subseqüentes. A família, como uma instituição educacional, deve ser mantida.
82:1.1 (913.4) Apesar do abismo que separa a personalidade dos homens da das mulheres, o impulso do sexo é suficiente para assegurar que se ajuntem para a reprodução das espécies. Esse instinto já atuava com eficácia muito antes de os humanos experimentarem aquilo que posteriormente foi chamado de amor, devoção e lealdade matrimonial. O acasalamento é uma tendência inata, e o matrimônio é a sua repercussão evolucionária social.
82:1.2 (913.5) O interesse e o desejo sexual não foram paixões dominantes para os povos primitivos; eles simplesmente os aceitavam. A experiência reprodutiva estava toda isenta de belezas imaginativas. A paixão sexual todo-absorvente dos povos mais altamente civilizados é devida principalmente às misturas das raças, especialmente naquilo em que a natureza evolucionária foi estimulada, na imaginação associativa e na valoração da beleza entre os noditas e os adamitas. Essa herança andita, contudo, foi absorvida pelas raças evolucionárias em quantidades de tal modo limitadas que deixaram de prover um autocontrole suficiente para as paixões animais, excitadas desse modo e estimuladas pela dotação de uma consciência sexual mais aguda e desejos mais fortes de acasalamento. Dentre as raças evolucionárias, o homem vermelho teve o código sexual mais elevado.
82:1.3 (913.6) A regulamentação do sexo em relação ao casamento indica:
82:1.4 (913.7) 1. O progresso relativo da civilização. A civilização tem demandado que o sexo seja gratificado, crescentemente, segundo os canais da sua utilidade e de acordo com os costumes.
82:1.5 (914.1) 2. O teor de sangue andita em qualquer povo. Entre tais grupos, o sexo tornou-se a expressão tanto da natureza mais elevada quanto da mais baixa, não apenas física, mas também emocionalmente.
82:1.6 (914.2) As raças sangiques tinham paixões animais normais, porém elas demonstravam pouca imaginação ou uma apreciação baixa da beleza e da atração física exercida pelo sexo oposto. Aquilo que é chamado de atração sexual é virtualmente ausente até mesmo nas raças primitivas dos dias atuais; esses povos não miscigenados têm um instinto de acasalamento definido, mas têm uma atração sexual insuficiente para gerar problemas sérios e que requeiram um controle social.
82:1.7 (914.3) O instinto do acasalamento é uma das forças físicas impulsoras dominantes dos seres humanos; é a emoção que, sob o disfarce de uma gratificação individual, ilude efetivamente o homem egoísta, levando-o a colocar o bem-estar da raça e a perpetuação muito acima do sossego individual e da liberdade pessoal de escapar das responsabilidades.
82:1.8 (914.4) Como instituição, o matrimônio, desde os seus primórdios até os tempos modernos, ilustra a evolução social da tendência biológica da autoperpetuação. A perpetuação da espécie humana em evolução é assegurada pela presença desse impulso racial de acasalamento, uma premência que é, em geral, chamada de atração sexual. Essa grande necessidade biológica torna-se o impulso motor de todas as espécies de instintos, emoções e costumes associados a ela — físicos, intelectuais, morais e sociais.
82:1.9 (914.5) Entre os selvagens, o suprimento da alimentação era a motivação impulsora, entretanto, quando a civilização assegura uma alimentação suficiente, o instinto do sexo muitas vezes torna-se um impulso predominante e, conseqüentemente, se coloca sempre como necessitando de uma regulamentação social. Com os animais, a periodicidade instintiva controla a tendência ao acasalamento; com o homem, entretanto, sendo muito amplamente um ser que se autocontrola, o desejo sexual não é de todo periódico, e por isso torna-se necessário que a sociedade imponha um autocontrole ao indivíduo.
82:1.10 (914.6) Nenhuma emoção ou impulso humano, quando não controlado e quando tolerado nos excessos, pode produzir tantos danos e pesares quanto esse poderoso impulso sexual. A submissão inteligente desse impulso a regras da sociedade é o teste supremo para a realização de qualquer civilização. O autocontrole, e mais, um autocontrole maior, é a exigência sempre crescente para a humanidade que avança. A reserva, a insinceridade e a hipocrisia podem velar os problemas sexuais, mas não dão soluções, nem servem para fazer progressos éticos.
82:2.1 (914.7) A história da evolução do matrimônio é simplesmente a história da contenção sexual por meio da pressão das restrições sociais, religiosas e civis. A natureza dificilmente reconhece indivíduos; não toma conhecimento da chamada moralidade; está interessada única e exclusivamente na reprodução da espécie. A natureza insiste compulsivamente na reprodução, mas, com indiferença, deixa as conseqüências problemáticas para serem resolvidas pela sociedade, criando, assim, um problema maior sempre presente, para a humanidade evolucionária. Esse conflito social consiste na guerra infindável entre os instintos básicos e a ética em evolução.
82:2.2 (914.8) Em meio às raças primitivas, havia pouca ou nenhuma regulamentação para as relações entre os sexos. E, em função dessa licença sexual, a prostituição não existia. Hoje, os pigmeus e outros grupos retrógrados não têm nenhuma instituição de matrimônio; um estudo desses povos revela costumes simples de acasalamento, como os usados pelas raças primitivas. Todos os povos antigos deveriam, contudo, ser sempre estudados e julgados à luz dos padrões morais dos costumes da sua própria época.
82:2.3 (915.1) O amor livre, contudo, nunca foi bem visto entre os povos que já haviam superado o estado da selvageria total. No momento em que grupos societários começaram a formar-se, teve início o desenvolvimento dos códigos do matrimônio e restrições maritais. O acasalamento, assim, progrediu por intermédio de um sem número de transições, desde um estado quase que de licença sexual completa até os padrões do século vinte, com uma restritividade sexual relativamente completa.
82:2.4 (915.2) Nos estágios primitivos do desenvolvimento tribal, os costumes e os tabus restritivos eram muito grosseiros; no entanto, mantinham os sexos separados — o que favorecia a tranqüilidade, a ordem e a indústria — , e a longa evolução do matrimônio e do lar havia-se iniciado. Os costumes sexuais das vestimentas, adornos e práticas religiosas tiveram a sua origem nesses tabus primitivos, que definiram o alcance das liberdades sexuais e, assim, finalmente, geraram os conceitos do vício, do crime e do pecado. Há muito, porém, a prática era suspender todas as regulamentações para o sexo nos dias de festividades importantes, especialmente nos Dias de Maio.
82:2.5 (915.3) As mulheres sempre ficaram sujeitas a tabus mais restritivos do que os homens. Os costumes primitivos concediam, às mulheres não casadas e aos homens, o mesmo grau de liberdade sexual, contudo, sempre foi exigido das esposas que fossem fiéis aos seus maridos. O casamento primitivo não restringia em muito as liberdades sexuais do homem, mas ampliou os tabus quanto à licença sexual da esposa. As mulheres casadas sempre portaram alguma marca que as colocava à parte, como uma classe separada, fosse o penteado, a roupa, o véu, o recato, os adornos ou anéis.
82:3.1 (915.4) O matrimônio é a resposta institucional do organismo social à tensão biológica sempre presente do impulso ininterrupto de reprodução — a autopropagação. O acasalamento é universalmente natural e, havendo a sociedade evoluído do simples para o complexo, houve uma evolução correspondente nos costumes do acasalamento, que é a gênese da instituição matrimonial. Onde quer que a evolução social haja progredido até o estágio em que os costumes são gerados, o matrimônio será encontrado como uma instituição em evolução.
82:3.2 (915.5) Sempre houve e sempre haverá dois âmbitos distintos do matrimônio: os costumes, as leis que regem os aspectos externos do acasalamento e, de outro lado, as relações secretas e pessoais entre os homens e as mulheres. O indivíduo sempre foi rebelde contra as regras sexuais impostas pela sociedade; e esta é a razão desse problema sexual milenar: a autopreservação é individual, mas é exercida pelo grupo; a autoperpetuação é social, mas é assegurada pelo impulso individual.
82:3.3 (915.6) Os costumes, quando respeitados, têm amplo poder para restringir e controlar o impulso sexual, como tem sido demonstrado em todas as raças. Os padrões do matrimônio têm sido sempre um indicador verdadeiro do poder corrente dos costumes e da integridade funcional do governo civil. Todavia, os primitivos costumes sexuais e do acasalamento eram uma massa de regras inconsistentes e grosseiras. Os pais, os filhos, os parentes e a sociedade, todos tinham interesses conflitantes na regulamentação do matrimônio. A despeito de tudo isso, porém, as raças que exaltaram e praticaram o matrimônio evoluíram naturalmente até níveis mais elevados, e sobreviveram em números crescentes.
82:3.4 (915.7) Nos tempos primitivos, o matrimônio era o preço da posição social; a posse de uma esposa era um emblema de distinção. O selvagem encarava o dia do seu casamento como se marcasse o seu ingresso na responsabilidade e no estado adulto. Em uma época, o matrimônio foi encarado como um dever social; em outra como uma obrigação religiosa; e, ainda em outra, como um quesito político para prover cidadãos para o estado.
82:3.5 (916.1) Muitas tribos primitivas exigiam façanhas de roubos como qualificação para o matrimônio; mais tarde, os povos substituíram essas pilhagens por competições atléticas e jogos competitivos. Aos vencedores, nessas competições, era concedido o primeiro prêmio — a escolha de uma das noivas da estação. Entre os caçadores de cabeças, um jovem não podia casar-se antes que tivesse ao menos uma cabeça, se bem que algumas vezes esses crânios pudessem ser comprados. Quando a compra das esposas decaiu, elas passaram a ser ganhas em torneios de adivinhações, práticas essas que ainda sobrevivem entre muitos agrupamentos dos homens negros.
82:3.6 (916.2) Com o avanço da civilização, certas tribos colocaram nas mãos das mulheres as provas severas de resistência masculina, condições que eram para o matrimônio; assim elas eram capazes de favorecer os homens da sua escolha. Essas provas abrangiam a habilidade para a caça, a luta e a capacidade de provimento para uma família. Exigiu-se do noivo, durante muito tempo, que ele entrasse para a família da noiva por um ano, ao menos, para trabalhar, viver e provar ser digno da esposa que almejava.
82:3.7 (916.3) As qualificações de uma esposa eram a habilidade de executar o trabalho pesado e de gerar filhos. Era exigido que ela executasse uma certa tarefa de trabalho na agricultura, dentro de um tempo determinado. E se ela tivesse tido um filho antes do casamento, era ainda mais valiosa, pois a sua fertilidade estava assegurada.
82:3.8 (916.4) O fato de que os povos antigos consideravam uma desgraça, ou mesmo um pecado, não se casar, explica a origem de casamentos entre crianças; já que se devia ser casado e, quanto mais cedo, melhor. Era também uma crença generalizada a de que as pessoas solteiras não podiam entrar na terra dos espíritos, e isso era outro incentivo para o casamento entre crianças, mesmo no momento do nascimento e algumas vezes antes do nascimento, dependendo do sexo. Os antigos acreditavam que mesmo os mortos deviam casar-se. Os casamenteiros originais foram empregados para negociar os matrimônios para os indivíduos mortos. Um pai arranjaria para que esses intermediários efetuassem o matrimônio de um filho morto com uma filha morta de outra família.
82:3.9 (916.5) Em meio aos povos mais recentes, a puberdade era a idade comum do matrimônio, o que, no entanto, avançou na proporção direta do progresso da civilização. Muito cedo, na evolução social, ordens peculiares e celibatárias de homens e de mulheres surgiram, e foram iniciadas e mantidas por indivíduos que, em um grau maior ou menor, careciam do impulso sexual normal.
82:3.10 (916.6) Muitas tribos permitiam aos membros do grupo governante ter relações sexuais com a noiva um pouco antes que ela fosse dada ao seu marido. Cada um desses homens daria à moça um presente, e essa foi a origem do costume de dar presentes de casamento. Em meio a alguns grupos, esperava-se que uma jovem mulher ganhasse o seu dote, o que consistia nos presentes recebidos em recompensa pelo serviço sexual no salão de exibição da noiva.
82:3.11 (916.7) Algumas tribos casavam os homens jovens com as viúvas e mulheres mais velhas e, então, quando subseqüentemente tornavam-se viúvos, permitir-se-ia a eles casarem-se com as garotas jovens, assegurando, assim, tal como esperavam, que os pais não fossem feitos de tolos, pois julgavam eles que isso aconteceria se se permitisse que os muito jovens se casassem. Outras tribos limitavam o acasalamento a grupos de idades semelhantes. Foi a limitação do matrimônio a grupos de uma certa idade que inicialmente deu origem às idéias de incesto (na Índia, ainda hoje, não existem restrições de idade para o matrimônio).
82:3.12 (916.8) Segundo certos costumes, a viuvez devia ser muito temida e, então, se mandava matar as viúvas ou se permitia que cometessem suicídio nas covas dos seus maridos, pois se supunha que elas deveriam ir para a terra dos espíritos junto com os seus esposos. A viúva que sobrevivia levava, quase que invariavelmente, a culpa pela morte do seu marido. Algumas tribos queimavam-nas vivas. Se uma viúva continuava a viver, a sua vida era de luto contínuo e de restrições sociais insuportáveis, pois um novo casamento em geral era desaprovado.
82:3.13 (917.1) Nos tempos de outrora, muitas práticas, hoje consideradas imorais, foram encorajadas. Não era infreqüente que as esposas primitivas sentissem um grande orgulho das relações dos seus maridos com outras mulheres. A castidade nas donzelas era um grande obstáculo para o matrimônio; conceber um filho antes do matrimônio aumentava em grande parte os atrativos da mulher como esposa, já que o homem ficava certo de ter uma companheira fértil.
82:3.14 (917.2) Muitas tribos primitivas sancionaram o matrimônio experimental até que a mulher ficasse grávida, quando, então, a cerimônia regular de casamento teria lugar; entre outros grupos, as bodas não eram celebradas até que o primeiro filho nascesse. Se uma esposa fosse estéril, ela deveria ser retomada pelos seus pais, e o casamento era anulado. Os costumes exigiam que todos os casais tivessem filhos.
82:3.15 (917.3) Esses matrimônios experimentais primitivos eram inteiramente livres de qualquer semelhança com a licenciosidade; eram simplesmente testes sinceros de fecundidade. Os indivíduos que contraíam o matrimônio faziam-no de forma permanente, assim que a fertilidade fosse estabelecida. Quando os pares modernos casam-se, com o pensamento da conveniência de um divórcio, no fundo das suas mentes, se não ficarem totalmente contentes com a sua vida de casados, na realidade, estarão adotando uma forma de matrimônio experimental, forma esta muito abaixo do status das aventuras honestas dos seus ancestrais menos civilizados.
82:4.1 (917.4) O matrimônio tem estado sempre ligado, muito de perto, tanto à propriedade quanto à religião. A propriedade tem sido o estabilizador do matrimônio; a religião, o moralizador.
82:4.2 (917.5) O casamento primitivo era um investimento, uma especulação econômica; era mais uma questão de negócio do que um caso de namoro. Os antigos contraíam o matrimônio pela vantagem e pelo bem-estar do grupo; por essa razão, os seus matrimônios eram planejados e arranjados pelo grupo, pelos seus pais e pelos mais velhos. E, se os costumes da propriedade privada eram eficazes na estabilização da instituição do matrimônio, isso nasceu do fato de que o casamento era mais permanente entre as tribos primitivas do que o é entre muitos dos povos modernos.
82:4.3 (917.6) À medida que a civilização avançou e a propriedade privada ganhou maior reconhecimento dos costumes, o roubo passou a ser um grande crime. O adultério era reconhecido como uma forma de roubo, uma infração contra os direitos de propriedade do marido; e, por isso, não está especificamente mencionado nos códigos e costumes mais primitivos. A mulher começou como propriedade do seu pai, o qual transferia o seu título ao marido dessa filha, e todas as relações sexuais legalizadas surgiram desses direitos preexistentes de propriedade. O Antigo Testamento trata as mulheres como uma forma de propriedade; o Alcorão ensina a sua inferioridade. O homem tinha o direito de emprestar a sua mulher a um amigo ou convidado, e esse costume ainda persiste entre alguns povos.
82:4.4 (917.7) O ciúme sexual moderno não é inato; é um produto da evolução dos costumes. O homem primitivo não era ciumento da sua esposa; ele estava apenas resguardando a sua propriedade. O motivo, de se manter a esposa sob limitações sexuais mais restritas do que as impostas ao marido, era o fato de que a infidelidade marital dela envolveria a descendência e a herança. Muito cedo, na marcha da civilização, foi má a reputação do filho ilegítimo. A princípio, apenas a mulher era punida pelo adultério; posteriormente, os costumes também decretaram a punição do seu parceiro e, durante um longo tempo, o marido ofendido, ou o pai protetor, tinha o direito pleno de matar o invasor masculino. Os povos modernos mantêm esses costumes que toleram os crimes chamados de honra sob uma lei tácita.
82:4.5 (917.8) Desde que o tabu da castidade teve a sua origem como uma fase dos costumes que regem a propriedade, ele aplicou-se inicialmente às mulheres casadas, mas não às moças solteiras. Anos mais tarde, a castidade era mais exigida pelo pai do que pelo pretendente; uma virgem era um bem mais comercial para o pai, pois acarretava um preço mais alto. Como a castidade passou a ser mais exigida, a prática era pagar ao pai da noiva um preço em reconhecimento do serviço de educar apropriadamente a noiva, de um modo casto, para o futuro marido. Uma vez surgida essa idéia da castidade da mulher arraigou-se tanto entre as raças que se tornou prática enjaular literalmente as moças, prendendo-as de fato durante anos a fim de assegurar a sua virgindade. E, desse modo, os padrões mais recentes e as provas da virgindade deram origem automaticamente à classe das prostitutas profissionais; elas eram as noivas rejeitadas, aquelas mulheres que as mães dos noivos verificaram não serem mais virgens.
82:5.1 (918.1) Muito cedo, os selvagens observaram que a mistura racial aprimorava a qualidade da progênie. Não que a consangüinidade fosse sempre má, mas que a exogamia resultava sempre melhor, comparativamente; e, pois, os costumes tenderam a cristalizar a restrição das relações sexuais entre os parentes próximos. Era reconhecido que a exogamia aumentava grandemente a oportunidade seletiva de variação evolucionária e de avanço. Os indivíduos produtos da exogamia eram mais versáteis e tinham mais habilidade para sobreviver em um mundo hostil; os indivíduos produzidos pela endogamia, junto com os seus costumes, desapareceram gradualmente. Este foi um desenvolvimento lento; os selvagens não pensaram conscientemente nessas questões. Contudo, os povos mais recentes e adiantados fizeram-no, e eles também observaram que uma fraqueza geral algumas vezes era o resultado de uma endogamia excessiva.
82:5.2 (918.2) Ainda que a endogamia, na boa linhagem, algumas vezes haja produzido tribos fortes, os casos espetaculares de maus resultados, devidos a defeitos hereditários na endogamia, impressionaram mais fortemente a mente do homem, e o resultado foi que os costumes, em constante avanço, formularam mais e mais tabus contra os matrimônios entre parentes próximos.
82:5.3 (918.3) Há muito, a religião tem sido uma barreira efetiva contra a exogamia; muitos ensinamentos religiosos têm proscrito o casamento fora da fé. A mulher geralmente tem favorecido a prática da endogamia; o homem, a da exogamia. A propriedade sempre influenciou o matrimônio e, algumas vezes, em um esforço para conservar a propriedade dentro de um clã, têm surgido costumes que obrigam as mulheres a escolher maridos dentro das tribos dos seus pais. Esse tipo de legislação levou a uma grande proliferação de matrimônios entre primos. A endogamia foi também praticada em um esforço para preservar os segredos artesanais; os artesãos mais hábeis procuravam manter o conhecimento da sua arte dentro da família.
82:5.4 (918.4) Os grupos superiores, quando isolados, sempre voltavam ao acasalamento consangüíneo. Durante mais de cento e cinqüenta mil anos, os noditas foram um dos maiores grupos endogâmicos. Os costumes endogâmicos mais recentes foram influenciados enormemente pela tradição da raça violeta, segundo a qual, no início, os acasalamentos eram feitos, forçosamente, entre irmão e irmã. E os matrimônios entre irmão e irmã eram comuns no Egito, na Síria e na Mesopotâmia primitivos e, também, nas terras uma vez ocupadas pelos anditas. Os egípcios praticaram, durante muito tempo, o matrimônio entre irmão e irmã, em um esforço de manter puro o sangue real; e esse costume perdurou por mais tempo ainda na Pérsia. Entre os mesopotâmios, antes dos dias de Abraão, os matrimônios entre primos eram obrigatórios; os primos tinham direitos de prioridade para casarem entre si. O próprio Abraão casou-se com uma meio-irmã, mas essas uniões não eram permitidas pelos costumes mais recentes dos judeus.
82:5.5 (919.1) O primeiro passo contra os matrimônios entre irmãos foram dados em meio aos costumes da pluralidade de esposas, porque a esposa-irmã arrogantemente dominava as outras esposas. Alguns costumes tribais proibiram o matrimônio com a viúva de um irmão morto, mas exigiam que o irmão vivo gerasse filhos no lugar do seu irmão morto. Não existem instintos biológicos contra qualquer grau de endogamia; essas restrições são inteiramente uma questão de tabu.
82:5.6 (919.2) A exogamia finalmente dominou porque foi preferida pelo homem, pois conseguir uma esposa de fora assegurava maior liberdade em relação aos sogros. A familiaridade gera o desprezo; assim, à medida que o elemento da livre escolha individual começou a dominar o acasalamento, tornou-se um hábito escolher parceiros de fora da tribo.
82:5.7 (919.3) Muitas tribos finalmente proibiram os matrimônios dentro do clã; outras limitaram o acasalamento a certas classes. O tabu, contra o matrimônio com uma mulher do próprio totem, deu força aos costumes de raptar as mulheres das tribos vizinhas. Posteriormente, os matrimônios passaram a ser regulamentados mais de acordo com o território de residência do que pelo parentesco. Muitos passos foram acontecendo na evolução do matrimônio endogâmico, até a prática moderna da exogamia. Mesmo depois de estabelecido o tabu da endogamia entre as pessoas comuns, ainda era permitido, aos chefes e aos reis, casarem-se com os parentes próximos, no intuito de manter o sangue real concentrado e puro. Os costumes geralmente têm permitido aos soberanos algumas licenças nas questões sexuais.
82:5.8 (919.4) A subsistência dos povos anditas mais recentes muito tem a ver com o aumento do desejo das raças sangiques de acasalar-se fora das próprias tribos. Todavia, não foi possível à exogamia prevalecer antes que os grupos vizinhos houvessem aprendido a viver juntos, em uma paz relativa.
82:5.9 (919.5) A exogamia, em si própria, foi uma promotora da paz; os matrimônios entre as tribos reduziam as hostilidades. A exogamia levou à coordenação tribal e às alianças militares; e tornou-se predominante, porque trazia maior força; foi uma edificadora de nações. A exogamia foi também bastante favorecida pelos contratos de comércio em profusão; a aventura e a exploração contribuíram para a ampliação dos limites impostos ao acasalamento e facilitaram grandemente a fertilização intermesclada das culturas raciais.
82:5.10 (919.6) As inconsistências, inexplicáveis de outro modo, dos costumes do matrimônio racial são devidas, na sua maior parte, a esse hábito de exogamia, com os seus respectivos raptos e compras de esposas das tribos vizinhas, resultando tudo em uma combinação dos diferentes costumes tribais. Que esses tabus relativos à endogamia foram sociológicos, e não biológicos, é bastante bem ilustrado pelos tabus que envolvem os matrimônios entre contraparentes, que abrangiam muitos graus de relações entre parentes, casos que não representavam absolutamente nenhuma relação de sangue.
82:6.1 (919.7) Hoje não há raças puras no mundo. Os povos evolucionários primitivos e originais de cor têm apenas duas raças representativas que perduram neste mundo: o homem amarelo e o homem negro. E, mesmo essas duas raças, estão muito misturadas com os extintos povos de cor. Ao mesmo tempo em que a chamada raça branca descende predominantemente do antigo homem azul, ela é mais ou menos misturada com todas as outras raças, tanto quanto o é o homem vermelho das Américas.
82:6.2 (919.8) Das seis raças sangiques coloridas, três eram primárias e três eram secundárias. Embora as raças primárias — azul, vermelha e amarela — fossem superiores, sob muitos aspectos, aos três povos secundários, deve-se lembrar que essas raças secundárias tinham muitos traços desejáveis os quais teriam elevado consideravelmente os povos primários, caso as suas melhores linhagens pudessem ter sido absorvidas.
82:6.3 (920.1) O preconceito atual contra os “híbridos”, os “mestiços” e os “de meia-casta” surge porque a miscigenação racial moderna acontece, na sua maior parte, entre as linhagens grosseiramente inferiores das raças envolvidas. Também uma progênie insatisfatória advém quando se misturam linhagens degeneradas da mesma raça.
82:6.4 (920.2) Caso pudessem livrar-se da maldição dos seus substratos mais baixos, de espécimes deteriorados, anti-sociais, debilitados mentalmente e párias, haveria pouca objeção à amalgamação racial limitada para as raças atuais de Urântia. E, se tais misturas raciais pudessem acontecer entre os tipos mais elevados das várias raças, haveria menos objeções ainda.
82:6.5 (920.3) A hibridação nas linhagens superiores e dissimilares é o segredo da criação de linhagens novas e mais vigorosas. E isso é verdadeiro com as plantas, os animais, e a espécie humana. A hibridação aumenta o vigor e amplia a fertilidade. As misturas raciais dos substratos medianos ou superiores de vários povos incrementam grandemente o potencial criativo, como é mostrado na população atual dos Estados Unidos da América do Norte. Quando tais acasalamentos acontecem entre os substratos mais baixos ou inferiores, a criatividade diminui, como é mostrado pelos povos atuais do sul da Índia.
82:6.6 (920.4) A combinação das raças contribui grandemente para o surgimento súbito de novas características e, se tal hibridação advém da união de linhagens superiores, então essas novas características também serão de traços superiores.
82:6.7 (920.5) Enquanto as raças atuais estiverem tão sobrecarregadas de linhagens inferiores e degeneradas, a mesclagem das raças, em uma escala ampla, há de ser altamente prejudicial, mas a maior parte das objeções a tais experimentos repousa nos preconceitos sociais e culturais mais do que em análises biológicas. Mesmo entre as linhagens inferiores, os híbridos geralmente representam um aperfeiçoamento dos seus ancestrais. A hibridação colabora para o aprimoramento das raças, devido ao papel dos genes dominantes. A mesclagem inter-racial aumenta a probabilidade de que um número maior dos genes dominantes desejáveis esteja presente no resultado híbrido.
82:6.8 (920.6) Durante os últimos cem anos, tem havido mais hibridação racial em Urântia do que ocorreu em milhares de anos. O perigo de desarmonias grosseiras resultantes da fecundação cruzada de sangues humanos foi bastante exagerado. Os maiores problemas da “mestiçagem” são devidos a preconceitos sociais.
82:6.9 (920.7) A experiência Pitcairn, de mesclar a raça branca e a raça polinésia, deu resultados bastante bons, porque os homens brancos e as mulheres polinésias eram de linhagens raciais relativamente boas. A mesclagem entre os mais elevados tipos da raça branca, da raça vermelha e da raça amarela traria imediatamente à existência muitas características novas e biologicamente eficazes. Esses três povos pertencem às raças sangiques primárias. Misturas da raça branca e da raça negra não são tão desejáveis pelos seus resultados imediatos, nem essa progênie mulata é tão digna de objeções como o querem fazer parecer os preconceitos sociais e raciais. Fisicamente, tais produtos híbridos de brancos e negros são espécimes excelentes de seres humanos, não obstante a sua ligeira inferioridade quanto a alguns outros aspectos.
82:6.10 (920.8) Quando uma raça primária sangique combina-se com uma raça sangique secundária, a última é aprimorada consideravelmente às custas da primeira. E em uma escala menor — estendendo-se por períodos longos de tempo — pode haver poucas objeções sérias a essa contribuição sacrificada, feita pelas raças primárias para o aprimoramento dos grupos secundários. Considerando-se biologicamente, os sangiques secundários, sob alguns pontos de vista, eram superiores às raças primárias.
82:6.11 (921.1) Afinal, o verdadeiro perigo para a espécie humana deverá estar na multiplicação sem restrições das linhagens inferiores e degeneradas dos vários povos civilizados, mais do que qualquer perigo suposto advindo das misturas raciais em si.
82:6.12 (921.2) [Apresentado pelo Comandante dos Serafins estacionado em Urântia.]
O Livro de Urântia
Documento 83
83:0.1 (922.1) A NARRATIVA dos primórdios da instituição do matrimônio se constitui assim: progrediu de modo firme, partindo dos acasalamentos desobrigados e promíscuos da gente, por intermédio de muitas variações e adaptações, até o surgimento daquele casamento padrão que, finalmente, culminou na realização de acasalamentos de pares, a união de um homem e uma mulher, que estabeleceu o lar da ordem social mais elevada.
83:0.2 (922.2) O matrimônio tem estado em perigo várias vezes; e os costumes do matrimônio têm apelado violentamente tanto para a propriedade quanto para a religião, como apoio; a influência real, contudo — que, para sempre, salvaguarda o matrimônio e a família resultante — , é o fato biológico simples e inato de que os homens e as mulheres positivamente não viverão uns sem os outros, sejam eles os selvagens mais primitivos ou os mortais mais cultos.
83:0.3 (922.3) É por causa do impulso sexual que o homem egoísta é seduzido a fazer de si algo melhor do que um animal. A relação sexual satisfaz o corpo e gratifica o amor-próprio, entretanto acarreta certas conseqüências de abnegação e assegura que se assumam numerosos deveres altruístas e responsabilidades para com o lar, que beneficiam a raça. Nisso, o sexo tem sido um civilizador, não reconhecido mas insuspeito, para o selvagem; e esse mesmo impulso do sexo, automática e inequivocamente, obriga o homem a pensar e finalmente, pois, o leva a amar.
83:1.1 (922.4) O matrimônio é o mecanismo da sociedade destinado a regular e a controlar muitas das relações humanas que surgem do fato físico da bissexualidade. Como uma instituição, assim, o casamento funciona em duas direções:
83:1.2 (922.5) 1. Para regular as relações sexuais pessoais.
83:1.3 (922.6) 2. Para regular a descendência, a herança, a sucessão e a ordem social; sendo esta a sua função mais antiga e original.
83:1.4 (922.7) A família que cresce no matrimônio é, em si mesma, um estabilizador da instituição do casamento, junto com os costumes ligados às propriedades. Outros fatores poderosos para a estabilidade do matrimônio são orgulho, vaidade, cavalheirismo, dever e convicções religiosas. Todavia, conquanto os casamentos possam ser aprovados ou desaprovados do alto, dificilmente eles são feitos de cima, no céu. A família humana é uma instituição muito claramente humana, um desenvolvimento evolucionário. O matrimônio é uma instituição da sociedade, não um departamento para as igrejas. Bem verdade é que a religião deveria influenciá-lo poderosamente, mas não deveria encarregar-se, apenas e unicamente ela, de controlá-lo e regulá-lo.
83:1.5 (922.8) O matrimônio primitivo foi industrial, primariamente; e, mesmo nos tempos modernos, é freqüentemente um assunto social ou de negócios. Por intermédio da influência da mistura do sangue andita e, em conseqüência dos costumes da civilização em aprimoramento, o matrimônio está-se tornando lentamente mútuo, romântico, paternal, poético, afetuoso, ético e até mesmo idealista. A seleção e o chamado amor romântico, contudo, eram mínimos no casamento primitivo. Durante as épocas primitivas, o marido e a esposa não conviviam juntos por muito tempo; nem mesmo comiam juntos com tanta freqüência. Entre os antigos, porém, o afeto pessoal não era ligado fortemente à atração sexual; passavam a gostar um do outro em grande parte porque viviam e trabalhavam juntos.
83:2.1 (923.1) Os casamentos primitivos eram sempre planejados pelos pais do rapaz e da moça. O estágio de transição entre esse costume e os tempos da escolha livre foi ocupado pelos agentes matrimoniais, ou seja, os casamenteiros profissionais. A princípio tais casamenteiros foram os barbeiros; e, mais tarde os sacerdotes. O matrimônio, originalmente, era um assunto grupal; depois, uma questão de família; apenas recentemente tornou-se uma aventura individual.
83:2.2 (923.2) A coerção, não a atração, foi o caminho de acesso ao matrimônio primitivo. Nos tempos primitivos, a mulher não sentia indiferença sexual; apenas a inferioridade sexual imposta pelos costumes. Assim como o saque precedeu ao comércio, o matrimônio pelo rapto precedeu ao matrimônio por contrato. Algumas mulheres eram coniventes com o rapto, para escapar à dominação dos homens mais idosos da própria tribo; preferiam cair nas mãos dos homens de outras tribos, mas da mesma idade delas. Essa falsa fuga foi o estágio de transição entre o rapto forçado e a subseqüente corte para a sedução.
83:2.3 (923.3) O tipo primitivo de cerimônia de casamento foi como uma encenação de um rapto, uma espécie de ensaio de fuga que certa vez foi a prática comum. Mais tarde, o rapto simulado tornou-se uma parte da cerimônia normal de casamento. O fingimento de uma moça moderna de resistir ao “rapto” e de ser reticente, quanto ao casamento, é todo um remanescente dos costumes antigos. Carregar a mulher através do limiar da porta é uma reminiscência das inúmeras práticas antigas, entre outras, dos dias dos raptos de esposas.
83:2.4 (923.4) Durante muito tempo, foi negada à mulher a plena liberdade de dispor de si própria no casamento, mas as mulheres mais inteligentes têm sido sempre capazes de contornar essa restrição, mediante o exercício sagaz da perspicácia. O homem comumente tem tomado a iniciativa da corte, mas nem sempre. A mulher, algumas vezes, tanto encoberta quanto abertamente, toma a iniciativa. E, à medida que a civilização tem progredido, as mulheres têm tido uma participação crescente em todas as fases da corte e do matrimônio.
83:2.5 (923.5) O amor cada vez maior, o romance e a escolha pessoal na corte pré-marital são uma contribuição dos anditas às raças do mundo. As relações entre os sexos estão evoluindo favoravelmente; muitos povos em avanço estão gradativamente substituindo as motivações mais antigas, de utilidade e propriedade, pelo conceito, de algum modo idealizado, da atração sexual. O impulso sexual e os sentimentos de afeto estão começando a substituir o gélido calculismo na escolha dos parceiros.
83:2.6 (923.6) O compromisso originalmente era equivalente ao matrimônio; e, em meio aos povos primitivos, as relações sexuais eram parte da convenção durante o compromisso. Em tempos mais recentes, a religião estabeleceu um tabu sexual para o período entre o compromisso e o matrimônio.
83:3.1 (923.7) Os antigos não confiavam no amor, nem nas promessas; julgavam que as uniões perduráveis deviam ser garantidas por alguma segurança tangível como a propriedade. Por essa razão, o preço de compra de uma noiva era considerado um penhor ou depósito que o marido se via condenado a perder, em caso de divórcio ou deserção. Uma vez pago o preço da compra de uma noiva, muitas tribos permitiam que a marca-a-ferro-quente do marido fosse cravada nela. Os africanos ainda compram as suas esposas. Uma esposa por amor, ou a esposa de um homem branco, eles a comparam a um gato, porque não custa nada.
83:3.2 (924.1) As feiras de noivas eram ocasiões para vestir e ornar as filhas na exibição pública, com o fito de elevar os seus preços de esposas. Todavia, não eram vendidas como animais — entre as tribos mais recentes, a esposa não era transferível. Nem sempre a sua compra foi uma transação fria ligada ao dinheiro; o serviço era equivalente a dinheiro vivo, na compra de uma esposa. Se um candidato, desejável por outros motivos, não pudesse pagar pela sua esposa, poderia ser adotado como filho pelo pai da moça e então se casar. E, se um homem pobre buscasse uma esposa sem poder arcar com o preço, pedido por um pai ambicioso, os anciães da tribo freqüentemente faziam pressão para que o pai modificasse as suas exigências, ou então poderia haver uma fuga.
83:3.3 (924.2) À medida que a civilização progrediu, os pais passaram a não gostar de parecer estarem vendendo as suas filhas, e assim, ainda que continuando a aceitar o preço de compra da noiva, deram início ao costume de dar aos noivos presentes valiosos que se igualavam quase ao preço da compra. E, com a descontinuidade posterior do pagamento pela noiva, esses presentes tornaram-se o seu dote.
83:3.4 (924.3) O dote existia para dar a impressão de independência da noiva, para sugerir um grande avanço em relação aos tempos das esposas-escravas e das companheiras que eram uma propriedade. Um homem não poderia divorciar-se de uma esposa com dote sem que este fosse devolvido integralmente. Em meio a algumas tribos, um depósito mútuo era feito junto aos pais, tanto da noiva quanto do noivo, para ser resgatado no caso em que algum deles abandonasse o outro; na realidade, era um contrato de casamento. Durante o período de transição entre a compra e o dote, se a esposa fosse comprada, as crianças pertenciam ao pai; se não, pertenciam à família da esposa.
83:4.1 (924.4) A cerimônia de casamento nasceu do fato de que o matrimônio era originalmente um assunto da comunidade, não uma simples culminância da decisão de dois indivíduos. O acasalamento era tanto uma preocupação do grupo quanto uma função pessoal.
83:4.2 (924.5) A magia, o ritual e a cerimônia cercavam toda a vida dos antigos, e o matrimônio não era uma exceção. À medida que a civilização avançou e à medida que o matrimônio passou a ser considerado mais seriamente, a cerimônia de casamento tornou-se cada vez mais pretensiosa. O casamento primitivo tinha um papel no direito das propriedades, como o é hoje, e, portanto, exigia uma cerimônia legal; e o status social das crianças que adviessem, requeria a maior publicidade possível. O homem primitivo não tinha registros; a cerimônia do matrimônio devia, pois, ser testemunhada por muitas pessoas.
83:4.3 (924.6) A princípio, a cerimônia de casamento era mais algo da ordem de um compromisso que consistia apenas na notificação pública da intenção de viver junto; mais tarde, consistiu em um compartilhar formal da comida. Em algumas tribos, os pais simplesmente levavam as suas filhas até o marido; em outros casos a única cerimônia era uma troca formal de presentes, depois da qual o pai da noiva a apresentaria ao noivo. Entre muitos povos levantinos, o costume era dispensar todas as formalidades e o matrimônio era consumado pelas relações sexuais. O homem vermelho foi o primeiro a desenvolver uma celebração mais elaborada dos matrimônios.
83:4.4 (924.7) A infecundidade era bastante temida e, posto que a esterilidade fosse atribuída a maquinações do espírito, os esforços para assegurar a fecundidade também levaram à ligação do matrimônio a certos cerimoniais mágicos ou religiosos. E, nesse esforço para assegurar um matrimônio feliz e fértil, muitos amuletos foram empregados; até os astrólogos eram consultados para averiguar das estrelas sobre a fecundidade para as partes contratantes. Houve uma época em que o sacrifício humano era um traço regular de todos os casamentos entre as pessoas abastadas.
83:4.5 (925.1) Os dias de sorte eram buscados. A quinta-feira era vista muito favoravelmente, e os casamentos celebrados na lua cheia eram considerados como excepcionalmente afortunados. Era costume de muitos povos do Oriente Próximo jogar grãos nos recém-casados; isso era um rito mágico para supostamente assegurar a fecundidade. Alguns povos orientais usavam o arroz para esse fim.
83:4.6 (925.2) O fogo e a água foram sempre considerados os melhores meios de resistir aos fantasmas e aos maus espíritos; e daí os fogos no altar e as velas acesas estarem comumente em evidência nos matrimônios, tanto quanto a aspersão da água benta no batismo. Por um longo tempo, era costumeiro estabelecer um dia falso para o casamento e então adiar subitamente o evento, de modo a desviar os fantasmas e os espíritos.
83:4.7 (925.3) As brincadeiras feitas com os recém-casados e as traquinagens da lua-de-mel são, todas elas, reminiscências daqueles dias longínquos em que se pensava ser melhor parecer infeliz e doente aos olhos dos espíritos, para evitar despertar neles a inveja. O uso do véu é uma reminiscência dos tempos em que era considerado necessário disfarçar a noiva para que os fantasmas não a pudessem reconhecer, e também para esconder a sua beleza do olhar fixo de outros espíritos que pudessem ficar ciumentos e invejosos. Os pés da noiva não deviam nunca tocar o chão, pouco antes da cerimônia. Mesmo no século vinte ainda é usual, sob os costumes cristãos, esticar tapetes do carro ao altar da igreja.
83:4.8 (925.4) Uma das formas mais antigas da cerimônia de casamento era que um sacerdote abençoasse o leito nupcial para assegurar a fertilidade da união; isso já era feito muito antes de ser estabelecido qualquer ritual formal de casamento. Durante esse período, na evolução dos costumes do matrimônio, esperava-se que os convidados se enfileirassem no quarto nupcial à noite, constituindo-se assim as testemunhas legais da consumação do matrimônio.
83:4.9 (925.5) O elemento de sorte que, a despeito de todos os testes pré-maritais, fazia com que alguns casamentos não tivessem êxito, levou o homem primitivo a buscar a proteção do seguro contra o fracasso no casamento; levou-o a sair em busca dos sacerdotes e da magia. E esse movimento culminou diretamente nos casamentos modernos nas igrejas. No entanto, por um longo período, o matrimônio foi reconhecido em geral como consistindo nas decisões dos pais que o contratavam — e, mais tarde, nas do casal — , enquanto nos últimos quinhentos anos a igreja e o estado assumiram a jurisdição e agora presumem fazer os pronunciamentos do matrimônio.
83:5.1 (925.6) Na história inicial do matrimônio, as mulheres não casadas pertenciam aos homens da tribo. Mais tarde, uma mulher tinha apenas um marido por vez. Essa prática de um homem por vez foi o primeiro passo para escapar da promiscuidade da tribo. Se bem que não fosse permitido a uma mulher senão ter um homem, o seu marido poderia romper esse relacionamento temporário segundo a sua vontade. Todavia, essas ligações vagamente regulamentadas foram o primeiro passo no sentido de uma vida de casal, em contraste com a vida no rebanho. Nesse estágio do desenvolvimento do matrimônio, os filhos em geral pertenciam à mãe.
83:5.2 (925.7) O próximo passo na evolução do acasalamento foi o casamento grupal. Essa fase comunitária do casamento teve de interpor-se ao desenvolvimento da vida familiar, porque os costumes do matrimônio não estavam ainda fortes o suficiente para fazer com que as ligações dos casais fossem permanentes. Os casamentos entre irmão e irmã pertenceram a esse grupo; cinco irmãos de uma família casar-se-iam com cinco irmãs de uma outra. Em todo o mundo, as formas mais vagas de casamentos comunitários gradualmente evoluíram para vários tipos de casamento grupal. E as associações grupais como tal eram amplamente regulamentadas pelos costumes do totem. A vida familiar desenvolveu-se lenta e seguramente, porque a regulamentação do sexo e do matrimônio favoreceu a sobrevivência da própria tribo, assegurando a sobrevivência de um maior número de crianças.
83:5.3 (926.1) Os casamentos grupais gradativamente cederam caminho diante das práticas emergentes da poligamia — a poligenia e a poliandria — entre as tribos mais avançadas. A poliandria, porém, nunca foi geral, sendo limitada usualmente a rainhas e mulheres ricas; ademais, uma esposa para vários irmãos costumeiramente seria um assunto de família. As restrições de castas e de economia algumas vezes fizeram tornar-se necessário que vários homens se contentassem com uma esposa. Mesmo então a mulher casar-se-ia apenas com um deles, os outros sendo vagamente tolerados como “tios” da progênie conjunta.
83:5.4 (926.2) O costume judeu exigindo que um homem se consorciasse à viúva do seu irmão falecido, com o propósito de “fazer crescer uma semente para o seu irmão”, era um costume em mais da metade do mundo antigo. Essa era uma reminiscência do tempo em que o matrimônio era uma questão da família, mais do que uma ligação individual.
83:5.5 (926.3) A instituição da poligenia reconheceu, em várias épocas, quatro espécies de esposas:
83:5.6 (926.4) 1. As esposas cerimoniais ou legais.
83:5.7 (926.5) 2. As esposas por afeição e permissão.
83:5.8 (926.6) 3. As concubinas, esposas contratuais.
83:5.9 (926.7) 4. As esposas escravas.
83:5.10 (926.8) A verdadeira poligenia, na qual todas as esposas têm um status igual e todos os filhos são iguais, tem sido bastante rara. Geralmente, mesmo nos casamentos plurais, o lar seria dominado pela esposa principal, a companheira estatutária. Apenas ela teve as cerimônias das bodas rituais, e apenas os filhos dessa esposa comprada ou recebida, com um dote, poderiam ser os herdeiros, a menos que se fizesse um arranjo especial com a esposa estatutária.
83:5.11 (926.9) A esposa estatutária não era necessariamente a esposa pelo amor; nos tempos primitivos, em geral, não era. A esposa amada, ou a mais querida, não apareceu até que as raças estivessem consideravelmente avançadas, mais particularmente depois da miscigenação das tribos evolucionárias com os noditas e os adamitas.
83:5.12 (926.10) A esposa tabu — uma esposa de status legal — gerou os costumes do concubinato. Sob esses costumes, um homem poderia ter apenas uma esposa, mas poderia manter relações sexuais com qualquer número de concubinas. O concubinato foi o trampolim para a monogamia, o primeiro passo de afastamento da poligenia. As concubinas entre os judeus, os romanos e os chineses eram muito freqüentemente as servas da esposa. Mais tarde, como entre os judeus, a esposa legal era encarada como a mãe de todos os filhos nascidos do marido.
83:5.13 (926.11) Os tabus antigos sobre as relações sexuais com uma esposa grávida ou em amamentação tiveram a tendência de fomentar grandemente a poligenia. As mulheres primitivas envelheciam muito cedo, por causa dos partos freqüentes e do trabalho pesado. (E, sobrearregadas, tais esposas conseguiam existir apenas em virtude do fato de que eram colocadas em isolamento durante uma semana por mês, quando não estivessem grávidas.) E a esposa freqüentemente ficava cansada de conceber filhos e pedia ao seu marido para tomar uma segunda esposa, mais jovem, e que fosse capaz de ajudar tanto na concepção de filhos quanto no trabalho doméstico. As novas esposas eram, pois, geralmente acolhidas com alegria pelas esposas mais velhas; nada existia que fosse da ordem do ciúme sexual.
83:5.14 (926.12) O número de esposas era limitado apenas pela capacidade que o homem tinha de sustentá-las. Os homens abastados e capazes queriam um grande número de filhos e, posto que a mortalidade infantil fosse bem elevada, era necessário um grupo de esposas para ter-se uma grande família. Muitas dessas múltiplas esposas eram meras trabalhadoras, esposas escravas.
83:5.15 (927.1) Os costumes humanos evoluem, mas muito lentamente. O propósito de um harém foi construir um corpo forte e numeroso de famílias de sangue, para ser o suporte do trono. Um certo chefe foi, certa vez, convencido de que não devia ter um harém, de que deveria contentar-se com uma só esposa e, assim, prontamente desfez o seu harém. As esposas insatisfeitas foram para as suas casas e os seus parentes ofendidos caíram irados em cima do chefe e mataram-no ali, no mesmo instante.
83:6.1 (927.2) A monogamia é um monopólio; é boa para aqueles que alcançam esse estado de modo desejável, mas tende a impor uma privação biológica àqueles que não são tão afortunados. A despeito, porém, do efeito sobre o indivíduo, a monogamia é decididamente melhor para os filhos.
83:6.2 (927.3) As primeiras monogamias foram devidas à força das circunstâncias, à pobreza. A monogamia é cultural e social, artificial e não natural, isto é, não-natural para o homem evolucionário. Foi inteiramente natural para os noditas e os adamitas mais puros e tem sido de grande valor cultural para todas as raças avançadas.
83:6.3 (927.4) As tribos caldéias reconheciam o direito que a esposa tem de impor uma promessa pré-matrimonial, de que o seu esposo não tomaria uma segunda esposa ou concubina; os gregos e os romanos favoreceram o casamento monogâmico. A adoração dos ancestrais tem sempre fomentado a monogamia, como o tem o cristianismo, no seu equívoco de considerar o matrimônio como um sacramento. Mesmo a elevação do padrão de vida tem militado consistentemente contra a pluralidade de esposas. Na época do advento de Michael em Urântia, praticamente todo o mundo civilizado havia atingido o nível da monogamia teórica. Contudo, essa monogamia passiva não significou que a humanidade se tivesse tornado habituada à prática do matrimônio composto de um verdadeiro casal.
83:6.4 (927.5) Ao perseguir o objetivo monogâmico daquele matrimônio ideal, constituído de um casal, o que é, afinal, algo como uma associação sexual monopolizadora, a sociedade não deve omitir-se sobre a situação não invejável daqueles homens e mulheres desafortunados que não conseguem encontrar um lugar nessa ordem social nova e melhor, ainda que havendo dado o melhor de si para cooperar com ela e corresponder aos seus requisitos. O fracasso em conseguir um companheiro na arena social da competição pode ser devido a dificuldades insuperáveis ou a múltiplas restrições que os costumes correntes tenham imposto. Verdadeiramente, a monogamia é ideal para aqueles que se mantêm nela, mas deve inevitavelmente representar uma grande dificuldade para aqueles que são deixados de fora, no frio da existência solitária.
83:6.5 (927.6) Sempre uns poucos desafortunados tiveram que sofrer para que a maioria pudesse avançar sob o desenvolvimento dos costumes na civilização em evolução; mas a maioria favorecida deveria sempre encarar com ternura e consideração os seus semelhantes menos afortunados, que devem pagar o preço da impossibilidade de encontrar um lugar nas fileiras daquelas ligações sexuais ideais que permitem a satisfação de todos os seus impulsos biológicos; e sob a aprovação dos costumes mais elevados da evolução social adiantada.
83:6.6 (927.7) A monogamia tem sido sempre, é agora, e para sempre será a meta idealista da evolução sexual humana. Esse ideal do verdadeiro matrimônio de um só par, compreende o auto-sacrifício e, portanto, tão freqüentemente fracassa exatamente porque uma ou ambas as partes contratantes são deficientes naquilo que é o ápice de todas as virtudes humanas: um autocontrole rigoroso.
83:6.7 (927.8) A monogamia é a unidade de medida do avanço da civilização social, como pode ser diferenciada da evolução puramente biológica. A monogamia não é necessariamente biológica ou natural, mas é indispensável à manutenção imediata e ao desenvolvimento posterior da civilização social. Contribui para uma delicadeza de sentimentos, para um refinamento do caráter moral e para um crescimento espiritual, todos os quais completamente impossíveis na poligamia. Uma mulher nunca poderá tornar-se uma mãe ideal, quando, todo o tempo, fica obrigada a entrar em rivalidades na busca do afeto do seu marido.
83:6.8 (928.1) O matrimônio que se restringe a um único par favorece e fomenta uma compreensão íntima e cooperação efetiva que são melhores para a felicidade dos pais, para o bem-estar dos filhos e para a eficiência social. O matrimônio iniciado na coerção crua está gradativamente evoluindo para uma magnífica instituição de autocultivo, autocontrole, auto-expressão e autoperpetuação.
83:7.1 (928.2) Na evolução inicial dos costumes maritais, o matrimônio foi uma união vaga que podia terminar à vontade, e os filhos sempre seguiam a mãe; pois os laços entre mãe e filho são instintivos e funcionam independentemente do estágio do desenvolvimento dos costumes.
83:7.2 (928.3) Em meio aos povos primitivos, apenas cerca da metade dos casamentos mostrou-se satisfatória. A mais freqüente causa da separação era a esterilidade, sempre atribuída à esposa; e acreditava-se que as esposas sem filhos transformar-se-iam em cobras, no mundo do espírito. Sob os costumes mais primitivos, o divórcio era obtido por opção apenas do homem e esse padrão perdurou até o século vinte em meio a alguns povos.
83:7.3 (928.4) À medida que evoluíram os costumes, algumas tribos desenvolveram duas formas de matrimônio: a comum, que permitia o divórcio; e o casamento sacerdotal, que não permitia a separação. A instauração da compra e do dote da esposa com a introdução de uma penalidade de propriedade, em caso de fracasso do matrimônio, em muito reduziu a separação. E, de fato, muitas uniões modernas são estabilizadas por esse antigo fator de propriedade.
83:7.4 (928.5) A pressão social do status na comunidade e os privilégios de propriedade têm sempre sido fortes na manutenção dos costumes e tabus do matrimônio. Através das idades, o matrimônio fez um firme progresso e está em uma posição avançada no mundo moderno, não obstante haver sido atacado ameaçadoramente por uma insatisfação muito difundida entre aqueles povos para os quais a escolha individual — uma nova liberdade — afigura-se como mais importante. Ainda que esses transtornos no ajustamento surjam entre as raças mais progressistas, como resultado da evolução social subitamente acelerada entre os povos menos avançados, o matrimônio continua florescendo e aprimorando-se lentamente sob a orientação dos costumes mais antigos.
83:7.5 (928.6) A nova e súbita substituição do motivo do amor, mais ideal, mas extremamente individualista, no matrimônio, em lugar do motivo da propriedade, mais antigo e mais estabelecido, levou a instituição do matrimônio a tornar-se, de forma inevitável, temporariamente instável. Os motivos do homem para o casamento têm, de longe, transcendido sempre à moral factual do matrimônio e, nos séculos dezenove e vinte, o ideal ocidental de matrimônio subitamente ultrapassou, em muito, os impulsos sexuais autocentrados das raças, mas autocontrolados sempre apenas parcialmente. A presença de um grande número de pessoas não casadas, em qualquer sociedade, indica uma ruptura temporária dos costumes ou uma transição deles.
83:7.6 (928.7) A prova verdadeira para o matrimônio, ao longo de todas as idades, tem sido aquela intimidade contínua da qual nenhuma vida familiar pode escapar. Dois jovens, superprotegidos e estragados por mimos, educados na expectativa de todas as indulgências e gratificações plenas à sua vaidade e ao seu ego, dificilmente podem esperar um grande êxito no casamento e na edificação de um lar — uma associação vitalícia de auto-anulação, compromisso, devoção e dedicação altruísta à criação de filhos.
83:7.7 (929.1) O alto grau de imaginação e romance fantástico que entra nos namoros é amplamente responsável pelas tendências crescentes ao divórcio entre os povos modernos ocidentais; e tudo isto ainda se torna mais complicado com o aumento da liberdade pessoal da mulher e sua liberdade econômica. O divórcio facilmente obtido, resultado da falta de autocontrole ou fracasso no ajuste normal entre as personalidades, apenas conduz diretamente de volta àqueles estágios rudes da sociedade dos quais, só muito recentemente, o homem emergiu, e como resultado de muita angústia pessoal e sofrimento racial.
83:7.8 (929.2) Todavia, enquanto a sociedade falha em educar apropriadamente as crianças e os jovens, enquanto a ordem social deixa de prover a educação pré-marital adequada e enquanto o idealismo juvenil pouco sábio e imaturo for o árbitro para o ingresso no matrimônio, nessa mesma medida, o divórcio continuará prevalecendo. E, enquanto o grupo social deixar de prover a preparação dos jovens para o casamento, nessa extensão, o divórcio deverá funcionar como a válvula de segurança social a impedir situações ainda piores durante as idades do rápido avanço dos costumes em evolução.
83:7.9 (929.3) Quer parecer que os antigos hajam levado o matrimônio tão a sério quanto alguns povos dos dias atuais o fazem. E não parece que muitos dos casamentos apressados e mal-sucedidos dos tempos modernos representem qualquer aperfeiçoamento das práticas antigas para qualificar os jovens rapazes e moças para o acasalamento. A grande inconsistência da sociedade moderna é exaltar o amor e idealizar o matrimônio, e ao mesmo tempo desaprovar um exame mais completo de ambos.
83:8.1 (929.4) O matrimônio que culmina no lar é de fato a instituição mais elevada do homem. Contudo, sendo essencialmente humana, não deveria nunca ter sido considerado um sacramento. Os sacerdotes setitas fizeram do matrimônio um ritual religioso; mas, por milhares de anos, depois do Éden, o acasalamento continuou como uma instituição puramente social e civil.
83:8.2 (929.5) A assimilação das ligações humanas às ligações divinas é bastante infeliz. A união de marido e esposa em um relacionamento matrimônio-lar é uma função material para os mortais dos mundos evolucionários. De fato, é verdade que muito progresso espiritual pode advir em conseqüência dos esforços humanos sinceros de marido e esposa, para progredir; mas isso não significa que o matrimônio seja necessariamente sagrado. O progresso espiritual acompanha o esforço sincero aplicado a outros campos da atividade humana.
83:8.3 (929.6) Nem pode o matrimônio ser verdadeiramente comparado à relação do Ajustador com o homem, nem com a fraternidade entre Cristo Michael e os seus irmãos humanos. Em quase nenhum ponto, tais relações podem ser comparadas à associação entre marido e esposa. E é bastante impróprio que a concepção humana errônea desses relacionamentos haja gerado tanta confusão quanto ao status do matrimônio.
83:8.4 (929.7) Também infeliz é que alguns grupos de mortais hajam concebido o matrimônio como sendo consumado pela ação divina. Tais crenças levam diretamente ao conceito da indissolubilidade do estado marital, independentemente das circunstâncias ou dos desejos das partes contratantes. Mas o fato mesmo da dissolução do casamento, por si, indica que a Deidade não é uma parte conjunta em tais uniões. Uma vez que Deus haja unido quaisquer duas coisas ou pessoas, elas permanecerão assim unidas até a época em que a vontade divina decrete uma separação. Todavia, no que concerne ao matrimônio, que é uma instituição humana, quem irá presumir julgar, e dizer, quais casamentos são as uniões que podem ser aprovadas pelos supervisores do universo e quais delas, ao contrário, são puramente humanas em natureza e origem?
83:8.5 (930.1) Entretanto, existe um ideal de matrimônio nas esferas do alto. Na capital de cada sistema local, os Filhos e Filhas Materiais de Deus retratam o ponto máximo dos ideais da união, do homem com a mulher, nos laços do matrimônio, e com o propósito de procriar e educar uma progênie. Afinal, o matrimônio mortal ideal é humanamente sagrado.
83:8.6 (930.2) O matrimônio sempre tem sido e ainda é o sonho supremo na idealidade temporal do homem. Embora esse belo sonho raramente seja realizado integralmente, permanece como um ideal glorioso, levando sempre a humanidade em progresso a esforços maiores na direção da felicidade humana. Contudo, alguma coisa das realidades do casamento deveria ser ensinada aos jovens rapazes e moças, antes que eles se lançassem nas exigências severas das interassociações da vida familiar; a idealização juvenil deveria ser temperada, em algum grau, pelas desilusões pré-maritais.
83:8.7 (930.3) A idealização juvenil do matrimônio não deveria, contudo, ser desencorajada; tais sonhos são uma visualização da futura meta da vida familiar. Essa atitude não só é estimulante como se torna útil, desde que não produza uma insensibilidade à compreensão dos quesitos práticos e comuns do matrimônio e da vida familiar subseqüente.
83:8.8 (930.4) Os ideais do matrimônio têm feito um grande progresso em tempos recentes; em meio a alguns povos, a mulher desfruta de direitos praticamente iguais aos do seu consorte. Em conceito, ao menos, a família está-se tornando uma parceria leal para criar a prole, acompanhada da fidelidade sexual. Todavia, mesmo essa versão mais nova do matrimônio não precisa presumir o ponto extremo de conferir o monopólio mútuo de toda a personalidade e individualidade. O matrimônio não é apenas um ideal individualista; é a parceria social, em evolução, entre um homem e uma mulher, existindo e funcionando sob os costumes em vigor, restringidos pelos tabus e compelidos pelas leis e regulamentações da sociedade.
83:8.9 (930.5) Os matrimônios no século vinte estão em um nível alto em relação ao das idades passadas, não obstante a instituição do lar estar agora passando por uma prova séria, em função dos problemas tão subitamente jogados sobre a organização social, pelo aumento precipitado de liberdades da mulher, com direitos por tanto tempo a ela negados durante a evolução lenta dos costumes nas gerações passadas.
83:8.10 (930.6) [Apresentado pelo Comandante dos Serafins estacionados em Urântia.]
O Livro de Urântia
Documento 84
84:0.1 (931.1) A NECESSIDADE material fundou o matrimônio, o apetite sexual embelezou-o, a religião sancionou-o e exaltou-o, o estado exigiu-o e regulamentou-o; e em tempos mais recentes o amor evoluiu e começou até a justificar e glorificar o matrimônio como sendo o ancestral e o criador da instituição mais útil e sublime da civilização: o lar. A edificação do lar deveria, então, ser o centro e a essência de todo esforço educacional.
84:0.2 (931.2) O acasalamento é, sobretudo, um ato de autoperpetuação associado a vários graus de autogratificação; o matrimônio, com a edificação do lar em grande parte é existe para automanutenção da espécie e implica a evolução da sociedade. A sociedade é, em si mesma, a estrutura que agrega as unidades familiares. Os indivíduos são muito temporários, como fatores planetários — são as famílias que promovem a continuidade da evolução social. A família é o canal através do qual flui o rio da cultura e do conhecimento, de uma geração a outra.
84:0.3 (931.3) O lar é, basicamente, uma instituição sociológica. O matrimônio cresceu da cooperação para a automanutenção e da associação para a autoperpetuação; nele, o elemento da autogratificação é bastante incidental. Entretanto, o lar abrange todas as três funções essenciais da existência humana; enquanto a propagação da vida faz dele a instituição humana fundamental, e o sexo torna-o distinto de todas as outras atividades sociais.
84:1.1 (931.4) O matrimônio não se baseou nas relações sexuais; elas foram incidentais a ele. O matrimônio não se fazia necessário ao homem primitivo, pois este dava ao apetite sexual um curso livre, sem incumbir-se das responsabilidades da esposa, dos filhos e do lar.
84:1.2 (931.5) Em vista da ligação física e emocional com a sua prole, a mulher depende da cooperação do homem; e isso a levou a necessitar da proteção que é constituída no abrigo do matrimônio. Contudo, nenhuma necessidade biológica direta levou o homem ao matrimônio — e menos ainda o manteve nele. Não foi o amor que tornou o casamento atraente para o homem, mas a fome de alimento que primeiro atraiu o homem selvagem para a mulher e para o abrigo primitivo, compartilhado com os filhos dela.
84:1.3 (931.6) O matrimônio não foi gerado nem mesmo pela tomada de consciência das obrigações das relações sexuais. O homem primitivo não compreendia a conexão entre a permissão dada ao sexo e o subseqüente nascimento de um filho. Outrora, uma crença universal era que uma virgem poderia engravidar-se. O selvagem concebeu muito cedo a idéia de que as crianças fossem geradas na terra dos espíritos; acreditava-se que a gravidez resultava de uma mulher recebendo um espírito, um fantasma em evolução. Acreditava-se que tanto a dieta quanto o mau-olhado fossem também capazes de levar uma virgem ou uma mulher solteira à gravidez, enquanto as crenças posteriores ligavam o começo da vida à respiração e à luz do sol.
84:1.4 (932.1) Muitos povos primitivos associavam os fantasmas ao oceano e, por isso, as virgens eram muito restringidas nas suas práticas de banhos; as jovens mulheres tinham muito mais medo de banhos de mar, na maré alta, do que de ter relações sexuais. Bebês prematuros ou deformados eram considerados animaizinhos que encontraram entrada no corpo de uma mulher, em conseqüência de um banho descuidado ou por meio da atividade perversa de algum espírito. Os selvagens, evidentemente, não se importavam de estrangular essa prole no nascimento.
84:1.5 (932.2) O primeiro passo de esclarecimento veio com a crença de que as relações sexuais abriam o caminho para o fantasma da gravidez entrar na mulher. Desde então, o homem descobriu que o pai e a mãe contribuem igualmente como fatores da herança da vida que inicia a progênie. Todavia, mesmo no século vinte, muitos pais ainda tentam manter os seus filhos em uma ignorância maior ou menor quanto à origem da vida humana.
84:1.6 (932.3) Uma espécie simples de família ficava assegurada com o fato de que a função reprodutora requeira uma relação entre a mãe e o filho. O amor da mãe é instintivo; não se originou nos costumes, como o matrimônio. O amor maternal é, entre todos os mamíferos, um dom inerente dos espíritos ajudantes da mente do universo local e, em força e em devoção, é sempre diretamente proporcional à duração do período, na infância da espécie, em que a dependência total é mantida.
84:1.7 (932.4) A relação entre a mãe e o filho é natural, forte, instintiva e, conseqüentemente, é tal que obriga as mulheres primitivas a submeterem-se a muitas condições estranhas e passarem por provas de uma severidade indescritível. Essa compulsão ao amor materno é a emoção limitadora que sempre tem colocado a mulher em uma desvantagem imensa em todas as suas lutas com o homem. Apesar disso, o instinto materno, na espécie humana, não é irresistível, pois pode ser contrariado pela ambição, pelo egoísmo e a convicção religiosa.
84:1.8 (932.5) Ainda que a associação entre a mãe e o filho não seja nem o matrimônio, nem o lar, é o núcleo do qual ambos surgiram. O grande avanço na evolução do acasalamento adveio quando essas ligações temporárias duraram o suficiente para criar a progênie resultante, pois nisso estava a formação do lar.
84:1.9 (932.6) Independentemente dos antagonismos desses casais primitivos e não obstante a inconsistência da ligação deles, as probabilidades de sobrevivência estavam já muito aumentadas por essas associações entre o homem e a mulher. Um homem e uma mulher em cooperação, ainda que fora da família e da progênie, são bastante superiores, em muitos sentidos, a dois homens ou a duas mulheres. Essa combinação dos sexos aumenta a sobrevivência e foi o começo mesmo da sociedade humana. A divisão do trabalho entre os sexos também colaborou para o conforto e para aumentar a felicidade.
84:2.1 (932.7) A hemorragia periódica da mulher e a conseqüente perda de sangue no parto sugeriu, inicialmente, que o sangue seria o criador da criança (e mesmo o assento da alma) e deu origem ao conceito do vínculo sangüíneo nas relações humanas. Em épocas primitivas, toda a descendência era julgada pela linha feminina, sendo essa a única parte da herança que estava assegurada de qualquer maneira.
84:2.2 (932.8) A família primitiva que surgia do vínculo sangüíneo biológico instintivo da mãe e do filho, inevitavelmente, era uma família matriarcal; e muitas tribos ativeram-se, por muito tempo, a essa organização. A família matriarcal foi a única transição possível do estágio do matrimônio grupal, na horda, para a vida do lar, posterior e melhorada, das famílias patriarcais poligâmicas e monogâmicas. A família matriarcal era natural e biológica; a família patriarcal é social, econômica e política. A persistência da família matriarcal entre os homens vermelhos da América do Norte é uma das razões principais pelas quais os iroqueses, progressistas em outras coisas, nunca se constituíram em um verdadeiro estado.
84:2.3 (933.1) Sob os costumes da família matriarcal, a mãe da esposa desfrutava de uma autoridade virtualmente suprema no lar; mesmo os irmãos da esposa e os seus filhos eram mais ativos na supervisão da família do que o marido. Os pais, freqüentemente, recebiam um novo nome, o do seu próprio filho.
84:2.4 (933.2) As raças mais primitivas atribuíram pouco crédito ao pai, considerando o filho como vindo apenas da mãe. Eles acreditavam que os filhos pareciam-se com o pai, em conseqüência da ligação, ou que eles tinham sido “marcados” desse modo, porque a mãe desejava que eles se parecessem com o pai. Mais tarde, quando se passou do matriarcado para o patriarcado, o pai recebia todo o crédito pelo filho, e muitos dos tabus sobre uma mulher grávida foram subseqüentemente estendidos, incluindo o seu marido. O pai em perspectiva parava de trabalhar quando se aproximava a época do parto e, no momento do nascimento, ia ele para a cama, junto com a esposa, permanecendo em resguardo de três a oito dias. A esposa podia levantar-se no dia seguinte e retomar o seu trabalho pesado, mas o marido permanecia na cama para receber os parabéns; e isso foi uma parte dos costumes primitivos destinados a estabelecer o direito que o pai tem ao filho.
84:2.5 (933.3) A princípio, era costume que o homem fosse para a tribo da sua esposa, contudo, em tempos posteriores, depois que um homem houvesse pagado, ou trabalhado para pagar, o preço da esposa, ele podia levá-la e os filhos de volta ao seu próprio povo. A transição do matriarcalismo para o patriarcalismo explica as proibições, de outro modo sem significado, de alguns tipos de casamentos entre primos, enquanto outros, de parentesco igual, são aprovados.
84:2.6 (933.4) Com o fim dos costumes dos caçadores, quando o pastoreio deu ao homem o controle do principal suprimento de alimento, o período matriarcal da família chegou rapidamente a um fim. E extinguiu-se, simplesmente porque não poderia, com êxito, competir com o recente patriarcado. O poder detido pelos homens, parentes da mãe, não podia competir com o poder concentrado no pai e marido. A mulher não estava à altura de fazer frente às tarefas conjuntas de criar os filhos e de exercer a autoridade contínua, com o poder doméstico cada vez maior. As práticas insurgentes do rapto e, em seguida, as da compra da esposa aceleraram o desaparecimento da família matriarcal.
84:2.7 (933.5) A mudança prodigiosa do matriarcado para o patriarcado é um dos ajustes mais radicais e completos jamais exercidos pela raça humana. Essa mudança levou imediatamente a expressões sociais maiores e a uma aventura familiar mais ampla.
84:3.1 (933.6) Ainda que o instinto da maternidade possa ter sido o que levou a mulher ao matrimônio, contudo, foi a maior força do homem, aliada à influência dos costumes, o que a obrigou virtualmente a permanecer na vida conjugal. A vida pastoral tinha tendência a criar um novo sistema de costumes, o tipo patriarcal de vida familiar; e, a base da unidade da família, sob os costumes dos pastores e dos primeiros agricultores, foi a autoridade inquestionável e arbitrária do pai. Toda a sociedade, seja nacional, seja familiar, passou pelo estágio da autoridade autocrática de ordem patriarcal.
84:3.2 (934.1) A escassa cortesia dedicada às mulheres, durante a era do Antigo Testamento, é um reflexo verdadeiro dos costumes dos pastores. Os patriarcas hebreus eram todos pastores, como fica testemunhado com o ditado: “O Senhor é meu Pastor”.
84:3.3 (934.2) Mas não há que se culpar o homem, mais do que à mulher, pelo baixo conceito desta durante as idades passadas. Ela não conseguiu o reconhecimento social durante os tempos primitivos, porque não funcionava em uma emergência; ela não era um herói, nem era espetacular, durante uma crise. Na luta pela existência, a maternidade gerava uma incapacidade clara; o amor materno gerava uma desvantagem para as mulheres na defesa tribal.
84:3.4 (934.3) As mulheres primitivas também criavam, não intencionalmente, a sua dependência do varão, por causa da admiração e do aplauso que davam à sua combatividade e virilidade. Essa exaltação do guerreiro glorificou o ego masculino, ao mesmo tempo desvalorizando o ego da mulher tornando-a mais dependente. Um uniforme militar ainda excita fortemente as emoções femininas.
84:3.5 (934.4) Entre as raças mais avançadas, as mulheres não são tão grandes nem tão fortes quanto os homens. A mulher, sendo a mais fraca, adquiriu, portanto, mais tato; muito cedo aprendeu a negociar com os seus encantos sexuais. Tornou-se mais alerta e conservadora do que o homem, embora ligeiramente menos profunda. O homem era superior à mulher no campo de batalha e na caça; mas, em casa, geralmente, a mulher assumia o comando, mesmo entre os mais primitivos dos homens.
84:3.6 (934.5) Os pastores contavam com os seus rebanhos para o sustento, mas, durante as eras pastorais, a mulher devia ainda prover o alimento vegetal. O homem primitivo fugia do trabalho com o solo; pois este era de todo por demais pacífico, pouco aventuresco. E também havia uma velha superstição de que as mulheres cultivavam as melhores plantas; elas eram mães. Em várias tribos retrógradas de hoje, os homens cozinham a carne e as mulheres os vegetais e, quando as tribos primitivas da Austrália estão em deslocamento, mulheres nunca vão à caça e um homem nunca pára para extrair uma raiz.
84:3.7 (934.6) A mulher sempre teve de trabalhar; ao menos até os tempos modernos, ela tem sido uma verdadeira produtora. O homem, em geral, escolheu o caminho mais fácil; e essa desigualdade tem existido durante toda a história da raça humana. A mulher tem sempre sido a besta de carga, carregando as propriedades da família e atendendo aos filhos, deixando assim as mãos dos homens livres para lutar e caçar.
84:3.8 (934.7) A primeira liberação da mulher veio quando o homem consentiu em cultivar o solo, concordando em fazer aquilo que até então havia sido considerado o trabalho das mulheres. Um grande passo à frente foi dado quando se deixou de matar prisioneiros masculinos, passando-se a escravizá-los como agricultores. Isso trouxe a liberação da mulher, de um modo tal que ela podia devotar mais do seu tempo às coisas do lar e à educação dos filhos.
84:3.9 (934.8) A provisão do leite para os pequenos levou a um desmame mais precoce dos bebês e, conseqüentemente, as mães, algumas vezes livres da sua esterilidade temporária, podiam ser levadas à concepção de mais filhos, ao mesmo tempo em que o uso do leite das vacas e das cabras reduziu, em grande parte, a mortalidade infantil. Antes da era pastoral da sociedade, as mães mantinham o hábito de amamentar os seus filhos até os quatro ou cinco anos de idade.
84:3.10 (934.9) A redução da freqüência das guerras primitivas diminuiu em muito a disparidade na divisão do trabalho baseada no sexo. As mulheres, entretanto, ainda tinham de fazer os trabalhos verdadeiros, enquanto o homem cuidava das tarefas temporárias. Nenhum campo ou vilarejo podia ser deixado sem guarda dia e noite; contudo, mesmo essa tarefa foi aliviada pela domesticação do cão. Em geral, o advento da agricultura aumentou o prestígio da mulher e a sua posição social; ou ao menos isso foi verdadeiro até a época em que o próprio homem se tornou um agricultor. E, tão logo o homem dedicou-se ao cultivo do solo, imediatamente seguiram-se grandes aperfeiçoamentos nos métodos da agricultura, que perduraram por sucessivas gerações. Na caça e na guerra, o homem tinha aprendido a valorizar a organização e introduziu essas técnicas na indústria e, mais tarde, ao assumir muitos dos trabalhos das mulheres, aperfeiçoou, em muito, os métodos desregrados nos trabalhos feitos por elas.
84:4.1 (935.1) Em geral, o status da mulher em qualquer idade mostra bem a medida do progresso evolucionário do matrimônio enquanto instituição social e, nessa mesma medida, o progresso do matrimônio em si é uma forma razoavelmente acurada de registro dos avanços da civilização humana.
84:4.2 (935.2) O status da mulher tem sempre sido um paradoxo social; ela tem sempre sido uma manipuladora astuta dos homens; tem sempre capitalizado o instinto sexual mais forte do homem, segundo os seus próprios interesses e para o seu próprio avanço. Ao valorizar sutilmente os próprios encantos sexuais, tem sido capaz de exercer freqüentemente um poder dominador sobre o homem, mesmo quando mantida por ele sob uma abjeta escravidão.
84:4.3 (935.3) A mulher primitiva não era uma amiga para o homem, nem um amor, uma amante ou uma parceira; antes era um objeto de propriedade, uma serva ou uma escrava e, mais tarde, uma sócia econômica, um brinquedo e uma geradora de filhos. Entretanto, relações sexuais convenientes e satisfatórias sempre envolveram o elemento de escolha e cooperação da parte da mulher, e isso tem sempre dado às mulheres inteligentes uma influência considerável na sua posição pessoal verdadeira, a despeito da posição social do seu sexo. Mas a desconfiança masculina e a suspeita não foram aliviadas pelo fato de que as mulheres foram sempre obrigadas a recorrer à esperteza, nos seus esforços para minorar a própria escravidão.
84:4.4 (935.4) Os sexos têm tido grandes dificuldades para compreenderem um ao outro. O homem acha difícil compreender a mulher, considerando-a com uma mistura estranha de desconfiança ignorante e de fascinação amedrontada, na suspeita e no desprezo. Muitas tradições tribais e raciais remontam os problemas a Eva, a Pandora, ou a outra representante da feminilidade. E tais narrativas foram sempre distorcidas de modo a fazer parecer que a mulher trouxe o mal ao homem; e tudo isso indica que a desconfiança que se teve da mulher já deve ter sido universal. Entre as razões citadas para sustentar-se um sacerdócio celibatário, a principal foi a baixeza da mulher. O fato de que as supostas bruxas, na sua maioria, eram mulheres, não melhora a antiga reputação desse sexo.
84:4.5 (935.5) Os homens têm, há muito, considerado as mulheres como peculiares, anormais mesmo. Eles acreditaram até que as mulheres não tivessem almas; e por isso lhes era negado ter nomes. Durante os tempos primitivos existiu um grande medo da primeira relação sexual com uma mulher. Por essa razão, tornou-se costume que um sacerdote tivesse a primeira relação com uma virgem. Até mesmo a sombra de uma mulher era considerada perigosa.
84:4.6 (935.6) Outrora, considerava-se em geral que a gravidez tornava a mulher perigosa e impura. E muitos costumes tribais ditavam que a mãe devia passar por longas cerimônias de purificação depois do nascimento de um filho. Exceto em grupos nos quais o marido participava do parto, permanecendo deitado, a mãe grávida era evitada e deixada a sós. Os antigos evitavam mesmo que a criança nascesse na casa. Finalmente, foi permitido que as mulheres mais velhas ajudassem a mãe durante o trabalho de parto; e essa prática deu origem à profissão de parteira. Durante as dores, falava-se e fazia-se um punhado de coisas tolas, no esforço de facilitar o parto. Era costume aspergir água benta no recém-nascido, para impedir a interferência de fantasmas.
84:4.7 (935.7) Em meio às tribos não miscigenadas, o nascimento de um filho era relativamente simples, tomando apenas duas ou três horas; raramente é tão simples assim, nas raças miscigenadas. Se uma mulher morria no parto, especialmente durante o parto de gêmeos, acreditava-se que ela teria sido culpada de adultério espiritual. Mais tarde, as tribos mais elevadas encaravam a morte no parto como sendo uma vontade do céu; tais mães eram consideradas como tendo perecido por uma causa nobre.
84:4.8 (936.1) A chamada modéstia das mulheres para vestir-se, evitando mostrar o seu corpo, surgiu do medo mortal de ser observada, durante o período menstrual. Ser surpreendida nesse estado era um pecado grave, era a violação de um tabu. Sob os costumes dos tempos antigos, toda mulher, desde a adolescência até o fim de um período de gravidez, estava sujeita à completa quarentena familiar e social, por uma semana inteira a cada mês. Tudo em que ela tocasse, se assentasse ou sobre a qual deitasse ficava “maculado”. Por muito tempo, foi costume bater brutalmente em uma menina depois de cada período mensal, no esforço para tirar o espírito impuro do seu corpo. Todavia, quando uma mulher passava da idade da concepção, geralmente, era tratada com mais consideração, sendo-lhe atribuídos maiores direitos e privilégios. Por causa de tudo isso, não era estranho que as mulheres fossem menosprezadas. Mesmo os gregos tinham a mulher na menstruação como uma das três grandes causas de impureza, as outras duas eram a carne de porco e o alho.
84:4.9 (936.2) Por mais tolas que essas noções antigas fossem, algum bem elas traziam ao dar às mulheres extenuadas, ao menos enquanto eram jovens, uma semana a cada mês de um descanso bem-vindo e de meditação proveitosa. Assim, elas podiam afiar a sua sabedoria para lidar com os seus companheiros masculinos, no restante do tempo. Essa quarentena das mulheres também protegia os homens de caírem nos excessos sexuais; e isso contribuía, indiretamente, para a restrição da população e para aumentar o autocontrole.
84:4.10 (936.3) Um grande avanço foi feito quando foi negado ao homem o direito de matar a sua esposa segundo fosse da sua vontade. Do mesmo modo, um passo à frente foi dado quando foi permitido à mulher possuir os presentes de casamento. Mais tarde ela ganhou o direito legal de possuir, controlar e mesmo dispor da propriedade; mas, durante muito tempo, permaneceu despojada do direito de ter um posto, fosse na igreja, fosse no estado. A mulher tem sido sempre tratada mais ou menos como uma propriedade, até o século vinte depois de Cristo, e mesmo nele. Ela ainda não conseguiu liberar-se, em escala mundial, de estar em reclusão e sob o controle do homem. Mesmo em meio a povos avançados, até mesmo as tentativas do homem de proteger a mulher têm sempre sido uma afirmação tácita de superioridade.
84:4.11 (936.4) As mulheres primitivas, todavia, não tinham piedade de si próprias, como as suas irmãs mais recentemente liberadas habituaram-se a ter. Elas eram, afinal, relativamente felizes e contentes; e não ousavam visualizar um modo melhor ou diferente de existir.
84:5.1 (936.5) Para a autoperpetuação a mulher é igual ao homem, mas, na parceria da automanutenção, ela trabalha com uma desvantagem clara; e esse obstáculo, da maternidade forçada, apenas pode ser compensado sob costumes esclarecidos, em uma civilização adiantada, e pelo senso crescente de justiça do homem.
84:5.2 (936.6) À medida que a sociedade evoluiu, os padrões sexuais tornaram-se mais importantes entre as mulheres, porque elas sofreram mais as conseqüências da transgressão dos costumes sexuais. Os padrões sexuais do homem melhoraram apenas tardiamente, em conseqüência do simples senso de justiça que a civilização demanda. A natureza nada sabe sobre a justiça — faz a mulher sofrer sozinha as dores do parto.
84:5.3 (936.7) A idéia moderna da igualdade dos sexos é bela e digna de uma civilização em progresso, mas não é encontrada na natureza. Quando uma força gera o seu próprio direito, o homem a impõe à mulher; quando a justiça, a paz e a eqüidade mais prevalecem, a mulher emerge gradualmente da escravidão e da obscuridade. A sua posição social tem variado, em geral, de modo inverso ao do nível de militarização de qualquer nação ou época.
84:5.4 (937.1) O homem, todavia, nem consciente, nem intencionalmente, tirou os direitos da mulher para, então, gradual e relutantemente, dá-los de volta a ela. Tudo isso aconteceu como um episódio inconsciente e não planejado na evolução social. Quando chegou, realmente, a época de a mulher desfrutar de mais direitos, ela os obteve, e de um modo totalmente independente da atitude consciente do homem. Lenta, mas seguramente, os costumes mudam, de modo a prover os ajustamentos sociais que constituem uma parte da evolução persistente da civilização. Lentamente, os costumes em avanço proporcionaram às mulheres um tratamento cada vez melhor; as tribos que persistiram na crueldade para com elas não sobreviveram.
84:5.5 (937.2) Os adamitas e os noditas conferiam às mulheres um reconhecimento crescente, e os grupos que eram influenciados pelos anditas migrantes tinham a tendência de serem influenciados pelos ensinamentos edênicos sobre o lugar da mulher na sociedade.
84:5.6 (937.3) Os chineses primitivos e os gregos tratavam as mulheres melhor do que a maioria dos povos vizinhos. Mas os hebreus eram excessivamente desconfiados delas. A mulher, no Ocidente, tem tido uma ascensão difícil sob as doutrinas de Paulo, ligadas ao cristianismo, embora o cristianismo haja avançado com os costumes ao impor obrigações sexuais mais estritas ao homem. O estado da mulher é quase desesperador, sob a degradação peculiar ligada a elas no maometismo; e é ainda mais maltratada sob os ensinamentos de várias outras religiões orientais.
84:5.7 (937.4) A ciência, não a religião, realmente emancipou a mulher; foi a fábrica moderna que a libertou amplamente dos confins do lar. As capacidades físicas do homem deixaram de ser um elemento vital essencial para o novo mecanismo de manutenção; e a ciência mudou de tal modo as condições da sua vida, que o poder do homem nunca mais seria tão superior ao poder da mulher.
84:5.8 (937.5) Essas mudanças tiveram a tendência de liberar a mulher da escravidão doméstica e trouxeram uma tal modificação de status que agora ela desfruta de um grau de liberdade pessoal e de determinação sexual que praticamente a iguala ao homem. Outrora, o valor de uma mulher consistia na sua capacidade de produzir alimento, mas as invenções e a riqueza capacitaram-na para criar um novo mundo no qual funcionar — as esferas da graça e do encanto. Assim, a indústria ganhou a sua luta inconsciente e involuntária na emancipação social e econômica da mulher. E novamente a evolução teve êxito em efetivar o que nem mesmo a revelação conseguiu realizar.
84:5.9 (937.6) A reação dos povos esclarecidos contra os costumes injustos que regulamentaram sobre o lugar da mulher na sociedade, de fato, tem tido os seus extremos, e tem oscilado, como o movimento de um pêndulo. Entre as raças industrializadas, ela tem recebido quase todos os direitos e desfruta da isenção de muitas obrigações, tais como o serviço militar. Cada facilidade na luta pela existência tem redundado na libertação da mulher; e ela tem-se beneficiado diretamente em cada avanço em direção da monogamia. O mais fraco sempre teve ganhos desproporcionais em cada ajuste de costumes, na evolução progressiva da sociedade.
84:5.10 (937.7) Quanto aos ideais do casamento constituído de um casal único, a mulher finalmente ganhou o reconhecimento, a dignidade, a independência, a igualdade e a educação; todavia, será que ela se demonstrará digna de toda essa conquista nova e sem precedentes? Responderá, a mulher moderna, a essa grande realização de libertação social com a indolência, a indiferença, a esterilidade e a infidelidade? Hoje, no século vinte, a mulher está sendo submetida ao teste mais crucial da sua longa existência no mundo!
84:5.11 (938.1) A mulher é a parceira igual do homem na reprodução racial, sendo, pois, de suma importância no desenvolvimento da evolução racial; por isso a evolução tem trabalhado cada vez mais para a realização dos direitos da mulher. Mas os direitos da mulher não são, de nenhum modo, os direitos do homem. A mulher não pode prosperar, tendo os direitos dos homens, mais do que o homem pode prosperar desfrutando dos direitos das mulheres.
84:5.12 (938.2) Cada sexo tem o seu próprio âmbito distinto de existência, junto com os seus próprios direitos nesse âmbito. Se a mulher aspira a desfrutar literalmente de todos os direitos do homem, então, mais cedo ou mais tarde, uma competição fria e sem piedade certamente substituirá o cavalheirismo e a consideração especial de que muitas mulheres agora desfrutam, e que tão recentemente ganharam dos homens.
84:5.13 (938.3) A civilização nunca pode obliterar o abismo de comportamento existente entre os sexos. De idade em idade, os costumes mudam, mas o instinto, não. A afeição materna inata nunca permitirá que a mulher emancipada se torne uma rival séria do homem na indústria. Para sempre, cada sexo permanecerá supremo no seu próprio domínio; domínio este determinado pela diferenciação biológica e pela dessemelhança mental.
84:5.14 (938.4) Cada sexo terá sempre a sua própria esfera especial, e, de quando em quando, ambos sobrepor-se-ão. Apenas socialmente homens e mulheres competem em termos de igualdade.
84:6.1 (938.5) O impulso da reprodução leva infalivelmente homens e mulheres a unirem-se para a autoperpetuação; todavia, por si só, isso não assegura que permaneçam juntos, em cooperação mútua — na fundação de um lar.
84:6.2 (938.6) Todas as instituições humanas de êxito abrangem antagonismos de interesse pessoal, ajustados na harmonia da prática do trabalho; e os trabalhos de casa não são exceção. O matrimônio, a base da edificação do lar, é a mais alta manifestação dessa cooperação entre antagonistas, que tão freqüentemente caracteriza os contatos da natureza e da sociedade. O conflito é inevitável. O acasalamento é inerente e natural. O matrimônio, contudo, não é biológico; é sociológico. A paixão assegura que homem e mulher se reúnam, mas o instinto, menos forte, da paternidade e os costumes sociais mantêm-nos juntos.
84:6.3 (938.7) Se considerados, na prática, o macho e a fêmea são duas variedades distintas da mesma espécie; vivendo em associação próxima e íntima. Os seus pontos de vista e reações vitais são todos essencialmente diferentes; eles são totalmente incapazes de uma compreensão mútua, plena e real. Um entendimento completo entre os sexos não é alcançável.
84:6.4 (938.8) As mulheres parecem ter mais intuição do que os homens, mas também demonstram ser um tanto menos lógicas. A mulher, contudo, tem sempre sido o esteio moral e tem tido a liderança espiritual da humanidade. É a mão que embala o berço e que ainda confraterniza com o destino.
84:6.5 (938.9) As diferenças de natureza, reação, ponto de vista e pensamento, entre homens e mulheres, longe de ocasionar preocupação, deveriam ser consideradas como altamente benéficas à humanidade, tanto individual quanto coletivamente. Muitas ordens de criaturas do universo são criadas em fases duais de manifestação de personalidade. Essa diferença é descrita como o macho e a fêmea, entre os mortais, os Filhos Materiais e os midsonitas; entre os serafins, os querubins e os Companheiros Moronciais, tem sido denominada positiva ou ativa, e negativa ou reservada. Tais associações duais multiplicam grandemente a versatilidade e superam limitações inerentes, como o fazem algumas associações trinas no sistema Paraíso-Havona.
84:6.6 (939.1) Homens e mulheres necessitam uns dos outros, nas suas carreiras moronciais e espirituais, exatamente como nas suas carreiras mortais. As diferenças de ponto de vista entre o macho e a fêmea perduram mesmo além da primeira vida e durante as ascensões do universo local e do superuniverso. E, mesmo em Havona, os peregrinos que uma vez foram homens e mulheres ainda estarão ajudando-se mutuamente na ascensão até o Paraíso. Nunca, mesmo no Corpo de Finalidade, a criatura irá metamorfosear-se tanto, a ponto de obliterar os traços de personalidade que os humanos chamam de masculinos e femininos; sempre essas duas variações básicas da humanidade continuarão a intrigar, estimular, encorajar e ajudar-se mutuamente; sempre serão mutuamente dependentes da cooperação para a solução dos problemas desconcertantes do universo e a superação das múltiplas dificuldades cósmicas.
84:6.7 (939.2) Embora os sexos nunca possam esperar entender-se mutuamente, eles são efetivamente complementares e, embora a cooperação seja com freqüência mais ou menos antagônica pessoalmente, ela é capaz de manter e de reproduzir a sociedade. O matrimônio é uma instituição destinada a compor as diferenças dos sexos, ao mesmo tempo em que efetua a continuação da civilização e assegura a reprodução da raça.
84:6.8 (939.3) O matrimônio é a mãe de todas as instituições humanas, pois conduz diretamente à fundação e manutenção do lar, que é a base estrutural da sociedade. A família está vitalmente ligada ao mecanismo da autopreservação; é a única esperança de perpetuação da raça sob os costumes da civilização e ao mesmo tempo provê, de modo bastante eficaz, algumas formas de autogratificação suficientemente satisfatórias. A família é a mais elevada realização puramente humana, combinando, como o faz, a evolução das relações biológicas de macho e fêmea nas relações sociais entre o marido e a esposa.
84:7.1 (939.4) O acasalamento sexual é instintivo, os filhos são o resultado natural e, assim, a família automaticamente vem à existência. Tais como são as famílias da raça ou nação, assim é a sociedade. Se as famílias são boas, do mesmo modo a sociedade o é. A grande estabilidade cultural do povo judeu e dos chineses repousa na força dos seus grupos familiares.
84:7.2 (939.5) O instinto que a mulher tem de amar as crianças, e de cuidar delas, conspirou para fazer da mulher a parte interessada em promover o casamento e a vida familiar primitiva. O homem foi forçado à edificação do lar apenas pela pressão dos costumes mais recentes e das convenções sociais; e demorou a interessar-se pelo estabelecimento do matrimônio e do lar, porque o ato sexual não lhe impõe conseqüências biológicas.
84:7.3 (939.6) A associação sexual é natural, mas o matrimônio é social, e tem sido sempre regulado pelos costumes. Os costumes (religiosos, morais e éticos), junto com a propriedade, o orgulho e o cavalheirismo, estabilizam as instituições do matrimônio e da família. Sempre que os costumes flutuam, há uma flutuação na estabilidade da instituição do lar-matrimônio. O matrimônio está atualmente passando da era da propriedade para a era pessoal. Anteriormente, o homem protegia a mulher porque esta era uma posse sua, e ela lhe obedecia pela mesma razão. Independentemente dos seus méritos, esse sistema trouxe a estabilidade. Agora, a mulher não mais é encarada como uma propriedade, e estão emergindo novos costumes, destinados a estabilizar a instituição do matrimônio-lar:
84:7.4 (939.7) 1. O novo papel da religião — no ensinamento de que a experiência de progenitores é essencial, vem a idéia de procriar cidadãos cósmicos, a compreensão ampliada do privilégio da procriação — de dar filhos ao Pai.
84:7.5 (940.1) 2. O novo papel da ciência — a procriação está tornando-se mais e mais voluntária, sujeita ao controle do homem. Nos tempos antigos, a falta de compreensão assegurava o aparecimento de filhos, na ausência de qualquer desejo de tê-los.
84:7.6 (940.2) 3. A nova função das atrações do prazer — isso introduz um novo fator à sobrevivência racial; o homem antigo levava os filhos não desejados à morte; os modernos recusam-se a concebê-los.
84:7.7 (940.3) 4. A elevação do instinto de paternidade. Cada geração agora tende a eliminar, da corrente de reprodução da raça, aqueles indivíduos para os quais o instinto paternal não é forte o suficiente para assegurar a procriação dos filhos, os pais prospectivos da geração seguinte.
84:7.8 (940.4) Contudo, o lar como uma instituição, uma parceria entre um homem e uma mulher, data mais especificamente dos dias da Dalamátia, de há cerca de meio milhão de anos; as práticas monogâmicas de Andon e dos seus descendentes imediatos haviam sido abandonadas tempos atrás. Contudo, não havia muito para se orgulhar da vida familiar, antes dos dias dos noditas e dos posteriores adamitas. Adão e Eva exerceram uma influência duradoura sobre toda a humanidade; pela primeira vez, na história do mundo, homens e mulheres foram vistos trabalhando lado a lado no Jardim. O ideal Edênico de toda uma família de jardineiros era um novo ideal em Urântia.
84:7.9 (940.5) A família primitiva englobava um grupo ligado pelo trabalho, incluindo os escravos, todos morando em uma única habitação. O matrimônio e a vida familiar não têm sempre sido idênticos, mas, por necessidade, ambos têm estado estreitamente relacionados. A mulher sempre quis a família individualizada e, finalmente, ganhou o caminho para tanto.
84:7.10 (940.6) O amor da progênie é quase universal e tem um valor especial para a sobrevivência. Os antigos sempre sacrificavam os interesses da mãe pelo bem-estar do filho; uma mãe esquimó, ainda hoje, lambe o seu bebê, em vez de lavá-lo. As mães primitivas, contudo, apenas nutriam e cuidavam dos seus filhos enquanto ainda muito jovens e, como os animais, descartavam-se deles tão logo cresciam. As ligações humanas duradouras e contínuas nunca têm sido baseadas apenas em afetos biológicos. Os animais amam os seus filhos; o homem — o homem civilizado — ama os filhos dos seus filhos. Quanto mais elevada for a civilização, maior o contentamento dos pais com o progresso e o êxito dos filhos; assim, vem à existência a realização nova e mais elevada do orgulho do nome.
84:7.11 (940.7) As famílias grandes, entre os povos antigos, não eram necessariamente sentimentais. Ter muitos filhos era uma coisa desejada, porque:
84:7.12 (940.8) 1. Eles eram valiosos como trabalhadores.
84:7.13 (940.9) 2. Os filhos eram a segurança para a velhice.
84:7.14 (940.10) 3. As filhas eram vendáveis.
84:7.15 (940.11) 4. O orgulho da família exigia que o nome fosse expandido.
84:7.16 (940.12) 5. Os filhos proporcionavam proteção e defesa.
84:7.17 (940.13) 6. O medo dos fantasmas gerava o pavor da solidão.
84:7.18 (940.14) 7. Algumas religiões exigiam uma progênie.
84:7.19 (940.15) Os adoradores dos ancestrais viam a ausência de filhos como a calamidade suprema para todo o tempo e para a eternidade. Eles desejavam, acima de tudo o mais, ter filhos que oficiassem nas festas depois da morte, para oferecerem os sacrifícios exigidos pelo progresso dos fantasmas na terra dos espíritos.
84:7.20 (941.1) Em meio aos selvagens antigos, a disciplina dos filhos começava muito cedo; e cedo também a criança compreendia que a desobediência significava o fracasso, ou mesmo a morte, exatamente como acontecia aos animais. É a proteção que a civilização dá à criança, contra as conseqüências naturais de uma conduta tola, que contribui tanto para a insubordinação moderna.
84:7.21 (941.2) As crianças esquimós progridem com tão pouca disciplina e correções, simplesmente porque são naturalmente como animaizinhos dóceis; os filhos, tanto dos homens vermelhos quanto dos amarelos, são igualmente fáceis. Todavia, nas raças que contêm herança andita, as crianças não são tão plácidas; tais jovens mais imaginativos e aventureiros exigem mais educação e disciplina. Os problemas modernos da educação das crianças tornaram-se crescentemente difíceis, por causa de:
84:7.22 (941.3) 1. Um grande grau de mistura racial.
84:7.23 (941.4) 2. Uma educação artificial e superficial.
84:7.24 (941.5) 3. A incapacidade de a criança adquirir cultura imitando os pais — os pais ficavam ausentes do convívio da família por muito tempo.
84:7.25 (941.6) As idéias antigas de disciplina familiar eram biológicas, vinham da compreensão de que os pais eram os criadores da existência da criança. Os ideais avançados da vida familiar estão levando ao conceito de que trazer uma criança ao mundo, em vez de conferir certos direitos aos pais, implica a responsabilidade suprema da existência humana.
84:7.26 (941.7) A civilização considera que os pais assumam todos os deveres, a criança possuindo todos os direitos. O respeito da criança pelos seus pais surge, não do conhecimento da obrigação que é gerada pela procriação parental, mas cresce naturalmente, como resultado dos cuidados, da educação e do afeto, demonstrados amorosamente na assistência dada à criança para vencer a batalha da vida. Os verdadeiros pais estão empenhados em uma ministração de serviço contínua, que a criança sábia acaba por reconhecer e apreciar.
84:7.27 (941.8) Na era industrial e urbana atual, a instituição do matrimônio está evoluindo ao longo de linhas econômicas novas. A vida familiar tornou-se cada vez mais cara, enquanto as crianças, que outrora eram um ativo financeiro, passaram a ser uma responsabilidade econômica. Contudo, a segurança da própria civilização ainda repousa na disposição crescente que uma geração tem de investir no bem-estar das próximas e futuras gerações. E qualquer tentativa de transferir a responsabilidade dos pais para o estado ou para a igreja revelar-se-á suicida para o bem-estar e o avanço da civilização.
84:7.28 (941.9) O matrimônio com filhos e a conseqüente vida familiar estimulam os potenciais mais elevados na natureza humana e, simultaneamente, fornecem a via ideal de expressão desses atributos vivificados da personalidade mortal. A família provê a perpetuação biológica da espécie humana. O lar é a arena social natural em que a ética da irmandade consangüínea pode ser compreendida pela criança em crescimento. A família é a unidade fundamental da fraternidade, na qual os pais e os filhos aprendem as lições da paciência, altruísmo, tolerância e indulgência, tão essenciais à realização da irmandade entre todos os homens.
84:7.29 (941.10) A sociedade humana em muito seria aperfeiçoada caso as raças civilizadas retornassem de um modo mais geral às práticas anditas de um conselho familiar. Os anditas não mantinham a forma patriarcal ou autocrática de governo familiar. Eles eram bastante fraternos e associativos, discutindo livre e francamente qualquer proposta ou regulamentação de natureza familiar. E eram fraternais de um modo ideal, em todo o seu governo familiar. Numa família ideal os afetos filial e paternal são aumentados pela devoção fraterna.
84:7.30 (942.1) A vida familiar é progenitora da verdadeira moralidade, é o ancestral da consciência da lealdade ao dever. As associações forçadas da vida familiar estabilizam a personalidade e estimulam o seu crescimento por meio da obrigação de um ajuste indispensável às personalidades outras e diversas. E ainda mais, uma verdadeira família — uma boa família — revela aos pais procriadores a atitude do Criador para com os seus filhos, ao mesmo tempo em que esses verdadeiros pais transmitem aos seus filhos a primeira de uma longa série de revelações ascendentes do amor do Pai, do Paraíso, de todos os filhos do universo.
84:8.1 (942.2) A grande ameaça contra a vida familiar é a inquietante maré montante de autogratificação, a mania moderna do prazer. O incentivo primordial ao matrimônio costumava ser econômico; a atração sexual era secundária. O matrimônio, baseado na automanutenção, conduziu à autopreservação e, concomitantemente, trouxe uma das formas mais desejáveis de autogratificação. É a única instituição da sociedade humana que engloba todos os três grandes incentivos da vida.
84:8.2 (942.3) Originalmente, a propriedade era a instituição básica da automanutenção, enquanto o matrimônio funcionava como a singular instituição de autoperpetuação. Apesar de a satisfação trazida pela comida, jogos e humor, e o deleite do sexo periódico, serem todos meios de autogratificação, continua sendo um fato que os costumes em evolução hajam fracassado em edificar qualquer outra instituição de autogratificação. E é devido a tal fracasso, de fazer evoluir técnicas especializadas de desfrutes agradáveis, que todas as instituições humanas estão completamente impregnadas dessa busca do prazer. A acumulação de propriedades está-se tornando um instrumento para aumentar todas as formas de autogratificação e, ao mesmo tempo, o matrimônio muitas vezes é visto apenas como um meio para o prazer. E essa indulgência excessiva, essa mania de prazer, tão amplamente disseminada, constitui hoje a maior ameaça jamais dirigida à instituição evolucionária social da vida familiar: o lar.
84:8.3 (942.4) A raça violeta introduziu uma característica nova na experiência ainda imperfeitamente realizada da humanidade: o instinto lúdico, combinado ao senso de humor. Entre os sangiques e os andonitas ele existia, em uma certa medida; mas a linhagem Adâmica elevou essa propensão primitiva ao auge do potencial do prazer, uma nova e glorificada forma de autogratificação. O tipo básico de autogratificação, afora o apaziguamento da fome, é a gratificação sexual, e essa forma de prazer sensual foi enormemente elevada com a mistura de sangiques e anditas.
84:8.4 (942.5) Há um perigo real na combinação da inquietação, da curiosidade, da aventura e do abandono ao prazer, característicos das raças pós-anditas. A fome da alma não pode ser satisfeita por meio dos prazeres físicos; o amor do lar e das crianças não aumenta com uma busca pouco sábia do prazer. Embora possais exaurir os recursos da arte, da cor, do som, do ritmo, da música e dos adornos pessoais; não podeis, com isso, esperar elevar a alma ou nutrir o espírito. A vaidade e a moda nada podem conferir à edificação do lar e à educação dos filhos; o orgulho e a rivalidade são impotentes para elevar as qualidades de sobrevivência das gerações que se sucedem.
84:8.5 (942.6) Todos os seres celestes em avanço desfrutam do repouso e da ministração dos diretores da reversão. Todos os esforços para obter diversões sadias e praticar jogos que elevam são saudáveis; o sono restaurador, o repouso, a recreação e todos os passatempos que evitam o enfado da monotonia valem a pena. Os jogos competitivos, as narrativas de histórias e mesmo o gosto da boa comida podem-se constituir em formas de autogratificação. (Quando usais o sal para dar sabor à comida, pausai e considerai que, durante quase um milhão de anos, o homem apenas podia obter o sal mergulhando o seu alimento nas cinzas.)
84:8.6 (943.1) Que o homem goze a vida; que a raça humana encontre o prazer de mil e uma maneiras; que a humanidade evolucionária explore todas as formas de legítima autogratificação, fruto da longa luta biológica de elevação. O homem fez por onde ganhar alguns dos seus júbilos e prazeres atuais. Prestai, porém, muita atenção à meta do destino! Os prazeres são suicidas, de fato, se tiverem êxito em destruir a propriedade que se tornou a instituição da automanutenção; e as autogratificações terão de fato custado um preço fatal, se acarretarem o colapso do matrimônio, a decadência da vida familiar e a destruição do lar — a aquisição evolucionária suprema do homem, e a única esperança de sobrevivência da civilização.
84:8.7 (943.2) [Apresentado pelo Comandante dos Serafins, estacionado em Urântia.]
O Livro de Urântia
Documento 85
85:0.1 (944.1) A RELIGIÃO primitiva teve uma origem biológica, um desenvolvimento evolucionário natural, independentemente das conjunções morais e de todas as influências espirituais. Os animais, mesmo os superiores, têm medos, mas não têm ilusões e, conseqüentemente, nenhuma religião. O homem cria as suas religiões primitivas dos próprios temores e por meio das suas ilusões.
85:0.2 (944.2) Na evolução da espécie humana, a adoração, nas suas manifestações primitivas, apareceu muito antes que a mente do homem fosse capaz de formular os conceitos mais complexos de vida os quais agora, e futuramente, merecem ser chamados de religião. A religião primitiva tinha uma natureza totalmente intelectual e era baseada inteiramente em circunstâncias de relacionamento. Os objetos da adoração eram sempre sugestivos; consistiam de coisas da natureza que estavam à mão, ou ocupavam lugar bem comum na experiência dos urantianos primitivos de mentes simples.
85:0.3 (944.3) Quando evoluiu além da adoração da natureza, a religião adquiriu raízes de origem espiritual; entretanto, foi ainda sempre condicionada pelo ambiente social. À medida que se desenvolveu a adoração da natureza, o homem imaginou conceitos de uma divisão do trabalho para o mundo supramortal; havia espíritos da natureza para os lagos, árvores, cachoeiras, chuva e centenas de outros fenômenos terrestres comuns.
85:0.4 (944.4) Em uma época ou em outra, o homem mortal adorou tudo sobre a face da Terra, incluindo a si próprio. E adorou também tudo o que fosse imaginável, no céu e sob a superfície da Terra. O homem primitivo temia todas as manifestações de poder; e adorou a todos os fenômenos naturais que não podia compreender. As forças naturais poderosas, tais como as tempestades, enchentes, terremotos, deslizamentos de terra, vulcões, fogo, calor e frio, como observadas pelo homem, impressionaram em muito a sua mente em expansão. As coisas inexplicáveis da vida ainda são chamadas de “atos de Deus” e de “dispensações misteriosas da Providência”.
85:1.1 (944.5) O primeiro objeto a ser adorado pelo homem em evolução foi uma pedra. Hoje, o povo Kateri, do sul da Índia, ainda adora uma pedra, como o fazem numerosas tribos no norte da Índia. Jacó dormiu sobre uma pedra porque ele a venerava; e até mesmo a ungiu. Raquel escondia um bom número de pedras sagradas na sua tenda.
85:1.2 (944.6) As pedras impressionaram o homem primitivo, primeiro, por serem extraordinárias, em vista do modo pelo qual tão subitamente apareciam na superfície de um campo cultivado ou um pasto. Os homens não levavam em conta a erosão, nem os resultados dos arados sobre o solo. As pedras também impressionaram muito aos povos primitivos, pela sua freqüente semelhança com animais. A atenção do homem civilizado detém-se em numerosas formações de pedras, nas montanhas que tanto se assemelham às faces de animais e mesmo de homens. Contudo, a influência mais profunda foi exercida pelos meteoros, os quais os humanos primitivos viam entrar na atmosfera, em uma grandiosidade flamejante. A estrela cadente era atemorizante para o homem primitivo, que acreditava com facilidade que aqueles riscos flamejantes marcavam a passagem de um espírito a caminho da Terra. Não é de causar surpresa que os homens fossem levados a adorar tais fenômenos, especialmente quando descobriram subseqüentemente os meteoros. E isso levou a uma reverência ainda maior a todas as outras pedras. Em Bengala muitos adoram um meteoro que caiu na Terra em 1 880 d.C.
85:1.3 (945.1) Todos os clãs e tribos antigas tiveram as suas pedras sagradas; e a maior parte dos povos modernos manifesta uma certa veneração por alguns tipos de pedras — as suas jóias. Um grupo de cinco pedras foi reverenciado na Índia; na Grécia, um agrupamento de trinta delas; em meio aos homens vermelhos, era comum um círculo de pedras. Os romanos sempre atiravam uma pedra para o ar, quando invocavam Júpiter. Na Índia, até hoje, uma pedra pode ser usada como testemunha. Em algumas regiões, uma pedra pode ser empregada como um talismã da lei, e um transgressor pode ser levado ao tribunal pelo seu prestígio. Todavia, os simples mortais nem sempre identificam a Deidade com um objeto reverenciado com cerimônia. Tais fetiches são, muitas vezes, meros símbolos do objeto real da adoração.
85:1.4 (945.2) Os antigos tinham uma consideração peculiar pelos orifícios nas pedras. Supunha-se que as rochas porosas fossem inusitadamente eficazes para curar doenças. As orelhas não eram perfuradas para o porte de pedras, mas as pedras eram colocadas ali para manter os furos das orelhas abertos. Mesmo nos tempos modernos, as pessoas supersticiosas fazem furos nas moedas. Na África, os nativos fazem grande alarde dos seus fetiches pelas pedras. De fato, em meio a todas as tribos e povos atrasados, as pedras são ainda mantidas sob uma veneração supersticiosa. A adoração das pedras ainda agora se encontra muito disseminada por todo o mundo. A pedra tumular é um símbolo sobrevivente de imagens e ídolos esculpidos, em vista das crenças nos fantasmas e espíritos dos companheiros que se foram.
85:1.5 (945.3) A adoração de colinas veio depois da adoração da pedra, e as primeiras colinas a serem veneradas foram grandes formações de rochas. Em seguida, tornou-se hábito acreditar que os deuses habitavam nas montanhas, de um modo tal que as altas elevações de terras eram adoradas por mais essa razão. Com o passar do tempo, sendo associadas a certos deuses, certas montanhas tornavam-se sagradas. Os aborígines ignorantes e supersticiosos acreditavam que as cavernas levavam ao submundo, com os seus espíritos e demônios malignos e, ao contrário, as montanhas, eram identificadas com os conceitos, num desenvolvimento mais recente, das deidades e dos espíritos bons.
85:2.1 (945.4) As plantas primeiro foram temidas e depois adoradas, por causa dos tóxicos que se derivavam delas. O homem primitivo acreditava que a intoxicação fazia com que alguém se tornasse divino. Supunham haver algo de inusitado e sagrado em tal experiência. Mesmo nos tempos modernos, o álcool é conhecido como “espírito”.
85:2.2 (945.5) O homem primitivo via a semente germinando com um temor e um respeito supersticioso. O apóstolo Paulo não foi o primeiro a retirar lições espirituais profundas da semente germinando, e a pregar crenças religiosas sobre ela.
85:2.3 (945.6) Os cultos de adoração de árvore estão nos grupos das religiões mais antigas. Todos os casamentos primitivos eram feitos sob as árvores e, quando as mulheres desejavam ter filhos, algumas vezes iam às florestas abraçar afetuosamente um robusto carvalho. Muitas plantas e árvores foram veneradas pelos seus poderes medicinais, reais ou imaginários. O selvagem acreditava que todos os efeitos químicos fossem devidos à atividade direta de forças sobrenaturais.
85:2.4 (945.7) As idéias sobre os espíritos das árvores variavam muito entre as tribos e raças diferentes. Algumas árvores eram habitadas por espíritos afáveis; outras abrigavam espíritos cruéis e enganosos. Os finlandeses acreditavam que a maior parte das árvores era ocupada por espíritos bons. Os suíços há muito desconfiavam das árvores, acreditando que continham espíritos traiçoeiros. Os habitantes da Índia e da Rússia Oriental consideravam os espíritos das árvores como sendo cruéis. Os patagônios ainda adoram árvores, como o fizeram os semitas primitivos. Muito depois de cessarem de adorar as árvores, os hebreus continuaram a venerar as suas várias deidades dos bosques. Exceto na China, houve um culto universal à árvore da vida.
85:2.5 (946.1) A crença de que a água, bem como os metais preciosos, debaixo da superfície da Terra, podem ser detectados por um divinatório ramo de madeira é uma lembrança dos antigos cultos às árvores. O mastro de Primeiro de maio, a árvore de Natal e a prática supersticiosa de bater na madeira perpetuam alguns dos antigos costumes de adoração das árvores e dos seus cultos mais recentes.
85:2.6 (946.2) Muitas das formas mais primitivas de veneração da natureza combinaram-se a técnicas de adoração posteriores, em evolução, mas os tipos mais primitivos de adoração, ativados pelos espíritos ajudantes da mente, estavam funcionando muito antes de a natureza religiosa recém-despertada da humanidade se tornar plenamente sensível ao estímulo das influências espirituais.
85:3.1 (946.3) O homem primitivo possuiu um sentimento peculiar e fraternal para com os animais superiores. Os seus ancestrais haviam vivido com eles e haviam, até mesmo, se acasalado com eles. No sul da Ásia acreditou-se primitivamente que as almas dos homens voltavam à Terra, na forma animal. Essa crença era um remanescente da prática ainda mais primitiva de adorar os animais.
85:3.2 (946.4) Os homens primitivos reverenciavam os animais pelo seu poder e astúcia. Julgavam que os apurados sentidos do olfato e da visão de certas criaturas fosse um sinal de orientação espiritual. Os animais têm sido adorados por uma raça ou por outra, em um momento ou em outro. Entre esses objetos de adoração, estavam criaturas que foram consideradas como meio humanas e meio animais, tais como o centauro e a sereia.
85:3.3 (946.5) Os hebreus adoravam serpentes até os dias do rei Ezequias; os indianos ainda mantêm relações amigáveis com as suas cobras caseiras. A adoração chinesa ao dragão é um remanescente dos cultos das cobras. A sabedoria da serpente era um símbolo da medicina grega e é ainda empregado como um emblema pelos médicos modernos. A arte do encantamento das cobras tem sido transmitida desde a época das xamãs femininas do culto de amor às cobras, e, como resultado das picadas diárias das cobras, elas tornavam-se imunes; de fato, se tornaram verdadeiras dependentes do veneno, sem o qual não podiam viver.
85:3.4 (946.6) A adoração dos insetos e outros animais foi promovida por uma má interpretação da regra dourada — de fazer aos outros (toda a forma de vida) como gostaríeis que fosse feito a vós. Os antigos, certa época, acreditaram que todos os ventos seriam produzidos pelas asas de pássaros e, por isso, tanto temiam como adoravam todas as criaturas com asas. Os nórdicos primitivos julgavam que os eclipses eram causados por um lobo que devorara um pedaço do sol ou da lua. Os hindus freqüentemente mostram Vishnu com uma cabeça de cavalo. Muitas vezes, o símbolo de um animal representa um deus esquecido ou um culto extinto. Primitivamente, na religião evolucionária, o cordeiro tornou-se o animal típico do sacrifício, e a pomba, o símbolo da paz e do amor.
85:3.5 (946.7) Na religião, o simbolismo pode ser bom ou mau, na mesma medida em que o símbolo substitui ou não a idéia original adorada. E o simbolismo não deve ser confundido com a idolatria diretamente, na qual o objeto material é direta e factualmente adorado.
85:4.1 (946.8) A humanidade tem adorado a terra, o ar, a água e o fogo. As raças primitivas veneraram fontes e adoraram rios. E, ainda agora, na Mongólia, floresce o culto de um rio importante. O batismo tornou-se um cerimonial religioso na Babilônia, e os gregos praticavam o ritual anual do banho. Fácil era que os antigos imaginassem os espíritos residindo nas nascentes borbulhantes, nas fontes efusivas, nos rios fluentes e torrentes intensas. As águas em movimento causavam impressões vívidas nessas mentes simples, que acreditavam na animação dos espíritos e no poder sobrenatural. Algumas vezes, a um homem que se afogava era negado o socorro, por medo de ofender algum deus do rio.
85:4.2 (947.1) Muitas coisas e numerosos acontecimentos têm funcionado como estímulos religiosos para povos diferentes, em épocas diferentes. Um arco-íris ainda é adorado por muitas das tribos das montanhas na Índia. Tanto na Índia quanto na África, o arco-íris é considerado como sendo uma cobra celestial gigantesca; os hebreus e os cristãos consideram-no o “arco da promessa”. Do mesmo modo, influências consideradas como benéficas, em uma parte do mundo, podem ser consideradas malignas em outras regiões. O vento oriental é um deus na América do Sul, pois traz a chuva; na Índia, é um demônio, porque traz a poeira e causa a seca. Os beduínos antigos acreditavam que um espírito da natureza produzia os redemoinhos de areia e, mesmo na época de Moisés, a crença em espíritos da natureza foi forte o suficiente a ponto de assegurar a sua perpetuação na teologia hebraica, como anjos do fogo, da água e do ar.
85:4.3 (947.2) As nuvens, a chuva e o granizo têm sido todos temidos e adorados por numerosas tribos primitivas e por muitos dos cultos primitivos da natureza. As tempestades de vento com trovões e relâmpagos aterrorizavam o homem primitivo. Tão impressionado ele ficava com as perturbações dos elementos, que o trovão era considerado a voz de um deus irado. A adoração do fogo e o temor dos relâmpagos eram ligados um ao outro e foram bem disseminados entre muitos grupos primitivos.
85:4.4 (947.3) O fogo esteve associado à magia nas mentes dos mortais dominados pelo medo. Um devoto da magia lembrará vividamente de um resultado por acaso positivo, na prática das suas fórmulas mágicas e, ao mesmo tempo, se esquece, indiferentemente, de uma série de resultados negativos, de fracassos absolutos. A reverência ao fogo atingiu o seu apogeu na Pérsia, onde perdurou por muito tempo. Algumas tribos adoravam o fogo como uma deidade em si; outras reverenciavam-no como o símbolo flamejante do espírito da purificação e da purgação das suas deidades veneradas. As virgens vestais eram encarregadas do dever de vigiar os fogos sagrados; e as velas, no século vinte, ainda queimam como uma parte do ritual de muitos serviços religiosos.
85:5.1 (947.4) A adoração de rochas, montanhas, árvores e animais desenvolveu-se naturalmente por meio da veneração amedrontada dos elementos, até a deificação do sol, da lua e das estrelas. Na Índia e em outros lugares, as estrelas eram consideradas como as almas glorificadas de grandes homens que haviam partido da vida na carne. Os cultuadores caldeus das estrelas consideravam-se como sendo os filhos do pai-céu e da mãe-terra.
85:5.2 (947.5) A adoração da lua precedeu a adoração do sol. A veneração da lua esteve no seu auge durante a era da caça, enquanto a adoração do sol tornou-se a principal cerimônia religiosa das idades agriculturais subseqüentes. A adoração solar arraigou-se extensivamente na Índia, inicialmente, e ali perdurou por mais tempo. Na Pérsia, a veneração do sol deu origem ao culto mitraico posterior. Entre muitos povos, o sol foi considerado o ancestral dos seus reis. Os caldeus colocavam o sol no centro dos “sete círculos do universo”. Mais tarde, as civilizações honraram o sol, dando o seu nome ao primeiro dia da semana.
85:5.3 (947.6) Supunha-se que o deus do sol fosse o pai místico dos filhos do destino, nascidos de uma virgem, os quais, de tempos em tempos, se outorgavam como salvadores das raças favorecidas. Esses infantes sobrenaturais eram sempre encontrados, à deriva, em algum rio sagrado, para serem resgatados de um modo extraordinário, depois do que cresceriam para tornar-se personalidades miraculosas e libertadores dos seus povos.
85:6.1 (948.1) Tendo adorado tudo o mais sobre a face da Terra, e nos céus acima, o homem não hesitou em honrar a si próprio com tal adoração. O selvagem de mente simples não faz distinção clara entre as bestas, os homens e os deuses.
85:6.2 (948.2) O homem primitivo tinha como supra-humanas todas as pessoas inusitadas e, assim, ele temia tais seres, a ponto de ter por eles um respeito reverente; em uma certa medida, literalmente os adorava. Até o fato de dar irmãos gêmeos à luz era considerado ou de muita sorte ou de muita falta de sorte. Os lunáticos, os epiléticos e os de mente débil eram freqüentemente adorados pelos seus semelhantes de mentes normais, que acreditavam que tais seres anormais eram resididos por deuses. Sacerdotes, reis e profetas foram adorados; os homens sagrados de outrora eram considerados como sendo inspirados pelas deidades.
85:6.3 (948.3) Os chefes tribais eram deificados quando mortos. Posteriormente, almas que se distinguiram eram santificadas depois de falecidas. A evolução, sem ajuda, nunca originou deuses mais elevados do que os espíritos glorificados, exaltados e evoluídos dos humanos mortos. Na evolução primitiva, a religião cria os seus próprios deuses. No curso da revelação, os Deuses formulam religiões. A religião evolutiva cria os seus deuses à imagem e semelhança do homem mortal; a religião reveladora busca evoluir e transformar o homem mortal à imagem e à semelhança de Deus.
85:6.4 (948.4) Os deuses fantasmas, que se supõe serem de origem humana, deveriam distinguir-se dos deuses da natureza, pois a adoração da natureza fez evoluir um panteão — de espíritos da natureza elevados à posição de deuses. Os cultos da natureza continuaram a desenvolver-se junto com os cultos dos fantasmas, que surgiram posteriormente, e cada um exerceu uma influência sobre os outros. Muitos sistemas religiosos adotaram um conceito dual de deidade; os deuses da natureza e os deuses fantasmas; em algumas teologias, esses conceitos estão entrelaçados confusamente, como é ilustrado por Tor, um herói fantasma que foi também o mestre do relâmpago.
85:6.5 (948.5) A adoração do homem pelo homem, todavia, teve o seu apogeu quando os governantes temporais exigiam uma grande veneração dos seus súditos e, para dar substância a essas exigências, reinvindicavam descender da deidade.
85:7.1 (948.6) A adoração da natureza parece ter surgido natural e espontaneamente nas mentes dos homens e mulheres primitivos, e assim foi; mas, ao mesmo tempo, estava atuando sobre essas mesmas mentes primitivas o sexto espírito ajudante da mente, espírito este que foi outorgado a esses povos como uma influência orientadora dessa fase da evolução humana. E esse espírito esteve sempre estimulando o impulso da adoração da espécie humana, não importando quão primitiva a sua primeira manifestação pudesse ser. O espírito da adoração deu uma origem definida ao impulso da adoração, não obstante aquele medo animal motivasse a expressão da adoração, e aquela prática inicial houvesse sido centrada em objetos da natureza.
85:7.2 (948.7) Deveis lembrar-vos de que o sentimento, e não o pensamento, foi a influência que guiou e controlou todo o desenvolvimento evolucionário. Para a mente primitiva, há pouca diferença entre temer, esquivar-se, honrar e adorar.
85:7.3 (948.8) Quando o impulso da adoração está disciplinado e é dirigido pela sabedoria — do pensamento meditativo e experiencial — , então ele começa a desenvolver-se no fenômeno da verdadeira religião. Quando o sétimo espírito ajudante, o espírito da sabedoria, alcança uma ministração efetiva, então o homem em adoração começa a afastar-se da natureza e dos objetos naturais, para voltar-se para o Deus da natureza e para o Criador eterno de todas as coisas naturais.
85:7.4 (949.1) [Apresentado por um Brilhante Estrela Vespertino de Nébadon.]
O Livro de Urântia
Documento 86
86:0.1 (950.1) A EVOLUÇÃO da religião a partir do impulso anterior primitivo de adoração não depende da revelação. O funcionamento normal da mente humana, sob as influências diretivas do sexto e do sétimo ajudantes da mente, dons que são do espírito universal, é totalmente suficiente para assegurar esse desenvolvimento.
86:0.2 (950.2) O mais antigo medo pré-religioso das forças da natureza, da parte do homem, tornou-se gradativamente religioso quando a natureza passou a ser personalizada, espiritualizada e finalmente deificada para a consciência humana. A religião do tipo primitivo foi, portanto, conseqüência biológica natural da inércia psicológica das mentes animais em evolução, depois que tais mentes haviam já admitido conceitos sobrenaturais.
86:1.1 (950.3) À parte o impulso natural da adoração, a religião evolucionária primitiva teve as suas raízes originárias nas experiências humanas com o acaso — a chamada sorte, os acontecimentos comuns. O homem primitivo foi um caçador de alimentos. Os resultados da caça variam sempre, e isso certamente dá origem a experiências que o homem interpreta como boa sorte e má sorte. O infortúnio era um grande fator nas vidas dos homens e mulheres que viviam constantemente no limite incerto de uma existência precária e acossada.
86:1.2 (950.4) O horizonte intelectual limitado do selvagem concentra de tal forma a atenção no acaso, que a sorte torna-se um fator constante na sua vida. Os urantianos primitivos lutavam pela existência, não por um padrão de vida; eles levavam vidas perigosas, nas quais o acaso exercia um papel importante. O pavor constante da calamidade desconhecida ou não visível pairava sobre esses selvagens como uma nuvem de desespero que efetivamente eclipsava cada prazer. Assim, eles viviam no constante pavor de fazer algo que pudesse trazer a má sorte. Os selvagens supersticiosos sempre temeram um período longo de boa sorte, considerando tal fortuna como precursora certa de calamidade.
86:1.3 (950.5) Esse pavor, sempre presente, da má sorte era paralisante. Por que trabalhar duro e colher como recompensa a má sorte — nada por alguma coisa — quando se poderia deixar ir e encontrar a boa sorte — alguma coisa por nada? Os homens irrefletidos esquecem-se da boa sorte — aceitam-na como certa — e dolorosamente se lembram da má sorte.
86:1.4 (950.6) O homem primitivo vivia na incerteza e no medo constante do acaso — da má sorte. A vida era uma aposta excitante de riscos; toda a existência era um jogo. Não é de se espantar que povos parcialmente civilizados ainda creiam no acaso e evidenciem predisposições remanescentes para o jogo. O homem primitivo alternava-se entre dois interesses poderosos: a paixão de conseguir algo por nada e o medo de não ganhar nada em troca de algo. E esse jogo da existência era o interesse principal e a fascinação suprema para a mente selvagem primitiva.
86:1.5 (951.1) Os pastores de épocas posteriores tinham a mesma visão do acaso e da sorte, ao passo que os agricultores ainda mais recentes foram cada vez mais conscientes de que as colheitas eram influenciadas, de modo imediato, por muitas coisas sobre as quais o homem tinha pouco ou nenhum controle. O agricultor via-se vítima da seca, enchentes, granizo, tempestades, pestes e doenças das plantas, bem como calor e frio. E, como todas essas influências naturais afetavam a prosperidade do indivíduo, eram encaradas como boa ou má sorte.
86:1.6 (951.2) Essa noção do acaso e da sorte impregnou fortemente a filosofia de todos os povos antigos. Mesmo em épocas recentes, na Sabedoria de Salomão, é dito: “Eu voltei e vi que a corrida não é dos velozes, nem a batalha dos fortes, nem o pão dos sábios, nem as riquezas dos homens de compreensão, nem o favorecimento dos homens de habilidade; mas o destino e o acaso a todos atingem. Pois o homem não conhece o seu destino; do mesmo modo que os peixes são colhidos em uma rede má, e os pássaros são apanhados em uma armadilha, também os filhos dos homens caem nas malhas de um tempo mau, quando este se abate subitamente sobre eles”.
86:2.1 (951.3) A ansiedade era o estado natural da mente selvagem. Quando homens e mulheres transformam-se em vítimas da ansiedade excessiva, estão simplesmente retornando ao estado natural dos seus ancestrais longínquos; e, quando a ansiedade torna-se de fato dolorosa, ela inibe a atividade e, infalivelmente, leva a mudanças evolucionárias e a adaptações biológicas. A dor e o sofrimento são essenciais à evolução progressiva.
86:2.2 (951.4) A luta pela vida é tão dolorosa que algumas tribos retrógradas, mesmo hoje, bramem e lamentam-se a cada novo amanhecer. O homem primitivo constantemente perguntava-se: “Quem me está atormentando?” Não encontrando uma fonte material para as suas mágoas, encontrou uma explicação no espírito. E, assim, a religião nasceu do medo do misterioso, do temor do invisível e do pavor do desconhecido. O medo da natureza tornou-se, pois, um fator na luta pela existência; primeiro, por causa do acaso e, depois, por causa do mistério.
86:2.3 (951.5) A mente primitiva era lógica, mas tinha poucas idéias fruto da associação inteligente; a mente selvagem era inculta, totalmente ingênua. Se um acontecimento vinha depois de outro, o selvagem considerava-os como causa e efeito. O que o homem civilizado considera como superstição, era só ignorância pura, no selvagem. A humanidade tem sido lenta em compreender que não há necessariamente qualquer relação entre propósitos e resultados. Os seres humanos estão apenas começando a compreender que as reações da existência surgem entre os atos e suas conseqüências. O selvagem esforça-se para personalizar tudo o que é intangível e abstrato e, assim, tanto a natureza quanto o acaso tornam-se personalizados como fantasmas — espíritos — e, mais tarde, deuses.
86:2.4 (951.6) O homem tende naturalmente a crer naquilo que julga ser o melhor para si próprio, aquilo que é do seu interesse imediato ou remoto; o interesse próprio obscurece, em muito, a lógica. A diferença entre as mentes dos selvagens e a dos homens civilizados é mais de conteúdo do que de natureza, de grau mais do que de qualidade.
86:2.5 (951.7) Continuar a atribuir coisas de compreensão difícil a causas sobrenaturais, contudo, nada mais é do que um modo preguiçoso e conveniente de evitar todas as formas de trabalho intelectual pesado. A sorte é um termo forjado meramente para encobrir o inexplicável em qualquer época da existência humana; ela designa aqueles fenômenos que os homens são incapazes ou não se dispõem a penetrar. Usar a palavra sorte significa que o homem é ignorante demais, ou indolente em excesso, para determinar causas. Os homens consideram uma ocorrência natural como sendo um acidente, ou má sorte, apenas quando são desprovidos de curiosidade e de imaginação, quando falta iniciativa e aventura às raças. A exploração dos fenômenos da vida, mais cedo ou mais tarde, destrói a crença do homem no acaso, na sorte e nos chamados acidentes; e, conseqüentemente, esses fenômenos passam a ocupar o lugar de um universo de lei e de ordem, em que todos os efeitos são precedidos por causas definidas. Assim, o medo da existência é substituído pelo júbilo de viver.
86:2.6 (952.1) O selvagem via toda a natureza como sendo viva, como sendo possuída por algo. O homem civilizado ainda chuta e pragueja contra os objetos inanimados que entram na sua frente e chocam-se com ele. O homem primitivo nunca encarou nada como acidental; tudo foi sempre intencional. Para o homem primitivo, o domínio do destino, função da sorte, mundo dos espíritos, era tudo tão desorganizado e sujeito ao acaso, quanto o era a sociedade primitiva. A sorte era considerada como uma reação caprichosa e temperamental do mundo do espírito; e, mais tarde, causa do humor dos deuses.
86:2.7 (952.2) Contudo, nem todas as religiões se desenvolveram do animismo. Outros conceitos do sobrenatural foram contemporâneos do animismo, e essas crenças também conduziram à adoração. O naturalismo não é uma religião — ele nasce da religião.
86:3.1 (952.3) A morte foi o choque supremo para o homem em evolução, a combinação mais desconcertante de acaso e mistério. Não a santidade da vida, mas o choque da morte é que inspirava o medo e, assim, fomentava efetivamente a religião. Em meio aos povos selvagens, a morte, comumente, era causada pela violência, de um modo tal que a morte não violenta tornou-se cada vez mais misteriosa. A morte, como um fim natural e esperado para a vida, não era algo que estivesse claro para a consciência dos povos primitivos; e foram necessárias idades e mais idades para que o homem compreendesse a sua inevitabilidade.
86:3.2 (952.4) O homem primitivo aceitou a vida como um fato, ao mesmo tempo que considerava a morte como uma visitação de alguma espécie. Todas as raças possuem suas lendas sobre homens que não morriam, vestígios das tradições da atitude inicial para com a morte. Na mente humana, existia já o conceito nebuloso de um mundo do espírito, obscuro e não organizado, um domínio de onde vinha tudo o que é inexplicável na vida humana; e a morte constava dessa longa lista de fenômenos sem explicação.
86:3.3 (952.5) Acreditava-se, inicialmente, que todas as doenças humanas, bem como a morte natural, se devessem à influência do espírito. E, ainda no presente, algumas raças civilizadas encaram a doença como tendo sido produzida pelo “inimigo”, e dependem das cerimônias religiosas para efetuar a sua cura. Sistemas mais recentes e complexos de teologia ainda atribuem a morte à ação do mundo do espírito; e tudo isso acarretou doutrinas tais como a do pecado original e a da queda do homem.
86:3.4 (952.6) Foi a compreensão da impotência diante das forças poderosas da natureza, junto com o reconhecimento da fraqueza humana diante das visitações da doença e da morte, que impeliu o selvagem a buscar ajuda do mundo supramaterial, vagamente visualizado como a fonte dessas vicissitudes misteriosas da vida.
86:4.1 (952.7) O conceito de uma fase supramaterial da personalidade mortal nasceu da associação inconsciente, e puramente acidental, entre ocorrências da vida diária e sonhos com espíritos. Quando vários membros de uma tribo sonhavam, simultaneamente, com o chefe que já estava morto, isso parecia constituir uma evidência convincente de que o velho chefe havia, realmente, voltado, sob alguma forma. Tudo era muito real, para o selvagem, quando, molhado de suor, acordava desses sonhos, tremendo e gritando.
86:4.2 (953.1) A origem da crença em uma existência futura explica a tendência de sempre imaginar as coisas não visíveis nos termos das coisas visíveis. E, logo, esse conceito novo de uma vida-futura-do-fantasma-onírico transformou-se, efetivamente, no antídoto para o medo da morte, associado ao instinto biológico de autopreservação.
86:4.3 (953.2) O homem primevo também se preocupava muito com o ar expirado, especialmente nos climas frios, quando a exalação saía como uma nuvem. O sopro da vida foi considerado como o fenômeno que diferenciava os vivos dos mortos. Ele sabia que o seu sopro podia deixar o corpo e que seus sonhos, de estar fazendo toda espécie de coisas estranhas, enquanto adormecido, convenciam-no de que havia algo imaterial em um ser humano. A idéia mais primitiva da alma humana, o fantasma, derivou desse sistema de idéias gerado pela respiração e pelos sonhos.
86:4.4 (953.3) Finalmente, o selvagem concebeu a si próprio como um ser duplo — o corpo e a respiração. O sopro, menos o corpo, era igual ao espírito, igual a um fantasma. Embora tivessem uma origem humana bastante definida, os fantasmas, ou os espíritos, eram considerados supra-humanos. E essa crença, na existência de espíritos fora dos corpos, parecia explicar a ocorrência do inusitado, extraordinário, infreqüente e inexplicável.
86:4.5 (953.4) A doutrina primitiva da sobrevivência depois da morte não era necessariamente uma crença na imortalidade. Seres que não podiam contar acima de vinte, dificilmente poderiam conceber a infinitude e a eternidade; pensavam, antes, em repetidas encarnações.
86:4.6 (953.5) A raça alaranjada era especialmente dada a acreditar na transmigração e na reencarnação. Essa idéia, a da reencarnação, originou-se na observância da semelhança hereditária e nos traços entre a progênie e os ancestrais. O costume de chamar os filhos pelos nomes dos avós e outros ancestrais era devido à crença na reencarnação. Algumas raças bem recentes acreditavam que o homem morria de três a sete vezes. Essa crença (que remonta aos ensinamentos de Adão sobre os mundos das mansões), bem como muitas outras, que são remanescentes da religião revelada, podem ser encontradas entre as doutrinas absurdas, por outros motivos, dos bárbaros do século vinte.
86:4.7 (953.6) O homem primitivo não alimentou idéias de um inferno, nem de punições futuras. O selvagem via a vida futura exatamente como via esta, menos toda a má sorte. Mais recentemente, um destino diferente para os bons espíritos e para os maus espíritos — o céu e o inferno — foi concebido. Todavia, já que muitas raças primitivas acreditavam que o homem entrava na próxima vida exatamente como havia deixado esta, a idéia de tornarem-se velhos e decrépitos não lhes era agradável. O idoso preferia muito ser morto, antes de tornar-se enfermo demais.
86:4.8 (953.7) Os grupos, quase todos, alimentavam idéias diferentes a respeito do destino do fantasma da alma. Os gregos acreditavam que os homens fracos deviam ter almas fracas e, sendo assim, inventaram o Hades como um lugar adequado para receber essas almas anêmicas; supunha-se também que esses espécimes, pouco robustos, tivessem sombras menores. Os primeiros anditas achavam que os seus fantasmas retornavam para as terras ancestrais. Chineses e egípcios acreditaram outrora que a alma e o corpo permaneciam juntos. Entre os egípcios, isso levou a construções aprimoradas de tumbas e a esforços para se preservar os corpos. Mesmo os povos modernos buscam evitar a decomposição dos mortos. Os hebreus concebiam que uma réplica do fantasma do indivíduo descia até o Sheol, e não podia voltar à terra dos vivos. E conceberam esse avanço importante na doutrina da evolução da alma.
86:5.1 (953.8) A parte não-material do homem tem sido denominada de vários modos: fantasma, espírito, sombra, visão, espectro e, mais recentemente, alma. A alma certa vez foi o sonho que o homem primitivo tinha, do seu ser duplicado; era, em todos os sentidos, exatamente como o próprio mortal, a não ser pelo fato de não ser sensível ao toque. A crença nesses duplos oníricos levou diretamente à noção de que todas as coisas, animadas e inanimadas, tinham almas tanto quanto os homens. Esse conceito, durante muito tempo, levou à perpetuação das crenças em espíritos da natureza; os esquimós ainda acham que tudo na natureza tem um espírito.
86:5.2 (954.1) A alma fantasma podia ser ouvida e vista, mas não tocada. Gradualmente, a vida que a raça tinha durante os sonhos desenvolveu e expandiu, assim, as atividades desse mundo espiritual em evolução, e de um tal modo, que a morte, finalmente, foi considerada como “entregar a alma”. Todas as tribos primitivas, excetuando-se aquelas só pouco acima dos animais, desenvolveram algum conceito de alma. À medida que a civilização avança, esse conceito supersticioso da alma é destruído, e o homem torna-se inteiramente dependente da revelação e da experiência religiosa pessoal, para a sua nova idéia da alma, como uma criação conjunta, feita pela mente mortal sabedora de Deus, monitorada pelo seu espírito interior divino residente, o Ajustador do Pensamento.
86:5.3 (954.2) Os mortais primitivos, em geral, não conseguiram diferenciar o conceito do espírito residente, separando-o do conceito da alma de natureza evolucionária. O selvagem se confundia muito quanto à alma fantasma nascer junto com o corpo ou quanto a ser um agente externo que tomava posse do corpo. A ausência de um pensamento racional, ao lado da perplexidade, explica as inconsistências grosseiras da visão selvagem sobre as almas, os fantasmas e os espíritos.
86:5.4 (954.3) Pensou-se na alma como sendo relacionada ao corpo, como o perfume está para a flor. Os antigos acreditavam que a alma podia deixar o corpo de vários modos, tais como:
86:5.5 (954.4) 1. No desmaio comum e passageiro.
86:5.6 (954.5) 2. Dormindo, no sonho natural.
86:5.7 (954.6) 3. No estado de coma e inconsciência, ligado à doença e acidentes.
86:5.8 (954.7) 4. Na morte, a sua partida permanente.
86:5.9 (954.8) O selvagem considerava o espirro como uma tentativa abortada da alma de escapar do corpo. Estando desperto e alerta, o corpo era capaz de frustrar a tentativa feita pela alma de escapar. Posteriormente, o espirro foi sempre acompanhado por alguma expressão religiosa, tal como “Deus o abençoe!”
86:5.10 (954.9) Nos primórdios da evolução, o adormecer foi considerado como uma prova de que a alma fantasma poderia estar ausente do corpo, e acreditou-se que podia ser chamada de volta, falando-se ou gritando-se o nome do adormecido. Em outras formas de inconsciência, julgava-se que a alma estivesse mais longe, talvez tentando escapar para sempre — a morte iminente. Os sonhos eram considerados como as experiências da alma, durante o sono, enquanto estava temporariamente ausente do corpo. O selvagem crê que os seus sonhos sejam tão reais quanto quaisquer partes da sua experiência na vigília. Os antigos tinham a prática de acordar os adormecidos gradativamente, de modo que a alma pudesse ter tempo de re-encaixar-se no corpo.
86:5.11 (954.10) Em todas as épocas, os homens amedrontavam-se com as aparições em horas noturnas; e os hebreus não foram nenhuma exceção. Acreditavam verdadeiramente que Deus falava a eles, em sonhos, apesar das determinações de Moisés contra tal idéia. E Moisés estava certo, pois os sonhos comuns não são o meio mais empregado pelas personalidades do mundo espiritual, quando buscam comunicar-se com os seres materiais.
86:5.12 (954.11) Os antigos acreditavam que as almas podiam entrar nos animais ou mesmo nos objetos inanimados. Essa identificação com os animais culminou na idéia de lobisomens. Um indivíduo podia ser um cidadão da lei durante o dia, mas, quando adormecia, a sua alma podia entrar em um lobo ou outro animal e perambular em depredações noturnas.
86:5.13 (955.1) Os homens primitivos achavam que a alma estivesse associada à respiração, e que por meio desta as suas qualidades podiam ser comunicadas ou transferidas. O valente chefe sopraria sobre a criança recém-nascida, com isso ministrando-lhe a coragem. Entre os primeiros cristãos, a cerimônia de conferir o Espírito Santo era acompanhada de sopros nos candidatos. Disse o salmista: “Pela palavra do Senhor, os céus foram feitos e todas as Suas hostes, por meio do sopro da Sua boca”. É antigo o costume de um filho primogênito tentar captar o último sopro do seu pai à morte.
86:5.14 (955.2) A sombra, mais tarde, veio a ser temida, e reverenciada, do mesmo modo que a respiração. O reflexo de si próprio na água, também, algumas vezes, foi visto como evidência do duplo eu; e os espelhos encarados com um respeito supersticioso. E, mesmo hoje, muitas pessoas civilizadas viram os espelhos contra a parede, em caso de morte. Algumas tribos retrógradas ainda acreditam que as fotos, desenhos, modelos, ou imagens, retiram toda ou parte da alma do corpo; por isso, tais coisas ficam proibidas.
86:5.15 (955.3) Achava-se geralmente que a alma fosse identificada com a respiração; mas, também, vários povos a localizaram na cabeça, cabelo, coração, fígado, sangue e gordura. O “grito que saiu do sangue de Abel, no chão”, exprime a crença, de outrora, na presença do fantasma no sangue. Os semitas ensinavam que a alma residia na gordura do corpo e, entre muitos deles, comer gordura animal era um tabu. Um modo de capturar a alma do inimigo seria caçar a sua cabeça, como o foi retirar o escalpe. Em tempos recentes, os olhos têm sido encarados como sendo janelas da alma.
86:5.16 (955.4) Aqueles que sustentavam a doutrina de três ou quatro almas acreditavam que a perda de uma alma significava desconforto, de duas, a doença, e de três, a morte. Uma alma vivia na respiração, outra, na cabeça, a terceira, nos cabelos, e a quarta, no coração. Os doentes recebiam o conselho de passear ao ar livre, na esperança de recapturar as suas almas desgarradas. Os maiores dos curandeiros deviam trocar a alma adoentada de uma pessoa enferma por uma nova, o que era um “novo nascimento”.
86:5.17 (955.5) Os filhos de Badonan desenvolveram a crença em duas almas: a respiração e a sombra. As primeiras raças noditas consideravam que o homem consistia de duas pessoas: alma e corpo. Essa filosofia da existência humana, mais tarde, refletiu-se no ponto de vista grego. E os próprios gregos mesmo acreditavam em três almas: a vegetativa, que residia no estômago; a animal, no coração; a intelectual, na cabeça. Os esquimós acreditam que o homem tem três partes: corpo, alma e nome.
86:6.1 (955.6) O homem herdou um meio ambiente natural, adquiriu um ambiente social e imaginou um ambiente fantasma. O estado é a reação do homem ao seu meio ambiente natural; o lar, a sua reação ao seu ambiente social; a igreja, a sua reação ao seu ambiente-fantasma ilusório.
86:6.2 (955.7) Muito cedo, na história da humanidade, as realidades do mundo imaginário, dos fantasmas e dos espíritos, tornaram-se universalmente acreditadas; e tal mundo espiritual recém-imaginado tornou-se um poder na sociedade primitiva. A vida mental e moral de toda a humanidade foi modificada para sempre pelo surgimento desse novo fator no pensamento e nos atos humanos.
86:6.3 (955.8) Dentro dessa premissa maior, na ilusão e na ignorância, o medo do mortal empacotou todas as superstições e religiões subseqüentes dos povos primitivos. E foi essa a única religião do homem até a época da revelação, e, hoje, muitas das raças do mundo têm apenas tal religião imatura, proveniente apenas da evolução.
86:6.4 (955.9) Com o avanço da evolução, a boa sorte ficou associada aos bons espíritos, e a má sorte, aos espíritos maus. O desconforto de uma adaptação forçada a um ambiente em mutação foi encarado como má sorte, o descontentamento dos fantasmas espíritos. O homem primitivo, aos poucos, fez a sua religião evoluir, saída do seu impulso inato de adoração e da sua concepção errônea do acaso. O homem civilizado criou esquemas de segurança para superar os acontecimentos ao acaso; a ciência moderna, em lugar de espíritos fictícios e deuses caprichosos, coloca os compêndios e as estatísticas apoiando-as em cálculos matemáticos.
86:6.5 (956.1) Cada geração que passa sorri das superstições tolas dos seus ancestrais, alimentando, ao mesmo tempo, as falácias de pensamento e adoração que irão ser o motivo dos risos futuros da posteridade mais esclarecida.
86:6.6 (956.2) Finalmente, porém, a mente do homem primitivo foi ocupada por pensamentos que transcenderam a todos os seus impulsos biológicos inerentes; afinal, o homem chegou a ponto de fazer evoluir uma arte de viver, baseada em algo mais do que uma resposta a estímulos materiais. Os primórdios de uma política primitiva de vida filosófica estavam surgindo. Um padrão sobrenatural de vida estava para aparecer, pois se, quando o fantasma espírito está em fúria, ele traz a má sorte, e quando no prazer, ele traz a boa sorte, então, a conduta humana deve ser regulada considerando isso. O conceito do certo e do errado havia, afinal, evoluído; e, tudo isso, muito antes da época de qualquer revelação na Terra.
86:6.7 (956.3) Com o surgimento desses conceitos, foi iniciada a longa e destrutiva luta para apaziguar os espíritos, sempre descontentes, e iniciou-se a prisão escravizadora ao medo religioso evolucionário, que se constituiu de todos os esforços humanos, longos e desperdiçados, gastos em túmulos, templos, sacrifícios e sacerdócios. Foi um preço terrível, e assustador, o que se pagou; mas valeu todo o seu custo, pois, nisso, o homem alcançou um estado natural de consciência do certo e do errado relativos; e, desse modo, a ética humana havia nascido!
86:7.1 (956.4) O selvagem sentia a necessidade de segurança e, conseqüentemente, pagava com boa disposição os seus pesados preços, na forma de medo, superstição, pavor e donativos aos sacerdotes; e isso era a sua política de magia como seguro contra a má sorte. A religião primitiva era simplesmente o pagamento do prêmio ao seguro contra os perigos das florestas. O homem civilizado paga prêmios materiais contra os acidentes da indústria e os riscos dos modos modernos de vida.
86:7.2 (956.5) A sociedade moderna está retirando o negócio dos seguros das mãos dos sacerdotes e da religião, colocando-o sob o controle da economia. A religião está-se ocupando, cada vez mais, com a segurança da vida além da sepultura. Os homens modernos, ao menos aqueles que pensam, não mais pagam dispendiosos prêmios para controlar a sorte. A religião, vagarosamente, está ascendendo a patamares filosóficos mais elevados, se a sua função for comparada à atuação anterior, de esquema de segurança contra a má sorte.
86:7.3 (956.6) Contudo tais idéias antigas, da religião, impediram os homens de tornarem-se fatalistas e desesperadamente pessimistas; ao menos, eles acreditaram que poderiam fazer algo para influenciar o destino. A religião, por meio do medo dos fantasmas, transmitiu aos homens a certeza de que eles deveriam regular sua conduta, de que havia um mundo supramaterial que mantinha controle sobre o destino humano.
86:7.4 (956.7) As raças civilizadas modernas estão, agora, deixando de lado esse medo de fantasmas, como explicação para a sorte e para as desigualdades tão comuns da existência. A humanidade está conseguindo emancipar-se da servidão, deixando de explicar a má sorte por meio de espíritos fantasmas. Entretanto, ao mesmo tempo em que os homens estão desistindo da doutrina errônea de uma causa espiritual para as vicissitudes da vida, eles demonstram uma disposição surpreendente para aceitar um ensinamento, quase tão falacioso, que os concita a atribuir toda a desigualdade humana ao desajuste político, à injustiça social e à competição industrial. No entanto, uma nova legislação, uma filantropia crescente e uma reorganização mais industrial, por melhores que forem, por si próprias, não irão remediar os fatos do nascimento e dos acidentes da vida. Apenas a compreensão dos fatos e uma manipulação mais sábia, dentro das leis da natureza, capacitarão o homem a conseguir o que ele almeja e evitar o que ele não quer. O conhecimento científico, que conduz à ação científica, é o único antídoto contra os chamados males acidentais.
86:7.5 (957.1) A indústria, a guerra, a escravidão e o governo civil surgiram, em resposta à evolução social do homem, no seu meio ambiente natural; a religião surgiu, do mesmo modo, como uma resposta sua ao ambiente ilusório do mundo imaginário dos fantasmas. A religião foi um desenvolvimento evolucionário de automanutenção, e tem funcionado não obstante haver sido originalmente errônea em conceito, e totalmente ilógica.
86:7.6 (957.2) Por intermédio da força poderosa e intimidante de um falso medo, a religião primitiva preparou o solo da mente humana para o recebimento de uma força espiritual autêntica, de origem sobrenatural: a dádiva do Ajustador do Pensamento. E os Ajustadores divinos, desde então, têm trabalhado para transmutar o temor de Deus em amor a Deus. A evolução pode ser lenta, mas é infalivelmente eficaz.
86:7.7 (957.3) [Apresentado por um Estrela Vespertino de Nébadon.]
O Livro de Urântia
Documento 87
87:0.1 (958.1) O CULTO dos fantasmas evoluiu como uma compensação pelos riscos da má sorte; a sua prática religiosa primitiva resultou da ansiedade em vista da má sorte e do medo desregrado dos mortos. Nenhuma dessas religiões primitivas era relacionada ao reconhecimento da Deidade, nem à reverência ao supra-humano; os seus ritos eram, em sua maioria, negativos e destinados a evitar, expulsar ou coagir os fantasmas. O culto dos fantasmas nada mais era do que uma segurança contra o desastre; não havia nenhuma relação com o investimento que é destinado a buscar retornos futuros mais elevados.
87:0.2 (958.2) O homem tem mantido uma luta longa e amarga contra o culto dos fantasmas. Nada, na história humana, inspira mais piedade do que esse quadro de escravidão abjeta do homem ao medo do espírito-fantasma. No entanto, foi com o nascimento desse medo que a humanidade iniciou a sua trajetória ascendente de evolução religiosa. A imaginação humana abandonou as margens do eu e não voltaria a lançar âncoras nele antes de chegar ao conceito de uma verdadeira Deidade, de um Deus real.
87:1.1 (958.3) A morte era temida, porque significava que um novo fantasma seria liberado do corpo físico. Os antigos davam o melhor de si para impedirem a morte e evitarem o problema de ter de lutar com um novo fantasma. E ficavam sempre ansiosos para induzi-lo a deixar a cena da morte e embarcar na sua viagem para a terra dos mortos. O fantasma era mais temido que tudo, durante o suposto período de transição entre o seu surgimento, na hora da morte, e a sua partida posterior para a terra dos fantasmas; que era um conceito vago e primitivo de um falso céu.
87:1.2 (958.4) Embora o selvagem atribuísse poderes sobrenaturais aos fantasmas, dificilmente concebia-os como dotados de uma inteligência sobrenatural. Muitos truques e estratagemas eram praticados em um esforço de iludi-los e enganá-los; o homem civilizado ainda coloca muita fé na esperança de que uma manifestação externa de piedade, de alguma maneira, engane até mesmo a uma Deidade onisciente.
87:1.3 (958.5) Os primitivos temiam a doença, porque eles observavam que, muitas vezes, era ela que anunciava a morte. Se o curandeiro da tribo falhava em curar um indivíduo afligido, o homem adoentado geralmente era removido da tenda da família e levado para uma menor, ou deixado em local aberto, para morrer a sós. Uma casa na qual a morte havia ocorrido, em geral, era destruída; se não o fosse, era sempre evitada; e esse medo impedia o homem primitivo de construir moradas duráveis. E também atuava contra o estabelecimento de vilas e cidades permanentes.
87:1.4 (958.6) Os selvagens velavam e conversavam a noite inteira quando um membro do clã morria; eles temiam que pudessem morrer também, caso dormissem perto de um cadáver. O contágio do cadáver justificava o medo do morto; e todos os povos, em uma época ou outra, praticaram minuciosas cerimônias de purificação, destinadas a limpar um indivíduo depois do contato com o morto. Os antigos acreditavam que se deveria manter um cadáver sob a luz; o corpo de um morto não devia nunca permanecer no escuro. No século vinte, velas ainda são queimadas nas câmaras mortuárias; e os homens ainda velam os seus mortos. O chamado homem civilizado ainda não eliminou completamente, da sua filosofia de vida, o medo dos corpos mortos.
87:1.5 (959.1) A despeito de todo esse medo, os homens ainda buscavam enganar os fantasmas. Se a tenda da morte não fosse destruída, o cadáver era removido por meio de um buraco na parede, nunca saindo pela porta. Tais medidas eram tomadas para confundir o fantasma, para impedir que ele ficasse naquele local e para assegurar-se de que não voltaria. Aqueles que iam a um funeral também retornavam dali por um caminho diferente, para que o fantasma não os seguisse. Muitas outras táticas, como dar as costas, eram praticadas para assegurar que o fantasma não voltasse da cova. Freqüentemente, trocava-se de roupas entre os sexos, para enganar o fantasma. Antes, o hábito do luto destinava-se a disfarçar os sobreviventes e, mais tarde, a demonstrar respeito pelos mortos e apaziguar os fantasmas, desse modo.
87:2.1 (959.2) Na religião, o programa de restrições negativas para o apaziguamento dos fantasmas precedeu em muito ao programa positivo de coação e súplicas aos espíritos. Os primeiros atos do culto humano foram fenômenos de defesa, não de reverência. O homem moderno considera sábio o seguro contra o fogo; o selvagem, do mesmo modo, considerava sábio assegurar-se contra a má sorte vinda dos fantasmas. Os esforços para assegurar essa proteção constituíram as técnicas e os rituais do culto aos fantasmas.
87:2.2 (959.3) Já se pensou que o maior desejo de um fantasma era ser rapidamente enterrado, de modo tal que pudesse ir sem empecilhos para a terra dos mortos. Qualquer erro de execução ou omissão, nos atos dos vivos, dentro do ritual de enterrar os fantasmas, certamente retardava o seu progresso para a terra dos fantasmas. Acreditava-se que isso era um desprazer para o fantasma, e supunha-se que um fantasma enfurecido fosse uma fonte de calamidade, infortúnio e infelicidade.
87:2.3 (959.4) O serviço fúnebre originou-se do esforço do homem para induzir a alma-fantasma a partir para a sua casa futura, e o sermão fúnebre foi originalmente destinado a instruir o novo fantasma sobre como chegar lá. Era costume prover o fantasma de roupas e comida para a sua viagem, colocando-se objetos dentro ou perto da cova. O selvagem acreditava serem necessários de três dias a um ano para “enterrar o fantasma” — para afastá-lo da vizinhança da sepultura. Os esquimós ainda crêem que a alma fica com o corpo por três dias.
87:2.4 (959.5) O silêncio ou o luto era observado depois de um falecimento, para evitar que o fantasma fosse atraído de volta para a sua casa. As autotorturas — as feridas — eram uma forma comum de luto. Muitos instrutores avançados tentaram acabar com isso, mas não conseguiram. Supunha-se que o jejum e outras formas de auto-sacrifício fossem do agrado dos fantasmas, que obtinham prazer com o desconforto dos vivos, durante o período de transição em que eles ainda pairavam nas imediações, antes da sua partida real para a terra dos mortos.
87:2.5 (959.6) Os períodos longos e freqüentes de inatividade pelo luto foram um dos grandes obstáculos ao avanço da civilização. Semanas, e mesmo meses, de cada ano eram literalmente desperdiçados nesse luto improdutivo e inútil. O fato de que eram contratadas carpideiras profissionais para as ocasiões dos funerais indica que o luto era um rito, não uma evidência da tristeza. O homem moderno pode prantear o morto por respeito e luto, mas os antigos faziam-no por medo.
87:2.6 (959.7) Os nomes dos mortos nunca eram pronunciados. De fato, muitas vezes, eram banidos da fala. Esses nomes tornavam-se um tabu e, desse modo, as línguas ficavam constantemente empobrecidas. E isso, finalmente, produzia uma multiplicação de expressões orais simbólicas e figurativas, tais como “o nome ou o dia que nunca se menciona”.
87:2.7 (960.1) Os antigos eram tão ansiosos para livrar-se de um fantasma, que lhe ofereciam tudo o que este poderia haver desejado durante a vida. Os fantasmas queriam esposas e servos, um selvagem de posses esperava que ao menos uma escrava-esposa fosse enterrada viva com ele, por ocasião da sua morte. Mais tarde tornou-se costume uma viúva cometer suicídio na sepultura do seu marido. Quando uma criança morria a sua mãe, a tia ou a avó, era, muitas vezes, estrangulada, para que um fantasma adulto pudesse acompanhar o fantasma infantil e cuidar dele. E aqueles que assim cediam as suas vidas usualmente faziam-no voluntariamente; de fato, se vivessem, violando o costume, o seu medo da ira do fantasma despojaria a sua vida dos poucos prazeres desfrutados pelo homem primitivo.
87:2.8 (960.2) Era costumeiro despachar um grande número de súditos para acompanhar o chefe morto; escravos eram mortos quando os seus donos morriam, para que pudessem servi-los na terra dos fantasmas. Os indígenas de Bornéu ainda dão ao morto um mensageiro por companhia; um escravo é morto com uma lança para fazer a viagem dos fantasmas com o seu dono. Acreditava-se que o fantasma de uma pessoa assassinada deliciava-se de ter o fantasma do seu assassino como escravo; essa noção motivava os homens a caçar cabeças.
87:2.9 (960.3) Supunha-se que os fantasmas gostavam do odor de comida; as oferendas de alimentos em festas fúnebres já foram universais. O método primitivo de dar graças era, antes de comer, jogar um pouco de comida no fogo, com o propósito de apaziguar os espíritos, murmurando uma fórmula mágica.
87:2.10 (960.4) Supunha-se que os mortos fossem usar os fantasmas das ferramentas e das armas que haviam usado em vida. E quebrar um desses objetos era como “matá-lo”, liberando, assim, o seu fantasma, para que passasse a servir na terra dos fantasmas. O sacrifício das propriedades também era feito queimando-as, ou enterrando-as. O desperdício nos funerais antigos era enorme e, nesses sacrifícios para os mortos, raças mais recentes faziam modelos em papel e desenhos substitutos para objetos e pessoas reais. Foi um grande avanço para a civilização, quando a herança dos parentes substituiu a queima e o enterro das propriedades. Os índios iroqueses fizeram muitas reformas quanto ao desperdício nos funerais. E essa conservação da propriedade capacitou-os a tornar-se os mais poderosos dos homens vermelhos do norte. Supõe-se que o homem moderno não tema os fantasmas, mas o hábito havendo sido forte, muitos dos bens terrenos ainda são consumidos nos rituais fúnebres e cerimônias para os mortos.
87:3.1 (960.5) O progresso do culto aos fantasmas tornou inevitável a adoração dos ancestrais, já que se tornou o elo de ligação entre os fantasmas comuns e os espíritos mais elevados, os quais eram os deuses em evolução. Os deuses primitivos sendo simplesmente humanos, quando mortos eram glorificados.
87:3.2 (960.6) A adoração aos ancestrais originalmente acontecia mais como um medo do que como um culto e, tais crenças contribuíram definitivamente para uma disseminação ulterior do medo e adoração dos fantasmas. Os devotos dos cultos primitivos dos ancestrais-fantasmas temiam até mesmo dar um bocejo, sob pena de que um fantasma maligno entrasse nos seus corpos nesse momento.
87:3.3 (960.7) O costume de adotar crianças existia para assegurar-se de que alguém fizesse oferendas depois da morte, para a paz e o progresso da alma. Os selvagens conviviam com o medo dos fantasmas dos seus semelhantes e passavam o seu tempo livre planejando o salvo-conduto do seu próprio fantasma, depois da morte.
87:3.4 (960.8) A maioria das tribos instituía uma festa para todas as almas, ao menos uma vez por ano. Os romanos tinham doze festas de fantasmas por ano, e as cerimônias correspondentes. A metade dos dias do ano era dedicada a alguma espécie de cerimônia associada a esses antigos cultos. Um imperador romano tentou reformar essas práticas, reduzindo o número de dias de festas a 135 por ano.
87:3.5 (961.1) O culto dos fantasmas estava em contínua evolução. À medida que se visualizava que os fantasmas passavam de uma fase incompleta para uma fase mais elevada de existência, o culto finalmente progrediu até a adoração de espíritos, e mesmo de deuses. No entanto, independentemente das várias crenças em espíritos mais avançados, todas as tribos e raças no passado acreditaram em fantasmas.
87:4.1 (961.2) O medo de fantasmas foi a nascente de todas as religiões do mundo; e, durante eras, muitas tribos sempre se agarraram à velha crença em alguma espécie de fantasmas. Ensinavam que o homem tinha boa sorte, quando o fantasma estava satisfeito e, má sorte, quando ele estava irado.
87:4.2 (961.3) À medida que o culto do temor do fantasma se expandia, veio o reconhecimento de tipos mais elevados de espíritos, ou seja, de espíritos não identificáveis nitidamente com qualquer indivíduo humano. Eles eram os fantasmas graduados ou glorificados, que haviam progredido além do domínio da terra dos fantasmas para os Reinos mais elevados de terras espirituais.
87:4.3 (961.4) A noção da existência de duas espécies de espíritos-fantasmas fez um progresso lento, mas certo, em todo o mundo. Esse novo espiritismo dual não foi disseminado de uma tribo para outra; brotou independentemente em todas as partes do mundo. Ao influenciar a mente evolucionária em expansão, o poder de uma idéia não repousa na sua realidade ou razoabilidade, mas antes na intensidade e na universalidade da sua aplicação pronta e simples.
87:4.4 (961.5) Um pouco mais tarde, a imaginação do homem visualizou o conceito dos agentes sobrenaturais bons e maus; alguns fantasmas nunca evoluíram até o nível dos espíritos bons. O mono-espiritismo inicial do medo dos fantasmas foi gradualmente evoluindo para um espiritismo dual, um conceito novo do controle invisível dos assuntos terrenos. Finalmente, a boa sorte e a má sorte foram retratadas como tendo os seus respectivos controladores. E, entre as duas classes, acreditava-se que o grupo que trazia a má sorte era o mais ativo e numeroso.
87:4.5 (961.6) Quando finalmente amadureceu, a doutrina dos bons e maus espíritos tornou-se a mais amplamente disseminada e persistente de todas as crenças religiosas. Esse dualismo representou um grande avanço religioso-filosófico, porque capacitou o homem a explicar a boa e a má sorte e, ao mesmo tempo, a acreditar em seres supramortais que, até certo ponto, tinham um comportamento consistente. Podia-se contar com os espíritos como sendo bons e maus; e não se pensava que eram seres completamente temperamentais, como os fantasmas iniciais do mono-espiritismo, da concepção das religiões mais primitivas. O homem, enfim, foi capaz de conceber forças supramortais de comportamento coerente; e isso foi, na verdade, uma das descobertas mais importantes em toda a história da evolução da religião e expansão da filosofia humana.
87:4.6 (961.7) A religião evolucionária, entretanto, pagou um preço terrível pelo conceito do espiritismo dualista. A filosofia primitiva do homem era capaz de reconciliar a constância espiritual com as vicissitudes da sorte temporal, apenas postulando duas espécies de espíritos, uma, a boa, e outra, a má. E, se bem que essa crença haja capacitado o homem a reconciliar as variáveis do acaso com um conceito de forças imutáveis supramortais, essa doutrina, desde então, tornou difícil, para os religiosos, conceber a unidade cósmica. Os deuses da religião evolucionária têm encontrado oposição, em geral, nas forças das trevas.
87:4.7 (962.1) A tragédia de tudo isso repousa no fato de que, quando essas idéias estavam criando raízes na mente primitiva do homem, não havia realmente espíritos maus ou desarmoniosos em todo o mundo. E tal situação desafortunada somente se desenvolveu após a rebelião de Caligástia e perdurou apenas até Pentecostes. Mesmo no século vinte, o conceito de bem e mal, como coordenadas cósmicas, permanece muito vivo na filosofia humana; a maioria das religiões do mundo ainda traz essa marca cultural de nascença, de dias longínquos, de quando emergiram os cultos dos fantasmas.
87:5.1 (962.2) O homem primitivo imaginava os espíritos e os fantasmas com direitos quase ilimitados, mas sem nenhum dever; julgava-se que, para os espíritos, era o homem quem possuía muitos deveres, mas nenhum direito. Acreditava-se que os espíritos tinham um certo desprezo pelos homens, porque estes estavam constantemente fracassando no desempenho dos seus deveres espirituais. Era crença geral da humanidade que os fantasmas cobravam um tributo contínuo de serviço como preço pela não-interferência nos assuntos humanos; e o menor percalço era atribuído às atividades dos fantasmas. Os humanos primitivos eram tão temerosos de que pudessem esquecer-se de alguma honra devida aos deuses, que, depois de haver feito sacrifícios a todos os espíritos conhecidos, eles repetiam o culto, dirigindo-o aos “deuses desconhecidos”, só para ficarem mais seguros.
87:5.2 (962.3) E então o simples culto dos fantasmas foi logo seguido das práticas do culto mais avançado e relativamente complexo dos espíritos-fantasmas, consistindo em servir e adorar os espíritos mais elevados, tal como evoluíram na imaginação primitiva do homem. Os cerimoniais religiosos deviam manter-se no ritmo da evolução e progresso espiritual. A ampliação do culto não era senão a arte da autopreservação, praticada em relação à crença em seres sobrenaturais, uma auto-adaptação ao ambiente espiritual. As organizações industriais e militares foram adaptações ao ambiente natural e social. Assim como o casamento surgiu para fazer frente às demandas da bissexualidade, do mesmo modo a organização religiosa evoluiu em resposta à crença em forças e seres espirituais mais elevados. A religião representa o ajustamento do homem às suas ilusões sobre o mistério do acaso. O medo dos espíritos e sua adoração subseqüente foram adotados como um seguro contra a má sorte, como uma apólice de prosperidade.
87:5.3 (962.4) O selvagem visualiza os espíritos bons cuidando dos seus próprios assuntos, solicitando pouco dos seres humanos. São os fantasmas e os espíritos maus que devem ser apaziguados. Desse modo, os povos primitivos davam mais atenção aos seus fantasmas malévolos do que aos seus espíritos benignos.
87:5.4 (962.5) Supunha-se que a prosperidade humana provocasse especialmente a inveja dos espíritos maus, e que os seus métodos de retaliação fossem dar uma réplica, por intermédio de um agente humano, pela técnica do mau olhado. Aquela fase do culto que procurava evitar os maus espíritos preocupava-se muito com as maquinações do mau olhado. E o medo do mau olhado tornou-se quase mundial. As mulheres belas usavam véus, para serem protegidas do mau olhado; em conseqüência, muitas mulheres que desejavam ser consideradas belas adotaram essa prática. Em vista desse medo dos espíritos maus, raramente permitia-se às crianças saírem depois que escurecesse, e as preces matinais sempre incluíam o pedido: “livrai-nos do mau olhado”.
87:5.5 (962.6) O Corão contém um capítulo inteiro devotado ao mau olhado e aos feitiços mágicos, e os judeus acreditavam plenamente neles. Todo o culto fálico cresceu como uma defesa contra o mau olhado. Os órgãos da reprodução eram considerados como sendo o único fetiche que poderia torná-lo sem efeito. O mau olhado deu origem às primeiras superstições sobre marcas pré-natais nas crianças, impressões maternais, e em certo momento esse culto chegou a ser quase universal.
87:5.6 (963.1) A inveja é uma característica humana bem arraigada, e é por isso que o homem primitivo atribuía-a aos seus deuses primitivos. Pelo fato de o homem haver enganado os fantasmas, logo começou a enganar os espíritos. Ele dizia: “se os espíritos são ciumentos da nossa beleza e prosperidade, nós nos desfiguraremos e falaremos pouco do nosso sucesso”. A humildade primitiva não era, portanto, mera depreciação do ego, mas antes uma tentativa de despistar e de enganar os espíritos invejosos.
87:5.7 (963.2) O método adotado para impedir os espíritos de tornarem-se ciumentos da prosperidade humana era lançar vitupérios sobre alguma pessoa ou coisa muito amadas ou de muita sorte. Daí a origem do hábito de se fazer observações depreciativas sobre si próprio ou sobre a própria família, evoluindo, finalmente, para a modéstia, a reserva e a cortesia na civilização. Pelo mesmo motivo, tornou-se moda parecer feio. A beleza despertava a inveja dos espíritos, e denotava um orgulho humano pecaminoso. Os selvagens adotavam nomes desagradáveis. Esse aspecto do culto foi um grande impedimento para o avanço da arte, e manteve, durante um longo período, o mundo na sombra e na fealdade.
87:5.8 (963.3) Sob o culto dos espíritos, a vida era no máximo um jogo, o resultado do controle dos espíritos. O futuro de alguém não era resultado de esforço, engenhosidade, nem do talento, exceto quando estes podiam ser utilizados para influenciar os espíritos. As cerimônias de propiciação aos espíritos constituíam uma pesada carga, tornando a vida tediosa, praticamente insuportável. Através dos tempos, e de geração em geração, as raças, umas após as outras, procuraram melhorar essa doutrina do superfantasma, mas nenhuma geração jamais ousou rejeitá-la integralmente.
87:5.9 (963.4) A intenção e a vontade dos espíritos foram estudadas por intermédio dos presságios, oráculos e símbolos. E essas mensagens dos espíritos foram interpretadas pela adivinhação, profecias, magias, sacrificios e astrologia. Todo o culto era um esquema destinado a aplacar, satisfazer e comprar os espíritos, por intermédio de subornos disfarçados.
87:5.10 (963.5) E assim cresceu e expandiu-se uma nova filosofia mundial, que consistia nos aspectos que se seguem:
87:5.11 (963.6) 1. O dever — aquelas coisas que devem ser feitas para manter os espíritos em uma disposição favorável, ou, ao menos, neutra.
87:5.12 (963.7) 2. O certo — as condutas e as cerimônias corretas destinadas a ganhar dos espíritos uma posição ativa no interesse próprio.
87:5.13 (963.8) 3. A verdade — o entendimento justo dos espíritos e uma atitude correta para com eles, e, portanto, para com a vida e a morte.
87:5.14 (963.9) Não era meramente por curiosidade que os antigos buscavam saber o futuro; queriam esquivar-se da má sorte. A adivinhação era simplesmente uma tentativa de evitar os problemas. Durante essa época, os sonhos eram encarados como proféticos, e tudo fora do ordinário era considerado como presságio. E, ainda hoje, a crença em símbolos, amuletos e outros remanescentes supersticiosos do culto dos fantasmas de antigamente é um flagelo para as raças civilizadas. O homem é lento demais para abandonar aqueles métodos pelos quais ele ascendeu tão gradativa e penosamente na escala evolucionária da vida.
87:6.1 (963.10) Quando os homens acreditavam apenas em fantasmas, o ritual religioso era mais pessoal, menos organizado, mas, para o reconhecimento dos espíritos mais elevados e para lidar com eles, era necessário o uso de “métodos espirituais mais elevados”. Essa tentativa de melhorar e elaborar a técnica da propiciação espiritual levou diretamente à criação de defesas contra os espíritos. Na verdade, o homem sentiu-se desamparado diante das forças incontroláveis que atuam na vida terrena, e o seu sentimento de inferioridade levou-o a tentar encontrar alguma adaptação compensadora, alguma técnica para equilibrar as probabilidades na luta unilateral do homem contra o cosmo.
87:6.2 (964.1) Nos dias iniciais do culto, os esforços do homem para influenciar a ação do fantasma limitavam-se à propiciação, às tentativas por meio do suborno, para eliminar a má sorte. À medida que o culto dos fantasmas evoluiu, alcançando o conceito de bons espíritos, bem como de maus espíritos, essas cerimônias transformaram-se em tentativas de uma natureza mais positiva, em esforços para ganhar a boa sorte. A religião do homem não era mais totalmente negativista, nem o homem deixou de lado os esforços para conquistar a boa sorte; um pouco mais tarde, começou a inventar esquemas por meio dos quais pudesse compelir o espírito a cooperar com ele. O religioso não permanece mais indefeso perante as demandas incessantes dos espíritos fantasmagóricos da sua própria criação; o selvagem está começando a inventar armas para obrigar os espíritos à ação e forçar sua ajuda.
87:6.3 (964.2) Os primeiros esforços de defesa do homem foram dirigidos contra os fantasmas. À medida que as idades passaram, os vivos começaram a inventar métodos de resistir aos mortos. Muitas técnicas foram desenvolvidas para amedrontar os fantasmas e afastá-los; e, entre essas, podem ser citadas as que se seguem:
87:6.4 (964.3) 1. Cortar a cabeça e atar o corpo à sepultura.
87:6.5 (964.4) 2. Atirar pedras à casa do morto.
87:6.6 (964.5) 3. Castrar ou quebrar as pernas do cadáver.
87:6.7 (964.6) 4. Enterrar o cadáver sob as pedras; essa é uma das origens das modernas lápides sepulcrais.
87:6.8 (964.7) 5. Cremar; coisa que foi uma invenção mais recente, para impedir as maquinações dos fantasmas.
87:6.9 (964.8) 6. Lançar o corpo ao mar.
87:6.10 (964.9) 7. Expor o corpo para ser comido por animais selvagens.
87:6.11 (964.10) Supunha-se que os fantasmas ficassem perturbados e amedrontados com o barulho; gritos, sinos e tambores afastavam-nos dos vivos, e tais métodos antigos ainda estão em voga, hoje, nos “velórios” dos mortos. Misturas de odores fétidos eram utilizadas para banir os espíritos indesejáveis. Imagens horríveis dos espíritos eram construídas para que fugissem depressa, quando contemplassem a si próprios. Acreditava-se que os cães podiam detectar a aproximação de fantasmas, coisa que avisavam com uivos; e que os galos cantavam quando estivessem por perto. O uso do galo nos cata-ventos veio perpetuar essa superstição.
87:6.12 (964.11) A água era considerada como a melhor proteção contra os fantasmas. A água benta era superior a todas as outras formas; também a água na qual os sacerdotes haviam lavado os seus pés. Acreditava-se que tanto a água quanto o fogo constituíssem barreiras intransponíveis para os fantasmas. Os romanos andavam em torno de um cadáver, por três vezes, com água; no século vinte, o corpo é aspergido com água benta; e lavar as mãos no cemitério ainda é um ritual judeu. O batismo foi um aspecto mais recente do rito da água; o banho primitivo era uma cerimônia religiosa. Apenas recentemente, o banho tornou-se uma prática de higiene.
87:6.13 (964.12) Contudo, o homem não se limitou à coagir os fantasmas; por meio do ritual religioso e de outras práticas, ele logo tentou compelir o espírito à ação. O exorcismo era o emprego de um espírito para controlar ou banir outro, e essas táticas eram também utilizadas para amedrontar os fantasmas e espíritos. O conceito do espiritismo-dual, de forças boas e más, ofereceu ao homem uma ampla oportunidade de opor um agente ao outro, pois, se um homem poderoso pode vencer outro mais fraco, então, certamente, um espírito forte poderia dominar um fantasma inferior. A maldição primitiva era uma prática coercitiva destinada a intimidar os espíritos menores. Posteriormente, esse costume expandiu-se, levando à prática de lançar maldições aos inimigos.
87:6.14 (965.1) Durante muito tempo, acreditou-se que retomando-se os usos dos costumes mais antigos, os espíritos e os semideuses seriam forçados a agir segundo os desejos dos homens. O homem moderno é culpado do mesmo procedimento. Vós falais uns com os outros em uma linguagem cotidiana comum, mas, quando orais, vós recorreis a um estilo mais antigo e de uma outra geração, o estilo chamado de solene.
87:6.15 (965.2) Essa doutrina também explica muito das regressões de rito religioso de fundo sexual, tais como a prostituição no templo. E as regressões a costumes primitivos eram consideradas como uma proteção segura contra muitas calamidades. Entre os povos de mentes simples, todas essas manifestações estavam inteiramente isentas do que o homem moderno chamaria de promiscuidade.
87:6.16 (965.3) Em seguida, veio a prática de votos rituais, logo seguida das promessas religiosas e juramentos sagrados. A maioria desses juramentos era acompanhada de autotortura e automutilação; e, mais tarde, do jejum e oração. O auto-sacrifício, subseqüentemente, foi encarado como sendo uma coerção certa; e isso foi especialmente verdadeiro na questão da abstenção sexual. E, assim, o homem primitivo desenvolveu muito cedo uma austeridade clara e decidida nas suas práticas religiosas, uma crença na eficácia da autotortura e do auto-sacrifício, como rituais capazes de coagir os espíritos refratários a reagir favoravelmente ante tais sofrimentos e privações.
87:6.17 (965.4) O homem moderno não mais tenta coagir abertamente os espíritos, embora ainda evidencie uma disposição para barganhar com a Deidade. E ainda jura, bate na madeira, cruza os dedos e pronuncia uma frase sem sentido depois de um espirro; pois tudo isso já foi uma fórmula mágica.
87:7.1 (965.5) O tipo de organização social baseado nos cultos sobreviveu, porque ele provia um simbolismo de preservação e um estímulo aos sentimentos morais e às lealdades religiosas. O culto cresceu com as tradições das “famílias antigas” e foi perpetuado como uma instituição estabelecida; todas as famílias têm um culto de alguma espécie. Todo ideal inspirador busca atingir algum simbolismo perpetrador — procura alguma técnica de manifestação cultural que irá assegurar a sobrevivência e aumentar a realização — , e o culto alcança esse fim gratificando e estimulando a emoção.
87:7.2 (965.6) Desde o alvorecer da civilização, todo movimento atraente na cultura social ou no progresso religioso desenvolveu um ritual, um cerimonial simbólico. Quanto mais inconsciente haja sido o crescimento desse ritual, tanto mais fortemente teria atraído os seus devotos. O culto preservou o sentimento e satisfez às emoções, mas ele tem sido o maior obstáculo para a reconstrução social e para o progresso espiritual.
87:7.3 (965.7) Não obstante o culto haver sempre retardado o progresso social, é lamentável que tantos crentes modernos nos padrões morais e ideais espirituais não tenham nenhum simbolismo adequado — nenhum culto de suporte mútuo — nada a que possam pertencer. Contudo, um culto religioso não pode ser fabricado; ele tem de crescer. Os cultos de dois grupos quaisquer não podem ser idênticos, a menos que os seus rituais sejam arbitrariamente padronizados pela autoridade.
87:7.4 (965.8) O culto cristão inicial foi o mais eficaz, atraente e duradouro entre todos os rituais jamais concebidos ou legados, mas muito do seu valor foi destruído em uma idade científica, pela aniquilação de muitos dos seus princípios originais subjacentes. O culto cristão tem sido desvitalizado pela perda de muitas das suas idéias fundamentais.
87:7.5 (965.9) No passado, a verdade cresceu rapidamente e expandiu-se livremente, quando o culto não era elástico e o simbolismo era expansível. A verdade abundante e um culto ajustável favoreceram a rapidez da progressão social. Um culto sem sentido vicia a religião, quando tenta suplantar a filosofia e escravizar a razão; um culto genuíno cresce.
87:7.6 (966.1) A despeito dos inconvenientes e desvantagens, cada nova revelação da verdade tem dado surgimento a um novo culto e, mesmo o pronunciamento novo da religião de Jesus, deve desenvolver um simbolismo novo e apropriado. O homem moderno deve encontrar algum simbolismo adequado para as suas idéias, ideais e lealdades, novos e expandidos. Esse símbolo mais elevado deve surgir da vida religiosa, da experiência espiritual. E esse simbolismo mais enaltecido, para uma civilização mais elevada, deve ser pregado sobre o conceito da Paternidade de Deus e deve estar impregnado do poderoso ideal da irmandade dos homens.
87:7.7 (966.2) Os velhos cultos foram demasiado egocêntricos; o novo culto deve ser fruto da aplicação do amor. O novo culto deve, como os antigos, dar força ao sentimento, satisfazer à emoção e promover a lealdade, mas deve fazer mais: deve facilitar o progresso espiritual, enaltecer os significados cósmicos, elevar os valores morais, encorajar o desenvolvimento social e estimular um tipo elevado de vida pessoal religiosa. O novo culto deve estabelecer metas supremas de vida que sejam tanto temporais quanto eternas — social e espiritualmente.
87:7.8 (966.3) Nenhum culto pode perdurar e contribuir para o progresso da civilização social e para a realização espiritual individual, a menos que seja baseado na significação biológica, sociológica e religiosa do lar. Um culto que queira sobreviver deve simbolizar aquilo que é permanente, em presença da mudança incessante; deve glorificar aquilo que unifica o fluir da sempre mutante metamorfose social. Deve reconhecer os verdadeiros significados, exaltar as belas relações e glorificar os bons valores de nobreza autêntica.
87:7.9 (966.4) Todavia, a grande dificuldade de encontrar um simbolismo novo e satisfatório está em que os homens modernos, enquanto grupo, aderem à atitude científica, evitam a superstição e abominam a ignorância, ao passo que, enquanto indivíduos, anseiam pelo mistério e veneram o desconhecido. Nenhum culto pode sobreviver, a menos que incorpore algum mistério magistral e oculte algo inatingível, mas digno de ser almejado. Ou seja, o novo simbolismo não deve ser significativo somente para o grupo, mas deve também ter significado para o indivíduo. As formas de qualquer simbolismo útil devem ser aquelas que o indivíduo possa levar adiante, por iniciativa própria, e das quais ele possa também desfrutar com os seus semelhantes. Se o novo culto pudesse apenas ser dinâmico, em vez de estático, ele poderia realmente contribuir com algo de valioso para o progresso da humanidade, tanto temporal quanto espiritualmente.
87:7.10 (966.5) Um culto, no entanto — um simbolismo de ritos, lemas ou metas — não funcionará, se for muito complexo. É necessário que ele comporte a exigência da devoção, de resposta à lealdade. Cada religião eficaz desenvolve, infalivelmente, um simbolismo condigno; e os seus devotos deveriam impedir a cristalização de ritos em cerimônias estereotipadas, entorpecedoras, paralisadoras e sufocantes, que apenas impedem e retardam todo progresso social, moral e espiritual. Nenhum culto pode sobreviver se ele retardar o crescimento moral e se deixar de fomentar o progresso espiritual. O culto é o esqueleto estrutural em torno do qual cresce o corpo vivo e dinâmico da experiência espiritual pessoal — a verdadeira religião.
87:7.11 (966.6) [Apresentado por um Brilhante Estrela Vespertino de Nébadon.]
O Livro de Urântia
Documento 88
88:0.1 (967.1) O CONCEITO de um espírito entrando em um objeto inanimado, um animal ou um ser humano, é uma crença muito antiga e que mereceu muitas honras, tendo prevalecido desde os primórdios da evolução da religião. A doutrina da possessão por um espírito é nada mais nada menos do que fetichismo. O selvagem não adora necessariamente o fetiche; adora e reverencia muito logicamente o espírito que reside nesse fetiche.
88:0.2 (967.2) A princípio, acreditava-se que o espírito de um fetiche era o fantasma de um homem morto; posteriormente, supunha-se que espíritos mais elevados residiam nos fetiches. E, assim, o culto do fetiche finalmente incorporou todas as idéias primitivas dos fantasmas, almas, espíritos e possessão demoníaca.
88:1.1 (967.3) O homem primitivo sempre quis transformar todas as coisas extraordinárias em fetiches; e, por isso, o acaso deu origem a muitos deles. Um homem está doente, algo acontece, e ele fica bom. A mesma coisa é verdadeira sobre a reputação de muitos medicamentos e métodos ocasionais de tratar a doença. Os objetos ligados aos sonhos podiam ser convertidos em fetiches. Vulcões, mas não as montanhas, transformaram-se em fetiches; cometas, mas não estrelas. O homem primitivo considerava as estrelas cadentes e meteoros como indicativos da chegada na Terra de espíritos visitantes especiais.
88:1.2 (967.4) Os primeiros fetiches foram pedregulhos com marcas peculiares, e as “pedras sagradas” têm sido, desde então, buscadas pelo homem; um colar de contas chegou a ser uma coleção de pedras sagradas, uma bateria de amuletos. Muitas tribos tinham pedras fetiches, mas poucas sobreviveram, como a Kaaba e a Pedra de Scone. O fogo e a água estavam também entre os fetiches primitivos, e a adoração do fogo, junto com a crença na água benta, ainda sobrevive.
88:1.3 (967.5) As árvores fetiches tiveram um desenvolvimento posterior, e, em meio a algumas tribos, a persistência da adoração da natureza levou à crença em amuletos habitados por alguma espécie de espírito da natureza. Quando as plantas e frutas tornaram-se fetiches, elas transformaram-se em um tabu, como alimento. A maçã esteve entre as primeiras a entrar para essa categoria; nunca foi comida pelos povos do Levante.
88:1.4 (967.6) Se um animal comia carne humana, ele tornava-se um fetiche. Dessa maneira, o cão tornou-se um animal sagrado para os persas. Se o fetiche é um animal e o fantasma reside permanentemente nele, então o fetichismo pode ter conseqüências para a reencarnação. De muitos modos os selvagens invejavam os animais; mas não se sentiam superiores aos animais e freqüentemente levavam os nomes das suas bestas favoritas.
88:1.5 (967.7) Quando os animais tornavam-se fetiches, seguia-se o tabu de comer a carne do animal fetiche. Os monos e os símios, por causa da sua semelhança com o homem, tornaram-se animais fetiches muito cedo; posteriormente, cobras, pássaros e suínos foram considerados do mesmo modo. A vaca, em uma certa época, foi um fetiche, o leite sendo tabu, enquanto os seus excrementos eram tidos em alta conta. A serpente foi reverenciada na Palestina, especialmente pelos fenícios, que, junto com os judeus, consideravam-na como sendo porta-voz dos espíritos do mal. Até muitos dos povos modernos acreditam nos poderes de encanto dos répteis. A serpente foi venerada desde a Arábia, passando pela Índia, até a dança da tribo Moqui dos homens vermelhos.
88:1.6 (968.1) Alguns dias da semana foram fetiches. Durante idades, a sexta-feira tem sido encarada como um dia de má sorte e o número treze como um mau número. Os números de sorte, o três e o sete, vieram de revelações posteriores; o quatro era o número de sorte do homem primitivo e derivava do reconhecimento primitivo dos quatro pontos da bússola. Era considerado de má sorte contar o gado ou outras posses; os antigos sempre se opuseram a fazer os censos, a “numerar o povo”.
88:1.7 (968.2) O homem primitivo não fez do sexo um fetiche exagerado; a função reprodutora recebia apenas uma quantidade limitada de atenção. O selvagem tinha a mente natural, nem obscena, nem lasciva.
88:1.8 (968.3) A saliva era um fetiche poderoso; os demônios poderiam ser retirados se se cuspisse em uma pessoa. Que um ancião ou um superior cuspisse em alguém era o mais alto cumprimento. Algumas partes do corpo humano eram vistas como fetiches potenciais, particularmente o cabelo e as unhas. As unhas longas dos dedos das mãos dos chefes tinham um grande valor, e as aparas delas eram um fetiche poderoso. A crença nos crânios como fetiches é responsável, posteriormente, por grande parte dos caçadores-de-cabeças. O cordão umbilical era um fetiche altamente valorizado; mesmo hoje, ele é visto assim na África. O primeiro brinquedo da humanidade foi um cordão umbilical que se conservou. Ornado de pérolas, como era sempre feito, foi o primeiro colar do homem.
88:1.9 (968.4) Corcundas e crianças aleijadas eram consideradas como fetiches; acreditava-se que os lunáticos eram tocados pela lua. O homem primitivo não podia distinguir entre o gênio e a insanidade; os idiotas ou eram espancados até a morte ou reverenciados como personalidades fetiches. A histeria confirmava cada vez mais a crença popular na bruxaria; os epiléticos freqüentemente foram sacerdotes e curandeiros. A embriaguez era considerada como uma forma de possessão espiritual; quando um selvagem fazia uma farra, colocava uma folha no seu cabelo com o propósito de retirar de si a responsabilidade pelos seus atos. Os venenos e os tóxicos tornaram-se fetiches; considerava-se que eles fosem causa de possessão.
88:1.10 (968.5) Muitos povos encaravam os gênios como personalidades fetiches, possuídas por um espírito sábio. E esses talentosos humanos logo aprenderam a recorrer à fraude e trapaças para servir aos seus interesses egoístas. Um homem fetiche era considerado como sendo mais do que humano; era divino, e mesmo infalível. E assim é que os chefes, reis, sacerdotes, profetas e dirigentes de igrejas finalmente acabaram por desfrutar de um grande poder, exercendo uma autoridade sem limites.
88:2.1 (968.6) Supunha-se haver uma preferência dos fantasmas por residir em alguns objetos que lhes haviam pertencido quando estavam vivos na carne. Essa crença explica a eficácia de muitas relíquias modernas. Os antigos sempre reverenciavam os ossos dos seus líderes, e os restos do esqueleto de santos e heróis ainda são considerados com um respeito supersticioso por muitas pessoas. Ainda hoje, as peregrinações são feitas aos túmulos de grandes homens.
88:2.2 (968.7) A crença em relíquias é uma conseqüência do antigo culto dos fetiches. As relíquias, nas religiões modernas, representam uma tentativa de racionalizar o fetiche do selvagem e assim elevá-lo a um lugar de dignidade e respeitabilidade nos sistemas religiosos modernos. É um ato de paganismo acreditar em fetiches e magia, mas, supostamente, nada de errado há em aceitar relíquias e milagres.
88:2.3 (969.1) O fogo — a lareira do lar — tornou-se mais ou menos um fetiche, um lugar sagrado. Os santuários e os templos a princípio eram lugares fetiches, porque os mortos eram enterrados ali. A cabana-fetiche dos hebreus foi elevada por Moisés ao nível de abrigar um superfetiche, o conceito então existente da lei de Deus. Os israelitas, porém, nunca abandonaram a crença peculiar dos cananeus no altar de pedra: “E esta pedra, que eu estabeleci como pilar, será a casa de Deus”. Eles acreditavam verdadeiramente que o espírito do seu Deus residia em tais altares de pedra, que eram fetiches, na realidade.
88:2.4 (969.2) As primeiras imagens foram feitas para preservar a aparência e a memória dos mortos ilustres; na realidade, eram monumentos. Os ídolos foram um refinamento do fetichismo. Os primitivos acreditavam que uma cerimônia de consagração conduziria o espírito a entrar na imagem; do mesmo modo, quando certos objetos eram abençoados, eles se transformariam em amuletos.
88:2.5 (969.3) Moisés, quando agregou o segundo mandamento ao antigo código moral da Dalamátia, fez um esforço para controlar a adoração de fetiches entre os hebreus. Ele indicou cuidadosamente que eles não fizessem espécie alguma de imagem que pudesse ser consagrada como um fetiche. E deixou claro: “Não fareis nenhuma imagem gravada ou nenhuma escultura à semelhança de qualquer coisa que está no céu acima, nem na terra abaixo, ou nas águas da Terra”. Se bem que esse mandamento haja feito muito para atrasar a arte entre os judeus, ele diminuiu o culto dos fetiches. Moisés, contudo, era sábio demais para tentar desalojar subitamente os antigos fetiches e, portanto, consentiu que se deixassem certas relíquias, dentro da lei, no altar híbrido de guerra e de templo religioso, que era a arca.
88:2.6 (969.4) As palavras finalmente tornaram-se fetiches, mais especialmente aquelas que eram consideradas como sendo palavras de Deus; e desse modo os livros sagrados de muitas religiões tornaram-se prisões fetichistas a encarcerar a imaginação espiritual do homem. Os próprios esforços de Moisés contra os fetiches tornaram-se um fetiche supremo; os seus mandamentos, mais tarde, foram usados para estultificar a arte e retardar o prazer e a adoração do belo.
88:2.7 (969.5) Nos tempos antigos, a palavra fetiche da autoridade era uma doutrina inspiradora de medo, a mais terrível de todas as tiranias que escravizam os homens. Um fetiche doutrinário conduzirá o homem mortal a trair a si próprio, caindo nas garras de alguma beatice, fanatismo, superstição, intolerância e nas mais atrozes das crueldades bárbaras. O respeito moderno pela sabedoria e a verdade não é senão uma fuga mais recente à tendência elaboradora de fetiches, levada aos níveis mais altos do pensar e do raciocinar. Quanto aos escritos fetiches acumulados, os quais tantos religiosos têm como livros sagrados, não se acredita apenas que o que está no livro seja verdade, mas também que toda a verdade esteja contida no livro. Se um desses livros sagrados por acaso fala da Terra como sendo plana, então, durante várias gerações, homens e mulheres sensatos recusarão a aceitar as evidências positivas de que o planeta é redondo.
88:2.8 (969.6) A prática de abrir um desses livros sagrados e deixar que os olhos caiam sobre uma passagem que, se colocada em prática, pode determinar importantes decisões de vida ou projetos, nada mais é do que um completo fetichismo. Fazer um juramento sobre um “livro sagrado”, ou jurar por algum objeto de veneração suprema, é uma forma refinada de fetichismo.
88:2.9 (969.7) Todavia, de fato, foi um progresso evolucionário real avançar do temor fetichista das lascas de unhas do cacique selvagem, para a adoração de uma esplêndida coleção de cartas, leis, lendas, alegorias, mitos, poemas e crônicas, que refletem afinal a detalhada sabedoria moral de muitos séculos antes do momento e do evento da sua reunião como um “livro sagrado”.
88:2.10 (970.1) Para transformar-se em fetiches, as palavras tinham de ser consideradas inspiradas, e a invocação de escritos supostamente de inspiração divina levou diretamente ao estabelecimento da autoridade da igreja, enquanto a evolução de formas civis levou ao desabrochamento da autoridade do estado.
88:3.1 (970.2) O fetichismo impregnou todos os cultos primitivos, desde a crença primitiva em pedras sagradas, passando pela idolatria, o canibalismo e o culto à natureza, e até o totemismo.
88:3.2 (970.3) O totemismo é uma combinação de observâncias sociais e religiosas. Originalmente, pensou-se que o respeito pelo animal totem de suposta origem biológica assegurava o suprimento de alimento. Totens eram ao mesmo tempo símbolos do grupo e do seu deus. Esse deus era o clã personificado. O totemismo foi uma fase de tentativa de socialização da religião, que, ao contrário, é pessoal. O totem finalmente evoluiu, transformando-se na bandeira, ou no símbolo nacional dos vários povos modernos.
88:3.3 (970.4) Uma bolsa fetiche, uma bolsa de medicamentos, era uma sacola contendo um sortimento respeitável de artigos impregnados pelos fantasmas, e o curandeiro de outrora nunca permitia que a sua bolsa, o símbolo do seu poder, tocasse o chão. Os povos civilizados no século vinte cuidam para que as suas bandeiras, emblemas da consciência nacional, do mesmo modo, nunca toquem o chão.
88:3.4 (970.5) As insígnias dos cargos sacerdotais e reais foram finalmente encaradas como fetiches, e o fetiche do estado supremo passou por muitos estágios de desenvolvimento, dos clãs para as tribos, de suseranias a soberanias, de totens a bandeiras. Os reis fetiches têm reinado por “direito divino”, e assim muitas outras formas de governo têm prevalecido. Os homens também fizeram da democracia um fetiche, exaltação e adoração das idéias do homem comum coletivamente chamadas de “opinião pública”. A opinião de um homem, quando tomada isoladamente em si mesma, não é considerada como tendo muito valor, mas, quando muitos homens funcionam coletivamente como uma democracia, esse mesmo julgamento ainda que medíocre é tomado como sendo o árbitro da justiça e o padrão de retidão.
88:4.1 (970.6) O homem civilizado enfrenta problemas do meio ambiente real mediante a sua ciência; o homem selvagem tentou resolver os problemas reais de um meio-ambiente-fantasma-ilusório por meio da magia. A magia era a técnica de manipulação de um meio determinado ambiente espiritual, cujas maquinações explicavam constantemente o inexplicável; era a arte de obter a cooperação espiritual voluntária e de forçar a ajuda espiritual involuntária por meio do uso de fetiches ou outros espíritos mais poderosos.
88:4.2 (970.7) Os objetivos da magia, feitiçaria e necromancia eram duplos:
88:4.3 (970.8) 1. Assegurar uma visão sobre o futuro.
88:4.4 (970.9) 2. Influenciar favoravelmente o meio ambiente.
88:4.5 (970.10) Os objetivos da ciência são idênticos aos da magia. A humanidade está progredindo da magia para a ciência, não por meio da meditação e do raciocínio, mas por intermédio de uma experiência longa, gradual e dolorosa. O homem avança gradativamente até a verdade, não sem recuos; começando pelo erro, progredindo no erro, e finalmente alcançando o limiar da verdade. Apenas com o advento do método científico ele voltou o seu olhar para a frente. Contudo, o homem primitivo tinha de experimentar ou perecer.
88:4.6 (970.11) A fascinação da superstição primitiva foi mãe da curiosidade científica posterior. Havia uma emoção dinâmica progressiva — medo mais curiosidade — nessas superstições primitivas; havia uma força motriz progressiva na magia de outrora. Essas superstições representavam a emergência do desejo humano de conhecer e controlar o meio ambiente planetário.
88:4.7 (971.1) A magia ganhou forte domínio sobre o selvagem, porque ele não podia compreender o conceito da morte natural. A idéia posterior de um pecado original em muito ajudou a enfraquecer a força da magia sobre a raça, porque ela explicava a morte natural. Numa certa época, não era de todo incomum que dez pessoas inocentes fossem condenadas a morrer pela sua suposta responsabilidade por uma morte natural. Essa é uma razão pela qual as populações dos antigos não aumentavam mais depressa, e isso ainda é verdadeiro para algumas tribos africanas. O indivíduo acusado, em geral, confessava culpa, ainda que tivesse de enfrentar a morte.
88:4.8 (971.2) A magia é natural para um selvagem. Ele crê que um inimigo pode, de fato, ser morto pela prática da feitiçaria, por meio de uma mecha do seu cabelo ou lascas das suas unhas. A fatalidade das mordidas de cobras era atribuída à magia do feiticeiro. A dificuldade de combater a magia vem do fato de que o medo pode matar. Os povos primitivos temiam tanto a magia, que ela de fato matava; e tais resultados eram suficientes para consubstanciar essa crença errônea. No caso de fracasso, havia sempre alguma explicação plausível; a cura para a magia imperfeita era mais magia ainda.
88:5.1 (971.3) Posto que tudo o que se relacionasse ao corpo poderia tornar-se um fetiche, a magia mais primitiva tinha a ver com o cabelo e com as unhas. O segredo que cercava as secreções corporais nasceu do temor de que um inimigo pudesse apossar-se de algo que se derivasse do corpo e empregar aquilo negativamente em uma magia; toda excreção do corpo era, portanto, cuidadosamente enterrada. Abstinha-se de cuspir em público, em vista do medo de que a saliva pudesse ser usada na magia deletéria; o cuspe era sempre coberto. Mesmo as sobras de comida, roupa e ornamentos poderiam transformar-se em instrumentos para a magia. O selvagem nunca deixava nenhum remanescente da sua refeição à mesa. E tudo isso era feito mais por medo de que os inimigos pudessem usar tais coisas em ritos de magia, do que por qualquer apreciação do valor higiênico de tais práticas.
88:5.2 (971.4) Os amuletos mágicos eram preparados com uma grande variedade de coisas: carne humana, garras de tigre, dentes de crocodilo, sementes de plantas venenosas, veneno de cobra e cabelo humano. Os ossos dos mortos eram muito mágicos. Mesmo o pó das pegadas podia ser usado na magia. Os antigos eram grandes crentes nos amuletos de amor. O sangue e todas as formas de secreções do corpo seriam capazes de assegurar a influência mágica do amor.
88:5.3 (971.5) As imagens eram consideradas como sendo eficazes na magia. Efígies eram feitas e, quando tratadas, bem ou mal, acreditava-se que os mesmos efeitos recaíam sobre a pessoa real. Quando faziam compras, pessoas supersticiosas mastigavam um pedaço de madeira dura com o fito de amaciar o coração do vendedor.
88:5.4 (971.6) O leite de uma vaca negra era altamente mágico; e também os gatos negros. Eram mágicos os cetros e as varinhas, e também tambores, sinos e nós. Todos os objetos antigos eram amuletos mágicos. As práticas de uma civilização nova ou mais elevada eram vistas desfavoravelmente, em vista da sua suposta natureza de magia maligna. Durante muito tempo, assim foram consideradas a escrita, a imprensa, as imagens e os retratos.
88:5.5 (971.7) O homem primitivo acreditava que os nomes deviam ser tratados com respeito, especialmente os nomes dos deuses. O nome era considerado como uma entidade, uma influência distinta da personalidade física; era tido na mesma estima que a alma e a sombra. Os nomes eram empenhados para se obter empréstimos; um homem não podia usar o seu nome até que este fosse redimido com o pagamento de um empréstimo. Atualmente, assina-se o próprio nome em uma nota de débito. O nome de um indivíduo logo se tornou importante para a magia. O selvagem tinha dois nomes; o nome sendo importante era considerado como sagrado demais para ser usado em ocasiões ordinárias, o segundo nome, conseqüentemente, era o nome de todo-dia — um apelido. Ele nunca dizia o seu verdadeiro nome a estranhos. Qualquer experiência de natureza inusitada levava-o a mudar de nome; algumas vezes, isso era feito em um esforço para curar doenças e dar fim à má sorte. O selvagem podia conseguir um novo nome, comprando-o do chefe tribal; os homens ainda investem em títulos e diplomas. Contudo, entre as tribos mais primitivas, tais como os bosquímanos da África, os nomes individuais não existem.
88:6.1 (972.1) A magia foi praticada com o uso de varas, rituais, “medicamentos” e encantamentos, e era costumeiro ao praticante trabalhar despido. Entre os magos primitivos, o número de mulheres era maior do que o de homens. Na magia, a palavra “medicina” significa mistério, não tratamento. O selvagem nunca curava a si próprio; nunca usava medicamentos a não ser a conselho dos especialistas em magia. E os curandeiros vodus do século vinte são tipicamente como os magos de outrora.
88:6.2 (972.2) Havia tanto um lado público quanto um lado privado da magia. Aquela que era executada pelos curandeiros, xamãs, ou sacerdotes era, supunha-se, para o bem de toda a tribo. As feiticeiras, bruxos e magos exerciam a magia privada, pessoal e egoísta, que era empregada como um método coercitivo para trazer o mal aos inimigos. O conceito do espiritismo dual, segundo o qual há bons e maus espíritos, deu origem às crenças posteriores na magia branca e na magia negra. Com a evolução da religião, a magia passou a ser um termo aplicado a operações espirituais feitas fora do próprio culto e também se referia a crenças mais antigas nos fantasmas.
88:6.3 (972.3) A combinação de palavras, num ritual de cantos e encantamentos, era altamente mágica. Alguns encantamentos primitivos finalmente evoluíram, transformando-se em orações. Em seguida, a magia imitativa era praticada; as orações eram representadas; as danças mágicas nada mais eram do que orações dramatizadas. A prece gradualmente substituiu a magia como associada ao sacrifício.
88:6.4 (972.4) A expressão gestual, sendo mais antiga do que a fala, era mais santa e mágica, e creditava-se à mímica um forte poder mágico. Os homens vermelhos freqüentemente encenavam uma dança de búfalos, na qual um deles faria o papel de um búfalo o qual, ao ser capturado, asseguraria o êxito da caçada que viria. As festividades sexuais do Primeiro de Maio eram simplesmente uma magia imitativa, um apelo sugestivo às paixões sexuais do mundo das plantas. A boneca foi empregada pela primeira vez como um talismã mágico pela esposa estéril.
88:6.5 (972.5) A magia foi um ramo da árvore religiosa evolucionária que, finalmente, teve como fruto uma era científica. A crença na astrologia levou ao desenvolvimento da astronomia; a crença em uma pedra filosofal levou à mestria com os metais, enquanto a crença em números mágicos fundamentou a ciência da matemática.
88:6.6 (972.6) No entanto, um mundo tão repleto de encantamentos muito fez para destruir toda a ambição e iniciativa pessoal. Os frutos do trabalho extra ou da diligência eram vistos como se fossem mágicos. Se um homem tinha mais grãos no seu campo do que o seu vizinho, ele podia ser levado diante do cacique e acusado de haver atraído esses grãos a mais do campo do vizinho indolente. De fato, nos dias da barbárie, era perigoso saber muito; havia sempre uma possibilidade de ser executado como um mago negro.
88:6.7 (972.7) Gradualmente, a ciência está retirando da vida o elemento de risco. Todavia, se os métodos modernos de educação falharem, haverá quase imediatamente uma reversão de volta às crenças primitivas na magia. Essas superstições ainda perambulam pelas mentes de muitos dos chamados povos civilizados. Os idiomas contêm muitas expressões fossilizadas, palavras que atestam que a raça desde muito tempo tem estado imersa na superstição da magia, tais como: enfeitiçado, de má-estrela, possessão, inspiração, tirar o espírito, ingenuidade, êxtase, pasmo e assombrado. E seres humanos inteligentes ainda acreditam em boa sorte, mau olhado e astrologia.
88:6.8 (973.1) A magia antiga foi o casulo da ciência moderna, indispensável na sua época, no entanto agora em nada mais é útil. E assim os fantasmas da superstição ignorante agitaram as mentes primitivas dos homens, até que os conceitos da ciência pudessem nascer. Hoje, Urântia está no alvorecer da evolução intelectual. Metade do mundo está tentando avidamente alcançar a luz da verdade e os fatos das descobertas científicas, enquanto a outra metade está languidamente jogada nos braços da superstição antiga e de uma magia disfarçada apenas de um modo tênue.
88:6.9 (973.2) [Apresentado por um Brilhante Estrela Vespertino de Nébadon.]
O Livro de Urântia
Documento 89
89:0.1 (974.1) O HOMEM primitivo via a si mesmo em constante débito para com os espíritos, e em necessidade de redenção. Segundo o modo como os selvagens encaravam esse fato, por justiça os espíritos poderiam enviar-lhes mais má sorte ainda. Com o passar do tempo, esse conceito desenvolveu-se até a doutrina do pecado e salvação. A alma era encarada como tendo vindo ao mundo possuindo uma falta — o pecado original. E a alma teria de ser redimida; um bode-expiatório deveria ser providenciado. O caçador de cabeças, além de praticar o culto de adoração à caveira, era capaz de prover um substituto para a sua própria vida: um homem-expiatório.
89:0.2 (974.2) O selvagem foi, logo nos seus primórdios, possuído pela noção de que os espíritos têm uma satisfação suprema com a visão da miséria, sofrimento e humilhação humana. No princípio, o homem estava preocupado apenas com os pecados cometidos, mais tarde, todavia, ele inquietou-se também com o pecado da omissão. E todo um sistema subseqüente de sacrifícios cresceu em torno dessas duas idéias. Esse novo ritual tinha a ver com a observância das cerimônias de propiciação para o sacrifício. O homem primitivo acreditava que algo especial devia ser feito para conquistar o favorecimento dos deuses; apenas a civilização avançada reconhece um Deus coerentemente equilibrado e benevolente. A propiciação era mais um seguro contra a má sorte imediata do que um investimento na bênção futura. E os rituais do livramento, exorcismo, coerção e propiciação, todos, combinam-se uns com os outros.
89:1.1 (974.3) A observância de um tabu foi o esforço do homem para evitar a má sorte, para livrar-se de ofender os fantasmas espirituais, evitando várias coisas. Os tabus inicialmente foram não-religiosos, mas logo adquiriram a aprovação dos fantasmas ou dos espíritos e, quando reforçados assim, transformaram-se nos elaboradores das leis e instituições. O tabu é a fonte dos padrões dos cerimoniais e o ancestral do autocontrole primitivo. Foi a mais primitiva forma de regulamentação societária e, por um longo período de tempo, a única; e ainda se mantém como unidade básica da estrutura social reguladora.
89:1.2 (974.4) O respeito que essas proibições inculcavam na mente do selvagem igualava-se exatamente ao medo que ele tinha dos poderes que supunha estar impondo-as. Os tabus inicialmente surgiram em conseqüência da experiência casual com a má sorte; mais tarde foram propostos pelos chefes e xamãs — homens-fetiches que se pensava serem orientados por um fantasma espiritual, ou mesmo por um deus. O medo da punição dos espíritos era tão grande na mente do homem primitivo que, algumas vezes, ele morria de medo quando violava um tabu; e esse episódio dramático reforçava enormemente o poder do tabu nas mentes daqueles que sobreviviam.
89:1.3 (974.5) Entre as mais antigas proibições estavam as restrições quanto à apropriação de mulheres e outras propriedades. À medida que a religião começou a exercer um papel maior na evolução do tabu, o artigo que ficava banido era considerado sujo e, subseqüentemente, profano. Os registros dos hebreus estão cheios de menções a coisas limpas e sujas, santas e profanas; contudo as suas crenças nessas direções foram sempre muito menos embaraçosas e amplas do que as de muitos outros povos.
89:1.4 (975.1) Os sete mandamentos da Dalamátia e do Éden, bem como as dez obrigações dos hebreus eram tabus definidos, expressos todos na mesma forma negativa das mais antigas proibições. Esses códigos mais novos, entretanto, tiveram uma influência verdadeiramente emancipadora, pois tomaram o lugar de milhares de tabus preexistentes. E, mais que isso, tais mandamentos mais recentes definitivamente prometiam algo em recompensa pela obediência.
89:1.5 (975.2) Os tabus primitivos sobre os alimentos originaram-se do fetichismo e totemismo. Os suínos eram sagrados para os fenícios, a vaca para os indianos. O tabu egípcio sobre a carne de porco foi perpetuado pelas fés hebraica e islâmica. Uma variante do tabu dos alimentos foi a crença de que se uma mulher grávida pensasse muito sobre um determinado alimento, a sua criança, quando nascesse, seria um eco daquele alimento, o qual seria um tabu para a criança.
89:1.6 (975.3) Os métodos da alimentação logo se fizeram um tabu, e assim originaram-se as etiquetas antigas e modernas à mesa. Os sistemas de castas e níveis sociais são vestígios de antigas proibições. Os tabus eram altamente eficazes para organizar a sociedade, mas eram terrivelmente opressivos; o sistema de proibição negativa não apenas mantinha regulamentações úteis e construtivas como também os tabus obsoletos, antiquados e inúteis.
89:1.7 (975.4) Não havia, contudo, uma sociedade civilizada a restringir o homem primitivo a não ser por esses tabus bem difundidos e variados; e o tabu nunca teria perdurado, não fossem as próprias sanções das religiões primitivas que os sustentavam. Muitos dos fatores essenciais à evolução do homem têm sido altamente dispendiosos, têm custado vastos tesouros de esforços, de sacrifícios e de renúncias, mas essas realizações no sentido do autocontrole foram os verdadeiros degraus por meio dos quais o homem subiu a escada ascendente da civilização.
89:2.1 (975.5) O medo do acaso e o pavor da má sorte dirigiram literalmente o homem à invenção da religião primitiva como um suposto seguro contra as calamidades. Da mágica e dos fantasmas, a religião evoluiu por meio dos espíritos e fetiches, até os tabus. Todas as tribos primitivas tinham a sua árvore de fruta proibida, literalmente a maçã, mas figurativamente consistia de milhares de ramos sobrecarregados de todas as espécies de tabus. E a árvore proibida dizia sempre: “Tu não...”
89:2.2 (975.6) À medida que a mente selvagem evoluiu até o ponto em que podia idealizar os bons e os maus espíritos, e quando o tabu recebeu a sanção solene da religião que evoluía, o cenário preparou-se para o aparecimento da nova concepção de pecado. A idéia do pecado foi universalmente estabelecida no mundo antes que a religião revelada tivesse feito a sua entrada. Apenas por meio do conceito do pecado é que a morte natural tornou-se lógica para a mente primitiva. O pecado era a transgressão do tabu; e a morte, a penalidade para o pecado.
89:2.3 (975.7) O pecado era ritual, não racional; um ato, não um pensamento. E todo esse conceito de pecado foi fomentado pelas tradições residuais do Dilmun e dos dias do pequeno paraíso na Terra. As tradições de Adão e do Jardim do Éden também emprestaram substância ao sonho de uma certa “idade dourada” havida no alvorecer da raça. E tudo isso confirmou as idéias expressas posteriormente na crença de que o homem teve a sua origem em uma criação especial, de que ele começou a sua carreira na perfeição, e de que a transgressão dos tabus — o pecado — levara-o a cair na sua situação dolorosa mais recente.
89:2.4 (976.1) A violação habitual de um tabu tornou-se um vício; a lei primitiva fez do vício um crime; a religião o transformou em um pecado. Entre as tribos primitivas a violação de um tabu era uma combinação de crime e pecado. A calamidade da comunidade era considerada sempre como uma punição para o pecado tribal. Para aqueles que acreditavam que a prosperidade e a retidão vão juntas, a prosperidade aparente dos perversos causava tanta preocupação que foi necessário inventar os infernos para punir o violador do tabu; os números desses lugares de punição futura têm variado de um a cinco.
89:2.5 (976.2) A idéia da confissão e do perdão surgiu muito cedo na religião primitiva. Os homens pediriam o perdão em uma reunião pública pela intenção que tinham de cometer na semana vindoura. A confissão era meramente um rito de remissão, e também uma notificação pública de violação, um ritual de gritos: “impuro, impuro!” Então, se seguiam todos os esquemas ritualísticos de purificação. Todos os povos antigos praticavam tais cerimônias sem sentido. Muitos costumes aparentemente higiênicos das tribos primitivas haviam vindo, quase sempre, de cerimoniais.
89:3.1 (976.3) A renúncia veio como o próximo passo na evolução religiosa; o jejum era uma prática comum. Logo, a abstenção de muitas formas de prazer físico se tornou um costume; e especialmente os de natureza sexual. O ritual do jejum estava profundamente arraigado em muitas religiões antigas e foi transmitido a praticamente todos os sistemas modernos de pensamento teológico.
89:3.2 (976.4) Na época em que o homem bárbaro estava exatamente recuperando-se da prática esbanjadora de queimar e enterrar as posses junto com os mortos, em um momento em que a estrutura econômica das raças estava começando a tomar forma, essa nova doutrina religiosa da renúncia surgiu, e dezenas de milhares de almas sinceras começaram a cortejar a pobreza. A propriedade foi encarada como uma desvantagem espiritual. Tais noções de perigo espiritual da posse material foram alimentadas amplamente na época de Filo e Paulo, e influenciaram marcadamente a filosofia européia desde então.
89:3.3 (976.5) A pobreza era apenas uma parte do ritual da mortificação da carne, o que, infelizmente, tornou-se incorporado aos escritos e ensinamentos de muitas religiões; e, notadamente, aos do cristianismo. A penitência é a forma negativa desse ritual, muitas vezes tolo, de renúncia. Mas tudo isso ensinou ao selvagem o autocontrole, que funcionou como um avanço que valeu a pena na evolução social. A renúncia e o autocontrole foram dois dos maiores ganhos sociais da religião evolucionária primitiva. O autocontrole deu ao homem uma nova filosofia de vida; ensinando-lhe a arte de aumentar a fração que corresponde à sua etapa de vida, diminuindo o denominador das demandas pessoais, em vez de tentar sempre aumentar o numerador da gratificação egoísta.
89:3.4 (976.6) Essas antigas idéias de autodisciplina abrangeram o autoflagelo e todos os tipos de torturas físicas. Os sacerdotes do culto da mãe encontravam-se especialmente empenhados no ensino da virtude do sofrimento físico, dando o testemunho disso ao submeterem-se à castração. Os hebreus, hindus e budistas eram devotos sinceros dessa doutrina de humilhação física.
89:3.5 (976.7) Durante toda a antiguidade os homens buscaram, com esses comportamentos de autonegação e renúncia, os créditos extraordinários nos registros dos seus deuses. Era costumeiro, quando sob alguma tensão emocional, fazer votos de renúncia e autotortura. Com o tempo esses votos assumiram a forma de contratos com os deuses e, nesse sentido, representaram um verdadeiro progresso evolucionário, pois se supunha que os deuses fizessem algo definido em recompensa a essa autotortura e mortificação da carne. Os votos eram tanto de negação quanto de afirmação positiva. As promessas dessa natureza extrema e prejudicial são, ainda hoje, bastante observadas em meio a certos grupos da Índia.
89:3.6 (977.1) Nada mais do que natural era que o culto da renúncia e humilhação devesse dar atenção à gratificação sexual. O culto da continência sexual originou-se como um ritual entre os soldados, antes de entrarem nas batalhas; em dias posteriores tornou-se a prática dos “santos”. Esse culto tolerava o casamento apenas como um mal menor do que a fornicação. Muitas grandes religiões do mundo têm sido influenciadas adversamente por esse culto antigo, mas nenhuma mais marcadamente do que o cristianismo. O apóstolo Paulo foi um devoto desse culto; a sua visão pessoal é refletida nos ensinamentos que vinculou à teologia cristã: “É bom para um homem não tocar em uma mulher”. “Gostaria que todos os homens fossem como eu”. “Digo, pois, aos que não são casados e aos viúvos, ser bom para eles permanecerem como eu.” Paulo sabia muito bem que esses ensinamentos não eram uma parte da boa nova do evangelho de Jesus; e o seu reconhecimento disso é ilustrado por esta declaração sua: “E me permito dizer isso, mas isso não me foi passado como um mandado ou mandamento”. E tal culto levou Paulo a desprezar as mulheres. E o pior de tudo isso é que a sua opinião pessoal vem, há muito, influenciando os ensinamentos de uma grande religião mundial. Se os conselhos do fabricante de tendas e professor tivessem sido obedecidos literal e universalmente, então a raça humana teria chegado a um fim súbito e inglório. Ademais, o envolvimento de uma religião com esse antigo culto de continência conduz diretamente a uma guerra contra o casamento e o lar; contra as verdadeiras fundações da sociedade e instituições básicas do progresso humano. E não é de admirar-se que todas essas crenças hajam fomentado a formação de sacerdócios celibatários nas várias religiões de muitos povos.
89:3.7 (977.2) Algum dia o homem deveria aprender como desfrutar da liberdade sem licença, da nutrição sem glutonaria e do prazer sem devassidão. O autocontrole é uma política de regulamentação do comportamento humano melhor do que a renúncia extrema. E Jesus jamais passou aos seus seguidores tais visões pouco razoáveis.
89:4.1 (977.3) O sacrifício como parte das devoções religiosas, tal como muitos outros rituais de adoração, não teve uma origem simples nem única. A tendência de inclinar-se diante do poder e de prostrar-se em adoração na presença do mistério está prognosticada no servilismo do cão diante do seu dono. Um passo apenas separa o impulso da adoração, do ato do sacrifício. O homem primitivo media o valor do seu sacrifício pela dor que sofria. Quando a idéia do sacrifício pela primeira vez ligou-se ao cerimonial religioso, nenhuma oferenda contemplada deixava de produzir a dor. Os primeiros sacrifícios foram atos como arrancar os cabelos, cortar a carne, fazer mutilações, arrancar os dentes e cortar fora os dedos. À medida que a civilização avançou, esses conceitos rudes de sacrifício elevaram-se ao nível dos rituais de autoabnegação, ascetismo, jejum, privação e, na doutrina cristã mais recente, de santificação por meio do pesar, de sofrimento e mortificação da carne.
89:4.2 (977.4) Muito cedo, na evolução da religião, existiram duas concepções de sacrifício: a idéia do sacrifício-dádiva, que conotava uma atitude de agradecimento, e o sacrifício-débito, que abrangia a idéia de redenção. Mais tarde a noção da substituição foi desenvolvida.
89:4.3 (977.5) Mais adiante o homem concebeu que o seu sacrifício, de qualquer natureza que fosse, poderia funcionar como um portador de mensagem aos deuses; poderia ser como um doce perfume para as narinas da deidade. Isso trouxe o incenso e outros aspectos estéticos aos rituais de sacrifício que se desenvolveram como festejos de sacrifícios, cada vez mais elaborados e ornados com o passar do tempo.
89:4.4 (978.1) À medida que a religião evoluiu, os ritos do sacrifício de conciliação e propiciação substituíram os métodos mais antigos de prevenção, aplacamento e exorcismo.
89:4.5 (978.2) A idéia inicial do sacrifício era a de um imposto de neutralidade, arrecadado pelos espíritos ancestrais; apenas mais tarde a idéia da expiação veio a desenvolver-se. À medida que o homem distanciou-se da noção da origem evolucionária da raça e, à medida que as tradições da época do Príncipe Planetário e da permanência de Adão foram filtrando-se com o passar do tempo, o conceito de pecado e do pecado original foram tornando-se difundidos, de modo que o sacrifício por pecados acidentais e pessoais evoluiu até a doutrina do sacrifício pela expiação do pecado racial. A expiação pelo sacrifício era um dispositivo de segurança que abrangia até mesmo os ressentimentos e o ciúme de um deus desconhecido.
89:4.6 (978.3) Rodeado de tantos espíritos sensíveis e deuses ávidos, o homem primitivo enfrentava uma tal hoste de deidades credoras que requeria todos os sacerdotes, rituais e sacrifícios durante uma vida inteira, para isentá-lo de débitos espirituais. A doutrina do pecado original, ou culpa da raça, fazia com que todas as pessoas começassem já com um sério débito para com os poderes espirituais.
89:4.7 (978.4) Presentes e subornos são dados aos homens; mas quando se os oferece aos deuses, eles são descritos como sendo dedicados, tornados sagrados ou então chamados de sacrifícios. A renúncia era a forma negativa de propiciação; o sacrifício tornou-se a forma positiva. O ato de propiciação incluía louvação, glorificação, adulação e até mesmo entretenimento. E são os remanescentes das práticas positivas do velho culto de propiciação que constituem as formas modernas de adoração divina. As formas atuais de adoração são simplesmente a ritualização dessas antigas técnicas de sacrifícios de propiciação positiva.
89:4.8 (978.5) O sacrifício dos animais significava muito mais para o homem primitivo do que poderia jamais significar para as raças modernas. Esses bárbaros consideravam os animais como parentes verdadeiros e próximos seus. Com o passar do tempo, o homem tornou-se astuto nos seus sacrifícios, parando de oferecer os seus animais de trabalho. A princípio sacrificava o melhor de tudo, incluindo os seus animais domesticados.
89:4.9 (978.6) Não foi uma jactância sem fundamento, que certo dirigente egípcio teve ao declarar que tinha sacrificado 113 433 escravos, 493 386 cabeças de gado, 88 barcos, 2 756 imagens de ouro, 331 702 jarras de mel e óleo, 228 380 jarras de vinho, 680 714 gansos, 6 744 428 pães e 5 740 352 sacos de moedas. E para fazer isso ele teve de arrecadar até os impostos sofridos dos seus súditos submetidos a um trabalho exaustivo.
89:4.10 (978.7) A mera necessidade finalmente levou os semi-selvagens a comerem parte material dos seus sacrifícios; os deuses havendo desfrutado já da alma deles. E esse costume encontrou a sua justificação sob o pretexto do antigo banquete sagrado, um serviço de comunhão de acordo com os usos modernos.
89:5.1 (978.8) As idéias modernas do canibalismo primitivo são inteiramente errôneas; ele era uma parte dos costumes da sociedade primitiva. Do mesmo modo que o canibalismo é tradicionalmente horrível para a civilização moderna, era parte da estrutura social e religiosa da sociedade primitiva. Os interesses grupais ditavam a prática do canibalismo. Ele nasceu instigado pela necessidade e perdurou devido à escravidão, superstição e ignorância. Era um costume social, econômico, religioso e militar.
89:5.2 (979.1) Sendo canibal, o homem primitivo gostava da carne humana e, pois, a oferecia como um presente alimentício aos seus espíritos e deuses primitivos. Já que os espíritos fantasmas eram apenas homens modificados, e posto que a comida era a maior necessidade humana, então o alimento deveria também ser a maior necessidade de um espírito.
89:5.3 (979.2) O canibalismo chegou a ser quase universal entre as raças em evolução. Todos os sangiques eram canibais, mas originalmente os andonitas não o eram, nem os noditas, nem os adamitas; nem os anditas o foram até o momento em que se misturaram bastante com as raças evolucionárias.
89:5.4 (979.3) O gosto pela carne humana aumenta. Tendo começado por meio da fome; por amizade, vingança ou ritual religioso, comer a carne humana transforma-se no canibalismo habitual. O canibalismo surgiu por causa da escassez de alimento, embora esta haja sido, poucas vezes, a razão fundamental. Os esquimós e os andonitas primitivos, entretanto, raramente eram canibais, exceto em épocas de fome. Os homens vermelhos, especialmente na América Central, eram canibais. Chegou a ser uma prática generalizada que as mães primitivas matassem e comessem os seus próprios filhos, para renovar as energias perdidas na concepção, e em Queensland o primeiro filho ainda é assim freqüentemente morto e devorado. Em tempos recentes o canibalismo tem sido deliberadamente adotado por muitas tribos africanas como uma medida de guerra, uma espécie de atrocidade com a qual aterrorizar os vizinhos.
89:5.5 (979.4) Um certo canibalismo resultou da degeneração de algumas linhagens superiores; mas prevaleceu, sobretudo, em meio às raças evolucionárias. Comer a carne humana começou em uma época em que os homens experimentaram emoções intensas e amargas a respeito dos seus inimigos, e tornou-se uma parte de uma cerimônia solene de vingança; acreditava-se que o fantasma de um inimigo poderia, desse modo, ser destruído ou fundido com aquele de quem comia. Foi uma crença bem difundida a de que os feiticeiros alcançavam os seus poderes comendo carne humana.
89:5.6 (979.5) Alguns grupos de canibais consumiam apenas os da sua própria tribo, como uma espécie de endogamia pseudo-espiritual que se supunha acentuar a solidariedade tribal. Mas também comiam os inimigos como vingança e embalados pela idéia de apropriar-se da sua força. Era considerada uma honra para a alma de um amigo ou companheiro tribal que o seu corpo fosse comido e, ao mesmo tempo, devorar o inimigo nada mais era do que uma punição para com ele. A mente selvagem não tinha pretensões de ser coerente.
89:5.7 (979.6) Entre algumas tribos os pais idosos buscavam ser comidos pelos seus filhos; entre outras era costumeiro evitar comer parentes próximos, os seus corpos sendo vendidos ou trocados pelos de estranhos. Havia um comércio considerável de mulheres e crianças que haviam sido engordadas para serem abatidas. Quando a doença ou a guerra deixava de exercer o controle da população, o excesso era comido sem cerimônias.
89:5.8 (979.7) O canibalismo tem desaparecido gradualmente por causa das seguintes influências:
89:5.9 (979.8) 1. Às vezes, assumir responsabilidade coletiva por infligir-se a pena de morte a um companheiro de tribo tornava-se uma cerimônia comunitária. A culpa pelo sangue derramado deixa de ser um crime quando todos ficam envolvidos nessa culpa, quando se torna um ato da sociedade. As últimas manifestações de canibalismo na Ásia foram as de comer criminosos executados.
89:5.10 (979.9) 2. Tornou-se muito cedo um ritual religioso, mas o crescimento do medo do fantasma nem sempre funcionou para reduzir o canibalismo.
89:5.11 (979.10) 3. Finalmente progrediu a um ponto em que apenas certas partes ou órgãos do corpo eram comidos; e tais partes, supostamente, continham a alma ou porções do espírito. Beber o sangue tornou-se comum; e era costumeiro misturar as partes “comestíveis” do corpo aos remédios.
89:5.12 (980.1) 4. Tornou-se circunscrito aos homens; as mulheres eram proibidas de comer a carne humana.
89:5.13 (980.2) 5. Em seguida ficou circunscrito aos chefes, sacerdotes e xamãs.
89:5.14 (980.3) 6. Então, tornou-se um tabu entre as tribos superiores. O tabu do canibalismo originou-se na Dalamátia e gradualmente disseminou-se pelo mundo. Os noditas encorajavam a cremação como um meio de combater o canibalismo, já que então era uma prática comum desenterrar os corpos e comê-los.
89:5.15 (980.4) 7. O sacrifício humano fez soar o dobrado de morte do canibalismo. A carne humana, havendo-se tornado comida para os homens superiores, os chefes, ficou finalmente reservada aos espíritos ainda mais superiores; e assim a oferta de sacrifícios humanos efetivamente pôs um fim ao canibalismo, exceto entre as tribos inferiores. Quando o sacrifício humano ficou plenamente estabelecido, o canibalismo tornou-se um tabu; a carne humana era alimento apenas para os deuses; o homem podia comer apenas uma pequena porção cerimonial, como um sacramento.
89:5.16 (980.5) Finalmente generalizou-se o uso de substitutos animais nos sacrifícios e, mesmo nas tribos mais atrasadas, comiam-se cães, o que reduziu grandemente o canibalismo. O cão, o primeiro animal domesticado, era tido em grande estima, tanto como amigo, quanto como comida.
89:6.1 (980.6) O sacrifício humano foi um resultado indireto do canibalismo, bem como a sua cura. O fato de prover companhia espiritual para ir ao mundo do espírito levou também à diminuição do canibalismo, pois nunca foi costume comer os corpos dos sacrifícios de morte. Nenhuma raça esteve totalmente livre da prática do sacrifício humano de alguma forma e em algum momento, embora os andonitas, noditas e adamitas tivessem sido os menos viciados no canibalismo.
89:6.2 (980.7) O sacrifício humano tem sido virtualmente universal; ele perdurou nos costumes religiosos dos chineses, hindus, egípcios, hebreus, mesopotâmios, gregos, romanos e muitos outros povos e mesmo até tempos recentes, entre as tribos africanas e australianas atrasadas. Os índios americanos mais recentes tiveram uma civilização que emergiu do canibalismo, sendo, portanto, repleta de sacrifícios humanos, especialmente na América Central e América do Sul. Os caldeus estavam entre os primeiros a abandonar o sacrifício humano nas ocasiões comuns, substituindo-o pelo sacrifício de animais. Cerca de dois mil anos atrás um imperador japonês de bom coração introduziu imagens de argila para ocupar o lugar dos humanos sacrificados, mas foi há menos de mil anos que esses sacrifícios terminaram no norte da Europa. Entre algumas tribos retrógradas, o sacrifício humano é ainda efetuado por voluntários, em uma espécie de suicídio ritual religioso. Um xamã certa vez ordenou o sacrifício de um velho homem muito respeitado de uma certa tribo. O povo revoltou-se; e todos recusaram-se a obedecê-lo. Então o velho homem fez com que o seu próprio filho o matasse; os antigos realmente acreditavam nesse costume.
89:6.3 (980.8) Não existe registro de uma experiência mais trágica e patética, e que ilustra as dolorosas contendas entre os costumes religiosos antigos e honrados e as exigências contrárias da civilização em avanço, do que a narrativa hebraica de Jefté e sua única filha. Como era um costume comum, esse homem bem-intencionado fez um voto tolo, tendo barganhado com o “deus das batalhas”, concordando em pagar um certo preço pela vitória sobre os seus inimigos. E esse preço era sacrificar a primeira pessoa que saísse da sua casa para encontrá-lo quando voltasse ao seu lar. Jefté pensou que um dos seus confiáveis escravos estaria à mão para saudá-lo, mas aconteceu que a sua única filha saiu para dar-lhe as boas-vindas ao lar. E assim, mesmo em uma data recente e em meio a um povo supostamente civilizado, essa bela jovem, depois de dois meses lamentado o seu destino, foi de fato oferecida como um sacrifício humano, pelo seu pai, e com a aprovação dos seus companheiros de tribo. E tudo isso foi feito enfrentando as rigorosas ordens de Moisés contra a oferenda de sacrifício humano. Homens e mulheres, todavia, obstinam-se no vício de fazer votos tolos e desnecessários; e os homens de outrora tinham essas promessas como altamente sagradas.
89:6.4 (981.1) Nos tempos antigos, quando a construção de um novo prédio de alguma importância era iniciada, era costume matar um ser humano como um “sacrifício à fundação”. Isso provia para que um espírito fantasma vigiasse e protegesse a estrutura. Quando os chineses se preparavam para fundir um sino, o costume decretava o sacrifício de uma jovem, ao menos, com o propósito de melhorar o tom do sino; a moça escolhida era jogada viva no metal derretido.
89:6.5 (981.2) Muitos grupos há muito mantinham a prática de incorporar escravos vivos a paredes importantes. Em tempos mais recentes as tribos do norte da Europa passaram a usar a sombra de alguém que passava, nesse costume de incorporar pessoas vivas nas paredes de novos prédios. Os chineses enterravam em uma parede aqueles trabalhadores que morriam enquanto a construíam.
89:6.6 (981.3) Ao construir as paredes de Jericó, um pequeno rei da Palestina “lançou a fundação sobre Abiram, o seu primogênito, e fez os portões sobre o seu filho mais jovem, Segub”. Naquela data recente, não apenas esse pai pôs dois dos seus filhos vivos nos buracos da fundação dos portões da cidade, mas esse ato é também registrado como estando “de acordo com a palavra do Senhor”. Moisés havia proibido tais sacrifícios nas fundações; os israelitas, contudo, voltaram a eles pouco depois da sua morte. A cerimônia do século vinte, de depositar berloques e presentes na pedra fundamental de um novo edifício, é uma reminiscência dos sacrifícios primitivos das fundações.
89:6.7 (981.4) Durante um longo tempo foi costume de muitos povos dedicar os primeiros frutos aos espíritos. E essas observâncias, atualmente mais ou menos simbólicas, são todas reminiscências das cerimônias primitivas que envolviam o sacrifício humano. A idéia de oferecer o primogênito em sacrifício era bem difundida entre os antigos, especialmente entre os fenícios, que foram os últimos a abandoná-la. Usava-se dizer durante o sacrifício, “a vida pela vida”. E, agora, vós dizeis quando da morte, “do pó ao pó”.
89:6.8 (981.5) O espetáculo de Abraão coagido a sacrificar o seu filho Isaac, ainda que chocante para as suscetibilidades civilizadas, não era uma idéia nova nem estranha para os homens daqueles tempos. Havia sido prática comum que os pais, em tempos de grandes pressões emocionais, sacrificassem os seus filhos primogênitos. Muitos povos têm uma tradição análoga à dessa história, pois certa vez existiu uma crença mundial profunda de que era necessário ofertar um sacrifício humano quando qualquer coisa extraordinária ou inusitada acontecia.
89:7.1 (981.6) Moisés tentou dar um fim aos sacrifícios humanos inaugurando como substituto o sistema de resgate. Ele estabeleceu um programa sistemático que permitia ao seu povo escapar dos piores resultados dos seus votos imprudentes e tolos. Terras, propriedades e filhos podiam ser redimidos segundo as espórtulas estabelecidas, pagáveis aos sacerdotes. Os grupos que deixaram de sacrificar os seus primogênitos logo estavam em grandes vantagens sobre os vizinhos menos avançados, que continuavam com esses atos de atrocidade. Muitas dessas tribos atrasadas foram não apenas grandemente enfraquecidas pela perda de filhos, como também a sucessão da liderança era freqüentemente interrompida.
89:7.2 (982.1) Uma conseqüência do sacrifício de filhos, que já passava, foi o costume de lambuzar as ombreiras das portas da casa com sangue para proteger os primogênitos. Isto era freqüentemente feito em uma das festas sagradas do ano, e essa cerimônia existiu na maior parte do mundo, do México ao Egito.
89:7.3 (982.2) Mesmo depois que a maioria dos grupos havia cessado a matança ritual de filhos, era costume abandonar um infante na selva ou em um pequeno barco na água. Se a criança sobrevivesse, julgava-se que os deuses haviam intervindo para preservá-la, como nas tradições de Sargon, Moisés, Ciro e Rômulo. Então veio a prática de dedicar os filhos primogênitos, considerando-os sagrados ou sacrificáveis, permitindo-lhes crescer e depois os exilando em vez de sacrificá-los; essa foi a origem da colonização. Os romanos aderiram a esse costume no seu esquema de colonização.
89:7.4 (982.3) Muitas das ligações excêntricas, de libertinagem sexual combinada à adoração primitiva, tiveram a sua origem no sacrifício humano. Nos tempos de outrora, se uma mulher deparava-se com caçadores de cabeças, ela podia salvar a sua vida rendendo-se sexualmente. Posteriormente, uma donzela, consagrada aos deuses em sacrifício, poderia escolher salvar a sua vida dedicando o seu corpo à vida no serviço do sexo sagrado nos templos; desse modo ela podia ganhar o dinheiro necessário à sua redenção. Os antigos consideravam como sendo altamente elevado ter relações sexuais com uma mulher engajada assim em resgatar a sua vida. A relação com tais donzelas sagradas era uma cerimônia religiosa e, além do que, todo esse ritual proporcionava uma desculpa aceitável para a gratificação sexual comum. Essa era uma espécie sutil de enganar a si próprio, que tanto as donzelas quanto os seus consortes deliciavam-se de praticar entre si. Os costumes estão sempre atrasados em relação aos progressos evolucionários da civilização, e, assim sendo, sancionam as práticas sexuais mais primitivas e selvagens das raças em evolução.
89:7.5 (982.4) A prostituição nos templos finalmente difundiu-se no sul da Europa e na Ásia. O dinheiro ganho pelas prostitutas dos templos era considerado sagrado por todos os povos — uma alta dádiva a ser apresentada aos deuses. Mulheres do mais alto nível enchiam os mercados sexuais dos templos; e, pois, devotavam os seus ganhos a todas as espécies de serviços sagrados e trabalhos de benefício público. Muitas das melhores classes de mulheres coletavam seus dotes por meio do serviço do sexo temporário nos templos, e a maior parte dos homens preferia ter essas mulheres como esposas.
89:8.1 (982.5) A redenção por meio do sacrifício e a prostituição nos templos, na realidade, foram modificações do sacrifício humano. Em seguida veio o simulacro do sacrifício das filhas. Essa cerimônia consistia em uma sangria, com a dedicação de virgindade vitalícia, e foi uma reação moral à antiga prostituição nos templos. Em tempos mais recentes as virgens dedicavam-se ao serviço de manter os fogos sagrados dos templos.
89:8.2 (982.6) Os homens finalmente conceberam a idéia de que oferecer alguma parte do corpo poderia tomar o lugar do antigo e completo sacrifício humano. A mutilação física era também considerada como uma substituta aceitável. Cabelos, unhas, sangue e até mesmo os dedos de mãos e pés eram sacrificados. O rito posterior, mas também antigo e quase universal, da circuncisão, foi uma conseqüência do culto do sacrifício parcial; acontecia puramente por sacrifício, nenhum pensamento de higiene era ligado a ele. Os homens eram circuncidados; as mulheres tinham as suas orelhas furadas.
89:8.3 (983.1) Ulteriormente tornou-se costume atar os dedos em vez de cortá-los. Raspar a cabeça, ou cortar o cabelo também foi uma forma de devoção religiosa. Fazer eunucos, a princípio, foi uma modificação da idéia do sacrifício humano. Furar nariz e lábios ainda é coisa praticada na África, e as tatuagens são uma evolução artística da cicatrização primitiva e crua do corpo.
89:8.4 (983.2) O costume do sacrifício finalmente tornou-se associado, como resultado dos ensinamentos em avanço, à idéia da aliança. Afinal, concebia-se que os deuses estavam entrando em acordos reais com o homem; e isso foi um grande passo na estabilização da religião. A lei ou aliança toma o lugar da sorte, do medo e da superstição.
89:8.5 (983.3) O homem não poderia sequer sonhar em celebrar contratos com a Deidade, antes que o seu conceito de Deus tivesse avançado até o nível em que os controladores do universo fossem considerados confiáveis. E a idéia primitiva que o homem fazia de Deus era tão antropomórfica que ele tornou-se incapaz de conceber uma Deidade confiável até que tivesse, ele próprio, tornado-se relativamente confiável, moral e eticamente.
89:8.6 (983.4) Mas a idéia de celebrar uma aliança com os deuses finalmente passou a existir. O homem evolucionário finalmente adquiriu uma dignidade moral tal que o fez atrever-se a barganhar com os seus deuses. E assim o tráfico de oferendas de sacrifícios gradualmente desenvolveu-se, chegando ao jogo da barganha filosófica do homem com Deus. E tudo isso representou um novo recurso para fazer o seguro contra a má sorte ou, antes, uma técnica aperfeiçoada para adquirir a prosperidade de modo mais definido. Não deveis nutrir a idéia errônea de que os sacrifícios primitivos tivessem sido uma dádiva livre e gratuita aos deuses, uma oferenda espontânea de gratidão ou agradecimento; não, não eram a expressão da verdadeira adoração.
89:8.7 (983.5) As formas primitivas de oração nada mais eram do que barganhas com os espíritos, um jogo de argumentos com os deuses. Era uma espécie de permuta, na qual pleito e persuasão foram substituídos por algo mais tangível e precioso. O comércio em desenvolvimento entre as raças havia inculcado o espírito da troca e desenvolvido a astúcia da permuta; e agora esses aspectos começavam a aparecer nos métodos de cultos realizados pelo homem. E, como alguns homens eram melhores negociantes que outros, desse modo alguns eram considerados melhores rezadores do que outros. A prece de um homem justo era tida em alta estima. Um homem justo era aquele que havia pagado todas as suas contas aos espíritos, que se tinha desincumbido plenamente de toda obrigação ritual para com os deuses.
89:8.8 (983.6) A prece primitiva não era adoração; era uma petição em forma de barganha para conseguir-se saúde, riqueza e vida. E, em muitos aspectos, as preces não têm mudado muito com o passar das idades. Ainda são lidas em livros, recitadas formalmente e escritas para serem colocadas nas rodas ou para serem dependuradas nas árvores, onde o soprar dos ventos irá poupar ao homem o trabalho de gastar o próprio alento.
89:9.1 (983.7) O sacrifício humano, ao longo do curso da evolução dos rituais urantianos, tem avançado das manifestações sangrentas do canibalismo até níveis mais elevados e simbólicos. Os rituais primitivos de sacrifícios deram origem às cerimônias posteriores do sacramento. Em épocas mais recentes apenas o sacerdote compartilharia de um pequeno pedaço do sacrifício canibalesco ou de uma gota do sangue humano, e então todos comeriam do animal substituto. Essas idéias primitivas sobre o resgate, redenção e alianças têm evoluído, chegando aos serviços dos sacramentos recentes. E toda essa evolução do cerimonial tem exercido uma influência poderosamente socializadora.
89:9.2 (984.1) Durante o culto da Mãe de Deus, no México e em outros lugares, bolos e vinho foram utilizados finalmente como sacramentos em lugar da carne e do sangue dos antigos sacrifícios humanos. Os hebreus praticaram esse ritual durante muito tempo como parte das suas cerimônias de Páscoa; e foi esse cerimonial que posteriormente deu origem à versão cristã desse tipo de sacramento.
89:9.3 (984.2) As antigas fraternidades sociais eram baseadas no rito de se beber sangue; a fraternidade judaica primitiva era uma questão de sacrifício de sangue. Paulo começou a construir um novo culto cristão no “sangue da aliança eterna”. E, conquanto possa ele haver sobrecarregado desnecessariamente a cristandade com ensinamentos sobre sangue e sacrifício, de uma vez por todas, colocou um fim às doutrinas da redenção por intermédio de sacrifícios humanos ou animais. As concessões teológicas feitas por Paulo indicam que mesmo a revelação deve submeter-se ao controle gradativo da evolução. Segundo Paulo, Cristo fez o sacrifício último, e totalmente suficiente por si; o Juiz divino está, agora, e para sempre, plenamente satisfeito.
89:9.4 (984.3) E assim, após longas idades, o culto do sacrifício evoluiu até o culto do sacramento. Assim, os sacramentos das religiões modernas são os sucessores legítimos das cerimônias primitivas chocantes de sacrifício humano e dos ainda mais primitivos rituais canibalescos. Muitos ainda contam depender do sangue para a salvação, mas isso se tornou, ao menos, figurativo, simbólico e místico.
89:10.1 (984.4) O homem da antiguidade apenas alcançou a consciência do favorecimento de Deus por meio do sacrifício. O homem moderno deve desenvolver novas técnicas para alcançar a autoconsciência da salvação. A consciência do pecado perdura na mente dos mortais, mas os padrões dos seus pensamentos sobre a salvação desse pecado entraram em desuso e tornaram-se antiquados. A realidade da necessidade espiritual subsiste, mas o progresso intelectual destruiu os métodos antigos de assegurar paz e consolo á mente e à alma.
89:10.2 (984.5) O pecado deve ser redefinido como uma deslealdade deliberada para com a Deidade. E há graus de deslealdade: a lealdade parcial da indecisão; a lealdade dividida do conflito; a lealdade moribunda da indiferença; e a morte da lealdade demonstrada pela devoção a ideais sem Deus.
89:10.3 (984.6) O sentido ou o sentimento de culpa vem da consciência de haver-se violado os costumes; o que não é necessariamente um pecado. Não há pecado verdadeiro quando há a ausência de deslealdade consciente à Deidade.
89:10.4 (984.7) A possibilidade de reconhecimento do sentido de culpa é um sinal de distinção transcendental para a humanidade. Ela não marca o homem como um meio, mas, antes, coloca-o em separado como uma criatura de grandeza potencial e glória sempre-ascendente. Um tal sentido de indignidade é o estímulo inicial que deveria levar rápida e seguramente àquela conquista da fé que translada a mente mortal aos níveis magníficos de nobreza moral, discernimento cósmico e viver espiritual; e assim todos os significados da existência humana mudam do temporal para o eterno, e todos os valores elevam-se do humano para o divino.
89:10.5 (984.8) A confissão do pecado é um repúdio corajoso à deslealdade, mas de nenhum modo mitiga as conseqüências no espaço-tempo de tal deslealdade. Mas a confissão — o reconhecimento sincero da natureza do pecado — é essencial ao crescimento religioso e ao progresso espiritual.
89:10.6 (985.1) O perdão do pecado, da parte da Deidade, é a renovação das relações de lealdade, a qual vem em seguida àquele período em que a consciência humana teve um lapso nas suas relações de fidelidade por conseqüência da rebelião consciente. O perdão não tem de ser buscado, apenas recebido, como a consciência do restabelecimento das relações de lealdade entre a criatura e o Criador. E todos os filhos leais de Deus são felizes, amantes do serviço e sempre progridem na ascensão ao Paraíso.
89:10.7 (985.2) [Apresentado por um Brilhante Estrela Vespertino de Nébadon.]
O Livro de Urântia
Documento 90
90:0.1 (986.1) A EVOLUÇÃO das observâncias religiosas progrediu do aplacamento, restrição, exorcismo, coerção, conciliação e propiciação até o sacrifício, expiação e redenção. A técnica do ritual religioso passou das formas primitivas de culto aos fetiches até a magia e os milagres; e, à medida que o ritual se tornou mais intrincado, para responder ao conceito cada vez mais complexo que o homem fazia dos reinos supranaturais, ele ficou inevitavelmente dominado pelos curandeiros, xamãs e sacerdotes.
90:0.2 (986.2) Com o progresso dos conceitos do homem primitivo, o mundo espiritual acabou por ser considerado como não sendo sensível aos mortais comuns. Apenas os seres excepcionais, dentre os humanos, podiam chegar ao ouvido dos deuses; apenas os homens e as mulheres extraordinárias poderiam ser ouvidos pelos espíritos. A religião, assim, entra em uma nova fase, um estágio em que ela gradativamente passa às mãos dos intermediários; sempre um curandeiro, um xamã ou um sacerdote interpõe-se entre o religioso e o objeto da sua adoração. E, hoje, a maioria dos sistemas de crenças religiosas organizadas em Urântia está passando por esse nível de desenvolvimento evolucionário.
90:0.3 (986.3) A religião evolucionária nasce de um medo simples e todo-poderoso, o medo que surge na mente humana quando ela se confronta com o desconhecido, o inexplicável e o incompreensível. A religião finalmente alcança a compreensão profundamente simples de um amor todo-poderoso, o amor que invade a alma humana de um modo irresistível, quando ela desperta para a concepção da afeição ilimitada do Pai Universal pelos filhos do universo. Todavia, entre o começo e a consumação da evolução religiosa, interpõe-se a longa era dos xamãs, os quais presumem colocar-se entre o homem e Deus como intermediários, intérpretes e intercessores.
90:1.1 (986.4) O xamã era o curandeiro mais eminente, o homem fetiche das cerimônias e a personalidade foco de todas as práticas da religião evolucionária. Em muitos grupos, o xamã chegou a ser superior ao chefe guerreiro, assinalando o começo da dominação da igreja sobre o estado. O xamã algumas vezes funcionava como um sacerdote e mesmo como um rei-sacerdote. Algumas das tribos mais recentes possuíam ambos, os primitivos xamãs-curandeiros (videntes) e os xamãs-sacerdotes, que surgiram posteriormente. E, em muitos casos, o ofício do xamã tornou-se hereditário.
90:1.2 (986.5) Uma vez que nos tempos antigos qualquer coisa de anormal era atribuída à possessão de espíritos, qualquer anormalidade notável, mental ou física, constituía uma qualificação para ser curandeiro. Muitos desses homens eram epilépticos e histéricas as mulheres, e esses dois tipos justificam uma boa parte do que se tem como a inspiração antiga, tanto quanto as possessões de espíritos e demônios. Dentre esses sacerdotes primitivos, não eram poucos os que pertenciam a uma classe que tem sido denominada como paranóica.
90:1.3 (987.1) Embora possa haver exercido práticas fraudulentas em questões menores, a grande maioria dos xamãs acreditava no fato da própria possessão espiritual. Mulheres que eram capazes de se lançar em um transe, ou em um ataque cataléptico, tornaram-se xamãs poderosas; mais tarde, tais mulheres tornaram-se profetas e médiuns espirituais. Os seus transes catalépticos usualmente envolviam as pretensas comunicações com os espectros ou fantasmas dos mortos. Muitas xamãs eram também dançarinas profissionais.
90:1.4 (987.2) Contudo, nem todos os xamãs se auto-iludiam; muitos eram trapaceiros astutos e sagazes. Com o desenvolvimento da profissão, exigia-se que um noviço servisse como aprendiz, durante dez anos de provações severas e de renúncia, para qualificar-se como curandeiro. Os xamãs desenvolveram um modo de vestir próprio e simulavam uma conduta misterioso-afetada. Freqüentemente, empregavam drogas para induzir certos estados físicos que impressionavam e mistificavam os companheiros da tribo. Truques de prestidigitadores eram considerados como sobrenaturais pela gente comum, e alguns sacerdotes astutos foram os primeiros a usar a ventriloquia. Muitos dos antigos xamãs inadvertidamente caíram no hipnotismo; outros induziam a auto-hipnose, por meio de olhar fixamente o próprio umbigo.
90:1.5 (987.3) Conquanto muitos deles recorressem a esses truques e fraudes, a sua reputação como uma classe, afinal, teve um êxito aparente. Quando um xamã falhava nos seus trabalhos, se ele não pudesse apresentar uma desculpa plausível, ou ele era rebaixado ou matavam-no. Assim os xamãs honestos pereciam logo; apenas os atores astutos sobreviviam.
90:1.6 (987.4) Foi o xamanismo que tomou o comando exclusivo dos assuntos tribais das mãos dos mais velhos e fortes, entregando-o nas mãos dos astutos, dos espertos e dos perspicazes.
90:2.1 (987.5) A conjuração de espíritos era um procedimento muito preciso e altamente complicado, comparável aos rituais das igrejas de hoje conduzidos em uma língua antiga. A raça humana muito cedo buscou a ajuda supra-humana para a revelação; e os homens acreditavam que os xamãs recebiam de fato tais revelações. Se bem que os xamãs utilizassem o grande poder da sugestão no seu trabalho, era quase que invariavelmente sugestão negativa; apenas em tempos muito recentes, a técnica de sugestão positiva tem sido empregada. No desenvolvimento inicial da sua profissão, os xamãs começaram a especializar-se em vocações tais como fazer chover, curar doenças e desvendar crimes. Curar as doenças não era, contudo, a função principal de um curandeiro xamanista, e sim conhecer e controlar os riscos da vida.
90:2.2 (987.6) A magia negra antiga, tanto a religiosa quanto a secular, era chamada de magia branca quando praticada por sacerdotes, videntes, xamãs ou curandeiros. Os praticantes da magia negra eram chamados de feiticeiros, magos, bruxos e bruxas, encantadores, necromantes, conjuradores e adivinhos. Com o passar dos tempos, todos esses supostos contatos com o sobrenatural foram classificados de bruxaria ou xamanismo.
90:2.3 (987.7) A bruxaria abrangia a magia executada pelos espíritos mais primitivos, irregulares e não reconhecidos; o xamanismo tinha a ver com os milagres realizados pelos espíritos comuns e pelos deuses reconhecidos da tribo. Nos tempos posteriores, as bruxas tornaram-se associadas ao demônio, e assim o cenário ficou pronto para as tantas exibições relativamente recentes de intolerância religiosa. A bruxaria era uma religião para muitas tribos primitivas.
90:2.4 (987.8) Os xamãs eram grandes crentes na missão do acaso como revelador da vontade dos espíritos; eles freqüentemente tiravam a sorte para tomar decisões. Os resíduos modernos dessa propensão para tirar a sorte são ilustrados, não apenas nos muitos jogos de azar, mas também nas bem conhecidas rimas de “eliminação”. Houve época em que a pessoa sorteada por eliminação devia morrer; agora, apenas em alguns jogos infantis isso acontece. Aquilo que era um assunto sério, para o homem primitivo, sobreviveu como uma diversão da criança moderna.
90:2.5 (988.1) Os curandeiros depositavam uma grande confiança nos sinais e presságios, tais como: “Quando ouvires um som de sussurro vindo do topo das amoreiras, então trata de agir”. Muito cedo, na história da raça, os xamãs voltaram a sua atenção para as estrelas. A astrologia primitiva foi uma crença e uma prática mundial; a interpretação de sonhos também se tornou difundida. Tudo isso foi logo seguido do aparecimento das mulheres xamãs temperamentais, as quais professavam serem capazes de comunicar-se com os espíritos dos mortos.
90:2.6 (988.2) Embora de origem antiga, os xamãs que traziam as chuvas, ou xamãs do tempo, perduraram através das idades. Uma seca severa significava a morte para os agricultores primitivos; o controle do tempo foi o objetivo de muita magia antiga. O homem civilizado ainda faz do tempo um tópico usual para a conversa. Os povos antigos todos acreditavam no poder do xamã de trazer a chuva; mas era costumeiro matá-lo quando ele fracassava, a menos que pudesse apresentar uma desculpa plausível à qual atribuir o fracasso.
90:2.7 (988.3) Várias vezes, os césares baniram os astrólogos, mas eles voltavam invariavelmente por causa da crença popular nos seus poderes. Eles não podiam ser expulsos, e até mesmo no século dezesseis depois de Cristo os dirigentes das igrejas e dos estados do Ocidente foram patronos da astrologia. Milhares de pessoas supostamente inteligentes ainda acreditam que uma pessoa pode nascer sob a regência de uma estrela de boa ou de má sorte; que a justaposição dos corpos celestes determina o resultado de várias aventuras terrenas. Os cartomantes ainda estão sendo freqüentados pelos crédulos.
90:2.8 (988.4) Os gregos acreditavam na eficácia do aconselhamento dos oráculos, os chineses usavam a magia como proteção contra os demônios; o xamanismo floresceu na Índia e. ainda, perdurou abertamente na Ásia Central. É uma prática apenas recentemente abandonada em boa parte do mundo.
90:2.9 (988.5) De tempos em tempos, profetas e instrutores verdadeiros surgiram que denunciaram e desmascararam o xamanismo. Mesmo o homem vermelho em via de extinção teve um profeta assim nos últimos cem anos, Shawnee Tenskwatawa, que previu o eclipse do sol em 1808 e que denunciou os vícios do homem branco. Muitos verdadeiros instrutores têm surgido entre as várias tribos e raças em todas as longas idades da história evolucionária. E eles continuarão a aparecer para desafiar os xamãs ou os sacerdotes de qualquer época que se oponham à educação geral e que tentem criar obstáculos ao progresso científico.
90:2.10 (988.6) De muitas maneiras e por métodos tortuosos, os antigos xamãs estabeleceram as suas reputações como vozes de Deus e custódios da providência. Eles aspergiam os recém-nascidos com água, conferiam nomes a eles e praticavam a circuncisão nos homens. Eles presidiam a todas as cerimônias de sepultamento e faziam o anúncio devido da chegada, a salvo, dos mortos à terra dos espíritos.
90:2.11 (988.7) Os sacerdotes xamanistas e os curandeiros freqüentemente tornavam-se muito ricos com o acúmulo dos seus vários honorários, que eram, segundo alegavam, oferendas aos espíritos. Não raro, um xamã acumulava praticamente toda a riqueza material da sua tribo. Com a morte de um homem rico, era costumeiro dividir as suas propriedades igualmente entre o xamã e alguma empresa pública ou de caridade. Essa prática ainda perdura em algumas partes do Tibete, onde metade da população masculina pertence a essa classe não produtiva.
90:2.12 (989.1) Os xamãs vestiam-se bem e costumavam ter várias esposas; eram a aristocracia original, ficando isentos de todas as restrições tribais. Freqüentemente, eram de baixa condição mental e moral. Eliminavam os seus rivais, denominando-os bruxos e feiticeiros, e muito freqüentemente ascendiam a uma posição de tanta influência e poder que eram capazes de dominar os chefes ou os reis.
90:2.13 (989.2) O homem primitivo considerava o xamã como um mal necessário; ele temia-o, mas não gostava dele. O homem primitivo respeitava o conhecimento; ele honrava e recompensava a sabedoria. O xamã era sobretudo uma fraude, mas a veneração pelo xamanismo ilustra bem o valor conferido à sabedoria na evolução da raça.
90:3.1 (989.3) Posto que o homem antigo considerava a si próprio e ao meio ambiente material como sendo diretamente responsáveis pelos caprichos dos fantasmas e das fantasias dos espíritos, não é estranho que a sua religião deva ter estado assim tão exclusivamente preocupada com questões materiais. O homem moderno enfrenta os seus problemas materiais diretamente; ele reconhece que a matéria responde à manipulação inteligente da mente. O homem primitivo, do mesmo modo, desejava modificar e mesmo controlar a vida e as energias dos domínios físicos; e, posto que a sua compreensão limitada do cosmo levou-o à crença de que os fantasmas, espíritos e deuses, pessoal e imediatamente, envolviam-se no controle detalhado da vida e da matéria, ele logicamente dirigiu os seus esforços para conquistar o favorecimento e o apoio desses agentes supra-humanos.
90:3.2 (989.4) Vista sob essa luz, grande parte daquilo que é inexplicável e irracional nos cultos antigos é compreensível. As cerimônias dos cultos eram uma tentativa primitiva do homem para controlar o mundo material no qual ele se encontrava. E grande parte dos seus esforços era feita no sentido de prolongar a vida e assegurar a saúde. Já que as doenças e a própria morte eram originalmente encaradas como fenômenos espirituais, era inevitável que os xamãs, funcionando como curandeiros e sacerdotes, devessem também ter atuado como médicos e cirurgiões.
90:3.3 (989.5) A mente primitiva pode ser limitada por falta de dados comprovados, mas a despeito de tudo permanece lógica. Quando alguém que pensa observa a doença e a morte, ele propõe-se a determinar as causas dessas aflições e, de acordo com a sua compreensão, os xamãs e os cientistas têm proposto as seguintes teorias sobre as aflições:
90:3.4 (989.6) 1. Os fantasmas — as influências espirituais diretas. A primeiríssima hipótese avançada para a explicação da doença e da morte era que os espíritos causassem a doença retirando a alma do corpo; se ela não retornasse, seguia-se a morte. Os antigos temiam tanto a ação malévola dos fantasmas que geravam as doenças, que eles abandonavam freqüentemente os indivíduos doentes até mesmo sem comida e água. A despeito da base errônea para essas crenças, eles isolavam efetivamente os indivíduos afligidos e impediam que as doenças contagiosas se espalhassem.
90:3.5 (989.7) 2. A violência — causas óbvias. As causas de alguns acidentes e mortes eram tão fáceis de serem identificadas que foram logo retiradas da categoria das ações dos fantasmas. As fatalidades e os ferimentos conseqüentes da guerra, de combate com animais e outras formas prontamente identificáveis eram consideradas como ocorrências naturais. Durante muito tempo, porém, acreditou-se que os espíritos eram ainda responsáveis pelo retardamento da cura ou pela infecção das feridas, ainda que “naturais” pela sua causa. Se nenhum agente observável pudesse ser descoberto, os espíritos fantasmas eram ainda responsabilizados pela doença e pela morte.
90:3.6 (990.1) Hoje, na África e em outros locais, podem ser encontrados povos primitivos que matam alguém sempre que uma morte não violenta acontece. Os seus curandeiros indicam-lhes os culpados. Se uma mãe morre ao dar a luz, a criança é imediatamente estrangulada — uma vida por uma vida.
90:3.7 (990.2) 3. A magia — a influência dos inimigos. Achava-se que muitas doenças eram causadas por feitiço, a ação do mau olhado e da varinha mágica. No passado, era realmente perigoso apontar um dedo para qualquer pessoa; apontar ainda é considerado como maus modos. Nos casos de doença obscura e de morte, os antigos costumavam realizar um inquérito formal, dissecar o corpo e apontar alguma coisa achada como a causa da morte; de outro modo, a morte seria atribuída à bruxaria, havendo, assim, a necessidade da execução da bruxa responsável por ela. Esses inquéritos dos antigos médicos legistas salvavam as vidas de muitas supostas bruxas. Entre alguns, acreditava-se que um companheiro de tribo poderia morrer em conseqüência da própria bruxaria e, nesse caso, ninguém seria acusado.
90:3.8 (990.3) 4. O pecado — a punição pela violação de um tabu. Em épocas relativamente recentes, acreditava-se que a doença fosse uma punição para o pecado, pessoal ou racial. Entre os povos que passavam por esse nível de evolução, a teoria que prevalecia era a de que ninguém poderia ser afligido, a menos que tivesse violado um tabu. Considerar a doença e o sofrimento como “flechas do Todo-Poderoso dentro de si” é típico dessas crendices. Os chineses e os mesopotâmios, durante muito tempo, consideraram a doença como resultado da ação de demônios maus, embora os caldeus também considerassem as estrelas como sendo a causa de sofrimentos. Essa teoria da doença como conseqüência da ira divina ainda prevalece entre muitos grupos de urantianos com reputação de civilizados.
90:3.9 (990.4) 5. As causas naturais. A humanidade tem sido muito lenta em aprender os segredos materiais das inter-relações de causa e de efeito nos domínios físicos da energia, da matéria e da vida. Os gregos antigos, havendo preservado as tradições dos ensinamentos de Adamson, estavam entre os primeiros a reconhecer que toda doença resulta de causas naturais. Lenta e certamente, o desabrochar de uma era científica está destruindo as teorias antigas do homem sobre a doença e a morte. A febre foi uma das primeiras indisposições humanas a serem retiradas da categoria das desordens sobrenaturais e, progressivamente, a era da ciência tem rompido as algemas da ignorância que por tanto tempo aprisionaram a mente humana. Uma compreensão da velhice e do contágio está obliterando gradualmente o medo humano dos fantasmas, de espíritos e de deuses como os perpetradores pessoais da miséria humana e do sofrimento mortal.
90:3.10 (990.5) A evolução infalivelmente alcança os seus objetivos: ela imbui o homem daquele medo supersticioso do desconhecido e do receio do não visível, e estes são andaimes na construção do conceito de Deus. E, havendo testemunhado o nascimento de uma compreensão avançada da Deidade, por meio da ação coordenada da revelação, essa mesma técnica de evolução infalivelmente coloca, então, em movimento, aquelas forças do pensamento que irão destruir inexoravelmente o andaime que já serviu ao seu propósito.
90:4.1 (990.6) Toda a vida dos homens antigos tinha o seu centro na profilaxia; a sua religião era, em uma grande medida, uma técnica para a prevenção das doenças. E a despeito do erro nas suas teorias, eles eram sinceros ao colocá-las em prática; eles tinham uma fé ilimitada nos próprios métodos de tratamento e isso era já, por si mesmo, um poderoso remédio.
90:4.2 (991.1) A fé exigida para que alguém se restabelecesse, sob as ministrações estúpidas de um desses antigos xamãs, não era, afinal, significativamente diferente daquela que é exigida para experimentar-se a cura nas mãos de algum dos seus mais recentes sucessores, que se empenham em tratamentos não científicos de doenças.
90:4.3 (991.2) As tribos mais primitivas temiam os doentes e, durante longas eras, eles foram cuidadosamente evitados e vergonhosamente negligenciados. Foi um grande avanço humanitário quando a evolução da arte do xamanismo produziu sacerdotes e curandeiros que consentiam no tratamento das doenças. Então, tornou-se costumeiro para todo o clã acotovelar-se na sala dos doentes para assistir ao xamã bramindo para expulsar os fantasmas da doença. Não era incomum que uma mulher xamã fizesse o diagnóstico, enquanto um homem administrava o tratamento. O método comum de diagnosticar a doença era baseado no exame das entranhas de um animal.
90:4.4 (991.3) A doença era tratada com cantos, bramidos, imposição de mãos, soprando-se no paciente e por meio de muitas outras técnicas. Em tempos mais recentes, ficou mais comum recorrer-se ao sono nos templos, durante o qual a cura supostamente ocorria. Os curandeiros finalmente tentaram a cirurgia real, em conjunto com o sono no templo; entre as primeiras operações, estava a da trepanação da cabeça, para permitir ao espírito da dor de cabeça escapar. Os xamãs aprenderam a tratar das fraturas e dos deslocamentos, a abrir furúnculos e abscessos; as mulheres xamãs tornaram-se parteiras peritas.
90:4.5 (991.4) Era um método comum de tratamento friccionar alguma coisa mágica em um local infectado ou defeituoso do corpo, jogar o amuleto fora e supor-se que tinha havido uma cura. Se alguém por acaso apanhasse o amuleto jogado fora, acreditava-se que essa pessoa iria imediatamente contrair a infecção ou o defeito. Muito tempo passou-se até que as ervas e outros medicamentos reais fossem introduzidos. A massagem foi desenvolvida em ligação com os encantamentos, friccionando para que o espírito saísse do corpo, e era precedida de esforços para introduzir o medicamento friccionando-o, do mesmo modo que os homens modernos tentam friccionar os linimentos. Acreditava-se que as ventosas e a sucção das partes afetadas, junto com as sangrias, fossem de valia para livrar-se de um espírito que produzia a doença.
90:4.6 (991.5) Já que a água era um fetiche poderoso, era utilizada no tratamento de muitos males. Durante muito tempo, acreditou-se que o espírito que causa a doença poderia ser eliminado pelo suor. Banhos de vapor eram tidos em alta conta; as fontes naturais de água quente logo floresceram como estâncias primitivas de cura. O homem primitivo descobriu que o calor aliviava a dor; ele usava a luz do sol, órgãos de animais recém-abatidos, argila quente e pedras quentes, e muitos desses métodos ainda são empregados. O ritmo era praticado no esforço de influenciar os espíritos; as batidas tom-tom eram universais.
90:4.7 (991.6) Entre alguns povos, julgava-se que a doença fosse causada por uma conspiração maldosa entre os espíritos e os animais. Isso deu origem à crença de que existia uma planta benéfica como remédio para todas as doenças cuja causa fosse animal. Os homens vermelhos eram especialmente devotados à teoria de que as plantas fossem remédios universais; eles sempre colocavam uma gota de sangue no buraco deixado pela raiz, quando a planta era arrancada.
90:4.8 (991.7) O jejum, a dieta e os revulsivos eram usados freqüentemente como medidas medicamentosas. As secreções humanas, sendo definitivamente mágicas, eram tidas como sendo de alto valor; o sangue e a urina estavam assim entre os primeiros remédios e foram logo potencializados pelas raízes e os mais vários sais. Os xamãs acreditavam que os espíritos das doenças podiam ser retirados do corpo por meio de medicamentos malcheirosos e de gosto ruim. A purgação logo se tornou um tratamento de rotina, e os valores do cacau e do quinino crus estavam entre as primeiras descobertas farmacêuticas.
90:4.9 (992.1) Os gregos foram os primeiros a desenvolver métodos realmente racionais de tratamento dos doentes. Tanto os gregos quanto os egípcios receberam os seus conhecimentos médicos do vale do Eufrates. O óleo e o vinho eram medicamentos muito antigos para o tratamento de feridas; o óleo de castor e o ópio eram usados pelos sumérios. Muitos desses remédios secretos antigos e eficazes perderam o poder quando se tornaram conhecidos; o segredo tem sempre sido essencial ao êxito da prática da fraude e da superstição. Apenas os fatos e a verdade buscam a luz plena da compreensão e rejubilam-se na iluminação e esclarecimento trazidos pela pesquisa científica.
90:5.1 (992.2) A essência do ritual está na perfeição da sua execução; entre os selvagens, deve ser praticado com uma profunda precisão. A cerimônia só tem poder para convencer os espíritos se ela houver sido celebrada com correção. Se o ritual é deficiente, ele apenas provoca a raiva e o ressentimento dos deuses. E por isso, posto que a mente do homem, na sua lenta evolução, concebeu que a técnica do ritual era o fator decisivo para a sua eficácia, foi inevitável que os xamãs primitivos devessem, mais cedo ou mais tarde, evoluir até um sacerdócio treinado, para dirigir a prática meticulosa do ritual. E, assim, durante dezenas de milhares de anos, rituais intermináveis estorvaram a sociedade e maldisseram a civilização, e têm sido um peso intolerável para cada ato de vida, para cada empreendimento da raça.
90:5.2 (992.3) O ritual é a técnica de santificação do costume; o ritual cria e perpetua os mitos, bem como contribui para a preservação dos costumes sociais e religiosos. E, novamente, o ritual, em si, tem sido engendrado pelos mitos. Os rituais foram freqüentemente sociais a princípio, mas mais tarde tornaram-se econômicos e finalmente adquiriram a santidade e a dignidade de cerimoniais religiosos. O ritual pode ser pessoal ou grupal pela sua prática — ou ambos — como ilustrado pela prece, a dança e a dramatização.
90:5.3 (992.4) As palavras tornam-se uma parte do ritual, como o uso de termos como amém e selá. O hábito de jurar por motivos fúteis, a blasfêmia, representa uma prostituição da repetição ritual anterior de nomes sagrados. Fazer peregrinações a santuários sagrados é um ritual muito antigo. O ritual, em seguida, cresceu, dando origem às cerimônias de purificação, de limpeza e de santificação. As cerimônias de iniciação ao segredo tribal das sociedades primitivas eram, na realidade, um rito religioso tosco. A técnica de adoração dos antigos cultos dos mistérios era apenas uma longa execução de rituais religiosos acumulados. O ritual, finalmente, desenvolveu-se nos tipos modernos de cerimoniais sociais e de cultos religiosos, serviços que abrangem prece, canto, a leitura estimulante e outras devoções espirituais individuais e grupais.
90:5.4 (992.5) Os sacerdotes evoluíram dos xamãs, passando pelos estágios de oráculos, adivinhadores, cantores, dançarinos, mandachuvas, guardiães de relíquias religiosas, custódios de templos e prognosticadores de acontecimentos, até o status de dirigentes verdadeiros do culto religioso. Finalmente, o ofício tornou-se hereditário; uma casta contínua de sacerdotes surgiu.
90:5.5 (992.6) Com a evolução da religião, os sacerdotes começaram a especializar-se de acordo com os seus talentos inatos ou predileções especiais. Alguns se tornaram cantores, outros rezadores e outros, ainda, sacrificadores; mais tarde, vieram os oradores — os pregadores. E, quando a religião se tornou institucionalizada, esses sacerdotes reivindicaram “a guarda das chaves do céu”.
90:5.6 (992.7) Os sacerdotes têm buscado sempre causar impressão, respeito e temor na gente comum, conduzindo o ritual religioso em uma língua antiga, e por meio de diversos passes mágicos, para assim mistificar os adoradores, aumentando a sua própria piedade e autoridade. O grande perigo de tudo isso é que o ritual tende a tornar-se um substituto da religião.
90:5.7 (993.1) Os sacerdócios têm feito muito para retardar o desenvolvimento científico e para estorvar o progresso espiritual, mas eles têm contribuído para a estabilização da civilização e para o engrandecimento de alguns tipos de cultura. Contudo, muitos sacerdotes modernos têm cessado de funcionar como dirigentes do ritual de adoração a Deus, tendo voltado a sua atenção para a teologia — a tentativa de definir Deus.
90:5.8 (993.2) Não se pode negar que os sacerdotes têm sido um peso atado ao pescoço das raças, mas os verdadeiros líderes religiosos têm sido de um valor inestimável para mostrar o caminho para realidades mais elevadas e melhores.
90:5.9 (993.3) [Apresentado por um Melquisedeque de Nébadon.]
O Livro de Urântia
Documento 91
91:0.1 (994.1) A ORAÇÃO, como uma atividade da religião, evoluiu das expressões anteriores, não religiosas, do monólogo e do diálogo. Quando os homens primitivos atingiram a autoconsciência, adveio, como corolário inevitável da consciência do outro, o potencial dual de uma resposta social e de reconhecimento de Deus.
91:0.2 (994.2) As formas iniciais da oração não eram dirigidas à Deidade. Essas expressões eram muito parecidas com aquilo que vós diríeis a um amigo quando vos lançais em um empreendimento importante: “Deseja-me sorte”. O homem primitivo era escravizado pela magia; a sorte, boa e má, entrava em todos os assuntos da vida. A princípio, esses pedidos de sorte eram monólogos — apenas uma espécie de pensamento em voz alta, feito pelo servo da magia. Em seguida, esses crentes da sorte acrescentariam o apoio dos seus amigos e das suas famílias, e logo alguma forma de cerimônia era realizada de modo a incluir todo o clã ou toda a tribo.
91:0.3 (994.3) Quando os conceitos sobre os fantasmas e os espíritos evoluíram, esses pedidos passaram a ser dirigidos a entidades supra-humanas e, com a consciência dos deuses, essas expressões alcançaram os níveis da prece genuína. Como uma ilustração disso, entre certas tribos australianas, as preces religiosas primitivas antecederam às suas crenças nos espíritos e nas personalidades supra-humanas.
91:0.4 (994.4) Na Índia, uma tribo de nome Toda, atualmente, observa essa prática de não dirigir a prece a ninguém em particular, exatamente como o faziam os povos primitivos, antes dos tempos da consciência religiosa. Só que, entre a tribo Toda, isso representa uma regressão da sua religião, degenerada até esse nível primitivo. Os rituais recentes dos sacerdotes leiteiros dos todas não representam uma cerimônia religiosa, porque essas preces impessoais não contribuem em nada para a conservação, nem para o engrandecimento de quaisquer valores sociais, morais ou espirituais.
91:0.5 (994.5) A prece pré-religiosa era uma parte das práticas maná dos melanésios das crenças oudah, dos pigmeus africanos e das superstições manitou, dos índios norte-americanos. As tribos Baganda, da África, apenas recentemente emergiram do nível maná de prece. Nessa confusão evolucionária primitiva, os homens dirigiam as suas preces aos deuses — locais e nacionais — , aos fetiches, aos amuletos, aos fantasmas, aos governantes e às pessoas comuns.
91:1.1 (994.6) A função da religião evolucionária primitiva é conservar e ampliar os valores sociais, morais e espirituais essenciais que aos poucos vão tomando forma. Essa missão da religião não é conscientemente observada pela humanidade, mas é realizada, principalmente, pela função da oração. A prática da prece representa um esforço involuntário, no entanto pessoal e coletivo, de qualquer grupo para assegurar (para tornar real) essa conservação dos valores mais elevados. Todavia, não fora a salvaguarda proporcionada pela oração, todos os dias sagrados transformar-se-iam rapidamente em meros feriados.
91:1.2 (995.1) A religião e os seus atos, dos quais o principal é a oração, estão aliados apenas àqueles valores que têm reconhecimento social geral, e a aprovação do grupo. Portanto, quando o homem primitivo tentou gratificar as suas emoções mais basais, ou realizar as suas ambições não disfarçadamente egoístas, ele ficou privado do consolo da religião e da ajuda da oração. Quando o indivíduo buscava realizar qualquer coisa anti-social, ele via-se obrigado a buscar a ajuda da magia não religiosa, a recorrer a feiticeiros, ficando, assim, privado da assistência da prece. A oração, portanto, muito cedo se tornou uma poderosa promotora da evolução social, do progresso moral e da realização espiritual.
91:1.3 (995.2) Mas a mente primitiva não era nem lógica, nem coerente. Os primeiros homens não percebiam que as coisas materiais não eram do domínio da oração. Essas almas de mentes simples constataram que a comida, o abrigo, a chuva, a caça e outros bens materiais aumentavam o bem-estar social e, assim sendo, começaram a fazer preces para obter essas bênçãos materiais. Ainda que se constituísse em um desvirtuamento da oração, isso encorajava o esforço de realizar esses objetivos materiais por meio de ações sociais e éticas. Essa prostituição da oração, embora aviltasse os valores espirituais de um povo, não obstante elevava diretamente seus costumes econômicos, sociais e éticos.
91:1.4 (995.3) A prece é apenas um monólogo, para o tipo mais primitivo de mente. Muito cedo se transforma em um diálogo e rapidamente se expande ao nível do culto grupal. A prece significa que os encantamentos pré-mágicos da religião primitiva evoluíram até aquele nível no qual a mente humana reconhece a realidade dos poderes benéficos ou dos seres capazes de elevar os valores sociais e de ampliar os ideais morais e, mais ainda, significa que essas influências são supra-humanas e distintas do ego do ser humano autoconsciente e do ego dos seus semelhantes mortais. A oração verdadeira, portanto, não surge antes que a ação da ministração religiosa seja visualizada como pessoal.
91:1.5 (995.4) A prece tem pouca ligação com o animismo, mas essa crença — as formas da natureza tendo uma alma — pode existir paralelamente aos sentimentos religiosos que emergem. Muitas vezes, a religião e o animismo tiveram origens totalmente diversas.
91:1.6 (995.5) Para aqueles mortais que não se libertaram das algemas primitivas do medo, há o perigo real de que toda a prece possa levar a uma sensação mórbida de pecado, a convicções injustificadas de culpa, reais ou fantasiosas. Mas, nos tempos modernos, não é provável que tantos gastem tanto tempo em preces, a ponto de que isso os leve a reflexões nocivas sobre a própria indignidade ou culpabilidade. Os perigos que se relacionam à distorção e à deturpação da oração vêm mais da ignorância, da superstição, da cristalização, da desvitalização, do materialismo e do fanatismo.
91:2.1 (995.6) As primeiras preces eram meramente desejos verbalizados, uma expressão de desejos sinceros. Em seguida, a prece tornou-se uma técnica de obter a cooperação dos espíritos. E, então, atingiu uma função mais elevada, a de ajudar a religião na conservação de todos os valores dignos de serem preservados.
91:2.2 (995.7) As preces tanto quanto a magia surgiram como fruto das reações de ajustamento do homem ao meio ambiente urantiano. Mas, à parte essa relação generalizada, têm pouco em comum. A prece sempre indicou uma ação positiva da parte do ego que a pronuncia; tem sido sempre psíquica e algumas vezes espiritual. Via de regra, a magia tem significado uma tentativa de manipular a realidade, sem afetar o ego do manipulador, do executor da magia. Apesar das suas origens independentes, a magia e a prece têm sido freqüentemente inter-relacionadas nos seus estágios avançados de desenvolvimento. Partindo de fórmulas e passando por rituais e encantamentos, a magia elevou-se algumas vezes, chegando ao umbral da verdadeira prece. E a prece, algumas vezes, tem se tornado tão materialista que chegou a degenerar-se em uma técnica pseudomágica de evitar o uso dos esforços, os quais são os requisitos mesmos para a solução dos problemas urantianos.
91:2.3 (996.1) Quando o homem aprendeu que a prece não podia coagir os deuses, ela transformou-se mais em um pedido, em uma busca de favores. Mas a oração mais verdadeira é, na realidade, uma comunhão entre o homem e o seu Criador.
91:2.4 (996.2) O surgimento da idéia do sacrifício, em qualquer religião, diminui infalivelmente o alto potencial de eficácia da verdadeira prece; no sentido de que os homens substituem a oferenda da consagração da sua própria vontade de cumprir a vontade de Deus, pelas oferendas de posses materiais.
91:2.5 (996.3) Quando a religião está desprovida de um Deus pessoal, as preces transladam-se para os níveis da teologia e da filosofia. Quando o conceito mais elevado de Deus, em uma religião, é o de uma Deidade impessoal, como no idealismo panteísta, embora forneça a base para certas formas de comunhão mística, isso se tem demonstrado fatal à potência da oração verdadeira, que representa sempre a comunhão do homem com um ser pessoal e superior.
91:2.6 (996.4) Durante os tempos primitivos da evolução racial e até mesmo nos tempos presentes, na experiência cotidiana do mortal mediano, a prece é algo muito próximo do fenômeno do contato feito pelo homem com o seu próprio subconsciente. Mas há também um domínio da prece no qual o indivíduo, intelectualmente alerta e em progresso espiritual, alcança um contato maior ou menor com os níveis supraconscientes da mente humana, domínio esse que é do Ajustador do Pensamento residente. Além disso, há uma parte espiritual, definida na oração verdadeira, que está ligada à recepção e ao reconhecimento dessa oração, por parte das forças espirituais do universo, e que é inteiramente distinta de qualquer associação intelectual feita pelo ser humano.
91:2.7 (996.5) A oração contribui grandemente para o desenvolvimento do sentimento religioso de uma mente humana em evolução. É uma influência poderosa que opera impedindo o isolamento da personalidade.
91:2.8 (996.6) A prece representa uma técnica associada às religiões naturais da evolução da raça, e forma também uma parte dos valores experienciais das religiões mais elevadas em excelência ética, as religiões da revelação.
91:3.1 (996.7) As crianças, quando começam a aprender a fazer uso da linguagem, têm a propensão de pensar em voz alta, de expressar os seus pensamentos em palavras, mesmo quando não há ninguém por perto para ouvi-las. Com o alvorecer da imaginação criativa, elas evidenciam uma tendência de conversar com companheiros imaginários. Desse modo, um ego que se forma, busca manter a comunhão com um alterego fictício. Por meio dessa técnica, a criança aprende muito cedo a converter o seu monólogo em um diálogo fictício, no qual esse alterego responde ao seu pensamento verbal e à expressão dos seus desejos. Boa parte dos pensamentos dos adultos é mentalmente construída na forma de conversas.
91:3.2 (996.8) A forma primitiva de prece assemelhava-se muito às recitações semimágicas da tribo Toda, nos dias atuais, preces que não eram dirigidas a ninguém em particular. Mas tais técnicas de prece tendem a evoluir para o tipo de comunicação na forma de diálogo, pela emergência da idéia de um alterego. Com o tempo, o conceito do alterego alcança um status superior de dignidade divina e, então, a prece terá surgido como um ato de religião. Esse tipo primitivo de prece foi levado a evoluir, por intermédio de muitas fases, e durante longas idades, antes de atingir o nível da oração inteligente e verdadeiramente ética.
91:3.3 (997.1) Como é concebido pelas gerações sucessivas de mortais a fazer suas preces, o alterego evolui, passando pelos fantasmas, fetiches e espíritos, até os deuses politeístas, e, finalmente até o Deus Único, um ser divino que incorpora os ideais mais elevados e as aspirações mais sublimes do ego em prece. E, assim, a prece funciona como o agente mais poderoso da religião, na conservação dos valores e ideais mais elevados daqueles que oram. Desde o momento da concepção de um alterego até o aparecimento do conceito de um Pai divino e celeste, a prece é uma prática sempre socializadora, moralizadora e espiritualizadora.
91:3.4 (997.2) A simples prece da fé evidencia uma evolução poderosa na experiência humana, por meio da qual as conversações dos antigos com o símbolo fictício do alterego, da religião primitiva, tornaram-se elevadas até o nível da comunhão com o espírito do Infinito e até aquela consciência sincera da realidade do Deus eterno e do Pai, do Paraíso, de toda a criação inteligente.
91:3.5 (997.3) À parte tudo o que é o substrato supra-humano do eu, na experiência da oração, deveríamos lembrar-nos de que a prece feita com ética é um modo esplêndido de elevar o próprio ego e de reforçar o eu para uma vida melhor e para realizações mais elevadas. A prece induz o ego humano a buscar ajuda por ambos os modos: a ajuda material, pelo reservatório subconsciente da experiência mortal; e a ajuda da inspiração e do guiamento, às fronteiras supraconscientes do contato do material com o espiritual, provida pelo Monitor Misterioso.
91:3.6 (997.4) A prece tem sido e será sempre uma experiência humana dupla: um procedimento psicológico interassociado a uma técnica espiritual. E essas duas funções da prece não poderão nunca ser totalmente separadas.
91:3.7 (997.5) A prece iluminada deve reconhecer não apenas um Deus externo e pessoal, mas também uma Divindade interna e impessoal, o Ajustador residente. É inteiramente apropriado, quando faz uma prece, que o homem se esforce para captar o conceito do Pai Universal no Paraíso. Mas a técnica mais eficaz, para os propósitos mais práticos, será retornar ao conceito de um alterego próximo, exatamente como a mente primitiva tinha o hábito de fazer, e então reconhecer que a idéia desse alterego evoluiu de uma mera ficção até a verdade, que é Deus, residindo no homem mortal, por meio da presença factual do Ajustador, de um modo tal que o homem pode colocar-se face a face com Ele, como se fosse um alterego real, genuíno e divino, que reside nele e que é a própria presença e a essência do Deus vivo, o Pai Universal.
91:4.1 (997.6) Nenhuma prece pode ser ética quando o suplicante busca uma vantagem egoísta sobre os seus semelhantes. A prece egoísta e materialista é incompatível com as religiões éticas, que estão fundadas sobre o amor não-egoísta e divino. As preces desprovidas de ética retroagem até os níveis primitivos da pseudomagia e são indignas das civilizações avançadas e das religiões esclarecidas. A prece egoísta transgride o espírito de toda a ética baseada na justiça do amor.
91:4.2 (997.7) A prece nunca deve ser prostituída a ponto de tornar-se uma substituta para a ação. Toda prece dentro da ética é um estímulo à ação e um guia para os esforços progressivos na direção das metas idealistas de realização do supra-eu.
91:4.3 (998.1) Em todas as vossas preces sede equânimes; não espereis que Deus demonstre parcialidade, que ame a vós mais do que aos Seus outros filhos, vossos amigos, semelhantes e até mesmo inimigos. Mas a prece das religiões naturais, ou das religiões que evoluíram, a princípio não tem ética, como tem a oração nas religiões posteriores reveladas. Toda prece, individual ou comunitária, pode ser egoísta ou altruísta. Isto é, a prece pode estar centrada no eu ou nos outros. Quando a oração não busca nada para quem a faz nem para os seus semelhantes, então, tal atitude da alma tende para o nível da verdadeira adoração. As preces egoístas envolvem confissões e súplicas e, freqüentemente, consistem em pedidos de favores materiais. A prece torna-se um tanto mais ética quando lida com o perdão e busca a sabedoria para uma mestria mais elevada de si próprio.
91:4.4 (998.2) Enquanto o tipo não-egoísta de prece é fortalecedor e confortador, a prece materialista está fadada a desapontar e a desiludir, pois até mesmo as descobertas científicas avançadas demonstram que o homem vive em um universo físico de lei e de ordem. A infância de um indivíduo, ou de uma raça, é caracterizada pela prece primitiva, egoísta e materialista. E, em uma certa medida, todas as preces de pedidos são eficazes, no sentido de que invariavelmente conduzem aos esforços e ao exercício daquilo que contribuirá para a realização das respostas a essas preces. A prece verdadeira na fé contribui sempre para aumentar a técnica de viver, ainda que os pedidos não sejam dignos de um reconhecimento espiritual. A pessoa espiritualmente avançada, no entanto, deve ter um grande cuidado ao tentar desencorajar uma mente primária ou imatura a respeito desse tipo de prece.
91:4.5 (998.3) Lembrai-vos, pois, ainda que a prece não mude Deus, muito freqüentemente ela efetua grandes e perduráveis mudanças naquele que a realiza com fé e expectativa confiantes. A prece tem engendrado muita paz nas mentes e muita alegria, calma, coragem, mestria sobre si próprio e equanimidade mental nos homens e nas mulheres das raças em evolução.
91:5.1 (998.4) No culto aos ancestrais, a prece leva ao cultivo dos ideais ancestrais. Mas a prece, enquanto aspecto de adoração da Deidade, transcende todas as outras práticas dessa ordem, pois leva ao cultivo de ideais divinos. Assim como o conceito do alterego, na prece, torna-se supremo e divino; nessa mesma medida os ideais meramente humanos são elevados a níveis supernos e divinos, e o resultado de toda essa oração é, assim, uma elevação do caráter humano e uma unificação profunda da personalidade humana.
91:5.2 (998.5) A prece, contudo, não tem de ser sempre individual. A prece grupal ou congregacional é muito eficiente, pois é altamente socializante nas suas repercussões. Quando um grupo se empenha em uma prece comunitária para o enaltecimento moral e para a elevação espiritual, tais devoções atuam sobre os indivíduos que compõem o grupo e todos se tornam melhores em conseqüência da participação. Até mesmo toda uma cidade ou uma nação inteira podem ser ajudadas por tais preces devocionais. A confissão, o arrependimento e a prece têm conduzido indivíduos, cidades, nações e raças inteiras a esforços poderosos de reforma e até a atos corajosos para realizações de muito valor.
91:5.3 (998.6) Se vós realmente desejais vencer o hábito de criticar algum amigo, o meio mais rápido de realizar essa mudança de atitude é estabelecer o hábito de orar por essa pessoa a cada dia de vossa vida. Mas as repercussões sociais de tais preces dependem, sobretudo, de duas condições:
91:5.4 (998.7) 1. A pessoa por quem se faz a prece deve saber que se está orando por ela.
91:5.5 (999.1) 2. A pessoa que ora deve entrar em contato social íntimo com a pessoa por quem está orando.
91:5.6 (999.2) A prece é a técnica pela qual, mais cedo ou mais tarde, toda religião torna-se institucionalizada. E, com o tempo, a prece torna-se associada a inúmeras agências e agentes secundários, alguns que ajudam, e outros que são decididamente deletérios, tais como os sacerdotes, os livros sagrados, os rituais e cerimoniais de adoração.
91:5.7 (999.3) As mentes de maior iluminação espiritual devem, todavia, ser pacientes e tolerantes com os intelectos menos dotados, aqueles que ardentemente almejam um simbolismo para que o seu fraco discernimento espiritual seja mobilizado. Os fortes não devem encarar os fracos com desdém. Aqueles que são cientes de Deus, sem simbolismos, não devem negar a ministração da graça do símbolo àqueles que encontram dificuldade em adorar a Deidade e em reverenciar a verdade, a beleza e a bondade, sem formas nem rituais. Na prece de adoração, a maioria dos mortais visualiza algum símbolo, como meta e objeto para as suas devoções.
91:6.1 (999.4) A prece, a menos que esteja em ligação com a vontade, com as ações das forças espirituais pessoais e com os supervisores materiais de um reino, não pode ter nenhum efeito direto sobre o vosso próprio meio ambiente físico. Ainda que haja limites bem definidos para a abrangência dos pedidos da prece, tais limites não se aplicam da mesma maneira à fé daqueles que oram.
91:6.2 (999.5) A prece não é uma técnica de cura para doenças reais e orgânicas, mas tem contribuído enormemente para o gozo de saúde abundante e a cura de inúmeros males mentais, emocionais e nervosos. E, mesmo no caso de doenças causadas por bactérias reais, a prece muitas vezes tem aumentado a eficácia dos remédios empregados. A prece tem transformado muitos seres inválidos, irritadiços e queixosos, em paradigmas da paciência; e tem feito deles uma inspiração para todos os outros indivíduos humanos sofredores.
91:6.3 (999.6) Não importa quão difícil possa ser conciliar a dúvida científica sobre a eficácia da prece com a necessidade sempre premente de buscar ajuda e orientação nas fontes divinas, nunca vos esqueçais de que a prece sincera da fé é uma força poderosa na promoção da felicidade pessoal, no autocontrole individual, na harmonia social, no progresso moral e na conquista espiritual.
91:6.4 (999.7) A prece, mesmo como uma prática puramente humana, como um diálogo com o próprio alterego, constitui uma técnica de abordagem, a mais eficiente, para colocar em ação aquela reserva de forças, da natureza humana, que está armazenada e conservada nos reinos inconscientes da mente humana. A prece é uma prática psicológica saudável, independentemente das suas implicações religiosas e da sua significação espiritual. É um fato na experiência humana que a maior parte das pessoas, quando pressionada tão duramente quanto necessário, irá orar, de algum modo, para alguma fonte de ajuda.
91:6.5 (999.8) Não sejais tão ociosos a ponto de pedir a Deus que resolva todas as vossas dificuldades, mas nunca hesiteis em pedir a Ele a sabedoria e a força espiritual para guiar-vos e sustentar-vos, enquanto estiverdes enfrentando, corajosa e resolutamente, os problemas que surgirem.
91:6.6 (999.9) A prece tem sido um fator indispensável ao progresso e à preservação de uma civilização religiosa e tem ainda a dar poderosas contribuições ao futuro crescimento e à espiritualização da sociedade, se aqueles que oram, apenas o fizerem à luz dos fatos científicos, da sabedoria filosófica, da sinceridade intelectual e da fé espiritual. Orai como Jesus ensinou aos seus discípulos — honestamente, sem egoísmo, com equanimidade e sem duvidar.
91:6.7 (1000.1) Mas a eficácia da oração na experiência espiritual pessoal daquele que ora não é, de modo algum, dependente do seu entendimento intelectual, da sua acuidade filosófica, do seu nível social, do status cultural nem de outras aquisições suas na vida mortal. Os sucedâneos psíquicos e espirituais de quem ora com fé são imediatos, pessoais e experienciais. Não há outra técnica por meio da qual qualquer homem, a despeito de todos os seus outros feitos mortais, possa, tão efetiva e imediatamente, aproximar-se do umbral do reino no qual ele pode comunicar-se com Aquele que o criou, no qual a criatura entra em contato com a realidade do Criador, com o Ajustador do Pensamento residente.
91:7.1 (1000.2) O misticismo, como técnica para o cultivo da consciência da presença de Deus, é, em si, totalmente louvável, mas, quando leva ao isolamento social e culmina em fanatismo religioso, tal prática não é senão repreensível. E, muito freqüentemente, aquilo que os místicos sobreexaltados consideram inspiração divina, não passa das exaltações do profundo da sua própria mente. O contato da mente mortal com o Ajustador residente, embora freqüentemente favorecido pela meditação devotada, é, com mais freqüência, facilitado pelo serviço sincero, e de coração, da ministração não-egoísta aos nossos semelhantes.
91:7.2 (1000.3) Os grandes educadores religiosos e os profetas das idades passadas não eram místicos extremados; eram homens e mulheres conscientes de Deus, que serviram melhor ao seu Deus pelo serviço não-egoísta aos seus semelhantes mortais. Jesus freqüentemente levava os seus apóstolos para longe, por curtos períodos, para que meditassem e orassem; mas durante a maior parte do tempo ele os mantinha no serviço e no contato com as multidões. A alma do homem requer exercício espiritual tanto quanto alimento espiritual.
91:7.3 (1000.4) O êxtase religioso é permissível quando resulta de antecedentes sadios, mas essa experiência é, mais freqüentemente, o produto de influências mais puramente emocionais do que de uma manifestação de caráter espiritual profundo. As pessoas religiosas não devem considerar todos os pressentimentos psicológicos vívidos, nem todas as experiências emocionais intensas, como revelações divinas nem como comunicações espirituais. O êxtase espiritual genuíno vem associado, em geral, a uma grande calma externa e a um controle emocional quase perfeito. E a verdadeira visão profética é um pressentimento suprapsicológico. Essas graças não são pseudo-alucinações, nem êxtases em forma de transe.
91:7.4 (1000.5) A mente humana pode atuar em resposta à chamada inspiração, quando é sensível, seja às exaltações do subconsciente, seja aos estímulos do supraconsciente. Nos dois casos, parece ao indivíduo que tais ampliações do conteúdo do consciente são mais ou menos alheias ao próprio controle. O entusiasmo místico incontido e o êxtase religioso desenfreado não são as credenciais de nenhuma inspiração, nem credenciais supostamente divinas.
91:7.5 (1000.6) O teste prático de todas essas estranhas experiências religiosas de misticismo, de êxtase e de inspiração, é o de observar se esses fenômenos levam um indivíduo:
91:7.6 (1000.7) 1. A gozar de uma saúde física melhor e mais completa.
91:7.7 (1000.8) 2. A funcionar mais eficiente e praticamente na sua vida mental.
91:7.8 (1000.9) 3. A socializar mais plena e alegremente a sua experiência religiosa.
91:7.9 (1000.10) 4. A espiritualizar mais completamente a sua vida no cotidiano e a desempenhar-se fielmente dos deveres comuns da existência mortal rotineira.
91:7.10 (1001.1) 5. A aumentar o seu amor e a sua apreciação da verdade, da beleza e da bondade.
91:7.11 (1001.2) 6. A conservar os valores sociais, morais, éticos e espirituais normalmente reconhecidos.
91:7.12 (1001.3) 7. A ter mais discernimento espiritual interior — a consciência de Deus.
91:7.13 (1001.4) A prece, todavia, não tem nenhuma ligação real com as experiências religiosas excepcionais. Quando a oração torna-se estética demais, quando ela consiste quase que exclusivamente em uma contemplação da beleza e da bênção paradisíacas da divindade, ela perde muito da sua influência socializante e tende para o misticismo e para o isolamento dos seus devotos. Há um certo perigo ligado ao excesso de preces solitárias, o qual é corrigido e prevenido pela oração grupal, por devoções comunitárias.
91:8.1 (1001.5) Há um aspecto da oração verdadeiramente espontâneo, pois o homem primitivo viu-se orando muito antes de ter qualquer conceito claro de um Deus. O homem primitivo tinha o hábito da prece, em duas situações diversas: quando em grande necessidade, experimentava o impulso de buscar ajuda; e quando em júbilo, deixava-se levar pela expressão impulsiva da alegria.
91:8.2 (1001.6) A prece não é uma evolução da magia; as duas surgiram independentemente. A magia era uma tentativa de ajustar a Deidade às circunstâncias; a prece é um esforço de ajustar a personalidade à vontade da Deidade. A verdadeira prece é tanto moral, quanto religiosa; a magia não é nem moral, nem religiosa.
91:8.3 (1001.7) A prece pode tornar-se um costume estabelecido; muitas pessoas oram porque outras o fazem. Outros, ainda, oram porque temem que alguma coisa de terrível aconteça, caso não ofereçam as suas súplicas de sempre.
91:8.4 (1001.8) Para alguns indivíduos, a prece é a expressão tranqüila da gratidão; para outros, uma expressão grupal de louvação, de devoções sociais. Algumas vezes, é a imitação da religião de uma outra pessoa. Ao passo que a verdadeira oração é uma comunicação, sincera e confiante, da natureza espiritual da criatura com a onipresença do espírito do Criador.
91:8.5 (1001.9) A prece pode ser uma expressão espontânea da consciência que se tem de Deus ou pode ser uma recitação, desprovida de sentido, de fórmulas teológicas. Pode ser a louvação em êxtase de uma alma que conhece a Deus ou a obediência servil de um mortal tomado pelo temor. Algumas vezes é a expressão patética de um anseio espiritual e outras vezes um clamor que esbraveja em frases pias. A prece pode ser um louvor jubiloso, ou um humilde pedido de perdão.
91:8.6 (1001.10) A prece pode ser uma solicitação infantil, de algo impossível, ou uma súplica madura, de crescimento moral e força espiritual. Uma súplica pode consistir em um pedido do pão de cada dia, ou incorporar um anseio sincero de encontrar Deus e de fazer a Sua vontade. Pode ser uma solicitação puramente egoísta ou um gesto verdadeiro e magnífico, na direção da realização de uma irmanação generosa.
91:8.7 (1001.11) A prece pode ser um grito enraivecido de vingança ou um interceder misericordioso pelos inimigos. Pode ser a expressão da esperança de mudar a Deus ou a técnica poderosa de mudar a si próprio. Pode ser o pleito obsequioso de um pecador perdido, diante de um Juiz supostamente severo, ou a expressão jubilosa de um filho liberado pelo Pai celeste, vivo e misericordioso.
91:8.8 (1001.12) O homem moderno fica perplexo com o pensamento de conversar com Deus de um modo puramente pessoal. Muitos abandonaram a oração de sempre, orando apenas quando sob uma pressão inusitada — nas emergências. O homem deveria falar a Deus com destemor; todavia apenas um ser infantil espiritualmente assumiria persuadir ou presumiria mudá-Lo.
91:8.9 (1002.1) A prece real certamente alcança a realidade. Até mesmo quando as correntes de ar estão ascendentes, pássaro algum pode planar, a não ser de asas bem abertas. A prece eleva o homem porque é uma técnica para se progredir, por meio da utilização das correntes espirituais ascendentes do universo.
91:8.10 (1002.2) A prece genuína aumenta o crescimento espiritual, modifica as atitudes e produz aquela satisfação que vem da comunhão com a divindade. É um transbordamento espontâneo da consciência de Deus.
91:8.11 (1002.3) Deus responde à prece do homem dando a ele uma revelação acrescida da verdade, uma apreciação revalorizada da beleza e uma concepção ampliada da bondade. A prece é um gesto subjetivo que, todavia, leva ao contato com poderosas realidades objetivas nos níveis espirituais da experiência humana; é uma tentativa significativa, do ser humano, de alcançar valores supra-humanos. É o estímulo mais potente para o crescimento espiritual.
91:8.12 (1002.4) As palavras da oração são irrelevantes; elas são meramente o canal intelectual pelo qual o rio da súplica espiritual tem a oportunidade de fluir. O valor das palavras, em uma prece, é puramente auto-sugestivo, dentro das devoções íntimas, e sócio-sugestivo, nas devoções grupais. Deus responde à atitude da alma, não às palavras.
91:8.13 (1002.5) A prece não é uma técnica para se escapar do conflito, é antes um estímulo ao crescimento em face desse mesmo conflito. Orai apenas pelos valores, não pelas coisas; pelo crescimento, não pela gratificação.
91:9.1 (1002.6) Se quiserdes chegar a fazer uma prece eficaz, devereis ter em mente as leis sob as quais os pedidos prevalecem:
91:9.2 (1002.7) 1. Deveis qualificar-vos para uma prece poderosa encarando com sinceridade e coragem os problemas da realidade do universo. Deveis possuir o vigor cósmico.
91:9.3 (1002.8) 2. Deveis ter exaurido, honestamente, toda a capacidade inerentemente humana de ajustamento. Deveis ser industriosos.
91:9.4 (1002.9) 3. Deveis entregar e abandonar todo desejo da mente, e toda aspiração da alma, ao abraço transformador do crescimento espiritual. Deveis ter experimentado um enaltecimento dos significados e uma elevação dos valores.
91:9.5 (1002.10) 4. É preciso escolher, do fundo do coração, a vontade divina. É preciso anular o centro morto da indecisão.
91:9.6 (1002.11) 5. Não apenas deveis reconhecer a vontade do Pai e escolher cumpri-la, mas deveis fazer uma consagração sem reservas e uma dedicação dinâmica para, de fato, cumprir a vontade do Pai.
91:9.7 (1002.12) 6. A vossa oração será dirigida exclusivamente à sabedoria divina, para que ela resolva os problemas humanos específicos que encontrardes na ascensão ao Paraíso — a realização da perfeição divina.
91:9.8 (1002.13) 7. E deveis ter fé — uma fé viva.
91:9.9 (1002.14) [Apresentado pelo Dirigente das Criaturas Intermediárias de Urântia.]
O Livro de Urântia
Documento 92
92:0.1 (1003.1) O HOMEM possuiu uma religião de origem natural, como parte da sua experiência evolucionária, muito antes que fossem feitas quaisquer revelações sistemáticas em Urântia. Mas essa religião de origem natural, em si mesma, foi um produto dos dons supra-animais do homem. A religião evolucionária tomou corpo devagar, através dos milênios, na carreira de experiência da humanidade, por intermédio da ministração das seguintes influências, operando interiormente ou impingindo-se, do exterior, sobre o homem selvagem, o bárbaro e o civilizado:
92:0.2 (1003.2) 1. O ajudante da adoração — o surgimento, na consciência animal, de potenciais supra-animais para a percepção da realidade. Isso poderia ser denominado o instinto humano primordial na direção da Deidade.
92:0.3 (1003.3) 2. O ajudante da sabedoria — a manifestação, em uma mente adoradora, da tendência de dirigir a sua adoração para canais mais elevados de expressão e na direção de conceitos sempre em expansão da realidade da Deidade.
92:0.4 (1003.4) 3. O Espírito Santo — essa é a dotação inicial da supramente e, infalivelmente, aparece em todas as personalidades humanas de boa fé. Essa ministração, para uma mente que almeja a adoração e que deseja a sabedoria, cria a capacidade da auto-realização dentro do postulado da sobrevivência humana, tanto no seu conceito teológico quanto como uma experiência real e factual da personalidade.
92:0.5 (1003.5) O funcionamento coordenado dessas três ministrações divinas é totalmente suficiente para iniciar e fazer prosseguir o crescimento da religião evolucionária. Essas influências, mais tarde, são amplificada pelos Ajustadores do Pensamento, pelos serafins e pelo Espírito da Verdade, os quais, todos eles, aceleram em grau o desenvolvimento religioso. Essas agências vêm, há muito, atuando em Urântia e continuarão aqui, enquanto este planeta continuar sendo uma esfera habitada. Grande parte do potencial desses agentes divinos não teve ainda uma oportunidade de expressão; e muito será revelado nas idades que virão, à medida que a religião dos mortais elevar-se, nível após nível, na direção das alturas supernas dos valores moronciais e da verdade do espírito.
92:1.1 (1003.6) A evolução da religião tem sido traçada, desde o medo primitivo e a crença em fantasmas, passando por muitos dos sucessivos estágios de desenvolvimento, incluindo os esforços para coagir os espíritos, primeiro, e para bajulá-los, depois. Os fetiches tribais transformaram-se em totens e em deuses tribais; as fórmulas mágicas transformaram-se nas preces modernas. A circuncisão, inicialmente um sacrifício, transformou-se em um procedimento de higiene.
92:1.2 (1003.7) A religião progrediu, desde a infância selvagem das raças, da adoração da natureza ao fetichismo, passando pela adoração dos fantasmas. Após a aurora da civilização, a raça humana desposou crenças mais místicas e simbólicas, ao passo que se aproximando da maturidade, agora, a humanidade está ficando pronta para o reconhecimento da verdadeira religião e, mesmo, para um começo da revelação da verdade em si.
92:1.3 (1004.1) A religião surge como uma reação biológica da mente às crenças espirituais e ao meio ambiente; é a última coisa a perecer ou a mudar em uma raça. A religião é uma adaptação da sociedade, em qualquer idade, àquilo que é misterioso. Como instituição social, a religião abrange ritos, símbolos, cultos, escrituras, altares, santuários e templos. A água benta, as relíquias, os fetiches, os encantos, os ornamentos, os sinos, os tambores e o sacerdócio são comuns a todas as religiões. E é impossível distinguir a religião que haja evoluído, puramente, por meio da magia ou da feitiçaria.
92:1.4 (1004.2) O mistério e o poder têm sempre estimulado os sentimentos e os temores religiosos, enquanto a emoção tem funcionado sempre como um fator condicionante poderoso do seu desenvolvimento. O temor tem sido sempre o estímulo religioso básico. O medo molda os deuses da religião evolucionária, motivando o ritual religioso dos crentes primitivos. À medida que a civilização avança, o medo é modificado pela reverência, admiração, respeito e simpatia e, então, é condicionado ainda pelo remorso e pelo arrependimento.
92:1.5 (1004.3) Um povo asiático ensinava que “Deus é um grande temor”; sendo isso um resultado da religião puramente evolucionária. Jesus, a revelação do mais elevado tipo de vida religiosa, proclamou que “Deus é amor”.
92:2.1 (1004.4) A religião é a mais rígida e a mais inflexível de todas as instituições humanas, e só tardiamente ela se adapta à sociedade em mudança. Finalmente, a religião evolucionária reflete a mudança dos costumes que, por sua vez, podem ter sido afetados pela religião revelada. Gradativa e seguramente, mas com uma certa resistência, a religião (o culto) caminha devagar na esteira da sabedoria — conhecimento dirigido pela razão experiencial e iluminado pela revelação divina.
92:2.2 (1004.5) A religião adere aos costumes; aquilo que foi é, antiga e supostamente, sagrado. Por essa razão e por nenhuma outra, os utensílios de pedra perduraram ainda por muito tempo na idade do bronze e do ferro. Os registros contêm a seguinte afirmação: “E se vós fizerdes um altar de pedra para mim, vós não o construireis de pedra talhada, pois, se usardes as vossas ferramentas para fazê-lo, vós o tereis profanado”. Mesmo hoje, os hindus acendem os fogos nos seus altares usando uma broca primitiva. No curso da religião evolucionária, a novidade tem sido sempre encarada como um sacrilégio. O sacramento deve consistir não de alimento novo e manufaturado, mas do comestível mais primitivo: “A carne fresca, tostada no fogo, e o pão sem levedura, servido com ervas amargas”. Todos os tipos de uso social, e mesmo os procedimentos legais estão aferrados às velhas formas.
92:2.3 (1004.6) Quando o homem moderno surpreende-se de que as escrituras das diferentes religiões apresentem tantas passagens que poderiam ser consideradas como obscenas, ele deveria refletir e observar que as gerações passadas temeram eliminar aquilo que os seus ancestrais consideravam santo e sagrado. Grande parte daquilo que uma geração poderia considerar obsceno, as gerações precedentes consideraram como os seus costumes aceitos e, mesmo, como rituais religiosos aprovados. Um número considerável de controvérsias religiosas tem sido ocasionado pelas tentativas, sem fim, de reconciliar práticas antigas, mas repreensíveis, com o novo avanço da razão, para encontrar teorias plausíveis para justificar as crenças que se perpetuam em costumes vetustos e ultrapassados.
92:2.4 (1004.7) Mas seria apenas uma tolice esperar uma aceleração súbita demais na evolução religiosa. Uma raça ou uma nação pode assimilar, de qualquer religião avançada, apenas aquilo que é razoavelmente consistente e compatível com o seu status evolucionário momentâneo, e com o seu talento para a adaptação. As condições sociais, climáticas, políticas e econômicas são, todas, de muita influência na determinação do curso e progresso da evolução religiosa. A moralidade social não é determinada pela religião, ou seja, pela religião evolucionária; antes, são as formas da religião que são ditadas pela moralidade da raça.
92:2.5 (1005.1) As raças humanas apenas superficialmente aceitam uma religião estranha e nova; de fato, elas ajustam-nas aos seus velhos costumes e modos de crer. Isso é bem ilustrado pelo exemplo de uma certa tribo da Nova Zelândia, cujos sacerdotes, depois de aceitar nominalmente o cristianismo, professaram ter recebido revelações diretas de Gabriel, no sentido de que essa mesma tribo havia-se tornado o povo escolhido de Deus e que, portanto, podia entregar-se às suas relações sexuais livres e a numerosos outros dos seus costumes velhos e repreensíveis. Imediatamente todos os novos cristãos aderiram a essa versão nova e menos severa de cristianismo.
92:2.6 (1005.2) Em dado momento ou em outro, a religião sancionou todas as espécies de comportamentos incoerentes ou contrários a si e, em certa época, aprovou praticamente tudo o que hoje é considerado como imoral ou pecaminoso. A consciência, sem o ensinamento da experiência e sem o auxílio da razão, nunca foi e nunca poderá ser um guia seguro e sem erros para a conduta humana. A consciência não é uma voz divina, falando à alma humana. É, meramente, a soma total do conteúdo moral e ético dos costumes de qualquer etapa da existência presente; e representa, simplesmente, o ideal, humanamente concebido, de reação a um conjunto qualquer de circunstâncias dadas.
92:3.1 (1005.3) O estudo da religião humana é o exame da fossilização dos substratos sociais das idades passadas. Os costumes dos deuses antropomórficos são um reflexo verdadeiro da moral dos homens que inicialmente conceberam tais deidades. As religiões antigas e a mitologia retratam fielmente as crenças e as tradições dos povos, perdidas há muito na obscuridade. Essas antigas práticas de culto perduram junto com os novos costumes econômicos e as evoluções sociais e, claro está, parecem grosseiramente incoerentes. Os remanescentes do culto apresentam um verdadeiro quadro das religiões raciais do passado. Lembrai-vos sempre de que os cultos não são formados para descobrir a verdade, mas para promulgar as crenças dessa verdade.
92:3.2 (1005.4) A religião tem sido sempre, antes de tudo, uma questão de ritos, rituais, observâncias, cerimônias e dogmas. Geralmente ela se encontra contaminada por aquele erro que provoca discórdias persistentes: a ilusão do povo escolhido. As idéias religiosas cardinais — encantamento, inspiração, revelação, propiciação, arrependimento, expiação, intercessão, sacrifício, prece, confissão, adoração, sobrevivência pós-morte, sacramento, ritual, resgate, salvação, redenção, aliança, impureza, purificação, profecia, pecado original — remontam todas aos tempos iniciais do temor primordial dos fantasmas.
92:3.3 (1005.5) A religião primitiva é nada mais e nada menos do que um prolongamento da luta pela existência material, estendida para além-túmulo. Assim, a observância de um credo representou a extensão da luta pela automanutenção, no domínio de um mundo imaginado, de espíritos-fantasmas. Mas, se fordes tentados a criticar a religião evolucionária, sede cuidadosos. Lembrai-vos de que isso é o que aconteceu; é um fato histórico. Lembrai-vos, ainda, de que o poder de qualquer idéia repousa não na sua certeza ou verdade, mas na força da sua sedução sobre os homens.
92:3.4 (1006.1) A religião evolucionária não toma providências para assegurar as mudanças ou a revisão; diferentemente da ciência, ela não se prepara para a sua própria correção progressiva. A religião que evoluiu impõe respeito, porque os seus seguidores acreditam que ela seja A Verdade; “a fé que uma vez foi entregue aos santos” deve, em teoria, ser tanto definitiva quanto infalível. O culto resiste ao desenvolvimento, porque é certo que o progresso verdadeiro irá modificar, ou destruir, o próprio culto. Portanto, a sua revisão deve sempre ser imposta.
92:3.5 (1006.2) Apenas duas influências podem modificar e elevar os dogmas da religião natural: a pressão dos costumes que mudam lentamente e a iluminação periódica feita pelas revelações para toda uma época. Não é estranho que o progresso tenha sido lento, pois, outrora, ser progressista ou inventivo significava ser levado à morte como feiticeiro. O culto avança lentamente, em gerações históricas, denominadas epocais, e ciclos que duram idades, mas continua sempre indo para frente. A crença evolucionária em fantasmas lançou as bases para uma filosofia de religião revelada que, finalmente, irá destruir a superstição que é parte da sua origem.
92:3.6 (1006.3) A religião tem limitado o desenvolvimento social de muitas maneiras, mas, sem a religião, não teria havido uma moralidade e uma ética duradouras, nem uma civilização que valesse a pena. A religião foi a mãe de grande parte da cultura não religiosa: a escultura originou-se na moldagem dos ídolos, a arquitetura, na construção dos templos, a poesia, nos encantamentos, a música, nos cânticos para os cultos, o drama, nos ritos para se guiar os espíritos, e a dança, nos festivais sazonais de adoração.
92:3.7 (1006.4) Contudo, ao mesmo tempo em que se chama a atenção para o fato de que a religião foi essencial para o desenvolvimento e a preservação da civilização, deveria ficar registrado que a religião natural tem contribuído em muito para limitar e paralisar essa mesma civilização que, por outro lado, ela fomentou e manteve. A religião tem estorvado as atividades industriais e o desenvolvimento econômico; tem sido imprevidente quanto ao trabalho e tem desperdiçado o capital. Ela não tem sido sempre útil à família; não tem fomentado adequadamente a paz e a boa vontade; algumas vezes, negligenciou a educação e atrasou a ciência; tem empobrecido, indevidamente, a vida, pretendendo enriquecer a morte. De fato, a religião evolucionária, cuja origem é humana, tem sido culpada por todos esses erros e por muitas outras faltas e desacertos; todavia, ela manteve a ética cultural, a moralidade civilizada e a coerência social, e tornou possível à futura religião revelada compensar muitas dessas falhas da imperfeição evolucionária.
92:3.8 (1006.5) A religião evolucionária tem sido a instituição mais dispendiosa do homem, mas é incomparavelmente a mais eficaz. A religião humana pode ser justificada apenas à luz de uma evolução da civilização. Se o homem não fosse um produto ascendente, de evolução animal, então esse curso seguido pelo desenvolvimento religioso não teria a menor justificativa.
92:3.9 (1006.6) A religião facilitou a acumulação do capital e incentivou algumas espécies de trabalho. O lazer dos sacerdotes promoveu a arte e o conhecimento. E toda a raça, afinal, ganhou muito em conseqüência de todos esses erros iniciais da técnica ética. Os xamãs, honestos e desonestos, foram terrivelmente dispendiosos, mas eles valeram tudo o que custaram. As profissões eruditas e a própria ciência emergiram de sacerdócios parasitas. A religião fomentou a civilização e assegurou a continuidade da sociedade; tem sido a força de policiamento moral de todos os tempos. A religião cuidou para que a disciplina humana e o autocontrole tornassem a sabedoria possível. A religião é o açoite eficiente da evolução, que retira impiedosamente a humanidade indolente e sofredora do seu estado natural de inércia intelectual, impelindo-a para frente e para cima, elevando-a até os níveis mais altos de razão e sabedoria.
92:3.10 (1006.7) Como herança sagrada de ascendência animal, a religião evolucionária deve continuar a ser sempre enobrecida pela censura constante da religião revelada, e deve ser sempre refinada no crisol abrasador da ciência genuína.
92:4.1 (1007.1) A revelação é evolucionária, mas é sempre progressiva. Ao longo das idades da história de um mundo, as revelações da religião estão sempre em expansão e são, sucessivamente, sempre mais elucidativas. É missão da revelação selecionar e censurar as religiões sucessivas da evolução. Mas, se a revelação deve enaltecer as religiões da evolução e levá-las a um ponto superior, então essas visitações divinas devem retratar ensinamentos que não estejam muito distanciados do pensamento e das reações da época na qual elas são apresentadas. Assim, a revelação deve manter-se sempre em contato com a evolução, e assim ela o faz. A religião da revelação deve sempre ser limitada pela capacidade do homem para recebê-la.
92:4.2 (1007.2) Mas, a despeito das relações ou das suas origens aparentes, as religiões de revelação são sempre caracterizadas por uma crença em alguma Deidade de valor final e em algum conceito da sobrevivência da identidade da personalidade, depois da morte.
92:4.3 (1007.3) A religião evolucionária é sentimental, não é lógica. A reação do homem é acreditar em um mundo hipotético de espíritos-fantasmas — é o reflexo da crença do homem, excitado pela percepção e pelo medo do desconhecido. A religião reveladora é proposta pelo verdadeiro mundo espiritual; é a resposta do cosmo supra-intelectual à sede dos mortais de acreditar nas Deidades universais e de contar com elas. A religião evolucionária é o retrato do caminhar em círculos viciosos que a humanidade faz para a busca da verdade; a religião reveladora é essa verdade em si mesma.
92:4.4 (1007.4) Houve muitos acontecimentos de revelação religiosa, mas apenas cinco deles foram de significação para toda uma época. As revelações epocais foram as seguintes:
92:4.5 (1007.5) 1. Os ensinamentos Dalamatianos. O verdadeiro conceito da Primeira Fonte e Centro foi promulgado em Urântia, pela primeira vez, pelos cem membros da assessoria corpórea do Príncipe Caligástia. Essa revelação expandida da Deidade persistiu por mais de trezentos mil anos, até que foi subitamente interrompida pela secessão planetária e pela ruptura do regime de ensino. Exceto pelo trabalho de Van, a influência da revelação Dalamatiana ficou praticamente perdida para todo o mundo. Até os noditas haviam esquecido essa verdade, já na época da chegada de Adão. Entre todos os que receberam os ensinamentos vindos dos cem, os homens vermelhos foram aqueles que os conservaram por mais tempo; mas a idéia do Grande Espírito não era senão uma concepção nebulosa, na religião ameríndia, quando o contato com o cristianismo clarificou-a e reforçou-a consideravelmente.
92:4.6 (1007.6) 2. Os ensinamentos Edênicos. Adão e Eva retrataram, uma vez mais, o conceito do Pai de todos aos povos evolucionários. A dissolução do primeiro Éden interrompeu o curso da revelação Adâmica, antes que ela tivesse começado de fato. Mas os ensinamentos abortados de Adão foram continuados pelos sacerdotes setitas, e algumas dessas verdades nunca foram inteiramente perdidas para o mundo. Toda a tendência da evolução religiosa do levante foi modificada pelos ensinamentos dos setitas. Mas, por volta de 2500 a.C., a humanidade tinha perdido de vista, em grande parte, a revelação promovida à época do Éden.
92:4.7 (1007.7) 3. Melquisedeque de Salém. Este Filho emergencial de Nébadon inaugurou a terceira revelação da verdade em Urântia. Os preceitos cardinais dos seus ensinamentos foram: confiança e fé. Ele ensinou a confiança na beneficência onipotente de Deus e proclamou a fé como o ato por meio do qual os homens ganham o favorecimento de Deus. Os seus ensinamentos gradualmente misturaram-se às crenças e práticas de várias religiões evolucionárias e, finalmente, resultaram naqueles sistemas teológicos presentes em Urântia quando da abertura do primeiro milênio depois de Cristo.
92:4.8 (1008.1) 4. Jesus de Nazaré. Cristo Michael apresentou o conceito de Deus, trazido assim em Urântia pela quarta vez, como o Pai Universal; e esse ensinamento perdurou em geral desde então. A essência do seu ensinamento foi amor e serviço, a adoração amorosa que um filho criatura dá voluntariamente em reconhecimento e em retorno à ministração do amor de Deus, o seu Pai; o serviço que tais filhos criaturas oferecem, de vontade espontânea aos seus irmãos, em uma alegre compreensão de que, nesse serviço, eles estão servindo, do mesmo modo, a Deus, o Pai.
92:4.9 (1008.2) 5. Os Documentos de Urântia. Os documentos, dos quais este é um deles, constituem a mais recente apresentação da verdade aos mortais de Urântia. Esses documentos diferem de todas as revelações anteriores, pois não são trabalho de uma única personalidade do universo; são, sim, apresentações compostas, efetuadas por muitos seres. Nenhuma revelação, todavia, pode jamais ser completa, antes de se alcançar o Pai Universal. Todas as outras ministrações celestes não são mais do que parciais, transitórias e praticamente adaptadas às condições locais de tempo e de espaço. É possível que, ao admitir tudo isso, possamos esvaziar a força imediata e a autoridade de todas as revelações, mas é chegado o tempo em Urântia, em que é aconselhável fazer essa declaração franca, ainda que correndo o risco de enfraquecer a influência futura e a autoridade desta obra, que é a mais recente das revelações da verdade às raças mortais de Urântia.
92:5.1 (1008.3) Na religião evolucionária, os deuses são concebidos para existir à semelhança da imagem do homem; na religião reveladora, é ensinado aos homens que são filhos de Deus — feitos, mesmo, à imagem finita da divindade. Nas crenças sintetizadas compostas dos ensinamentos da revelação e dos produtos da evolução, o conceito de Deus é uma combinação entre:
92:5.2 (1008.4) 1. As idéias preexistentes dos cultos evolucionários.
92:5.3 (1008.5) 2. Os ideais sublimes da religião revelada.
92:5.4 (1008.6) 3. Os pontos de vista pessoais dos grandes líderes religiosos, os profetas e mestres da humanidade.
92:5.5 (1008.7) A maioria das grandes épocas religiosas foi inaugurada pela vida e ensinamentos de alguma personalidade proeminente; a liderança originou a maioria dos movimentos morais dignos de nota da história. E os homens sempre tiveram a tendência para venerar um líder, ainda que seja às custas dos seus ensinamentos; de reverenciar a sua personalidade, ainda que percam de vista as verdades que ele proclamou. E isso não acontece sem motivo: há um desejo instintivo no coração do homem evolucionário, de receber ajuda de cima e do além. Esse anseio tem a finalidade de antecipar a vinda, à Terra, do Príncipe Planetário e, posteriormente, dos Filhos Materiais. Em Urântia, o homem tem sido privado desses líderes e governantes supra-humanos e, por isso, constantemente ele procura compensar essa perda, envolvendo os seus líderes humanos em lendas que estabelecem origens sobrenaturais e carreiras miraculosas para eles.
92:5.6 (1008.8) Muitas raças têm concebido os seus líderes como tendo nascido de virgens; as suas carreiras são generosamente pontuadas por episódios miraculosos, e o retorno desses líderes é sempre aguardado pelos seus respectivos grupos. Na Ásia central, os homens das tribos ainda aguardam pelo retorno de Gengis Khan; no Tibete, na China e na Índia, de Buda; no islamismo, de Maomé; entre os ameríndios, de Hesunanin Onamonalonton; com os hebreus foi, em geral, o retorno de Adão como o governante material. Na Babilônia, o deus Marduk foi uma perpetuação da lenda de Adão, da idéia do filho de Deus, do elo entre o homem e Deus. Em seguida ao aparecimento de Adão na Terra, os assim chamados filhos de Deus eram comuns entre as raças do mundo.
92:5.7 (1009.1) Todavia, independentemente do respeito supersticioso que freqüentemente os envolveu, ainda permanece como fato que esses mestres foram as personalidades temporais de apoio, das quais dependeram as alavancas da verdade revelada, para fazerem avançar a moralidade, a filosofia e a religião da humanidade.
92:5.8 (1009.2) Houve centenas e centenas de líderes religiosos, na história milenar de Urântia, desde Onagar, ao Guru Nanak. Durante esse tempo, houve muitas cheias e vazantes, na maré da verdade religiosa e da fé espiritual, e cada renascimento da religião urantiana tem sido, no passado, identificado com a vida e os ensinamentos de algum líder religioso. Considerando os instrutores dos tempos recentes, pode ser útil agrupá-los em sete épocas religiosas maiores, da Urântia pós-Adâmica:
92:5.9 (1009.3) 1. O período Setit a. Os sacerdotes Setitas, regenerados sob a liderança de Amosad, tornaram-se os grandes instrutores pós-Adâmicos. Eles ensinaram nas terras dos anditas, e a sua influência perdurou por mais tempo entre os gregos, sumérios e indianos. Entre estes últimos, a sua influência continuou até o tempo presente, como entre os brâmanes de fé hindu. Os setitas e os seus seguidores nunca se perderam inteiramente do conceito da Trindade, revelado por Adão.
92:5.10 (1009.4) 2. A era dos missionários de Melquisedeque. A religião de Urântia foi regenerada, em grande medida, pelos esforços daqueles instrutores que saíram em comissões formadas por Maquiventa Melquisedeque, quando ele viveu e ensinou em Salém, quase dois mil anos antes de Cristo. Esses missionários proclamaram a fé como o preço para o favorecimento de Deus, e os seus ensinamentos, ainda que improdutivos, para o aparecimento imediato de qualquer religião, formaram, contudo, as fundações sobre as quais os instrutores posteriores da verdade iriam construir as religiões de Urântia.
92:5.11 (1009.5) 3. A era pós-Melquisedeque. Embora Amenemope e Iknaton tivessem, ambos, ensinado neste período, o gênio religioso mais notável da era pós-Melquisedeque foi o líder de um grupo de beduínos do levante, o fundador da religião hebraica — Moisés. Moisés ensinou o monoteísmo. Disse ele: “Escutai, ó Israel, o Senhor nosso Deus é um só Deus”. “O Senhor é Deus. Não há outro além Dele.” E, persistentemente, buscou ele desarraigar o remanescente do culto aos fantasmas junto ao seu povo, prescrevendo até a pena de morte para os seus praticantes. O monoteísmo de Moisés foi adulterado pelos seus sucessores, mas, em tempos posteriores, eles retornaram a muitos dos seus ensinamentos. A grandeza de Moisés repousa na sua sabedoria e sagacidade. Outros homens tiveram conceitos mais elevados de Deus, mas nenhum homem teve jamais tanto êxito em induzir grandes números de pessoas a adotar crenças tão avançadas.
92:5.12 (1009.6) 4. O sexto século antes de Cristo. Muitos homens surgiram para proclamar a verdade neste que foi um dos séculos marcantes para um despertar religioso jamais visto em Urântia. Entre esses devem ser lembrados Gautama, Confúcio, Lao-tsé, Zoroastro e os mestres jainistas. Os ensinamentos de Gautama tornaram-se bastante difundidos na Ásia, e ele é reverenciado por milhões, como o Buda. Confúcio foi, para a moralidade dos chineses, o que Platão foi para a filosofia grega e, mesmo tendo havido repercussões religiosas para os ensinamentos de ambos, nenhum dos dois foi, estritamente falando, um mestre religioso; Lao-tsé teve uma visualização maior de Deus, no Tao, do que Confúcio no campo das humanidades, ou Platão no idealismo. Zoroastro, se bem que muito influenciado pelo conceito de um espiritualismo predominantemente dualista, ou seja, do bem e do mal, ao mesmo tempo exaltou definitivamente a idéia de uma Deidade eterna, e da vitória última da luz sobre as trevas.
92:5.13 (1010.1) 5. O primeiro século depois de Cristo. Como um mestre religioso, Jesus de Nazaré partiu do culto que tinha sido estabelecido por João Batista e progrediu até onde pôde, libertando aquele culto das amarras e das formalidades. Além de Jesus, Paulo de Tarso e Filo de Alexandria foram os maiores mestres dessa era. Os conceitos deles, dentro da religião, exerceram um papel dominante na evolução da fé que traz o nome de Cristo.
92:5.14 (1010.2) 6. O sexto século depois de Cristo. Maomé fundou uma religião que foi superior a muitos dos credos desta época. E esta foi um protesto contra as exigências sociais das religiões estrangeiras e contra a incoerência da vida religiosa do seu próprio povo.
92:5.15 (1010.3) 7. O décimo quinto século depois de Cristo. Este período testemunhou dois movimentos religiosos: a ruptura da unidade do cristianismo no Ocidente, e a síntese de uma nova religião no Oriente. Na Europa, a cristandade institucionalizada tinha atingido aquele grau de inflexibilidade que tornou qualquer crescimento posterior incompatível com a unidade. No Oriente, os ensinamentos combinados do islamismo, do hinduísmo e do budismo foram sintetizados por Nanak e pelos seus seguidores no sikismo, uma das mais avançadas religiões da Ásia.
92:5.16 (1010.4) O futuro de Urântia, sem dúvida, será caracterizado pelo aparecimento de educadores da verdade religiosa — a Paternidade de Deus e a fraternidade de todas as criaturas. Mas é de se esperar que os esforços sinceros e ardentes dos profetas futuros sejam dirigidos menos para o fortalecimento de barreiras inter-religiosas e mais para o aumento da irmandade religiosa de culto espiritual, entre os muitos seguidores das diferentes teologias intelectuais tão características da Urântia de Satânia.
92:6.1 (1010.5) As religiões do século vinte, em Urântia, oferecem um interessante quadro da evolução social da tendência humana para a adoração. Muitas fés pouco progrediram desde os dias do culto dos fantasmas. Os pigmeus da África não têm nenhuma reação religiosa, como classe, embora alguns deles acreditem vagamente em um meio ambiente com espíritos. Eles estão, hoje, exatamente onde o homem primitivo estava, quando a evolução da religião começou. A crença básica da religião primitiva era a de sobrevivência depois da morte. A idéia de adorar um Deus pessoal indica um desenvolvimento evolucionário avançado, e mesmo o primeiro estágio da revelação. Os Diaks desenvolveram apenas as práticas religiosas mais primitivas. Os esquimós e os ameríndios, relativamente recentes, tinham um conceito muito estreito de Deus; eles acreditavam em fantasmas e tinham, ainda que indefinida, uma idéia sobre alguma espécie de sobrevivência depois da morte. Os nativos australianos dos dias atuais têm apenas medo de fantasmas, um temor do escuro e uma veneração rudimentar pelos ancestrais. Os zulus só agora estão desenvolvendo uma religião de medo de fantasmas e de sacrifícios. Muitas tribos africanas, a não ser pelo trabalho missionário dos cristãos e maometanos, ainda não passam do estágio do fetiche, na sua evolução religiosa. Mas alguns grupos vêm mantendo, há muito, a idéia do monoteísmo, como os trácios de outrora, que acreditavam também na imortalidade.
92:6.2 (1010.6) Em Urântia, a religião evolucionária e a religião reveladora estão progredindo lado a lado, e, ao mesmo tempo, amalgamando-se e fundindo-se nos sistemas teológicos diversificados, encontrados no mundo à época da elaboração destes documentos. Essas religiões, as religiões da Urântia do século vinte, podem ser enumeradas como a seguir.
92:6.3 (1011.1) 1. O hinduísmo — a mais antiga.
92:6.4 (1011.2) 2. A religião hebraica.
92:6.5 (1011.3) 3. O budismo.
92:6.6 (1011.4) 4. Os ensinamentos de Confúcio.
92:6.7 (1011.5) 5. As crenças taoístas.
92:6.8 (1011.6) 6. O zoroastrismo.
92:6.9 (1011.7) 7. O xintoísmo.
92:6.10 (1011.8) 8. O jainismo.
92:6.11 (1011.9) 9. O cristianismo.
92:6.12 (1011.10) 10. O islamismo.
92:6.13 (1011.11) 11. O sikismo — a mais recente.
92:6.14 (1011.12) As religiões mais avançadas dos tempos antigos foram o judaísmo e o hinduísmo, e cada uma havia influenciado em grande parte o curso do desenvolvimento religioso, respectivamente, no Oriente e no Ocidente. Ambos, hindus e hebreus acreditaram que as suas religiões foram inspiradas e reveladas, e acreditavam que todas as outras eram formas decadentes da fé única e verdadeira.
92:6.15 (1011.13) A Índia está dividida entre as religiões hindu, sikista, maometana e jainista, cada uma delas retratando Deus, o homem e o universo, segundo a sua própria concepção. A China segue os ensinamentos taoístas e confucionistas; o xintoísmo é reverenciado no Japão.
92:6.16 (1011.14) As grandes crenças internacionais e inter-raciais são a hebraica, a budista, a cristã e a islâmica. O budismo estende-se do Ceilão e Birmânia até o Tibete, e da China ao Japão. Ele tem demonstrado uma capacidade de adaptação aos costumes de tantos povos, que tem sido igualada apenas pelo cristianismo.
92:6.17 (1011.15) A religião hebraica abrange a transição filosófica do politeísmo ao monoteísmo; é um elo evolucionário entre as religiões de evolução e as religiões de revelação. Os hebreus foram o único povo do Ocidente a seguir a evolução dos seus deuses evolucionários primitivos até o Deus da revelação. Mas essa verdade nunca se tornou amplamente aceita até os dias de Isaías que, uma vez mais, ensinou uma idéia mista de uma deidade da raça, conjugada com a do Criador Universal: “Ó Senhor das Hostes, Deus de Israel, sois Deus, e apenas vós; vós criastes o céu e a Terra”. Num certo momento, a esperança da sobrevivência, na civilização ocidental, repousa nos conceitos hebraicos sublimes da bondade e nos conceitos helênicos avançados da beleza.
92:6.18 (1011.16) A religião cristã é a religião sobre a vida e os ensinamentos de Cristo, baseados na teologia do judaísmo, modificados posteriormente por meio da assimilação de certos ensinamentos zoroastrianos e da filosofia grega, e formulados primariamente por três indivíduos: Filo, Pedro e Paulo. Ela passou por muitas fases de evolução, desde o tempo de Paulo; e tornou-se tão completamente ocidentalizada que muitos povos não europeus, muito naturalmente, consideram o cristianismo uma estranha revelação, de um Deus estranho, destinada a estrangeiros.
92:6.19 (1011.17) O islamismo é a conexão religioso-cultural entre a África do norte, o Levante, e o sudoeste da Ásia. Foi a teologia judaica, em ligação com os ensinamentos posteriores do cristianismo, que tornou o islamismo monoteísta. Os seguidores de Maomé tropeçaram nos ensinamentos avançados da Trindade; eles não podiam compreender uma doutrina de três personalidades divinas e uma Deidade. É sempre difícil induzir as mentes evolucionárias a aceitarem, subitamente, uma verdade superior revelada. O homem é uma criatura evolucionária e deve adquirir a sua religião principalmente por técnicas evolucionárias.
92:6.20 (1012.1) A adoração dos antepassados, em uma determinada época, constituiu um avanço incontestável na evolução religiosa, mas é tão surpreendente quanto lamentável que esse conceito primitivo sobreviva na China, no Japão e na Índia, em meio a tantas coisas relativamente tão mais avançadas, tais como o budismo e o hinduísmo. No Ocidente, o culto dos antepassados desenvolveu-se na veneração de deuses nacionais e no respeito pelos heróis da raça. No século vinte, essa religião nacionalista, de veneração de heróis, faz sua aparição nos vários secularismos e nacionalismos radicais que caracterizam muitas raças e nações do Ocidente. Grande parte dessa mesma atitude é também encontrada nas grandes universidades e nas comunidades industriais maiores, dos povos de língua inglesa. Não muito diferente desses conceitos é a idéia de que a religião não é senão “uma busca compartilhada do lado bom da vida”. As “religiões nacionais” nada mais são do que uma reversão para o culto primevo ao imperador romano, e ao xintoísmo — a adoração do estado, na família imperial.
92:7.1 (1012.2) A religião não pode nunca se tornar um fato científico. A filosofia pode, verdadeiramente, repousar em uma base científica, mas a religião permanecerá, para sempre, evolucionária, ou reveladora, ou uma combinação possível de ambas, como ela é no mundo de hoje.
92:7.2 (1012.3) Novas religiões não podem ser inventadas; ou são a conseqüência de uma evolução ou são subitamente reveladas. Todas as religiões evolucionárias novas são meras expressões avançadas de velhas crenças, em novas adaptações e ajustamentos. O velho não deixa de existir; ele funde-se com o novo, como no caso do sikismo, que cresceu e floresceu do solo e das formas do hinduísmo, do budismo, do islamismo e de outros cultos contemporâneos. A religião primitiva era muito democrática; o selvagem tomava emprestado e emprestava facilmente. Apenas com a religião revelada apareceu o egotismo teológico, autocrático e intolerante.
92:7.3 (1012.4) As inúmeras religiões de Urântia são todas boas, na medida em que todas levam o homem até Deus e trazem até o homem a compreensão do Pai. É uma falácia, para qualquer grupo de religiosos, conceber o seu credo como a Verdade; tal atitude denota mais arrogância teológica do que certeza de fé. Todas as religiões de Urântia tirariam proveito do estudo e da assimilação do que há de melhor nas verdades contidas em qualquer outra fé, pois todas contêm verdades. Os religiosos fariam melhor em tomar emprestado o que há de mais profundo na fé espiritual viva do vizinho, do que em denunciar o que nela há de pior, nas suas superstições remanescentes e nos rituais sem valor.
92:7.4 (1012.5) Todas essas religiões surgiram como resultado das respostas intelectuais variáveis dos homens a uma mesma e idêntica condução espiritual. E não podem, elas, nunca esperar atingir uma uniformidade de credos, dogmas e rituais, pois estes são intelectuais. Mas podem realizar, e algum dia realizarão, a unidade na adoração verdadeira do Pai de todos, pois esta é espiritual, e é para sempre verdadeiro que, no espírito, todos os homens são iguais.
92:7.5 (1012.6) A religião primitiva foi, em grande parte, uma conscientização no nível dos valores materiais, mas a civilização eleva os valores religiosos, pois a verdadeira religião é a devoção do eu a serviço de valores com significado supremo. À medida que a religião evolui, a ética transforma-se na filosofia das morais, e a moralidade transforma-se na disciplina do eu, segundo os critérios mais elevados e supremos de valor — os ideais espirituais e divinos. A religião converte-se, assim, em uma devoção espontânea e rara, a experiência viva da lealdade do amor.
92:7.6 (1013.1) O que indica a qualidade de uma religião é:
92:7.7 (1013.2) 1. O nível dos seus valores — as suas lealdades.
92:7.8 (1013.3) 2. A profundidade dos seus significados — a sensibilização dos indivíduos à apreciação idealista desses valores mais elevados.
92:7.9 (1013.4) 3. A intensidade da consagração — o grau de devoção a esses valores divinos.
92:7.10 (1013.5) 4. O progresso sem entraves da personalidade nesse caminho cósmico de vida espiritual idealista, a compreensão da filiação a Deus e o progredir sem fim na cidadania do universo.
92:7.11 (1013.6) Os significados religiosos progridem em autoconsciência, quando a criança transfere as idéias de onipotência, dos seus progenitores para Deus. E toda a experiência religiosa dessa criança depende muito do que predominou na relação pai-filho: se o medo, ou se o amor. Os escravos têm experimentado sempre uma grande dificuldade de transferir o medo dos seus donos para os conceitos do amor a Deus. A civilização, a ciência e as religiões avançadas devem libertar a humanidade desses medos nascidos do horror aos fenômenos naturais. E, assim, um esclarecimento maior deveria livrar os mortais educados de toda a dependência de intermediários na comunhão com a Deidade.
92:7.12 (1013.7) Esses estágios intermediários de hesitação idólatra na transferência da veneração do humano e do visível para o divino e o invisível são inevitáveis; mas deveriam ser abreviados pela consciência da ministração facilitadora do espírito residente divino. Entretanto, o homem tem sido profundamente influenciado, não apenas pelos seus conceitos da Deidade, mas também pelo caráter dos heróis que ele escolheu para honrar. É uma infelicidade grande que aqueles que chegaram a venerar o Cristo divino, e ressuscitado, tivessem negligenciado o homem — o valente e corajoso herói — Joshua ben José.
92:7.13 (1013.8) O homem moderno está autoconsciente da religião, de um modo adequado, mas o hábito que tem de adoração está confuso, deixando-o em descrença, devido à metamorfose social acelerada e aos desenvolvimentos científicos sem precedentes. Os homens e as mulheres pensantes querem que a religião seja redefinida, e essa exigência irá levar a religião a reavaliar a si própria.
92:7.14 (1013.9) O homem moderno depara-se com a tarefa de fazer, em uma única geração, mais re-adequações dos valores humanos do que as que têm sido feitas em dois mil anos. E tudo isso influencia a atitude social para com a religião, pois a religião é um modo de vida, tanto quanto uma técnica de pensar.
92:7.15 (1013.10) A verdadeira religião deve, sempre e simultaneamente, ser o fundamento eterno e a estrela guia de todas as civilizações duradouras.
92:7.16 (1013.11) [Apresentado por um Melquisedeque de Nébadon.]
O Livro de Urântia
Documento 93
93:0.1 (1014.1) OS MELQUISEDEQUES são amplamente conhecidos como Filhos das emergências, pois eles se engajam em atividades de uma variedade incrível nos mundos de um universo local. Quando surge um problema extraordinário qualquer, ou quando algo inusitado está para ser realizado, é quase sempre um Melquisedeque que aceita a missão. A capacidade dos Filhos Melquisedeques de funcionar em emergências e em níveis muito diversificados do universo, até no nível físico da manifestação da personalidade, é peculiar à sua ordem. Apenas os Portadores da Vida compartilham, em qualquer grau, desse extenso metamorfismo nas funções de personalidade.
93:0.2 (1014.2) A ordem Melquisedeque de filiação do universo tem estado extremamente ativa em Urântia. Um corpo de doze deles serviu em conjunto com os Portadores da Vida. Outro corpo de doze Melquisedeques posteriormente tornou-se administrador do vosso mundo, pouco depois da secessão de Caligástia, e continuou com autoridade até os tempos de Adão e Eva. Esses doze Melquisedeques retornaram a Urântia, quando da falta de Adão e Eva, e continuaram, daí em diante, como administradores planetários, até o dia em que Jesus de Nazaré, como o Filho do Homem, tornou-se o Príncipe Planetário titular de Urântia.
93:1.1 (1014.3) A verdade revelada esteve ameaçada de extinção durante os milênios que seguiram o não-cumprimento da missão Adâmica, em Urântia. Ainda que fazendo progressos intelectuais, as raças humanas, aos poucos, estavam perdendo terreno espiritualmente. Por volta de 3 000 a.C., o conceito de Deus havia-se tornado muito nebuloso nas mentes dos homens.
93:1.2 (1014.4) Os doze administradores Melquisedeques sabiam da iminente auto-outorga de Michael neste planeta, mas não sabiam quão imediatamente ocorreria; e, por isso eles reuniram-se em conselho solene e pediram aos Altíssimos de Edêntia que alguma providência fosse tomada, para manter a luz da verdade em Urântia. Esse pedido foi invalidado pelo mandado de que “a condução dos assuntos no 606 de Satânia está plenamente nas mãos dos custódios Melquisedeques”. Estes administradores então apelaram à ajuda do Pai Melquisedeque, mas apenas receberam a resposta de que deveriam continuar a manter a verdade da maneira que eles próprios escolhessem “até a chegada de um Filho de auto-outorga”, que “iria resgatar, da negligência e da incerteza, os títulos planetários”.
93:1.3 (1014.5) E foi em conseqüência de terem sido deixados tão completamente por conta dos próprios recursos que Maquiventa Melquisedeque, um dos doze administradores planetários, tornou-se voluntário para fazer o que tinha sido feito apenas por seis vezes em toda a história de Nébadon: personalizar temporariamente na Terra um homem deste reino, auto-outorgando a si próprio como um Filho emergencial para prestar ministração a este mundo. A permissão para essa aventura foi concedida pelas autoridades de Sálvington, e a encarnação factual de Maquiventa Melquisedeque foi consumada nas proximidades do local que estava destinado a se tornar a cidade de Salém, na Palestina. Toda a transação da materialização desse Filho Melquisedeque foi executada pelos administradores planetários, com a cooperação dos Portadores da Vida, alguns dos Mestres Controladores Físicos e outras personalidades celestes residentes em Urântia.
93:2.1 (1015.1) Maquiventa outorgou-se às raças humanas de Urântia 1 973 anos antes do nascimento de Jesus. A sua vinda não foi espetacular; a sua materialização não foi testemunhada por olhos humanos. Ele foi visto pelo homem mortal pela primeira vez naquele dia memorável em que entrou na tenda de Andon, um pastor caldeu de origem suméria. E a proclamação da sua missão ficou corporificada em uma simples afirmação que ele fez a esse pastor: “Eu sou Melquisedeque, sacerdote de El Elyon, o Altíssimo, o único Deus”.
93:2.2 (1015.2) Quando o pastor se recobrou do seu espanto, e depois de haver feito muitas perguntas ao estranho, convidou Melquisedeque para cear com ele; e essa foi a primeira vez, na sua longa carreira no universo, que Maquiventa comeu comida material, o alimento que iria sustentá-lo durante os seus noventa e cinco anos de vida como um ser material.
93:2.3 (1015.3) E, naquela noite, enquanto eles conversavam sob as estrelas, Melquisedeque começou a sua missão de revelação da verdade da realidade de Deus, quando, com um movimento circular de seu braço, ele disse a Andon: “El Elyon, o Altíssimo, é o divino criador das estrelas do firmamento e desta Terra mesma, na qual vivemos, e ele é também o supremo Deus do céu”.
93:2.4 (1015.4) Dentro de uns poucos anos, Melquisedeque havia reunido em torno de si um grupo de alunos, discípulos e crentes, que formaram o núcleo da futura comunidade de Salém. Ele ficou logo conhecido na Palestina como o sacerdote de El Elyon, o Altíssimo, e como o sábio de Salém. Algumas das tribos da vizinhança sempre se referiam a ele como o xeique, ou o rei, de Salém. Salém era o local que, depois do desaparecimento de Melquisedeque, transformou-se na cidade de Jébus, sendo posteriormente chamada Jerusalém.
93:2.5 (1015.5) Na aparência pessoal, Melquisedeque assemelhava-se aos povos noditas e sumérios, então mesclados, tendo quase um metro e oitenta de altura e possuindo uma presença imponente. Falava o caldeu e uma meia dúzia de outras línguas. Vestia-se de um modo bem semelhante aos sacerdotes cananeus, exceto que usava no peito um emblema com três círculos concêntricos, o símbolo da Trindade do Paraíso, em Satânia. Com o decorrer do seu ministério, a insígnia dos três círculos concêntricos veio a ser considerada tão sagrada pelos seus seguidores que eles nunca ousaram usá-la, e foi logo esquecida com o passar de umas poucas gerações.
93:2.6 (1015.6) Embora Maquiventa houvesse vivido à maneira dos homens deste reino, ele nunca se casou, nem poderia ter deixado prole na Terra. O seu corpo físico, conquanto fosse semelhante ao de um ser humano masculino, era, na realidade, da ordem daqueles corpos especialmente construídos, usados pelos cem membros materializados da assessoria do Príncipe Caligástia, exceto que não trazia o plasma da vida de nenhuma raça humana. Nem havia mais em Urântia uma árvore da vida disponível. Houvesse Maquiventa permanecido por algum tempo mais longo na Terra e o seu mecanismo físico haver-se-ia gradativamente deteriorado; o que sucedeu foi que ele completou a sua missão de auto-outorga em noventa e quatro anos, muito antes que o seu corpo material houvesse começado a desfazer-se.
93:2.7 (1016.1) Este Melquisedeque encarnado recebeu um Ajustador do Pensamento, que residiu na sua personalidade supra-humana, como monitor do tempo e mentor da carne, adquirindo, assim, certa experiência e recebendo uma introdução prática aos problemas de Urântia e da técnica de residir um Filho encarnado, que capacitou esse espírito do Pai a funcionar tão valentemente na mente humana do Filho de Deus, Michael, quando mais tarde este apareceu na Terra à semelhança de um mortal na carne. E este é o único Ajustador do Pensamento a ter funcionado em duas mentes em Urântia, e ambas as mentes sendo tanto divinas quanto humanas.
93:2.8 (1016.2) Durante a encarnação na carne, Maquiventa manteve pleno contato com os seus onze companheiros do corpo dos custódios planetários, mas ele não podia comunicar-se com outras ordens de personalidades celestes. À parte os administradores Melquisedeques, ele não tinha nenhum contato mais com outras inteligências supra-humanas do que tem um ser humano.
93:3.1 (1016.3) Passada uma década, Melquisedeque organizou as suas escolas em Salém, dando a elas o padrão do antigo sistema que havia sido desenvolvido pelos primeiros sacerdotes setitas do segundo Éden. Mesmo a idéia do sistema do dízimo, introduzida por Abraão, posteriormente convertido por Melquisedeque, também derivou das tradições remanescentes dos métodos dos antigos setitas.
93:3.2 (1016.4) Melquisedeque ensinou o conceito de um só Deus, de uma Deidade universal, mas permitiu ao povo associar esse ensinamento ao Pai da Constelação de Norlatiadeque, a quem ele chamava de El Elyon — o Altíssimo. Melquisedeque manteve-se em silêncio quanto ao status de Lúcifer e quanto ao estado de coisas em Jerusém. Lanaforge, o Soberano do Sistema, pouco tinha a ver com Urântia, antes do término da auto-outorga de Michael. Para uma maioria dos estudantes de Salém, Edêntia era o céu e o Altíssimo era Deus.
93:3.3 (1016.5) A maioria das pessoas interpretava o símbolo com os três círculos concêntricos que Melquisedeque adotou como insígnia da sua outorga, como representando três reinos, o dos homens, o dos anjos e o de Deus. E a todos foi permitido continuarem com essa crença; pouquíssimos dentre os seus seguidores chegaram a saber que os três círculos eram um símbolo da infinitude, um emblema da eternidade e da universalidade da Trindade do Paraíso, a divina mantenedora e diretora; mesmo Abraão considerava esse símbolo como sendo o dos três Altíssimos de Edêntia, pois havia sido instruído a ele que os três Altíssimos funcionavam como um. Quando Melquisedeque ensinava o conceito da Trindade, simbolizado pela sua insígnia, geralmente ele o associava aos três governantes Vorondadeques, da constelação de Norlatiadeque.
93:3.4 (1016.6) Para o grosso dos seus seguidores, ele não fez nenhum esforço de apresentar ensinamentos para além do fato do governo dos Altíssimos de Edêntia — os Deuses para Urântia. Para alguns, porém, Melquisedeque ensinou a verdade avançada, abrangendo a condução e a organização do universo local; enquanto que, para o seu brilhante discípulo Nordan, o quenita, e para a sua turma de estudantes empenhados, ele ensinou as verdades do superuniverso e mesmo de Havona.
93:3.5 (1016.7) Os membros da família de Katro, com quem Melquisedeque viveu por mais de trinta anos, conheciam muitas dessas verdades mais elevadas e as perpetuaram por muito tempo na própria família, até os dias mesmo do seu ilustre descendente Moisés, que, desse modo, teve acesso a uma imponente tradição dos dias de Melquisedeque, trazida pelo lado do seu pai, bem como por meio de outras fontes, pelo lado da sua mãe.
93:3.6 (1016.8) Melquisedeque ensinou aos seus seguidores tudo o que eles tiveram capacidade para receber e assimilar. E mesmo muitas idéias religiosas modernas, sobre o céu e a Terra, o homem, Deus e os anjos, não estão tão afastadas desses ensinamentos de Melquisedeque. Contudo, esse grande instrutor subordinou tudo à doutrina de um único Deus, uma Deidade universal, um Criador celeste, um Pai divino. Esse ensinamento foi enfatizado, com o propósito de atrair a adoração do homem e preparar o caminho para a vinda posterior de Michael, como o Filho deste mesmo Pai Universal.
93:3.7 (1017.1) Melquisedeque ensinou que, em algum tempo futuro, outro Filho de Deus viria na carne como ele havia vindo, mas que nasceria de uma mulher; e foi por isso que inúmeros instrutores, posteriormente, sustentaram que Jesus era um sacerdote, ou um ministro, “para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque”.
93:3.8 (1017.2) E assim Melquisedeque preparou o caminho, estabelecendo no mundo o estágio de tendência monoteísta, apropriado para a auto-outorga de um verdadeiro Filho do Paraíso do único Deus de fato, a quem ele tão vividamente retratou como sendo o Pai de todos, e a quem ele representou para Abraão como um Deus que aceitaria o homem nos termos simples da fé pessoal. E Michael, quando apareceu na Terra, confirmou tudo o que Melquisedeque havia ensinado a respeito do Pai do Paraíso.
93:4.1 (1017.3) As cerimônias da adoração em Salém eram muito simples. Todas as pessoas que assinavam ou que faziam marcas nas listas das tábuas de argila na igreja de Melquisedeque comprometiam-se a memorizar e seguiam a seguinte crença:
93:4.2 (1017.4) 1. Acredito em El Elyon, o Deus Altíssimo, o único Pai Universal e Criador de todas as coisas.
93:4.3 (1017.5) 2. Aceito a aliança de Melquisedeque com o Altíssimo, que confere o favor de Deus à minha fé; sem sacrifícios, nem holocaustos.
93:4.4 (1017.6) 3. Prometo obedecer aos sete mandamentos de Melquisedeque e contar as boas novas dessa aliança com o Altíssimo a todos os homens.
93:4.5 (1017.7) E esse era todo o credo da colônia de Salém. Todavia, mesmo essa curta e simples declaração de fé foi excessiva e avançada demais para os homens daqueles dias. Eles simplesmente não podiam entender a idéia de obter o favor divino por nada — pela fé. Eles estavam muito profundamente imbuídos da crença de que o homem nascia em débito com os deuses. Por tempo demais e com uma seriedade sincera e excessiva, haviam eles feito sacrifícios e dádivas, aos sacerdotes, para serem capazes de compreender as boas-novas de que a salvação, o favor divino, era um dom dado de graça a todos os que acreditassem na aliança com Melquisedeque. Contudo, Abraão acreditou de modo indeciso e ainda assim isso foi “recebido como um ato de retidão”.
93:4.6 (1017.8) Os sete mandamentos promulgados por Melquisedeque foram modelados ao longo das linhas da suprema lei da Dalamátia e em muito se assemelhavam aos sete mandamentos ensinados no primeiro e no segundo Édens. Esses mandamentos da religião de Salém foram:
93:4.7 (1017.9) 1. Não servirás a nenhum Deus, senão ao Criador Altíssimo do Céu e da Terra.
93:4.8 (1017.10) 2. Não duvidarás de que a fé é a única condição necessária para a salvação eterna.
93:4.9 (1017.11) 3. Não darás falso testemunho.
93:4.10 (1017.12) 4. Não matarás.
93:4.11 (1017.13) 5. Não furtarás.
93:4.12 (1018.1) 6. Não cometerás adultério.
93:4.13 (1018.2) 7. Não mostrarás desrespeito pelos teus pais, nem pelos mais velhos.
93:4.14 (1018.3) Se bem que nenhum sacrifício fosse permitido na colônia, Melquisedeque bem sabia quão difícil é desenraizar subitamente os costumes há muito já estabelecidos e, por isso, sabiamente, ofereceu a esse povo o sacramento do pão e do vinho como substituto do sacrifício mais antigo da carne e do sangue. Está registrado: “Melquisedeque, rei de Salém, instituiu o pão e o vinho”. Mas mesmo essa inovação cautelosa não teve um êxito total; as várias tribos mantinham, todas, centros auxiliares nos arredores de Salém, onde ofereciam sacrifícios e holocaustos. Mesmo Abraão recorreu a essa prática bárbara, depois das suas vitórias sobre Quedorlaomer; ele simplesmente não se sentiu totalmente à vontade até que houvesse oferecido um sacrifício convencional. E Melquisedeque nunca teve êxito em erradicar totalmente essa tendência aos sacrifícios nas práticas religiosas dos seus seguidores, nem mesmo nas de Abraão.
93:4.15 (1018.4) Como Jesus, Melquisedeque aplicou-se estritamente ao cumprimento da missão da sua auto-outorga. Ele não tentou reformar os costumes, nem mudar os hábitos do mundo, nem mesmo promulgar práticas sanitárias avançadas, nem verdades científicas. Ele veio para realizar duas missões: manter viva, na Terra, a verdade de um único Deus e preparar o caminho para a outorga mortal subseqüente de um Filho do Paraíso deste Pai Universal.
93:4.16 (1018.5) Melquisedeque ensinou a verdade elementar revelada, em Salém, durante noventa e quatro anos e, durante esse tempo, Abraão freqüentou a escola de Salém por três vezes distintas. Ele, finalmente, tornou-se um convertido aos ensinamentos de Salém, tornando-se um dos alunos mais brilhantes e um dos principais esteios de Melquisedeque.
93:5.1 (1018.6) Embora possa ser um erro falar de “povo eleito”, não é um erro referir-nos a Abraão como um indivíduo escolhido. Melquisedeque deu a Abraão a responsabilidade de manter viva a verdade de um Deus, distinguindo-a da crença, que prevalecia, em deidades múltiplas.
93:5.2 (1018.7) A escolha da Palestina como local para as atividades de Maquiventa foi, em parte, baseada no desejo de estabelecer contato com alguma família humana que corporificasse os potenciais da liderança. Na época da encarnação de Melquisedeque, havia muitas famílias na Terra igualmente bem preparadas para receber a doutrina de Salém, tanto quanto a de Abraão. Havia famílias igualmente dotadas entre os homens vermelhos, os homens amarelos e os descendentes dos anditas, a oeste e ao norte. De novo, porém, nenhuma dessas localidades era tão bem situada, para o aparecimento subseqüente de Michael na Terra, quanto a costa oriental do mar Mediterrâneo. A missão de Melquisedeque na Palestina e o posterior aparecimento de Michael, em meio ao povo hebreu, foram, em grande parte, determinadas pela geografia, pelo fato de que a Palestina estava centralmente localizada com relação ao comércio, às vias de comunicação existentes e à civilização do mundo de então.
93:5.3 (1018.8) Por algum tempo, os administradores Melquisedeques haviam estado observando os ancestrais de Abraão e, confiantes, esperavam que surgissem, em uma certa geração, filhos que seriam caracterizados pela inteligência, pela iniciativa, pela sagacidade e pela sinceridade. Os filhos de Terah, pai de Abraão, em todos os sentidos, satisfaziam a essas expectativas. A possibilidade de contato com esses versáteis filhos de Terah tinha bastante a ver com o aparecimento de Maquiventa, em Salém, em vez de no Egito, China, Índia, ou entre as tribos do norte.
93:5.4 (1019.1) Terah e toda a sua família eram convertidos ainda pouco sinceros à religião de Salém, a qual havia sido pregada na Caldéia; eles souberam de Melquisedeque por meio da pregação de Ovídio, um instrutor fenício que proclamava as doutrinas de Salém em Ur. Eles deixaram Ur com a intenção de ir diretamente para Salém, mas Nahor, irmão de Abraão, não tendo estado com Melquisedeque, não estava entusiasmado e persuadiu-os a permanecerem em Haran. Muito tempo passou, depois de haverem chegado à Palestina, antes que se dispusessem a destruir todos os deuses caseiros que haviam trazido consigo; eles foram lentos em renunciar aos muitos deuses da Mesopotâmia, em favor do Deus único de Salém.
93:5.5 (1019.2) Umas poucas semanas depois da morte de Terah, pai de Abraão, Melquisedeque enviou um dos seus estudantes, Jaram, o hitita, para tornar seu convite extensivo tanto a Abraão quanto a Nahor: “Vinde a Salém, onde ireis ouvir os nossos ensinamentos sobre a verdade do Criador eterno e, na descendência esclarecida dos irmãos que vós sois, todo o mundo será abençoado”. E Nahor não havia ainda aceitado totalmente o ensinamento de Melquisedeque; ele permaneceu atrás e construiu uma forte cidade-estado que levou o seu nome; mas Lot, sobrinho de Abraão, decidiu ir com o tio para Salém.
93:5.6 (1019.3) Ao chegar em Salém, Abraão e Lot escolheram um forte nas colinas, próximo da cidade, onde eles poderiam defender-se contra os múltiplos ataques de surpresa dos invasores do norte. Nessa época, os hititas, assírios, filisteus e outros grupos estavam constantemente pilhando as tribos na parte central e sulina da Palestina. Do seu abrigo fortalecido nas colinas, Abraão e Lot fizeram freqüentes peregrinações a Salém.
93:5.7 (1019.4) Não muito depois de se haverem estabelecido perto de Salém, Abraão e Lot foram pelo vale do Nilo, para obter suprimentos alimentares, pois havia, então, uma seca na Palestina. Durante essa breve permanência no Egito, Abraão encontrou um parente distante no trono egípcio, e serviu de comandante em duas expedições militares de muito êxito para esse rei. Durante a última parte da sua permanência no Nilo, ele e a sua esposa, Sara, viveram na corte e, ao deixar o Egito, ele recebeu uma parte dos despojos das suas campanhas militares.
93:5.8 (1019.5) Foi necessária muita determinação a Abraão para renunciar às honras da corte egípcia e voltar-se para o trabalho mais espiritual promovido por Maquiventa. Mas Melquisedeque era reverenciado até mesmo no Egito, e quando toda a situação foi apresentada ao Faraó, ele veementemente instou Abraão a voltar para cumprir o seu voto à causa de Salém.
93:5.9 (1019.6) Abraão tinha ambições de ser rei e, no seu retorno do Egito, expôs a Lot o seu plano de subjugar toda a Canaã e de colocar o seu povo sob o governo de Salém. Lot inclinava-se mais pelos negócios; assim, depois de um desacordo posterior, ele foi para Sodoma, dedicar-se a fazer comércio e à criação de animais. Lot não gostava nem da vida militar, nem da vida de pastor.
93:5.10 (1019.7) Ao retornar com a sua família para Salém, Abraão começou a amadurecer os seus projetos militares. Foi logo reconhecido como governante civil do território de Salém e tinha, sob a sua liderança, sete tribos vizinhas confederadas. Foi com grande dificuldade que Melquisedeque de fato conseguiu conter Abraão, que estava inflamado de entusiasmo para conquistar as tribos vizinhas, na ponta da espada, para que elas fossem assim mais rapidamente tornadas conhecedoras das verdades de Salém.
93:5.11 (1019.8) Melquisedeque mantinha relações pacíficas com todas as tribos vizinhas; ele não era militarista e nunca havia sido atacado por qualquer dos exércitos durante as suas idas e vindas por ali. Ele estava inteiramente de acordo com a idéia de que Abraão devesse formular e adotar uma política defensiva para Salém, do modo como foi posteriormente levada a efeito, mas não aprovava os esquemas ambiciosos de conquistas do seu aluno; desse modo, aconteceu um distanciamento amigável na relação, Abraão indo para Hebron para estabelecer a sua capital militar.
93:5.12 (1020.1) Em vista das suas estreitas relações com o ilustre Melquisedeque, Abraão possuía uma grande vantagem sobre os pequenos reis da vizinhança; todos eles reverenciavam Melquisedeque e, indevidamente, temiam a Abraão. Abraão sabia desse medo e apenas aguardava uma ocasião oportuna para atacar os seus vizinhos, e a desculpa para fazê-lo veio quando alguns desses governantes tiveram a presunção de invadir a propriedade do seu sobrinho Lot, que morava em Sodoma. Ao saber disso, Abraão, na chefia das suas sete tribos confederadas, marchou sobre o inimigo. A sua própria guarda pessoal de 318 homens dirigiu o exército, com mais de 4 000 integrantes, que se lançou, então, ao ataque.
93:5.13 (1020.2) Quando Melquisedeque ouviu sobre a declaração de guerra feita por Abraão, partiu para dissuadi-lo, mas apenas alcançou o seu antigo discípulo quando ele retornava vitorioso da batalha. Abraão insistiu que o Deus de Salém havia dado a ele a vitória sobre os seus inimigos e persistiu em dar um décimo dos seus despojos para o tesouro de Salém. Os outros noventa por cento ele levou para a sua capital, em Hebron.
93:5.14 (1020.3) Após essa batalha de Sidim, Abraão tornou-se o líder de uma segunda confederação de onze tribos, e não só pagava o dízimo a Melquisedeque, mas fazia com que todos os outros na vizinhança fizessem o mesmo. As suas tratativas diplomáticas com o rei de Sodoma, aliadas ao medo que ele geralmente inspirava, tiveram como resultado que o rei de Sodoma e outros se uniram a Hebron em confederação militar; Abraão estava indo realmente bem no sentido de estabelecer um estado poderoso na Palestina.
93:6.1 (1020.4) Abraão tinha em vista a conquista de toda a Canaã. A sua determinação era enfraquecida apenas pelo fato de que Melquisedeque não iria aprovar esse empreendimento. Abraão, porém, já havia praticamente decidido embarcar nele quando o pensamento de que não tinha nenhum filho para sucedê-lo como governante desse reino proposto começou a preocupá-lo. Arranjou uma outra conversa com Melquisedeque; e foi no curso dessa entrevista que o sacerdote de Salém, o Filho visível de Deus, persuadiu Abraão a abandonar o seu esquema de conquista material e de governo temporal, em favor do conceito espiritual do Reino do céu.
93:6.2 (1020.5) Melquisedeque explicou a Abraão sobre a inutilidade de contendas contra a confederação dos amoritas, mas fê-lo também compreender que esses clãs atrasados estavam certamente cometendo o suicídio nas suas práticas tolas, pois, em poucas gerações, eles estariam tão enfraquecidos que os descendentes de Abraão, nesse meio tempo grandemente aumentados, poderiam facilmente dominá-los.
93:6.3 (1020.6) E Melquisedeque fez uma aliança formal com Abraão, em Salém. Ele disse a Abraão: “Olha agora para os céus e conta as estrelas, se fores capaz; pois assim tão numerosa a tua semente será”. E Abraão acreditou em Melquisedeque, “e isso foi atribuído a ele como retidão”. E então Melquisedeque contou a Abraão sobre a futura ocupação de Canaã pela sua descendência, depois da permanência deles no Egito.
93:6.4 (1020.7) Essa aliança entre Melquisedeque e Abraão representa o grande acordo urantiano entre a divindade e a humanidade, por meio do qual Deus concorda em fazer tudo; o homem apenas concorda em acreditar nas promessas de Deus e em seguir as suas instruções. Até esse momento, havia-se acreditado que a salvação poderia ser assegurada apenas por obras — sacrifícios e oferendas; e, agora, Melquisedeque novamente trazia a Urântia as boas-novas de que a salvação, o favorecimento de Deus, deveria ser conquistado pela fé. Mas esse evangelho de simples fé em Deus era muito avançado; os homens das tribos semitas posteriormente preferiram retomar os sacrifícios antigos de expiação dos pecados, por meio do derramamento de sangue.
93:6.5 (1021.1) Pouco tempo depois do estabelecimento dessa aliança, Isaac, o filho de Abraão, nasceu, conforme a promessa de Melquisedeque. Depois do nascimento de Isaac, Abraão teve uma atitude muito solene para com essa aliança com Melquisedeque, e foi a Salém para vê-la confirmada por escrito. Foi nessa aceitação pública e formal da aliança que ele então mudou o seu nome, de Abram para Abraão.
93:6.6 (1021.2) A maioria dos crentes de Salém havia praticado a circuncisão, ainda que Melquisedeque nunca a houvesse tornado obrigatória. E Abraão, que havia feito sempre oposição à circuncisão, nessa ocasião então decidiu tornar o evento solene, e aceitou formalmente esse rito em sinal da ratificação da aliança de Salém.
93:6.7 (1021.3) A essa rendição pública e real das suas ambições pessoais em favor dos planos maiores de Melquisedeque, seguiu-se a aparição dos três seres celestes para ele, nas planícies de Manré. Essa aparição aconteceu de fato, não obstante a sua associação com narrativas posteriormente fabricadas, relativas à destruição, que foi natural, de Sodoma e Gomorra. E essas lendas sobre os acontecimentos daqueles dias indicam quão atrasadas a moral e a ética estiveram, até mesmo em épocas relativamente recentes.
93:6.8 (1021.4) Com a consumação da aliança solene, a reconciliação entre Abraão e Melquisedeque tornou-se completa. Abraão assumiu novamente a liderança civil e militar da colônia de Salém, a qual, no seu apogeu, teve mais de cem mil pagadores regulares de dízimos, nas listas da irmandade de Melquisedeque. Abraão fez grandes melhorias no templo de Salém e forneceu novas tendas para toda a escola. Não apenas estendeu o sistema de dízimos, como também instituiu métodos aperfeiçoados de conduzir os negócios da escola, além de contribuir grandemente para um melhor direcionamento dos assuntos ligados à disseminação missionária. Ele também fez muito para promover melhorias para os rebanhos e reorganizar os projetos para os produtos leiteiros de Salém. Abraão era um sagaz e eficiente homem de negócios, um homem rico para a sua época; ele não era excessivamente pio, mas era profundamente sincero, e acreditava em Maquiventa Melquisedeque.
93:7.1 (1021.5) Melquisedeque continuou, por alguns anos, instruindo os seus estudantes e aperfeiçoando os missionários de Salém, que penetravam em todas as tribos vizinhas, especialmente no Egito, Mesopotâmia e Ásia Menor. E, à medida que passavam as décadas, esses educadores viajavam cada vez para mais longe de Salém, levando consigo o ensinamento de Maquiventa sobre a crença e a fé em Deus.
93:7.2 (1021.6) Os descendentes de Adamson, agrupados em torno das margens do lago de Van, eram ouvintes dispostos dos educadores hititas do culto de Salém. Desse antigo centro andita, os educadores eram despachados para regiões longínquas, não apenas da Europa, como da Ásia. Os missionários de Salém penetraram em toda a Europa, até mesmo nas Ilhas Britânicas. Um grupo foi, pelas Ilhas Faroe, até os andonitas da Islândia; enquanto outro atravessou a China e alcançou os japoneses das ilhas orientais. As vidas e as experiências dos homens e mulheres que se aventuraram a sair de Salém, Mesopotâmia e lago de Van, para esclarecer as tribos do hemisfério oriental, representam um capítulo heróico nos anais da raça humana.
93:7.3 (1022.1) Contudo, as tribos eram tão atrasadas e a tarefa era tão grande que os resultados foram vagos e indefinidos. De uma geração para outra, o ensinamento de Salém encontrou lugar aqui e ali, mas, exceção feita à Palestina, nunca a idéia de um único Deus foi capaz de conseguir a lealdade continuada de uma tribo ou raça inteira. Muito antes da vinda de Jesus, os ensinamentos dos primeiros missionários de Salém haviam já submergido, em geral, nas superstições e crenças mais antigas e mais difundidas. O ensinamento Melquisedeque original havia sido quase totalmente absorvido pelas crenças na Grande Mãe, no Sol, e em outros cultos antigos.
93:7.4 (1022.2) Vós, que hoje desfrutais das vantagens da arte da imprensa, não sabeis quão difícil foi perpetuar a verdade durante esses tempos primitivos; tão fácil era perder de vista uma nova doutrina, de uma geração para outra. Havia sempre uma tendência de que a nova doutrina fosse absorvida no corpo mais antigo de ensinamentos religiosos e práticas de magia. Uma nova revelação é sempre contaminada pelas crenças evolucionárias mais antigas.
93:8.1 (1022.3) Foi pouco depois da destruição de Sodoma e Gomorra que Maquiventa decidiu terminar a sua auto-outorga de emergência em Urântia. A decisão de Melquisedeque de dar fim à sua estada na carne foi influenciada por inúmeras condições, a principal delas sendo a tendência crescente das tribos vizinhas, e mesmo dos seus parceiros imediatos, de considerá-lo um semideus, de vê-lo como um ser sobrenatural, o que de fato ele era; mas eles estavam começando a reverenciá-lo de modo indevido e com um medo altamente supersticioso. Além dessas razões, Melquisedeque queria deixar a cena das suas atividades terrenas um tempo suficiente antes da morte de Abraão, para assegurar que a verdade de um Deus e um só Deus pudesse tornar-se estabelecida de modo firme nas mentes dos seus seguidores. E, desse modo, Maquiventa retirou-se, certa noite, para a sua tenda, em Salém, tendo dito boa-noite aos seus companheiros humanos, e quando eles foram chamá-lo na manhã seguinte, ele não estava lá, pois os seus companheiros o haviam levado.
93:9.1 (1022.4) O desaparecimento tão súbito de Melquisedeque foi uma grande provação para Abraão. Se bem que Melquisedeque houvesse advertido abertamente aos seus seguidores que deveria, em algum tempo, partir, do modo como havia chegado, eles não se conformaram com a perda do seu maravilhoso líder. A grande organização montada em Salém quase desapareceu, embora tenha sido sobre as tradições daqueles dias que Moisés se haja apoiado, quando levou os escravos hebreus para fora do Egito.
93:9.2 (1022.5) A perda de Melquisedeque produziu, no coração de Abraão, uma tristeza que ele nunca superou completamente. Ele havia abandonado Hebron, quando desistira da ambição de edificar um reino material; e agora, com a perda do seu inspirador, na construção do Reino espiritual, ele partiu de Salém, indo para o sul, para viver próximo dos seus interesses em Gerar.
93:9.3 (1022.6) Abraão tornou-se amedrontado e tímido, imediatamente depois do desaparecimento de Melquisedeque. Ele escondeu a sua identidade ao chegar em Gerar, tanto assim que Abimelec apropriou-se da sua esposa. (Pouco depois do seu casamento com Sara, uma noite Abraão tinha ouvido sobre um complô para assassiná-lo, para tirar-lhe a sua brilhante esposa. E esse temor transformou-se em um terror para aquele líder tão bravo e ousado em tantas outras coisas; durante toda a sua vida ele temera que alguém o matasse secretamente para ficar com Sara. E isso explica por que, em três ocasiões diferentes, esse bravo homem demonstrou uma verdadeira covardia.)
93:9.4 (1023.1) Mas Abraão não ficou por muito tempo impedido de cumprir sua missão como sucessor de Melquisedeque. Logo, ele fez conversões em meio aos filisteus e junto ao povo de Abimelec; fez um tratado com eles e, em troca, tornou-se contaminado por muitas das superstições deles, particularmente pela prática do sacrifício de primogênitos. Assim, de novo, Abraão tornou-se um grande líder na Palestina. Ele foi reverenciado por todos os grupos e honrado por todos os reis. Ele era o líder espiritual de todas as tribos vizinhas, e a sua influência continuou por algum tempo depois da sua morte. Durante os últimos anos da sua vida, uma vez mais ele retornou a Hebron, cenário das suas primeiras atividades e local onde havia trabalhado junto com Melquisedeque. O último ato de Abraão foi enviar serviçais de confiança à cidade do seu irmão, Nahor, na fronteira com a Mesopotâmia, para assegurar que uma mulher do seu próprio povo fosse a esposa do seu filho Isaac. Há muito o casamento entre primos havia sido um costume do povo de Abraão. E Abraão morreu confiante naquela fé em Deus que ele havia aprendido de Melquisedeque nas extintas escolas de Salém.
93:9.5 (1023.2) Para a geração seguinte, foi difícil compreender a história de Melquisedeque; passados quinhentos anos, muitos consideraram toda a narrativa como um mito. Isaac manteve-se bastante próximo dos ensinamentos do seu pai e manteve a crença da colônia de Salém, mas, para Jacó, foi mais difícil compreender o significado dessas tradições. José foi um crente firme em Melquisedeque e, um tanto por causa disso, foi encarado pelos seus irmãos como um sonhador. As honrarias concedidas a José, no Egito, o foram principalmente devido à memória do seu bisavô Abraão. A José foi oferecido o comando militar dos exércitos egípcios, mas, sendo um crente tão firme nas tradições de Melquisedeque e nos ensinamentos posteriores de Abraão e Isaac, ele escolheu servir como administrador civil, acreditando que poderia, assim, trabalhar melhor para o avanço do Reino dos céus.
93:9.6 (1023.3) O ensinamento de Melquisedeque foi pleno e completo, mas os registros desses dias pareceram impossíveis e fantásticos para os sacerdotes hebreus posteriores, embora muitos tivessem alguma compreensão daqueles acontecimentos, pelo menos até a época em que os registros do Antigo Testamento foram revisados em massa na Babilônia.
93:9.7 (1023.4) O que o Antigo Testamento registra como conversas entre Abraão e Deus, na realidade, aconteceu entre Abraão e Melquisedeque. Posteriormente, os escribas encararam o termo Melquisedeque como sinônimo de Deus. Os registros de tantos contatos de Abraão e Sara com “o anjo do Senhor” referem-se às suas numerosas entrevistas com Melquisedeque.
93:9.8 (1023.5) As narrativas hebraicas sobre Isaac, Jacó e José são muito mais confiáveis do que aquelas sobre Abraão, se bem que elas também contenham muitos pontos divergentes do que é factual, devido a alterações feitas intencionalmente e não intencionalmente na época da compilação desses registros pelos sacerdotes hebreus, durante o cativeiro na Babilônia. Quetura não foi esposa de Abraão; como Agar, ela foi meramente uma concubina. Todas as propriedades de Abraão foram para Isaac, o filho de Sara, que tinha status de esposa. Abraão não era tão velho quanto o registro indica e a sua esposa era muito mais nova. Essas idades foram deliberadamente alteradas, com o fito de prover um subseqüente nascimento de Isaac, pretendido como miraculoso.
93:9.9 (1023.6) O ego nacional dos judeus ficou tremendamente deprimido durante o cativeiro da Babilônia. Na sua reação contra a inferioridade nacional, eles oscilaram para o outro extremo do egotismo nacional e racial e, nisso, distorceram e perverteram as suas tradições para exaltar-se, colocando a si próprios acima de todas as raças, como povo escolhido de Deus; e assim, eles cuidadosamente refizeram todos os registros com o propósito de colocar Abraão e os seus outros líderes nacionais muito acima de todas as outras pessoas, não excetuando o próprio Melquisedeque. Os escribas hebreus destruíram, pois, todos os anais que puderam encontrar dessas épocas memoráveis, preservando apenas a narrativa do encontro de Abraão e Melquisedeque depois da batalha de Sidim, encontro que fazia refletir uma grande honra sobre Abraão.
93:9.10 (1024.1) E assim, ao perder Melquisedeque de vista, eles também perderam o ensinamento desse Filho emergencial a respeito da missão espiritual de auto-outorga do Filho prometido. Perderam de vista tão plena e completamente a natureza dessa missão, que poucos da sua progênie puderam ou quiseram reconhecer e receber Michael, quando ele apareceu na Terra e na carne, como Maquiventa havia predito.
93:9.11 (1024.2) Todavia, um dos escritores do Livro dos Hebreus compreendeu a missão de Melquisedeque, pois está escrito: “Esse Melquisedeque, sacerdote do Altíssimo, também foi um rei da paz; sem pai, sem mãe, sem genealogia, não tendo nem início de dias nem fim de vida, mas como um Filho de Deus, ele permanece para sempre como um sacerdote”. Esse escritor definiu Melquisedeque como um ser do tipo auto-outorgado, como posteriormente o foi Michael, afirmando que Jesus era “um ministro para sempre da ordem de Melquisedeque”. Ainda que essa comparação não seja de todo feliz, foi literalmente verdadeiro que Cristo recebeu um título provisório em Urântia, “segundo as ordens dos doze administradores Melquisedeques” em exercício, na época da sua auto-outorga neste mundo.
93:10.1 (1024.3) Durante os anos da encarnação de Maquiventa, os administradores Melquisedeques de Urântia funcionaram em número de onze. Quando Maquiventa considerou completa a sua missão, como um Filho emergencial, ele indicou esse fato aos seus onze coligados, e eles imediatamente colocaram à disposição dele a técnica por meio da qual deveria ser liberado da carne e devolvido a salvo ao seu status original, de Filho Melquisedeque. E, ao terceiro dia depois do seu desaparecimento de Salém, ele apareceu em meio aos seus onze companheiros na missão em Urântia e reassumiu a sua carreira interrompida como um dos administradores planetários do 606 de Satânia.
93:10.2 (1024.4) Maquiventa terminou a sua auto-outorga como uma criatura de carne e sangue, tão sem cerimônia e tão subitamente quanto a havia começado. Nem o seu aparecimento nem a partida foram acompanhados de qualquer anúncio inusitado ou demonstração; nem uma lista de chamada de ressurreição, nem um fim de dispensação planetária marcaram o seu aparecimento em Urântia; a sua outorga foi de emergência. Maquiventa, porém, não terminou a sua temporada na carne dos seres humanos antes de haver sido devidamente liberado pelo Pai Melquisedeque e não antes de haver sido informado de que a sua outorga emergencial havia recebido a aprovação do dirigente executivo de Nébadon, Gabriel de Sálvington.
93:10.3 (1024.5) Maquiventa Melquisedeque continuou a manter um grande interesse pelos assuntos dos descendentes daqueles homens que haviam acreditado nos seus ensinamentos, quando ele estava na carne. Contudo, a progênie de Abraão, por intermédio de Isaac, na linha de intercasamento com os quenitas, era a única linhagem que por um longo tempo continuou nutrindo um conceito claro dos ensinamentos de Salém.
93:10.4 (1024.6) Esse mesmo Melquisedeque continuou a colaborar, durante os dezenove séculos seguintes, com muitos profetas e videntes, tratando assim de manter vivas as verdades de Salém até que se completasse o tempo da vinda de Michael à Terra.
93:10.5 (1025.1) Maquiventa continuou como administrador planetário até os tempos do triunfo de Michael em Urântia. Depois disso, ele ficou ligado ao serviço de Urântia, em Jerusém, como um dos vinte e quatro diretores, tendo sido, apenas recentemente, elevado à posição de embaixador pessoal do Filho Criador em Jerusém, com o título de Príncipe Planetário Vice-Regente de Urântia. Acreditamos que, enquanto Urântia permanecer como planeta habitado, Maquiventa Melquisedeque não retornará totalmente aos deveres da sua ordem de filiação e permanecerá, em termos de tempo, para sempre como ministro planetário, representando Cristo Michael.
93:10.6 (1025.2) Como a sua outorga em Urântia foi de emergência, não consta nos anais qual possa ser o futuro de Maquiventa. Pode acontecer que o corpo Melquisedeque de Nébadon haja sofrido a perda permanente de um dos da sua ordem. Comuniações recentes, vindas dos Altíssimos de Edêntia e, mais tarde, confirmadas pelos Anciães dos Dias de Uversa, sugerem, com ênfase, que esse Melquisedeque de auto-outorga esteja destinado a tomar o lugar do Príncipe Planetário caído, Caligástia. Se as nossas conjecturas a esse respeito estiverem corretas, é bastante possível que Maquiventa Melquisedeque possa novamente aparecer pessoalmente em Urântia e, de algum modo diferente, reassumir o papel do Príncipe Planetário destronado, ou, então, aparecer na Terra para funcionar como Príncipe Planetário Vice-Regente, representando Cristo Michael, que é, agora, quem de fato detém o título de Príncipe Planetário de Urântia. Ainda que esteja longe de parecer claro, para nós, qual possa ser o destino de Maquiventa, contudo, acontecimentos recentes sugerem enfaticamente que as conjecturas anteriores provavelmente não estejam muito distantes da verdade.
93:10.7 (1025.3) Compreendemos muito bem como, por meio do seu triunfo em Urântia, Michael tornou-se o sucessor não só de Caligástia e de Adão; como também tornou-se o Príncipe Planetário da Paz e o segundo Adão. E, agora, vemos ser conferido a esse Melquisedeque o título de Príncipe Planetário Vice-Regente de Urântia. Será ele também constituído como Filho Material Vice-Regente de Urântia? Ou haverá a possibilidade de que um evento inesperado e sem precedentes ocorra, tal como o retorno ao planeta, a qualquer momento, de Adão e Eva, ou de alguns dos seus descendentes como representantes de Michael, com os títulos de Vice-Regentes do segundo Adão de Urântia?
93:10.8 (1025.4) E todas essas especulações, associadas à certeza dos aparecimentos futuros tanto de Filhos Magisteriais, quanto de Filhos Instrutores da Trindade, em conjunção com a promessa explícita do Filho Criador de retornar em algum momento, fazem de Urântia um planeta de futuro imprevisto e tornam-no uma das mais interessantes e misteriosas esferas em todo o universo de Nébadon. É mesmo possível que, em alguma era futura, quando Urântia se estiver aproximando da era de luz e vida, depois que os casos da rebelião de Lúcifer e da secessão de Caligástia houverem sido finalmente julgados, possamos testemunhar as presenças em Urântia, simultaneamente, de Maquiventa, Adão, Eva e Cristo Michael, bem como a de um Filho Magisterial ou mesmo de Filhos Instrutores da Trindade.
93:10.9 (1025.5) Há muito, a opinião da nossa ordem tem sido de que a presença de Maquiventa no corpo de diretores de Urântia em Jerusém, junto aos vinte e quatro conselheiros, é evidência suficiente para garantir a crença de que ele está destinado a seguir adiante, com os mortais de Urântia, no esquema de progressão e ascensão do universo até mesmo ao Corpo de Finalidade do Paraíso. Sabemos que Adão e Eva estão destinados a acompanhar os seus companheiros da Terra na aventura até o Paraíso, quando Urântia estiver estabelecida em luz e vida.
93:10.10 (1025.6) Há menos de mil anos, este mesmo Maquiventa Melquisedeque, outrora o sábio de Salém, esteve presente invisivelmente em Urântia por um período de cem anos, atuando como governador-geral residente do planeta; e se o sistema atual de direção dos assuntos planetários continuar, ele deverá retornar em pouco mais de mil anos e retomar a mesma função.
93:10.11 (1026.1) Tal é a história de Maquiventa Melquisedeque, uma das figuras mais singulares de todas as que já estiveram ligadas à história de Urântia, e uma personalidade que pode estar destinada a desempenhar um importante papel na experiência futura do vosso irregular e inusitado mundo.
93:10.12 (1026.2) [Apresentado por um Melquisedeque de Nébadon.]
O Livro de Urântia
Documento 94
94:0.1 (1027.1) OS PRIMEIROS instrutores da religião de Salém penetraram até as tribos mais remotas da África e da Eurásia, pregando sempre o evangelho de Maquiventa, da fé e da confiança que deve o homem ter em um Deus universal, como o único preço para obter o favor divino. A aliança de Melquisedeque com Abraão foi a base para toda a divulgação inicial vinda de Salém e de outros centros. Urântia nunca teve missionários mais entusiasmados e motivados de qualquer religião do que esses homens e mulheres nobres que levaram os ensinamentos de Melquisedeque por todo o Hemisfério Oriental. Esses missionários foram recrutados em meio a muitos povos e raças, e espalharam amplamente os seus ensinamentos por meio dos nativos convertidos. Eles estabeleceram centros de aperfeiçoamento em partes diferentes do mundo, onde ensinavam aos nativos a religião de Salém e, então, encarregavam esses alunos de funcionarem como instrutores entre os do seu próprio povo.
94:1.1 (1027.2) Nos dias de Melquisedeque, a Índia era um país cosmopolita, que recentemente havia caído sob o domínio político e religioso dos invasores arianos-anditas do norte e do oeste. Nessa época, apenas as partes setentrionais e ocidentais da península estavam permeadas, em larga escala, pelos arianos. Esses recém-chegados vedas haviam trazido consigo as suas várias deidades tribais. As suas formas religiosas de adoração seguiam de perto as práticas cerimoniais dos seus antigos ancestrais anditas, em que o pai ainda funcionava como um sacerdote, e a mãe como uma sacerdotisa, e a lareira da família ainda era utilizada como um altar.
94:1.2 (1027.3) O culto védico estava, então, em processo de crescimento e de metamorfose, sob a direção da casta brâmane dos sacerdotes-educadores, que estava assumindo gradativamente o controle do ritual da adoração, o qual se encontrava em expansão. A fusão das trinta e três deidades arianas do passado estava já bem a caminho quando os missionários de Salém penetraram no norte da Índia.
94:1.3 (1027.4) O politeísmo desses arianos representava uma degeneração do seu monoteísmo anterior, ocasionada pela sua separação em unidades tribais, cada tribo tendo o seu deus venerado. Essa degenerescência do monoteísmo e do trinitarismo, originais da Mesopotâmia andita, estava em processo de ressintetização, nos primeiros séculos do segundo milênio antes de Cristo. Os vários deuses estavam organizados em um panteão, sob a liderança trina de Dyaus pitar, o senhor dos céus; Indra, o tempestuoso senhor da atmosfera; e Agni, o deus tricéfalo do fogo, o senhor da Terra e o vestígio simbólico de um antigo conceito da Trindade.
94:1.4 (1027.5) Desenvolvimentos claramente henoteístas estavam preparando o caminho para um monoteísmo evoluído. Agni, a deidade mais antiga, era sempre exaltada como o pai-chefe do panteão inteiro. O princípio da deidade-pai, algumas vezes chamada de Prajapati e, algumas vezes, de Brama, esteve submerso na batalha teológica que os sacerdotes brâmanes mais tarde travaram com os instrutores de Salém. O Braman era concebido como o princípio de divindade-energética que ativava todo o panteão védico.
94:1.5 (1028.1) Os missionários de Salém pregaram o Deus único de Melquisedeque, o Altíssimo dos céus. Essa descrição não estava de todo em desarmonia com o conceito emergente do Pai-Brama como a fonte de todos os deuses, mas a doutrina de Salém era não ritualista e, pois, ia diretamente contra os dogmas, as tradições, e os ensinamentos do sacerdócio brâmane. Nunca os sacerdotes brâmanes aceitariam a pregação de Salém, de uma salvação por meio da fé, do favorecimento de Deus independentemente das observâncias ritualísticas e dos cerimoniais com sacrifícios.
94:1.6 (1028.2) A rejeição do evangelho de Melquisedeque, de confiança em Deus e de salvação por meio da fé, foi um marco vital de mudança para a Índia. Os missionários de Salém muito haviam contribuído para a perda da fé em todos os deuses vedas antigos, mas os líderes, os sacerdotes do vedismo, recusaram-se a aceitar o ensinamento de Melquisedeque de um Deus e de uma fé simples e única.
94:1.7 (1028.3) Os brâmanes colecionaram os escritos sagrados daqueles dias em um esforço para combater os instrutores de Salém, e essa compilação, mais tarde revisada, chegou até os tempos modernos como o Rig-Veda, um dos mais antigos livros sagrados. Os segundos, os terceiros e os quartos Vedas vieram à medida que os brâmanes buscavam cristalizar, formalizar e impor seus rituais de adoração e sacrifício aos povos daqueles dias. Pelo que têm de melhor, esses escritos são equivalentes a qualquer outro conjunto de caráter similar, em beleza de conceito e verdade de discernimento. Contudo, como essa religião superior tornou-se contaminada pelos milhares e milhares de superstições, de cultos e rituais da parte sulina da Índia, progressivamente, ela metamorfoseou-se no sistema mais variegado de teologia já desenvolvido pelo homem mortal. Um estudo dos Vedas fará com que se descubram alguns conceitos da Deidade, entre os mais elevados, e, outros, entre os mais baixos a serem jamais concebidos.
94:2.1 (1028.4) À medida que os missionários de Salém penetraram na direção sul, rumo ao Decã dravidiano, eles encontraram um sistema mais intenso de castas, o esquema ariano de impedir a perda de identidade racial em face da maré crescente de povos sangiques secundários. Desde que a casta dos sacerdotes brâmanes era a essência mesma desse sistema, essa ordem social retardou, em muito, o progresso dos educadores de Salém. Esse sistema de castas não teve êxito em salvar a raça ariana, mas teve sucesso na perpetuação dos brâmanes, que, por sua vez, têm mantido a sua hegemonia religiosa na Índia até os dias atuais.
94:2.2 (1028.5) E agora, com o enfraquecimento do vedismo pela sua rejeição da verdade mais elevada, o culto dos arianos tornou-se sujeito a intromissões cada vez maiores do Decã. Num esforço desesperado para estancar o fluxo da extinção racial e da obliteração religiosa, a casta brâmane buscou exaltar a si própria acima de tudo o mais. Os brâmanes ensinaram que o sacrifício à deidade, em si mesmo, era tão plenamente eficaz, que conseguia dela tudo com a sua força. E proclamaram que, dos dois princípios divinos essenciais do universo, um era Braman, a deidade, e o outro era o sacerdócio brâmane. Em meio a nenhum outro povo de Urântia, os sacerdotes presumiram exaltar assim a si próprios acima mesmo dos seus deuses, a atribuir a si próprios as honras devidas aos seus deuses. Eles, porém, foram tão absurdamente longe, nessas presunçosas reivindicações, que todo o precário sistema entrou em colapso diante dos cultos aviltantes que afluíram das civilizações circundantes, menos avançadas. O vasto sacerdócio védico, ele próprio, atrapalhou-se e afundou sob a maré negra da inércia e do pessimismo que a sua própria presunção egoísta e pouco sábia havia trazido a toda a Índia.
94:2.3 (1029.1) A concentração indevida no ego conduziu certamente a um temor da perpetuação não evolucionária do ego, em um círculo sem fim de sucessivas encarnações como homem, besta, ou ervas daninhas. E de todas as crenças contaminadoras que poderiam ter aderido àquilo que possa ter sido um monoteísmo emergente, nenhuma foi mais estupidificante do que a crença na transmigração — a doutrina da reencarnação das almas — , que veio do Decã dravidiano. Essa crença, em um círculo fastidioso e monótono de repetidas transmigrações, roubou dos mortais em luta a sua esperança há muito acalentada de encontrar a libertação e o avanço espiritual na morte, que havia sido uma parte da fé anterior védica.
94:2.4 (1029.2) Esse ensinamento filosoficamente debilitador foi logo seguido da invenção da doutrina segundo a qual se escapa eternamente do eu pela submersão no repouso e na paz universal da união absoluta com Braman, a superalma de toda a criação. O desejo mortal e a ambição humana foram efetivamente arrebatados e virtualmente destruídos. Por mais de dois mil anos, as melhores mentes da Índia procuraram escapar de todo desejo e, assim, a porta ficou toda aberta para a entrada daqueles cultos e ensinamentos posteriores que agrilhoaram virtualmente as almas de muitos do povo indiano nas correntes da desesperança espiritual. De todas as civilizações, a vedico-ariana foi a que pagou o preço mais terrível pela sua rejeição ao evangelho de Salém.
94:2.5 (1029.3) Apenas a organização em castas não poderia perpetuar o sistema religioso-cultural ariano e, à medida que as religiões inferiores do Decã infiltravam-se ao norte, desenvolveu-se uma idade de desespero e falta de esperança. Foi durante esses dias escuros que surgiu o culto de não se tirar a vida de nenhuma criatura, o qual tem perdurado desde então. Muitos dos novos cultos eram francamente ateístas, argumentando que a salvação que fosse acessível poderia vir apenas pelos esforços humanos, sem ajuda externa. Contudo, por meio de boa parte dessa filosofia infeliz podem ser percebidos alguns remanescentes distorcidos dos ensinamentos de Melquisedeque, e mesmo dos de Adão.
94:2.6 (1029.4) Esses foram os tempos de compilação das últimas escrituras da fé hindu, as Brâmanas e os Upanishades. Havendo rejeitado os ensinamentos da religião pessoal pela experiência da fé pessoal com o único Deus, e tendo-se contaminado na inundação dos cultos e crendices aviltantes e debilitadores provenientes do Decã, com os seus antropomorfismos e reencarnações, o sacerdócio brâmane experimentou uma reação violenta contra essas crenças viciosas; houve um esforço claro de buscar e de encontrar a verdadeira realidade. Os brâmanes puseram-se a desantropomorfizar o conceito hindu da deidade, mas, ao fazer isso, eles tropeçaram no grave erro de despersonalizar o conceito de Deus, e emergiram, não com o ideal sublime e espiritual do Pai do Paraíso, mas com uma idéia distante e metafísica de um Absoluto que a tudo engloba.
94:2.7 (1029.5) Nos seus esforços de autopreservação, os brâmanes haviam rejeitado o Deus único de Melquisedeque, e agora se viam diante da hipótese de Braman, aquele eu filosófico indefinido e ilusório, aquele isso impessoal e impotente que deixou a vida espiritual da Índia desamparada e prostrada desde aqueles dias infelizes até o século vinte.
94:2.8 (1029.6) Foi durante os tempos em que os Upanishades estavam sendo escritos que o budismo surgiu na Índia. Apesar, porém, do seu êxito de mil anos, não pôde concorrer com a fase anterior do hinduísmo; apesar da sua moralidade mais elevada, a descrição inicial que fazia de Deus era ainda mais indefinida do que a do hinduísmo, que providenciou deidades menores e pessoais. O budismo, finalmente, foi afastado, no norte da Índia, pelos ataques de um Islã militante, com o seu conceito claro de Alá como o Deus supremo do universo.
94:3.1 (1030.1) Conquanto a fase superior do bramanismo dificilmente haja sido uma religião, foi, na verdade, um dos esforços mais nobres da mente mortal de penetrar nos domínios da filosofia e da metafísica. Tendo partido para a descoberta da realidade final, a mente indiana não parou até que houvesse especulado sobre quase todos os aspectos da teologia, excetuando-se o conceito dual essencial da religião: a existência do Pai Universal de todas as criaturas do universo e o fato da experiência ascendente, no universo, dessas mesmas criaturas que buscam alcançar o Pai eterno, o qual comandou-lhes que fossem perfeitas, como Ele próprio é perfeito.
94:3.2 (1030.2) No conceito de Braman, as mentes daqueles dias captaram verdadeiramente a idéia de algum Absoluto impregnando a tudo, pois elas identificavam esse postulado, simultaneamente, com a energia criativa e a reação cósmica. Braman era concebido como estando além de qualquer definição, capaz de ser compreendido apenas pela negação sucessiva de todas as qualidades finitas. Era claramente a crença em um ser absoluto e infinito mesmo; mas, em grande parte, esse conceito era desprovido dos atributos de personalidade e, portanto, não era experienciável pelo indivíduo religioso.
94:3.3 (1030.3) Braman-Narayana foi concebido como o Absoluto, O QUE É infinito, a potência primordial criativa do cosmo potencial, o Eu Universal existindo estática e potencialmente durante toda a eternidade. Tivessem os filósofos daqueles dias sido capazes de dar o próximo passo na concepção da deidade, tivessem eles sido capazes de conceber o Braman como associativo e criativo, como uma personalidade acessível pelos seres criados e em evolução, então, talvez, esse ensinamento pudesse haver-se transformado na mais avançada apresentação da Deidade em Urântia, posto que teria abrangido os cinco primeiros níveis da função total da deidade e, possivelmente, poderia haver antevisto os dois restantes.
94:3.4 (1030.4) Em certas fases, o conceito da Superalma Universal Única, como totalidade e soma das existências de todas as criaturas, conduziu os filósofos indianos até muito perto da verdade do Ser Supremo, mas essa verdade não lhes valeu de nada, porque eles fracassaram ao desenvolver qualquer abordagem ou método de aproximação pessoal razoável ou racional para alcançar a sua meta teórica monoteísta de Braman-Narayana.
94:3.5 (1030.5) O princípio cármico da continuidade causal chega, novamente, até bem próximo da verdade de que todas as ações no espaço-tempo repercutem em uma síntese na presença da Deidade do Supremo; mas esse postulado jamais deu elementos para que o indivíduo religioso chegasse a um alcance pessoal coordenado da Deidade. Apenas forneceu elementos para que se pensasse que toda a personalidade entrará em um engolfamento último dentro da Supra-alma Universal.
94:3.6 (1030.6) A filosofia do bramanismo também chegou muito perto da compreensão da presença residente dos Ajustadores do Pensamento, mas deixou-se perverter por causa de um conceito falso da verdade. O ensinamento de que a alma é a presença residente de Braman teria preparado o caminho para uma religião avançada, caso esse conceito não houvesse sido completamente viciado pela crença de que não há nenhuma individualidade humana, à parte essa presença do Um universal.
94:3.7 (1030.7) Na doutrina pela qual a alma individual se funde na Superalma, os teólogos da Índia deixaram de prover elementos para a sobrevivência das coisas humanas, de algo novo e único, algo nascido da união da vontade do homem com a vontade de Deus. O ensinamento do retorno da alma para Braman é, muito de perto, paralelo à verdade do retorno do Ajustador para o seio do Pai Universal, mas alguma coisa além do Ajustador há que sobrevive, também, e esta é a contraparte moroncial da personalidade mortal. E esse conceito vital esteve ausente de modo fatal na filosofia brâmane.
94:3.8 (1031.1) A filosofia brâmane conseguiu uma boa aproximação de muitos dos fatos do universo e abordou bem inúmeras verdades cósmicas, mas também por muitas vezes foi vítima do erro de deixar de diferenciar entre os vários níveis da realidade, tais como o absoluto, o transcendental e o finito. Deixou de levar em conta que aquilo que pode ser um finito-ilusório, no nível absoluto, pode ser absolutamente real, no nível finito. E também não tomou conhecimento da personalidade essencial do Pai Universal, a quem se pode contatar pessoalmente em todos os níveis, desde o da experiência limitada da criatura evolucionária com Deus, até a experiência ilimitada do Filho Eterno com o Pai do Paraíso.
94:4.1 (1031.2) Com o passar dos séculos, na Índia, a população retornou, em uma certa medida, aos rituais antigos dos Vedas, do modo como haviam sido modificados pelos ensinamentos dos missionários de Melquisedeque e cristalizados pelo sacerdócio brâmane ulterior. Essa religião, a mais antiga e mais cosmopolita do mundo, passou por novas mudanças em resposta ao budismo e ao jainismo, e devido às influências mais recentes do maometismo e do cristianismo. Todavia, na época em que os ensinamentos de Jesus chegaram, já se haviam tornado ocidentalizados, a ponto de serem uma “religião do homem branco” e, portanto, insólita e estrangeira para a mente indiana.
94:4.2 (1031.3) A teologia hindu, no presente, ilustra quatro níveis descendentes de deidade e de divindade:
94:4.3 (1031.4) 1. O Braman, o absoluto, o Um Infinito, AQUILO QUE É.
94:4.4 (1031.5) 2. A Trimurti, a suprema trindade do hinduísmo. Nessa associação, Brama, o primeiro membro, é concebido como sendo criado por si próprio a partir de Braman — a infinitude. Não estivesse ele em estreita identificação com o Um Infinito panteísta, Brama poderia constituir-se no fundamento para um conceito do Pai Universal. Brama é também identificado com o destino.
94:4.5 (1031.6) A adoração de Shiva e Vishnu, o segundo e terceiro membros, surgiu no primeiro milênio depois de Cristo. Shiva é o senhor da vida e da morte, o deus da fertilidade e o mestre da destruição. Vishnu é extremamente popular, devido à crença de que ele se encarna periodicamente na forma humana. Desse modo, Vishnu torna-se real e vivo na imaginação dos indianos. Shiva e Vishnu são considerados, por alguns, como supremos, acima de todos.
94:4.6 (1031.7) 3. As deidades védicas e pós-védicas. Muitos dos antigos deuses dos arianos, tais como Agni, Indra e Soma, persistiram como secundários em relação aos três membros da Trimurti. Numerosos outros deuses têm surgido desde os dias iniciais da Índia védica, e eles também foram incorporados ao panteão hindu.
94:4.7 (1031.8) 4. Os semideuses: super-homens, semideuses, heróis, demônios, fantasmas, espíritos maus, duendes, monstros, diabretes e santos de cultos mais recentes.
94:4.8 (1031.9) Embora o hinduísmo não venha tendo êxito em vivificar o povo indiano, tem sido, ao mesmo tempo, uma religião tolerante em geral. A sua grande força repousa no fato de que tem provado ser a mais adaptável e a mais amorfa das religiões a aparecerem em Urântia. É capaz de mudanças quase ilimitadas e possui uma capacidade pouco habitual de ajuste flexível, desde as especulações elevadas e semimonoteístas dos brâmanes intelectuais até o fetichismo flagrante e as práticas de cultos primitivos das classes desprivilegiadas e aviltadas de crentes ignorantes.
94:4.9 (1032.1) O hinduísmo tem sobrevivido porque é essencialmente uma parte integral do tecido social básico da Índia. Não está postado em nenhuma grande hierarquia, para que possa ser perturbado ou destruído; está entrelaçado aos padrões de vida do povo. Tem uma adaptabilidade às condições mutantes que excede a de quaisquer outros cultos, e tem uma atitude tolerante de adoção para com muitas outras religiões; Gautama Buda e mesmo o próprio Cristo foram considerados encarnações de Vishnu.
94:4.10 (1032.2) Hoje, na Índia, há uma grande necessidade da apresentação do evangelho de Jesus — a Paternidade de Deus e a filiação e a conseqüente irmandade de todos os homens, que é realizada pessoalmente na ministração do amor e do serviço social. Na Índia, existe um quadro filosófico, a estrutura do culto está presente; tudo o que se faz necessário é a chama vitalizante do amor dinâmico retratado no evangelho original do Filho do Homem, despojado dos dogmas e doutrinas ocidentais que trouxeram a tendência de fazer da vida auto-outorgada de Michael uma religião de homens brancos.
94:5.1 (1032.3) Enquanto os missionários de Salém percorriam a Ásia, disseminando a doutrina do Deus Altíssimo e da salvação pela fé, eles absorveram muito da filosofia e do pensamento religioso dos vários países que atravessavam. Contudo, os instrutores encarregados por Melquisedeque e os seus sucessores não falharam na sua missão; eles tiveram penetração entre todos os povos do continente eurasiano; e foi no meio do segundo milênio antes de Cristo que eles chegaram à China. Durante mais de cem anos, os salemitas mantiveram sua sede em Si Fuch, treinando ali os instrutores chineses que ensinaram em todos os locais de domínio da raça amarela.
94:5.2 (1032.4) Foi em conseqüência direta desse ensinamento que surgiu, na China, a forma inicial de taoísmo, uma religião totalmente diferente da que leva esse nome hoje. O taoísmo inicial ou o proto-taoísmo era um composto dos fatores seguintes:
94:5.3 (1032.5) 1. Os ensinamentos remanescentes de Singlangton, que persistiram na concepção de Shang-ti, o Deus dos Céus. Nos tempos de Singlangton, o povo chinês tornou-se virtualmente monoteísta; concentrou a sua adoração na Verdade Única, mais tarde conhecida como o Espírito do Céu, o governante do universo. E a raça amarela nunca se perdeu totalmente dessa concepção inicial da Deidade, se bem que, nos séculos posteriores, muitos deuses e espíritos subordinados hajam se infiltrado sub-repticiamente na sua religião.
94:5.4 (1032.6) 2. A religião de Salém, com uma Deidade Altíssima Criadora, que outorgaria o seu favorecimento à humanidade em resposta à fé do homem. Todavia, é também muito verdadeiro que, à época em que os missionários de Melquisedeque haviam penetrado nas terras da raça amarela, a sua mensagem original havia-se distanciado consideravelmente das doutrinas simples de Salém dos dias de Maquiventa.
94:5.5 (1032.7) 3. O conceito do Braman-Absoluto dos filósofos indianos, somado aos desejos de escapar de todo o mal. Talvez a maior influência externa para a disseminação da religião de Salém até o leste, haja sido exercida pelos educadores indianos da fé védica, que injetaram a sua concepção do Braman — o Absoluto — no pensamento salvacionista dos salemitas.
94:5.6 (1033.1) Essa crença composta espalhou-se pelas terras da raça amarela e das raças morenas, como uma influência subjacente no pensamento religioso-filosófico. No Japão, esse prototaoísmo ficou conhecido como xintoísmo e nesse país, muito distante de Salém da Palestina, os povos aprenderam sobre a encarnação de Maquiventa Melquisedeque, que habitou na terra para que a humanidade não se esquecesse de Deus.
94:5.7 (1033.2) Na China, todas essas crenças, mais tarde, foram confundidas e se compuseram com o culto sempre em crescimento da adoração dos ancestrais. Contudo, desde a época de Singlangton, os chineses nunca mais caíram em uma escravidão desamparada aos rituais sacerdotais. A raça amarela foi a primeira a emergir da servidão bárbara e a entrar na civilização da ordem organizada, porque foi a primeira a alcançar, em alguma medida, a liberdade do medo abjeto dos deuses, não temendo nem mesmo os fantasmas dos mortos, como outras raças temeram. A China encontrou a sua derrota, porque ela não teve êxito em progredir para além da sua primeira emancipação dos sacerdotes; e caiu em um erro igualmente calamitoso, a adoração dos ancestrais.
94:5.8 (1033.3) Entretanto, os salemitas não trabalharam em vão. Foi sobre os fundamentos do seu evangelho que os grandes filósofos da China do sexto século elaboraram os seus ensinamentos. A atmosfera moral e os sentimentos espirituais dos tempos de Lao-Tsé e de Confúcio vieram a partir dos ensinamentos dos missionários de Salém de uma idade anterior.
94:6.1 (1033.4) Cerca de seiscentos anos antes da chegada de Michael, Melquisedeque, que há muito já havia partido da vida na carne, teve a impressão de que a pureza do seu ensinamento na Terra estava sendo perigosamente ameaçada pela absorção geral nas crenças mais antigas de Urântia. Pareceu, por um tempo, que a sua missão como precursor de Michael poderia estar em perigo de falhar. E, no sexto século antes de Cristo, por intermédio de uma coordenação excepcional de agentes espirituais, dos quais nem todos são compreendidos mesmo pelos supervisores planetários, Urântia presenciou uma apresentação muito inusitada de verdades religiosas sob formas múltiplas. Por meio da atuação de vários educadores humanos, o evangelho de Salém foi reafirmado e revitalizado e, como foi então apresentado, grande parte sobreviveu até os tempos destes documentos atuais.
94:6.2 (1033.5) Esse século singular de progresso espiritual foi caracterizado por grandes educadores religiosos, morais e filosóficos em todo o mundo civilizado. Na China, os dois instrutores de maior destaque foram Lao-Tsé e Confúcio.
94:6.3 (1033.6) Lao-Tsé edificou o seu pensamento diretamente sobre os conceitos das tradições de Salém, quando declarou que o Tao era a Causa Primeira Una de toda a criação. Lao era um homem de grande visão espiritual. Ele ensinou que “o destino eterno do homem era a união perpétua com o Tao, o Deus Supremo e Rei Universal”. A sua compreensão da causação última foi muito profunda, pois escreveu: “A Unidade surge do Tao Absoluto, e da Unidade surge a Dualidade cósmica e, dessa Dualidade, a Trindade vem à existência, e a Trindade é a fonte primordial de toda a realidade”. “Toda a realidade equilibra-se sempre entre os potenciais e os factuais do cosmo, e estes estão eternamente harmonizados pelo espírito da divindade.”
94:6.4 (1033.7) Lao-Tsé também foi um dos primeiros a apresentar a doutrina do fazer o bem em retribuição ao mal: “A bondade engendra a bondade, mas, para aquele que é verdadeiramente bom, o mal também gera a bondade”.
94:6.5 (1033.8) Ele ensinou que a criatura retorna ao Criador e descreveu a vida como a emergência de uma personalidade a partir dos potenciais cósmicos, enquanto a morte equivalia ao retorno para o lar da personalidade dessa criatura. O seu conceito da verdadeira fé era incomum, e ele também a comparava à “atitude de uma criancinha”.
94:6.6 (1034.1) A sua compreensão do propósito eterno de Deus foi clara, pois ele disse: “A Deidade Absoluta não se esforça em lutas, contudo, é sempre vitoriosa; não força a humanidade, mas permanece sempre pronta para responder aos seus desejos verdadeiros; a vontade de Deus é eterna em paciência e perene na inevitabilidade da sua expressão”. E, sobre o verdadeiro religioso, ele disse, expressando a verdade de que dar é mais abençoado do que receber: “O homem bom procura não reter a verdade para si próprio, antes, ele intenta passar essas riquezas aos seus semelhantes, pois isso é a realização da verdade. A vontade do Deus Absoluto sempre beneficia, nunca destrói; o propósito do verdadeiro crente é sempre agir, e nunca coagir”.
94:6.7 (1034.2) Lao ensinou a não-resistência; e a distinção que fez entre a ação e a coerção, mais tarde, perverteu-se nas crenças que defendem “nada ver, nada fazer e nada pensar”. Lao, porém, nunca ensinou esse erro, embora a sua apresentação da não-resistência haja sido um fator para o desenvolvimento posterior das predileções pacíficas dos povos chineses.
94:6.8 (1034.3) Contudo, o popular taoísmo do século vinte em Urântia, pouco tem em comum com os sentimentos sublimes e os conceitos cósmicos do antigo filósofo, que ensinou a verdade como ele a percebia, e que era: a fé no Deus Absoluto é a fonte da energia divina que irá reconstruir o mundo, e com a qual o homem ascende até a união espiritual com o Tao, a Deidade Eterna e o Criador Absoluto dos universos.
94:6.9 (1034.4) Confúcio (Kung Fu-tze) foi um contemporâneo mais jovem de Lao, na China do sexto século. Confúcio baseou suas doutrinas nas melhores tradições morais da longa história da raça amarela e foi influenciado também, de um certo modo, pelo remanescente das tradições dos missionários de Salém. O seu trabalho principal consistiu na compilação do que diziam sabiamente os antigos filósofos. Ele foi um instrutor rejeitado durante o tempo em que viveu, mas os seus ensinamentos e escritos, desde então, exerceram uma grande influência na China e no Japão. Confúcio estabeleceu uma nova atitude para os xamãs, quando ele colocou a moralidade no lugar da magia. Todavia, ele construiu demasiado bem; fez da ordem um novo fetiche e instituiu um respeito pela conduta ancestral, que era ainda venerada pelos chineses na época em que estes documentos estavam sendo escritos.
94:6.10 (1034.5) Confúcio pregava sobre a moralidade, baseado na teoria de que o caminho terrestre era a sombra distorcida do caminho celeste; de que o modelo verdadeiro da civilização temporal é como a imagem, de um espelho refletida, da ordem celeste eterna. O conceito potencial de Deus, no confucionismo, era quase completamente subordinado à ênfase colocada no Caminho Celeste, o arquétipo do cosmo.
94:6.11 (1034.6) Os ensinamentos de Lao foram perdidos por todos, exceto por uns poucos no Oriente, mas os escritos de Confúcio têm-se constituído sempre, desde então, na base do contexto moral da cultura de quase uma terça parte dos urantianos. Esses preceitos de Confúcio, que perpetuam o melhor do passado, foram, de algum modo, inimigos da própria natureza chinesa de indagação mental, que havia já realizado tantos e tão venerados feitos. A influência dessas doutrinas foi combatida sem êxito, tanto pelos esforços imperiais de Chin Shih Huang Ti, quanto pelos ensinamentos de Mo Ti, que proclamaram uma irmandade fundada não no dever ético, mas no amor de Deus. Ele procurou reestimular a antiga busca pela nova verdade, mas os seus ensinamentos fracassaram diante da oposição vigorosa dos discípulos de Confúcio.
94:6.12 (1034.7) Como muitos outros instrutores morais e espirituais, tanto Confúcio quanto Lao-Tsé foram finalmente deificados pelos seus seguidores, naquelas épocas de trevas espirituais na China, as quais ocorreram entre o declínio e o desvirtuamento da fé taoísta e a vinda dos missionários budistas da Índia. Durante esses séculos, espiritualmente decadentes, a religião da raça amarela degenerou-se em uma teologia lamentável, em que formigavam diabos, dragões e espíritos malignos, todos denotando o retorno dos temores da mente mortal não iluminada. E a China, que estivera à frente da sociedade humana por causa de uma religião avançada, caiu então para a retaguarda, por causa de uma incapacidade temporária de progredir no caminho verdadeiro do desenvolvimento daquela consciência de Deus, indispensável ao verdadeiro progresso, não apenas do indivíduo mortal, mas também das civilizações intrincadas e complexas, típicas do avanço da cultura e da sociedade em um planeta evolucionário do tempo e do espaço.
94:7.1 (1035.1) Outro grande instrutor da verdade surgiu na Índia, contemporâneo de Lao-Tsé e de Confúcio na China. Gautama Sidarta nasceu no sexto século antes de Cristo, na província do Nepal, no norte da Índia. Os seus seguidores, mais tarde, fizeram transparecer que ele era o filho de um governante fabulosamente rico, mas, na verdade, ele era o aparente herdeiro ao trono do chefe de uma pequena tribo e que, por tolerância desta, governava um pequeno e recluso vale nas montanhas ao sul do Himalaia.
94:7.2 (1035.2) Gautama, depois de seis anos de práticas inúteis de ioga, formulou aquelas teorias que se transformaram na filosofia do budismo. Sidarta travou uma luta determinada, mas infrutífera, contra o sistema de castas que crescia. Havia uma sinceridade sublime e uma singular ausência de egoísmo nesse jovem príncipe profeta, que foi de grande apelo para os homens daqueles dias. Ele refreou a prática da busca individual da salvação por meio da aflição física e da dor pessoal. E exortou os seus seguidores a levar o seu evangelho a todo o mundo.
94:7.3 (1035.3) Em meio à confusão e às práticas extremas, nos cultos da Índia, os ensinamentos mais sadios e moderados de Gautama vieram como um bálsamo de alívio. Ele denunciou deuses, sacerdotes e os seus sacrifícios, mas também ele não percebeu a personalidade do Um Universal. Não acreditando na existência de almas individuais humanas, Gautama travou, por isso, uma luta valente contra a crença, tradicionalmente honrada, na transmigração da alma. Fez um esforço nobre para libertar os homens do medo, para fazê-los sentirem-se com segurança e conforto e em casa, no grande universo, mas, novamente, ele não conseguiu mostrar-lhes o caminho daquele lar real e superno dos mortais ascendentes — o Paraíso — e do serviço crescente a ser feito na existência eterna.
94:7.4 (1035.4) Gautama foi um verdadeiro profeta e, houvesse ele dado atenção às instruções do eremita Godad, teria podido elevar toda a Índia pela inspiração do renascimento do evangelho de Salém de salvação pela fé. Godad descendia de uma família que nunca havia perdido de vista as tradições dos missionários de Melquisedeque.
94:7.5 (1035.5) Gautama fundou a sua escola em Benares e, durante o seu segundo ano, um aluno, Bautan, transmitiu ao seu mestre as tradições dos missionários de Salém, sobre a aliança de Melquisedeque com Abraão; e, se bem que Sidarta não houvesse alcançado um conceito muito claro sobre o Pai Universal, ele adotou uma posição avançada sobre a salvação por meio da fé — a simples crença. Ele assumiu-a perante os seus seguidores e começou a enviar os seus alunos, em grupos de sessenta, para proclamar ao povo da Índia “as boas-novas da salvação livre; e de que todos os homens, humildes ou elevados, podem alcançar a bênção por meio da fé na retidão e na justiça”.
94:7.6 (1035.6) A esposa de Gautama acreditava no evangelho do seu marido e foi a fundadora de uma ordem de freiras. O seu filho tornou-se o seu sucessor e difundiu em muito esse culto; ele captou a nova idéia da salvação por meio da fé, mas, nos seus últimos anos, ele hesitou com respeito ao evangelho de Salém, de que o favor divino vem por meio da fé em si, e, na velhice, as suas palavras, ao morrer, foram: “Sede vós próprios os artesãos da vossa salvação”.
94:7.7 (1036.1) O evangelho de Gautama, para a salvação universal, quando proclamado pelo que tem de melhor, livre de sacrifícios, de tortura, de rituais e de sacerdotes, foi uma doutrina revolucionária e surpreendente para o seu tempo. E chegou incrivelmente próximo de representar um renascimento do evangelho de Salém. Socorreu a milhões de almas em desespero e, apesar das alterações grotescas que sofreu nos últimos séculos, ainda persiste como a esperança de milhões de seres humanos.
94:7.8 (1036.2) Sidarta ensinou muito mais sobre a verdade do que aquilo que sobreviveu nos cultos modernos que levam o seu nome. O budismo moderno não representa os ensinamentos de Gautama Sidarta, mais do que o cristianismo representa os ensinamentos de Jesus de Nazaré.
94:8.1 (1036.3) Para tornar-se um budista, fazia-se apenas uma profissão pública de fé recitando o Refúgio: “Refugio-me no Buda; tenho o meu refúgio na Doutrina; tomo o meu refúgio na Fraternidade”.
94:8.2 (1036.4) O budismo teve a sua origem em uma pessoa histórica, não em um mito. Os seguidores de Gautama chamavam-no de Sasta, significando mestre ou professor. Ainda que ele não tivesse pretensões supra-humanas, fosse para si próprio, fosse para os seus ensinamentos, os seus discípulos começaram logo a chamá-lo de o iluminado, o Buda; e, mais tarde, de Sakyamuni Buda.
94:8.3 (1036.5) O evangelho original de Gautama baseava-se nas quatro verdades nobres:
94:8.4 (1036.6) 1. As nobres verdades do sofrimento.
94:8.5 (1036.7) 2. As origens do sofrimento.
94:8.6 (1036.8) 3. A destruição do sofrimento.
94:8.7 (1036.9) 4. O caminho da destruição do sofrimento.
94:8.8 (1036.10) Estreitamente ligada à doutrina sobre o sofrimento, e ao modo de escapar dele, estava a filosofia da Senda Óctupla: as visões certas, as aspirações justas, as palavras, as condutas, as vivências, o esforço, o raciocínio e a contemplação certos. A intenção de Gautama não foi tentar destruir todo esforço, o desejo e o afeto para escapar do sofrimento; o seu ensinamento era mais destinado a traçar, para o homem mortal, um quadro da futilidade que é colocar todas as esperanças e aspirações inteiramente em metas temporais e em objetivos materiais. Não se tratava tanto de evitar o amor do semelhante, mas de que o verdadeiro crente devesse também ver as realidades, para além das ligações desse mundo material, no futuro eterno.
94:8.9 (1036.11) Os mandamentos morais da pregação de Gautama foram cinco:
94:8.10 (1036.12) 1. Não matarás.
94:8.11 (1036.13) 2. Não roubarás.
94:8.12 (1036.14) 3. Não serás incasto.
94:8.13 (1036.15) 4. Não mentirás.
94:8.14 (1036.16) 5. Não tomarás bebidas tóxicas.
94:8.15 (1036.17) Havia vários mandamentos adicionais ou secundários, cuja observância era opcional para os crentes.
94:8.16 (1036.18) Sidarta não acreditava na imortalidade da personalidade humana; a sua filosofia apenas indicava uma espécie de continuidade funcional. Ele nunca definiu claramente o que ele iria incluir na doutrina do Nirvana. O fato de que o Nirvana poderia teoricamente ser experimentado durante a existência mortal indicaria que não era visto como um estado de aniquilação completa. Implicava uma condição de iluminação suprema e de bem-aventurança superna, em que todas as correntes que prendem o homem ao mundo material teriam sido rompidas; havia a libertação dos desejos da vida mortal e a libertação de qualquer ameaça de jamais voltar a experienciar a encarnação.
94:8.17 (1037.1) Segundo os ensinamentos originais de Gautama, a salvação é alcançada pelo esforço humano, independentemente da ajuda divina; não há lugar para a fé salvadora nem para as preces aos poderes supra-humanos. Na sua tentativa de minimizar as superstições na Índia, Gautama tratou de afastar os homens dos apelos espalhafatosos de uma salvação mágica. E, ao fazer esse esforço, ele deixou bem aberta a porta para que os seus sucessores interpretassem mal os seus ensinamentos e proclamassem que todos os esforços humanos para se obter o êxito são desagradáveis e dolorosos. Os seus seguidores negligenciaram o fato de que a mais alta felicidade está ligada à busca inteligente e entusiasta de metas dignas, e que essas realizações constituem um verdadeiro progresso na auto-realização cósmica.
94:8.18 (1037.2) A grande verdade do ensinamento de Sidarta foi a sua proclamação de um universo de justiça absoluta. Ele ensinou a melhor filosofia, sem Deus, jamais antes inventada pelo homem mortal, ensinou o humanismo ideal que, de um modo eficaz, arrancou toda a base das superstições, dos rituais de magia e do medo de fantasmas e demônios.
94:8.19 (1037.3) A grande fragilidade do evangelho original do budismo foi não ter produzido uma religião de serviço social sem egoísmo. Durante um longo tempo, a fraternidade budista não foi uma irmandade de crentes, mas uma comunidade de estudantes-mestres. Gautama proibiu-os de receberem dinheiro e buscou, com isso, impedir o crescimento de tendências hierárquicas. Gautama foi, ele próprio, altamente social; de fato, a sua vida foi muito maior do que a sua pregação.
94:9.1 (1037.4) O budismo prosperou porque ofereceu a salvação por meio da crença em Buda, o iluminado. Foi mais representativo das verdades de Melquisedeque do que qualquer outro sistema religioso praticado na Ásia Oriental. Contudo, o budismo não se tornou difundido, mesmo, como uma religião, antes que um monarca de casta baixa, Asoka, o houvesse adotado como autoproteção; depois de Iknaton, no Egito, Asoka foi um dos mais notáveis governantes civis da época entre Melquisedeque e a vinda de Michael. Asoka construiu um grande império indiano, graças à propaganda dos seus missionários budistas. Durante um período de vinte e cinco anos, ele treinou e enviou mais de dezessete mil missionários às fronteiras mais distantes de todo o mundo conhecido. Durante o período de uma geração, ele fez do budismo a religião dominante em metade do mundo. Logo estava estabelecido no Tibete, Kashmir, Ceilão, Birmânia, Java, Tailândia, Coréia, China e Japão. E, de modo geral, era uma religião muito superior àquelas as quais suplantou ou melhorou.
94:9.2 (1037.5) A difusão do budismo, do seu lar na Índia até toda a Ásia, é uma das histórias mais palpitantes de devoção espiritual e de persistência missionária de religiosos sinceros. Aqueles que ensinavam o evangelho de Gautama, não apenas desbravaram os perigos dos caminhos terrestres das caravanas, como enfrentaram os perigos dos mares da China, ao prosseguirem na sua missão no continente asiático,levando a todos os povos a mensagem da sua fé. Mas esse budismo não era mais a doutrina simples de Gautama; era o evangelho tornado miraculoso que fez dele um deus. E, quanto mais o budismo distanciava-se de seu berço, nas terras altas da Índia, mais diferente dos ensinamentos de Gautama ele ficava e, cada vez mais, assemelhava-se às religiões que suplantava.
94:9.3 (1038.1) O budismo, mais tarde, foi muito afetado pelo taoísmo, na China, pelo xintoísmo, no Japão, e pelo cristianismo, no Tibete. Após mil anos, o budismo, na Índia, simplesmente definhou e expirou. Tornou-se bramanizado e rendeu-se de modo abjeto ao Islã, enquanto, em grande parte do resto do Oriente, ele degenerou em um ritual que Gautama Sidarta jamais reconheceria.
94:9.4 (1038.2) No sul, o estereótipo fundamentalista dos ensinamentos de Sidarta continuou no Ceilão, na Birmânia e na península da Indochina. Essa é a divisão Hinayana do budismo, que se atém mais à doutrina inicial ou associal.
94:9.5 (1038.3) Contudo, mesmo antes do seu colapso na Índia, os grupos chineses e norte-indianos de seguidores de Gautama haviam começado o desenvolvimento do ensinamento Mahayana do “Grande Caminho” da salvação, em contraste com os puristas do sul, que se mantiveram no Hinayana, ou no “Caminho Menor”. E esses mahayanistas desprenderam-se das limitações sociais inerentes à doutrina budista, e, desde então, essa divisão do budismo do norte continuou a evoluir na China e no Japão.
94:9.6 (1038.4) O budismo é uma religião viva e em crescimento hoje, porque tem êxito em conservar muitos dos valores morais mais elevados dos que aderiram a ela. Proporciona calma e autocontrole, aumenta a serenidade e a felicidade e faz muito para impedir a tristeza e a aflição. Aqueles que acreditam nessa filosofia vivem vidas melhores do que muitos que não crêem nela.
94:10.1 (1038.5) No Tibete, pode ser encontrada a mais estranha associação de ensinamentos de Melquisedeque, combinados com o budismo, o hinduísmo, o taoísmo e o cristianismo. Quando os missionários budistas entraram no Tibete, eles encontraram um estado de selvageria primitiva muito similar àquele que os primeiros missionários cristãos encontraram nas tribos nórdicas da Europa.
94:10.2 (1038.6) Esses tibetanos de mente simples não queriam abandonar completamente a sua antiga magia e os seus encantos. Um estudo dos cerimoniais religiosos dos rituais tibetanos atuais revela a existência de uma irmandade exageradamente numerosa de sacerdotes com cabeças raspadas, que praticam um ritual elaborado, que abrange sinos, cantos, incenso, procissões, rosários, imagens, encantamentos, figuras, água benta, vestes vistosas e coros elaborados. Eles têm dogmas rígidos e credos cristalizados, rituais místicos e jejuns especiais. A sua hierarquia abrange monges, freiras, abades e o Grande Lama. Eles rezam para os anjos, os santos, uma Mãe Sagrada e para os deuses. Praticam a confissão e acreditam no purgatório. Os seus monastérios são extensos e as suas catedrais, magníficas. Eles mantêm uma repetição sem fim de rituais sagrados e acreditam que essas cerimônias conferem a salvação. As suas preces são amarradas a uma roda que, quando gira, todos acreditam que os seus pedidos tornam-se eficazes. Junto a nenhum outro povo dos tempos modernos pode ser encontrada a observância de tantas coisas, de tantas religiões; e é inevitável que uma liturgia de um tal modo cumulativa se torne exageradamente embaraçosa e intoleravelmente pesada.
94:10.3 (1038.7) Os tibetanos têm algo de todas as religiões principais do mundo, exceto os ensinamentos simples do evangelho de Jesus: a filiação a Deus, e a irmandade dos homens, e a cidadania sempre ascendente no universo eterno.
94:11.1 (1038.8) O budismo entrou na China no primeiro milênio depois de Cristo, e adaptou-se bem aos costumes religiosos da raça amarela. Nos seus cultos aos ancestrais, os chineses há muito faziam preces de pedidos aos mortos; agora podiam também orar para o bem deles. O budismo logo se fundiu com práticas rituais que eram remanescentes do taoísmo em desintegração. Essa nova religião sintética, com os seus templos de adoração e cerimoniais religiosos definidos, logo se tornou o culto em geral aceito dos povos da China, da Coréia e do Japão.
94:11.2 (1039.1) Ainda que seja um infortúnio, sob alguns pontos de vista, que o budismo haja sido levado ao mundo só depois que os seguidores de Gautama tenham pervertido as tradições e os ensinamentos do culto, a ponto de fazer dele um ser divino, no entanto, o mito da sua vida humana, embelezado como foi por uma multidão de milagres, revelou-se muito sedutor para os ouvintes do evangelho do budismo do norte, ou Mahayana.
94:11.3 (1039.2) Alguns dos seus seguidores ulteriores ensinaram que o espírito do Buda Sakyamuni retornava periodicamente à terra, como um Buda vivo, abrindo, assim, o caminho para uma perpetuação indefinida de imagens do Buda, de templos, rituais e “Budas vivos” impostores. Assim, a religião do grande protestador indiano finalmente acabou, ela própria, algemada com aquelas mesmas práticas cerimoniais e encantamentos ritualísticos contra os quais ele havia lutado tão destemidamente e que havia denunciado tão valentemente.
94:11.4 (1039.3) O grande avanço feito pela filosofia budista consistiu na compreensão que teve da relatividade de toda a verdade. Por meio do mecanismo dessa hipótese, os budistas têm estado habilitados para reconciliar e correlacionar as divergências dentro das suas próprias escrituras religiosas, bem como as diferenças entre estas e muitas outras. Assim é que se ensinava que a pequena verdade era para as mentes pequenas, e a verdade grande, para as grandes mentes.
94:11.5 (1039.4) Essa filosofia também sustentava que a natureza do Buda (divina) residia em todos os homens; que o homem, por meio dos próprios esforços, poderia alcançar a realização da sua divindade interior. E esse ensinamento é uma das apresentações mais claras da verdade dos Ajustadores residentes jamais feita por uma religião de Urântia.
94:11.6 (1039.5) Todavia, uma grande limitação no evangelho original de Sidarta, tal como ele foi interpretado pelos seus seguidores, foi que ele intentava a liberação completa do eu humano de todas as limitações da natureza mortal, pela técnica de isolar o eu da realidade objetiva. A verdadeira auto-realização cósmica resulta da identificação com a realidade cósmica e com o cosmo finito da energia, da mente e do espírito, limitado pelo espaço e condicionado pelo tempo.
94:11.7 (1039.6) Ainda que as cerimônias e observâncias externas do budismo se tenham tornado grosseiramente contaminadas por aquelas das terras para as quais ele viajava, essa degeneração porém ão foi, de todo, o que aconteceu na vida filosófica dos grandes pensadores que, de tempos em tempos, abraçaram esse sistema de pensamento e crença. Durante mais de dois mil anos, muitas das melhores mentes da Ásia concentraram-se no problema de averiguar a verdade absoluta e a verdade do Absoluto.
94:11.8 (1039.7) A evolução de um conceito elevado do Absoluto foi realizada por meio de muitos canais de pensamento e por modos tortuosos de raciocinar. A ascensão dessa doutrina da infinitude não foi definida muito claramente como o foi a evolução do conceito de Deus na teologia hebraica. Entretanto, as mentes budistas alcançaram certos níveis amplos, sobre os quais elas descansaram e pelos quais passaram, em seu caminho de visualização da Fonte Primordial dos universos:
94:11.9 (1039.8) 1. A lenda de Gautama. Na base do conceito, estava o fato histórico da vida e dos ensinamentos de Sidarta, o príncipe profeta da Índia. Essa lenda transformou-se em um mito, à medida que viajou pelos séculos e através dos vastos países da Ásia, até que ultrapassou o status da idéia de Gautama como o iluminado, e começou a receber atributos adicionais.
94:11.10 (1040.1) 2. Os muitos Budas. O raciocínio era tal que, se Gautama havia vindo aos povos da Índia, então, no passado remoto e no futuro remoto, as raças da humanidade devem ter sido, e sem dúvida ainda seriam, abençoadas com outros instrutores da verdade. Isso deu origem ao ensinamento de que houve muitos Budas, um número ilimitado e infinito, e mesmo que qualquer um podia aspirar a tornar-se um Buda — a alcançar a divindade de um Buda.
94:11.11 (1040.2) 3. O Buda Absoluto. Quando o número de Budas estava se aproximando da infinidade, tornou-se necessário que as mentes daqueles dias reunificassem esse conceito de manipulação difícil. Desse modo, começou a ser ensinado que todos os Budas não eram senão manifestações de alguma essência mais elevada, daquele Um Eterno, de existência infinita e não qualificável, de alguma Fonte Absoluta de toda a realidade. E, daí em diante, o conceito da Deidade do budismo, na sua mais alta forma, tornou-se divorciado da pessoa humana de Gautama Sidarta e rejeitou as limitações antropomórficas nas quais havia estado enclausurado. Essa concepção final do Buda Eterno pode bem ser identificada como sendo o Absoluto, algumas vezes mesmo com o infinito EU SOU.
94:11.12 (1040.3) Embora essa idéia da Deidade Absoluta não tenha tido jamais maior aprovação popular em meio aos povos da Ásia, ela capacitou os intelectuais dessas terras a unificar a sua filosofia e a harmonizar a sua cosmologia. O conceito do Buda Absoluto é, às vezes, quase pessoal, às vezes, totalmente impessoal — mesmo uma força criativa infinita. Tais conceitos, se bem que úteis à filosofia, não são vitais para o desenvolvimento da religião. Mesmo um Yavé antropomórfico é de um valor religioso maior do que aquele Absoluto infinitamente longínquo, do budismo ou do bramanismo.
94:11.13 (1040.4) Algumas vezes, acreditou-se mesmo que o Absoluto pudesse estar contido no infinito EU SOU. Todavia, essas especulações não eram senão um conforto gelado para a multidão faminta dos que desejavam escutar palavras de promessa, escutar o evangelho simples de Salém, de que a fé em Deus asseguraria o favor divino e a sobrevivência eterna.
94:12.1 (1040.5) A cosmologia do budismo tinha dois pontos fracos: a sua contaminação pelas muitas superstições da Índia e da China, e a sublimação que fez de Gautama, primeiro, o iluminado, e, depois, o Eterno Buda. Do mesmo modo que o cristianismo sofreu com a absorção de muitas coisas errôneas da filosofia humana, o budismo também traz a sua marca humana. Contudo, os ensinamentos de Gautama continuaram a evoluir durante os últimos dois milênios e meio. O conceito de Buda, para um budista esclarecido, não representa mais a personalidade humana de Gautama do que, para um cristão esclarecido, o conceito de Jeová é idêntico ao espírito demoníaco de Horeb. A pobreza da terminologia, junto com a manutenção sentimental de uma nomenclatura antiga, impede muitas vezes de compreender o verdadeiro significado da evolução dos conceitos religiosos.
94:12.2 (1040.6) Gradualmente, o conceito de Deus, como um contraste do Absoluto, começou a aparecer no budismo. As suas fontes remontam aos primeiros tempos em que os seguidores do Caminho Menor diferenciaram-se dos do Caminho Maior. Foi em meio a essa última divisão do budismo que a concepção dual de Deus e do Absoluto finalmente amadureceu. Passo a passo, século após século, o conceito de Deus evoluiu, com os ensinamentos de Ryonin, Honen Shonin, e Shinran no Japão, até que esse conceito finalmente veio a frutificar na crença de Amida Buda.
94:12.3 (1041.1) Entre esses crentes, é ensinado que a alma, ao experimentar a morte, pode escolher desfrutar de uma estada no Paraíso antes de entrar no Nirvana, o estado último da existência. Proclama-se que essa nova salvação é alcançada pela fé nas misericórdias divinas e por meio do cuidado amoroso de Amida, Deus do Paraíso, no Ocidente. Na sua filosofia, os amidistas atêm-se à Realidade Infinita que está além de toda a compreensão finita dos mortais; na sua religião, eles aderem à fé no todo-misericordioso Amida, que ama o mundo a ponto de não suportar que nenhum mortal, que faça um apelo ao seu nome com uma fé sincera e com um coração puro, deixe de obter a felicidade superna do Paraíso.
94:12.4 (1041.2) A grande força do budismo vem do fato de que aqueles que aderem a ele estão livres para escolher a verdade de todas as religiões; essa liberdade de escolha raramente caracterizou qualquer fé urantiana. A seita Shin, do Japão, quanto a isso, tornou-se um dos grupos religiosos mais progressistas no mundo; ela reviveu o antigo espírito missionário dos seguidores de Gautama e começou a enviar instrutores até outros povos. Essa vontade de adotar a verdade de toda e qualquer fonte é, de fato, uma tendência recomendável que surge entre os crentes religiosos durante a primeira metade do século vinte após Cristo.
94:12.5 (1041.3) O próprio budismo está passando por um renascimento no século vinte. Por meio do contato com o cristianismo, os aspectos sociais do budismo foram muito engrandecidos. O desejo de aprender voltou aos corações dos monges da irmandade, e a difusão da educação, nessa comunidade de fé, irá certamente provocar novos avanços na evolução religiosa.
94:12.6 (1041.4) No momento em que este documento foi escrito, uma grande parte da Ásia mantinha as suas esperanças no budismo. Irá essa nobre fé, que tão valentemente perdurou atravessando as idades das trevas no passado, receber, uma vez mais, a verdade das realidades cósmicas expandidas, tal como os discípulos do grande mestre da Índia, certa vez, ouviram a sua proclamação da nova verdade? Essa fé antiga, uma vez mais, responderá ao estímulo revigorante da apresentação dos novos conceitos de Deus e do Absoluto, pelos quais procurou por tanto tempo?
94:12.7 (1041.5) Toda a Urântia aguarda a proclamação da mensagem enobrecedora de Michael, livre das doutrinas e dos dogmas acumulados por dezenove séculos de contato com as religiões de origem evolucionária. É chegada a hora de apresentar ao budismo, ao cristianismo, ao hinduísmo, e a todos os povos de todas as fés, não mais um evangelho sobre Jesus, mas a realidade viva e espiritual do evangelho de Jesus.
94:12.8 (1041.6) [Apresentado por um Melquisedeque de Nébadon.]
O Livro de Urântia
Documento 95
95:0.1 (1042.1) DO MESMO modo que a Índia deu origem a muitas religiões e filosofias da Ásia Oriental, também o Levante foi o berço das fés do mundo ocidenal. Os missionários de Salém espalharam-se por todo o sudoeste da Ásia, pela Palestina, Mesopotâmia, Egito, Irã e Arábia, proclamando, em toda parte, as boas-novas do evangelho de Maquiventa Melquisedeque. Em algumas dessas terras os seus ensinamentos deram fruto; nas outras obtiveram êxitos variáveis. Algumas vezes, os seus fracassos foram devidos à falta de sabedoria; outras, a circunstâncias além do seu controle.
95:1.1 (1042.2) Por volta de 2 000 a.C., as religiões da Mesopotâmia estavam quase inteiramente perdidas dos ensinamentos dos setitas e sob uma ampla influência das crenças primitivas de dois grupos de invasores: o dos semitas beduínos, que se haviam infiltrado, vindos do deserto ocidental, e o dos cavaleiros bárbaros, que haviam descido do norte.
95:1.2 (1042.3) Contudo, o costume dos primeiros povos adamitas de honrar o sétimo dia da semana nunca desapareceu completamente na Mesopotâmia. Apenas durante a era de Melquisedeque, o sétimo dia era considerado o pior para a má sorte; e, sendo dominado pelos tabus, era fora da lei sair em uma viagem, cozinhar ou fazer uma fogueira, nesse funesto sétimo dia. Os judeus levaram para a Palestina muitos dos tabus da Mesopotâmia, que eles haviam encontrado na Babilônia, sobre a observância do sétimo dia, o sabbatum, ou sabá.
95:1.3 (1042.4) Embora os educadores de Salém hajam feito muito para refinar e para elevar as religiões da Mesopotâmia, eles não tiveram êxito em levar os vários povos ao reconhecimento permanente do Deus único. Esse ensinamento ganhou ascendência por mais de cento e cinqüenta anos, e então, gradualmente, cedeu lugar à crença mais antiga em uma multiplicidade de deidades.
95:1.4 (1042.5) Os educadores de Salém reduziram, em muito, o número de deuses da Mesopotâmia, reduzindo, ao mesmo tempo, as deidades principais a sete: Bel, Shamash, Nabu, Anu, Ea, Marduk e Sin. No auge do novo ensinamento, eles haviam exaltado três desses deuses em supremacia sobre todos os outros, a tríade da Babilônia: Bel, Ea, e Anu, deuses da terra, do mar e do céu. Outras tríades ainda surgiram em localidades diferentes, todas remanescentes dos ensinamentos dos anditas e dos sumérios sobre a trindade e baseadas na crença dos salemitas na insígnia dos três círculos de Melquisedeque.
95:1.5 (1042.6) Os educadores de Salém nunca superaram totalmente a popularidade de Ishtar, a mãe dos deuses e o espírito da fertilidade sexual. Muito fizeram para refinar a adoração dessa deusa, mas os babilônios e os seus vizinhos nunca haviam abandonado completamente as suas formas disfarçadas de culto do sexo. Havia-se tornado uma prática universal em toda a Mesopotâmia, que todas as mulheres, submeter-se-iam ao menos uma vez, na sua juventude, ao abraço de estranhos; isso era considerado uma devoção requerida por Ishtar, e acreditava-se que a fertilidade dependia muito desse sacrifício sexual.
95:1.6 (1043.1) O progresso inicial do ensinamento de Melquisedeque foi altamente gratificante, até que Nabodad, o líder da escola em Kish, decidiu realizar um ataque organizado às práticas prevalecentes de prostituição nos templos. Os missionários de Salém, no entanto, viram fracassarem os seus esforços para fazer essa reforma social e, nos destroços desse fracasso, os mais importantes de todos os seus ensinamentos espirituais e filosóficos também caíram derrotados.
95:1.7 (1043.2) Essa derrota do evangelho de Salém foi seguida, imediatamente, de um grande aumento do culto de Ishtar, um ritual que já havia invadido a Palestina, sob o nome de Ashtoreth, o Egito, sob o de Ísis, a Grécia, sob o de Afrodite, e as tribos do norte, sob o nome de Astarte. E foi em conseqüência desse recrudescimento da adoração de Ishtar que os sacerdotes babilônios voltaram novamente a sondar as estrelas; a Astrologia experimentou o seu grande renascimento na Mesopotâmia, a leitura da sorte voltou à voga e, durante séculos, o sacerdócio deteriorou-se cada vez mais.
95:1.8 (1043.3) Melquisedeque havia prevenido os seus seguidores para que ensinassem sobre o único Deus, o Pai e Criador de tudo, e para que pregassem apenas o evangelho do favorecimento divino, por intermédio exclusivamente da fé. Todavia, freqüentemente, foi um erro dos instrutores da nova verdade tentar ir muito adiante e suplantar a lenta evolução pela revolução súbita. Os missionários de Melquisedeque na Mesopotâmia elevaram o padrão moral a um ponto alto demais para o povo; eles foram longe demais, e a sua nobre causa foi derrotada. Eles tinham por missão pregar um evangelho definido, proclamar a verdade da realidade do Pai Universal, mas eles enredaram-se na causa aparentemente meritória de reformar os costumes e, assim, a sua grande missão desviou-se e perdeu-se na frustração e no esquecimento.
95:1.9 (1043.4) Em apenas uma geração, a sede de Salém em Kish chegou ao fim, e a divulgação da crença em um único Deus cessou virtualmente em toda a Mesopotâmia. No entanto, os remanescentes das escolas de Salém sobreviveram. Pequenos grupos espalhados aqui e ali continuaram a sua crença no criador único e lutaram contra a idolatria e a imoralidade dos sacerdotes da Mesopotâmia.
95:1.10 (1043.5) Foram os missionários de Salém, do período seguinte à rejeição dos seus ensinamentos, que escreveram muitos dos salmos do Antigo Testamento, inscrevendo-os na pedra, onde posteriormente os sacerdotes hebreus os encontraram, durante o seu cativeiro, e incorporaram-nos subseqüentemente à coleção de hinos atribuídos a autores judeus. Esses belos salmos da Babilônia não estavam escritos nos templos de Bel-Marduk; foram um trabalho dos descendentes dos primeiros missionários de Salém e se constituíam em um contraste violento com os conglomerados de magia dos sacerdotes babilônios. O Livro de Jó é um reflexo bastante bom dos ensinamentos da escola de Salém em Kish e em toda a Mesopotâmia.
95:1.11 (1043.6) Boa parte da cultura religiosa da Mesopotâmia encontrou seu caminho para a literatura e para a liturgia hebraica por meio dos trabalhos de Amenemope e de Iknaton, no Egito. Os egípcios preservaram, de um modo notável, os ensinamentos sobre as obrigações sociais, derivados dos primeiros anditas mesopotâmicos, e perdidos, de um modo tão amplo, pelos babilônios posteriores que ocuparam o vale do Eufrates.
95:2.1 (1043.7) Os ensinamentos originais de Melquisedeque realmente tiveram sua raiz mais profunda no Egito, de onde se espalharam, posteriormente, para a Europa. A religião evolucionária do vale do Nilo foi periodicamente reforçada pela chegada de linhagens superiores dos povos noditas, adamitas e, mais tarde, dos povos anditas do vale do Eufrates. De tempos em tempos, muitos dos administradores civis egípcios foram sumérios. Do mesmo modo que a Índia, naquela época, abrigava a mais elevada mistura das raças do mundo, o Egito cultivava o tipo de filosofia religiosa mais amplamente amalgamada que podia ser encontrada em Urântia, e, do vale do Nilo, ela espalhou-se para muitas partes do mundo. Os judeus receberam dos babilônios grande parte das suas idéias sobre a criação do mundo, mas eles apropriaram-se do conceito da Providência divina, tomando-o dos egípcios.
95:2.2 (1044.1) Eram políticas e morais, mais do que filosóficas ou religiosas, as tendências que tornaram o Egito mais do que a Mesopotâmia, favorável ao ensinamento de Salém. Cada líder tribal no Egito, após lutar para conquistar o trono, buscava perpetuar a sua dinastia proclamando o seu deus tribal como a deidade original criadora de todos os outros deuses. Desse modo, os egípcios acostumaram-se gradativamente com a idéia de um superdeus, que era um degrau para a doutrina de uma Deidade criadora universal. A idéia do monoteísmo oscilou para frente e para trás, no Egito, durante muitos séculos; a crença em um único Deus sempre ganhando terreno, mas nunca dominando inteiramente os conceitos em evolução do politeísmo.
95:2.3 (1044.2) Durante idades, os povos egípcios haviam sido dados à adoração de deuses da natureza; mais particularmente, cada uma das cerca de quarenta tribos separadas tinha um grupo especial de deuses, uma adorando o touro, outra, o leão, uma terceira, o carneiro, e assim por diante. Anteriormente ainda, eles formavam tribos totêmicas, muito semelhantes às dos ameríndios.
95:2.4 (1044.3) Com o tempo, os egípcios observaram que, colocados nas sepulturas sem tijolos, os corpos se conservavam — embalsamados — pela ação da areia impregnada de soda, enquanto os que eram enterrados em sepulturas de tijolos degradavam-se. Tais observações conduziram aos experimentos que resultaram na prática posterior de embalsamar os mortos. Os egípcios acreditavam que a conservação do corpo facilitava a passagem de alguém para a vida futura. Para que o indivíduo pudesse ser identificado, com maior propriedade, no futuro distante, depois da decadência do corpo, eles colocavam uma estátua funerária na tumba, junto com o corpo, esculpindo o morto no esquife. A confecção dessas estátuas mortuárias levou a arte egípcia a um grande desenvolvimento.
95:2.5 (1044.4) Durante séculos, os egípcios colocaram a sua fé nas tumbas como uma salvaguarda do corpo, para uma conseqüente sobrevivência agradável depois da morte. A posterior evolução das práticas da magia, ainda que estas fossem um peso para a vida, desde o berço até o túmulo, de um modo muito eficaz liberou-os da religião das tumbas. Os sacerdotes fariam inscrições nos ataúdes com textos mágicos que se acreditava serem a proteção contra “um homem ter o próprio coração roubado, no mundo inferior”. Em breve, foi feita uma coleção de diversos desses textos mágicos e conservada como o Livro dos Mortos. No vale do Nilo, porém, o ritual de magia envolveu-se logo com os reinos da consciência e do caráter, em um grau não muitas vezes alcançado pelos rituais daqueles dias. E, subseqüentemente, dependia-se desses ideais morais e éticos, mais do que de túmulos elaborados, para se conseguir a salvação.
95:2.6 (1044.5) As superstições daqueles tempos são bem ilustradas pela crença geral na eficácia da saliva como um agente curativo, uma idéia que teve a sua origem no Egito e que se espalhou dali para a Arábia e a Mesopotâmia. Na legendária batalha contra Set, o jovem deus Horus perdeu o seu olho, mas, depois que Set foi vencido, esse olho foi restaurado pelo sábio deus Tot, que cuspiu sobre a ferida, curando-a.
95:2.7 (1044.6) Os egípcios acreditaram durante muito tempo que as estrelas cintilantes no céu noturno representavam a sobrevivência das almas dos mortos merecedores; quanto a outros sobreviventes, eles acreditavam serem absorvidos pelo Sol. Durante um certo período, a veneração ao Sol transformou-se em uma espécie de adoração aos ancestrais. A passagem inclinada na entrada da grande pirâmide apontava diretamente para a Estrela Polar, de modo que a alma do rei, quando emergisse da tumba, poderia ir diretamente para as constelações estacionárias e estabelecidas das estrelas fixas, a suposta morada dos reis.
95:2.8 (1045.1) Quando os raios oblíquos do Sol foram observados penetrando a terra por uma abertura nas nuvens, acreditou-se que eles indicavam o abaixamento de uma escada celeste pela qual o rei e outras almas justas poderiam ascender. “O Rei Pepi fez o seu resplendor abaixar-se, como uma escada a seus pés, por onde ascender até a sua mãe.”
95:2.9 (1045.2) Quando Melquisedeque surgiu na carne, os egípcios tinham uma religião muito superior àquela dos povos vizinhos. Eles acreditavam que uma alma desincorporada, se propriamente equipada de fórmulas mágicas, poderia escapar dos maus espíritos que interferiam no seu caminho e continuar adiante até a sala de julgamento de Osíris, onde, se inocente de “assassinato, roubo, falsidade, adultério, furto e egoísmo”, ela seria admitida aos reinos da bênção. Se essa alma fosse pesada nas balanças e se estivesse em débito, seria consignada ao inferno, à Devoradora. E este era, relativamente, um conceito avançado de uma vida futura, em comparação com as crenças de muitos dos povos vizinhos.
95:2.10 (1045.3) O conceito de julgamento, no lado de lá, para os pecados da vida de um indivíduo na carne e na Terra, foi levado do Egito para a teologia hebraica. A palavra julgamento aparece apenas uma vez em todo o Livro dos Salmos hebreu, e esse salmo em particular foi escrito por um egípcio.
95:3.1 (1045.4) Embora a cultura e a religião do Egito se derivassem principalmente da Mesopotâmia andita e ainda que se houvessem transmitido amplamente às civilizações subseqüentes, por intermédio dos hebreus e dos gregos, uma grande parte, imensa mesmo, do idealismo social e ético dos egípcios surgiu no vale do Nilo, como um desenvolvimento puramente evolucionário. Não obstante a origem da importação de grande parte da verdade e da cultura ser andita, no Egito, um volume maior de cultura moral evoluiu mais por meio do desenvolvimento puramente humano, do que o fez, por técnicas naturais semelhantes, em qualquer outra área circunscrita, antes da outorga de Michael.
95:3.2 (1045.5) A evolução moral não é totalmente dependente da revelação. Os conceitos morais elevados podem derivar da própria experiência humana. O homem pode desenvolver até valores espirituais e conseguir o discernimento cósmico por meio da sua vida experiencial pessoal, porque um espírito divino reside nele. Tais evoluções naturais da consciência e do caráter também foram incrementadas pela chegada periódica de instrutores da verdade, nos tempos antigos, desde o segundo Éden e, mais tarde, a partir da sede de Melquisedeque em Salém.
95:3.3 (1045.6) Milhares de anos antes de o evangelho de Salém penetrar no Egito, os seus líderes morais ensinaram que se devia agir com justiça, com equanimidade, evitando a avareza. Três mil anos antes que fossem elaboradas as escrituras dos hebreus, a máxima dos egípcios era: “Amadurecido é o homem que tem por modelo a retidão e que caminha de acordo com ela”. Eles ensinavam a doçura, a moderação, a discrição. A mensagem de um dos grandes instrutores dessa época foi: “Age com retidão e trata justamente a todos”. A tríade egípcia dessa idade era Verdade-Justiça-Retidão. De todas as religiões puramente humanas de Urântia, nenhuma jamais ultrapassou os ideais sociais e a grandeza moral desse humanismo de outrora do vale do Nilo.
95:3.4 (1045.7) No solo dessas idéias éticas e ideais morais em evolução, as doutrinas sobreviventes da religião de Salém floresceram. Os conceitos do bem e do mal encontraram pronta resposta nos corações de um povo que acreditava que “a vida é dada ao pacífico e a morte ao culpado”.“O pacífico é aquele que faz coisas que são amadas; e o culpado é aquele que faz o que é odiado.” Durante séculos, os habitantes do vale do Nilo haviam vivido sob esses padrões éticos e morais emergentes, antes que alimentassem os conceitos posteriores do certo e do errado — do bom e do mau.
95:3.5 (1046.1) O Egito era intelectual e moral, mas não tanto espiritual. Em seis mil anos, apenas quatro grandes profetas surgiram entre os egípcios. A Amenemope eles seguiram durante uma temporada; a Okhban, eles assassinaram; a Iknaton, eles não aceitaram senão de coração fechado e por uma curta geração; a Moisés, eles rejeitaram. Novamente, foram mais políticas do que religiosas as circunstâncias que tornaram fácil para Abraão e, mais tarde, para José exercerem uma grande influência sobre todo o Egito, em nome dos ensinamentos de um único Deus, vindos de Salém. Quando, porém, os missionários de Salém entraram no Egito pela primeira vez, eles encontraram essa cultura de evolução altamente ética misturada aos padrões morais modificados dos imigrantes da Mesopotâmia. Esses instrutores iniciais do vale do Nilo foram os primeiros a proclamar a consciência como um mandado de Deus, a voz da Deidade.
95:4.1 (1046.2) No devido tempo, cresceu no Egito um mestre chamado por muitos de “filho do homem” e, por outros, de Amenemope. Esse vidente exaltou a consciência até o seu mais elevado pináculo, a ponto de fazer dela o árbitro entre o certo e o errado; ensinou a punição para o pecado e proclamou a salvação mediante o chamamento da deidade solar.
95:4.2 (1046.3) Amenemope ensinou que a riqueza e a fortuna eram dádivas de Deus, e este conceito coloriu profundamente a filosofia dos hebreus, que surgiria mais tarde. Esse nobre instrutor acreditava que a consciência de Deus era o fator determinante em toda a conduta; que cada momento deveria ser vivido na compreensão da presença de Deus e na responsabilidade para com Ele. Os ensinamentos desse sábio foram subseqüentemente traduzidos para o hebraico e transformaram-se no livro sagrado daquele povo muito antes que o Antigo Testamento fosse reduzido a palavras escritas. A pregação principal desse bom homem tinha a ver com a instrução do seu filho na probidade e na honestidade, quando em posições governamentais de confiança; e esses nobres sentimentos de muito tempo atrás honrariam qualquer estadista moderno.
95:4.3 (1046.4) Esse homem sábio do Nilo ensinou que “as riquezas criam asas e voam” — que todas as coisas terrenas são evanescentes. A sua grande prece era para que fosse “salvo do medo”. Ele exortou a todos para que fugissem “das palavras dos homens”, indo para “os atos de Deus”. Em resumo, ele ensinou: o homem propõe, mas Deus dispõe. Os seus ensinamentos, traduzidos para o hebraico, determinaram a filosofia do Livro de Provérbios do Antigo Testamento. Traduzidos para o grego, eles deram cor a toda a filosofia religiosa helênica subseqüente. O filósofo alexandrino Filo, de dias posteriores, possuía uma cópia do Livro da Sabedoria.
95:4.4 (1046.5) Amenemope trabalhou para conservar a ética da evolução e a moral da revelação e, nos seus escritos, passou-as tanto aos hebreus quanto aos gregos. Ele não foi o maior dos mestres religiosos dessa época, mas foi o mais influente, no sentido de colorir posteriormente o pensamento de dois elos vitais para o crescimento da civilização ocidental — os hebreus, entre os quais a fé religiosa ocidental desenvolveu-se até o seu apogeu, e os gregos, que desenvolveram o pensamento filosófico puro, que atingiu o seu mais alto ápice na Europa.
95:4.5 (1046.6) No Livro dos Provérbios hebreu, os capítulos quinze, dezessete, vinte e, ainda, o capítulo vinte e dois, do versículo dezessete, até o capítulo vinte e quatro, versículo vinte e dois, são trazidos, quase palavra por palavra do Livro da Sabedoria de Amenemope. O primeiro salmo do Livro dos Salmos hebreu foi escrito por Amenemope e é o âmago dos ensinamentos de Iknaton.
95:5.1 (1047.1) Os ensinamentos de Amenemope aos poucos estavam perdendo a sua atuação sobre a mente egípcia, quando, por intermédio da influência de um médico egípcio salemita, uma mulher da família real adotou os ensinamentos de Melquisedeque. Essa mulher convenceu o seu filho, Iknaton, faraó do Egito, a aceitar essas doutrinas de um Deus único.
95:5.2 (1047.2) Desde o desaparecimento de Melquisedeque na carne, nenhum ser humano, até aquele tempo, possuía uma concepção tão espantosamente clara da religião revelada de Salém quanto Iknaton. Sob certos aspectos, esse jovem rei egípcio é uma das pessoas mais notáveis da história humana. Durante essa época de depressão espiritual crescente na Mesopotâmia, ele conservou viva a doutrina de El Elyon, o único Deus, no Egito, mantendo assim o canal filosófico monoteísta; e isso foi vital para o suporte religioso da então futura auto-outorga de Michael. E foi em reconhecimento a essa bravura, entre outras razões, que o Jesus criança foi levado para o Egito, onde alguns dos sucessores espirituais de Iknaton o viram, sabendo compreender, em uma certa medida, algumas etapas da sua missão divina em Urântia.
95:5.3 (1047.3) Moisés, a maior figura que surgiu entre Melquisedeque e Jesus, foi uma dádiva conjunta ao mundo da raça hebraica e da família real egípcia; e houvesse Iknaton possuído a versatilidade e a habilidade de Moisés, houvesse ele manifestado um gênio político à altura da sua surpreendente liderança religiosa, e o Egito se teria transformado na grande nação monoteísta daquela idade; e se isso houvesse acontecido, é bem possível que Jesus pudesse ter vivido a maior parte da sua vida mortal no Egito.
95:5.4 (1047.4) Nunca, em toda a história, qualquer rei conseguiu metodicamente levar uma nação inteira do politeísmo ao monoteísmo, como o fez este extraordinário Iknaton. Com uma determinação espantosa, esse jovem governante rompeu com o passado, mudou o seu nome, abandonou a sua capital, construiu uma cidade inteiramente nova e criou uma nova arte e uma nova literatura para todo um povo. Mas ele andou depressa demais; ele construiu demais, mais do que podiam suportar, quando ele fosse embora. E de novo, ele fracassou em prover a estabilidade material e a prosperidade do seu povo, o qual reagiu desfavoravelmente contra os seus ensinamentos religiosos, quando as ondas subseqüentes de adversidade e de opressão abateram-se sobre os egípcios.
95:5.5 (1047.5) Tivesse esse homem de visão surpreendentemente clara, e extraordinariamente concentrado em um único propósito, a sagacidade política de Moisés, e teria ele mudado toda a história da evolução da religião e da revelação da verdade no mundo ocidental. Durante a sua vida, ele foi capaz de refrear as atividades dos sacerdotes, dos quais ele desacreditava em geral, mas eles mantiveram os seus cultos secretamente e se lançaram à ação tão logo o jovem rei faleceu, deixando o poder; e então não tardaram em atribuir todos os problemas subseqüentes do Egito ao estabelecimento do monoteísmo durante o seu reino.
95:5.6 (1047.6) Iknaton procurou, muito sabiamente, estabelecer o monoteísmo sob a aparência do deus-sol. Essa decisão de colocar a adoração do Pai Universal abrangendo todos os deuses na adoração do Sol deveu-se ao conselho do médico salemita. Iknaton pegou as doutrinas generalizadas da crença então existente em Aton, a respeito da paternidade e da maternidade da Deidade, e criou uma religião que reconhecia uma relação íntima de adoração entre o homem e Deus.
95:5.7 (1048.1) Iknaton era sábio o suficiente para manter a adoração exterior de Aton, o deus-sol, enquanto conduzia os súditos à adoração disfarçada do Único Deus, criador de Aton e Pai supremo de todos. Esse jovem instrutor-rei foi um escritor prolífico, sendo o autor da exposição intitulada “O Único Deus”, um livro de trinta e um capítulos, que os sacerdotes, quando voltaram ao poder, destruíram totalmente. Iknaton também escreveu cento e trinta e sete hinos, doze dos quais estão agora preservados no Livro dos Salmos do Antigo Testamento, de autoria creditada aos hebreus.
95:5.8 (1048.2) A suprema palavra da religião de Iknaton, na vida diária, era “retidão”, e ele expandiu rapidamente o conceito do reto proceder, de modo a abranger tanto a ética internacional quanto a ética nacional. Essa foi uma geração de uma piedade pessoal surpreendente e foi caracterizada por uma genuína aspiração, entre os homens e as mulheres mais inteligentes, de encontrar Deus e de conhecê-lo. Naqueles dias, a posição social ou a riqueza não davam ao egípcio quaisquer vantagens aos olhos da lei. A vida da família no Egito muito fez para preservar e aumentar a cultura moral e foi inspiração para a magnífica vida familiar posterior dos judeus na Palestina.
95:5.9 (1048.3) A fraqueza fatal da pregação de Iknaton foi a sua maior verdade, o ensinamento de que Aton era não apenas o criador do Egito, mas também do “mundo inteiro, dos homens e das bestas, e de todas as terras estrangeiras, mesmo da Síria e do Kush, além da terra do Egito. Ele coloca a todos nos seus lugares e provê a todos segundo as suas necessidades”. Esses conceitos da Deidade eram superiores e elevados, mas não eram nacionalistas. Tais sentimentos de internacionalidade na religião fracassaram em aumentar o moral do exército egípcio no campo de batalha, mas deram aos sacerdotes armas eficientes para serem usadas contra o jovem rei e a sua nova religião. Ele tinha um conceito da Deidade muito mais elevado do que o dos hebreus posteriores, mas era por demais avançado para servir aos propósitos do edificador de uma nação.
95:5.10 (1048.4) Embora o ideal monoteísta tenha sofrido com o desaparecimento de Iknaton, a idéia de um Deus Único perdurou nas mentes de muitos grupos. O genro de Iknaton voltou, junto com os sacerdotes, à adoração dos velhos deuses, e mudou o seu nome para Tutancâmon. A capital voltou para Tebas, e os sacerdotes enriqueceram com a terra, ganhando finalmente a posse de um sétimo de todo o Egito; e pouco depois, um deles, dessa mesma ordem de sacerdotes, ousou tomar a coroa.
95:5.11 (1048.5) Todavia, os sacerdotes não puderam vencer totalmente a onda monoteísta. Cada vez mais eles foram compelidos a combinar e a escrever om hífens os nomes compostos dos seus deuses; e cada vez mais a família dos deuses diminuía. Iknaton havia associado o disco em chamas dos céus ao Deus criador, e essa idéia continuou a inflamar-se nos corações dos homens, e mesmo nos dos sacerdotes, muito tempo depois do passamento do jovem reformador. Nunca o conceito do monoteísmo morreu nos corações dos homens, no Egito e no mundo. Ele persistiu, mesmo, até à chegada do Filho Criador daquele mesmo Pai divino, o Deus único, a quem Iknaton havia proclamado com tanto zelo para a adoração de todo o Egito.
95:5.12 (1048.6) A fragilidade da doutrina de Iknaton repousa no fato de que ele propôs uma religião tão avançada que apenas os egípcios bem educados poderiam compreender totalmente os seus ensinamentos. A massa dos trabalhadores da agricultura nunca realmente alcançou os seus ensinamentos e estava, por isso, pronta para retornar, com os sacerdotes, à adoração antiga de Ísis e de seu consorte Osíris, que se supunha haver miraculosamente ressuscitado de uma morte cruel nas mãos de Set, o deus da escuridão e do pecado.
95:5.13 (1049.1) O ensinamento da imortalidade de todos os homens era por demais avançado para os egípcios. Apenas aos reis e aos ricos era prometida uma ressurreição; por isso, eles embalsamavam e conservavam tão cuidadosamente os seus corpos em tumbas, para o dia do julgamento. Contudo, a democracia da salvação e da ressurreição ensinada por Iknaton finalmente prevaleceu, em uma extensão tal que os egípcios, mais tarde, acreditaram na sobrevivência até de animais irracionais.
95:5.14 (1049.2) Embora o esforço desse governante egípcio para impor a adoração de um único Deus ao seu povo pareça haver fracassado, deve ficar registrado que as repercussões do seu trabalho perduraram por séculos, tanto na Palestina como na Grécia, e que o Egito tornou-se, assim, o agente da transmissão da cultura evolucionária combinada do Nilo e da religião reveladora do Eufrates, para todos os povos ulteriores do Ocidente.
95:5.15 (1049.3) A glória dessa grande era de desenvolvimento moral e de crescimento espiritual, no vale do Nilo, estava em vias de um rápido desaparecimento, na época em que a vida nacional dos hebreus estava começando, e, em conseqüência da sua permanência no Egito, esses beduínos levaram consigo grande parte desses ensinamentos e perpetuaram grande parte da doutrina de Iknaton na religião da sua raçca.
95:6.1 (1049.4) Da Palestina, alguns dos missionários Melquisedeques atravessaram a Mesopotâmia e o grande planalto iraniano. Por mais de quinhentos anos, os instrutores de Salém progrediram no Irã, e toda a nação estava se voltando para a religião Melquisedeque, quando uma mudança de governantes precipitou uma perseguição amarga que praticamente acabou com os ensinamentos monoteístas do culto de Salém. A doutrina da aliança com Abraão estava virtualmente extinta na Pérsia, quando, naquele grande século de renascimento moral, o sexto antes de Cristo, Zoroastro apareceu para reviver a chama quase extinta dos ensinamentos de Salém.
95:6.2 (1049.5) Esse fundador de uma nova religião foi um jovem viril e aventureiro que, na sua primeira peregrinação a Ur, na Mesopotâmia, havia aprendido sobre as tradições da rebelião de Caligástia e de Lúcifer — bem como sobre muitas outras tradições — , havendo todas estas exercido um forte apelo sobre sua natureza religiosa. E assim, como resultado de um sonho, enquanto estava em Ur, ele estabeleceu o programa de retornar à sua casa ao norte e de realizar a remodelação da religião do seu povo. Ele havia assimilado a idéia hebraica de um Deus de justiça, o conceito mosaico da divindade. A idéia de um Deus supremo estava clara na sua mente e ele rebaixou todos os outros deuses à categoria de diabos, alinhando-os nas fileiras dos demônios dos quais ele havia ouvido falar na Mesopotâmia. Ele havia aprendido sobre a história dos Sete Espíritos Mestres, pois esta tradição ainda pairava em Ur, e, desse modo, ele criou uma galáxia de sete deuses supremos, com Ahura-Mazda à frente. A esses deuses subordinados, ele associou a idealização da Lei da Retidão, do Bom Pensamento, do Nobre Governo, do Santo Caráter, da Saúde e da Imortalidade.
95:6.3 (1049.6) E essa nova religião era de ação — de trabalho — , não de preces e de rituais. O seu Deus era um ser de suprema sabedoria e o patrono da civilização; era uma filosofia religiosa militante que ousava enfrentar o mal, a inação e o atraso.
95:6.4 (1049.7) Zoroastro não ensinou a adoração do fogo, mas procurou utilizar a chama como um símbolo do Espírito puro e sábio da dominação universal e suprema. (É bem verdade que os seus seguidores, posteriormente, não apenas reverenciaram esse fogo simbólico, mas adoraram-no.) Finalmente, com a conversão de um príncipe iraniano, essa nova religião espalhou-se por meio da espada. E Zoroastro heroicamente morreu guerreando em batalha por tudo aquilo em que ele acreditava ser a “verdade do Senhor da Luz”.
95:6.5 (1050.1) O zoroastrismo é o único credo urantiano que perpetua os ensinamentos dalamatianos e edênicos sobre os Sete Espíritos Mestres. Embora haja fracassado em fazer com que o conceito da Trindade evoluísse, de um certo modo, aproximou-se do conceito de Deus, o Sétuplo. O zoroastrismo original não era um dualismo puro; embora os ensinamentos iniciais pintassem o mal como uma coordenada temporal da bondade, estava ele submerso definitivamente na eternidade da realidade última do bem. Apenas em tempos posteriores é que a crença de que o mal e o bem lutavam em termos iguais ganhou crédito.
95:6.6 (1050.2) As tradições judaicas do céu e do inferno, e a doutrina dos demônios, do modo como é registrada nas escrituras hebraicas, ainda que fundada em tradições correntes de Lúcifer e de Caligástia, derivaram principalmente dos zoroastrianos, durante os tempos em que os judeus estavam sob o domínio político e cultural dos persas. Zoroastro, como os egípcios, ensinou sobre o “dia do julgamento”, no entanto, ele ligava esse evento ao fim do mundo.
95:6.7 (1050.3) Mesmo a religião que sucedeu ao zoroastrismo na Pérsia foi influenciada por ele de um modo marcante. Quando os sacerdotes iranianos tentaram derrubar os ensinamentos de Zoroastro, eles fizeram por ressuscitar a antiga adoração de Mitra. E o mitraísmo espalhou-se por todo o Levante e pelas regiões mediterrâneas, sendo, por algum tempo, um contemporâneo tanto do judaísmo quanto do cristianismo. Os ensinamentos de Zoroastro, assim, chegaram a imprimir a sua influência sucessivamente sobre três grandes religiões: o judaísmo, o cristianismo e, por meio destes, o maometismo.
95:6.8 (1050.4) No entanto, há uma grande distância entre os ensinamentos elevados e os salmos nobres de Zoroastro e o desvirtuamento moderno do seu ensinamento, feitas pelos persas, com o seu grande medo dos mortos, somado ao seu gosto das crenças nos sofismas, nos quais Zoroastro jamais se deteve sequer para considerar.
95:6.9 (1050.5) Este grande homem foi um dos daquele grupo único que surgiu no sexto século antes de Cristo e que impediu que a luz de Salém fosse total e finalmente extinta, pois ela brilhava parcamente demais para mostrar ao homem, no seu mundo obscurecido, o caminho da luz que leva à vida eterna.
95:7.1 (1050.6) Os ensinamentos de Melquisedeque, de um único Deus, estabeleceram-se no deserto da Arábia, em uma data relativamente recente. Na Grécia como na Arábia, os missionários de Salém fracassaram por causa da sua má compreensão das instruções de Maquiventa a respeito de um excesso de organização. Contudo, não foram impedidos, do mesmo modo, pela interpretação que fizeram da sua admoestação contra os esforços de expandir os ensinamentos por meio da força militar ou por obrigação imposta pelo governo civil.
95:7.2 (1050.7) Nem mesmo na China ou em Roma os ensinamentos de Melquisedeque fracassaram mais completamente do que nessa região desértica tão próxima de Salém. Muito depois que a maioria dos povos do Oriente e do Ocidente havia-se transformado respectivamente em budistas e cristãos, o deserto da Arábia continuava como estivera por milhares de anos. Cada tribo adorava os seus antigos fetiches, e muitas famílias separadamente tinham os seus próprios deuses domésticos. Por muito tempo, a luta continuou entre a Ishtar babilônica, o Yavé hebreu, o Ahura iraniano e o Pai do Senhor Jesus Cristo dos cristãos. Nunca um desses conceitos foi capaz de desalojar totalmente os outros.
95:7.3 (1051.1) Aqui e acolá, em toda a Arábia, havia famílias e clãs que se atinham à vaga idéia de um único Deus. Esses grupos prezavam muito as tradições de Melquisedeque, de Abraão, de Moisés e de Zoroastro. Havia numerosos centros que poderiam sensibilizar-se com o evangelho de Jesus, mas os missionários cristãos das terras do deserto eram grupos austeros e inflexíveis demais, ao contrário dos missionários inovadores que funcionavam nos países do Mediterrâneo e que aceitavam mais facilmente as concessões. Se os seguidores de Jesus tivessem levado mais a sério a exortação feita por ele: “ide a todo o mundo e pregai o evangelho”, e tivessem eles sido mais afáveis naquelas pregações, menos restritivos nas exigências sociais paralelas inventadas por eles próprios, e, então, muitas terras teriam recebido com entusiasmo e alegria o evangelho simples do filho do carpinteiro, e a Arábia estaria entre elas.
95:7.4 (1051.2) A despeito do fato de que os grandes monoteísmos do Levante tivessem falhado em deixar raízes na Arábia, essa terra desértica foi capaz de produzir uma fé que, apesar de menos exigente nos seus quesitos sociais, era, contudo, monoteísta.
95:7.5 (1051.3) Havia apenas um fator de natureza tribal, racial ou nacional nas crenças primitivas e desorganizadas do deserto, e que foi o respeito peculiar e geral que quase todas as tribos árabes gostavam de prestar ao fetiche de uma certa pedra negra, em um certo templo, em Meca. Esse ponto comum de contato e de reverência, subseqüentemente, levou ao estabelecimento da religião islâmica. O que Yavé, o espírito do vulcão, era para os semitas judeus, a pedra de Kaaba tornou-se para os seus primos árabes.
95:7.6 (1051.4) A força do Islã tem sido a sua apresentação clara e bem definida de Alá como a sua e a única Deidade; a sua fraqueza é o uso da força militar para sua difusão e promulgação, junto com a degradação da mulher. Mas essa fé tem sido fiel à sua apresentação de uma Única Deidade Universal entre todas, aquele “que conhece o invisível e o visível; Ele que é o misericordioso e cheio de compaixão”. “Verdadeiramente Deus é generoso e abundante na sua bondade para com todos os homens.” “E, quando estou doente, é Ele que me cura.” “Pois, quando três homens falam juntos, Deus está presente como um quarto”, pois não é Ele “o primeiro e o último, e também o aparente e o oculto”?
95:7.7 (1051.5) [Apresentado por um Melquisedeque de Nébadon.]
O Livro de Urântia
Documento 96
96:0.1 (1052.1) AO CONCEBER a Deidade, o homem primeiro inclui todos os deuses, em seguida ele subordina todos os deuses estrangeiros à sua deidade tribal, e finalmente elimina todos, exceto aquele Deus de valor supremo e final. Os judeus sintetizaram todos os deuses no seu conceito mais sublime do Senhor Deus de Israel. Do mesmo modo, os indianos combinaram as suas deidades múltiplas “em uma espiritualidade única dos deuses”, retratada no Rig-Veda, ao passo que os mesopotâmios reduziram os seus deuses ao conceito mais centralizado de Bel-Marduk. Essas idéias do monoteísmo amadureceram em todo o mundo, não muito depois do aparecimento de Maquiventa Melquisedeque em Salém, na Palestina. Todavia, o conceito da Deidade, feito por Melquisedeque, era diferente daquele conceito tecido por inclusão, por subordinação e por exclusão, da filosofia evolucionária; era baseado exclusivamente no poder criador, e logo influenciou os conceitos mais elevados de deidade da Mesopotâmia, da Índia e do Egito.
96:0.2 (1052.2) A religião de Salém foi reverenciada como uma tradição pelos quenitas e por várias outras tribos de cananeus. E este foi um dos intuitos da encarnação de Melquisedeque: que a religião de um só Deus fosse cultivada, como preparação para o caminho da auto-outorga, na Terra, de um Filho daquele Deus único. Michael dificilmente poderia vir a Urântia sem que existissem povos acreditando no Pai Universal, entre os quais ele pudesse surgir.
96:0.3 (1052.3) A religião de Salém sobreviveu como uma crença entre os quenitas, na Palestina, e essa religião, do modo como foi posteriormente adotada pelos hebreus, foi influenciada inicialmente pelos ensinamentos morais egípcios; mais tarde, pelo pensamento teológico da Babilônia; e, finalmente, pelas concepções iranianas do bem e do mal. De fato, a religião dos hebreus fundamenta-se na aliança entre Abraão e Maquiventa Melquisedeque, mas, sendo evolucionária, ela cresceu de muitas circunstâncias devidas a situações singulares, e, culturalmente, apropriou-se livremente das religiões, da moralidade e da filosofia de todo o Levante. É por intermédio da religião dos hebreus que grande parte da moralidade e do pensamento religioso do Egito, da Mesopotâmia e do Irã foi transmitida aos povos ocidentais.
96:1.1 (1052.4) Os semitas, nos seus primórdios, consideravam tudo como sendo residido por um espírito. Havia espíritos do mundo animal e do mundo vegetal; o espírito anual, o senhor da progênie; espíritos do fogo, da água e do ar; um verdadeiro panteão de espíritos a serem temidos e adorados. E os ensinamentos de Melquisedeque a respeito de um Criador Universal nunca destruíram completamente a crença nesses espíritos subalternos, ou deuses da natureza.
96:1.2 (1052.5) O progresso que os hebreus fizeram desde o politeísmo, passando pelo henoteísmo, até o monoteísmo, não foi um desenvolvimento ininterrupto e contínuo de conceitos. Eles experimentaram muitos retrocessos na evolução dos seus conceitos da Deidade, enquanto, em uma mesma época, havia idéias sobre Deus que variavam entre os grupos diferentes de crentes semitas. De tempos em tempos, numerosos termos foram usados na sua conceituação de Deus e, com o intuito de impedir a confusão, esses vários títulos dados à Deidade serão definidos do modo como dizem respeito à evolução da teologia judaica:
96:1.3 (1053.1) 1. Yavé era o deus das tribos da Palestina do sul, as quais associavam esse conceito de deidade com o monte Horeb, o vulcão de Sinai. Yavé era meramente um, entre as centenas e milhares de deuses da natureza que atraíam a atenção e clamavam a adoração das tribos e dos povos semitas.
96:1.4 (1053.2) 2. El Elyon. Durante séculos, depois da passagem de Melquisedeque por Salém, a sua doutrina da Deidade sobreviveu sob várias versões, mas era geralmente indicada pelo termo El Elyon, o Deus Altíssimo dos céus. Muitos semitas, incluindo os descendentes imediatos de Abraão, por várias vezes adoraram a ambos, a Yavé e a El Elyon.
96:1.5 (1053.3) 3. El Shadai. É difícil explicar o que El Shadai representava. Essa idéia de Deus era um composto derivado dos ensinamentos do Livro da Sabedoria de Amenemope, modificado pela doutrina de Aton, feita por Iknaton, e influenciado, posteriormente, pelos ensinamentos de Melquisedeque incorporados ao conceito de El Elyon. À medida, porém, que o conceito de El Shadai impregnou a mente dos hebreus, ele coloriu-se totalmente pelas crenças no Yavé do deserto.
96:1.6 (1053.4) Uma das idéias dominantes da religião dessa época foi o conceito egípcio da Providência divina, o ensinamento de que a prosperidade material era uma recompensa dada por servir a El Shadai.
96:1.7 (1053.5) 4. El. Em meio a toda essa confusão, na terminologia, e à imprecisão de conceito, muitos crentes fervorosos esforçaram-se sinceramente para adorar a todas essas idéias em evolução da divindade, e adveio a prática de referir-se a essa Deidade composta como sendo El. E esse termo incluía, ainda, outros dos deuses beduínos da natureza.
96:1.8 (1053.6) 5. Eloim. Em Kish e em Ur, durante muito tempo, perduraram grupos de sumérios-caldeus que ensinavam um conceito de um Deus três-em-um, fundamentado nas tradições dos dias de Adão e de Melquisedeque. Essa doutrina foi levada para o Egito, onde essa Trindade foi adorada sob o nome de Eloim, ou, no singular, como Eloá. Os círculos filosóficos do Egito e, mais tarde, dos professores alexandrinos, de extração hebraica, ensinaram essa unidade de Deuses pluralísticos; e muitos dos conselheiros de Moisés, na época do êxodo, acreditavam nessa Trindade. Contudo, o conceito do Eloim trinitário só tornou-se realmente parte da teologia dos hebreus depois que eles passaram para a influência política dos babilônios.
96:1.9 (1053.7) 6. Vários nomes. Os semitas não gostavam de falar o nome da sua Deidade, e, por isso, eles recorriam a numerosos nomes, que variavam de tempos em tempos, tais como: O Espírito de Deus, O Senhor, O Anjo do Senhor, O Todo-Poderoso, O Santo, O Mais Alto, Adonai, O Ancião dos Dias, O Senhor Deus de Israel, O Criador do Céu e da Terra, Kírios, Jah, O Senhor das Hostes e O Pai do Céu.
96:1.10 (1053.8) Jeová é um termo que, em épocas mais recentes, tem sido usado para designar o conceito finalmente evoluído e concluído de Yavé, depois da longa experiência dos hebreus. Todavia, o nome Jeová não veio a ser usado senão depois de mil e quinhentos anos da época de Jesus.
96:1.11 (1054.1) Até por volta do ano 2000 a.C., o monte Sinai foi ativo intermitentemente como vulcão; as mais recentes erupções ocasionais ocorreram na época dos israelitas nessa região. O fogo e a fumaça, junto com as explosões estrondosas e as erupções dessa montanha vulcânica, imprimiam medo aos beduínos das regiões vizinhas e levavam-nos a ter um grande temor de Yavé. Esse espírito do monte Horeb, mais tarde, tornou-se o deus dos semitas hebreus, e eles finalmente acreditaram ser ele o supremo entre todos os outros deuses.
96:1.12 (1054.2) Os cananeus haviam já, desde muito tempo, reverenciado Yavé, e, embora muitos dos quenitas acreditassem de um certo modo em El Elyon, o superdeus da religião de Salém, a maioria dos cananeus mantinha-se vagamente na adoração das deidades tribais antigas. Dificilmente estavam dispostos a abandonar as suas deidades nacionais, em favor de um deus internacional, para não dizer, interplanetário. Eles não tinham a mentalidade aberta para uma deidade universal e, por isso, essas tribos continuaram a adorar as suas deidades tribais, incluindo Yavé e os bezerros de prata e ouro, que simbolizavam o conceito do espírito do vulcão do Sinai dos pastores beduínos.
96:1.13 (1054.3) Os sírios, ainda que adorando os seus deuses, também acreditavam no Yavé dos hebreus, pois os seus profetas disseram ao rei sírio: “Os seus deuses são deuses das montanhas; por isso, eles eram mais fortes do que nós; mas lutemos contra eles nas planícies, e certamente seremos mais fortes do que eles”.
96:1.14 (1054.4) À medida que o homem progride na cultura, os deuses menores são submetidos a uma deidade suprema; o grande Júpiter persiste apenas como uma exclamação. Os monoteístas mantêm os seus deuses subordinados como espíritos, demônios, fados, nereidas, fadas, duendes, gnomos e o mau-olhado. Os hebreus passaram pelo henoteísmo e, durante muito tempo, acreditaram na existência de outros deuses além de Yavé, mas sustentavam cada vez mais que essas deidades estrangeiras estavam todas subordinadas a Yavé. Eles admitiam a existência de Chemosh, deus dos amoritas, mas sustentavam que ele era subordinado a Yavé.
96:1.15 (1054.5) A idéia de Yavé submeteu-se ao desenvolvimento mais profundo de todas as teorias mortais de Deus. A sua evolução progressiva pode apenas ser comparada à metamorfose do conceito de Buda na Ásia, que no final leva ao conceito do Absoluto Universal, do mesmo modo que o conceito de Yavé finalmente leva à idéia do Pai Universal. Todavia, por uma questão histórica, deve ser entendido que, enquanto os judeus mudavam, assim, a sua visão da Deidade, do deus tribal do monte Horeb, para o Pai Criador cheio de amor e misericórdia dos tempos mais recentes, eles não mudaram o seu nome; eles continuaram todo o tempo a chamar, a esse conceito da Deidade assim em evolução, de Yavé.
96:2.1 (1054.6) Os semitas do leste eram cavaleiros bem organizados e bem dirigidos que invadiram as regiões orientais do crescente fértil e ali se uniram aos babilônios. Os caldeus, de perto de Ur, estavam entre os mais avançados dos semitas orientais. Os fenícios eram um grupo superior e bem organizado de semitas miscigenados que ocupava o setor oeste da Palestina, ao longo da costa do Mediterrâneo. Racialmente, os semitas estavam entre os mais misturados dos povos de Urântia, contendo fatores hereditários de quase todas as nove raças do mundo.
96:2.2 (1054.7) Por várias vezes, os semitas árabes guerrearam para abrir o seu caminho até o norte da Terra Prometida, a terra em que “fluíam o leite e o mel”, mas, todas as vezes, foram expelidos pelos mais bem organizados e mais altamente civilizados semitas do norte e pelos hititas. Mais tarde, durante um período inusitadamente severo de fome, esses beduínos errantes entraram no Egito em grandes números, como trabalhadores contratados nas obras públicas egípcias, apenas para se verem submetidos à amarga experiência de escravização em uma pesada lida diária de trabalhadores comuns e explorados do vale do Nilo.
96:2.3 (1055.1) Apenas depois dos dias de Maquiventa Melquisedeque e de Abraão é que algumas tribos de semitas, por causa das suas crenças religiosas peculiares, foram chamadas de filhos de Israel e, mais tarde, de hebreus, judeus, e de o “povo escolhido”. Abraão não foi o pai racial de todos os hebreus; ele não era nem mesmo o progenitor de todos os semitas beduínos que foram mantidos presos no Egito. É bem verdade, a sua progênie, vinda do Egito, formou o núcleo do povo que mais tarde seria o dos judeus, mas a grande maioria dos homens e mulheres que se incorporara aos clãs de Israel nunca havia vivido no Egito. Eles eram meramente companheiros nômades que escolheram seguir a liderança de Moisés quando os filhos de Abraão e os seus parceiros semitas do Egito viajaram, cruzando o norte da Arábia.
96:2.4 (1055.2) O ensinamento de Melquisedeque a respeito de El Elyon, o Altíssimo, e a aliança de favor divino por intermédio da fé haviam sido totalmente esquecidos na época da escravização, no Egito, dos povos semitas, os quais, em breve, iriam formar a nação dos hebreus. No entanto, durante esse período de cativeiro, esses nômades da Arábia continuaram a apegar-se à sua crença tradicional em Yavé, como a sua deidade racial.
96:2.5 (1055.3) Yavé era adorado por mais de cem tribos árabes diferentes e, exceto pelo vestígio do conceito de El Elyon, de Melquisedeque, que persistiu entre as classes mais educadas do Egito, incluindo as de sangue hebreu misturado e as egípcias, a religião da massa dos hebreus escravizados era uma versão modificada do velho ritual de Yavé, com magia e sacrifícios.
96:3.1 (1055.4) O alvorecer da evolução dos conceitos e dos ideais hebraicos, de um Criador Supremo, data da partida dos semitas do Egito, com Moisés, o seu grande líder, instrutor e organizador. Sua mãe era da família real do Egito e seu pai era um oficial semita de ligação entre o governo e os beduínos no cativeiro. Moisés possuía, portanto, as qualidades que derivavam de fontes raciais superiores; a sua ascendência era tão altamente miscigenada, que é impossível classificá-lo em qualquer grupo racial. Não houvesse ele vindo desse tipo misturado, não iria nunca ter dado mostras daquela versatilidade e adaptabilidade inusitadas que o tornaram capaz de administrar a horda diversificada que finalmente acabou interligada a esses beduínos semitas que fugiram do Egito para o deserto da Arábia sob a sua liderança.
96:3.2 (1055.5) A despeito da sedução da cultura do reino do Nilo, Moisés escolheu participar da sorte do povo do seu pai. Na época, esse grande organizador estava formulando os seus planos para a libertação final do povo do seu pai. Os beduínos no cativeiro dificilmente tinham uma religião digna do nome; estavam virtualmente sem um conceito verdadeiro de Deus e sem esperanças no mundo.
96:3.3 (1055.6) Nenhum líder jamais tomou a si a tarefa de reformar e de elevar um grupo de seres humanos tão desamparado, tão deprimido e desencorajado, e tão ignorante. Esses escravos, porém, tinham possibilidades latentes de desenvolvimento nas suas linhagens hereditárias, e havia um número suficiente de líderes instruídos que haviam sido treinados por Moisés, como preparação para o dia da revolta e da mobilização pela liberdade, para constituir um corpo de organizadores eficazes. Esses homens superiores haviam sido empregados como supervisores nativos do seu povo; haviam recebido alguma instrução por causa da influência de Moisés junto aos governantes egípcios.
96:3.4 (1056.1) Moisés esforçou-se para negociar diplomaticamente a liberdade dos seus companheiros semitas. Ele e o seu irmão entraram em um pacto com o rei do Egito, por meio do qual a eles seria dada a permissão de deixar pacificamente o vale do Nilo, pelo deserto da Arábia. Eles estavam para receber um pagamento modesto, em dinheiro e em mercadorias, pela sua longa jornada de serviço no Egito. Os hebreus, por sua vez, entraram em um acordo de manter relações amistosas com os Faraós e de não se juntar a nenhuma aliança contra o Egito. Todavia, posteriormente, o rei julgou adequado repudiar esse tratado, dando como motivo a desculpa de que os seus espiões haviam descoberto deslealdades entre os escravos beduínos. Assim, alegou que os judeus buscavam a liberdade com o propósito de ir para o deserto e de organizar os nômades contra o Egito.
96:3.5 (1056.2) Moisés, entretanto, não se desencorajou; esperou a sua hora e, em menos de um ano, quando as forças militares egípcias estavam totalmente ocupadas em resistir aos assaltos simultâneos de um forte ímpeto líbio ao sul e de uma invasão naval grega ao norte, esse intrépido organizador conduziu os seus compatriotas para fora do Egito, em uma fuga noturna espetacular. Essa evasão para a liberdade foi cuidadosamente planejada e habilmente executada. E eles tiveram êxito, não obstante houvessem sido calorosamente perseguidos pelo Faraó e um pequeno corpo de egípcios, que se dispersaram todos diante da defesa dos fugitivos, abandonando muitas pilhagens, as quais foram aumentadas ainda pelos saques que essas hordas de escravos fizeram ao escapar na marcha para o seu lar desértico ancestral.
96:4.1 (1056.3) A evolução e a elevação dos ensinamentos mosaicos têm influenciado quase metade de todo o mundo e ainda influenciam, mesmo no século vinte. Se bem que Moisés haja compreendido a filosofia religiosa mais avançada dos egípcios, os escravos beduínos pouco sabiam sobre tais ensinamentos, mas eles nunca haviam esquecido totalmente o deus do monte Horeb, a quem os seus ancestrais denominavam Yavé.
96:4.2 (1056.4) Moisés ouvira falar sobre os ensinamentos de Maquiventa Melquisedeque, tanto do seu pai quanto da sua mãe; sendo que a comunhão de crença religiosa entre eles havia sido a explicação para uma união tão inusitada entre uma mulher de sangue real e um homem cuja raça estava no cativeiro. O sogro de Moisés era um quenita adorador de El Elyon, mas os pais do emancipador eram crentes de El Shadai. Moisés foi, assim, educado como um el-shadaísta; mediante a influência do seu sogro tornou-se um el-elionista e, na época do acampamento hebreu no monte Sinai, depois da retirada do Egito, formulou um conceito novo e ampliado da Deidade (derivado de todas as suas crenças anteriores), que ele sabiamente decidira proclamar ao seu povo, como sendo um conceito expandido do seu velho deus tribal, Yavé.
96:4.3 (1056.5) Moisés havia-se esforçado para ensinar a esses beduínos a idéia de El Elyon, mas, antes de deixar o Egito, ele estava convencido de que nunca iriam compreender totalmente essa doutrina. E, assim, deliberadamente, ele assumiu o compromisso de adotar o deus tribal do deserto como o único deus dos seus seguidores. Moisés não ensinou especificamente que outros povos e nações não poderiam ter outros deuses, mas sustentou absolutamente que Yavé estava sobre todos e acima de todos, especialmente para os hebreus. Contudo, ele sempre viveu importunado pela situação desajeitada de tentar apresentar a sua idéia nova e mais elevada da Deidade, a esses escravos ignorantes, sob o disfarce do antigo termo Yavé, que havia sido sempre simbolizado pelo bezerro de ouro das tribos beduínas.
96:4.4 (1056.6) O fato de que Yavé fosse o deus dos hebreus em fuga explica por que eles permaneceram tanto tempo diante da montanha sagrada do Sinai, e por que ali eles receberam os Dez Mandamentos, que Moisés promulgou em nome de Yavé, o deus do Horeb. Durante essa longa permanência diante do Sinai, os cerimoniais religiosos dessa adoração dos hebreus, de evolução tão recente, ficaram ainda mais aperfeiçoados.
96:4.5 (1057.1) Não parece que Moisés chegaria a ter êxito no estabelecimento do seu cerimonial, de um certo modo avançado, de adoração, nem em manter o grupo dos seus seguidores intacto por um quarto de século, não fora pela erupção violenta do Horeb, durante a terceira semana da permanência deles, em adoração, na sua base. “A montanha de Yavé foi consumida em fogo, a fumaça subiu como se fosse de um forno e toda a montanha tremeu muito”. Em vista desse cataclismo, não é surpreendente que Moisés pudesse ter imprimido aos seus irmãos o ensinamento de que o Deus deles era “poderoso e terrível, um fogo devorador, temível e Todo-Poderoso”.
96:4.6 (1057.2) Moisés proclamou que Yavé era o Senhor Deus de Israel, que havia escolhido os hebreus como o seu povo escolhido; ele estava construindo uma nova nação e, sabiamente, nacionalizava os seus ensinamentos religiosos, dizendo aos seus seguidores que Yavé era um duro mestre de obras, um “Deus ciumento”. No entanto ele procurou ampliar o seu conceito da divindade quando lhes ensinou que Yavé era o “Deus dos espíritos de toda a carne” e quando disse: “O Deus eterno é o vosso refúgio e ele tem os seus braços eternos por debaixo de vós”. Moisés ensinou que Yavé era um Deus que manteria a sua aliança; que ele “não vos abandonará, nem vos destruirá, nem esquecerá a aliança dos vossos pais, porque o Senhor vos ama e não esquecerá o juramento que fez aos vossos pais”.
96:4.7 (1057.3) Moisés fez um esforço heróico para elevar Yavé à dignidade de uma Deidade suprema, quando o apresentou como o “Deus da verdade e sem iniqüidade, justo e reto em todos os seus caminhos”. Entretanto, apesar desse ensinamento elevado, o entendimento limitado dos seus seguidores fez com que fosse necessário falar de Deus como sendo uma imagem do homem, como estando sujeito a ataques de cólera, de ira e severidade, e que fosse até mesmo vingativo e facilmente influenciável pela conduta do homem.
96:4.8 (1057.4) Sob os ensinamentos de Moisés, esse deus de natureza tribal, Yavé, tornou-se o Senhor Deus de Israel, que os seguiu no deserto e até mesmo no exílio, onde ele de fato foi concebido como o Deus de todos os povos. O cativeiro posterior, que escravizou os judeus na Babilônia, finalmente liberou o conceito em evolução de Yavé para que assumisse o papel monoteísta do Deus de todas as nações.
96:4.9 (1057.5) O aspecto mais singular e espantoso da história religiosa dos hebreus diz respeito a essa contínua evolução do conceito da Deidade, desde o deus primitivo do monte Horeb até os ensinamentos dos seus sucessivos líderes espirituais e ao alto nível de desenvolvimento descrito nas doutrinas sobre a Deidade dos dois Isaías, que proclamaram aquele conceito magnífico de um Pai Criador cheio de amor e de misericórdia.
96:5.1 (1057.6) Moisés foi uma combinação extraordinária de líder militar, de organizador social e de instrutor religioso. Ele foi o mais importante dos instrutores e líderes individuais mundiais entre a época de Maquiventa e a de Jesus. Moisés intentou introduzir muitas reformas em Israel, das quais não há nenhum registro. No tempo de uma vida, ele livrou a horda poliglota dos chamados hebreus da escravidão e da perambulação incivilizada, ao mesmo tempo em que lançou a fundação para o nascimento posterior de uma nação e a perpetuação de uma raça.
96:5.2 (1057.7) Há pouca coisa registrada sobre o grande trabalho de Moisés, porque os hebreus não tinham nenhuma língua escrita na época do êxodo. O registro dos tempos e dos feitos de Moisés derivou-se das tradições, que perduraram mais de mil anos depois da morte do grande líder.
96:5.3 (1058.1) Muitos dos avanços que Moisés realizou, indo além da religião dos egípcios e das tribos levantinas vizinhas, foram devidos às tradições dos quenitas do tempo de Melquisedeque. Sem o ensinamento de Maquiventa a Abraão e aos seus contemporâneos, os hebreus teriam saído do Egito em trevas desesperadoras. Moisés e seu sogro, Jetro, reuniram os resíduos das tradições dos dias de Melquisedeque e tais ensinamentos, junto com a ciência dos egípcios, guiaram Moisés na criação da religião aperfeiçoada e dos rituais dos israelitas. Moisés foi um organizador; ele selecionou o melhor da religião e dos costumes do Egito e da Palestina, e, associando essas práticas às tradições dos ensinamentos de Melquisedeque, organizou o sistema cerimonial hebreu de adoração.
96:5.4 (1058.2) Moisés era um crente da Providência; ele havia-se deixado influenciar profundamente pelas doutrinas do Egito a respeito do controle sobrenatural do Nilo e de outros elementos da natureza. Tinha uma grande visão de Deus, e foi profundamente sincero quando ensinou aos hebreus que, se obedecerem a Deus, “Ele vos amará, vos abençoará e vos multiplicará. Ele multiplicará os frutos do vosso ventre e o fruto da vossa terra — o milho, a uva, o azeite e os vossos rebanhos. Vós sereis enriquecidos acima de todos os povos, e o Senhor vosso Deus tirará de vós todas as doenças e não imporá nenhuma das moléstias malignas, do Egito, sobre vós”. Ele mesmo disse: “Lembrai-vos do Senhor vosso Deus, pois é ele quem vos dá o poder de obter as riquezas”. “Vós emprestareis a muitas nações, mas não tomareis nada emprestado. Vós reinareis sobre muitas nações, mas elas não reinarão sobre vós.”
96:5.5 (1058.3) No entanto, foi realmente uma pena observar a grande mente de Moisés tentando adaptar o seu conceito sublime de El Elyon, o Altíssimo, para que a compreensão dos ignorantes e iletrados hebreus o alcançasse. Aos seus líderes reunidos, ele dizia, com a sua voz tonitruante: “o Senhor vosso Deus é o único Deus; não há outro além dele”; enquanto que, à multidão misturada, ele declarava: “Quem é como o vosso Deus, entre todos os deuses?” Moisés voltou-se contra os fetiches e a idolatria, fazendo uma brava frente contra eles e conseguiu um sucesso parcial, declarando: “Vós não vistes nenhuma figura no dia em que o vosso Deus vos falou em Horeb, do meio do fogo”. Ele também proibiu que se fizessem imagens de qualquer espécie.
96:5.6 (1058.4) Moisés temia proclamar a misericórdia de Yavé, preferindo assustar o seu povo com o temor da justiça de Deus, dizendo: “O Senhor vosso Deus é o Deus dos Deuses, e o Senhor dos Senhores, um grande Deus, um Deus poderoso e terrível que não faz acepção de pessoas”. E, novamente, ele procurou controlar os clãs turbulentos, ao declarar que “o vosso Deus mata quando o desobedeceis; ele vos cura e vos dá a vida quando O obedeceis”. Todavia, Moisés ensinou a essas tribos que eles se transformariam no povo escolhido de Deus apenas sob a condição de que “guardassem todos os seus mandamentos e obedecessem a todos os seus estatutos”.
96:5.7 (1058.5) Da misericórdia de Deus pouquíssimo foi ensinado aos hebreus, durante esses tempos primitivos. Eles aprenderam que Deus era o “Todo-Poderoso; o Senhor é um guerreiro, o Deus das batalhas, glorioso em poder, que reduz os seus inimigos a pedaços”. “O Senhor vosso Deus caminha em meio ao vosso acampamento, para libertar-vos.” Os israelitas imaginavam o seu Deus como um Deus que os amava, mas que também havia “endurecido o coração do Faraó” e “amaldiçoado os seus inimigos”.
96:5.8 (1058.6) Conquanto Moisés apresentasse visões fugazes de uma Deidade universal e beneficente aos filhos de Israel, no todo, o conceito cotidiano de Yavé para eles era o de um Deus apenas um pouco melhor do que os deuses tribais dos povos vizinhos. O conceito que tinham de Deus era primitivo, rudimentar e antropomórfico. Quando Moisés morreu, essas tribos de beduínos voltaram rapidamente às idéias semibárbaras dos seus velhos deuses do Horeb e do deserto. A visão ampliada e mais sublime de Deus, que Moisés apresentava, de quando em quando, aos seus líderes, foi logo perdida de vista, pois a maioria do povo voltou-se para a adoração do seu fetiche de bezerros dourados, o símbolo de Yavé para um pastor palestino.
96:5.9 (1059.1) Quando Moisés entregou o comando dos hebreus a Joshua, ele já havia reunido milhares de descendentes colaterais de Abraão, Nahor, Lot e outros das tribos aparentadas, e, à força, já as havia disciplinado em uma nação de guerreiros pastoris, que se auto-sustentava e parcialmente se auto-regulamentava.
96:6.1 (1059.2) Com a morte de Moisés, o seu conceito grandioso de Yavé rapidamente deteriorou-se. Joshua e os líderes de Israel continuaram a abrigar as tradições mosaicas do Deus absolutamente sábio, beneficente e Todo-Poderoso; mas o povo comum voltou rapidamente para as idéias antigas do Yavé do deserto. E essa volta para trás, no conceito da Deidade, continuou a crescer sob o governo sucessivo de vários xeiques tribais, os chamados juízes.
96:6.2 (1059.3) O encanto da personalidade extraordinária de Moisés havia mantido viva, nos corações dos seus seguidores, a inspiração de um conceito de Deus crescentemente ampliado; uma vez, porém, que eles alcançaram as terras férteis da Palestina, eles evoluíram rapidamente, passando de pastores nômades a agricultores estabelecidos e bastante sossegados. E essa evolução, na prática da vida, e essa mudança de ponto de vista religioso demandaram uma quase completa mudança no caráter da sua concepção sobre a natureza do seu Deus, Yavé. Durante os tempos do início da transmutação do austero, rudimentar, exigente e tonitruante deus do deserto, e do Sinai, naquele conceito que surgiu mais tarde, de um Deus de amor, de justiça e de misericórdia, os hebreus quase perderam de vista os ensinamentos elevados de Moisés. Eles chegaram bem perto de separar-se, por inteiro, do conceito do monoteísmo; quase perderam a oportunidade de tornar-se o povo que serviria de elo vital na evolução espiritual de Urântia, de ser o grupo que conservaria os ensinamentos de Melquisedeque, de um único Deus, até os tempos da encarnação outorgada de um Filho daquele Pai de todos.
96:6.3 (1059.4) Desesperadamente, Joshua procurou manter o conceito de um Yavé supremo nas mentes dos homens das tribos, fazendo com que fosse proclamado: “Do mesmo modo que estive com Moisés, também estarei convosco; não vos faltarei nem vos abandonarei”. Joshua julgou necessário pregar com uma palavra rigorosa ao seu povo que desacreditava, um povo que estava muito desejoso de acreditar na sua velha religião nativa e que não estava disposto a ir adiante na religião da fé e da retidão. A ênfase do ensinamento de Joshua passou a ser: “Yavé é um Deus santo; e é um Deus ciumento; ele não perdoará as vossas transgressões nem os vossos pecados”. O conceito mais elevado dessa época pintava Yavé como um “Deus de poder, de julgamento e justiça”.
96:6.4 (1059.5) Mesmo, porém, nessa idade obscura, de quando em quando, um instrutor solitário surgia, proclamando o conceito mosaico da divindade: “Vós, filhos do mal, não podeis servir ao Senhor, pois ele é um Deus santo”. “Pode o homem mortal ser mais justo do que Deus? Pode um homem ser mais puro do que Aquele que o fez?” “Podeis achar Deus, se o buscardes? Podereis descobrir o Todo-Poderoso na sua perfeição? Olhai, Deus é grande, e nós não O conhecemos. Tocando o Todo-Poderoso, nós não podemos encontrá-Lo”.
96:7.1 (1060.1) Sob a liderança dos seus xeiques e sacerdotes, os hebreus tornaram-se estabelecidos na Palestina de um modo vago. Todavia logo se voltaram para as crenças pouco iluminadas do deserto, sendo contaminados pelas práticas menos avançadas dos cananeus. Transformaram-se em idólatras licenciosos, e a sua idéia da Deidade caiu até muito abaixo dos conceitos egípcio e mesopotâmico de Deus, os quais estavam sendo respeitados por certos grupos sobreviventes de Salém e que estão registrados em alguns dos Salmos e no chamado Livro de Jó.
96:7.2 (1060.2) Os salmos são o trabalho de cerca de vinte autores ou mais; muitos foram escritos por instrutores egípcios e mesopotâmios. Durante esses tempos, enquanto o Levante adorava os deuses da natureza, havia ainda um bom número de pessoas que acreditava na supremacia de El Elyon, o Altíssimo.
96:7.3 (1060.3) Nenhuma coleção de escritos religiosos exprime uma tal riqueza de devoção e de idéias inspiradoras sobre Deus, como o faz o Livro dos Salmos. E seria muito útil se, ao examinar essa maravilhosa coleção de literatura para a adoração, fossem levadas em consideração a fonte e a cronologia de cada hino de louvor e adoração em separado, tendo-se em mente que nenhuma única coleção cobre períodos de tempo tão longos e diversos. Esse Livro dos Salmos é o memorial dos vários conceitos de Deus, nutridos pelos crentes da religião de Salém em todo o Levante, e abrange todo um grande período, desde Amenemope até Isaías. Nos Salmos, Deus é descrito em todas as fases da sua concepção, da idéia rudimentar de uma deidade tribal ao ideal grandemente expandido dos hebreus de um momento posterior, em que Yavé é retratado como um governante amoroso e um misericordioso Pai.
96:7.4 (1060.4) E esse conjunto de Salmos, quando assim considerado, constitui a mais valiosa e útil coleta de sentimentos devocionais que jamais foi reunida pelo homem até os tempos do século vinte. O espírito adorador dessa coleção de hinos transcende ao de todos os outros livros sagrados do mundo.
96:7.5 (1060.5) O retrato variegado da Deidade apresentado no Livro de Jó foi o produto de mais de vinte instrutores religiosos da Mesopotâmia, cujo trabalho perdurou ainda por um período de quase trezentos anos. E, quando vós tiverdes acesso ao conceito sublime da divindade, como é encontrado nessa compilação da crença da Mesopotâmia, reconhecereis que na vizinhança de Ur, na Caldéia, é que a idéia de um Deus real foi mais bem preservada durante os dias de obscuridade na Palestina.
96:7.6 (1060.6) Na Palestina, a sabedoria e a onipresença de Deus eram quase sempre compreendidas, mas o seu amor e a sua misericórdia raramente o foram. O Yavé daqueles tempos “envia espíritos maus para dominar as almas dos seus inimigos”; faz prosperar seus próprios filhos obedientes, enquanto maldiz todos os outros e lhes lança o seu julgamento. “Ele frustra os desígnios dos perversos; e prende os sábios nos seus próprios enganos.”
96:7.7 (1060.7) Somente em Ur uma voz se levantou, em um brado de defesa da misericórdia de Deus, dizendo: “Aquele que orar a Deus receberá o favorecimento dele e, em júbilo, verá a sua face, pois Deus dará ao homem a dádiva da divina retidão”. Assim é que, de Ur, é pregada a salvação, o favorecimento divino, pela fé: “Ele é cheio de graças para com o arrependido, dizendo-lhe:‘livrai-o de descer ao fundo do precipício, pois lhe encontrei um resgate.’ Se alguém diz: ‘Eu pequei e perverti aquilo que era o direito, e isso não me foi de nenhum proveito’, Deus libertará a sua alma de ir para o fundo, e ele verá a luz”. Desde os tempos de Melquisedeque, que o mundo do Levante não escutava uma mensagem tão ressonante e encorajadora de salvação humana, como esse ensinamento extraordinário de Eliu, o profeta de Ur e sacerdote dos crentes de Salém, isto é, o remanescente daquela que foi a colônia de Melquisedeque na Mesopotâmia.
96:7.8 (1061.1) E assim, pois, os remanescentes dos missionários de Salém, na Mesopotâmia, conservaram a luz da verdade durante o período de desorganização dos povos hebreus até o aparecimento do primeiro daquela longa linhagem de instrutores de Israel; instrutores que nunca pararam na sua elaboração, conceito após conceito, até que houvessem chegado à realização do ideal sobre o Pai Universal e Criador de todos, o apogeu da evolução do conceito de Yavé.
96:7.9 (1061.2) [Apresentado por um Melquisedeque de Nébadon.]
O Livro de Urântia
Documento 97
97:0.1 (1062.1) OS LÍDERES espirituais dos hebreus realizaram o que outros antes deles jamais tinham tido êxito em fazer — eles desantropomorfizaram o seu conceito de Deus sem convertê-lo em uma abstração da Deidade, compreensível apenas para os filósofos. Até mesmo a gente comum era capaz de considerar o conceito amadurecido de Yavé com um Pai, se não do indivíduo, pelo menos da raça.
97:0.2 (1062.2) O conceito da personalidade de Deus, como claramente ensinado em Salém na época de Melquisedeque, era já vago e nebuloso na época da fuga do Egito e só evoluiu gradualmente na mente hebraica, de geração para geração, como uma resposta ao ensinamento dos líderes espirituais. A percepção da personalidade de Yavé foi muito mais contínua na sua evolução progressiva do que o foi a de muitos outros atributos da Deidade. Desde Moisés a Malaquias, ocorreu um crescimento ideacional quase contínuo da personalidade de Deus na mente hebraica, e esse conceito foi finalmente elevado e glorificado pelos ensinamentos de Jesus sobre o Pai no céu.
97:1.1 (1062.3) As pressões hostis dos povos vizinhos na Palestina logo ensinaram aos xeiques hebreus que eles não poderiam esperar sobreviver a menos que confederassem as suas organizações tribais em um governo central. E essa centralização da autoridade administrativa permitiu uma oportunidade melhor para que Samuel funcionasse como um instrutor e reformador.
97:1.2 (1062.4) Samuel vinha de uma longa linhagem de instrutores de Salém, que haviam persistido em manter as verdades de Melquisedeque como uma parte das suas formas de adoração. Esse instrutor era um homem vigoroso e resoluto. Só a sua grande devoção, combinada à sua extraordinária determinação, capacitou-o a suportar a oposição quase universal que encontrou quando ele começou a fazer quase todo o Israel voltar à adoração do supremo Yavé dos tempos mosaicos. E, mesmo então, teve um êxito apenas parcial; ganhou de volta para o serviço do conceito mais elevado de Yavé apenas a metade mais inteligente dos hebreus; a outra metade continuou na adoração dos deuses tribais do país e atida aos conceitos mais baixos de Yavé.
97:1.3 (1062.5) Samuel era um tipo de homem rústico, um reformador prático que podia sair com os seus companheiros em um dia e destruir uma série de locais reservados a Baal. O progresso que fez foi puramente pela força da coação; ele fez pouca pregação, e menos ainda deu ensinamentos, mas agia. Num dia zombava do sacerdote de Baal; no dia seguinte, partia em pedaços um rei aprisionado. Ele acreditava devotamente em um único Deus, e tinha um conceito claro desse único Deus como criador do céu e da Terra: “Os pilares da Terra são do Senhor, e Ele colocou o mundo sobre eles”.
97:1.4 (1063.1) Mas a grande contribuição que Samuel deu ao desenvolvimento do conceito da Deidade foi o seu pronunciamento retumbante de que Yavé era imutável, para sempre a mesma corporificação da perfeição infalível e divindade. Nessa época Yavé fora concebido para ser um Deus de humores vacilantes, de acessos de ciúme, sempre lamentando que tinha feito assim e assado; mas agora, pela primeira vez desde que os hebreus haviam fugido do Egito, eles ouviam estas palavras surpreendentes: “A Força de Israel não mentirá nem se arrependerá, pois ele não é um homem para poder se arrepender”. A estabilidade ao lidar-se com a Divindade estava proclamada. Samuel reiterou a aliança feita por Melquisedeque com Abraão e declarou que o Senhor Deus de Israel era a fonte de toda a verdade, estabilidade e constância. Os hebreus tinham sempre visto o seu Deus como um homem, um super-homem, um espírito elevado de origem desconhecida; mas agora eles ouviam o espírito antigo de Horeb, exaltado como um Deus imutável de perfeição criadora. Samuel estava ajudando o conceito em evolução de Deus a ascender a alturas acima do estado mutante da mente do homem e das vicissitudes da existência mortal. Sob esse ensinamento, o Deus dos hebreus começava, de uma idéia gerada na ordem dos deuses tribais, a ascender até o ideal de um Criador Todo-Poderoso e imutável, o Supervisor de toda a criação.
97:1.5 (1063.2) E, de novo, ele pregou a história da sinceridade de Deus, da aliança com Ele, e da confiança que se podia ter de que manteria essa aliança. Samuel disse: “O Senhor não abandonará o seu povo”. “Ele fez conosco uma aliança eterna, ordenada e segura em todas as coisas.” E assim, em toda a Palestina soou o chamado para a adoração do supremo Yavé. E esse instrutor cheio de energia proclamou para sempre: “Tu és grande, Ó Senhor Deus, e não há nenhum como Tu, e não há nenhum Deus além de Ti”.
97:1.6 (1063.3) Até então os hebreus tinham considerado o favorecimento de Yavé principalmente em termos de prosperidade material. Foi um grande choque para Israel e quase custou a Samuel a sua vida quando ele ousou proclamar: “O Senhor enriquece e empobrece; ele rebaixa e exalta. Ele tira o pobre do pó e eleva os mendigos e os coloca junto de príncipes para fazê-los herdar o trono da glória”. Jamais, desde Moisés, tais promessas confortantes aos humildes e aos menos afortunados haviam sido proclamadas, e milhares de desesperados entre os pobres começaram a ter esperança de que podiam melhorar o seu status espiritual.
97:1.7 (1063.4) Mas Samuel não progrediu muito além do conceito de um deus tribal. Ele proclamou um Yavé que criou todos os homens, mas que se ocupava principalmente dos hebreus, o seu povo escolhido. Ainda assim, como nos dias de Moisés, uma vez mais o conceito de Deus retratava uma Deidade que é santa e justa. “Não há quem seja santo como o Senhor. Quem pode ser comparado a esse santo Senhor Deus?”
97:1.8 (1063.5) Com o passar dos anos, o velho e grisalho líder progrediu na compreensão de Deus, pois declarou: “O Senhor é um Deus de conhecimento, e as ações são pesadas por Ele. O Senhor julgará os confins da Terra, demonstrando misericórdia aos misericordiosos, e com o homem reto Ele será também reto”. Aqui mesmo está a alvorada da misericórdia, se bem que ela seja limitada àqueles que são misericordiosos. Mais tarde foi um passo mais adiante quando, na sua adversidade, exortou o seu povo: “Que caiamos agora nas mãos do Senhor, pois as suas misericórdias são grandes”. “Nada coíbe o Senhor de salvar muitos ou poucos.”
97:1.9 (1063.6) E esse desenvolvimento gradual do conceito do caráter de Yavé continuou sob a ministração dos sucessores de Samuel. Eles tentaram apresentar Yavé como um Deus cumpridor de alianças, mas não avançaram até onde Samuel tinha chegado; eles falharam ao desenvolver a idéia da misericórdia de Deus como Samuel a tinha posteriormente concebido. Houve um recuo nítido no sentido de reconhecer os outros deuses, a despeito da conservação do ponto de que Yavé estava acima de todos. “Teu é o Reino, ó Senhor, e és exaltado como o principal, acima de todos.”
97:1.10 (1064.1) O poder divino foi a tônica dessa era; os profetas dessa idade pregaram uma religião destinada a fortalecer o rei no trono hebreu. “Teus, ó Senhor, são a grandeza, o poder, a glória e a vitória e a majestade. Na Tua mão está a força e o poder, e és capaz de engrandecer a tudo e de dar força a todos.” E esse era o status do conceito de Deus durante a época de Samuel e seus sucessores imediatos.
97:2.1 (1064.2) No século dez antes de Cristo, a nação hebraica dividiu-se em dois reinos. Vários buscadores da verdade tentaram estancar a maré retrógrada de decadência espiritual que se desencadeara em ambas as divisões políticas, e que prosseguiu desastrosamente depois da guerra de separação. Mas esses esforços para avançar a religião hebraica não tiveram efeito até que Elias, um guerreiro determinado e destemido da retidão, começou os seus ensinamentos. Elias restaurou, para o reino do norte, um conceito de Deus comparável àquele mantido nos dias de Samuel. Elias teve pouca oportunidade de apresentar um conceito avançado de Deus; ele se manteve ocupado, como Samuel tinha estado, antes dele, em destruir os altares de Baal e em demolir os ídolos dos falsos deuses. E levou adiante suas reformas, fazendo frente à oposição de um monarca idólatra; a sua tarefa foi até mesmo mais gigantesca e difícil do que aquela enfrentada por Samuel.
97:2.2 (1064.3) Quando Elias foi chamado a deixar a Terra, Elizeu, o seu fiel companheiro, assumiu a sua obra e, com a valiosa ajuda do pouco conhecido Micaías, manteve viva a luz da verdade na Palestina.
97:2.3 (1064.4) Mas esses não eram tempos de progresso para o conceito da Deidade. Os hebreus não tinham ainda ascendido nem mesmo ao ideal mosaico. A era de Elias e Elizeu fechou-se com as classes melhores, voltando à adoração do Yavé supremo, e testemunhou a restauração da idéia do Criador Universal, até o ponto em que Samuel a tinha deixado.
97:3.1 (1064.5) A prolongada controvérsia entre os crentes de Yavé e os seguidores de Baal foi um conflito socioeconômico de ideologias mais do que uma diferença entre crenças religiosas.
97:3.2 (1064.6) Os habitantes da Palestina diferiam pela sua atitude para com a propriedade privada de terras. As tribos sulinas ou de árabes nômades (os Yaveitas) consideravam a terra como inalienável — como uma dádiva da Deidade ao clã. Eles sustentavam que a terra não podia ser vendida nem hipotecada. “Yavé falou, dizendo: ‘A terra não será vendida, pois a terra é minha’”.
97:3.3 (1064.7) Os cananeus do norte, mais estabelecidos (os baalitas), compravam livremente, vendiam e hipotecavam as suas terras. A palavra Baal significa proprietário. O culto de Baal foi baseado em duas doutrinas maiores: a primeira, a validação do intercâmbio da propriedade, contratos e pactos — o direito de comprar e de vender a terra. E a segunda, supunha-se que Baal devia mandar a chuva — ele era um deus da fertilidade do solo. As boas colheitas dependiam do favorecimento de Baal. O seu culto preocupava-se amplamente com a terra, a sua propriedade e fertilidade.
97:3.4 (1065.1) Em geral, os baalitas possuíam casas, terras e escravos. Eles eram os proprietários aristocráticos e viviam nas cidades. Cada Baal tinha um local sagrado, um sacerdócio e as “mulheres sagradas”, as prostitutas rituais.
97:3.5 (1065.2) Dessa diferença básica de pontos de vista sobre a terra, evoluíram os antagonismos amargos, nas atitudes sociais, econômicas, morais e religiosas tomadas pelos cananeus e pelos hebreus. Essa controvérsia socioeconômica não se tornou uma questão religiosa definida até os tempos de Elias. Desde a época desse agressivo profeta, a questão era disputada em linhas mais estritamente religiosas — Yavé versus Baal — e terminou com o triunfo de Yavé e com o subseqüente avanço até o monoteísmo.
97:3.6 (1065.3) Elias transladou a controvérsia entre Yavé e Baal, da questão da terra, para o aspecto religioso das ideologias dos hebreus e dos cananeus. Quando Acab assassinou os Nabots por causa da intriga na posse da terra, Elias transformou os antigos costumes sobre a terra em uma questão moral, e deslanchou a sua vigorosa campanha contra os baalitas. Essa foi também uma luta do povo do campo contra a dominação das cidades. E, sobretudo, foi sob a influência de Elias que Yavé transformou-se em Eloim. O profeta começou como um reformador agrário e terminou exaltando a Deidade. Os Baalitas eram muitos, Yavé era um — o monoteísmo sobrepondo-se ao politeísmo.
97:4.1 (1065.4) Um grande passo na transição do deus tribal — o deus a quem se tinha servido já há tanto tempo com sacrifícios e cerimônias, o Yavé dos hebreus mais primitivos — até um Deus que puniria o crime e a imoralidade, até mesmo entre os do seu próprio povo, foi dado por Amós, que surgiu de entre as colinas do sul para denunciar a criminalidade, a embriaguez, a opressão e a imoralidade das tribos do norte. Desde os tempos de Moisés que essas verdades ressoantes não eram proclamadas na Palestina.
97:4.2 (1065.5) Amós não se limitou meramente a restaurar ou a reformar; ele era um descobridor dos novos conceitos da Deidade. Ele proclamou, sobre Deus, muito daquilo que tinha sido anunciado pelos seus predecessores e, corajosamente, investiu contra a crença em um Ser Divino que toleraria o pecado entre aqueles do chamado povo escolhido. Pela primeira vez, desde os tempos de Melquisedeque, os ouvidos do homem ouviam a denúncia da duplicidade de padrão da justiça e da moralidade nacional. Pela primeira vez na sua história os ouvidos hebreus escutaram que o seu próprio Deus, Yavé, não toleraria o crime e o pecado nas vidas deles, mais do que ele os tolerava junto a qualquer outro povo. Amós visualizou o Deus austero e justo de Samuel e Elias, mas ele também viu um Deus que não via os hebreus de modo diferente de qualquer outra nação quando se tratava da punição ao procedimento incorreto. Isso era um ataque direto à doutrina egoísta do “povo escolhido”, e muitos hebreus daquela época ressentiram-se amargamente disso.
97:4.3 (1065.6) Disse Amós: “Buscai aquele que fez as montanhas e criou o vento, que formou as sete estrelas e Órion, que transforma a sombra da morte na manhã e faz o dia escurecer na noite”. E, ao denunciar os seus companheiros de meia religião, como oportunistas, e algumas vezes, como de imorais, ele buscava retratar a justiça inexorável de um Yavé imutável, quando ele disse aos malfeitores: “Ainda que eles penetrem no inferno, de lá Eu tirá-los-ei; ainda que eles subam ao céu, de lá Eu farei com que desçam”. “E ainda que eles caiam em cativeiro diante dos seus inimigos, até lá Eu conduzirei a espada da justiça e ela matá-los-á.” Amós surpreendeu ainda mais aos seus ouvintes quando, apontando um dedo de reprovação e de acusação para eles, declarou em nome de Yavé: “Com certeza nunca me esquecerei de nenhum dos vossos feitos”. “E passarei no crivo a casa de Israel, junto com todas as nações, como o trigo tem de ser passado na peneira.”
97:4.4 (1066.1) Amós proclamou Yavé o “Deus de todas as nações” e advertiu aos israelitas, de que o ritual não deve tomar o lugar da retidão. E antes que esse corajoso instrutor fosse apedrejado até a morte, ele tinha já espalhado suficientemente o fermento da verdade para salvar a doutrina do supremo Yavé; ele assegurara a continuidade da evolução da revelação de Melquisedeque.
97:4.5 (1066.2) Oséias veio depois de Amós, com a sua doutrina de um Deus universal de justiça por meio da ressurreição do conceito mosaico de um Deus de amor. Oséias pregou o perdão por meio do arrependimento, não pelo sacrifício. Ele proclamou um evangelho de amor-bondade e a divina misericórdia dizendo: “Eu te desposarei para sempre; sim, eu me unirei a ti na retidão e no julgamento e no amor-bondade das misericórdias. Eu desposar-te-ei mesmo na fé”. “Eu amá-lo-ei livremente, pois a minha ira foi-se embora.”
97:4.6 (1066.3) Oséias continuou fielmente com as advertências morais de Amós, dizendo de Deus: “É do meu desejo que eu os castigue”. Mas os israelitas consideraram como uma crueldade que beirava a traição quando ele disse: “Eu direi àqueles que não eram do meu povo: ‘vós sois o meu povo’; e eles dirão: ‘Tu és o nosso Deus’”. Ele continuou a pregar o arrependimento e o perdão, dizendo: “Eu curarei a apostasia deles; e amá-los-ei livremente, pois a minha ira terminou”. Oséias sempre proclamou a esperança e o perdão. A carga da sua mensagem foi sempre: “Eu terei misericórdia para com o meu povo. Eles não conhecerão outro Deus além de Mim, pois não há outro salvador além de Mim”.
97:4.7 (1066.4) Amós vivificou a consciência nacional dos hebreus para o reconhecimento de que Yavé não iria fechar os olhos para o crime e o pecado entre eles, porque supostamente eles eram o povo escolhido, enquanto Oséias tocou as notas de abertura nas cordas misericordiosas posteriores da compaixão e do amor-bondade divinos, que foram tão extraordinariamente cantadas por Isaías e pelos seus agregados.
97:5.1 (1066.5) Esses eram os tempos em que alguns estavam proclamando ameaças de punição contra os pecados pessoais e o crime nacional entre os clãs do norte; enquanto outros prediziam a calamidade em recompensa pelas transgressões do reino do sul. Foi na aurora desse despertar de consciência e conhecimento das nações hebraicas que o primeiro Isaías surgiu.
97:5.2 (1066.6) Isaías pregou a natureza eterna de Deus, sua sabedoria infinita, sua perfeição imutável de confiabilidade. Ele representou o Deus de Israel quando disse: “Ajustarei o juízo na linha e no prumo da retidão”. “O Senhor dar-vos-á descanso para a vossa tristeza e para o vosso medo e para a dura escravidão em que o homem foi levado a servir.”“E os vossos ouvidos ouvirão uma palavra atrás de vós, dizendo: ‘este é o caminho, vá por ele’”.“Eis que Deus é a minha salvação; eu confiarei e não terei medo, pois o Senhor é a minha força e a minha canção.” “‘Vinde agora e raciocinemos juntos’, diz o Senhor, ‘embora os vossos pecados sejam tão escarlates, eles ficarão brancos como a neve; embora sejam vermelhos como o carmesim, eles ficarão como a lã’”.
97:5.3 (1066.7) Falando aos hebreus, tomados pelo medo e famintos de alma, esse profeta disse: “Levantai-vos e resplandecei, pois a vossa luz chegou, e a glória do Senhor nasceu para vós”. “O espírito do Senhor está sobre mim, pois Ele me ungiu para pregar as boas-novas aos mansos; Ele enviou-me para curar aqueles que estão de coração partido, para proclamar a liberdade aos cativos e a abertura da prisão para os acorrentados.” “Eu me rejubilarei grandemente no meu Senhor, a minha alma ficará jubilosa no meu Deus, pois Ele cobriu-me com as vestes da salvação e cobriu-me com o Seu manto de retidão”. “Junto com todas as Suas aflições Ele esteve aflito, e o anjo da Sua presença salvou-os. No Seu amor e na Sua piedade Ele os redimiu.”
97:5.4 (1067.1) Isaías foi seguido por Micas e por Abdias, que confirmaram e deram beleza ao seu evangelho que satisfazia à alma. E esses dois mensageiros valentes denunciaram ousadamente que o ritual dos hebreus era dominado pelos sacerdotes e destemidamente atacaram todo o sistema de sacrifícios.
97:5.5 (1067.2) Micas denunciou “os governantes que decidem segundo as recompensas e os sacerdotes que ensinam por um salário e os profetas que adivinham por dinheiro”. Ele ensinou sobre um dia em que viria a liberdade da superstição e do sacerdócio, dizendo: “Mas cada homem assentar-se-á na sua própria vinha, e ninguém o amedrontará, pois todo o povo viverá, cada um de acordo com o seu entendimento de Deus”.
97:5.6 (1067.3) E a ênfase da mensagem de Micas foi: “Devo estar diante de Deus oferecendo holocaustos? O Senhor ficará contente com mil carneiros ou com dez mil rios de óleo? Devo dar o meu primogênito pela minha transgressão, o fruto do meu corpo pelo pecado da minha alma? Ele mostrou-me, ó homens, o que é bom; e o que o Senhor espera de vós, senão agirdes com justiça e amardes a misericórdia, e que caminheis humildemente como o vosso Deus”. E foi uma grande idade; foram de fato tempos apaixonantes em que o homem mortal ouviu as mensagens emancipadoras, e alguns até mesmo acreditaram nelas, mais de dois milênios e meio atrás. E não fora a resistência obstinada dos sacerdotes, esses instrutores teriam posto abaixo todo o cerimonial de sangue do ritual hebreu de adoração.
97:6.1 (1067.4) Embora vários instrutores continuassem a expor o evangelho de Isaías, coube a Jeremias ousar dar o próximo passo para a internacionalização de Yavé, o Deus dos hebreus.
97:6.2 (1067.5) Jeremias declarou sem medo que Yavé não estava do lado dos hebreus nas suas lutas militares contra outras nações. Ele afirmou que Yavé era o Deus de toda a Terra, de todas as nações e de todos os povos. Os ensinamentos de Jeremias causaram um crescendo na onda da internacionalização do Deus de Israel; esse pregador intrépido proclamou finalmente, e para sempre, que Yavé era o Deus de todas as nações, e que não havia Osíris para os egípcios, nem Bel para os babilônios, Assur para os assírios ou Dagon para os filisteus. E, assim, nessa época e depois dela, a religião dos hebreus participou da renascença do monoteísmo em todo o mundo; afinal, o conceito de Yavé tinha elevado-se ao nível de uma Deidade planetária e mesmo da dignidade cósmica. Mas muitos dos condiscípulos de Jeremias acharam difícil conceber Yavé fora da nação hebraica.
97:6.3 (1067.6) Jeremias também pregou sobre o Deus justo e amoroso descrito por Isaías, declarando: “Sim, eu amei-vos com um amor eterno; com isso eu vos atraí com amor e bondade”. “E, pois, Ele não aflige propositalmente os filhos dos homens.”
97:6.4 (1067.7) Disse o destemido profeta: “Justo é o nosso Senhor, grande pelos seus conselhos e poderoso pela sua obra. Os seus olhos estão abertos sobre todos os caminhos de todos os filhos dos homens, para dar misericórdia a cada um de acordo com o seu caminho e de acordo com o fruto da sua obra”. Mas foi considerado como uma traição blasfema quando, durante o cerco de Jerusalém, ele disse: “E agora eu coloquei essas terras nas mãos de Nabucodonossor, rei da Babilônia, meu servo”. E, quando Jeremias aconselhou que a cidade se rendesse, os sacerdotes e os governantes civis jogaram-no no fosso lamacento de uma masmorra sombria.
97:7.1 (1068.1) A destruição da nação dos hebreus e o seu cativeiro na Mesopotâmia teriam causado grandes benefícios à sua teologia em expansão, não fora a determinação do seu sacerdócio. A sua nação tinha caído diante dos exércitos da Babilônia, e o seu Yavé nacionalista sofria com as pregações internacionais dos líderes espirituais. Foi o ressentimento pela perda do seu Deus nacional que levou os sacerdotes judeus a irem tão longe na invenção de fábulas e na multiplicação de eventos aparentemente miraculosos na história do povo hebreu, num esforço para restaurar os judeus como o povo escolhido, até mesmo sob o uma idéia nova e expandida de um Deus internacionalizado e de todas as nações.
97:7.2 (1068.2) Durante o cativeiro, os judeus foram muito influenciados pelas tradições e lendas babilônicas, se bem que deva ser notado que eles certamente aprimoraram o tônus moral e a significação espiritual das histórias caldéias que adotaram; não obstante terem eles distorcido invariavelmente essas lendas, de modo a refletirem honra e glória sobre a ascendência e a história de Israel.
97:7.3 (1068.3) Esses sacerdotes e escribas hebreus tinham uma só idéia nas suas mentes, e esta era a reabilitação da nação judaica, a glorificação das tradições hebraicas e a exaltação da sua história racial. Caso haja algum ressentimento pelo fato de esses sacerdotes terem amarrado as suas idéias errôneas a uma parte tão grande do mundo ocidental, deveria ser lembrado que eles não o fizeram intencionalmente; eles não pretenderam estar escrevendo sob nenhuma inspiração; eles não professaram estar escrevendo um livro sagrado. Estavam meramente preparando um manual destinado a reanimar a coragem que definhava, nos seus companheiros de cativeiro. Eles tinham a intenção clara de melhorar o espírito nacional e a moral dos seus compatriotas. Aos homens que vieram mais tarde, restou reunir esses e outros escritos em um livro-guia de ensinamentos supostamente sem falhas.
97:7.4 (1068.4) O sacerdócio judeu fez um uso indiscriminado desses escritos depois do cativeiro, mas foi bastante estorvado na sua influência sobre os seus companheiros no cativeiro pela presença de um profeta jovem e indômito, Isaías, o segundo, que tinha sido plenamente convertido ao Deus de justiça, de amor, de retidão e misericórdia, do Isaías anterior. Como Jeremias ele também acreditava que Yavé tinha transformado-se no Deus de todas as nações. Ele pregava essas teorias sobre a natureza de Deus com uma narrativa de tais repercussões, que fez conversões tanto entre os judeus como entre os seus captores. E esse jovem pregador deixou por escrito os seus ensinamentos, os quais os sacerdotes hostis e impiedosos tentaram dissociar dele de todos os modos, embora o respeito puro pela sua beleza e grandeza tenha levado à sua incorporação aos escritos do primeiro Isaías. E assim os escritos desse segundo Isaías podem ser encontrados no livro que leva o seu nome, e abrangem desde o capítulo quarenta até o cinqüenta e cinco, inclusive.
97:7.5 (1068.5) Nenhum profeta ou líder religioso desde Maquiventa até a época de Jesus alcançou o elevado conceito de Deus que o segundo Isaías proclamou durante esses dias do cativeiro. O que esse líder espiritual proclamou não foi nenhum Deus pequeno, antropomórfico e elaborado pelo homem. “Vede, ele carrega ilhas como se fossem coisas muito pequenas.” “E como os céus estão mais no alto do que as terras, também os meus caminhos são mais elevados que os vossos caminhos e os meus pensamentos mais elevados do que os vossos pensamentos.”
97:7.6 (1069.1) Maquiventa Melquisedeque podia enfim ver instrutores humanos proclamando um Deus real ao homem mortal. Como Isaías, o primeiro, esse líder pregou o Deus da criação e da sustentação universal. “Eu fiz a Terra e coloquei o homem nela. Não a criei em vão; formei-a para ser habitada.”“Sou o primeiro e o último; não há Deus além de mim.” Falando pelo Senhor Deus de Israel, esse novo profeta disse: “Os céus podem desaparecer e a Terra envelhecer, mas a minha retidão subsistirá para sempre e a minha salvação durará de geração a geração”. “Não temais, pois estou contigo; não vos desanimeis, pois sou o vosso Deus.” “Não há Deus além de Mim — um Deus justo e um Salvador.”
97:7.7 (1069.2) E os judeus prisioneiros foram reconfortados, como milhares e milhares de homens o foram desde então, ao ouvir palavras como: “Assim diz o Senhor: ‘Eu vos criei, Eu vos redimi, Eu vos chamei pelo vosso nome; vós sois meus’”. “Quando atravessardes as águas, Eu estarei convosco, pois sois preciosos para a minha vista.” “Pode uma mulher esquecer de amamentar a sua criança e não ter compaixão do seu filho? Sim, ela pode esquecer, mas Eu não esquecerei dos meus filhos, pois, vede, Eu gravei os nomes deles na palma da minha mão; e os cobri mesmo com a sombra das minhas mãos.”“Que os perversos abandonem os seus caminhos e que o iníquo abandone os seus pensamentos, e que retornem ao Senhor e a Deus e Ele terá misericórdia deles, pois Ele os perdoará abundantemente.”
97:7.8 (1069.3) Ouvi novamente ao evangelho dessa nova revelação do Deus de Salém: “Ele alimentará o seu rebanho como um pastor; Ele reunirá as ovelhas nos seus braços e carregá-las-á no seu peito. Ele dá força aos abatidos, e àqueles que não têm poder Ele dá mais força. Aqueles que esperam o Senhor renovarão as suas forças; eles subirão com asas como águias; correrão e não se cansarão; caminharão e não se enfraquecerão”.
97:7.9 (1069.4) Esse Isaías conduziu uma vasta propaganda evangélica do conceito ampliado de um Yavé supremo. Ele rivalizava-se com Moisés, pela eloqüência com a qual retratava o Senhor Deus de Israel, como o Criador Universal. Era poético na sua descrição dos atributos infinitos do Pai Universal. Nenhuma afirmação mais bela sobre o Pai celeste jamais foi feita. Como os salmos, os escritos de Isaías estão entre as apresentações mais sublimes e verdadeiras do conceito espiritual de Deus a serem acolhidas pelos ouvidos do homem mortal antes da chegada de Michael em Urântia. Ouvi esta descrição que ele faz da Deidade: “Eu sou o elevado e sublime que habita a eternidade”.“Sou o Primeiro e o Último, e além de mim não há outro Deus.”“E a mão do Senhor não é curta a ponto de não poder salvar, nem o seu ouvido tão grosseiro a ponto de não ouvir.” E uma nova doutrina surgiu no mundo judeu quando esse profeta benigno, mas cheio de autoridade, persistiu na pregação da constância divina, a fidelidade de Deus. Ele declarou que “Deus não esqueceria nem abandonaria”.
97:7.10 (1069.5) Esse ousado instrutor proclamou que o homem estava muito estreitamente relacionado a Deus, dizendo: “Eu criei para a minha glória todo aquele que chama o meu nome, e eles proclamarão a minha louvação. E sim, Eu próprio, sou Aquele que ameniza as suas transgressões, para o meu próprio bem, e Eu não me lembrarei dos seus pecados”.
97:7.11 (1069.6) Ouvi esse grande hebreu colocar abaixo o conceito de um Deus nacional enquanto na glória ele proclama a divindade do Pai Universal, de quem ele diz: “Os céus são o meu trono, e a Terra onde ponho os pés”. E o Deus de Isaías não era menos santo, majestático, justo e insondável. O conceito do Yavé irado, vingativo e ciumento dos beduínos do deserto quase desapareceu. Um novo conceito do Yavé supremo e universal surgiu na mente do homem mortal para não mais ser perdido da vista humana. A realização da justiça divina começou a anular a magia primitiva e o medo biológico. Afinal, o homem se vê inserido em um universo de lei e de ordem e é apresentado a um Deus universal de atributos confiáveis e definitivos.
97:7.12 (1070.1) E esse homem que pregou sobre um Deus superno nunca cessou de proclamar esse Deus de amor. “Resido em um lugar elevado e santo, e também com aquele que é de um espírito contrito e humilde.” E mais palavras de conforto esse grande instrutor disse aos seus contemporâneos: “E o Senhor te guiará continuamente e satisfará a tua alma. Tu serás como um jardim bem regado e como uma fonte cujas águas não falham. E, caso o inimigo venha como uma inundação, o espírito do Senhor levantará uma defesa contra ele”. E uma vez mais o evangelho de Melquisedeque, destruidor de medos, e a religião de Salém, gerando confiança, brilharam para abençoar a humanidade.
97:7.13 (1070.2) O clarividente e corajoso Isaías definitivamente eclipsou o Yavé nacionalista com a sua descrição sublime da onipotência e da majestade universal do Yavé supremo, Deus de amor, soberano do universo, e pai afetuoso de toda a humanidade. Desde esses dias memoráveis que o conceito mais elevado de Deus, no Ocidente, tem englobado a justiça universal, a misericórdia divina e a retidão eterna. Com uma linguagem magnífica e com uma incomparável graça, esse grande educador descreveu o Criador Todo-Poderoso como o Pai pleno de amor.
97:7.14 (1070.3) Esse profeta do tempo do cativeiro pregou ao seu povo e aos homens de muitas nações, os quais o ouviram no rio, na Babilônia. E esse segundo Isaías muito fez para neutralizar os muitos conceitos errados e racialmente egoístas sobre a missão do Messias prometido. Todavia ele não foi totalmente bem sucedido. Caso os sacerdotes não se tivessem dedicado à obra de edificar um nacionalismo errôneo, os ensinamentos dos dois Isaías teriam preparado o caminho para o reconhecimento e o acolhimento do Messias prometido.
97:8.1 (1070.4) O hábito de considerar o registro das experiências dos hebreus como uma história sagrada e as transações do resto do mundo como história profana é responsável por muitas das confusões existentes na mente humana quanto à interpretação da história. E essa dificuldade surge porque não há uma história secular dos judeus. Depois que os sacerdotes exilados na Babilônia prepararam o seu novo registro dos procedimentos supostamente miraculosos de Deus, para com os hebreus, a história sagrada de Israel, retratada no Antigo Testamento, eles destruíram meticulosa e completamente os registros existentes dos assuntos hebreus — livros como “Os atos dos Reis de Israel” e “Os atos dos Reis de Judá”, junto com vários outros arquivos mais ou menos acurados da história dos hebreus.
97:8.2 (1070.5) No intuito de compreender como a pressão devastadora e a coerção inescapável da história secular aterrorizaram tanto os judeus prisioneiros, e governados por outros povos, a ponto de eles tentarem reescrever e remodelar completamente a sua história, é que deveríamos pesquisar rapidamente os arquivos da sua desconcertante experiência nacional. Deve ser lembrado que os judeus não tiveram êxito em fazer evoluir uma filosofia não teológica adequada para a vida. Eles lutaram contra o seu conceito original e egípcio das recompensas divinas pela retidão, combinadas às severas punições para o pecado. O drama de Jó foi algo como um protesto contra essa filosofia errônea. O evidente pessimismo do Eclesiastes foi uma sábia reação temporal a essas crenças super-otimistas na Providência.
97:8.3 (1071.1) Mas quinhentos anos de suserania, de governantes estrangeiros, mesmo para judeus pacientes e resignados, é demasiado. Os profetas e os sacerdotes começaram a gritar: “Até quando, ó Senhor, até quando?” E quando o judeu honesto buscou as escrituras, a sua perplexidade tornou-se mais confusa. Um antigo vidente prometeu que Deus protegeria e libertaria o seu “povo escolhido”. Amós fizera ameaças de que Deus abandonaria Israel, a menos que o povo restabelecesse os seus padrões de retidão nacional. O escriba do Deuteronômio tinha retratado a Grande Escolha — como entre o bem e o mal, o abençoado e o maldito. Isaías, o primeiro, tinha pregado sobre um rei libertador benigno. Jeremias tinha proclamado uma era de retidão interior — a aliança escrita nas tábuas do coração. O segundo Isaías falou da salvação pelo sacrifício e pela redenção. Ezequiel proclamou a libertação por meio do serviço da devoção, e Ezdras prometeu a prosperidade pela adesão à lei. Mas a despeito de tudo isso eles ficaram na escravidão; e a libertação foi protelada. Então Daniel apresentou o drama da “crise” iminente — o golpe dado sobre a grande imagem e o estabelecimento imediato do reino eterno da retidão, o reino messiânico.
97:8.4 (1071.2) E toda essa falsa esperança levou a um tal grau de desapontamento, e de frustração racial, que os líderes dos judeus ficaram tão confusos que não conseguiram reconhecer nem aceitar a missão e o ministério de um Filho divino do Paraíso quando em breve ele veio a eles à semelhança da carne mortal — encarnado como o Filho do Homem.
97:8.5 (1071.3) Todas as religiões modernas têm errado seriamente na tentativa de interpretar como miraculosas algumas épocas da história humana. Ainda que seja verdade que Deus tenha posto muitas vezes a mão de Pai, em intervenções providenciais na corrente dos assuntos humanos, é um erro encarar os dogmas teológicos e a superstição religiosa como uma sedimentação supranatural que haja surgido por uma ação miraculosa nessa corrente da história humana. O fato de que os “Altíssimos governam nos reinos dos homens” não converte a história secular em uma chamada história sagrada.
97:8.6 (1071.4) Os autores do Novo Testamento e os escritores cristãos posteriores complicaram ainda mais a distorção da história dos hebreus pelas suas tentativas bem-intencionadas de considerar os profetas judeus como transcendentalizantes. Assim a história hebraica tem sido explorada de um modo desastroso pelos escritores judeus, bem como pelos cristãos. A história hebraica secular tem sido radicalmente dogmatizada. Tem sido convertida em uma ficção da história sagrada e tem tornado-se inextricavelmente emaranhada aos conceitos morais e aos ensinamentos religiosos das nações chamadas cristãs.
97:8.7 (1071.5) Uma breve exposição dos pontos altos na história hebraica poderá ilustrar como os fatos em arquivo foram bastante alterados pelos sacerdotes judeus, na Babilônia, de modo a transformar a história secular cotidiana do seu povo em uma história fictícia e sagrada.
97:9.1 (1071.6) Nunca existiram doze tribos de israelitas — apenas três ou quatro tribos estabeleceram-se na Palestina. A nação hebraica passou a existir em conseqüência da união dos chamados israelitas e dos cananeus. “E os filhos de Israel habitaram entre os cananeus. E tomaram as filhas deles como esposas e deram as próprias filhas aos filhos dos cananeus.” Os hebreus nunca expulsaram os cananeus da Palestina, não obstante os registros feitos pelos sacerdotes dessas coisas declararem decididamente que o fizeram.
97:9.2 (1071.7) A consciência israelita teve origem na montanhosa terra de Efraim; a consciência posterior é originária do clã sulino de Judá. Os judeus (os judaitas) sempre tentaram difamar e enegrecer a história dos israelitas do norte (os efraimitas).
97:9.3 (1072.1) A história pretensiosa dos hebreus começa com Saul reunindo os clãs do norte para resistir a um ataque dos amonitas aos seus companheiros tribais — os gileaditas — no leste do Jordão. Com um exército de pouco mais de três mil homens, ele derrotou o inimigo e foi essa façanha que levou todas as tribos das colinas a fazê-lo rei. Quando os sacerdotes exilados reescreveram esse relato, eles elevaram para 330 000 o número de homens do exército de Saul e acrescentaram “Judá” à lista de tribos que participaram da batalha.
97:9.4 (1072.2) Imediatamente depois da derrota dos amonitas, Saul foi feito rei por eleição popular das suas tropas. Nenhum sacerdote ou profeta participou desse acontecimento. Mas os sacerdotes, mais tarde, registraram nos arquivos que Saul foi coroado rei pelo profeta Samuel, cumprindo instruções divinas. E fizeram isso no intuito de estabelecer uma “linha divina de descendência” para a realeza judaita de Davi.
97:9.5 (1072.3) A maior de todas as distorções da história judaica teve a ver com Davi. Após a vitória de Saul sobre os amonitas (a qual ele atribuiu a Yavé), os filisteus alarmaram-se e começaram a fazer ataques aos clãs do norte. Davi e Saul nunca chegaram a estar de acordo. Com seiscentos homens, Davi fez uma aliança com os filisteus e marchou costa acima até Esdraelon. Em Gath os filisteus ordenaram a Davi que deixasse o acampamento; eles temeram que ele pudesse passar para o lado de Saul. Davi retirou-se; os filisteus atacaram e derrotaram Saul. E não poderiam conseguir isso caso Davi tivesse sido leal a Israel. O exército de Davi era um agrupamento de poliglotas descontentes, constituindo-se na sua maior parte de desajustados sociais e de fugitivos da justiça.
97:9.6 (1072.4) A trágica derrota de Saul em Gilboa para os filisteus depreciou em muito a posição de Yavé, entre os deuses, aos olhos dos vizinhos cananeus. Normalmente, a derrota de Saul teria sido atribuída a uma apostasia dele contra Yavé, mas dessa vez os editores judaitas atribuíram-na a erros de ritual. Eles precisavam da tradição de Saul e de Samuel como respaldo para a realeza de Davi.
97:9.7 (1072.5) Com o seu pequeno exército, Davi fez da cidade não hebraica de Hebrom o seu quartel-general. E logo os seus compatriotas proclamaram-no rei do novo reino de Judá. Judá constituía-se na maior parte de elementos não hebreus — quenitas, calebitas, jebusitas e outros cananeus. Eram nômades — pastores — e, pois, devotados à idéia hebraica de propriedade da terra. Eles conservavam as ideologias dos clãs do deserto.
97:9.8 (1072.6) A diferença entre a história sagrada e a profana é bem ilustrada pelas duas narrativas diferentes a respeito da subida de Davi ao trono, como são encontradas no Antigo Testamento. Uma parte da narrativa secular, de como os seus seguidores imediatos (o seu exército) transformaram-no em rei, foi inadvertidamente deixada nos arquivos pelos sacerdotes que prepararam subseqüentemente a prolongada e prosaica versão para a história sagrada, na qual é descrito como o profeta Samuel, por indicação divina, escolheu Davi entre os seus irmãos e passou, formalmente e por meio de cerimônias elaboradas e solenes, a ungi-lo como o rei dos hebreus e então a proclamá-lo sucessor de Saul.
97:9.9 (1072.7) Tantas vezes, após preparar as suas narrativas fictícias sobre as gestões miraculosas de Deus para com Israel, os sacerdotes não se esqueceram inteiramente de cancelar os acontecimentos, narrados de modo claro e fiel aos fatos que estavam já nos registros.
97:9.10 (1072.8) Davi buscava edificar-se politicamente, primeiro casando-se com a filha de Saul, depois com a viúva de Nabal, o edomita rico, e então com a filha de Talmai, o rei de Geshur. Ele teve seis esposas dentre as mulheres de Jebus, para não mencionar Betsabá, a esposa do hitita.
97:9.11 (1073.1) E foi por tais métodos e por meio de tais pessoas que Davi construiu a ficção de um reino divino de Judá como o sucessor na herança das tradições do reino do norte, em desaparecimento, do Israel efraimita. A tribo cosmopolita, de Judá, de Davi, era mais gentia do que judia; contudo os anciães oprimidos de Efraim vieram e “ungiram-no como rei de Israel”. Depois de uma ameaça militar, Davi então se uniu aos jebusitas e estabeleceu a sua capital do reino unido em Jebus (Jerusalém), que era uma cidade fortemente murada a meio caminho entre Judá e Israel. Os filisteus sentiram-se provocados e logo atacaram Davi. Após uma batalha feroz foram derrotados e uma vez mais Yavé foi estabelecido como “O Deus de todas as Hostes”.
97:9.12 (1073.2) Yavé, todavia, teria forçosamente de partilhar de alguma coisa dessa glória com os deuses cananeus, pois o grosso do exército de Davi era de não hebreus. E, desse modo, consta nos vossos registros (e foi negligenciado pelos editores judaitas) esta afirmação reveladora: “Yavé abriu uma brecha nos meus inimigos diante de mim. E, por isso, ele chamou o lugar de Baal-Perazim”. E fizeram isso porque oitenta por cento dos soldados de Davi eram baalitas.
97:9.13 (1073.3) Davi explicou a derrota de Saul em Gilboa destacando que Saul tinha atacado uma cidade cananéia, a de Gibeon, cujo povo tinha um tratado de paz com os efraimitas. Por isso Yavé abandonou-o. Mesmo na época de Saul, Davi defendera a cidade cananéia de Keila contra os filisteus, e então colocou a sua capital em uma cidade cananéia. Para manter a política de compromisso com os cananeus, Davi entregou sete dos descendentes de Saul aos Gibeonitas para que fossem enforcados.
97:9.14 (1073.4) Após a derrota dos filisteus, Davi ganhou a posse da “arca de Yavé”, trouxe-a para Jerusalém, e tornou oficial a adoração de Yavé dentro do seu reino. Em seguida ele impôs tributos pesados às tribos vizinhas — edomitas, moabitas, amonitas e sírios.
97:9.15 (1073.5) A corrupta máquina política de Davi começou a tomar posse pessoal da terra ao norte, violando os costumes hebreus, e, em breve, tomou a si o controle das taxas pagas pelas caravanas anteriormente coletadas pelos filisteus. E então veio uma série de atrocidades que culminaram com o assassinato de Urias. Todos os apelos judiciais foram julgados em Jerusalém; não mais “os anciães” podiam fazer justiça. Não é de se espantar que irrompesse a rebelião. Hoje, Absalom poderia ser chamado de demagogo; a sua mãe era uma cananéia. Havia uma dúzia de pretendentes ao trono, além do filho de Betsabá — Salomão.
97:9.16 (1073.6) Após a morte de Davi, Salomão expurgou a máquina política de todas as influências vindas do norte, mas continuou com toda a tirania e os impostos do regime do seu pai. Salomão levou a nação à bancarrota com as prodigalidades da sua corte e com o seu programa complicado de construções. Havia a casa do Líbano, o palácio da filha do Faraó, o templo de Yavé, o palácio do rei e a restauração dos muros de muitas cidades. Salomão criou uma vasta marinha hebraica, operada por marinheiros sírios que negociavam com o mundo inteiro. O seu harém tinha quase mil mulheres.
97:9.17 (1073.7) Nessa época o templo de Yavé em Silo estava desacreditado, e todo o culto da nação estava centrado em Jebus na deslumbrante capela real. O reino do norte retornou ao culto de Eloim. Eles gozavam do favorecimento dos faraós, que mais tarde escravizaram Judá, colocando o reino do sul sob taxações.
97:9.18 (1073.8) Havia altos e baixos — guerras entre Israel e Judá. Após quatro anos de guerra civil, e três dinastias, Israel caiu sob o domínio de déspotas citadinos que começaram a fazer comércio de terras. Até mesmo o rei Omri tentou comprar a propriedade de Shemer. Todavia, o fim desencadeou-se quando Salmanasar III decidiu controlar a costa do Mediterrâneo. O rei Acab, de Efraim, reuniu dez outros grupos e resistiu em Karkar; a batalha estava empatada. O avanço dos assírios tinha sido impedido, os aliados, contudo, foram dizimados. Essa grande luta nem é mencionada no Antigo Testamento.
97:9.19 (1074.1) Novos problemas tiveram início quando o rei Acab tentou comprar terras de Nabot. A sua esposa fenícia falsificou o nome de Acab em papéis que mandavam que as terras de Nabot fossem confiscadas sob a acusação de que ele tinha blasfemado contra os nomes de “Eloim e do rei”. Ele e os seus filhos foram prontamente executados. O vigoroso Elias apareceu em cena denunciando Acab pelo assassinato dos Nabots. E assim, Elias, um dos maiores dentre os profetas, começou os seus ensinamentos como um defensor dos velhos costumes sobre a posse das terras, e contra a atitude baalista de venda de terras, e contra a tentativa das cidades de dominar o país. Mas a reforma não teve êxito até que o grande proprietário Jehu juntasse forças com o cacique cigano Jonadab para destruir os profetas (agentes imobiliários) de Baal em Samaria.
97:9.20 (1074.2) Quando Joás e o seu filho Jeroboan liberaram Israel dos inimigos, surgiu uma nova vida. Todavia, nessa época, Samaria era governada por uma nobreza de bandidos cujas depredações rivalizavam-se com aquelas da dinastia davídica dos velhos tempos. O estado e a igreja funcionavam de mãos dadas. A tentativa de suprimir a liberdade de expressão levou Elias, Amós, e Oséias a começarem os seus escritos secretos, e esse foi o começo real da bíblia judaica e da bíblia cristã.
97:9.21 (1074.3) Mas o reino do norte não desapareceu da história até que o rei de Israel conspirasse com o rei do Egito e recusasse a pagar tributos adicionais à Assíria. Então começou o sítio de três anos, seguido da dispersão total do reino do norte. Efraim (Israel) desapareceu assim. Judá — os judeus, o “remanescente de Israel” — tinha começado com a concentração de terras nas mãos de uns poucos, como disse Isaías, “Juntando casa com casa e campo com campo”. Em breve havia em Jerusalém um templo de Baal ao lado do templo de Yavé. Esse reino de terror terminou com uma revolta monoteísta liderada pelo rei adolescente Joás, que fez as cruzadas de Yavé durante trinta e cinco anos.
97:9.22 (1074.4) O próximo rei, Amazías, teve problemas com a revolta dos contribuintes edomitas e os seus vizinhos. Depois de uma vitória notável ele voltou a atacar os seus vizinhos do norte e foi derrotado de um modo também notável. Então os campesinos revoltaram-se, assassinaram o rei e colocaram seu filho de dezesseis anos no trono. Este foi Azarías, chamado de Uzías por Isaías. Depois de Uzias, as coisas foram de mal a pior, e Judá ficou durante cem anos pagando tributos aos reis da Assíria. Isaías, o primeiro, disse a eles que Jerusalém, sendo a cidade de Yavé, nunca cairia. Mas Jeremias não hesitou em proclamar a sua queda.
97:9.23 (1074.5) A verdadeira eliminação de Judá foi feita por um círculo de políticos ricos e corruptos que operavam sob a direção de um rei adolescente, Manassés. A economia em mudança favoreceu a volta do culto de Baal, cujas negociações particulares eram contrárias à ideologia de Yavé. A queda da Assíria e da ascendência do Egito trouxe libertação para Judá, durante algum tempo, e os campesinos tomaram o poder. Sob Josias eles destruíram o círculo de políticos corruptos de Jerusalém.
97:9.24 (1074.6) Mas essa era chegou a um fim trágico quando Josias presumiu interceptar o poderoso exército de Necao, que se transladava da costa do Egito para ajudar a Assíria contra a Babilônia. O exército foi totalmente destruído, e Judá passou a pagar tributo ao Egito. O partido político de Baal voltou ao poder em Jerusalém e assim começou a verdadeira escravidão aos egípcios. Então se seguiu um período no qual os políticos do Baal controlaram tanto os tribunais quanto o sacerdócio. O culto a Baal era um sistema econômico e social que negociava com os direitos de propriedade tanto quanto com a fertilidade do solo.
97:9.25 (1075.1) Com a queda de Necao, deposto por Nabucodonossor, Judá caiu sob o domínio da Babilônia e recebeu dez anos de graça, mas logo se rebelou. Quando Nabucodonossor atacou-os, os judaitas iniciaram reformas sociais, tais como a libertação de escravos, para influir sobre Yavé. Quando o exército babilônio retirou-se temporariamente, os hebreus rejubilaram-se de que a sua magia para a reforma os tinha libertado. Foi durante esse período que Jeremias lhes disse da maldição iminente, e em breve Nabucodonossor voltou.
97:9.26 (1075.2) E assim o fim de Judá chegou subitamente. A cidade foi destruída, e o povo foi levado para a Babilônia. A luta Yavé-Baal terminou com o cativeiro. E o choque do cativeiro levou o resto de Israel ao monoteísmo.
97:9.27 (1075.3) Na Babilônia os judeus chegaram à conclusão de que não poderiam existir como um pequeno grupo na Palestina, tendo os seus próprios costumes sociais e econômicos e, para que as suas ideologias prevalecessem, eles deviam converter os gentios. Assim originou-se o seu novo conceito de destino — a idéia de que os judeus devem transformar-se nos servidores escolhidos de Yavé. A religião judaica do Antigo Testamento realmente teve a sua evolução na Babilônia, durante o cativeiro.
97:9.28 (1075.4) A doutrina da imortalidade também tomou forma na Babilônia. Os judeus haviam pensado que a idéia da vida futura tirava a atenção da ênfase do seu evangelho de justiça social. Agora, pela primeira vez a teologia desalojava a sociologia e a economia. A religião estava tomando forma como um sistema de pensamento e conduta humanos, mais e mais separados da política, da sociologia e da economia.
97:9.29 (1075.5) E assim a verdade sobre o povo judeu revela que muito daquilo que tem sido considerado como história sagrada não passa de um pouco mais do que uma crônica da história profana comum. O judaísmo foi o solo no qual o cristianismo cresceu, mas os judeus não foram um povo miraculoso.
97:10.1 (1075.6) Os líderes dos israelitas ensinaram-lhes que eles eram um povo escolhido, não para indulgências especiais ou para o monopólio do favorecimento divino, mas para o serviço especial de levar a verdade de um Deus acima de tudo a todas as nações. E eles prometeram aos judeus que, se cumprissem esse destino, eles iriam tornar-se os líderes espirituais de todos os povos, e que o Messias que viria reinaria sobre eles e sobre o mundo como o Príncipe da Paz.
97:10.2 (1075.7) Quando os judeus foram libertados pelos persas, eles voltaram à Palestina apenas para cair de novo na escravidão aos seus próprios sacerdotes, e o seu código de leis, de sacrifícios e de rituais. E, como os clãs hebreus rejeitaram a maravilhosa história de Deus, apresentada na oração de despedida de Moisés, para os rituais de sacrifício e de penitência, do mesmo modo esses remanescentes da nação hebraica rejeitam o conceito magnífico do segundo Isaías para as regras, as regulamentações e os rituais do seu crescente sacerdócio.
97:10.3 (1075.8) O egoísmo nacional, a fé falsa em um mal concebido Messias prometido, e a escravidão e a tirania crescente do sacerdócio silenciaram para sempre as vozes dos líderes espirituais (excetuando-se Daniel, Ezequiel, Hagai e Malaquias). E daquele dia até a época de João Batista, todo o Israel experimentou um crescente retrocesso espiritual. Mas os judeus nunca perderam o conceito do Pai Universal; até o século vinte depois de Cristo eles continuaram a seguir essa concepção da Deidade.
97:10.4 (1076.1) De Moisés a João Batista uma linha contínua de instrutores fiéis estendeu-se para transmitir, de geração a geração, a chama da luz monoteísta, enquanto, ao mesmo tempo, incessantemente repreendiam aos dirigentes inescrupulosos, denunciavam os sacerdotes que se comercializavam, e sempre exortaram o povo a aderir à adoração do supremo Yavé, o Senhor Deus de Israel.
97:10.5 (1076.2) Como nação, os judeus finalmente perderam a sua identidade política, mas a religião hebraica, de crença sincera em um Deus único e universal, continua a viver nos corações dos exilados dispersados. E essa religião sobrevive porque tem efetivamente funcionado para conservar os valores mais elevados dos seus seguidores. A religião judaica preservou os ideais de um povo, mas não conseguiu fomentar o progresso e encorajar as descobertas filosóficas criativas no âmbito da verdade. A religião judaica teve muitos erros — foi deficiente na filosofia e quase desprovida de qualidades estéticas — , mas conservou os valores morais; e por isso sobreviveu. O Yavé supremo, comparado a outros conceitos da Deidade, era claro, vívido, pessoal e moral.
97:10.6 (1076.3) Os judeus amavam a justiça, a sabedoria, a verdade e a retidão como poucos povos o fizeram, mas eles contribuíram menos que todos os povos para a compreensão intelectual e para o entendimento espiritual dessas qualidades divinas. Embora a teologia hebraica tenha se recusado a expandir-se, teve um papel importante no desenvolvimento de duas outras religiões mundiais, o cristianismo e o maometanismo.
97:10.7 (1076.4) A religião judaica persistiu também por causa das suas instituições. É difícil uma religião sobreviver como uma prática particular de indivíduos isolados. Esse tem sido sempre o erro dos líderes religiosos: apercebendo-se dos males da religião institucionalizada, eles buscam destruir a técnica de funcionamento em grupo. Em lugar de destruir todo ritual, eles fariam melhor se o reformassem. Quanto a isso, Ezequiel era mais sábio do que os seus contemporâneos; embora se unisse a eles para insistir na responsabilidade moral pessoal, ele também tentou estabelecer a observância fiel de um ritual superior e purificado.
97:10.8 (1076.5) E assim os sucessivos educadores de Israel efetuaram, na evolução da religião, o maior feito conseguido em Urântia: a transformação gradual, mas contínua, do conceito bárbaro do demônio selvagem Yavé, o deus espírito ciumento e cruel do fulminante vulcão do Sinai, no conceito posterior, elevado e superno do supremo Yavé, criador de todas as coisas e o Pai amoroso e misericordioso de toda a humanidade. E esse conceito hebraico de Deus foi a mais elevada visualização humana do Pai Universal até aquele momento, e esta foi ainda mais engrandecida e perfeitamente amplificada pelos ensinamentos pessoais e pelo exemplo de vida do Seu Filho, Michael de Nébadon.
97:10.9 (1076.6) [Apresentado por um Melquisedeque de Nébadon.]
O Livro de Urântia
Documento 98
98:0.1 (1077.1) OS ENSINAMENTOS de Melquisedeque penetraram na Europa por muitos caminhos, mas chegaram principalmente através do Egito, e foram incorporados à filosofia ocidental, depois de serem profundamente helenizados e, mais tarde, cristianizados. Os ideais do mundo ocidental eram basicamente socráticos, e a sua filosofia religiosa posterior chegou a ser a de Jesus, modificada e comprometida pelo contato com a filosofia e a religião ocidentais em evolução, tudo isso tendo culminado na igreja cristã.
98:0.2 (1077.2) Durante um longo tempo, na Europa, os missionários de Salém levaram adiante as suas atividades, tornando-se gradualmente absorvidos por muitos dos cultos e grupos de rituais que surgiam periodicamente. Entre aqueles que mantiveram os ensinamentos de Salém na sua forma mais pura, devem ser mencionados os cínicos. Esses pregadores da fé e da confiança em Deus estavam ainda funcionando na Europa Romana, no primeiro século depois de Cristo, sendo mais tarde incorporados à nova religião cristã, que estava em formação.
98:0.3 (1077.3) Grande parte da doutrina de Salém foi disseminada, na Europa, pelos soldados mercenários judeus, que lutaram em tantas das campanhas militares ocidentais. Nos tempos antigos, os judeus eram afamados tanto pelo seu valor militar, quanto pelas suas peculiaridades teológicas.
98:0.4 (1077.4) As doutrinas básicas da filosofia grega, da teologia judaica e da ética cristã foram fundamentalmente repercussões dos ensinamentos iniciais de Melquisedeque.
98:1.1 (1077.5) Os missionários de Salém poderiam ter edificado uma grande estrutura religiosa entre os gregos, não fora a interpretação estrita do seu juramento de ordenação, uma promessa imposta por Maquiventa, que proibia a organização de congregações exclusivas para a adoração e que obrigava cada pregador a prometer nunca funcionar como um sacerdote, nunca receber remunerações por serviço religioso, apenas comida, roupas e abrigo. Quando os pregadores Melquisedeques penetraram na Grécia pré-helênica, eles encontraram um povo que ainda fomentava as tradições de Adamson e dos dias dos anditas, mas esses ensinamentos haviam sido bastante adulterados pelas noções e crenças das hordas de escravos inferiores, que haviam sido trazidas para as praias gregas em números crescentes. Essa adulteração acarretou um retrocesso ao animismo rudimentar de ritos sangrentos; as classes mais baixas transformando em cerimoniais até mesmo as execuções de criminosos condenados.
98:1.2 (1077.6) A influência inicial dos instrutores de Salém foi quase destruída pelas chamadas invasões arianas da Europa e do Oriente. Esses invasores helênicos trouxeram consigo conceitos antropomórficos de Deus semelhantes àqueles que os seus companheiros arianos haviam levado para a Índia. Essa importação inaugurou a evolução da família grega de deuses e de deusas. Essa nova religião baseou-se parcialmente nos cultos dos invasores bárbaros helênicos, mas também incorporava os mitos dos habitantes mais antigos da Grécia.
98:1.3 (1078.1) Os gregos helênicos encontraram o Mundo Mediterrâneo amplamente dominado pelo culto da mãe, e impuseram a esses povos o seu deus-homem, Dyaus-Zeus, que já se havia tornado, como Yavé para os semitas henoteístas, o deus principal de todo o panteão grego de deuses subordinados. E os gregos teriam terminado por alcançar um monoteísmo verdadeiro, com o conceito de Zeus, não fora o fato de haverem conservado o supercontrole do Destino. Um Deus de valor final deve, ele próprio, ser o árbitro e o criador do destino.
98:1.4 (1078.2) Como conseqüência desses fatores na evolução religiosa, desenvolveu-se logo a crença popular nos deuses felizes e despreocupados do monte Olimpo, deuses mais humanos do que divinos e deuses que os inteligentes gregos nunca levaram assim tão a sério. Eles nunca amaram imensamente nem temeram intensamente a essas divindades da sua própria criação. Eles tinham um sentimento patriótico e racial por Zeus e a sua família de semi-homens e semideuses, mas dificilmente eles reverenciavam-nos ou adoravam-nos.
98:1.5 (1078.3) Os helenos tornaram-se tão impregnados pelas doutrinas anti-sacerdotais dos instrutores iniciais de Salém, que nenhum sacerdócio de qualquer importância jamais surgiu na Grécia. Mesmo a feitura das imagens dos deuses tornou-se mais uma obra de arte do que uma questão de adoração.
98:1.6 (1078.4) Os deuses do Olimpo ilustram um antropomorfismo tipicamente humano. No entanto, a mitologia grega era mais estética do que ética. A religião grega foi útil por retratar um universo governado por um grupo de deidades. Contudo, a moral, a ética e a filosofia gregas logo avançaram muito mais do que o conceito que possuíam de um deus e essa desarmonia entre o crescimento intelectual e espiritual foi perigosa para a Grécia, tanto quanto o demonstrou ser para a Índia.
98:2.1 (1078.5) Uma religião, se encarada de um modo ligeiro e superficial, não pode perdurar, especialmente quando não tem um sacerdócio para fomentar as suas formas e para preencher, de temor e de respeito, os corações dos devotos. A religião do Olimpo não prometia a salvação, nem saciava a sede espiritual dos seus crentes; portanto, estava fadada a perecer. Um milênio depois do seu início, ela já havia quase desaparecido e os gregos estavam sem uma religião nacional, pois os deuses do Olimpo haviam perdido o poder sobre as suas melhores mentes.
98:2.2 (1078.6) Essa era a situação quando, durante o sexto século antes de Cristo, o Oriente e o Levante tiveram um renascimento de consciência espiritual e um novo despertar para o reconhecimento do monoteísmo. Contudo, o Ocidente não partilhou desse novo desenvolvimento; nem a Europa, nem o norte da África participaram de um modo importante desse renascimento religioso. Os gregos, porém, empenharam-se em um avanço intelectual magnífico. Eles haviam começado a controlar o medo e não mais buscavam a religião como um antídoto para ele, mas ainda não haviam percebido que a verdadeira religião cura a fome da alma, cura a inquietação espiritual e o desespero moral. Eles buscavam o consolo da alma no pensar em profundidade — por meio da filosofia e da metafísica. Da contemplação de si e da preservação de si — a salvação — , eles voltaram-se para a compreensão e o entendimento de si próprios.
98:2.3 (1078.7) Por meio do pensamento rigoroso, os gregos tentaram alcançar uma consciência de segurança que serviria como substituta da crença na sobrevivência, mas fracassaram completamente. Apenas os mais inteligentes, entre os das classes mais elevadas dos povos helênicos, puderam compreender esse novo ensinamento; as fileiras da massa, progênie escrava de gerações anteriores, não tinham capacidade para receber esse novo substituto para a religião.
98:2.4 (1079.1) Os filósofos desdenhavam todas as formas de adoração, não obstante praticamente todos eles haverem-se agarrado, de um modo pouco claro, ao embasamento passado da crença na doutrina de Salém, da “Inteligência do universo”, da “idéia de Deus” e da “Grande Fonte”. Visto que os filósofos gregos deram reconhecimento ao divino e ao suprafinito, eles estavam sendo francamente monoteístas; e quase não deram reconhecimento nenhum a toda a galáxia olimpiana de deuses e de deusas.
98:2.5 (1079.2) Os poetas gregos do quinto e do sexto séculos, notadamente Píndaro, intentaram reformar a religião grega. Eles elevaram os seus ideais, mas eram mais artistas do que religiosos. E falharam ao desenvolver uma técnica para promover e conservar os valores supremos.
98:2.6 (1079.3) Xenófanes ensinou sobre a existência de um só Deus, mas o seu conceito de deidade era por demais panteísta para que chegasse a ser um Pai pessoal para o homem mortal. Anaxágoras era um mecanicista, a não ser por reconhecer uma Primeira Causa, uma Mente Inicial. Sócrates e os seus sucessores, Platão e Aristóteles, ensinaram que a virtude é conhecimento; a bondade, a saúde da alma; que é melhor sofrer a injustiça do que ser culpado dela, que é errado retribuir o mal com mal, e que os deuses são sábios e bons. As virtudes cardinais para eles eram: a sabedoria, a coragem, a temperança e a justiça.
98:2.7 (1079.4) A evolução da filosofia religiosa para os povos helênico e hebreu permite uma ilustração, pelo contraste, da função da igreja como uma instituição na formação do progresso cultural. Na Palestina, o pensamento humano era tão controlado pelos sacerdotes, e tão dirigido pelas escrituras, que a filosofia e a estética foram inteiramente engolfadas pela religião e pela moralidade. Na Grécia, a quase completa ausência de sacerdotes e de “escrituras sagradas” deixava a mente humana livre e desacorrentada, resultando em um desenvolvimento assustador na profundidade do pensamento. A religião, porém, como uma experiência pessoal, fracassou, por não se manter atualizada com as pesquisas intelectuais sobre a natureza e a realidade do cosmo.
98:2.8 (1079.5) Na Grécia, acreditar estava subordinado a pensar; na Palestina, o pensar era mantido como súdito do crer. Grande parte da força do cristianismo é devida a haver ele tomado grandes empréstimos à moralidade hebraica e ao pensamento grego.
98:2.9 (1079.6) Na Palestina, o dogma religioso tornou-se cristalizado a ponto de ameaçar crescimentos posteriores; na Grécia, o pensamento humano tornou-se tão abstrato que o conceito de Deus ficou resolvido dentro da bruma de vapor da especulação panteísta, não de todo diferente da Infinitude impessoal dos filósofos brâmanes.
98:2.10 (1079.7) Mas os homens comuns daqueles tempos não poderiam captar a filosofia grega da compreensão de si, e de uma Deidade abstrata, nem estavam muito interessados nisso; eles antes buscavam uma promessa de salvação, e que viesse junto a um Deus pessoal que pudesse ouvir as suas preces. Eles exilaram os filósofos e perseguiram os remanescentes do culto de Salém, duas doutrinas que se haviam tornado muito misturadas. E se prepararam para aquela terrível orgia que foi o mergulho nas loucuras dos cultos dos mistérios, que então se espalhavam pelas terras do Mediterrâneo. Os mistérios de Elêusis cresceram dentro do panteão olimpiano, uma versão grega da adoração da fertilidade; floresceu a adoração da natureza com Dionísio; o melhor dos cultos foi o da irmandade órfica, cujas pregações morais e promessas de salvação foram um grande atrativo para tantos.
98:2.11 (1080.1) Toda a Grécia envolveu-se nesses novos métodos de alcançar a salvação, nesses cerimoniais emocionais e ardentes. Nenhuma nação jamais atingiu tais alturas de filosofia artística em um tempo tão curto; nenhuma nação jamais criou um sistema suficientemente avançado de ética, praticamente sem Deidade e inteiramente desprovido da salvação humana; nenhuma nação jamais submergiu tão rápida, profunda e violentamente, em tais abismos de estagnação intelectual, de depravação moral e de pobreza espiritual, como esses mesmos povos gregos, quando eles se arrojaram nesse redemoinho enlouquecido dos cultos dos mistérios.
98:2.12 (1080.2) As religiões têm resistido longamente sem sustentação filosófica, mas poucas filosofias, como tais, têm perdurado muito sem alguma identificação com a religião. Uma filosofia está para a religião como a concepção está para a ação. No entanto, o estado humano ideal é aquele em que a filosofia, a religião e a ciência estão fundidas em uma unidade significativa, por meio da ação conjunta da sabedoria, da fé e da experiência.
98:3.1 (1080.3) Tendo saído das formas religiosas iniciais de adoração dos deuses da família para a reverência tribal a Marte, o deus da guerra, era natural que a religião posterior dos latinos fosse mais algo como uma observância política, do que o eram os sistemas intelectuais dos gregos e brâmanes, ou as religiões mais espirituais de vários outros povos.
98:3.2 (1080.4) Na grande renascença monoteísta do evangelho de Melquisedeque, durante o sexto século antes de Cristo, pouquíssimos missionários de Salém penetraram na Itália, e aqueles que o fizeram foram incapazes de superar a influência do sacerdócio etrusco, que se espalhava rapidamente com a sua nova galáxia de deuses e templos, todos os quais se incorporaram à religião do estado romano. Essa religião das tribos latinas não era trivial e venal como a dos gregos, nem austera e tirânica como a dos hebreus; ela consistia, na sua maior parte, na observância de meras formalidades, de votos e tabus.
98:3.3 (1080.5) A religião romana foi, em grande parte, influenciada pelas extensas importações culturais da Grécia. Finalmente, a maior parte dos deuses do Olimpo foi transplantada e incorporada ao panteão latino. Havia muito tempo que os gregos adoravam o fogo do átrio da família — Héstia era a deusa virgem do átrio; Vesta era a deusa romana do lar. Zeus tornou-se Júpiter; Afrodite, Vênus; e assim por diante, com as muitas deidades do Olimpo.
98:3.4 (1080.6) A iniciação religiosa dos jovens romanos era a ocasião da sua consagração solene ao serviço do estado. Os juramentos e a admissão à cidadania na realidade eram cerimônias religiosas. Os povos latinos mantinham templos, altares e santuários, e, em uma crise, consultavam os oráculos. Eles preservavam os ossos dos heróis e, mais tarde, os dos santos cristãos.
98:3.5 (1080.7) Essa forma, oficial e sem emoção, de patriotismo pseudo-religioso estava fadada ao colapso, do mesmo modo que o culto altamente intelectual e artístico dos gregos caíra diante da adoração fervorosa e profundamente emotiva dos cultos dos mistérios. O maior desses cultos devastadores foi a religião de mistério da seita da Mãe de Deus, que tinha a sua sede, naqueles dias, exatamente no local da atual igreja de São Pedro em Roma.
98:3.6 (1080.8) O estado romano, emergente, era politicamente conquistador, mas, por sua vez, foi conquistado pelos cultos, rituais, mistérios e conceitos de deus do Egito, da Grécia e do Levante. Esses cultos importados continuaram a florescer em todo o estado romano até a época de Augusto, que, por motivos puramente políticos e cívicos, fez um esforço heróico e, de uma certa maneira, cheio de êxito, para destruir os mistérios e reviver a mais antiga religião política.
98:3.7 (1081.1) Um dos sacerdotes da religião estatal contou a Augusto sobre as tentativas anteriores dos instrutores de Salém de disseminar a doutrina de um Deus único, uma Deidade final dominando todos os seres sobrenaturais; e essa idéia implantou-se com tanta firmeza junto ao imperador, que ele construiu muitos templos guarnecendo-os com belas imagens, reorganizou o sacerdócio do estado, restabeleceu a religião do estado, apontou a si próprio como o mais alto sacerdote entre todos e, como imperador, não hesitou em proclamar-se o deus supremo.
98:3.8 (1081.2) Essa nova religião, a da adoração de Augusto, floresceu e foi observada em todo o império durante a sua vida, menos na Palestina, o lar dos judeus. E essa era dos deuses humanos continuou até que o culto oficial romano chegou a ter um quadro de mais de quarenta deidades humanas auto-elevadas, todas clamando a si nascimentos miraculosos e outros atributos supra-humanos.
98:3.9 (1081.3) A última resistência do corpo de crentes de Salém, que diminuía, ficou manifestada por um grupo sincero de pregadores, os cínicos, os quais exortaram os romanos a abandonar os seus rituais religiosos tempestuosos e sem sentido e a retornar a uma forma de adoração que incorporava o evangelho de Melquisedeque, tal como fora modificado, não sem ser contaminado, mediante o contato com a filosofia dos gregos. Contudo, o povo em geral rejeitou o cinismo, e preferiu mergulhar nos rituais dos mistérios, que não apenas ofereciam esperanças de salvação pessoal, como também gratificavam o desejo de diversão, excitação e distração.
98:4.1 (1081.4) A maioria das pessoas do povo, no mundo greco-romano, havendo perdido as suas religiões primitivas, da família e do estado, e sendo incapazes ou não estando dispostas a compreender o sentido da filosofia grega, voltaram a sua atenção para os espetaculares e emotivos cultos dos mistérios do Egito e do Levante. A massa do povo ansiava por promessas de salvação — de consolo religioso, para o hoje, e o seguro da esperança de imortalidade, para depois da morte.
98:4.2 (1081.5) Os três cultos dos mistérios que se tornaram mais populares foram:
98:4.3 (1081.6) 1. O culto frígio a Cibele e ao seu filho Átis.
98:4.4 (1081.7) 2. O culto egípcio a Osíris e à sua mãe Ísis.
98:4.5 (1081.8) 3. O culto iraniano da adoração de Mitras, como salvador e redentor da humanidade pecadora.
98:4.6 (1081.9) Os mistérios frígio e egípcio ensinavam que o filho divino (respectivamente Átis e Osíris) havia experimentado a morte e havia sido ressuscitado pelo poder divino. Ensinavam, além disso, que todos os que fossem propriamente iniciados no mistério, e que celebrassem com reverência o aniversário da morte e da ressurreição do deus, passariam, com isso, a fazer parte da sua natureza divina e da sua imortalidade.
98:4.7 (1081.10) As cerimônias frígias eram imponentes, mas degradantes; os seus festivais sangrentos indicavam quão degradados e primitivos esses mistérios levantinos se tornaram. O dia mais santo era a sexta-feira negra, o “dia do sangue”, comemorando a morte auto-infligida de Átis. Depois de três dias da celebração do sacrifício e morte de Átis, o festival transformava-se em alegria e em regozijo em honra à sua ressurreição.
98:4.8 (1082.1) Os rituais da adoração de Ísis e Osíris eram mais refinados e comoventes do que os do culto frígio. Esse ritual egípcio era construído com a lenda do deus do Nilo de outrora, um deus que morreu e que ressuscitou, cujo conceito derivava da observação da interrupção anualmente recorrente do crescimento da vegetação, seguida pela restauração primaveril de todas as plantas vivas. O frenesi na observação desses cultos dos mistérios e as orgias dos seus cerimoniais, que supostamente levavam ao “entusiasmo” da compreensão da divindade, algumas vezes eram bastante revoltantes.
98:5.1 (1082.2) Os mistérios frígios e egípcios finalmente cederam diante do maior de todos os cultos dos mistérios, a adoração de Mitras. O culto mitraico atraía uma gama ampla dentro da natureza humana e gradualmente suplantou a ambos os seus predecessores. O mitraísmo espalhou-se pelo império romano, por meio da propaganda feita pelas legiões romanas recrutadas no Levante, onde essa religião estava em voga, pois aquelas legiões carregavam consigo essa crença onde quer que fossem. E esse novo ritual religioso representava um avanço em relação aos cultos dos mistérios anteriores.
98:5.2 (1082.3) O culto de Mitras surgiu no Irã e sobreviveu durante muito tempo na sua terra natal, a despeito da oposição militante dos seguidores de Zoroastro. No entanto, na época em que o mitraísmo chegou a Roma, havia-se tornado muito mais aprimorado, com a absorção de numerosos dos ensinamentos de Zoroastro. Foi principalmente por intermédio do culto mitraico que a religião de Zoroastro exerceu uma influência sobre o cristianismo, a qual apareceu posteriormente.
98:5.3 (1082.4) O culto mitraico retratava um deus militante, que tinha origem em um grande rochedo, lançando-se em façanhas valentes e fazendo a água jorrar de uma rocha com um golpe da sua flecha. Houve um dilúvio, do qual um homem escapou em uma embarcação especialmente construída, e uma última ceia, na qual Mitras celebrou o deus-sol antes de ascender aos céus. Esse deus-sol, ou Sol Invictus, era uma degeneração de Ahura-Mazda, o conceito da deidade do zoroastrismo. Mitras foi concebido como o campeão sobrevivente do deus-sol na sua luta com o deus das trevas. E, em reconhecimento por ele haver matado violentamente o touro sagrado mítico, Mitras torno-se imortal, sendo elevado ao posto de intercessor da raça humana entre os deuses do alto.
98:5.4 (1082.5) Aqueles que aderiam a esse culto adoravam em cavernas e outros locais sagrados, cantando hinos, murmurando palavras mágicas, comendo a carne dos animais sacrificados e bebendo o seu sangue. Três vezes ao dia, eles adoravam, com cerimoniais semanais especiais no dia do deus-sol e com a observância bem elaborada de todos no festival anual de Mitras, aos vinte e cinco de dezembro. Acreditava-se que a participação no sacramento assegurava a vida eterna, a passagem imediata, depois da morte, ao seio de Mitras, para ali permanecer, em bênção, até o dia do julgamento. No dia do julgamento, as chaves mitraicas do céu abririam os portões do Paraíso para receber os fiéis; depois do que, todos os não batizados, entre os vivos e os mortos, seriam aniquilados com o retorno de Mitras à Terra. Era ensinado que, quando morria um homem, ele comparecia diante de Mitras para o julgamento, e que, ao fim do mundo, Mitras convocaria todos os mortos, dos seus túmulos, para o último julgamento. Os maus seriam destruídos pelo fogo, e os justos reinariam com Mitras para sempre.
98:5.5 (1082.6) A princípio, essa era uma religião apenas para os homens, e havia sete ordens diferentes nas quais os crentes podiam ser sucessivamente iniciados. Mais tarde, as esposas e as filhas dos crentes foram admitidas aos templos da Grande Mãe, que eram contíguos aos templos mitraicos. O culto das mulheres era uma mistura do ritual mitraico e das cerimônias do culto frígio de Cibele, a mãe de Átis.
98:6.1 (1083.1) Antes do aparecimento dos cultos dos mistérios e do cristianismo, a religião pessoal dificilmente desenvolvia-se como uma instituição independente, nas terras civilizadas do norte da África e da Europa; era mais um assunto da família, da cidade-estado, da política e do império. Os gregos helênicos nunca fizeram evoluir um sistema centralizado de adoração; o ritual era local; eles não tinham um sacerdócio, nem um “livro sagrado”. Como sucederia aos romanos, suas instituições religiosas careciam de um agente impulsor poderoso para a preservação de valores morais e espirituais mais elevados. Conquanto seja verdade que a institucionalização da religião, em geral, haja depreciado a sua qualidade espiritual, é também fato que nenhuma religião teve êxito, até então, em sobreviver sem a ajuda de uma organização institucional de alguma monta, maior ou menor.
98:6.2 (1083.2) A religião ocidental definhou, assim, até os dias dos céticos, dos cínicos, dos epicuristas e dos estóicos, porém, de um modo mais importante, até os tempos da grande disputa entre o mitraísmo e a nova religião de Paulo, o cristianismo.
98:6.3 (1083.3) Durante o terceiro século depois de Cristo, as igrejas mitraicas e as cristãs eram muito semelhantes, tanto na aparência quanto pelo caráter dos seus ritos. Uma maioria desses locais de culto era subterrânea, e ambas as igrejas continham altares cujos panos de fundo retratavam variadamente os sofrimentos do salvador, que havia trazido a salvação a uma raça humana amaldiçoada pelo pecado.
98:6.4 (1083.4) Havia sido sempre uma prática dos adoradores mitraicos, ao entrar no templo, mergulhar os seus dedos na água benta. E já que, em alguns distritos, havia aqueles que, durante algum tempo, pertenceram a ambas as religiões, eles introduziram esse costume na maioria das igrejas cristãs, na vizinhança de Roma. Ambas as religiões empregavam o batismo e partilhavam do sacramento do pão e do vinho. A grande diferença entre o mitraísmo e o cristianismo, à parte o caráter de Mitras e de Jesus, era que uma encorajava o militarismo, enquanto a outra era ultrapacifista. A tolerância do mitraísmo pelas outras religiões (exceto o posterior cristianismo) conduziu ao seu fim total. Contudo, o fator decisivo na luta entre as estas duas foi a admissão das mulheres como membros plenos da comunidade da fé cristã.
98:6.5 (1083.5) Ao final, a fé nominalmente cristã dominou o Ocidente. A filosofia grega supriu os conceitos de valor ético; o mitraísmo, o ritual da observância da adoração; e o cristianismo, como tal, a técnica de conservação dos valores morais e sociais.
98:7.1 (1083.6) Um Filho Criador não se encarnou à semelhança da carne mortal nem se auto-outorgou junto à humanidade de Urântia para apaziguar um Deus enraivecido, mas antes para levar toda a humanidade ao reconhecimento do amor do Pai e para a compreensão da sua filiação a Deus. Afinal, mesmo o grande advogado da doutrina da expiação compreendeu algo dessa verdade, pois ele declarou que “Deus estava, em Cristo, reconciliando o mundo consigo próprio”.
98:7.2 (1084.1) Não é da alçada deste documento tratar da origem e da disseminação da religião cristã. É suficiente dizer que foi edificada em torno da pessoa de Jesus de Nazaré, o Filho humanamente encarnado, Michael de Nébadon, conhecido em Urântia como o Cristo, o ungido do Senhor. O cristianismo espalhou-se em todo o Levante e em todo o Ocidente, por intermédio dos seguidores desse Galileu; e o zelo missionário deles igualou-se àquele dos seus ilustres predecessores, os setitas e os salemitas, bem como ao dos seus sinceros contemporâneos asiáticos, os instrutores budistas.
98:7.3 (1084.2) A religião cristã, como um sistema urantiano de crença, surgiu por meio da composição dos seguintes ensinamentos, influências, credos, cultos e atitudes pessoais individuais:
98:7.4 (1084.3) 1. Os ensinamentos de Melquisedeque, que são um fator básico em todas as religiões do Ocidente e do Oriente surgidas nos últimos quatro mil anos.
98:7.5 (1084.4) 2. O sistema hebraico de moralidade, de ética, de teologia e de crença tanto na Providência, quanto no supremo Yavé.
98:7.6 (1084.5) 3. A concepção zoroastriana da luta entre o bem cósmico e o mal, que já havia deixado a sua marca tanto no judaísmo, quanto no mitraísmo. Por meio de um contato prolongado, que acompanhou as lutas entre o mitraísmo e o cristianismo, as doutrinas do profeta iraniano tornaram-se um forte fator na determinação da fusão teológica e filosófica e na estrutura dos dogmas, princípios e cosmologia das versões helenizadas e latinizadas dos ensinamentos de Jesus.
98:7.7 (1084.6) 4. Os cultos dos mistérios, especialmente o mitraísmo, mas também a adoração da Grande Mãe no culto frígio. Até mesmo as lendas do nascimento de Jesus em Urântia tornaram-se matizadas pela versão romana do nascimento miraculoso do salvador-herói iraniano, Mitras, cujo advento na Terra supôs-se ter sido testemunhado apenas por um punhado de pastores trazendo presentes, os quais haviam sido informados desse evento iminente pelos anjos.
98:7.8 (1084.7) 5. O fato histórico da vida humana de Joshua ben José, a realidade de Jesus de Nazaré, como o Cristo glorificado, o Filho de Deus.
98:7.9 (1084.8) 6. O ponto de vista pessoal de Paulo de Tarso. E deveria ser registrado que o mitraísmo fora a religião dominante de Tarso durante a sua adolescência. Paulo mal sonhava que as suas bem-intencionadas cartas aos seus convertidos iriam algum dia ser consideradas pelos cristãos posteriores como a “palavra de Deus”. Os instrutores bem-intencionados como ele não devem ser considerados responsáveis pelo uso feito dos seus escritos por sucessores mais recentes.
98:7.10 (1084.9) 7. O pensamento filosófico dos povos helênicos, na Alexandria e Antioquia, na Grécia, em Siracusa e Roma. A filosofia dos gregos estava mais em harmonia com a versão de Paulo, para o cristianismo, do que com qualquer outro sistema religioso da época, e tornou-se um fator importante para o sucesso do cristianismo no Ocidente. A filosofia grega, ligada à teologia de Paulo, ainda forma a base da ética européia.
98:7.11 (1084.10) À medida que os ensinamentos originais de Jesus penetraram no Ocidente, eles tornaram-se ocidentalizados e, à medida que se tornaram ocidentalizados, começaram a perder o seu potencial de apelo universal sobre todas as raças e espécies de homens. O cristianismo, hoje, tornou-se uma religião bem adaptada aos costumes sociais, econômicos e políticos das raças brancas. Ele deixou, há muito, de ser a religião de Jesus, embora ainda retrate valentemente uma bela religião sobre Jesus, para os indivíduos que buscam sinceramente seguir o caminho dos ensinamentos dela. Tem glorificado Jesus como o Cristo, o ungido Messias do Senhor, mas esqueceu, em boa medida, o evangelho pessoal do mestre: a Paternidade de Deus e a fraternidade universal de todos os homens.
98:7.12 (1085.1) E esta é a longa história dos ensinamentos de Maquiventa Melquisedeque em Urântia. Passaram-se quase quatro mil anos desde que esse Filho emergencial de Nébadon auto-outorgou-se em Urântia e, naquela época, os ensinamentos do “sacerdote de El Elyon, o Deus Altíssimo”, tiveram penetração junto a todas as raças e povos. E Maquiventa teve êxito em realizar o propósito da sua outorga inusitada: quando Michael se preparou para surgir em Urântia, o conceito de Deus era existente nos corações dos homens e mulheres, o mesmo conceito de Deus que ainda resplandece com chamas novas na experiência espiritual viva dos múltiplos filhos do Pai Universal, que vivem as suas misteriosas vidas temporais nos planetas que giram no espaço.
98:7.13 (1085.2) [Apresentado por um Melquisedeque de Nébadon.]
O Livro de Urântia
Documento 99
99:0.1 (1086.1) É MANTENDO as menores ligações possíveis com as instituições seculares da sociedade que a religião pode concretizar a sua mais elevada minis-tração social. Em idades passadas, desde que as reformas sociais ficaram grandemente confinadas ao domínio moral, a religião não teve de ajustar a sua atitude a mudanças amplas nos sistemas econômico e político. O problema principal da religião foi o esforço para substituir o mal pelo bem, dentro da ordem social existente da cultura política e econômica. A religião, por isso, acabou tendendo a perpetuar, indiretamente, a ordem estabelecida da sociedade, a fomentar a manutenção do tipo existente de civilização.
99:0.2 (1086.2) A religião, entretanto, não deveria estar diretamente empenhada, nem na criação de ordens sociais novas, nem na preservação das antigas. A verdadeira religião de fato opõe-se à violência, como técnica de evolução social, mas não se opõe aos esforços inteligentes da sociedade para adaptar os seus usos e costumes, ajustando as suas instituições às exigências novas de condições econômicas e culturais.
99:0.3 (1086.3) A religião aprovou as reformas sociais ocasionais nos séculos passados, mas, no século vinte, ela é chamada, por necessidade, a enfrentar os ajustes devidos a uma reconstrução social abrangente e contínua. As condições de vida alteram-se tão rapidamente que as modificações institucionais devem ser grandemente aceleradas, e a religião deve, conseqüentemente, apressar a sua adaptação a essa ordem social nova e sempre mutante.
99:1.1 (1086.4) As invenções mecânicas e a disseminação do conhecimento estão modificando a civilização; certos ajustes econômicos e mudanças sociais tornaram-se imperativos, caso se queira evitar o desastre cultural. Essa ordem social nova e vindoura não se estabelecerá complacentemente ainda por um milênio. A raça humana deve reconciliar-se com uma série de mudanças, de ajustes e reajustes. A humanidade está a caminho de um destino planetário novo, ainda não revelado.
99:1.2 (1086.5) A religião deve tornar-se uma poderosa influência para a estabilidade moral e o progresso espiritual, funcionando dinamicamente em meio a tais condições sempre em modificação e ajustes econômicos sem fim.
99:1.3 (1086.6) A sociedade de Urântia jamais pode esperar estabelecer-se do modo como o fez em idades passadas. O barco social já levantou âncoras, saindo do abrigo das baías da tradição estabelecida; e já iniciou a travessia do alto-mar do destino evolucionário; e a alma do homem, como nunca dantes, na história do mundo, necessita examinar minuciosamente as suas cartas náuticas de moralidade e consultar meticulosamente a bússola da orientação religiosa. A missão suprema da religião, como influência social, é estabilizar os ideais da humanidade, durante esses tempos perigosos de transição entre uma fase e outra da civilização, e entre um nível e outro de cultura.
99:1.4 (1087.1) A religião não tem novos deveres a cumprir, mas está convocada urgentemente a funcionar como um guia sábio e uma conselheira experiente, em todas essas situações humanas novas e velozmente mutáveis. A sociedade está-se tornando mais mecânica, compacta, complexa e criticamente interdependente. A religião deve funcionar no sentido de impedir que tais interassociações novas e íntimas se tornem retrógradas ou mesmo mutuamente destrutivas. A religião deve atuar como o sal cósmico, que impede que os fermentos do progresso destruam o sabor cultural da civilização. Apenas por meio do ministério da religião poderão essas novas relações sociais e perturbações econômicas resultar em irmandade durável.
99:1.5 (1087.2) Um humanitarismo sem Deus pode ser, humanamente falando, um nobre gesto, mas a verdadeira religião é o único poder que pode fazer crescer, de um modo perdurável, a sensibilidade de um grupo social às necessidades e sofrimentos de outros grupos. No passado, a religião institucional podia permanecer passiva, enquanto o estrato mais elevado da sociedade fazia ouvidos surdos aos sofrimentos e à opressão dos estratos mais baixos e desamparados. Nos tempos modernos, contudo, essas ordens sociais mais baixas não são mais tão abjetamente ignorantes nem tão impotentes politicamente.
99:1.6 (1087.3) A religião não deve tornar-se organicamente envolvida no trabalho secular de reconstrução social e reorganização econômica. Todavia, ela deve manter-se, de um modo ativo, à altura desses avanços da civilização, reafirmando com nitidez e vigor seus mandados morais, preceitos espirituais e filosofia progressiva de viver humano e sobrevivência transcendental. O espírito da religião é eterno, mas a forma da sua expressão deve ser reformulada toda vez que for revisado o dicionário da linguagem humana.
99:2.1 (1087.4) A religião institucionalizada não se pode permitir ter inspiração nem prover a liderança, dentro da reconstrução social e reorganização econômica iminentes em escala mundial, porque, infelizmente, se haja tornado mais ou menos algo como uma parte orgânica da ordem social e do sistema econômico destinados a passar por uma reconstrução. Apenas a religião real da experiência espiritual pessoal pode funcionar de um modo útil e criativo na presente crise da civilização.
99:2.2 (1087.5) A religião institucionalizada está, no presente momento, num impasse, dentro de um círculo vicioso. Ela não pode reconstruir a sociedade, sem primeiro reconstruir-se a si própria; e, sendo uma parte tão integral da ordem estabelecida, não pode reconstruir-se a si própria antes que a sociedade haja sido radicalmente reconstruída.
99:2.3 (1087.6) Os religiosos devem funcionar, na sociedade, na indústria e na política, como indivíduos, não como grupos, nem como partidos ou instituições. Um grupo religioso que presume funcionar como tal, em separado das atividades religiosas, imediatamente torna-se um partido político, uma organização econômica, ou uma instituição social. O coletivismo religioso deve limitar os seus esforços ao apoio das causas religiosas.
99:2.4 (1087.7) Os religiosos não têm mais valor nas tarefas de reconstrução social que os não-religiosos, salvo pelo fato de que a religião deles pode haver-lhes conferido uma previsão cósmica maior e pode havê-los dotado com aquela sabedoria social superior que nasce do desejo sincero de amar a Deus acima de tudo e amar a cada homem como a um irmão no Reino celeste. Uma ordem social ideal é aquela na qual todo homem ama seu semelhante como a si próprio.
99:2.5 (1087.8) A igreja institucionalizada, no passado, pode ter parecido servir à sociedade, de modo a glorificar as ordens política e econômica estabelecidas, mas ela deve apressar-se em cessar com esse tipo de ação se quiser sobreviver. A sua única atitude decente consiste em ensinar a não-violência, a doutrina da evolução pacífica, no lugar da revolução violenta — a paz na Terra e a boa vontade entre todos os homens.
99:2.6 (1088.1) A religião moderna acha difícil ajustar sua atitude, durante as rápidas alterações sociais, apenas porque permitiu a si própria tornar-se muito arraigadamente tradicionalista, dogmatizada e institucionalizada. A religião da experiência viva não encontra dificuldade em manter-se à frente de todos esses desenvolvimentos sociais e perturbações econômicas, em meio aos quais ela sempre funciona como um estabilizador moral, um guia social e um piloto espiritual. A verdadeira religião transporta, de uma idade para outra, aquela cultura que vale a pena e aquela sabedoria que nasce da experiência de conhecer a Deus e esforçar-se para ser como Ele.
99:3.1 (1088.2) O cristianismo inicial foi inteiramente isento de qualquer envolvimento civil, de engajamentos sociais e alianças econômicas. Apenas posteriormente o cristianismo institucionalizado tornou-se uma parte orgânica da estrutura política e social da civilização ocidental.
99:3.2 (1088.3) O Reino do céu não é nem de ordem social nem de ordem econômica; é uma fraternidade exclusivamente espiritual, de indivíduos sabedores de Deus. Bem verdade é que tal fraternidade, em si própria, seja um fenômeno social novo e surpreendente, acompanhado de repercussões políticas e econômicas espantosas.
99:3.3 (1088.4) O religioso tem compaixão pelo sofrimento social e preocupação com a injustiça civil, não se isola do pensamento econômico, nem é insensível à tirania política. A religião influencia a reconstrução social diretamente, por espiritualizar e idealizar o cidadão individualmente. Indiretamente, a civilização cultural é influenciada pela atitude desses indivíduos religiosos, quando eles se tornam membros ativos e influentes de vários grupos sociais, morais, econômicos e políticos.
99:3.4 (1088.5) Para atingir-se uma civilização altamente elevada em termos culturais, torna-se necessário que se forme, primeiro, o tipo ideal de cidadão e, então, os mecanismos sociais adequados e ideais, por meio dos quais essa cidadania pode controlar as instituições econômicas e políticas de uma sociedade humana tão avançada.
99:3.5 (1088.6) A igreja, tomada de um excesso de sentimentalidade falsa, há muito tem ministrado aos infelizes e menos favorecidos, e isso tem sido um bem; mas esse mesmo sentimento tem levado à perpetuação imprudente de linhagens degeneradas racialmente, o que tem retardado imensamente o progresso da civilização.
99:3.6 (1088.7) Muitos indivíduos reconstrutivistas sociais, ainda que repudiando veementemente a religião institucionalizada, são, afinal, zelosamente religiosos na propagação das suas reformas sociais. E assim é que a motivação religiosa pessoal, e mais ou menos não reconhecida, está exercendo um grande papel no programa atual de reconstrução social.
99:3.7 (1088.8) A maior fraqueza de todo esse tipo não reconhecido e inconsciente de atividade religiosa é que se encontra incapacitado de fazer proveito da crítica religiosa aberta e, portanto, de alcançar níveis proveitosos de autocorreção. É um fato que a religião não cresce, a menos que seja disciplinada pela crítica construtiva, amplificada pela filosofia, purificada pela ciência e nutrida na comunhão leal.
99:3.8 (1088.9) Há sempre o grande perigo de a religião se tornar distorcida e desvirtuada, na busca de falsas metas, exatamente como quando, nos tempos de guerra, cada nação em contenda prostitui a sua religião na propaganda militar. O zelo sem amor sempre causa danos à religião, do mesmo modo que a perseguição desvia as atividades da religião para a realização de algum impulso sociológico ou teológico.
99:3.9 (1089.1) A religião pode manter-se isenta de alianças seculares nefastas apenas se:
99:3.10 (1089.2) 1. Tiver uma filosofia criticamente corretiva.
99:3.11 (1089.3) 2. Mantiver-se livre de quaisquer alianças de ordem social, econômica e política.
99:3.12 (1089.4) 3. Tiver comunidades criativas, confortadoras e que se desenvolvam na expansão do amor.
99:3.13 (1089.5) 4. Intensificar o progressivo discernimento espiritual e a apreciação dos valores cósmicos.
99:3.14 (1089.6) 5. Impedir o fanatismo por meio das compensações da atitude mental científica.
99:3.15 (1089.7) Os religiosos, enquanto agrupamento, não devem nunca se ocupar de outra coisa além da religião, se bem que qualquer dos religiosos, como cidadão individual, possa tornar-se o líder destacado de algum movimento de reconstrução social, econômica ou política.
99:3.16 (1089.8) É papel da religião criar, sustentar e inspirar no cidadão individual uma lealdade cósmica, que o conduza a alcançar o êxito de avançar em todos esses serviços sociais, difíceis, mas desejáveis.
99:4.1 (1089.9) A religião genuína empresta ao religioso uma fragrância social especial e gera o discernimento íntimo sobre a comunidade humana. Entretanto, a formalização de grupos religiosos, muitas vezes, destrói os mesmos valores pela promoção dos quais o grupo foi organizado. A amizade humana e a religião divina são mutuamente úteis e significativamente iluminadoras, desde que cresçam de um modo igual e harmônico. A religião dá um significado novo a todas as associações grupais — famílias, escolas e clubes. Confere novos valores aos jogos e exalta todo o verdadeiro humor.
99:4.2 (1089.10) A liderança social é transformada por meio do discernimento espiritual; a religião impede todos os movimentos coletivos de perderem de vista seus verdadeiros objetivos. Assim como as crianças, a religião é a grande unificadora da vida da família, desde que seja de uma fé viva e crescente. A vida familiar não pode existir sem crianças; pode ser vivida sem religião, mas, se assim for, as dificuldades dessa associação humana íntima ficam enormemente multiplicadas. Durante as primeiras décadas do século vinte, é a vida da família, junto com a experiência religiosa pessoal, que mais sofre com a decadência conseqüente da transição entre as antigas lealdades religiosas e os novos significados e valores que emergem.
99:4.3 (1089.11) A verdadeira religião é um caminho de vida, cheio de significados, que se coloca dinamicamente face a face com o lugar-comum das realidades da vida diária. Todavia, se a religião deve estimular o desenvolvimento individual do caráter e aumentar a integração da personalidade, ela não deve ser padronizada. Se for para estimular a apreciação da experiência e servir de valor de atração, ela não deve ser estereotipada. Se a religião deve promover lealdades supremas, não deve ser demasiado formal.
99:4.4 (1089.12) Não importa que sublevações possam acompanhar o crescimento social e econômico da civilização, a religião será genuína e digna se fomentar, para o indivíduo, uma experiência na qual prevaleça a soberania da verdade, da beleza e da bondade; pois esta ai o verdadeiro conceito espiritual da suprema realidade. E esta, por meio do amor e da adoração, torna-se significativa na irmandade dos homens e na filiação a Deus.
99:4.5 (1090.1) Afinal, é aquilo em que se crê, mais do que aquilo que se conhece, o que determina a conduta e rege as atuações pessoais. O conhecimento puramente factual exerce uma influência muito pequena sobre o homem mediano, a menos que esse conhecimento seja emocionalmente ativado. No entanto, a ativação da religião é supra-emocional, unificando toda a experiência humana em níveis transcendentais, por meio do contato com energias espirituais e a liberação dessas energias espirituais na vida mortal.
99:4.6 (1090.2) Durante os tempos de instabilidade psicológica do século vinte, em meio às perturbações econômicas, às contracorrentes morais e às violentas marés sociológicas dos ciclones que são transições para uma era científica, milhares e milhares de homens e mulheres, tornaram-se humanamente desajustados, ficando ansiosos, impacientes, temerosos, incertos e instáveis; e como nunca antes, na história do mundo, necessitam do consolo e da estabilidade de uma religião sadia. Em meio a essa realização científica e ao desenvolvimento mecânico sem precedentes pairam a estagnação espiritual e o caos filosófico.
99:4.7 (1090.3) Não há perigo de que a religião se torne, mais e mais, uma questão privada — uma experiência pessoal — , desde que ela não perca sua motivação de serviço social altruísta e amoroso. A religião tem sofrido muitas influências secundárias: da mistura súbita de culturas, da interfusão de credos, da diminuição da autoridade eclesiástica, das alterações sofridas pela vida familiar, além das da urbanização e mecanização no mundo.
99:4.8 (1090.4) O grande risco espiritual que o homem corre consiste no progresso parcial, no crescimento incompleto realizado às pressas: o abandono das religiões evolucionárias do medo, sem ter imediatamente ao seu alcance a religião reveladora do amor. A ciência moderna, particularmente a psicologia, tem enfraquecido tão somente aquelas religiões muito amplamente dependentes do medo, da superstição e da emoção.
99:4.9 (1090.5) A transição é sempre acompanhada de confusão, e haverá pouca tranqüilidade no mundo religioso antes que termine a grande luta atual entre as três filosofias da religião:
99:4.10 (1090.6) 1. A crença espiritista (numa Deidade providencial), de tantas religiões.
99:4.11 (1090.7) 2. A crença humanista e idealista de muitas filosofias.
99:4.12 (1090.8) 3. As concepções mecanicistas e naturalistas de quantas ciências.
99:4.13 (1090.9) Essas três abordagens parciais da realidade do cosmo devem finalmente tornar-se harmonizadas por apresentações reveladoras da religião, da filosofia e da cosmologia que retratem a existência trina do espírito, da mente e da energia; as quais procedem da Trindade do Paraíso e alcançam a unificação, no tempo-espaço, dentro da Deidade do Supremo.
99:5.1 (1090.10) Conquanto a religião seja uma experiência espiritual exclusivamente pessoal — conhecer a Deus como um Pai, o corolário dessa experiência — conhecer o homem como um irmão — requer o ajustamento do eu a outros eus; e isso envolve o aspecto social ou grupal da vida religiosa. A religião é antes um ajustamento interior ou pessoal, e torna-se, então, uma questão de serviço social ou de ajustamento grupal. O fato de o homem ser gregário determina, forçosamente, que os grupos religiosos venham à existência. O que acontece a esses grupos religiosos depende muito de uma liderança inteligente. Na sociedade primitiva, o grupo religioso não foi sempre muito diferente dos grupos econômicos ou políticos. A religião tem sido sempre um agente conservador da moral e estabilizador da sociedade. E isso ainda é verdade, não obstante muitos socialistas e humanistas modernos ensinarem o contrário.
99:5.2 (1091.1) Deveis ter sempre em mente que a verdadeira religião existe para vos fazer conhecer a Deus como o vosso Pai, e ao homem como vosso irmão. A religião não é uma crença escrava em ameaças de punição, nem em promessas mágicas de recompensas místicas futuras.
99:5.3 (1091.2) A religião de Jesus é a influência mais dinâmica que jamais estimulou a raça humana. Jesus abalou a tradição, destruiu o dogma e convocou a humanidade à realização dos seus ideais mais elevados no tempo e na eternidade — ser perfeito, como o próprio Pai no céu é perfeito.
99:5.4 (1091.3) A religião tem pouca chance de funcionar, a menos que o grupo religioso fique separado de todos os outros grupos — o agrupamento social dos membros espirituais do Reino do céu.
99:5.5 (1091.4) A doutrina da depravação total do homem destruiu muito do potencial que a religião tem para produzir as repercussões sociais de natureza elevadora e de valor de inspiração. Jesus procurou restaurar a dignidade do homem, quando declarou que todos os homens são filhos de Deus.
99:5.6 (1091.5) Qualquer crença religiosa que seja eficaz na espiritualização do crente certamente terá repercussões poderosas na vida social de tal religioso. A experiência religiosa, infalivelmente, produz os “frutos do espírito” na vida diária do mortal que é guiado pelo espírito.
99:5.7 (1091.6) Tão certamente quanto compartilham suas crenças religiosas, os homens criam grupos religiosos de alguma espécie, que finalmente gerarão metas comuns. Algum dia, os religiosos deixarão de tentar reunir-se baseados em opiniões psicológicas e crenças teológicas comuns, efetivando antes uma cooperação real, baseada na unidade de ideais e de propósitos. As metas, mais do que as crenças, é que devem unificar os religiosos. Já que a verdadeira religião é uma questão de experiência espiritual pessoal, torna-se inevitável que cada religioso, individualmente, deva ter a sua interpretação própria e pessoal da realização dessa experiência espiritual. Que o termo “fé” represente a relação individual com Deus, mais do que a formulação da crença naquilo que algum grupo de mortais tenha sido capaz de escolher como sendo uma atitude religiosa em comum. “Tu tens fé? Então, que a mantenha para ti próprio.”
99:5.8 (1091.7) À fé interessa apenas captar os valores ideais; e isso é demonstrado na declaração feita no Novo Testamento de que a fé é a essência das coisas pelas quais se espera, e a evidência das coisas que não se vêem.
99:5.9 (1091.8) O homem primitivo pouco esforço fez para colocar suas convicções religiosas em palavras. A sua religião era antes dançada, mais do que pensada. Os homens modernos têm imaginado muitos credos e criado muitos critérios para testar a fé religiosa. Os religiosos do futuro deverão viver a sua religião e dedicar-se ao serviço sincero da irmandade dos homens. É chegada a hora de o homem ter uma experiência religiosa tão pessoal e tão sublime que só possa ser compreendida e expressa por “sentimentos que são profundos demais para serem expressos por meio de palavras”.
99:5.10 (1091.9) Jesus não exigiu que os seus seguidores se reunissem periodicamente e recitassem fórmulas rituais indicadoras das suas crenças comuns. Ele apenas ordenou que se reunissem para fazer algo, factualmente — compartilhar da ceia comunitária em lembrança da sua vida de auto-outorga em Urântia.
99:5.11 (1091.10) Que erro, não cometem os cristãos, quando, ao apresentarem Cristo como o ideal supremo da liderança espiritual, ousam exigir que homens e mulheres, conscientes de Deus, rejeitem a liderança histórica dos homens conhecedores de Deus que contribuíram para a sua iluminação particular, nacional ou racial, em épocas passadas.
99:6.1 (1092.1) O sectarismo é uma doença da religião institucionalizada, enquanto o dogmatismo é uma escravização da natureza espiritual. De longe, é melhor ter uma religião sem uma igreja, do que uma igreja sem religião. O tumulto religioso do século vinte não indica, em si e por si mesmo, uma decadência espiritual. A confusão vem antes do crescimento, tanto quanto antes da destruição.
99:6.2 (1092.2) Há um propósito, de fato, na socialização da religião. É propósito das atividades religiosas grupais dramatizar as lealdades à religião, exagerar as seduções da verdade, da beleza e da bondade; fomentar as atrações dos valores supremos; elevar os serviços feitos na fraternidade altruísta; glorificar os potenciais da vida familiar; promover a educação religiosa; prover o conselho sábio e a orientação espiritual; e encorajar a adoração grupal. E todas as religiões vivas encorajam a amizade humana, conservam a moralidade, promovem o bem-estar da comunidade, e facilitam a disseminação do evangelho essencial das suas respectivas mensagens de salvação eterna.
99:6.3 (1092.3) No entanto, quando a religião torna-se institucionalizada, porém, o seu poder para o bem fica reduzido, ao passo que as possibilidades para o mal se tornam grandemente multiplicadas. Os perigos da religião formalizada são: a fixação das crenças e a cristalização dos sentimentos; a acumulação de direitos e interesses adquiridos com o crescimento da secularização; a tendência para a padronização e a fossilização da verdade; o desvio da religião para o serviço da igreja, em vez do serviço de Deus; a inclinação dos líderes para tornarem-se administradores, em vez de ministradores; a tendência a formar seitas e divisões competitivas; o estabelecimento de uma autoridade eclesiástica opressiva; a afirmação da atitude aristocrática tipo “povo-escolhido”; o estímulo ao surgimento de idéias falsas e exageradas sobre o sagrado; a transformação da religião em algo rotineiro e a petrificação da adoração; a tendência a venerar o passado e ignorar as solicitações do presente; o fracasso em fazer interpretações atuais da religião; o envolvimento com as funções das instituições seculares; a criação do mal que é a discriminação por castas religiosas; o perigo de a religião transformar-se num juiz ortodoxo intolerante; o fracasso em manter vivo o interesse da juventude aventurosa e a perda gradativa da mensagem salvadora do evangelho da salvação eterna.
99:6.4 (1092.4) A religião formal restringe os homens nas suas atividades espirituais pessoais, em vez de liberá-los para o serviço mais elevado de edificadores do Reino.
99:7.1 (1092.5) Embora as igrejas e todos os outros grupos religiosos devam permanecer distantes de todas as atividades seculares, ao mesmo tempo a religião não deve fazer nada para impedir ou retardar a coordenação social das instituições humanas. A vida deve continuar a crescer na sua significação; o homem deve continuar a sua reforma da filosofia e o seu esclarecimento da religião.
99:7.2 (1092.6) A ciência política deve efetuar a reconstrução da economia e da indústria por meio das técnicas que aprende das ciências sociais e pela luz do discernimento interior e dos motivos proporcionados pelo viver religioso. Em toda reconstrução social, a religião proporciona uma lealdade estabilizadora a um objetivo transcendente, a uma meta firme que permanece além e acima do objetivo imediato e temporal. No centro das confusões de um meio ambiente que se transforma rapidamente, o homem mortal necessita da sustentação de uma vasta perspectiva cósmica.
99:7.3 (1093.1) A religião inspira o homem a viver corajosa e jubilosamente na face da Terra; ela reúne a paciência e a paixão, a luz do discernimento interior e o zelo, a compaixão e o poder, os ideais e a energia.
99:7.4 (1093.2) O homem nunca poderá decidir sabiamente sobre as questões temporais, nem transcender o egoísmo dos interesses pessoais, a menos que medite na presença real da soberania de Deus e conte com as realidades dos significados divinos e valores espirituais.
99:7.5 (1093.3) A interdependência econômica e a irmandade social irão, finalmente, conduzir à fraternidade. O homem é naturalmente um sonhador, mas a ciência está convocando-o a ser sensato, de modo que a religião possa, em breve, estimulá-lo com muito menos perigo de precipitar reações fanáticas nele. As necessidades econômicas atrelam o homem à realidade, e a experiência religiosa pessoal coloca esse mesmo homem frente a frente com as realidades eternas de uma cidadania cósmica sempre em expansão e progresso.
99:7.6 (1093.4) [Apresentado por um Melquisedeque de Nébadon.]
O Livro de Urântia
Documento 100
100:0.1 (1094.1) A EXPERIÊNCIA da vivência religiosa dinâmica transforma o indivíduo medíocre numa personalidade de poder idealístico. A religião contribui para o progresso de todos, fomentando o crescimento de cada indivíduo, e o progresso de cada um é aumentado por meio da realização de todos.
100:0.2 (1094.2) O crescimento espiritual é estimulado mutuamente pela ligação íntima com outros religiosos. O amor propicia o solo para o crescimento religioso — uma atração objetiva, em lugar de uma gratificação subjetiva — e ainda proporciona a suprema satisfação subjetiva. E a religião enobrece a lida comum da vida diária.
100:1.1 (1094.3) Embora a religião produza um crescimento nos significados e o engrandecimento dos valores, o mal sempre surge quando avaliações puramente pessoais são elevadas ao nível do absoluto. Uma criança avalia uma experiência de acordo com o seu conteúdo de prazer; a maturidade é proporcional à substituição do prazer pessoal pelos significados mais elevados, e mesmo pela lealdade aos conceitos mais elevados das situações diversificadas da vida e das relações cósmicas.
100:1.2 (1094.4) Algumas pessoas acham-se ocupadas demais para poderem crescer e, por isso, ficam expostas ao grave perigo da estagnação espiritual. Devem ser tomadas providências para o crescimento dos significados, em idades diferentes, em culturas sucessivas e nos estágios passageiros da civilização que avança. Os principais inibidores do crescimento são o preconceito e a ignorância.
100:1.3 (1094.5) Dai a cada criança em desenvolvimento uma oportunidade para que ela faça com que a própria experiência religiosa cresça; não imponhais a ela a experiência já pronta do adulto. Lembrai-vos de que o progresso, ano a ano, dentro de um regime educacional estabelecido, não significa necessariamente um progresso intelectual, e menos ainda um crescimento espiritual. O aumento do vocabulário não significa desenvolvimento de caráter. O crescimento não é indicado verdadeiramente por meros produtos, mas, muito mais, pelo progresso. O crescimento educacional verdadeiro é indicado pelo engrandecimento dos ideais, por uma apreciação maior dos valores, por novos significados para os valores e maior lealdade aos valores supremos.
100:1.4 (1094.6) As crianças impressionam-se permanentemente apenas pela lealdade dos seus companheiros adultos; os preceitos, ou o exemplo mesmo, não exercem influência duradoura. As pessoas leais são pessoas em crescimento, e o crescimento é uma realidade que causa forte impressão e que inspira. Vivei lealmente hoje — crescei — , e o amanhã responderá por si. A maneira mais rápida de um girino tornar-se uma rã é vivendo lealmente cada momento como um girino.
100:1.5 (1094.7) O solo essencial ao crescimento religioso pressupõe uma vida progressiva de auto-realização, de coordenação das propensões naturais, de exercício da curiosidade, de um desfrutar das aventuras razoáveis da experimentação de sentimentos de satisfação, de fazer o temor funcionar como estímulo para a atenção e a consciência, de sedução pelo maravilhoso e de uma consciência normal de pequenez, de humildade. O crescimento é também baseado na descoberta de si, acompanhada da autocrítica — a consciência; pois a consciência é realmente a crítica voltada para si próprio, por meio da própria escala de valores dos ideais pessoais.
100:1.6 (1095.1) A experiência religiosa é influenciada de um modo marcante pela saúde física, pelo temperamento herdado e o meio social. Contudo, as condições temporais não inibem o progresso espiritual interno de uma alma dedicada a fazer a vontade do Pai no céu. Em todos os mortais normais, encontram-se presentes certos impulsos inatos para o crescimento e a auto-realização, que funcionam se não forem especificamente inibidos. A técnica certa de alimentar esse dom, que é parte do potencial de crescimento espiritual, é manter uma atitude de devoção, do fundo do coração, aos valores supremos.
100:1.7 (1095.2) A religião não pode ser outorgada, recebida, emprestada, aprendida, nem perdida. É uma experiência pessoal, que se amplia proporcionalmente à busca crescente de valores finais. O crescimento cósmico, assim, acompanha a acumulação de significados e a elevação sempre em expansão dos valores. Contudo, o crescimento em nobreza, em si mesmo, é sempre inconsciente.
100:1.8 (1095.3) Os hábitos religiosos, de pensar e agir, contribuem para a economia dentro do processo de crescimento espiritual. Pode-se desenvolver uma predisposição religiosa de reações favoráveis aos estímulos espirituais, uma espécie de reflexo condicionado espiritual. Os hábitos que favorecem o crescimento religioso abrangem o cultivo da sensibilidade para os valores divinos, o reconhecimento do viver religioso nos outros, a meditação reflexiva sobre os significados cósmicos, o fervor da adoração ao resolver os problemas, o compartilhar da própria vida espiritual com os semelhantes, o evitar do egoísmo, a recusa de abusar da misericórdia divina e viver como se em presença de Deus. Os fatores para o crescimento religioso podem ser intencionais mas, em si, o crescimento é invariavelmente inconsciente.
100:1.9 (1095.4) A natureza inconsciente do crescimento religioso não significa, contudo, que seja uma atividade a operar nos domínios supostos do subconsciente do intelecto humano; significa, antes, atividades criativas nos níveis supraconscientes da mente mortal. A experiência da compreensão da realidade inconsciente do crescimento religioso é a comprovação mais positiva da existência funcional da supraconsciência.
100:2.1 (1095.5) O desenvolvimento espiritual depende, em primeiro lugar, da manutenção de uma conexão espiritual viva com as verdadeiras forças espirituais e, em segundo lugar, da produção contínua de frutos espirituais: dando aos semelhantes a ministração daquilo que foi recebido dos próprios benfeitores espirituais. O progresso espiritual é fundamentado no reconhecimento intelectual da própria pobreza espiritual combinada à autoconsciência da fome de perfeição, ao desejo de conhecer a Deus e de ser como Ele, com um propósito verdadeiro de fazer a vontade do Pai no céu, de todo o coração.
100:2.2 (1095.6) Inicialmente o crescimento espiritual é um despertar para as necessidades e, em seguida, um discernimento dos significados e, depois, uma descoberta dos valores. A evidência do verdadeiro desenvolvimento espiritual consiste em demonstrar uma personalidade humana motivada pelo amor, animada pela ministração não-egoísta e dominada pela adoração sincera dos ideais de perfeição da divindade. E toda essa experiência constitui a realidade da religiosidade, ao contrário da mera crença teológica.
100:2.3 (1095.7) A religião pode progredir até aquele nível de experiência em que se torna uma técnica esclarecida e sábia de reação espiritual ao universo. Tal religiosidade glorificada pode funcionar em três níveis da personalidade humana: o intelectual, o moroncial e o espiritual; sobre a mente, sobre a alma em evolução e junto ao espírito residente.
100:2.4 (1096.1) E imediatamente a espiritualidade passa a ser indicadora da vossa proximidade de Deus e uma medida da vossa capacidade de servir aos vossos semelhantes. A espiritualidade realça a capacidade de descobrir a beleza nas coisas, de reconhecer a verdade nos significados e de descobrir a bondade nos valores. O desenvolvimento espiritual é determinado por tais capacidades e é diretamente proporcional à eliminação da qualidade egoísta no amor.
100:2.5 (1096.2) O status espiritual real é a medida do vosso alcance da Deidade, da vossa sintonização com o Ajustador. O alcançar da finalidade da espiritualidade é equivalente a atingir o máximo de realidade, o máximo de semelhança com Deus. A vida eterna é a busca perpétua dos valores infinitos.
100:2.6 (1096.3) A meta da auto-realização humana deveria ser espiritual, não-material. As únicas realidades que valem o esforço são as divinas, espirituais e eternas. O homem mortal encontra-se capacitado para desfrutar do prazer físico e da satisfação de afetos humanos; ele é beneficiado pela lealdade à associação com outros homens e às instituições temporais; mas estas não são as fundações eternas sobre as quais se deve edificar a personalidade imortal, pois esta deve transcender ao espaço, vencer o tempo e alcançar o destino eterno da perfeição divina e a meta de serviço enquanto finalitora.
100:2.7 (1096.4) Jesus retratou a profunda segurança do mortal sabedor de Deus ao dizer: “Para um crente do Reino, que conhece Deus, que importa se todas as coisas terrenas entrarem em colapso?” As seguranças temporais são vulneráveis, enquanto as seguranças espirituais são inexpugnáveis. Quando as torrentes da adversidade humana, do egoísmo, da crueldade, do ódio, da malícia e da inveja afluírem à porta da alma humana, podeis manter-vos na certeza de que há um bastião interior, a cidadela do espírito, que permanece absolutamente inatingível; e isso é verdadeiro, ao menos, para todo aquele ser humano que tenha entregado a guarda da sua alma ao espírito residente do Deus eterno.
100:2.8 (1096.5) Após essa realização espiritual, assegurada seja pelo crescimento gradativo seja por uma crise específica, ocorre uma nova orientação da personalidade, bem como o desenvolvimento de uma nova medida de valores. E tais indivíduos nascidos do espírito têm as suas motivações tão renovadas na vida, que podem calmamente permanecer de pé, enquanto suas ambições mais caras perecem e suas esperanças mais ardentes entram em colapso; pois, sem duvidar, sabem que tais catástrofes não são senão cataclismos retificadores a arruinar suas criações temporais, em prenúncio da construção de uma realidade mais nobre e mais duradoura, num nível novo e mais sublime de realização no universo.
100:3.1 (1096.6) A religião não é a técnica para alcançar uma paz mental estática e abençoada; é um impulso para organizar a alma para o serviço dinâmico. É o alistamento de toda a individualidade no serviço leal de amar a Deus e servir ao homem. A religião paga qualquer preço essencial ao alcance da meta suprema, a recompensa eterna. Na lealdade religiosa há uma plenitude de consagração que é de magnífica sublimidade. E esse tipo de lealdade é socialmente eficaz e espiritualmente progressivo.
100:3.2 (1096.7) Para o religioso, a palavra Deus torna-se um símbolo que significa a aproximação à realidade suprema e o reconhecimento ao valor divino. As preferências e os desagrados humanos não determinam o bem e o mal; os valores morais não advêm de desejos realizados ou de frustração emocional.
100:3.3 (1096.8) Na contemplação dos valores, deveis distinguir entre aquilo que é valor e aquilo que tem valor. Deveis reconhecer a relação entre as atividades agradáveis, a integração significativa delas e a realização engrandecida em níveis sempre mais elevados da experiência humana.
100:3.4 (1097.1) Significação é algo que a experiência acrescenta ao valor; é a consciência apreciativa dos valores. Um prazer isolado e puramente egoísta pode conotar uma desvalorização virtual dos significados, um gozo sem sentido a beirar as raias do mal relativo. Os valores tornam-se experienciados quando as realidades têm sentido e são mentalmente associadas, quando tais relações são reconhecidas e apreciadas pela mente.
100:3.5 (1097.2) Os valores não podem nunca ser estáticos; a realidade significa mudança, crescimento. A mudança sem crescimento, sem expansão de significado e sem exaltação do valor, nada vale — é mal em potencial. Quanto maior a sua qualidade de adaptação cósmica, mais significado qualquer experiência traz. Os valores não são ilusões conceituais, são reais, mas dependem sempre do ato dos relacionamentos. Os valores sempre são tanto factuais quanto potenciais — não o que foi, mas o que é e o que está para ser.
100:3.6 (1097.3) A conjunção dos factuais e dos potenciais equivale ao crescimento, à realização dos valores na experiência. Contudo, o crescimento não é mero progresso. O progresso é sempre algo significativo mas, se não vier acompanhado de crescimento, torna-se relativamente sem valor. O valor supremo da vida humana consiste no crescimento dos valores junto ao progresso dos significados, e na realização da inter-relação cósmica de ambas essas experiências. E tal experiência é equivalente à consciência de Deus. Esse mortal, embora não sendo supranatural, verdadeiramente está-se tornando supra-humano: uma alma imortal que está evoluindo.
100:3.7 (1097.4) O homem não pode provocar o crescimento, mas ele pode gerar as condições favoráveis para tanto. O crescimento é sempre inconsciente, seja ele físico, intelectual ou espiritual. E assim cresce o amor; pois ele não pode ser criado, nem manufaturado, nem comprado; deve crescer. A evolução é uma técnica cósmica de crescimento. O crescimento social não pode ser assegurado pela legislação; e não se obtém o crescimento moral por de uma melhor administração. O homem pode manufaturar uma máquina, mas o real valor desta deve derivar da cultura humana e da apreciação pessoal. A única contribuição que pode advir do homem para o crescimento é a mobilização dos poderes totais da sua personalidade — a fé viva.
100:4.1 (1097.5) O viver na religiosidade é o viver devotado, e o viver devotado é o viver criativo, original e espontâneo. Novas percepções religiosas surgem de conflitos que dão início à escolha de novos e melhores hábitos de reação, no lugar de formas antigas e inferiores de reação. Novos significados emergem apenas em meio a conflitos; e o conflito persiste apenas em face da recusa de esposar os valores mais elevados, portadores dos significados superiores.
100:4.2 (1097.6) As perplexidades religiosas são inevitáveis; não pode haver nenhum crescimento sem conflito psíquico e sem agitação espiritual. A organização de um modelo filosófico de vida requer uma perturbação considerável nos domínios filosóficos da mente. A lealdade não é exercida em nome daquilo que é grande, bom, verdadeiro e nobre, sem uma batalha. O esforço é seguido do esclarecimento da visão espiritual e da ampliação do discernimento de visão cósmica. E o intelecto humano reluta contra ser desmamado da alimentação das energias não espirituais da existência temporal. A mente animal indolente rebela-se contra exercer o esforço exigido pela luta na solução dos problemas cósmicos.
100:4.3 (1097.7) Entretanto, o grande problema do viver religioso consiste na tarefa de unificar os poderes da alma da pessoa, por meio da predominância do amor. A saúde, a eficiência mental e a felicidade surgem da unificação dos sistemas físicos, mentais e espirituais. De saúde e sanidade o homem entende bastante, mas de felicidade ele só entendeu de fato pouquíssimo. A felicidade mais elevada está indissoluvelmente ligada ao progresso espiritual. O crescimento espiritual gera um júbilo duradouro, uma paz que ultrapassa qualquer entendimento.
100:4.4 (1098.1) Na vida física, os sentidos dizem sobre a existência das coisas; a mente descobre a realidade das significações; mas a experiência espiritual revela ao indivíduo os verdadeiros valores da vida. Esses altos níveis de vida humana são alcançados no supremo amor a Deus e no amor não-egoísta pelo homem. Se amais o vosso semelhante, deveis ter descoberto os seus valores. Jesus amou tanto os homens porque atribuía a eles um valor muito elevado. Vós podeis melhor descobrir os valores dos vossos companheiros, descobrindo a sua motivação. Se alguém vos irrita, causando a sensação do ressentimento, deveríeis buscar discernir compassivamente o seu ponto de vista e as suas razões para uma conduta de tal modo censurável. Uma vez que tenhais compreendido o vosso semelhante, vos tornareis tolerantes; e tal tolerância amadurecerá a amizade transformando-a em amor.
100:4.5 (1098.2) Com os olhos da vossa mente, trazei à vossa lembrança o quadro de um dos vossos ancestrais primitivos dos tempos das cavernas — um pequeno rosnador, disforme e sujo; um homem pesado, de pernas arqueadas, de porrete levantado, respirando ódio e animosidade, enquanto olha ferozmente para frente. Esse quadro dificilmente retrata a dignidade divina do homem. Contudo, ele nos permite ampliar o retrato. Em frente a esse ser humano, animado, um tigre dente-de-sabre encontra-se em posição de ataque. Atrás dele, uma mulher e duas crianças. Imediatamente, vós reconhecereis que esse quadro representa o começo de muito daquilo que é bom e nobre na raça humana, mas o homem é o mesmo nos dois quadros. Apenas, no segundo arranjo, fostes favorecidos com um horizonte amplo. E, nele, podeis discernir a motivação desse mortal em evolução. A sua atitude torna-se louvável, porque o compreendeis. Se apenas pudésseis penetrar os motivos dos vossos semelhantes, quão melhor os entenderíeis! Se vós pudésseis apenas conhecer os vossos semelhantes, iríeis finalmente encher-vos de amor por eles.
100:4.6 (1098.3) De fato, não podeis amar os vossos semelhantes por um mero ato de vontade. O amor nasce apenas de uma compreensão enérgica dos motivos e sentimentos do vosso próximo. Não é tão importante amar a todos os homens hoje quanto é importante que aprendais, a cada dia, a amar um ser humano a mais. Se a cada dia ou a cada semana alcançardes a compreensão de mais um dos vossos irmãos, e se for esse o limite da vossa capacidade, então certamente estareis socializando e verdadeiramente espiritualizando a vossa personalidade. O amor é contagiante e, quando a devoção humana é inteligente e sábia, o amor é mais cativante que o ódio. Todavia, apenas o amor genuíno e não-egoísta é verdadeiramente contagioso. Se cada mortal pudesse apenas tornar-se o foco de uma afeição dinâmica, tal vírus benigno do amor penetraria logo a corrente da emoção sentimental da humanidade, numa extensão tal que toda a civilização seria abraçada pelo amor, e isso seria a realização da irmandade dos homens.
100:5.1 (1098.4) O mundo está repleto de almas perdidas. Não no sentido teológico, mas porque perderam o sentido de direção; e encontram-se vagando na confusão entre os ismos e cultos de uma era filosoficamente frustrada. Pouquíssimas almas aprenderam como estabelecer para si mesmas uma filosofia de vida, em lugar de aceitar o autoritarismo religioso. (Os símbolos da religião socializada não são para serem desprezados como canais de crescimento; ainda que o leito do rio não seja o rio, é por ele que correm as águas.)
100:5.2 (1098.5) A progressão do crescimento religioso conduz, por meio do conflito, da estagnação à coordenação, da insegurança à fé sem dúvidas, da confusão na consciência cósmica à unificação da personalidade, de um objetivo temporal até o eterno, do cativeiro do medo à liberdade da filiação divina.
100:5.3 (1099.1) Deveria ficar esclarecido que as profissões de fé aos supremos ideais — a percepção psíquica, emocional e espiritual daquele que tem consciência de Deus — podem vir de um crescimento natural e gradual ou podem, algumas vezes, ser experienciadas em certas conjunções, como numa crise. O apóstolo Paulo experimentou exatamente uma conversão súbita e espetacular naquele dia memorável na estrada de Damasco. Gautama Sidarta teve uma experiência semelhante na noite em que se assentou a sós e buscou penetrar o mistério da verdade final. Muitos outros têm passado por experiências, e muitos crentes verdadeiros progrediram em espírito, sem nenhuma conversão súbita.
100:5.4 (1099.2) A maior parte dos fenômenos espetaculares relacionados às chamadas conversões religiosas é inteiramente psicológica pela sua natureza, mas, de quando em quando, ocorrem experiências que são também espirituais, pela sua origem. Quando a mobilização mental é absolutamente total, em qualquer nível psíquico de expansão na direção da realização espiritual, quando é perfeita a motivação humana de lealdade à idéia divina, então, muito freqüentemente, ocorre que o espírito residente sincroniza-se subitamente abaixo, com o propósito concentrado e consagrado da mente supraconsciente do mortal crente. E tais experiências de fenômenos intelectuais e espirituais unificados constituem as conversões, que consistem em fatores além dos envolvimentos puramente psicológicos.
100:5.5 (1099.3) Por si, todavia, uma emoção só indica uma conversão falsa; deve ter-se fé, tanto quanto sentimentos. Visto que tal mobilização psíquica é parcial e a motivação da lealdade humana é incompleta, nessa mesma medida a experiência da conversão será uma realidade mista: intelectual, emocional e espiritual.
100:5.6 (1099.4) Se se está disposto a reconhecer uma mente subconsciente teórica, como uma hipótese prática com a qual trabalhar numa vida intelectual, de algum outro modo unificada, então, para ser-se coerente, dever-se-ia postular um domínio semelhante e correspondente, de atividade intelectual ascendente; e este é o nível supraconsciente: uma zona de contato imediato com a entidade do espírito residente, o Ajustador do Pensamento. Os grandes perigos de todas as especulações psíquicas são que as visões e outras experiências, chamadas de místicas, bem como os sonhos extraordinários, cheguem todos a ser considerados comunicações divinas à mente humana. Em eras passadas, seres divinos revelaram-se a algumas pessoas sabedoras de Deus, não por causa dos transes místicos nem das visões mórbidas delas, mas a despeito de todos esses fenômenos.
100:5.7 (1099.5) Ao contrário da busca da conversão, o melhor modo de aproximação das zonas moronciais de contato possível com o Ajustador do Pensamento seria por meio da fé viva e da adoração sincera, da oração feita do fundo do coração e sem egoísmo. E, de um modo geral, a maior parte das memórias que brotaram de níveis inconscientes da mente humana tem sido confundida com revelações divinas e guiamentos espirituais.
100:5.8 (1099.6) Um grande perigo está ligado à prática habitual do sonho religioso, estando acordado; o misticismo pode tornar-se uma técnica para evitar-se a realidade; embora haja sido, algumas vezes, um meio para a comunhão espiritual genuína. Períodos curtos de retirada da cena das ocupações da vida podem não ser seriamente perigosos, mas o isolamento prolongado da personalidade é bastante indesejável. Sob nenhuma circunstância deveria o estado de transe de consciência visionária ser cultivado como uma experiência religiosa.
100:5.9 (1099.7) As características do estado místico são a difusão da consciência, com ilhas vívidas de atenção focalizada, operando num intelecto relativamente passivo. Tudo isso faz a consciência gravitar na direção do subconsciente, mais do que na direção da zona de contato espiritual, o supraconsciente. Muitos místicos levaram a própria dissociação mental ao ponto das manifestações mentais anormais.
100:5.10 (1100.1) A atitude mais saudável de meditação espiritual é colocar-se em adoração reflexiva e em oração de agradecimento. A comunhão direta com o próprio Ajustador do Pensamento, tal como se deu com Jesus, nos últimos anos da sua vida na carne, não deveria ser confundida com outras experiências chamadas de místicas. Os fatores que contribuem para a iniciação da comunhão mística denotam, em si, o perigo desses estados psíquicos. O estado místico é favorecido por coisas tais como: a fadiga física, o jejum, a dissociação psíquica, a experiência estética profunda, os impulsos sexuais vívidos, o medo, a ansiedade, o furor e as danças selvagens. A maior parte do material que surge como resultado dessas preparações preliminares tem a sua origem na mente subconsciente.
100:5.11 (1100.2) Por mais favoráveis que possam ter sido as condições para os fenômenos místicos, deveria ser claramente compreendido que Jesus de Nazaré nunca recorreu a tais métodos para a sua comunhão com o Pai do Paraíso. Jesus não tinha alucinações subconscientes, nem ilusões do supraconsciente.
100:6.1 (1100.3) As religiões evolucionárias e as religiões da revelação podem diferir bastante pelos métodos, mas são muito semelhantes pelas suas motivações. A religiosidade não é uma função específica da vida; é antes um modo de viver. A verdadeira religiosidade constitui-se numa devoção sincera a alguma realidade que o religioso considera de valor supremo para si próprio e para toda a humanidade. E as características mais destacadas de todas as religiões são: a lealdade inquestionável e a devoção, de coração puro, aos valores supremos. Essa devoção religiosa aos valores supremos é mostrada na relação da mãe, supostamente irreligiosa, para com o seu filho; e na lealdade fervorosa dos não religiosos a uma causa esposada por eles.
100:6.2 (1100.4) O valor supremo aceito para o religioso pode ser ignóbil ou falso mesmo; entretanto, apesar de tudo, ele é religioso. Uma religião é genuína na medida em que o seu valor que é tido como supremo seja verdadeiramente uma realidade cósmica de valor espiritual.
100:6.3 (1100.5) Os sinais da sensibilidade humana ao impulso religioso abrangem as qualidades da nobreza e grandeza. O religioso sincero é consciente da cidadania universal e é ciente de fazer contato com fontes de poder supra-humano. Ele emociona-se e energiza-se com a segurança de pertencer à fraternidade superior e enobrecida dos filhos de Deus. A consciência da própria dignidade tornou-se aumentada pelo estímulo da busca dos objetivos mais elevados no universo — as metas supremas.
100:6.4 (1100.6) O eu rendeu-se ao ímpeto intrigante de uma motivação todo-abrangente que impõe uma autodisciplina maior, que reduz o conflito emocional e torna a vida mortal verdadeiramente digna de ser vivida. O reconhecimento mórbido das limitações humanas é transformado na consciência natural das falhas mortais, associada à determinação moral e à aspiração espiritual de atingir metas universais e superuniversais mais elevadas. E essa luta intensa para alcançar ideais supramortais é sempre caracterizada por uma paciência crescente na indulgência, fortaleza e tolerância.
100:6.5 (1100.7) A verdadeira religião, contudo, é um amor vivo, uma vida de serviço. O distanciamento do religioso de muito daquilo que é puramente temporal e trivial nunca leva ao isolamento social, e não deveria destruir o senso de humor. A religião genuína nada tira à existência humana, mas acrescenta, sim, um novo sentido a tudo na vida; gera novos tipos de entusiasmo, de zelos e de coragem. Pode até mesmo engendrar o espírito das cruzadas, o que é mais do que perigoso se não for controlado pelo discernimento espiritual e pela devoção leal às obrigações sociais comuns das lealdades humanas.
100:6.6 (1101.1) Um dos sinais mais surpreendentes para a identificação da vida religiosa é a paz dinâmica e sublime, aquela paz que está além de todo entendimento humano, aquele equilíbrio cósmico que indica a ausência de toda dúvida e tumulto. Tais níveis de estabilidade espiritual são imunes ao desapontamento. Os religiosos assim são como o apóstolo Paulo, que disse: “Estou persuadido de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem os poderes, nem as coisas presentes, nem as coisas que estão por vir, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra coisa será capaz de nos separar do amor de Deus”.
100:6.7 (1101.2) Um senso de segurança há que vem associado à realização da glória triunfante, que reside na consciência do religioso que compreendeu a realidade do Supremo e persegue a meta do Último.
100:6.8 (1101.3) Mesmo a religião evolucionária é tudo isso, em lealdade e grandeza, porque é uma experiência genuína. Contudo, a religião revelada tanto tem de excelência quanto de autenticidade. As novas lealdades, na visão espiritual ampliada, criam novos níveis de amor e devoção, de serviço e companheirismo; e a perspectiva social, assim ampliada, produz uma consciência maior da Paternidade de Deus e da irmandade dos homens.
100:6.9 (1101.4) A diferença característica entre a religião que evoluiu e a religião revelada é uma qualidade nova de sabedoria divina, que é acrescentada à sabedoria humana puramente experiencial. No entanto, é a experiência dentro das religiões humanas que desenvolve a capacidade para a recepção das dádivas subseqüentes, de maior sabedoria divina e discernimento cósmico.
100:7.1 (1101.5) Embora o mortal comum de Urântia não possa esperar atingir a alta perfeição de caráter adquirida por Jesus de Nazaré, enquanto permaneceu na carne, é totalmente possível a todo mortal crente desenvolver uma personalidade forte e unificada, pautando-se pelas linhas perfeccionadas da personalidade de Jesus. O aspecto singular da personalidade do Mestre não era tanto a sua perfeição, quanto a sua simetria, a sua unificação extraordinária e equilibrada. A apresentação mais eficiente para Jesus consiste no exemplo dado por aquele que disse, enquanto gesticulava na direção do Mestre, de pé diante dos seus acusadores: “Eis o homem!”
100:7.2 (1101.6) A bondade infalível de Jesus tocava os corações dos homens, mas a sua inflexível força de caráter maravilhava os seus seguidores. Era verdadeiramente sincero; nada havia de hipócrita nele. Não tinha afetação; era sempre autenticamente reanimador. Nunca condescendia em pretensões, e jamais recorria à trapaça. Viveu a verdade, do mesmo modo que a ensinou. Ele foi a verdade. Foi forçado a proclamar a verdade salvadora à sua geração, ainda que tanta sinceridade haja algumas vezes causado dor. Ele foi inquestionavelmente leal a toda verdade.
100:7.3 (1101.7) O Mestre, porém, era tão razoável, tão acessível. Era tão prático em todas as suas ministrações e, ao mesmo tempo, todos os seus planos eram caracterizados por um senso comum tão santificado. Era tão liberto de qualquer tendência à extravagância, à irregularidade e excentricidade. Nunca era caprichoso, esquisito ou histérico. Em todos os seus ensinamentos e em tudo o que fazia, havia uma discriminação depurada, ligada a um senso extraordinário do que é apropriado.
100:7.4 (1102.1) O Filho do Homem foi sempre uma personalidade bem equilibrada. Mesmo os seus inimigos mantinham um respeito salutar por ele; e chegavam mesmo a temer a sua presença. Jesus não conhecia o medo. Ele transbordava de entusiasmo divino, mas nunca se tornou um fanático. Era emocionalmente ativo, mas nunca inconstante. Era imaginativo, mas sempre prático. Ele enfrentava as realidades da vida com franqueza, sem nunca chegar a tornar-se embotado ou prosaico. Era corajoso, sem jamais ser descuidado; prudente, mas nunca covardemente. Era compassivo, mas não era sentimental; único, sem ser excêntrico. Ele era pio, mas não era santarrão. E era assim tão bem equilibrado, porque era perfeitamente unificado.
100:7.5 (1102.2) A originalidade de Jesus não era sufocante. Ele não estava preso à tradição, nem limitado pela escravização a nenhum convencionalismo restritivo. Falava com uma confiança segura e ensinava com autoridade absoluta. Contudo, a sua originalidade superior não o levava a negligenciar as pérolas da verdade contidas nos ensinamentos dos seus predecessores e contemporâneos. E o mais original dos seus ensinamentos foi a ênfase dada ao amor e a misericórdia, em lugar do medo e do sacrifício.
100:7.6 (1102.3) Jesus era muito amplo de visão. Ele exortava os seus seguidores a pregar o evangelho a todos os povos. Não tinha nenhuma estreiteza de mente. O seu coração compassivo abraçava toda a humanidade, e mesmo um universo. Sempre a sua exortação era: “Quem quiser vir, que venha”.
100:7.7 (1102.4) De Jesus foi realmente dito: “Ele confiou em Deus”. Como um homem entre os homens, ele confiou de um modo muito sublime no Pai do céu. E confiou no seu Pai, como uma criança pequena confia no seu pai terreno. A sua fé foi perfeita, mas nunca presunçosa. Não importa quão cruel a natureza possa parecer, nem quão indiferente possa ser ao bem-estar do homem na Terra, Jesus nunca faltou com a sua fé. Ele era imune ao desapontamento e inatingível pela perseguição. O fracasso aparente não o atingiu.
100:7.8 (1102.5) Jesus amou os homens como irmãos, ao mesmo tempo reconhecendo quão diferentes dos deles eram os seus dons inatos e as suas qualidades adquiridas. “Ele escolheu o seu caminho de fazer o bem.”
100:7.9 (1102.6) Jesus era uma pessoa inusitadamente alegre, mas não era um otimista cego nem pouco razoável. A sua palavra de constante exortação era: “Tende ânimo”. Podia manter a atitude confiante por causa da sua fé inabalável em Deus e na sua confiança imperturbável no homem. Ele demonstrou sempre uma consideração tocante por todos os homens, porque os amava e acreditava neles. E ainda foi sempre fiel às suas convicções e magnificamente firme na sua devoção de fazer a vontade do seu Pai.
100:7.10 (1102.7) O Mestre foi sempre generoso. Nunca se cansou de dizer: “Dar é mais abençoado do que receber”. Dizia ele: “Gratuitamente recebestes, dai gratuitamente”. E ainda, com toda a sua ilimitada generosidade, nunca foi esbanjador ou extravagante. Ensinou que deveis acreditar para receber a salvação. “Pois todo aquele que procura receberá.”
100:7.11 (1102.8) Era candidamente direto, mas sempre afável. Ele dizia: “Se assim não fosse, eu vos haveria dito”. E era franco, mas sempre amigável. Aberto no seu amor pelos pecadores e no seu ódio ao pecado. Contudo, mesmo na sua surpreendente franqueza, ele foi infalivelmente justo.
100:7.12 (1102.9) Jesus era alegre de um modo consistente, não obstante algumas vezes haver bebido profundamente da taça do sofrimento humano. Destemidamente, enfrentou as realidades da existência; e permaneceu pleno de entusiasmo pelo evangelho do Reino. Porém, controlava o seu entusiasmo; nunca se deixou controlar por ele. Era dedicado sem reservas aos “assuntos do Pai”. Esse entusiasmo divino levou os seus irmãos não espiritualizados a pensarem que ele estava fora de si, mas o universo que o observava apreciava-o como modelo de sanidade e como arquétipo da suprema devoção mortal aos altos padrões da vida espiritual. E o seu entusiasmo controlado foi contagioso; os seus companheiros eram levados a compartilhar do seu otimismo divino.
100:7.13 (1103.1) Este homem da Galiléia não era um homem de tristezas; era uma alma da alegria. Estava sempre dizendo: “Rejubilai-vos na mais repleta alegria”. Todavia, quando o dever exigia, estava disposto a caminhar corajosamente no “vale da sombra da morte”. Era jubiloso, mas, ao mesmo tempo, humilde.
100:7.14 (1103.2) A sua coragem só foi igualada pela sua paciência. Sempre que pressionado a agir prematuramente, apenas respondia: “Minha hora ainda não chegou”. Nunca tinha pressa; a sua serenidade mantinha-se sublime. No entanto, freqüentemente, tornava-se indignado com o mal; e intolerante com o pecado. Muitas vezes, foi levado a resistir poderosamente àquilo que era contrário ao bem-estar dos seus filhos da Terra. No entanto, a sua indignação contra o pecado nunca o levou a ficar enraivecido com os pecadores.
100:7.15 (1103.3) A coragem de Jesus foi magnífica, mas ele nunca era irrefletido. A sua palavra-chave foi: “não temais”. A sua bravura era elevada, e a sua coragem, freqüentemente heróica. No entanto, a sua coragem estava ligada à prudência e controlada pela razão. Era uma coragem nascida da fé, não da presunção cega na negligência. Era verdadeiramente valente, mas nunca atrevido.
100:7.16 (1103.4) O Mestre foi um modelo de reverência. A prece, já na sua juventude, começava por: “Pai nosso que estás no céu, santificado seja o teu nome”. Era respeitoso até mesmo para com o culto equivocado dos seus irmãos. Isso não o impediu, todavia, de condenar as tradições religiosas nem de atacar os erros das crenças humanas. Ele reverenciava a verdadeira santidade; e podia apelar ainda aos seus semelhantes dizendo: “Quem dentre vós me condena de pecado?”
100:7.17 (1103.5) Jesus foi grande, porque era bom e, mais, ele confraternizava com as crianças pequenas. Ele era gentil e despretensioso na sua vida pessoal e, ainda, era ele o homem perfeccionado de todo um universo. Os seus companheiros chamavam-no espontaneamente de Mestre.
100:7.18 (1103.6) Jesus foi a personalidade humana perfeitamente unificada. E ainda agora, como na época da Galiléia, ele continua a unificar a experiência mortal e a coordenar os esforços humanos. Ele unifica a vida, enobrece o caráter e simplifica a experiência. Entra na mente humana para elevá-la, para transformá-la e transfigurá-la. É literalmente verdade que: “Se qualquer homem tem Cristo Jesus dentro de si, ele é uma nova criatura; as velhas coisas estão passando; olhai, como todas as coisas estão-se tornando novas”.
100:7.19 (1103.7) [Apresentado por um Melquisedeque de Nébadon.]
O Livro de Urântia
Documento 101
101:0.1 (1104.1) A RELIGIÃO, enquanto experiência humana, estende-se desde a escravidão ao medo primitivo, no selvagem em evolução, até a liberdade sublime e magnífica da fé, naqueles mortais civilizados que se acham esplendidamente conscientes da sua filiação ao Deus eterno.
101:0.2 (1104.2) A religião é ancestral da moral superior e das éticas avançadas, na evolução social progressiva. Contudo, a religião, como tal, não é meramente um movimento moral, embora as suas manifestações exteriores e sociais sejam fortemente influenciadas pelas forças do momento ético e moral da sociedade humana. A religiosidade é sempre inspiração da natureza do homem que evolui, mas não é o segredo dessa evolução.
101:0.3 (1104.3) A religiosidade, a convicção-fé da personalidade, pode sempre triunfar sobre a lógica superficialmente contraditória do desespero que nasce na mente material incrédula. Há realmente uma voz interior verdadeira e genuína, aquela “luz verdadeira que ilumina todos os homens que vêm ao mundo”. E esse guiamento do espírito é diferente da conclamação ética da consciência humana. O sentimento de segurança religiosa é mais do que um sentimento emocional. A segurança na religião transcende à razão da mente, e mesmo à lógica da filosofia. A religiosidade é fé, confiança e segurança.
101:1.1 (1104.4) A verdadeira religião não é um sistema de crença filosófica que possa ser deduzido pela razão, nem consubstanciado por provas naturais, nem é uma experiência fantástica e mística de sentimentos indescritíveis de êxtase a serem desfrutados apenas pelos devotos românticos do misticismo. A religiosidade não é produto da razão, mas, quando vista do seu interior, ela é plenamente racional. A religião não se deriva da lógica da filosofia humana, mas, como uma experiência mortal, é plenamente lógica. A religião é a experiência da divindade efetuada pela consciência de um ser moral de origem evolucionária; representa a verdadeira experiência com as realidades eternas no tempo, como uma realização de satisfações espirituais enquanto ainda na carne.
101:1.2 (1104.5) Os Ajustadores do Pensamento não têm nenhum mecanismo especial por meio do qual ganhar auto-expressão; não há nenhum atributo religioso-místico que proporcione a recepção ou a expressão das emoções religiosas. Tais experiências tornam-se disponíveis por meio do mecanismo de dotação natural da mente mortal. E isso representa uma explicação para a dificuldade que o Ajustador tem de entrar em comunicação direta com a mente material da sua residência constante.
101:1.3 (1104.6) O espírito divino faz contato com o homem mortal, não por meio de sentimentos ou emoções, mas sim no domínio do pensamento mais elevado e mais espiritualizado. São os vossos pensamentos, não os vossos sentimentos, que vos conduzem a Deus. A natureza divina pode ser percebida apenas com os olhos da mente. No entanto, a mente que realmente discerne Deus, que escuta o Ajustador residente, é a mente pura. “Sem consagrar-se, nenhum homem pode ver o Senhor.” Toda a comunhão interior e espiritual é denominada discernimento espiritual. Tais experiências religiosas resultam da impressão feita na mente do homem por meio das atuações combinadas do Ajustador e do Espírito da Verdade, funcionando entre e sobre as idéias, os ideais, sobre a visão interior e os esforços espirituais dos filhos de Deus em evolução.
101:1.4 (1105.1) A religiosidade vive e prospera, assim, não por meio da visão, nem do sentimento, mas antes por meio da fé e do discernimento interior. Não consiste na descoberta de fatos novos, nem naquilo que se encontra por meio de uma experiência única, mas antes na descoberta de significados novos e espirituais nos fatos já bem conhecidos da humanidade. A mais elevada experiência religiosa não depende de ações anteriores de crença, tradição e autoridade; nem é, a religiosidade, filha de sentimentos sublimes e de emoções puramente místicas. É, antes, uma experiência profunda e factual de comunhão espiritual, com as influências do espírito residente dentro da mente humana e, na medida que essa experiência seja definível em termos de psicologia, é simplesmente a experiência de vivenciar a realidade de crer em Deus, como a grande realidade desse evento puramente pessoal.
101:1.5 (1105.2) Conquanto a religião não seja produto de especulações racionalistas de uma cosmologia material, ela é, entretanto, a criação de um discernimento interior totalmente racional que se origina na experiência da mente do homem. A religiosidade não nasce de meditações místicas, nem de contemplações isoladas, ainda que seja mais ou menos misteriosa e sempre indefinível e inexplicável, em termos da razão puramente intelectual ou da lógica filosófica. Os germes da religiosidade verdadeira têm sua origem no âmbito da consciência moral do homem e são revelados no crescimento do discernimento interior espiritual do homem: aquela faculdade da personalidade humana que se torna acrescida em conseqüência da presença do Ajustador e que revela Deus à mente mortal sedenta Dele.
101:1.6 (1105.3) A fé une o discernimento moral à discriminação conscienciosa dos valores, e o sentido do dever evolucionário preexistente dá complemento à origem da verdadeira religiosidade. A experiência da religião, finalmente, resulta em uma consciência firme de Deus e em uma segurança inquestionável da sobrevivência da personalidade que acredita.
101:1.7 (1105.4) Assim, pode-se perceber que as aspirações religiosas e os impulsos espirituais não são de uma natureza tal que levaria meramente os homens a querer crer em Deus, mas, antes, são de uma natureza e um poder tais que os homens tornam-se profundamente pressionados pela convicção de que devem acreditar em Deus. O sentido do dever evolucionário e as obrigações conseqüentes da iluminação pela revelação causam uma impressão tão profunda sobre a natureza moral do homem, que finalmente ele alcança a posição de mente e a atitude de alma por meio das quais ele conclui que não tem direito de não acreditar em Deus. A sabedoria mais elevada e suprafilosófica dos indivíduos esclarecidos e disciplinados instrui-os, em última análise, que duvidar de Deus ou não confiar na Sua bondade seria uma prova de infidelidade para com a coisa mais real e mais profunda dentro da mente e da alma humana — o Ajustador divino.
101:2.1 (1105.5) A realidade da religiosidade consiste inteiramente na experiência religiosa de seres humanos racionais e comuns. E é nesse sentido, unicamente, que a religião poderia ser considerada como científica ou mesmo psicológica. A prova de que a revelação é revelação, é esse mesmo fato na experiência humana: o fato de que a revelação sintetiza as ciências da natureza, aparentemente divergentes, bem como sintetiza a teologia da religião numa filosofia, consistente e lógica, do universo, uma explicação coordenada e contínua da ciência e da religiosidade, criando, assim, uma harmonia de mente e uma satisfação de espírito que respondem, na experiência humana, àqueles questionamentos da mente mortal a qual almeja saber como o Infinito opera a sua vontade e os seus planos na matéria, com as mentes e dentro do espírito.
101:2.2 (1106.1) A razão é o método da ciência; a fé o método da religião; a lógica é a técnica com que a filosofia tenta lidar. A revelação compensa a ausência do ponto de vista moroncial, fornecendo uma técnica para alcançar a unidade na compreensão da realidade e relações entre a matéria e o espírito, pela mediação da mente. E a verdadeira revelação jamais afasta a ciência da natureza, nem a religião da razão ou a filosofia da lógica.
101:2.3 (1106.2) A razão, por meio do estudo da ciência, pode levar-nos da natureza a uma Primeira Causa, mas requer uma fé religiosa para transformar a Causa Primeira da ciência em um Deus de salvação; e a revelação é ainda requerida para validar tal fé e tal discernimento espiritual interior.
101:2.4 (1106.3) Há duas razões básicas para crer em um Deus que fomenta a sobrevivência humana:
101:2.5 (1106.4) 1. A experiência humana e a certeza pessoal; a esperança e a confiança, de algum modo iniciadas e, de algum modo, registradas pelo Ajustador residente.
101:2.6 (1106.5) 2. A revelação da verdade, seja pela ministração direta pessoal do Espírito da Verdade, na auto-outorga a este mundo feita pelos Filhos divinos; seja por meio das revelações em palavra escrita.
101:2.7 (1106.6) A ciência completa a sua busca por meio da razão com a hipótese de uma Causa Primeira. A religião não pára no seu vôo de fé, até estar segura de um Deus de salvação. O estudo discriminado da ciência sugere logicamente a realidade e a existência de um Absoluto. A religião acredita sem reservas na existência e na realidade de um Deus que fomenta a sobrevivência da personalidade. Aquilo que a metafísica deixa totalmente de fazer, e aquilo em que até mesmo a filosofia parcialmente fracassa, a revelação faz; isto é, afirma que essa Primeira Causa da ciência e o Deus da Salvação da religião são uma Deidade e a mesma Deidade.
101:2.8 (1106.7) A razão é a prova da ciência, a fé, a prova da religião, a lógica, a prova da filosofia, mas a revelação é validada apenas pela experiência humana. A ciência gera conhecimento; a religião gera felicidade; a filosofia gera a unidade; a revelação confirma a harmonia experiencial dessa abordagem trina da realidade universal.
101:2.9 (1106.8) A contemplação da natureza apenas pode revelar um Deus de natureza, um Deus de movimento. A natureza expõe apenas matéria, movimento e animação — a vida. Matéria mais energia, sob certas condições, são manifestadas em formas vivas, todavia, embora a vida natural seja assim relativamente contínua enquanto fenômeno, é totalmente transitória no que diz respeito às individualidades. A natureza não provê uma base para a crença lógica na sobrevivência da personalidade humana. O homem religioso que encontra Deus na natureza, já havia encontrado, antes, este mesmo Deus pessoal na sua própria alma.
101:2.10 (1106.9) A fé revela Deus na alma. A revelação, a substituta do discernimento moroncial interior num mundo evolucionário, capacita o homem a ver na natureza o mesmo Deus que, por meio da fé, se manifesta na sua alma. Assim, a revelação faz com êxito uma ponte, atravessando o abismo entre o material e o espiritual e, mesmo, entre a criatura e o Criador, entre o homem e Deus.
101:2.11 (1107.1) A contemplação da natureza conduz logicamente a um guiamento interior inteligente, e mesmo até uma orientação vivencial, mas, de nenhum modo satisfatório, ela revela um Deus pessoal. A natureza, por outro lado, também não demonstra nada que impeça o universo de ser considerado como uma obra do mesmo Deus da religião. Deus não pode ser encontrado somente por meio da natureza, mas o fato de que o homem O haja encontrado de outro modo torna o estudo da natureza integralmente consistente com uma interpretação mais elevada e espiritual do universo.
101:2.12 (1107.2) A revelação, enquanto fenômeno para uma época, é periódica; como experiência humana pessoal, é contínua. A divindade opera na personalidade mortal como dádiva do Ajustador do Pai, como o Espírito da Verdade do Filho e como o Espírito Santo do Espírito do Universo, pois esses três dons supramortais estão unificados na evolução experiencial humana como uma ministração vinda do Supremo.
101:2.13 (1107.3) A verdadeira religiosidade é um vislumbrar da realidade, é filha da fé dentro da consciência moral, e não um assentimento meramente intelectual dado à corporificação de uma doutrina dogmática qualquer. A verdadeira religião consiste na experiência de que “o Espírito, ele próprio, dá o testemunho, junto ao nosso espírito, de que somos nós próprios filhos de Deus”. A religião não consiste em proposições teológicas, mas no discernimento espiritual interior e na sublimidade da confiança da alma.
101:2.14 (1107.4) A natureza mais profunda dentro de vós — o Ajustador divino — cria no vosso interior a fome e sede de retidão, um certo anseio pela perfeição divina. A religiosidade é o ato de fé no reconhecimento desse impulso interno de realização divina; e assim nascem a confiança e a segurança de alma, as quais vós reconhecereis como o caminho da salvação, a técnica de sobrevivência da personalidade e de todos aqueles valores que viestes a considerar verdadeiros e bons.
101:2.15 (1107.5) O entendimento pela religiosidade nunca tem sido e nunca será dependente de um grande aprendizado, nem de uma lógica hábil. Ele é discernimento espiritual, e essa é exatamente a razão pela qual alguns dos maiores educadores religiosos do mundo e os profetas, mesmo, algumas vezes, possuíram tão pouco da sabedoria do mundo. A fé religiosa está disponível tanto para os instruídos como para os ignorantes.
101:2.16 (1107.6) A religiosidade deve ser sempre a sua própria crítica e juíza, não pode nunca ser observada, e muito menos compreendida pelo lado de fora. A vossa segurança num Deus pessoal consiste no vosso próprio discernimento quanto à vossa crença nas coisas espirituais, e na vossa experiência delas. Para todos os vossos companheiros que tiveram uma experiência semelhante, nenhuma argumentação sobre a personalidade ou a realidade de Deus se faz necessária, ao passo que, para todos os outros homens que não estão assim tão seguros de Deus, nenhuma argumentação possível poderia jamais ser de fato convincente.
101:2.17 (1107.7) A psicologia pode de fato tentar estudar o fenômeno das reações religiosas ao ambiente social, mas não pode jamais esperar penetrar os motivos reais e interiores, nem o que a religião opera. Apenas a teologia, domínio da fé e da técnica da revelação, pode proporcionar qualquer espécie inteligente de explicação quanto à natureza e conteúdo da experiência religiosa.
101:3.1 (1107.8) A religião é tão vital que sobrevive, ainda que na ausência de instrução. Vive a despeito da contaminação que possa ter de cosmologias equivocadas e filosofias falsas; sobrevive mesmo à confusão da metafísica. Durante todas as vicissitudes históricas da religião, persiste sempre o que é indispensável ao progresso e à sobrevivência humana: o conhecimento da ética e a consciência prática da moral.
101:3.2 (1108.1) O discernimento da fé, ou intuição espiritual, é o dom da mente cósmica associado ao trabalho do Ajustador do Pensamento, o qual é uma dádiva do Pai ao homem. A razão espiritual, a inteligência da alma, é dom do Espírito Santo, dádiva do Espírito Materno Criativo ao homem. A filosofia espiritual, a sabedoria das realidades espirituais, é dom do Espírito da Verdade, a dádiva combinada dos Filhos auto-outorgados aos filhos dos homens. E a coordenação e interassociação desses dons de espírito formam, no interior do homem, uma personalidade espiritual dotada de um destino potencial.
101:3.3 (1108.2) É essa mesma personalidade espiritual, sob a sua forma primitiva e embrionária na posse do Ajustador, que sobrevive à morte natural na carne. E essa entidade composta de origem espiritual, em conjunção com a experiência humana, por intermédio da forma de vida provida pelos Filhos divinos, fica capacitada a sobreviver (conservada pelo Ajustador) à dissolução do eu material e mental, quando essa sociedade transitória, do material e do espiritual, for rompida com a cessação do movimento vital.
101:3.4 (1108.3) Por meio da fé religiosa, é que a alma do homem revela a si própria e, do modo característico pelo qual ela induz a personalidade mortal a reagir a certas situações de provação e testes intelectuais e sociais, é que tal alma demonstra a divindade potencial da sua natureza emergente. A fé espiritual genuína (a consciência moral autêntica) é revelada por aquilo que:
101:3.5 (1108.4) 1. Faz a ética e a moral progredirem, a despeito de tendências animais inerentes e adversas.
101:3.6 (1108.5) 2. Produz uma sublime confiança na bondade de Deus, mesmo em face do desapontamento amargo ou derrotas esmagadoras.
101:3.7 (1108.6) 3. Gera profunda coragem e confiança, a despeito de adversidades naturais e de calamidades físicas.
101:3.8 (1108.7) 4. Demonstra equilíbrio e compostura inexplicáveis, a despeito mesmo de doenças desconcertantes e de um sofrimento físico agudo.
101:3.9 (1108.8) 5. Mantém um misterioso equilíbrio e a integridade da personalidade, em face de maus-tratos e da mais flagrante injustiça.
101:3.10 (1108.9) 6. Mantém uma confiança divina na vitória última, a despeito das crueldades de um destino aparentemente cego e da indiferença aparentemente total das forças naturais para com o bem-estar humano.
101:3.11 (1108.10) 7. Persiste inquebrantável na crença em Deus, apesar de todas as demonstrações em contrário da lógica, e resiste com êxito a todos os outros sofismas intelectuais.
101:3.12 (1108.11) 8. Continua a demonstrar uma fé destemida na sobrevivência da alma, apesar dos ensinamentos enganosos da falsa ciência e da ilusão persuasiva das filosofias insanas.
101:3.13 (1108.12) 9. Vive e triunfa independentemente da sobrecarga esmagadora de civilizações tornadas complexas e tendenciosas nos tempos modernos.
101:3.14 (1108.13) 10. Contribui para a sobrevivência contínua do altruísmo, a despeito do egoísmo humano, dos antagonismos sociais, da ganância da indústria e dos desajustes políticos.
101:3.15 (1108.14) 11. Adere com firmeza a uma crença sublime na unidade do universo e no guiamento divino, sem preocupações quanto à presença perturbadora do mal e do pecado.
101:3.16 (1108.15) 12. Continua adorando a Deus a despeito de tudo e todos. Ousa declarar: “Ainda que Ele me mate, ainda assim servirei a Ele”.
101:3.17 (1108.16) Sabemos, pois, por intermédio de três fenômenos, que o homem tem um espírito divino, ou espíritos, residindo dentro dele: primeiro, pela experiência pessoal — a fé religiosa — ; segundo, pela revelação — pessoal e racial — ; e terceiro, pela demonstração surpreendente das reações extraordinárias, e não inatas, ao meio ambiente material, conforme ilustram as doze atuações de cunho espiritual, em face das situações de provação na vida real, as quais acabamos de citar. E ainda há outras.
101:3.18 (1109.1) E é precisamente essa atuação vital e vigorosa da fé, no domínio da religião, que autoriza o homem mortal a afirmar a posse pessoal e a existência na realidade espiritual daquele dom que coroa a natureza humana: a experiência religiosa.
101:4.1 (1109.2) Pelo fato de o vosso mundo geralmente ser ignorante das origens, e mesmo das origens físicas, pareceu sábio, de tempos em tempos, prover instrução sobre a cosmologia; mas isso sempre gera problemas no futuro. As leis da revelação impedem-nos grandemente, pela proscrição que fazem sobre transmitir conhecimento ainda imerecido ou prematuro. Qualquer cosmologia apresentada como uma parte da religião revelada destina-se a ser ultrapassada num tempo muito curto. Em conseqüência, os estudantes futuros dessa revelação serão tentados a descartar quaisquer elementos de verdade religiosa genuína que possa conter, porque descobrem erros nas cosmologias apresentadas conseqüentemente neles.
101:4.2 (1109.3) A humanidade deveria compreender que nós, em nossa participação na revelação da verdade, ficamos rigorosamente limitados pelas instruções dos nossos superiores. Não temos liberdade de antecipar as descobertas científicas para daqui a mil anos. Os reveladores devem agir de acordo com as instruções que formam uma parte do mandado da revelação. Nós não vemos como superar essa dificuldade, agora ou em qualquer tempo futuro. Sabemos perfeitamente que, embora os fatos históricos e as verdades religiosas da presente série de apresentações reveladoras fiquem nos registros das idades que virão, dentro de uns poucos curtos anos, muitas das nossas afirmações a respeito das ciências físicas estarão necessitando de revisão, em conseqüência de novos desenvolvimentos científicos e de novas descobertas. Esses novos desenvolvimentos, desde agora, nós os prevemos, mas estamos proibidos de incluir, nos registros reveladores, esses fatos não descobertos pela humanidade. Que fique claro que as revelações não são necessariamente inspiradas. A cosmologia nessas revelações não é inspirada. Ela é limitada pela permissão que temos de coordenação e de triagem do conhecimento de hoje. Conquanto o discernimento divino ou espiritual seja uma dádiva, a sabedoria humana deve evoluir.
101:4.3 (1109.4) A verdade é sempre uma revelação: é uma auto-revelação, quando surge como resultado do trabalho do Ajustador residente; é uma revelação para uma época, ou epocal, quando apresentada pelo trabalho de alguma outra agência celeste: um grupo ou personalidade.
101:4.4 (1109.5) Em última análise, a religião deve ser julgada pelos seus frutos, segundo a extensão e modo por meio dos quais demonstra a sua excelência inerente e divina.
101:4.5 (1109.6) A verdade não pode ser senão relativamente inspirada, se bem que a revelação seja invariavelmente um fenômeno espiritual. Embora as afirmações que se referem à cosmologia nunca sejam inspiradas, tais revelações são de um valor imenso, ao menos transitoriamente, tornando os conhecimentos claros, pois elas:
101:4.6 (1109.7) 1. Reduzem a confusão, por meio de uma eliminação do erro, com autoridade.
101:4.7 (1109.8) 2. Fazem a coordenação dos fatos e observações que são conhecidos ou que estão para ser conhecidos.
101:4.8 (1110.1) 3. Restauram partes importantes do conhecimento perdido a respeito de acontecimentos de uma época num passado distante.
101:4.9 (1110.2) 4. Fornecem a informação que preencherá lacunas vitais no conhecimento adquirido de outro modo.
101:4.10 (1110.3) 5. Apresentam dados cósmicos, de modo a iluminar os ensinamentos espirituais contidos na revelação que os acompanha.
101:5.1 (1110.4) A revelação é uma técnica por meio da qual idades e mais idades de tempo são poupadas no trabalho necessário ao exame de localizar e corrigir os erros cometidos na evolução das verdades adquiridas pelo espírito.
101:5.2 (1110.5) A ciência lida com os fatos; a religião ocupa-se apenas dos valores. Por intermédio da filosofia esclarecida, a mente esforça-se para unir os significados dos fatos e dos valores, chegando, assim, a um conceito da realidade completa. Lembrai-vos de que a ciência é o domínio do conhecimento, a filosofia, o reino da sabedoria, e a religião, a esfera da experiência pela fé. A religião, entretanto, apresenta duas fases de manifestação:
101:5.3 (1110.6) 1. A religião evolucionária. É a experiência da adoração primitiva, a religião que se deriva da mente.
101:5.4 (1110.7) 2. A religião revelada. É uma atitude do universo a qual se deriva do espírito; é a convicção e a crença na conservação das realidades eternas, a sobrevivência da personalidade e a realização de alcançar, afinal, a Deidade cósmica, cujo propósito tornou tudo isso possível. É parte do plano do universo que, mais cedo ou mais tarde, a religião evolucionária esteja destinada a receber uma expansão espiritual por meio da revelação.
101:5.5 (1110.8) Tanto a ciência quanto a religião começam por assumir certas bases, geralmente aceitas, para deduções lógicas. Assim, também a filosofia começa a sua carreira assumindo a realidade de três coisas:
101:5.6 (1110.9) 1. O corpo material.
101:5.7 (1110.10) 2. A fase supramaterial do ser humano, a alma, ou mesmo o espírito residente.
101:5.8 (1110.11) 3. A mente humana, o mecanismo de intercomunicação e de interassociação entre o espírito e a matéria, entre o material e o espiritual.
101:5.9 (1110.12) Os cientistas reúnem os fatos, os filósofos coordenam as idéias, enquanto os profetas exaltam os ideais. O sentimento e a emoção acompanham invariavelmente a religião, mas eles não são religião. A religião pode ser o sentimento da experiência, mas dificilmente é a experiência de sentimentos. Nem a lógica (a racionalização), nem a emoção (o sentimento) fazem, essencialmente, parte da experiência religiosa, se bem que ambas possam estar associadas, de um modo variável, ao exercício da fé para fazer o discernimento espiritual progredir, tornando-se realidade, tudo de acordo com o alcance da mente individual e das tendências do temperamento dessa mente.
101:5.10 (1110.13) A religião evolucionária é a exteriorização do dom do ajudante da mente, do universo local, encarregado de criar e fomentar a tendência à adoração no homem evolucionário. As religiões primitivas estão diretamente interessadas na ética e na moral, no senso humano do dever. Tais religiões estão fundadas na segurança da consciência e resultam na estabilização de civilizações relativamente éticas.
101:5.11 (1111.1) As religiões pessoalmente reveladas são promovidas pelos espíritos de outorga, que representam as três pessoas da Trindade do Paraíso e se ocupam especialmente da expansão da verdade. A religião evolucionária faz o indivíduo lembrar-se da idéia do dever pessoal; a religião revelada dá ênfase crescente ao amor, à regra de ouro.
101:5.12 (1111.2) A religião que evoluiu repousa integralmente na fé. A revelação provê a segurança suplementar da sua apresentação expandida das verdades da divindade e da realidade, e dá um testemunho de valor ainda maior sobre a experiência factual que se acumula em conseqüência da união prática eficiente entre a fé vinda da evolução e a verdade vinda da revelação. Essa união eficiente, entre fé humana e verdade divina, constitui a posse de um caráter bastante bem encaminhado no sentido de adquirir realmente uma personalidade moroncial.
101:5.13 (1111.3) A religião evolucionária apenas proporciona a segurança da fé e a confirmação da consciência; a religião reveladora provê a segurança da fé mais a verdade de uma experiência viva nas realidades da revelação. O terceiro passo na religião, ou uma terceira fase da experiência na religião, tem a ver com o estado moroncial, com uma conquista mais firme dentro da mota. No curso da progressão moroncial crcscente, as verdades da religião revelada são expandidas; mais e mais, sabereis sobre a verdade dos valores supremos, da bondade divina, das relações universais, das realidades eternas e dos destinos últimos.
101:5.14 (1111.4) Durante a progressão moroncial, cada vez mais a certeza da verdade substitui a certeza da fé. Quando fordes integrados finalmente ao mundo real do espírito, então, a certeza do puro discernimento espiritual irá funcionar no lugar da fé e da verdade, ou, antes, operará em conjunção com elas, sobrepondo-se a essas técnicas anteriores no provimento da certeza à personalidade.
101:6.1 (1111.5) A fase moroncial da religião revelada tem a ver com a experiência da sobrevivência, e o seu grande anseio é alcançar a perfeição espiritual. Nela está também presente o impulso mais elevado da adoração, associado a um impulso forte, chamando para um serviço cada vez mais ético. O discernimento da visão moroncial interna facilita uma consciência sempre em expansão do Sétuplo, do Supremo e, mesmo, do Último.
101:6.2 (1111.6) Ao longo de toda a experiência religiosa, desde a sua mais tenra insipiência, no nível material, até a época do alcance de realização, de status espiritual pleno, o Ajustador é o segredo da compreensão pessoal da realidade da existência do Supremo; e esse mesmo Ajustador também mantém os segredos da vossa fé na realização transcendental do Último. A personalidade experiencial do homem, em evolução, atuando unida ao Ajustador, cuja essência é a de ser um Deus existencial, constitui a culminação na realização do potencial da existência suprema e constitui inerentemente uma base para uma factualização suprafinita da personalidade transcendental.
101:6.3 (1111.7) A vontade moral abrange decisões baseadas no conhecimento racional ampliado pela sabedoria e sancionado pela fé religiosa. Essas escolhas são atos de natureza moral e evidenciam a existência da personalidade moral, precursora da personalidade moroncial e, afinal, do status espiritual verdadeiro.
101:6.4 (1111.8) O conhecimento do tipo evolucionário não é senão uma acumulação de material protoplásmico da memória; sendo a mais primitiva forma de consciência da criatura. A sabedoria abrange as idéias formuladas da memória protoplásmica, em processo de associação e recombinação, e tais fenômenos diferenciam a mente humana da mente meramente animal. Os animais têm conhecimento, mas apenas o homem possui capacidade de sabedoria. A verdade é tornada acessível ao indivíduo dotado de sabedoria, por meio da outorga, feita à sua mente, do espírito do Pai e o dos Filhos, o Ajustador do Pensamento e o Espírito da Verdade.
101:6.5 (1112.1) Cristo Michael quando auto-outorgado em Urântia viveu sob o âmbito de uma religião evolucionária, até a época do seu batismo. Daquele momento em diante, inclusive no evento da sua crucificação, ele levou adiante o seu trabalho, sob o guiamento combinado da religião evolucionária e da religião revelada. A partir da manhã da sua ressurreição até a sua ascensão, ele passou por múltiplas fases da vida moroncial, desde a transição mortal do mundo da matéria até o mundo do espírito. Depois da sua ascensão, Michael tornou-se o mestre da experiência da Supremacia, a compreensão do Supremo; e, sendo a única pessoa em Nébadon a possuir a capacidade ilimitada de experienciar a realidade do Supremo, imediatamente atingiu o status da soberania na supremacia do seu universo local, neste e para este universo.
101:6.6 (1112.2) Para o homem, a fusão final e a unificação resultante com o Ajustador residente — a síntese da personalidade de homem e essência de Deus — fazem dele, em potencial, uma parte viva do Supremo e asseguram a esse ser, que certa vez foi um mortal, o direito de nascimento eterno de busca sem fim da finalidade do serviço no universo, para e com o Supremo.
101:6.7 (1112.3) A revelação ensina ao homem mortal que, para começar essa magnífica e intrigante aventura no espaço, por intermédio da progressão no tempo, ele deveria começar pela organização do conhecimento em idéias-decisões; para, em seguida, comandar à sabedoria que trabalhe incansavelmente na sua nobre tarefa de transformar as idéias pessoais próprias em ideais cada vez mais efetivos e práticos, mas não menos supernos, até mesmo naqueles conceitos que, sendo tão razoáveis como idéias e tão lógicos enquanto ideais, o Ajustador ousa combiná-los e espiritualizá-los, tornando-os disponíveis para essa associação na mente finita que fará deles um complemento humano factual, pronto para a ação do Espírito da Verdade dos Filhos, que são as manifestações no espaço-tempo da verdade do Paraíso — a verdade universal. A coordenação das idéias-decisões, dos ideais lógicos à verdade divina constitui a posse de um caráter reto, que é o pré-requisito para a admissão do mortal nas realidades sempre em expansão e crescentemente espirituais dos mundos moronciais.
101:6.8 (1112.4) Os ensinamentos de Jesus constituíram a primeira religião urantiana a abranger modo total uma coordenação harmoniosa de conhecimento, sabedoria, fé, verdade e amor, e, tão completa e simultaneamente, a ponto de proporcionar tranqüilidade temporal, certeza intelectual, esclarecimento moral, estabilidade filosófica, sensibilidade ética, consciência de Deus e certeza positiva da sobrevivência pessoal. A fé de Jesus apontou o caminho para a finalidade da salvação humana, para a ultimidade da realização mortal no universo, pois ela assegurou:
101:6.9 (1112.5) 1. A salvação das algemas materiais, pela realização da filiação a Deus, que é espírito.
101:6.10 (1112.6) 2. A salvação da escravidão intelectual; levando o homem a conhecer a verdade, esta verdade o libertará.
101:6.11 (1112.7) 3. A salvação da cegueira espiritual, a realização humana da fraternidade entre os seres mortais e a consciência moroncial da irmandade de todas as criaturas do universo; o serviço-descoberta da realidade espiritual e do ministério-revelação da bondade dos valores espirituais.
101:6.12 (1113.1) 4. A salvação da incompletude do eu, por meio de um alcance abrangente dos níveis espirituais no universo, e da realização final da harmonia de Havona e perfeição do Paraíso.
101:6.13 (1113.2) 5. A salvação do confinamento egoísta, a liberação das limitações da autoconsciência, por meio do alcance dos níveis cósmicos da mente do Supremo e pela coordenação com as realizações de todos os outros seres autoconscientes.
101:6.14 (1113.3) 6. A salvação e a liberação do tempo, a realização de uma vida eterna de progressão infindável no reconhecimento de Deus e no serviço de Deus.
101:6.15 (1113.4) 7. A salvação da finitude, por meio da unidade perfeita com a Deidade no e por intermédio do Supremo, por meio do qual a criatura intenta a descoberta transcendental do Último, nos níveis pós-finalitores do absonito.
101:6.16 (1113.5) Essa salvação sétupla é equivalente à realização completa e perfeita da experiência em ultimidade com o Pai Universal. E tudo isso, em potencial, está contido na realidade da fé da experiência humana na religião. E pode estar assim contida, posto que a fé de Jesus foi nutrida por realidades até mesmo além do Último, e foi reveladora delas; a fé de Jesus aproximou-se do status de um absoluto no universo, na medida em que a manifestação deste seja possível num cosmo em evolução no tempo e no espaço.
101:6.17 (1113.6) Por meio da apropriação da fé de Jesus, o homem mortal pode antecipar, no tempo, o gosto das realidades da eternidade. Jesus fez a descoberta, na sua experiência humana, do Pai Final, e os seus irmãos na carne, em vida mortal, podem segui-lo ao longo dessa mesma experiência de descoberta do Pai. Eles podem mesmo alcançar, sendo o que são, a mesma satisfação, nessa experiência com o Pai, que Jesus alcançou, sendo o que foi. Novos potenciais factualizaram-se no universo de Nébadon em conseqüência da auto-outorga final de Michael; e um destes é a iluminação renovada do caminho de eternidade que conduz ao Pai de tudo, o qual pode ser percorrido até pelos mortais de carne e sangue material, ainda na vida inicial nos planetas do espaço. Jesus foi e é o novo caminho vivo, por meio do qual o homem pode alcançar a herança divina que o Pai decretou que fosse dele, apenas ele assim o pedisse. Com Jesus ficam abundantemente demonstrados os começos e os fins da experiência de fé da humanidade, e mesmo da humanidade divina.
101:7.1 (1113.7) Uma idéia é apenas um plano teórico para a ação, ao passo que uma decisão positiva é um plano de ação confirmado. Um estereótipo é um plano de ação aceito sem a validação. Os materiais dos quais se pode fazer uma filosofia pessoal da religião são derivados tanto da experiência interior quanto da experiência do indivíduo com o ambiente. O status social, condições econômicas, oportunidades educacionais, inclinações morais, influências institucionais, desenvolvimentos políticos, tendências raciais e ensinamentos religiosos do tempo e ambiência tornam-se fatores na formulação de uma filosofia pessoal da religião. Mesmo o temperamento inerente e a inclinação intelectual determinam, de um modo marcante, o modelo de filosofia religiosa. A vocação, o casamento e as afinidades, todos influenciam na evolução dos padrões pessoais de vida.
101:7.2 (1113.8) Uma filosofia da religião evolui de um crescimento básico nas idéias, somado à vivência experiencial, pois ambos são modificados pela tendência geral de imitar o semelhante. A idoneidade das conclusões filosóficas depende de um pensamento discriminador penetrante, honesto e criterioso, em ligação com a sensibilidade para os significados e a precisão de avaliação. Os covardes morais nunca alcançam os planos elevados do pensamento filosófico; é necessário coragem para ocupar novos níveis de experiência e para intentar a exploração de domínios desconhecidos da vida intelectual.
101:7.3 (1114.1) Em breve novos sistemas de valores vêm à existência; novas formulações de princípios e padrões são feitas; hábitos e ideais são reformulados; uma idéia de um Deus pessoal é alcançada, seguida de conceitos ampliados de relações com ela.
101:7.4 (1114.2) A grande diferença entre uma filosofia religiosa e uma filosofia não-religiosa de vida consiste na natureza e nível dos valores reconhecidos e naquilo que é merecedor da lealdade. Há quatro fases na evolução da filosofia religiosa: tal experiência pode tornar-se meramente conformada e resignada à submissão à tradição e à autoridade; ou pode dar-se por satisfeita com realizações ligeiras, suficientes apenas para estabilizar a vida diária e, pois, tornar-se logo presa num nível ocasional adventício. Tais mortais abandonam o perfeito, fazendo dele um inimigo do ótimo. Um terceiro grupo progride até o nível da intelectualidade lógica, mas permanece em estagnação, em conseqüência da escravidão cultural. É verdadeiramente uma pena ver intelectos tão grandes serem mantidos tão solidamente presos pela garra cruel de laços culturais. É igualmente patético observar aqueles que transformam as correntes materialistas de uma ciência, ou de uma falsa ciência, na sua prisão cultural. O quarto nível de filosofia alcança a liberdade de todas as limitações convencionais e tradicionais e ousa pensar, agir e viver honesta, leal, destemida e verdadeiramente.
101:7.5 (1114.3) O teste chave de qualquer filosofia religiosa se dá na sua capacidade de distinguir ou não entre as realidades do mundo material e as do mundo espiritual e, ao mesmo tempo, reconhecer a sua unificação no esforço intelectual a serviço do social. Uma filosofia religiosa sólida não confunde as coisas de Deus com as coisas de César. E também não reconhece o culto estético do maravilhoso puro como um substituto para a religião.
101:7.6 (1114.4) A filosofia transforma aquela religião primitiva, que foi um grande conto de fadas da consciência, numa experiência viva com os valores ascendentes da realidade cósmica.
101:8.1 (1114.5) A crença terá alcançado o nível da fé quando estiver motivando a vida e moldando o modo de vida. A aceitação de um ensinamento como verdadeiro não é fé; é mais uma crença. Nem certeza ou convicção também não são fé. Um estado mental atinge os níveis da fé apenas quando, de fato, domina o modo de vida. A fé é um atributo vivo de uma experiência pessoal religiosa verdadeira. Acredita-se na verdade, admira-se a beleza e reverencia-se a bondade, mas não se as adora; uma atitude assim de fé salvadora é centrada em Deus apenas, que é tudo isso personificado e infinitamente mais.
101:8.2 (1114.6) A crença é sempre limitante e aprisionadora; a fé é expansiva e libertadora. A crença fixa, a fé liberta. Todavia, a fé religiosa viva é mais do que uma associação de crenças nobres; é mais do que um sistema elevado de filosofia; é uma experiência viva, voltada para os significados espirituais, junto aos ideais divinos e aos valores supremos; é conhecer a Deus e servir aos homens. As crenças podem transformar-se em posses grupais, mas a fé deve ser pessoal. As crenças teológicas podem ser sugeridas a um grupo, mas a fé apenas pode surgir individualmente no coração do religioso.
101:8.3 (1114.7) A fé haverá falsificado a sua confiabilidade ao presumir negar as realidades e conferir aos seus devotos apenas conhecimentos presumidos. A fé é traidora, quando fomenta a traição à integridade intelectual e deprecia a lealdade aos valores supremos e aos ideais divinos. A fé nunca deixa de lado o dever de resolver os problemas da vida mortal. A fé viva não fomenta o fanatismo, a perseguição ou a intolerância.
101:8.4 (1115.1) A fé não impede a imaginação criativa, nem mantém um preconceito irracional contra as descobertas da investigação científica. A fé revitaliza a religião e obriga o religioso a viver heroicamente a regra de ouro. O zelo da fé está de acordo com o conhecimento, e os seus esforços são o prelúdio de uma paz sublime.
101:9.1 (1115.2) Nenhuma revelação da religião, professada como tal, poderia ser considerada como autêntica, se deixasse de reconhecer as demandas do dever da obrigação ética que foram criadas e fomentadas pela religião evolucionária precedente. A revelação amplia infalivelmente o horizonte ético da religião evoluída e, simultânea e infalivelmente, expande as obrigações morais de todas as revelações anteriores.
101:9.2 (1115.3) Quando presumirdes fazer um julgamento crítico da religião primitiva do homem (ou sobre a religião do homem primitivo), devíeis lembrar-vos de julgar tais selvagens e de avaliar a sua experiência religiosa de acordo com o seu esclarecimento e o seu estado de consciência. Não cometais o erro de julgar a religião de alguém segundo os vossos próprios padrões de conhecimento e de verdade.
101:9.3 (1115.4) A verdadeira religião é aquela convicção sublime e profunda que, de dentro da alma, aconselha ao homem, de um modo irresistível, que seria errado para ele não acreditar naquelas realidades moronciais que constituem os seus conceitos éticos e morais mais elevados, na sua interpretação mais elevada dos maiores valores da vida e das realidades mais profundas do universo. E tal religião é simplesmente a experiência de devotar a lealdade intelectual aos ditames mais elevados da consciência espiritual.
101:9.4 (1115.5) A busca da beleza é uma parte da religião apenas na medida em que é ética e enriquece o conceito da moral. A arte só é religiosa quando se confunde com o propósito derivado da motivação espiritual elevada.
101:9.5 (1115.6) A consciência espiritual esclarecida do homem civilizado não se preocupa tanto com nenhuma crença intelectual específica nem com um modo particular de vida, quanto com a descoberta da verdade da vida, com a técnica boa e correta de reagir às situações sempre recorrentes da existência mortal. A consciência moral é apenas um nome dado ao reconhecimento e à consciência humana daqueles valores éticos e moronciais emergentes, aos quais o dever manda que o homem se conforme, no controle cotidiano e no seu modo de conduta.
101:9.6 (1115.7) Embora reconhecendo que a religião seja imperfeita, existem ao menos duas manifestações práticas da sua natureza e função:
101:9.7 (1115.8) 1. O estímulo espiritual e a pressão filosófica da religião tendem a levar o homem a projetar a sua apreciação dos valores morais diretamente para fora, na direção dos assuntos ligados aos seus semelhantes — a reação ética da religião.
101:9.8 (1115.9) 2. A religião cria, para a mente humana, uma consciência espiritualizada da realidade divina, baseada em conceitos antecedentes de valores morais, derivada deles pela fé e coordenada com conceitos supra-impostos de valores espirituais. A religião, por isso, torna-se um censor dos assuntos mortais, uma forma de crédito moral de confiança glorificada na realidade, nas realidades do tempo realçadas e nas realidades mais duradouras da eternidade
101:9.9 (1116.1) A fé transforma-se na conexão entre a consciência moral e o conceito espiritual da realidade permanente. A religião transforma-se na via pela qual o homem escapa das limitações materiais do mundo temporal e natural, para alcançar as realidades supernas do mundo eterno e espiritual, por meio da técnica da salvação, a transformação moroncial progressiva.
101:10.1 (1116.2) O homem inteligente sabe que é um filho da natureza, uma parte do universo material; e também não discerne nenhuma sobrevivência da personalidade individual nos movimentos e nas tensões de nível matemático do universo da energia. Nem jamais pode o homem discernir a realidade espiritual por meio do exame das causas e dos efeitos físicos.
101:10.2 (1116.3) Um ser humano é consciente também de que ele é uma parte do cosmo ideacional, mas, embora um conceito possa perdurar além do ciclo de uma vida mortal, nada há de inerente ao conceito que indique a sobrevivência pessoal da personalidade que o concebe. Nem o esgotamento de todas as possibilidades da lógica e da razão jamais revelará ao homem lógico, nem ao racionalizador, a verdade eterna da sobrevivência da personalidade.
101:10.3 (1116.4) O nível material da lei assegura a continuidade da causalidade, a interminável reação de efeito à ação antecedente; o nível da mente sugere a perpetuação da continuidade ideacional, o fluxo incessante da potencialidade conceitual das concepções preexistentes. No entanto, nenhum desses níveis, no universo, abre ao mortal buscador uma via escapatória para a parcialidade do seu status e da incerteza intolerável de ser uma realidade transitória no universo, uma personalidade temporal condenada a ser extinta quando da exaustão das limitadas energias vitais.
101:10.4 (1116.5) Apenas pela via moroncial, que conduz ao discernimento espiritual interior, é que o homem pode romper as cadeias inerentes ao seu status de mortal no universo. A energia e a mente podem conduzir de volta ao Paraíso e à Deidade, mas nem o dom da energia nem o dom da mente, dados ao homem, provêm diretamente dessa Deidade do Paraíso. Apenas no sentido espiritual o homem é um filho de Deus. E isso é verdade porque apenas no sentido espiritual é que o homem é atualmente dotado e residido pelo Pai do Paraíso. A humanidade nunca descobrirá a divindade a não ser por meio da via da experiência religiosa e pelo exercício da verdadeira fé. A aceitação da verdade de Deus, por meio da fé, capacita o homem a escapar dos confins circunscritos das limitações materiais e lhe dá uma esperança racional de obter o salvo-conduto para sair do reino material, onde existe a morte, e entrar no Reino espiritual, onde há a vida eterna.
101:10.5 (1116.6) O propósito da religião não é satisfazer a curiosidade sobre Deus, mas, sim, proporcionar a constância intelectual e a segurança filosófica para estabilizar e enriquecer a vida humana, combinando o mortal com o divino, o parcial com o perfeito; homem e Deus. É por intermédio da experiência religiosa que os conceitos humanos da idealidade tornam-se dotados e plenos de realidade.
101:10.6 (1116.7) Nunca haverá uma prova científica ou lógica da divindade. A razão por si só nunca poderá ratificar os valores e a excelência da experiência religiosa. Todavia, será sempre verdade que qualquer um que se disponha a cumprir a vontade de Deus compreenderá a validade dos valores espirituais. Essa é a melhor abordagem ou aproximação que pode ser realizada, no nível mortal, para oferecer provas da realidade da experiência religiosa. Tal fé proporciona a única saída das garras mecânicas do mundo material e da distorção do erro da incompletude do mundo intelectual; é a única solução descoberta para o impasse gerado no pensamento mortal a respeito da continuidade da sobrevivência da personalidade individual. É o único passaporte para a realidade completa e para a eternidade da vida em uma criação universal de amor, lei, unidade e alcance progressivo da Deidade.
101:10.7 (1117.1) A religião cura eficazmente o sentido de isolamento idealista do homem, ou de solidão espiritual; ela emancipa o crente como um filho de Deus, um cidadão de um universo novo e significativo. A religião assegura ao homem que, seguindo a luz da retidão que é discernível dentro da sua alma, ele estará assim identificando-se com o plano do Infinito e com o propósito do Eterno. Uma alma liberada desse modo começa imediatamente a sentir-se em casa nesse novo universo, o seu universo.
101:10.8 (1117.2) Após passardes pela experiência de uma tal transformação pela fé, não sereis mais uma parte escravizada do cosmo matemático, sereis mais um independente filho volicional do Pai Universal. Não mais esse filho liberado está lutando sozinho contra a condenação inexorável da terminação na existência temporal; não mais ele combate a toda a natureza, com as possibilidades desesperadamente contra si; não mais ele hesita com um medo paralisante de ter, por acaso, colocado a sua confiança numa quimera sem esperança ou de ter pregado a sua fé no alfinete errado do imaginário.
101:10.9 (1117.3) Agora, sobretudo, os filhos de Deus estão alistados juntos para lutarem na batalha que é o triunfo da realidade sobre as sombras parciais da existência. Afinal, todas as criaturas tornam-se conscientes do fato de que Deus e todas as hostes divinas, de um universo quase sem limites, estão do seu lado na luta superna para alcançar a eternidade da vida e a divindade de status. Tais filhos, liberados pela fé, certamente se alistaram nas lutas do tempo ao lado das forças supremas e das personalidades divinas da eternidade; até mesmo as estrelas, nos seus cursos, agora, estão na batalha por eles; afinal, eles contemplam o universo de dentro, do ponto de vista de Deus, e, das incertezas de um isolamento material, tudo fica transformado nas certezas da progressão espiritual eterna. E mesmo o tempo não se torna mais do que uma sombra da eternidade, lançada pelas realidades do Paraíso, sobre a panóplia, em movimento, do espaço.
101:10.10 (1117.4) [Apresentado por um Melquisedeque de Nébadon.]
O Livro de Urântia
Documento 102
102:0.1 (1118.1) PARA o materialista descrente, o homem é simplesmente um acidente evolucionário. As suas esperanças de sobrevivência estão ligadas a uma ficção que é da sua imaginação mortal; os seus medos, amores, aspirações e crenças não são senão a reação de uma justaposição incidental de certos átomos de matéria sem vida. Nenhum aparato de energia, nenhuma expressão de confiança pode transportá-lo depois do túmulo. As obras devocionais e o gênio inspirado dos melhores dos homens estão condenados a ficar extintos pela morte, pela noite longa e solitária do esquecimento eterno e da extinção da alma. O desespero sem nome é a única recompensa por viver e labutar sob o sol temporal da existência mortal. Sem piedade e lentamente, mas a cada dia de modo mais certo e apertado, a vida imprime sobre esse indivíduo a sua garra de condenação sem piedade, a qual um universo material hostil e implacável decretou fosse o insulto a coroar tudo aquilo que é belo, nobre, elevado e bom nos desejos humanos.
102:0.2 (1118.2) Contudo, não é esse o fim, nem o destino eterno do homem; essa visão não é senão o grito de desespero proferido por alguma alma errante que ficou perdida nas trevas espirituais, e que bravamente continua debatendo-se dentro dos sofismas mecanicistas de uma filosofia materialista, cega pela desordem e pelas deformações de uma erudição tornada complexa. E toda essa condenação às trevas e todo esse destino de desespero ficam, para sempre, dissipados por um esforço valente de fé da parte do mais humilde e iletrado entre os filhos de Deus sobre a Terra.
102:0.3 (1118.3) Essa fé salvadora tem o seu nascimento no coração humano, quando a consciência moral do homem compreende que os valores humanos podem ser transladados do material para o espiritual, na experiência mortal, do humano até o divino, do tempo até a eternidade.
102:1.1 (1118.4) O papel do Ajustador do Pensamento em si é a explicação de como se dá o translado do senso do dever primitivo e evolucionário do homem até aquela fé mais elevada e mais certa nas realidades eternas da revelação. Deve haver fome de perfeição no coração do homem, suficiente para assegurar-lhe a capacidade de compreender o caminho que, pela fé, que leva à realização suprema. Se um homem escolhe fazer a vontade divina, ele saberá o caminho da verdade. Torna-se literalmente verdade que “as coisas humanas devem ser conhecidas, para serem amadas, mas as coisas divinas devem ser amadas, para que sejam conhecidas”. No entanto, as dúvidas honestas e o questionamento sincero não são pecado; tais atitudes significam meramente uma demora na jornada progressiva no sentido de alcançar a perfeição. Uma confiança de criança assegura a entrada do homem no Reino da ascensão celeste, mas o progresso depende inteiramente do exercício vigoroso da fé robusta e confiante do homem amadurecido.
102:1.2 (1119.1) A razão da ciência é baseada nos fatos observáveis do tempo; a fé da religião baseia o seu argumento no programa espiritual da eternidade. O que o conhecimento e a razão não podem fazer por nós, a sabedoria verdadeira aconselha-nos a permitir que a fé realize, por intermédio do discernimento religioso e da transformação espiritual.
102:1.3 (1119.2) Devido ao isolamento, depois da rebelião, a revelação da verdade, em Urântia, tem sido confundida, com muita freqüência, com as afirmações de cosmologias parciais e transitórias. A verdade não muda de uma geração para outra, mas os ensinamentos ligados a ela sobre o mundo físico variam, de um dia para o outro e de ano para ano. A verdade eterna não deveria ser desprezada, mesmo que venha acompanhada de idéias obsoletas a respeito do mundo material. Quanto mais souberdes da ciência, tanto menos certos podereis estar; quanto mais de religião tiverdes, tanto mais seguros estareis.
102:1.4 (1119.3) As convicções da ciência procedem integralmente do intelecto; as certezas da religião brotam das próprias fundações da personalidade inteira. A ciência oferece apelo ao entendimento da mente; a religião apela à lealdade e à devoção do corpo, da mente e do espírito, e mesmo à personalidade como um todo.
102:1.5 (1119.4) Deus é tão inteiramente real e absoluto que nenhum sinal material de prova, e nenhuma demonstração ou forma de pretenso milagre pode ser oferecida em testemunho da Sua realidade. Nós sempre O reconheceremos, porque confiamos Nele, e a nossa crença Nele é integralmente baseada na nossa participação pessoal nas manifestações divinas da Sua realidade infinita.
102:1.6 (1119.5) O Ajustador do Pensamento residente infalivelmente desperta na alma do homem uma verdadeira sede e busca da perfeição, junto a uma curiosidade de longo alcance, que só pode ser satisfeita de modo adequado pela comunhão com Deus, a fonte divina desse Ajustador. A alma faminta do homem recusa-se a se satisfazer com algo menor do que alcançar pessoalmente o Deus vivo. Deus deve ser bem maior do que uma personalidade moral elevada e perfeita, entretanto, perante o nosso conceito faminto e finito, ele não pode ser nada menos.
102:2.1 (1119.6) Mentes observadoras e almas de bom discernimento sabem distinguir a religiosidade quando a sentem nas vidas dos seus semelhantes. A religião não precisa ser definida; todos nós conhecemos os seus frutos sociais, intelectuais, morais e espirituais. E tudo isso advém do fato de que a religião é propriedade da raça humana; ela não é filha da cultura. Bem verdade é que a percepção que se tem da religião é humana e, portanto, sujeita às algemas da ignorância, à escravidão da superstição, às fraudes da sofisticação mundana e às ilusões das filosofias falsas.
102:2.2 (1119.7) Uma das peculiaridades características da segurança religiosa genuína é que, não obstante a absolutez das suas afirmações e da firmeza da sua atitude, o espírito da sua expressão é tão equilibrado e ponderado que nunca transmite a mais leve impressão de auto-afirmação ou de exaltação egoísta. A sabedoria da experiência religiosa é algo como um paradoxo, pois ela tem uma origem humana, ao mesmo tempo em que procede do Ajustador. A força religiosa não é produto de prerrogativas pessoais individuais, antes é, todavia, conseqüência daquela co-participação sublime que o homem tem junto à fonte perene de toda a sabedoria. Assim, as palavras e os atos da religião verdadeira e impoluta, na sua pureza original, tornam-se de uma autoridade irresistível perante todos os mortais esclarecidos.
102:2.3 (1119.8) Difícil é identificar e analisar os fatores de uma experiência religiosa, mas não é difícil observar os praticantes religiosos vivendo e perseverando como se estivessem já em presença do Eterno. Os crentes reagem a esta vida temporal como se a imortalidade estivesse já nas suas mãos. Nas vidas desses mortais, há uma originalidade convincente e uma espontaneidade de expressão, que, para sempre, os destaca dos seus semelhantes que, nada mais absorveram do que a sabedoria sobre este mundo. As pessoas religiosas parecem viver emancipadas e livres efetivamente da pressa da usura e da tensão penosa das vicissitudes inerentes às correntes seculares do tempo; elas demonstram uma estabilidade de personalidade e uma tranqüilidade de caráter não explicada pelas leis da fisiologia, nem da psicologia, nem da sociologia.
102:2.4 (1120.1) O tempo é, invariavelmente, um elemento necessário para conseguir-se o conhecimento; a religião torna esses dons imediatamente disponíveis, se bem que haja o importante fator que é o crescimento na graça, o avanço definitivo, em todas as fases da experiência religiosa. O conhecimento é uma busca eterna, vós estais sempre aprendendo, mas nunca vos tornareis capazes de alcançar o conhecimento pleno da verdade absoluta. No conhecimento apenas, não pode haver jamais nenhuma certeza absoluta, apenas uma probabilidade crescente de aproximação; mas a alma religiosa com iluminação espiritual sabe, e sabe agora. E, ainda, essa certeza profunda e evidente não conduz esse homem religioso, mentalmente sadio, a ter um interesse menor pelos altos e baixos do progresso da sabedoria humana, que está ligada estreitamente à sua finalidade material e aos desenvolvimentos lentos da ciência.
102:2.5 (1120.2) Mesmo as descobertas da ciência não são verdadeiramente reais na consciência da experiência humana, até que sejam elucidadas e correlacionadas, até que os seus fatos mais relevantes se tornem realmente significativos, por meio da sua colocação nos circuitos das correntes de pensamento da mente. O homem mortal vê, até mesmo o seu meio ambiente físico, de um nível mental, a partir da perspectiva dos registros psicológicos desse nível mental. E, portanto, não é estranho que o homem empreste ao universo uma interpretação altamente unificada e então busque identificar essa unidade de energia da sua ciência com a unidade espiritual da sua experiência religiosa. A mente é unidade; a consciência mortal vive no nível da mente e percebe as realidades universais pelos olhos das faculdades com as quais a sua mente está dotada. A perspectiva mental não alcança a unidade existencial da fonte da realidade, a Primeira Fonte e Centro, mas ela pode, e algumas vezes irá, retratar para o homem a síntese experiencial da energia, da mente e do espírito no Ser Supremo e como Ele. A mente, porém, não pode jamais obter êxito nessa unificação das diversidades da realidade, a menos que tal mente esteja firmemente consciente das coisas materiais, dos significados intelectuais e dos valores espirituais; a unidade existe apenas na harmonia da triunidade da realidade funcional, e apenas na unidade existe a satisfação da personalidade quanto à realização da constância e da coerência cósmica.
102:2.6 (1120.3) É por meio da filosofia que a unidade fica mais bem localizada na experiência humana. E, ainda que o corpo do pensamento filosófico deva estar sempre baseado em fatos materiais, a alma e a energia da verdadeira dinâmica filosófica são um discernimento espiritual dos seres mortais.
102:2.7 (1120.4) O homem evolucionário não tem um prazer natural com o trabalho pesado. Na sua experiência de vida, acompanhar os passos das demandas impulsoras e da pressão das necessidades da experiência religiosa crescente significa manter uma atividade incessante de crescimento espiritual, manter a expansão intelectual, o desenvolvimento factual e o serviço social. Não existe religiosidade real separada de uma personalidade altamente ativa. E é por isso que os mais indolentes dos homens sempre buscam escapar dos rigores das verdadeiras atividades religiosas, por meio de uma espécie engenhosa de auto-enganação, recorrendo ao abrigo falso das doutrinas e dogmas religiosos estereotipados. A verdadeira religião, entretanto, está viva. A cristalização intelectual dos conceitos religiosos é equivalente à morte espiritual. Vós não podeis conceber uma religiosidade sem idéias, mas, quando a religião fica reduzida a uma idéia apenas, não é mais uma religião; transformou-se meramente em uma espécie de filosofia humana.
102:2.8 (1121.1) E, ainda, existem outros tipos de almas instáveis e mal disciplinadas que usariam as idéias sentimentais da religiosidade como uma forma de escapar das exigências irritantes da vida. Quando alguns mortais vacilantes e acanhados querem escapar da pressão incessante da vida evolucionária, a religião, do modo como eles a concebem, parece apresentar o refúgio mais ao seu alcance, o melhor caminho de fuga. Contudo, a missão da religião é preparar o homem para enfrentar, com valentia, e até mesmo com heroísmo, as vicissitudes da vida. A religião é o dom supremo do homem evolucionário, é aquela coisa que o capacita a prosseguir e a “resistir, como se estivesse vendo-O, a Ele que é invisível”. O misticismo, contudo, muitas vezes é algo como um refúgio da vida e é adotado por aqueles seres humanos que não amam as atividades mais duras de viver uma vida religiosa nas arenas abertas da sociedade e do comércio humano. A verdadeira religião deve atuar. A conduta será um resultado da religiosidade, quando o homem de fato estiver com ela, ou antes, quando se permitir que a religião verdadeiramente o possua. A religião nunca ficará satisfeita com o mero pensar ou com o sentimento sem atuação.
102:2.9 (1121.2) Não estamos cegos para o fato de que a religião freqüentemente atue de um modo pouco sábio, até mesmo irreligioso, mas ela atua. As aberrações da convicção religiosa têm levado a perseguições sangrentas, mas a religiosidade sempre faz alguma coisa: ela é dinâmica!
102:3.1 (1121.3) A deficiência intelectual, ou a pobreza educacional, inevitavelmente é um obstáculo para o acesso a níveis religiosos mais elevados, porque o ambiente da natureza religiosa, empobrecido assim, retira a religião do seu canal principal de contato filosófico com o mundo do conhecimento científico. Os fatores intelectuais da religião são importantes, mas, igualmente, o hiper-desenvolvimento deles transforma-se, algumas vezes, em um empecilho e em um embaraço. Uma religião deve trabalhar continuamente sob uma necessidade paradoxal: a necessidade de fazer uso efetivo do pensamento e, ao mesmo tempo, dando o desconto devido à inutilidade que é utilizar o pensamento para o fim espiritual.
102:3.2 (1121.4) A especulação religiosa é inevitável, mas é sempre nociva; a especulação invariavelmente falsifica o seu objeto. A especulação tende a transformar a religião em algo material ou humanista e, assim, ao interferir diretamente, usando a clareza do pensamento lógico a especulação leva, indiretamente, a religião a assemelhar-se a uma função do mundo temporal, aquele mesmo mundo com o qual ela deveria manter-se em perene contraste. E, portanto, a religião será sempre caracterizada por paradoxos, os paradoxos que resultam da ausência da ligação experiencial entre o nível material e o nível espiritual do universo — a mota moroncial, a sensibilidade supra-filosófica para o discernimento da verdade e para a percepção da unidade.
102:3.3 (1121.5) Os sentimentos materiais, as emoções humanas levam diretamente a ações materiais, a atos egoístas. O discernimento da visão religiosa, de motivação espiritual, conduz a ações religiosas e atos não-egoístas de serviço social e de benevolência altruísta.
102:3.4 (1121.6) O desejo religioso é a busca sedenta da realidade divina. A experiência religiosa é a realização da consciência de haver encontrado Deus. E, quando um ser humano encontra Deus, o triunfo dessa descoberta fica experienciado dentro da alma desse ser de um modo tão indescritivelmente efervescente, que ele é levado a buscar o serviço amoroso do contato com os seus semelhantes menos iluminados, não para revelar que ele encontrou Deus, mas para consentir que o transbordamento da bondade eterna que inunda a sua própria alma refresque e enobreça os seus semelhantes. A religião real conduz a um serviço social maior.
102:3.5 (1122.1) A ciência, o conhecimento, conduz à consciência do fato; a religião, a experiência, conduz à consciência de valor; a filosofia, a sabedoria, leva à consciência coordenada; a revelação (a substituta da mota moroncial) leva à consciência da verdadeira realidade; enquanto a coordenação da consciência do fato, do valor, e da verdadeira realidade constitui a consciência da realidade da personalidade, do máximo do ser, junto com a crença na possibilidade da sobrevivência daquela mesma personalidade.
102:3.6 (1122.2) O conhecimento leva à classificação dos homens e origina os estratos sociais e as castas. A religião leva ao serviço dos homens, criando, assim, a ética e o altruísmo. A sabedoria leva a uma confraternização mais elevada e melhor, tanto das idéias como das pessoas. A revelação libera os homens e inicia-os na aventura eterna.
102:3.7 (1122.3) A ciência escolhe os homens; a religião ama os homens, como a vós mesmos; a sabedoria faz justiça a homens diferentes; mas a revelação glorifica o homem e demonstra a sua capacidade de ser parceiro de Deus.
102:3.8 (1122.4) A ciência esforça-se em vão para criar a irmandade da cultura; a religião traz à vida a irmandade do espírito. A filosofia busca a irmandade da sabedoria; a revelação retrata a irmandade eterna, o Corpo de Finalidade do Paraíso.
102:3.9 (1122.5) O conhecimento faz nascer o orgulho na existência da personalidade; a sabedoria é a consciência do significado da personalidade; a religião é a experiência do conhecimento do valor da personalidade; a revelação é a confirmação da sobrevivência da personalidade.
102:3.10 (1122.6) A ciência busca identificar, analisar e classificar as partes segmentadas do cosmo ilimitado. A religião capta a idéia do todo, do cosmo inteiro. A filosofia intenta identificar os segmentos materiais da ciência com o conceito do todo, efetuado pelo discernimento da clarividência espiritual. Nos pontos em que a filosofia fracassa, nessa tentativa, a revelação tem êxito, afirmando que o círculo cósmico é universal, eterno, absoluto e infinito. Esse cosmo do EU SOU Infinito é, portanto, sem fim, sem limites e todo-inclusivo — fora do tempo, do espaço e inqualificável. E nós testemunhamos que o EU SOU Infinito é também o Pai de Michael de Nébadon e o Deus da salvação humana.
102:3.11 (1122.7) A ciência indica a Deidade como um fato; a filosofia apresenta a idéia de um Absoluto; a religião visualiza Deus como uma personalidade espiritual de amor. A revelação afirma, no fato da Deidade, a unidade, a idéia do Absoluto, e a personalidade espiritual de Deus e, além disso, apresenta esse conceito como o nosso Pai — o fato universal da existência, a idéia eterna da mente, e o espírito infinito da vida.
102:3.12 (1122.8) A investigação do conhecimento constitui a ciência; a busca da sabedoria é filosofia; o amor por Deus é religião; a sede da verdade é uma revelação. No entanto, é o Ajustador do Pensamento residente que dá o sentimento de realidade ao entendimento espiritual que o homem tem do cosmo.
102:3.13 (1122.9) Na ciência, a idéia precede à expressão da sua realização; na religião, a experiência da realização precede à expressão da idéia. Há uma diferença enorme entre a vontade de crer, do ser evolucionário, de um lado, e, do outro, o produto da razão iluminada, o discernimento religioso e a revelação — a vontade que crê.
102:3.14 (1122.10) Na evolução, a religião leva sempre o homem a criar os seus conceitos de Deus; a revelação mostra o fenômeno de Deus fazendo o homem evoluir por si próprio; enquanto, na vida terrena de Cristo Michael, nós contemplamos o fenômeno de Deus revelando a Si próprio ao homem. A evolução tende a fazer com que Deus se pareça com o homem; a revelação tende a fazer com que o homem seja semelhante a Deus.
102:3.15 (1122.11) A ciência só se satisfaz com as causas primeiras; a religião, com a personalidade suprema, e a filosofia, com a unidade. A revelação afirma que essas três são uma, e que todas são boas. O eterno real é o bem do universo, e não as ilusões temporais dos males no espaço. Na experiência espiritual de todas as personalidades, é sempre verdade que o real é o bem, e que o bem é o real.
102:4.1 (1123.1) Por causa da presença do Ajustador do Pensamento nas vossas mentes, para vós não é um mistério maior conhecer a mente de Deus do que estar seguro na consciência de conhecer qualquer outra mente, humana ou supra-humana. A religião e a consciência social têm em comum o seguinte: elas são baseadas na consciência da existência de outras mentes. A técnica por meio da qual vós podeis aceitar a idéia de alguém como sendo a vossa é a mesma pela qual vós podeis “deixar a mente que esteve em Cristo estar também em vós”.
102:4.2 (1123.2) O que é a experiência humana? É simplesmente qualquer interação entre um eu ativo e questionador, e qualquer outra realidade ativa e externa. A massa total da experiência é determinada pela profundidade do conceito mais a totalidade do reconhecimento da realidade do lado externo. A movimentação da experiência iguala-se à força da imaginação expectante, mais a acuidade da descoberta sensorial das qualidades externas da realidade contatada. O fato da experiência encontra-se na autoconsciência, mais outras existências — coisas, mentalidades e espiritualidades outras.
102:4.3 (1123.3) Muito cedo o homem torna-se consciente de que ele não está só no mundo, ou no universo, e desenvolve-se nele uma tomada de consciência natural e espontânea de outras mentes no ambiente individual. A fé traduz essa experiência natural em religião, no reconhecimento de Deus como realidade — fonte, natureza e destino — de outra mente. Contudo, tal conhecimento de Deus é, agora e sempre, uma realidade da experiência pessoal. Se Deus não fosse uma personalidade, Ele não poderia ser uma parte viva da experiência religiosa real de uma personalidade humana.
102:4.4 (1123.4) O elemento de erro presente na experiência religiosa humana é diretamente proporcional ao conteúdo de materialismo que contamina o conceito espiritual feito sobre o Pai Universal. A época pré-espiritual do progresso humano no universo consiste na experiência de despojar-se dessas idéias errôneas sobre a natureza de Deus e sobre a realidade do espírito puro e verdadeiro. A Deidade é mais do que espírito, mas a abordagem espiritual é a única possível ao homem ascendente.
102:4.5 (1123.5) A oração, de fato, é uma parte da experiência religiosa, mas tem sido erradamente enfatizada pelas religiões modernas, em detrimento da comunhão da adoração, que é mais essencial. Os poderes refletivos da mente são aprofundados e ampliados pela adoração. A prece pode enriquecer a vida, mas a adoração ilumina o destino.
102:4.6 (1123.6) A religião revelada é o elemento unificador da existência humana. A revelação unifica a história, coordena a geologia, a astronomia, a física, a química, a biologia, a sociologia e a psicologia. A experiência espiritual é a alma real do cosmo do homem.
102:5.1 (1123.7) Embora o estabelecimento do fato da crença não seja equivalente ao estabelecimento do fato daquilo em que se crê, contudo, a progressão evolucionária de uma simples vida até o status de personalidade demonstra bem, para começar, o fato da existência do potencial da personalidade. E, nos universos do tempo, o potencial tem sempre supremacia sobre o factual. No cosmo em evolução, o potencial é o que está para vir a ser, e o que está para vir a ser é um desdobramento dos mandados da intenção ou propósito da Deidade.
102:5.2 (1124.1) Essa mesma supremacia de propósito é perceptível na evolução da ideação da mente, quando o medo animal primitivo é transmutado em uma reverência, cada vez mais profunda, a Deus, e em uma admiração temerosa crescente pelo universo. O homem primitivo teve mais temor religioso do que fé; e a supremacia dos potenciais espirituais sobre os fatos da mente fica evidenciada quando esse medo covarde traduz-se na fé viva nas realidades espirituais.
102:5.3 (1124.2) Vós podeis elaborar uma psicologia da religião evolucionária, mas não a da religiosidade de origem espiritual, vivida na experiência pessoal. A moralidade humana pode reconhecer valores, mas apenas a religião pode conservar, exaltar e espiritualizar tais valores. E, apesar de tudo isso, a religião é algo mais do que uma moralidade emocional. A religião está para a moralidade, como o amor está para o dever, como a filiação está para a servidão, como a essência está para a substância. A moralidade revela um Controlador Todo-Poderoso, uma Deidade a quem se deve servir; a religião revela um Pai cheio de amor, um Deus a ser amado e adorado. E, uma vez mais, isso se dá porque a potencialidade espiritual da religião predomina sobre o ato do dever, na moralidade da evolução.
102:6.1 (1124.3) A eliminação do medo religioso, concretizada pela filosofia, e o progresso firme da ciência contribuem grandemente para a mortandade dos deuses falsos; e, ainda que a perda dessas deidades criadas pelos homens possa momentaneamente nublar a visão espiritual, ela finalmente destrói a ignorância e a superstição que há muito obscureciam o Deus vivo do amor eterno. A relação entre a criatura e o Criador é uma experiência viva, uma fé religiosa dinâmica, que não se pode sujeitar a uma definição precisa. Isolar parte da vida e chamá-la de religião é desintegrar a vida e distorcer a religião. E é exatamente por isso que o Deus merecedor da nossa adoração espera a nossa fidelidade por inteiro, ou nenhuma.
102:6.2 (1124.4) Os deuses dos homens primitivos podem ter sido nada mais do que sombras deles próprios; o Deus vivo é a luz divina cujas interrupções geram as sombras da criação do espaço inteiro.
102:6.3 (1124.5) A pessoa religiosa de algum alcance filosófico possui fé em um Deus pessoal de salvação pessoal, em algo mais do que uma realidade: um valor, um nível de realização, um processo elevado, uma transmutação última no tempo-espaço, uma idealização, uma personalização da energia, uma entidade da gravidade, uma projeção humana, a idealização do eu, um impulso elevador da natureza, a inclinação para o bem, o impulso que leva a evolução adiante, ou uma hipótese sublime. O religioso tem fé em um Deus de amor. O amor é a essência da religião e a fonte infalível da civilização superior.
102:6.4 (1124.6) Na experiência religiosa, a fé transforma o Deus filosófico da probabilidade no Deus da certeza salvadora. O ceticismo pode desafiar as teorias da teologia, mas a convicção de que se pode ter segurança na experiência pessoal afirma a verdade daquela crença que se ampliou até a fé.
102:6.5 (1124.7) As convicções sobre Deus podem ser alcançadas por meio do raciocínio sábio, mas os indivíduos tornam-se conhecedores de Deus apenas pela fé, por meio da experiência pessoal. Para muitas coisas da vida, deve-se contar com a probabilidade, mas, ao contatar a realidade cósmica, uma certeza pode ser experienciada, quando tais significados e valores são abordados pela fé viva. A alma que conhece a Deus ousa dizer: “eu conheço”, mesmo quando esse conhecimento de Deus é questionado pelo descrente que nega essa certeza, porque não é totalmente consubstanciada pela lógica intelectual. Para cada um desses incrédulos, o crente apenas responde: “Como sabes tu que eu não sei?”
102:6.6 (1125.1) Embora a razão possa questionar a fé, a fé sempre pode suplementar tanto a razão quanto a lógica. A razão cria a probabilidade de que até mesmo uma experiência espiritual possa ser transformada em uma certeza moral pela fé. Deus é a primeira verdade e o último fato; e, portanto, toda a verdade tem origem Nele, e todos os fatos existem em relação a Ele. Deus é a verdade absoluta. Pode-se conhecer a Deus como verdade, mas, para compreender — para explicar — a Deus, deve-se explorar o fato da existência do universo dos universos. O imenso abismo entre a experiência da verdade da existência de Deus e a ignorância dessa existência factual pode ser vencido apenas por meio da fé viva. A razão apenas não pode estabelecer a harmonia entre a verdade infinita e o fato universal.
102:6.7 (1125.2) A crença pode não ser capaz de resistir à dúvida, nem de suportar o medo, mas a fé é triunfante sempre sobre a dúvida, pois a fé é não apenas positiva, como também é viva. O que é positivo tem sempre vantagem sobre o negativo, a verdade sobre o erro, a experiência sobre a teoria, as realidades espirituais sobre os fatos isolados do tempo e do espaço. A prova convincente dessa certeza espiritual consiste nos frutos sociais do espírito, que os crentes, os homens de fé geram, como resultado dessa experiência espiritual genuína. Disse Jesus: “Se vós amardes os vossos semelhantes como eu vos amei, então todos os homens saberão que vós sois discípulos meus”.
102:6.8 (1125.3) Para a ciência, Deus é uma possibilidade; para a psicologia, uma coisa desejável; para a filosofia, uma probabilidade; e para a religião, uma certeza, um fato experiencial na religiosidade. A razão requer que uma filosofia que não pode encontrar o Deus da probabilidade deva ter bastante respeito pela fé religiosa que é capaz de encontrar o Deus da certeza, e o encontra. E a ciência não deveria desdenhar a experiência religiosa pelo seu aspecto de credulidade, pelo menos enquanto a ciência persiste em supor que a dotação intelectual e filosófica do homem proveio de inteligências que diminuiem à medida que se retroage até o passado remoto, finalmente, tendo origem na vida primitiva, que era totalmente desprovida de qualquer pensamento e de qualquer sentimento.
102:6.9 (1125.4) Os fatos da evolução não devem ser colocados contra a verdade de que a experiência espiritual da vida religiosa de um mortal conhecedor de Deus traga em si uma certeza e seja uma realidade. Os homens inteligentes deveriam cessar de raciocinar como crianças e tentar usar uma lógica adulta consistente, lógica esta que tolera conceitos da verdade, ao longo da observação do fato. O materialismo científico atinge a própria falência, quando persiste, em face de cada fenômeno que se repete no universo, em basear as suas objeções atuais em uma comparação do que é reconhecidamente mais elevado, referindo-o ao que é reconhecidamente inferior. A coerência requer o reconhecimento das atividades de um Criador com um propósito.
102:6.10 (1125.5) A evolução orgânica é um fato; a evolução com um propósito, ou progressiva, é uma verdade que torna consistentes os fenômenos contraditórios, de outro lado, das realizações cada vez mais ascendentes da evolução. Quanto mais rápido for o progresso de qualquer cientista, na ciência que escolheu, tanto mais ele abandonará as teorias materialistas do fato, em favor da verdade cósmica do predomínio da Mente Suprema. O materialismo deprecia a vida humana; o evangelho de Jesus eleva tremendamente e exalta supernamente cada mortal. A existência mortal deve ser visualizada como consistindo da experiência misteriosa e fascinante da realização da realidade da tentativa humana de alcançar acima e da mão divina realizando a salvação abaixo.
102:7.1 (1126.1) O Pai Universal, existindo por Si próprio, também Se explica por Si próprio; Ele de fato vive em cada mortal racional. Vós, porém, não podeis estar seguros sobre Deus a menos que O conheçais; a filiação é a única experiência que torna certa a paternidade. O universo está sofrendo alterações em todas as suas partes. Um universo em mudança é um universo dependente; tal criação não pode ser nem final nem absoluta. Um universo finito é totalmente dependente do Último e do Absoluto. O universo e Deus não são idênticos; um é a causa, o outro é o efeito. A causa é absoluta, infinita, eterna e imutável; o efeito é tempo-espacial e transcendental, mas está sempre em mudança, sempre em crescimento.
102:7.2 (1126.2) Deus é o único fato no universo que causou a Si próprio. Ele é o segredo da ordem, do plano e do propósito de toda a criação de coisas e seres. O universo em total mudança é regulado e estabilizado por leis absolutamente imutáveis, pelos hábitos de um Deus imutável. O fato de Deus, ou a lei divina, é imutável; a verdade de Deus, a sua relação com o universo, é uma revelação relativa, que é sempre adaptável ao universo em constante evolução.
102:7.3 (1126.3) Aqueles que inventam uma religião sem Deus são como aqueles que querem colher os frutos sem as árvores, ter os filhos sem os pais. Vós não podeis ter efeitos sem causas; apenas o EU SOU existe sem causa. O fato da experiência religiosa implica um Deus, e um Deus assim de experiência pessoal deve ser uma Deidade pessoal. Vós não podeis orar para uma fórmula química, suplicar a uma equação matemática, adorar uma hipótese, confidenciar a um postulado, comungar com um processo, servir a uma abstração, ou manter um companheirismo amoroso com uma lei.
102:7.4 (1126.4) É verdade que muitos traços aparentemente religiosos podem surgir de raízes não religiosas. O homem pode, intelectualmente, negar a Deus e ainda ser moralmente bom, leal, filial, honesto e até mesmo idealista. O homem pode enxertar muitos ramos puramente humanistas à sua natureza espiritual básica e assim, aparentemente, provar a sua argumentação em favor de uma religião sem Deus, mas tal experiência é desprovida de valores de sobrevivência, de conhecimento de Deus e de ascensão a Deus. Em uma experiência mortal, como essa, apenas os frutos sociais são colhidos, não os espirituais. O enxerto determina a natureza da fruta, não obstante o sustento para a vida ser retirado das raízes do dom divino original, tanto da mente quanto do espírito.
102:7.5 (1126.5) O sinal intelectual de identificação da religiosidade é a certeza; a característica filosófica é a coerência; os frutos sociais são o amor e o serviço.
102:7.6 (1126.6) O indivíduo que é sabedor de Deus não é um cego para as dificuldades, nem um desatento aos estorvos nos quais esbarra no caminho de encontrar Deus, em meio à ilusão da superstição, da tradição e das tendências materialistas dos tempos modernos. Ele deparou com todas essas ameaças e triunfou sobre elas, superou-as pela fé viva, e alcançou as terras altas da experiência espiritual, a despeito delas. No entanto, é verdade que muitos que estão interiormente seguros de Deus temem afirmar esses sentimentos de certeza, por causa da multiplicidade e esperteza daqueles que reúnem objeções para amplificar as dificuldades de se acreditar em Deus. Não é necessária nenhuma grande profundidade de intelecto para reparar em pontos fracos, para fazer perguntas, ou levantar objeções. Em contrapartida, contudo, é necessário um certo brilho mental para responder a essas colocações e para resolver essas dificuldades; a certeza da fé é a melhor técnica para lidar com todas essas argumentações superficiais.
102:7.7 (1127.1) Se a ciência, a filosofia ou a sociologia ousarem ser dogmáticas, ao argumentarem com os profetas da religião verdadeira, então os homens sabedores de Deus deveriam responder a um tal dogmatismo injustificado com aquele dogmatismo, de visão mais ampla, proveniente da segurança da experiência espiritual pessoal: “eu sei o que experimentei, porque sou um filho do EU SOU”. Se a experiência pessoal de um homem de fé for desafiada pelo dogma, então esse filho, nascido pela fé, do Pai experienciável, pode responder àquele dogma incontestável com a afirmação da sua filiação real ao Pai Universal.
102:7.8 (1127.2) Somente uma realidade inqualificável, um absoluto, poderia ousar ser dogmático de um modo coerente. Aqueles que assumem ser dogmáticos devem, se coerentes, mais cedo ou mais tarde, ser lançados nos braços do Absoluto da energia, do Universal da verdade e do Infinito do amor.
102:7.9 (1127.3) Se as abordagens, feitas pelo não-religioso, da realidade cósmica presumem desafiar a certeza da fé, nos campos do seu status de não-comprovada, então, aquele que experiencia o espírito pode, do mesmo modo, recorrer ao desafio dogmático dos fatos da ciência e das crenças da filosofia nos terrenos em que estes são, do mesmo modo, não comprovados; pois eles são, do mesmo modo, experiências na consciência do cientista ou do filósofo.
102:7.10 (1127.4) Sobre Deus, a mais inescapável de todas as presenças, o mais real de todos os fatos, a mais viva de todas as verdades, o mais pleno de amor de todos os amigos e o mais divino de todos os valores, nós temos o direito de tê-Lo como na conta da mais certa de todas as experiências do universo.
102:8.1 (1127.5) A mais elevada evidência da realidade e eficácia da religião reside no fato da experiência humana; isto é, está no fato de que o homem, naturalmente temeroso e cheio de suspeitas, dotado inatamente com um instinto forte de autopreservação e aspirando à sobrevivência depois da morte, esteja disposto a confiar plenamente os seus mais profundos interesses do presente e do futuro á guarda e direção do poder da pessoa designada pela sua fé como sendo Deus. Esta é a verdade central de toda a religião. Quanto ao que aquele poder ou pessoa exige do homem, em troca dessa guarda e da salvação final, não há duas religiões que concordem nesse ponto; de fato, todas elas são mais ou menos discordantes.
102:8.2 (1127.6) Com respeito ao status de qualquer religião, na escala evolucionária, ela pode ser mais bem analisada segundo os seus julgamentos morais e pelos seus padrões éticos. Quanto mais elevado for o tipo de uma religião, mais ela encoraja e é encorajada por uma moralidade social e uma cultura ética que estão constantemente em progresso. Nós não podemos julgar a religião pelo status da civilização que a acompanha; seria melhor que estimássemos a natureza real de uma civilização, pela pureza e nobreza da sua religião. Muitos dos mais notáveis entre os instrutores religiosos do mundo eram virtualmente iletrados. A sabedoria mundana não é necessariamente um exercício de fé salvadora nas realidades eternas.
102:8.3 (1127.7) A diferença entre as religiões de várias épocas depende totalmente das diferentes compreensões que o homem tem da realidade e dos diferentes reconhecimentos que ele tem dos valores morais, das relações éticas e das realidades espirituais.
102:8.4 (1127.8) A ética é o espelho social ou racial eterno em que se reflete fielmente o progresso, inobservável de outra maneira, nos desenvolvimentos da espiritualidade e religiosidade interiores. O homem sempre pensou em Deus nos termos do melhor que ele conhece, das suas idéias mais profundas e dos ideais mais elevados. Mesmo a religião histórica sempre criou as suas concepções de Deus a partir dos seus valores reconhecidamente mais elevados. Toda criatura inteligente dá o nome de Deus à melhor e mais elevada coisa que conhece
102:8.5 (1128.1) A religião, quando reduzida aos termos da razão e expressão intelectual, tem sempre ousado criticar a civilização e o progresso evolucionário, julgando-os segundo os seus próprios padrões de cultura ética e de progresso moral.
102:8.6 (1128.2) Embora a religião pessoal preceda à evolução da moral humana, lamentavelmente, registra-se que a religião institucional tem-se atrasado invariavelmente, ficando atrás até mesmo dos costumes mutáveis das raças humanas. A religião organizada tem demonstrado ser conservadoramente tardia. Os profetas, em geral, têm conduzido o povo a desenvolvimentos religiosos; os teólogos, em geral, o têm mantido na retaguarda. A religião, sendo uma questão de experiência interior ou pessoal, nunca pode desenvolver-se muito avançadamente à frente da evolução intelectual das raças.
102:8.7 (1128.3) Entretanto, a religião nunca é engrandecida por um apelo àquilo que é considerado miraculoso. A busca dos milagres é um recuo de volta às religiões primitivas da magia. A verdadeira religião nada tem a ver com supostos milagres, e a religião revelada nunca apontou os milagres como sendo comprovação de autoridade. O ato religioso está ancorado e enraizado sempre na experiência pessoal. E a vossa mais elevada religião, a vida de Jesus, foi exatamente uma experiência pessoal: o homem, o homem mortal, buscando a Deus e encontrando-O na plenitude, durante uma curta vida na carne, enquanto, na mesma experiência humana, surgiu Deus buscando o homem e encontrando-o para a plena satisfação da alma perfeita da supremacia infinita. E isto é religião, sendo mesmo a mais elevada religião já revelada no universo de Nébadon — a vida terrena de Jesus de Nazaré.
102:8.8 (1128.4) [Apresentado por um Melquisedeque de Nébadon.]
O Livro de Urântia
Documento 103
103:0.1 (1129.1) TODAS as reações verdadeiramente religiosas do homem são promovidas pela ministração inicial do ajudante da adoração e são censuradas pelo ajudante da sabedoria. A primeira dotação de supramente do homem é a do circuitamento da sua personalidade ao Espírito Santo, vindo do Espírito Criativo do Universo; e, bem antes das auto-outorgas dos Filhos divinos e da dádiva dos Ajustadores passar a ser universal, essa influência funciona para ampliar o ponto de vista do homem sobre a ética, a religião e a espiritualidade. Após as auto-outorgas dos Filhos do Paraíso, o Espírito da Verdade liberado faz poderosas contribuições para a ampliação da capacidade humana de perceber as verdades religiosas. À medida que avança a evolução, em um mundo habitado, os Ajustadores do Pensamento participam crescentemente do desenvolvimento dos tipos mais elevados de discernimento interior religioso no homem. O Ajustador do Pensamento é a janela cósmica através da qual a criatura finita, pela fé, pode antever muito sobre os aspectos certos e divinos da Deidade ilimitada, o Pai Universal.
103:0.2 (1129.2) As tendências religiosas das raças humanas são inatas; elas são manifestadas de um modo universal e têm uma origem aparentemente natural; as religiões primitivas são sempre evolucionárias na sua gênese. À medida que a experiência religiosa natural continua o seu progresso, revelações periódicas da verdade pontuam o fluir da evolução planetária, a qual, não fora por isso, seria mais lenta.
103:0.3 (1129.3) Em Urântia, hoje, há quatro espécies de religião:
103:0.4 (1129.4) 1. A religião natural ou evolucionária.
103:0.5 (1129.5) 2. A religião supranatural ou da revelação.
103:0.6 (1129.6) 3. A religião prática ou corrente: mistos, em vários graus, de religiões naturais e supranaturais.
103:0.7 (1129.7) 4. As religiões filosóficas: doutrinas teológicas, feitas pelo homem ou pensadas pela filosofia e criadas pela razão.
103:1.1 (1129.8) A unidade da experiência religiosa em um grupo social ou racial nasce da natureza idêntica dos fragmentos de Deus, que residem nos indivíduos. É essa parte divina no homem que dá origem ao seu interesse não-egoísta pelo bem-estar de outros homens. Contudo, posto que a personalidade é única — não havendo dois seres mortais iguais — , ocorre inevitavelmente que não há dois seres humanos que possam interpretar, de modo similar, a condução e os impulsos do espírito da divindade que vive dentro das suas mentes. Os seres de um grupo de mortais podem experienciar a unidade espiritual, mas eles não podem nunca alcançar a uniformidade filosófica. E essa diversidade de interpretação da experiência e do pensamento religiosos é mostrada pelo fato de que os teólogos e os filósofos do século vinte têm formulado mais de quinhentas definições diferentes para a religião. Na realidade, cada ser humano define a religião nos termos da sua própria interpretação experiencial dos impulsos divinos que emanam do espírito de Deus, que reside em si próprio e, portanto, essa interpretação deve ser única e totalmente diferente da filosofia religiosa de todos os outros seres humanos.
103:1.2 (1130.1) Quando um mortal está de pleno acordo com a filosofia religiosa de um semelhante mortal, esse fenômeno indica que esses dois seres tiveram uma experiência religiosa semelhante, no que toca às questões das similaridades entre as suas interpretações filosóficas religiosas.
103:1.3 (1130.2) Ainda que a vossa religião seja uma questão de experiência pessoal, é muito importante que vós devêsseis ser expostos ao conhecimento de um vasto número de outras experiências religiosas (as interpretações diversas de mortais diversos) com a finalidade de que possais impedir a vossa vida religiosa de tornar-se egocêntrica — circunscrita, egoísta e antisocial.
103:1.4 (1130.3) O racionalismo erra quando assume que a religião é, em primeiro lugar, uma crença primitiva em alguma coisa, e que, então, é seguida da busca de valores. A religião é principalmente uma busca de valores, que, em seguida, formula um sistema de crenças interpretativas. É muito mais fácil para os homens concordarem quanto aos valores religiosos — metas — , do que quanto às crenças — interpretações. E isso explica como a religião pode concordar quanto aos valores e metas permitindo ao mesmo tempo a existência de fenômenos confusos, tais como continuar admitindo centenas de crenças conflitantes — os credos. Isso explica, também, por que uma determinada pessoa pode manter a sua experiência religiosa, mesmo cedendo ou mudando muitas das suas crenças religiosas. A religião persiste, a despeito das mudanças evolucionárias nas crenças religiosas. A teologia não produz a religião; é a religião que produz a filosofia teológica.
103:1.5 (1130.4) O fato de que os religiosos tenham acreditado em tantas coisas que eram falsas não invalida a religião, pois esta é fundada no reconhecimento de valores, e é validada pela fé da experiência religiosa pessoal. A religião, então, baseia-se na experiência e no pensamento religioso; a teologia, a filosofia da religião, é uma tentativa honesta de interpretar aquela experiência. Essas crenças interpretativas podem estar certas ou erradas, ou serem uma mistura de verdade e de erro.
103:1.6 (1130.5) O reconhecimento, tornado realidade, dos valores espirituais é uma experiência que é supra-ideacional. Não há nenhuma palavra, em nenhuma língua humana, que possa ser empregada para designar esse “senso”, “sentimento”, “intuição” ou “experiência”, que escolhemos chamar de consciência de Deus. O espírito de Deus que reside no homem não é pessoal — o Ajustador é pré-pessoal — , mas esse Monitor apresenta um valor, exala um sabor de divindade, que não é pessoal, no sentido mais elevado e infinito. Se Deus não fosse ao menos pessoal, ele não seria consciente, e não sendo consciente, então ele seria infra-humano.
103:2.1 (1130.6) A religião é funcional na mente humana; e tem sido consubstanciada na experiência antes do seu aparecimento na consciência humana. Uma criança já existe cerca de nove meses antes de experimentar o nascimento. O “nascimento” da religião, porém, não é súbito; é antes uma emergência gradativa. Entretanto, mais cedo ou mais tarde, há o “dia do nascimento”. Vós não entrareis no Reino do céu, a menos que tenhais “nascido novamente” — nascido do espírito. Muitos nascimentos espirituais são acompanhados de muita angústia de espírito e marcados por perturbações psicológicas, do mesmo modo que muitos nascimentos físicos são caracterizados por um “trabalho difícil” e outras anormalidades no “parto”. Outros nascimentos espirituais são um crescimento natural e normal de reconhecimento dos valores supremos, com um enaltecimento da experiência espiritual, ainda que nenhum desenvolvimento religioso ocorra sem um esforço consciente e positivo de determinação individual e pessoal. O ato religioso nunca é uma experiência passiva, uma atitude negativa. Aquilo que é denominado o “nascimento da religião” não é associado diretamente às experiências chamadas de conversão, que geralmente caracterizam os episódios religiosos que ocorrem tardiamente na vida, em resultado de conflito mental, de repressão emocional e de altercações temperamentais.
103:2.2 (1131.1) No entanto, essas pessoas que foram criadas de tal modo pelos seus pais, que cresceram na consciência de serem filhos de um Pai celeste amoroso, não deveriam olhar de soslaio para os seus semelhantes mortais que só puderam atingir essa consciência de amizade com Deus por intermédio de uma crise psicológica, de um abalo emocional.
103:2.3 (1131.2) O solo evolucionário, na mente do homem em quem a semente da religião revelada germina, é a natureza moral, que muito cedo dá origem a uma consciência social. Os primeiros impulsos de natureza moral em uma criança nada têm a ver com sexo, culpa ou orgulho pessoal, mas têm, sim, mais a ver com os impulsos da justiça, da retidão e os desejos de bondade — a ministração colaboradora para com o semelhante. E quando esse primeiro despertar moral é nutrido, ocorre um desenvolvimento gradual da vida religiosa que é relativamente livre de conflitos, de abalos e de crises.
103:2.4 (1131.3) Todo ser humano experimenta, muito cedo, algo como um conflito entre a sua busca pessoal e os seus impulsos altruístas e, muitas vezes, a primeira experiência de consciência de Deus pode ser alcançada em resultado da busca de ajuda supra-humana na tarefa de resolver tais conflitos morais.
103:2.5 (1131.4) A psicologia de uma criança é naturalmente positiva, não negativa. Muitos mortais são negativos porque foram treinados para ser assim. Quando se diz que a criança é positiva, isso se refere aos seus impulsos morais, aqueles poderes da mente cuja emergência assinala a chegada do Ajustador do Pensamento.
103:2.6 (1131.5) Na ausência de ensinamentos errôneos, a mente da criança normal move-se positivamente, quando surge a consciência religiosa, que a leva na direção da retidão moral e do servir social, mais do que negativamente, fugindo do pecado e da culpa. Pode haver, ou não, conflito no desenvolvimento da experiência religiosa, mas estão sempre presentes as inevitáveis decisões, o esforço e a função da vontade humana.
103:2.7 (1131.6) A escolha moral é acompanhada, usualmente, por conflitos morais maiores ou menores. E esse primeiro conflito, na mente da criança, dá-se entre a premência do egoísmo e os impulsos do altruísmo. O Ajustador do Pensamento não desconsidera os valores da personalidade com motivo egoísta, e não opera no sentido de colocar a mais leve preferência sobre o impulso altruísta, como sendo o que leva à meta da felicidade humana e às alegrias do Reino do céu.
103:2.8 (1131.7) Quando um ser moral escolhe não ser egoísta, ao deparar com o impulso de ser egoísta, esta é a experiência religiosa primitiva. Nenhum animal pode fazer essa escolha; tal decisão não só é humana, como é religiosa. Ela abrange o fato de se ter consciência da existência de Deus, demonstrando o impulso para o serviço social, a base da irmandade dos homens. Quando a mente escolhe um julgamento moral certo, por um ato de livre-arbítrio, essa decisão constitui uma experiência religiosa.
103:2.9 (1131.8) Todavia, antes que a criança se haja desenvolvido suficientemente até adquirir a capacidade moral e, portanto, até ser capaz de escolher o serviço altruísta, ela já desenvolveu uma natureza egoísta forte e bem unificada. E é essa situação factual que dá surgimento à teoria da luta entre a natureza “mais elevada” e a “mais baixa”, entre o “homem velho do pecado” e a “nova natureza” da graça. Muito cedo, na vida, a criança normal começa a aprender que “dar é mais abençoado do que receber”.
103:2.10 (1131.9) O homem tende a identificar o impulso de atender às próprias necessidades do seu ego, com o seu eu — consigo próprio. E, ao mesmo tempo, inclina-se a identificar a vontade de ser altruísta com alguma influência exterior a ele próprio — Deus. E esse julgamento de fato está certo, pois todos os desejos altruístas têm a sua origem nos guiamentos do Ajustador do Pensamento residente, e esse Ajustador é um fragmento de Deus. A consciência humana correlaciona o impulso do Monitor espiritual com a tendência de ser altruísta, de pensar fraternalmente. Ao menos, essa é a experiência primeira e fundamental na mente da criança. Quando a criança em crescimento não tem êxito em unificar a sua personalidade, a tendência altruísta pode tornar-se tão superdesenvolvida a ponto de causar um prejuízo sério ao bem-estar do eu. Uma consciência mal orientada pode tornar-se responsável por muitos conflitos, preocupações, tristezas e um sem-fim de infelicidades humanas.
103:3.1 (1132.1) Ainda que as crenças em espíritos, em sonhos e em diversas outras superstições hajamm, todas, tido exercido um papel na origem evolucionária das religiões primitivas, vós não devíeis desprezar a influência do clã nem o espírito de solidariedade tribal. Nas relações grupais, fica apresentada a situação social exata que proporcionou o desafio ao conflito entre o egoísmo e o altruísmo na natureza moral da mente primitiva do homem. A despeito da sua crença em espíritos, os australianos primitivos ainda concentram no clã o foco da sua religião. Com o tempo, tais conceitos religiosos tendem a se personalizar, primeiro, como animais, e, mais tarde, como um ser supra-humano, ou um Deus. Até mesmo as raças inferiores, tais como os bosquímanos africanos, os quais não chegam nem a ser totêmicos nas suas crenças, reconhecem a diferença entre o interesse próprio e o interesse grupal, fazem uma diferenciação primitiva entre os valores do secular e do sagrado. O grupo social não é, porém, a fonte da experiência religiosa. Apesar da influência de todas essas contribuições primitivas para a religião inicial do homem, permanece o fato de que o verdadeiro impulso religioso tem a sua origem nas presenças genuínas de espíritos ativando a vontade de ser não-egoísta.
103:3.2 (1132.2) A religião posterior é prenunciada na crença primitiva nas maravilhas naturais e mistérios, o maná impessoal. Mais cedo ou mais tarde, no entanto, a religião em evolução requer que o indivíduo faça algum sacrifício pessoal pelo bem do seu grupo social, requer que ele faça alguma coisa para deixar os outros mais felizes e melhores. No fim das contas, a religiosidade está destinada a tornar-se o serviço a Deus e ao homem.
103:3.3 (1132.3) A religião está destinada a mudar o meio ambiente do homem, mas grande parte da religiosidade encontrada entre os mortais, hoje, tornou-se impotente para realizar isso. O ambiente, muito freqüentemente, tem orientado a religiosidade.
103:3.4 (1132.4) Lembrai-vos de que, na religião de todas as épocas, a experiência suprema é o sentimento a respeito dos valores morais e dos significados sociais, não o pensamento a respeito dos dogmas teológicos ou das teorias filosóficas. A religião evolui favoravelmente, à medida que um elemento de magia é substituído pelo conceito da moral.
103:3.5 (1132.5) O homem evoluiu por meio das superstições do maná, da magia, da adoração da natureza, do medo dos espíritos e da adoração aos animais, até vários cerimoniais por intermédio dos quais a atitude religiosa do indivíduo tornou-se as reações grupais do clã. E, então, essas cerimônias tornaram-se focalizadas e cristalizadas nas crenças tribais e, finalmente, esses medos e fés tornaram-se personalizadas em deuses. Em toda a evolução religiosa, entretanto, o elemento moral nunca esteve totalmente ausente. O impulso de Deus dentro do homem foi sempre poderoso. E essas influências poderosas — uma, a humana; e outra, a divina — asseguraram a sobrevivência da religião, por meio das vicissitudes das idades, não obstante as ameaças muito freqüentes de extinção, vindas da parte de mil tendências subvertedoras e de antagonismos hostis.
103:4.1 (1133.1) A diferença característica entre uma ocasião social e uma reunião religiosa é que, ao contrário da secular, a ocasião religiosa é permeada pela atmosfera da comunhão. Nesse sentido, a associação humana gera um sentimento de irmandade com o divino, e isso é o começo da adoração grupal. Compartilhar uma refeição comum foi o primeiro tipo de comunhão social; e assim as religiões primitivas colaboraram com aquela parte do sacrifício cerimonial que deveria ser comida pelos adoradores. Mesmo no cristianismo, a Ceia do Senhor conserva esse modo de comunhão. A atmosfera da comunhão proporciona um período restaurador e confortador de trégua ao ego, o qual está no conflito da busca a si próprio, encontrando nessa trégua o impulso altruísta do espírito Monitor residente. E isso é um prelúdio à verdadeira adoração — a prática da presença de Deus que acontece no surgimento da irmandade dos homens.
103:4.2 (1133.2) Quando sentiu que a sua comunhão com Deus havia sido interrompida, o homem primitivo recorreu a sacrifícios de algum tipo, em um esforço para fazer a expiação das relações amigáveis, restaurando-as. A fome e a sede de retidão conduzem à descoberta da verdade; e a verdade aumenta os ideais; e isso gera novos problemas para os indivíduos religiosos, pois os nossos ideais tendem a crescer em uma progressão geométrica, enquanto a nossa capacidade de viver e estar à altura deles aumenta em uma progressão apenas aritmética.
103:4.3 (1133.3) O sentimento de culpa (não a consciência do pecado) vem da comunhão espiritual interrompida ou da queda do nível moral dos vossos ideais. A libertação desse apuro apenas pode advir da compreensão de que os vossos mais elevados ideais morais não são necessariamente sinônimos da vontade de Deus. O homem não pode esperar viver à altura dos seus ideais mais elevados, mas ele pode ser fiel ao seu propósito de buscar a Deus e tornar-se mais e mais como Ele.
103:4.4 (1133.4) Jesus aboliu todas as cerimônias de sacrifícios e expiação. Ele destruiu a base de toda a culpa fictícia e o sentimento de isolamento no universo, declarando que o homem é um filho de Deus; o relacionamento criatura-Criador foi reposicionado na base da relação filho-pai; e Deus torna-se um Pai cheio de amor pelos seus filhos e filhas mortais. Todas as cerimônias que não sejam uma parte legítima das relações íntimas dessa família ficam ab-rogadas para sempre.
103:4.5 (1133.5) Deus, o Pai, lida com o homem, um filho Seu, na base não da virtude nem do mérito factual, mas em reconhecimento à motivação do filho — o propósito, ou a intenção da criatura. O relacionamento é de associação pai-filho e é motivado pelo amor divino.
103:5.1 (1133.6) A mente evolucionária primitiva dá origem ao sentimento do dever social e da obrigação moral, derivando-se estes principalmente do medo emocional. O impulso mais positivo de serviço social e o idealismo do altruísmo derivam-se diretamente do impulso dado pelo espírito divino residente na mente humana.
103:5.2 (1133.7) Essa idéia-ideal de fazer o bem aos outros — o impulso de negar o ego, de algum modo, para o benefício do próximo — inicialmente é muito circunscrita. O homem primitivo considera como próximo apenas aqueles que estão mesmo muito próximos dele, aqueles que o tratam com boa vizinhança; à medida que a civilização avança, o conceito que se tem de semelhante expande-se, até abranger o clã, a tribo, a nação. E então Jesus ampliou a noção de próximo, de modo a abranger o todo da humanidade, chegando, mesmo, ao ponto em que deveríamos amar até mesmo os nossos inimigos. E há alguma coisa dentro de todo o ser humano normal, a qual diz a ele que esse ensinamento é moral — o certo. E, mesmo aqueles que praticam esse ideal, ainda que minimamente, admitem que o mesmo esteja certo, em teoria.
103:5.3 (1134.1) Todos os homens reconhecem a moralidade desse impulso universal de ser generoso e altruísta. O humanista atribui a origem desse impulso a um trabalho natural da mente material; o religioso, mais corretamente, reconhece que o impulso verdadeiramente não-egoísta da mente mortal surja como resposta às orientações espirituais interiores do Ajustador do Pensamento.
103:5.4 (1134.2) No entanto, a interpretação do homem para tais conflitos primitivos, entre a vontade do ego e a vontade do não-ego, nem sempre é confiável. Apenas uma personalidade suficientemente bem unificada pode arbitrar sobre as disputas multiformes entre os anseios do ego e a consciência social que nasce. O eu tem direitos, do mesmo modo que o próximo os tem. E nenhum dos dois pode fazer reivindicações da atenção exclusiva e do serviço do indivíduo. O fracasso em resolver esse problema dá origem ao tipo mais primitivo de sentimento humano de culpa.
103:5.5 (1134.3) A felicidade humana é alcançada apenas quando o desejo egoístico do eu e o impulso altruísta do eu mais elevado (o espírito divino) encontram-se coordenados e reconciliados pela vontade unificada da personalidade integradora e supervisora. A mente do homem evolucionário está sempre se confrontando com o problema intrincado que é ser o árbitro na disputa entre a expansão natural dos impulsos emocionais e o crescimento moral dos impulsos não-egoístas, baseados no discernimento espiritual — a reflexão religiosa genuína.
103:5.6 (1134.4) A tentativa de assegurar um bem ao eu, que seja igual ao de um número maior de outros eus, apresenta um problema que não pode ser sempre resolvido satisfatoriamente em uma estrutura tempo-espacial. Durante uma vida eterna, esses antagonismos podem ser resolvidos, mas em uma curta vida humana, ficam sem solução. Jesus referiu-se a esse paradoxo, quando disse: “quem quiser salvar a sua vida perdê-la-á, mas quem perder a sua vida por causa do Reino, encontrá-la-á”.
103:5.7 (1134.5) A busca de um ideal — o esforço para ser semelhante a Deus — é uma luta contínua, antes e depois da morte. A vida depois da morte não é diferente, no essencial, da existência mortal. Tudo o que fazemos nesta vida, que é bom, contribui diretamente para o engrandecimento da vida futura. A religião real não fomenta a indolência moral e a preguiça espiritual, encorajando a esperança vã de ter todas as virtudes de um caráter nobre, conferidas a alguém em conseqüência da passagem pelos portais da morte natural. A verdadeira religião não deprecia os esforços do homem de progredir durante o contrato da vida mortal. Todo ganho feito pelo mortal é uma contribuição direta para o enriquecimento dos primeiros estágios da experiência de sobrevivência imortal.
103:5.8 (1134.6) Seria fatal para o idealismo do homem, se lhe fosse ensinado que todos os seus impulsos altruístas são meramente o desenvolvimento dos seus instintos gregários naturais. Contudo, ele é enobrecido e poderosamente energizado quando aprende que esses impulsos mais elevados da sua alma emanam de forças espirituais que residem na sua mente mortal.
103:5.9 (1134.7) Uma vez que o homem compreenda plenamente que dentro dele vive e luta algo que é eterno e divino, isso o eleva para fora de si próprio e para além de si próprio. E assim é que uma fé viva na origem supra-humana dos nossos ideais legitima a crença de que somos filhos de Deus; e torna reais as nossas convicções altruístas, o sentimento da irmandade entre os homens.
103:5.10 (1134.8) O homem, no seu domínio espiritual, tem livre-arbítrio. O homem mortal não é um escravo desesperado da soberania inflexível de um Deus Todo-Poderoso, nem uma vítima da fatalidade desesperada de um determinismo cósmico mecanicista. O homem é verdadeiramente o arquiteto do seu próprio destino eterno.
103:5.11 (1135.1) O homem, porém, não é salvo nem enobrecido pela coação. O crescimento espiritual brota de dentro da alma em evolução. A pressão pode deformar a personalidade, e nunca estimula o crescimento. Até mesmo a pressão da educação só colabora negativamente, pois só pode ajudar na prevenção de experiências desastrosas. O crescimento espiritual é maior quando todas as pressões externas estão minimizadas. “Onde está o espírito do Senhor, lá está a liberdade”. O homem desenvolve-se melhor quando as pressões em sua casa, comunidade, igreja ou estado se encontram minimizadas. Isso não deve ser tomado, entretanto, como significando que em uma sociedade progressista não haja lugar para o lar, as instituições sociais, a igreja e o estado.
103:5.12 (1135.2) Se um membro de um grupo social religioso acedeu aos requisitos desse grupo, ele deveria ser encorajado a gozar de liberdades religiosas na expressão plena de sua interpretação pessoal das verdades da crença religiosa e dos fatos da experiência religiosa. A segurança de um grupo religioso depende da unidade espiritual, não da uniformidade teológica. Um grupo religioso deveria ser capaz de gozar da liberdade de pensar livremente, sem que todos se convertam em “livres-pensadores”. Há uma grande esperança para qualquer igreja que cultue o Deus vivo, tornando válida a irmandade do homem e ousando retirar de cima dos seus membros toda a pressão de crenças.
103:6.1 (1135.3) A teologia é o estudo das ações e reações do espírito humano; ela não pode jamais se tornar uma ciência, porque deve sempre ser mais ou menos combinada com a psicologia, na sua expressão pessoal, e com a filosofia, na sua descrição sistemática. A teologia é sempre um estudo da vossa religião; o estudo da religião de outrem é a psicologia.
103:6.2 (1135.4) Quando o homem aborda o estudo e o exame do seu universo, pelo lado de fora, ele traz à existência as várias ciências físicas; quando ele aborda a pesquisa dele próprio e do universo, do seu interior, ele dá origem à teologia e à metafísica. A arte mais recente da filosofia desdobra-se em um esforço de harmonizar as muitas discrepâncias que estão destinadas a aparecer, a princípio, entre as descobertas e os ensinamentos dessas duas vias diametralmente opostas de abordagem das coisas e seres do universo.
103:6.3 (1135.5) A religião tem a ver com o ponto de vista espiritual, a consciência do lado interno da experiência humana. A natureza espiritual do homem proporciona-lhe a oportunidade de virar o universo de fora para dentro. E, conseqüentemente, é verdade que, vista exclusivamente do lado interno da experiência da personalidade, toda a criação parece ser espiritual na sua natureza.
103:6.4 (1135.6) Quando o homem inspeciona analiticamente o universo, por meio dos dons materiais dos seus sentidos físicos e da percepção mental a eles associada, o cosmo parece ser mecânico e composto de energias materiais. Tal técnica de estudar a realidade consiste em virar o universo de dentro para fora.
103:6.5 (1135.7) Um conceito filosoficamente lógico e consistente do universo não pode ser elaborado sobre os postulados, quer sejam do materialismo quer sejam do espiritualismo; pois esses dois sistemas de pensamento, quando aplicados universalmente, são ambos compelidos a ver o cosmo com distorção; o primeiro, contatando um universo virado de dentro para fora, e o último, compreendendo a natureza de um universo virado de fora para dentro. Nunca, então, nem a ciência nem a religião, em si e por si próprias, permanecendo sozinhas, podem esperar conquistar uma compreensão adequada das verdades universais e das relações, sem a orientação da filosofia humana e sem a iluminação da revelação divina.
103:6.6 (1136.1) O espírito interior do homem dependerá sempre, para a sua expressão e auto-realização, do mecanismo e da técnica da mente. Do mesmo modo, a experiência externa do homem com a realidade material, deve basear-se na consciência mental da personalidade que está experienciando. Portanto, as experiências humanas, a espiritual e a material, a interior e a exterior, estão sempre correlacionadas com a função da mente, e condicionadas, quanto à sua realização consciente, pela atividade da mente. O homem experimenta a matéria na sua mente; ele experiencia a realidade espiritual na alma, mas torna-se consciente dessa experiência na sua mente. O intelecto é o harmonizador, é o condicionador e o qualificador, sempre presentes, da soma total da experiência mortal. Ambos, as coisas da energia e os valores do espírito, quando passam ao âmbito da consciência mental, por meio da interpretação, são coloridos por esta.
103:6.7 (1136.2) A vossa dificuldade de chegar a uma coordenação mais harmoniosa entre a ciência e a religião provém da vossa completa ignorância sobre o domínio intermediário moroncial, de coisas e de seres. O universo local consiste de três graus, ou estágios, de manifestação da realidade: o da matéria, o da morôncia e o do espírito. O ângulo moroncial de abordagem suprime todas as divergências entre as descobertas das ciências físicas e o funcionamento do espírito da religião. A razão é a técnica de entendimento das ciências; a fé, a técnica do discernimento interior aplicado à religião; a mota é a técnica do nível moroncial. A mota é uma sensibilidade à realidade supramaterial que está começando a compensar o crescimento que não se completou, tendo por substância o conhecimento-razão e por essência o discernimento clarividente da fé. A mota é uma reconciliação suprafilosófica das percepções divergentes da realidade que não é alcançável pelas personalidades materiais; ela é baseada, em parte, na experiência de haver sobrevivido à vida material na carne. No entanto, muitos mortais têm reconhecido quão desejável é ter algum método para reconciliar a interação entre os domínios vastamente separados da ciência e da religião; e a metafísica é o resultado da tentativa infrutífera do homem de ligar esse hiato bem conhecido. E a metafísica humana trouxe mais confusão do que iluminação. A metafísica equivale ao esforço bem-intencionado, mas fútil, de compensar a ausência da mota moroncial.
103:6.8 (1136.3) A metafísica tem-se revelado como sendo um fracasso; a mota, o homem não a pode perceber. A revelação é a única técnica que pode, em um mundo material, compensar pela ausência da verdadeira sensibilidade da mota. A revelação esclarece, com toda a autoridade, a desordem da metafísica desenvolvida pela razão em uma esfera evolucionária.
103:6.9 (1136.4) A ciência é a tentativa do homem de estudar o seu meio ambiente físico, o mundo da energia-matéria; a religião é a experiência do homem, no cosmo, com os valores do espírito; a filosofia tem sido desenvolvida pelo esforço da mente humana de organizar e correlacionar as descobertas desses conceitos bastante distantes em uma atitude razoável e unificada para com o cosmo. A filosofia, elucidada pela revelação, funciona aceitavelmente na ausência da mota e na presença do desarranjo e do fracasso do raciocínio humano substituto da mota — a metafísica.
103:6.10 (1136.5) O homem primitivo não diferenciava entre os níveis da energia e os níveis do espírito. A raça violeta e os seus sucessores anditas é que tentaram, pela primeira vez, separar os fatores matemáticos dos volicionais. E o homem civilizado cada vez mais seguiu os passos dos sumérios e dos primeiros gregos que distinguiram entre o inanimado e o animado. E, à medida que a civilização faz progressos, a filosofia terá que interligar os abismos, que se ampliam, entre o conceito de espírito e o conceito de energia. Contudo, no tempo do espaço, essas divergências são unificadas no Supremo.
103:6.11 (1137.1) A ciência deve estar sempre fundamentada na razão, embora a imaginação e a conjectura colaborem na ampliação das suas fronteiras. A religião é, para sempre, dependente da fé, embora a razão seja uma influência estabilizadora e uma criada útil da fé. E sempre tem havido, como sempre haverá, interpretações enganosas dos fenômenos, tanto do mundo natural, quanto do espiritual, da parte das ciências e das religiões, assim falsamente denominadas.
103:6.12 (1137.2) Partindo do seu alcance incompleto na ciência, do apoio débil que tem na religião, e das suas tentativas abortadas de fazer metafísica, o homem tem intentado elaborar as suas formulações da filosofia. E o homem moderno, de fato, construiria uma filosofia atraente e que valesse a pena, para si próprio e para o seu universo, não fora pelo colapso da sua todo-importante e indispensável conexão metafísica entre os mundos da matéria e do espírito; não fora o fracasso que a metafísica experimentou ao tentar criar uma ponte para ligar o abismo moroncial existente entre o físico e o espiritual. Falta ao homem mortal o conceito da mente moroncial e da matéria moroncial; e a revelação é a única técnica que compensa essa deficiência de dados conceituais de que o homem necessita, tão urgentemente, para construir uma filosofia lógica do universo e para chegar a uma compreensão satisfatória de que o seu lugar esteja seguro, certo e estabelecido nesse mesmo universo.
103:6.13 (1137.3) A revelação é a única esperança que o homem evolucionário tem de vencer o abismo moroncial. A fé e a razão, não ajudadas pela mota, não podem conceber e construir um universo lógico. Sem a clarividência da mota, o homem mortal não pode discernir bondade, amor e verdade nos fenômenos do mundo material.
103:6.14 (1137.4) Quando a filosofia do homem pende pesadamente para o mundo da matéria, ela torna-se racionalista ou naturalista. Quando a filosofia inclina-se especialmente para o nível espiritual, ela torna-se idealista ou até mística. Quando a filosofia cai na infelicidade de apoiar-se na metafísica, ela torna-se infalivelmente cética e confusa. Nas idades passadas, a maioria dos conhecimentos e avaliações intelectuais do homem caiu em uma dessas três distorções de percepção. Que a filosofia não ouse projetar as suas interpretações da realidade à moda linear da lógica; é preciso que ela tenha sempre em conta a simetria elíptica da realidade e a curvatura essencial da relação entre todos os conceitos.
103:6.15 (1137.5) A mais elevada das filosofias alcançáveis pelo homem mortal deve basear-se logicamente na razão da ciência, na fé da religião e no discernimento da verdade propiciados pela revelação. Por meio desse recurso de união, o homem pode compensar um pouco da sua impotência para desenvolver uma metafísica adequada e um pouco da sua incapacidade de compreender a mota da morôncia.
103:7.1 (1137.6) A ciência é sustentada pela razão, a religião pela fé. Embora não se baseie na razão, a fé é razoável; e, embora seja independente da lógica, nem por isso ela deixa de ser encorajada pela prudência sadia dessa lógica. A fé não pode ser nutrida nem mesmo por uma filosofia ideal; de fato, ela é, junto com a ciência, a fonte mesma dessa filosofia. A fé, o discernimento religioso interior do ser humano, pode certamente ser instruída apenas pela revelação; e pode certamente ser elevada apenas pela experiência mortal pessoal, com a presença espiritual do Ajustador do Deus que é espírito.
103:7.2 (1137.7) A verdadeira salvação é a técnica da evolução divina da mente mortal escapando da identificação com a matéria, por intermédio dos reinos da ligação moroncial ao status elevado de correlação espiritual no universo. E, do mesmo modo que o instinto material da intuição precede ao surgimento do conhecimento, pelo raciocínio na evolução terrestre, também, no superno programa da evolução celeste, a manifestação do discernimento espiritual intuitivo pressagia o aparecimento futuro da razão e da experiência moroncial e, em seguida, espiritual; trabalho este que é feito pela transmutação dos potenciais do homem temporal na factualidade e na divindade do homem, o eterno, um finalitor do Paraíso.
103:7.3 (1138.1) Contudo, à medida que o homem ascendente avança para o interior e na direção do Paraíso, para a experiência de Deus, ele estará, do mesmo modo, avançando para fora e na direção do espaço, na busca de uma compreensão, em termos de energia, do cosmo material. O progresso da ciência não está limitado à vida terrestre do homem; a sua experiência de ascensão no universo e no superuniverso será, em um grau elevado, o estudo da transmutação da energia e da metamorfose material. Deus é espírito, mas a Deidade é unidade, e a unidade da Deidade não apenas abraça os valores espirituais do Pai Universal e do Filho Eterno, pois é também conhecedora dos fatos sobre a energia do Controlador Universal e da Ilha do Paraíso. Ao mesmo tempo, essas duas últimas fases da realidade universal estão perfeitamente correlacionadas nas relações de mente do Agente Conjunto, e também unificadas no nível finito na Deidade emergente do Ser Supremo.
103:7.4 (1138.2) A união da atitude científica e do discernimento religioso, pela intermediação da filosofia experiencial, é parte da longa experiência de ascensão do homem ao Paraíso. As aproximações da matemática e as certezas que vêm do discernimento interior sempre requerem a função harmonizadora da lógica da mente em todos os níveis da experiência anteriores ao da realização máxima do Supremo.
103:7.5 (1138.3) No entanto, a lógica nunca pode ter êxito em harmonizar as descobertas da ciência com os achados do discernimento da religião, a menos que tanto o aspecto científico quanto o religioso, de uma personalidade, estejam comandados pela verdade, sinceramente desejosos de seguir a verdade, aonde quer que esta possa conduzir, independentemente das conclusões que possa alcançar.
103:7.6 (1138.4) A lógica é a técnica da filosofia, o seu método de expressão. Dentro do domínio da verdadeira ciência, a razão é sempre acessível à lógica genuína; dentro do domínio da verdadeira religião, a fé é sempre lógica, se se tomar como base um ponto de vista interior, mesmo que tal fé possa parecer totalmente infundada, do ponto de vista de fora para dentro da abordagem científica. Do exterior, olhando para o interior, o universo pode parecer material; do interior, olhando para o exterior, o mesmo universo parece ser totalmente espiritual. A razão surge da consciência material, a fé, da consciência espiritual, no entanto, pela intermediação de uma filosofia fortalecida pela revelação, a lógica pode confirmar tanto a visão interior quanto a visão exterior, efetivando, por meio delas, a estabilização não apenas da ciência como da religião. Assim, por intermédio do contato comum com a lógica da filosofia, a ciência e a religião podem ambas vir a ser tolerantes uma com a outra, de um modo cada vez menos cético.
103:7.7 (1138.5) A ciência e a religião em desenvolvimento necessitam, ambas, de uma autocrítica mais penetrante e destemida, de uma consciência maior de estarem incompletas em seu estado de evolução. Os educadores, tanto da ciência quanto da religião, freqüentemente ficam ao mesmo tempo autoconfiantes e dogmáticos em excesso. A ciência e a religião podem apenas ser autocríticas sobre os seus próprios fatos. O momento de partida se faz real no estágio do fato, a razão abdica-se ou, então, degenerar-se-á rapidamente em uma parceira da lógica falsa.
103:7.8 (1138.6) A verdade — uma compreensão das relações cósmicas, dos fatos do universo e dos valores espirituais — pode ser mais bem obtida por intermédio da ministração do Espírito da Verdade e ser mais bem criticada pela revelação. A revelação, porém, não dá origem nem a uma ciência, nem a uma religião; a sua função é coordenar a ambas, à ciência e à religião, com a verdade da realidade. Na ausência da revelação, ou quando o homem mortal não a aceita ou não a compreende, ele tem sempre recorrido ao gesto fútil da sua metafísica, sendo esta a substituta humana única da revelação da verdade ou da mota da personalidade moroncial.
103:7.9 (1139.1) A ciência do mundo material capacita o homem a controlar e a dominar, dentro de limites, o seu meio ambiente físico. A religião e a sua experiência espiritual é a fonte do impulso da fraternidade que possibilita ao homem viver em conjunto, em meio às complexidades da civilização de uma idade científica. A metafísica, mas muito mais seguramente a revelação, proporciona um terreno comum de confluência para as descobertas tanto da ciência quanto da religião, e torna possível a tentativa humana de correlacionar logicamente esses domínios separados, porém, interdependentes, do pensamento, em uma filosofia bem equilibrada de estabilidade científica e de certeza religiosa.
103:7.10 (1139.2) Durante o estado mortal, nada pode ser provado de um modo absoluto; tanto a ciência quanto a religião são pregadas com base em conjecturas. No nível moroncial, os postulados da ciência, bem como os da religião, tornam-se capazes de comprovação parcial, por intermédio da lógica da mota. No nível espiritual de status máximo, a necessidade de provas finitas gradualmente dissipa-se diante da experiência factual da realidade e com a realidade; mas, mesmo então, muito há para além do finito que continua sem comprovação.
103:7.11 (1139.3) Todas as divisões do pensamento humano são baseadas em alguns pressupostos que são aceitos, ainda que sem comprovação, pela sensibilidade que constitui a realidade da dotação da mente do homem. A ciência começa na sua carreira de raciocínios, tão cheios de vanglórias, pressupondo a realidade de três coisas: matéria, movimento e vida. A religião parte do pressuposto que é o da validade de três coisas: a mente, o espírito e o universo — o Ser Supremo.
103:7.12 (1139.4) A ciência transforma-se no domínio do pensamento das matemáticas, da energia e da matéria, no tempo e no espaço. A religião assume lidar não apenas com o espírito finito e temporal, mas também com o espírito, na eternidade e na supremacia. Apenas por intermédio de uma experiência longa na mota é que esses dois extremos da percepção do universo podem ser levados a produzir interpretações análogas das origens, funções, relações, realidades e destinos. A harmonização máxima da divergência entre energia e espírito dá-se com a entrada no circuito dos Sete Espíritos Mestres; e a primeira unificação, a partir daí, dá-se na Deidade do Supremo; a unidade de finalidade que vem a seguir, então, dá-se na infinitude da Primeira Fonte e Centro, o EU SOU.
103:7.13 (1139.5) A razão é o ato de reconhecimento das conclusões da consciência, em relação à experiência com e no mundo físico da energia e da matéria. A fé é o ato de reconhecimento da validade da consciência espiritual — algo que não é susceptível de outra comprovação para os mortais. A lógica é a progressão sintética da busca da verdade na unidade da fé e da razão e é baseada nas dotações de mente inerentes aos seres mortais, o reconhecimento inato de coisas, significados e valores.
103:7.14 (1139.6) Há uma prova factual da realidade espiritual, na presença do Ajustador do Pensamento, mas a validade dessa presença não é demonstrável para o mundo externo, apenas o é para aquele que tem essa experiência da presença da residência de Deus. A consciência da presença do Ajustador é baseada na recepção intelectual da verdade, na percepção supramental da bondade e na motivação da personalidade para amar.
103:7.15 (1139.7) A ciência descobre o mundo material, a religião faz uma estimativa do seu valor e a filosofia tenta interpretar os seus significados, ao coordenar o ponto de vista científico-material com o conceito religioso-espiritual. A história, entretanto, é um domínio dentro do qual a ciência e a religião podem nunca estar concordando totalmente.
103:8.1 (1140.1) Embora a ciência e a filosofia possam ambas assumir a probabilidade de Deus existir, por meio da lógica e da razão próprias delas, apenas a experiência religiosa pessoal de um homem, ao ser conduzido pelo espírito, pode afirmar a certeza dessa Deidade suprema e pessoal. Pela técnica dessa encarnação da verdade viva, a hipótese filosófica da probabilidade de Deus transforma-se em uma realidade religiosa.
103:8.2 (1140.2) A confusão acerca da experiência com a certeza de Deus nasce das interpretações e das relações discordantes entre as experiências provenientes de indivíduos isolados e de raças diferentes de homens. A experiência de Deus pode ser integralmente válida, mas os discursos sobre Deus são intelectuais e filosóficos, e por isso podem ser divergentes e, muitas vezes, confusamente falaciosos.
103:8.3 (1140.3) Um homem bom e nobre pode amar de um modo consumado à sua esposa, mas pode ser totalmente incapaz de passar satisfatoriamente em um exame escrito sobre a psicologia do amor marital. Outro homem, tendo pouco ou nenhum amor pela sua esposa, poderia passar nesse exame de um modo bastante aceitável. A imperfeição do discernimento daquele que ama sobre a verdadeira natureza do ser amado em nada invalida, seja a realidade, seja a sinceridade do seu amor.
103:8.4 (1140.4) Se vós realmente acreditais em Deus — se o amais e se o conheceis pela fé — , não permitais que a realidade dessa experiência seja, de nenhum modo, depreciada ou prejudicada pelas insinuações de dúvida vindas da ciência, da objeção capciosa da lógica, dos postulados da filosofia, ou das sugestões espertas de almas que, ainda que bem-intencionadas, querem criar uma religião sem Deus.
103:8.5 (1140.5) A certeza que tem o religioso conhecedor de Deus não deveria ser perturbada pela incerteza do materialista que duvida; antes, a fé profunda e a certeza inabalável nas experiências do crente é que deveriam lançar um profundo desafio à incerteza dos descrentes.
103:8.6 (1140.6) Se a filosofia quisesse prestar um serviço maior à ciência tanto quanto à religião, deveria evitar tanto os extremos do materialismo quanto os do panteísmo. Apenas uma filosofia que reconhece a realidade da personalidade — a permanência, em presença da mudança — pode ser de valor moral para o homem, pode servir como ligação entre as teorias da ciência material e da religião espiritual. A revelação é uma compensação para as fragilidades da filosofia em evolução.
103:9.1 (1140.7) A teologia lida com o conteúdo intelectual da religião; a metafísica (e a revelação) com os seus aspectos filosóficos. A experiência religiosa é o conteúdo espiritual da religião. Não obstante os caprichos mitológicos e as ilusões psicológicas, no conteúdo intelectual da religião, os pressupostos metafísicos de erro e as técnicas de auto-enganação, as distorções políticas e as perversões socioeconômicas do conteúdo filosófico da religião, a experiência espiritual da religião pessoal permanece genuína e válida.
103:9.2 (1140.8) A religião tem a ver com o sentimento, com a ação e a vivência, não meramente com o pensamento. O pensar é relacionado mais de perto com a vida material e deveria estar, principalmente, mas não totalmente, dominado pela razão e pelos fatos da ciência e, nos seus alcances não-materiais, até os reinos do espírito, pela verdade. Não importa quão ilusória e errônea seja a teologia de alguém, a sua religião pode ser totalmente genuína e verdadeira para sempre.
103:9.3 (1141.1) O budismo, na sua forma original, é uma das melhores religiões sem um Deus, entre as que já surgiram em toda a história evolucionária de Urântia, embora, ao se desenvolver, essa fé não tenha permanecido sem um deus. A religião sem fé é uma contradição; sem Deus, é uma inconsistência filosófica e um absurdo intelectual.
103:9.4 (1141.2) A paternidade mágica e mitológica da religião natural não invalida a realidade e a verdade das religiões reveladoras posteriores, nem o consumado evangelho da salvação da religião de Jesus. A vida e os ensinamentos de Jesus finalmente livraram a religião das superstições da magia, das ilusões da mitologia e da prisão do dogmatismo da tradição. Contudo, a magia e a mitologia primitivas prepararam, muito efetivamente, o caminho para a religião superior subseqüente, assumindo a existência e a realidade dos valores e dos seres supramateriais.
103:9.5 (1141.3) Embora a experiência religiosa seja um fenômeno subjetivo puramente espiritual, essa experiência abrange uma atitude positiva e vivencial de fé para com os reinos mais elevados da realidade objetiva do universo. O ideal da filosofia religiosa é essa fé-confiança que leva o homem irrestritamente a depender do amor absoluto do Pai infinito do universo dos universos. Tal experiência religiosa genuína em muito transcende à objetivação filosófica do desejo idealista; de fato, ela toma a salvação como garantida e preocupa-se apenas em aprender a cumprir a vontade do Pai do Paraíso. Os sinais dessa religião são: a fé em uma Deidade suprema, a esperança na sobrevivência eterna, e o amor, especialmente o dos semelhantes.
103:9.6 (1141.4) Quando a teologia chega a ter a religião sob controle e mestria, a religião morre engolfada; torna-se uma doutrina, em vez de uma coisa viva. A missão da teologia é meramente facilitar a autoconsciência da experiência espiritual pessoal. A teologia constitui o esforço religioso para definir, elucidar, expor e justificar as proposições experienciais da religião, que, em última análise, apenas podem ser validadas pela fé viva. Na filosofia mais elevada do universo, a sabedoria, como a razão, torna-se uma aliada da fé. Razão, sabedoria e fé são realizações das mais elevadas do homem. A razão introduz o homem no mundo dos fatos, das coisas; a sabedoria o introduz no mundo da verdade, das relações; a fé inicia-o em um mundo de divindade, de experiência espiritual.
103:9.7 (1141.5) A fé leva voluntariamente a razão tão longe quanto a razão pode ir e continua com a sabedoria até o limite filosófico pleno; e então ela ousa lançar-se na viagem interminável e sem limites do universo, na companhia apenas da verdade.
103:9.8 (1141.6) A ciência (o conhecimento) funda-se na suposição inerente (do espírito ajudante) de que a razão seja válida, de que o universo pode ser compreendido. A filosofia (a compreensão coordenada) funda-se na suposição inerente (do espírito da sabedoria) de que a sabedoria seja válida, de que o universo material possa ser coordenado ao espiritual. A religião (a verdade da experiência espiritual pessoal) funda-se na suposição inerente (do Ajustador do Pensamento) de que a fé seja válida, de que Deus pode ser conhecido e alcançado.
103:9.9 (1141.7) A realização plena da realidade da vida mortal consiste em uma vontade progressiva de acreditar nessas suposições da razão, da sabedoria e da fé. Tal vida é motivada pela verdade e dominada pelo amor; e esses são os ideais da realidade cósmica objetiva, cuja existência não pode ser materialmente demonstrada.
103:9.10 (1142.1) Uma vez que a razão reconhece o certo e o errado, ela demonstra sabedoria; quando a sabedoria escolhe entre o certo e o errado, entre a verdade e o erro, ela evidencia haver sido conduzida pelo espírito. E, assim, são as funções da mente, da alma e do espírito, sempre unidas intimamente e interassociadas funcionalmente. A razão lida com o conhecimento factual; a sabedoria, com a filosofia e com a revelação; a fé, com a experiência espiritual viva. Por intermédio da verdade, o homem alcança a beleza; pelo amor espiritual, ascende à bondade.
103:9.11 (1142.2) A fé conduz ao conhecimento de Deus, não meramente a um sentimento místico da presença divina. A fé não deve ser excessivamente influenciada pelas suas conseqüências emocionais. A verdadeira religião é uma experiência de crer e conhecer, tanto quanto uma satisfação de sentimento.
103:9.12 (1142.3) Há uma realidade na experiência religiosa que é proporcional ao seu conteúdo espiritual, e tal realidade transcende à razão, à ciência, à filosofia, à sabedoria e a todas as outras realizações humanas. As convicções de tal experiência são incontestáveis; a lógica da vivência religiosa é incontroversa; a certeza desse conhecimento é supra-humana; as satisfações que advêm são magnificamente divinas; a coragem, indomável; as devoções, inquestionáveis; as lealdades, supremas; e os destinos, finais — eternos, últimos e universais.
103:9.13 (1142.4) [Apresentado por um Melquisedeque de Nébadon.]
O Livro de Urântia
Documento 104
104:0.1 (1143.1) O conceito da Trindade, na religião revelada, não deve ser confundido com as crenças nas tríades das religiões evolucionárias. As idéias das tríades surgiram de várias relações sugestivas, mas principalmente por causa das três articulações dos dedos, porque três é o número mínimo de pernas que fazem um banquinho ficar de pé, porque três pontos de suporte podem manter uma tenda de pé; e, além disso, o homem primitivo, durante um longo tempo, não conseguiu contar acima de três.
104:0.2 (1143.2) À parte certos pares naturais, tais como passado e presente, dia e noite, quente e frio, e masculino e feminino, o homem geralmente tende a pensar em tríades: ontem, hoje e amanhã; alvorecer, meio-dia e entardecer; pai, mãe, e filho. Três salvas são dadas à vitória. Os mortos são enterrados após o terceiro dia, e o fantasma era aplacado com três abluções de água.
104:0.3 (1143.3) Como conseqüência dessas associações naturais na experiência humana, a tríade fez a sua aparição na religião e, isso, muito antes que a Trindade das Deidades do Paraíso, ou qualquer dos seus representantes, houvessem sido revelados à humanidade,. Mais adiante, os persas, hindus, gregos, egípcios, babilônios, romanos e escandinavos, todos tinham deuses em tríades, mas ainda não eram as verdadeiras trindades. As deidades em tríades, todas, tinham uma origem natural e surgiram em uma época ou em outra, em meio à maior parte dos povos inteligentes de Urântia. Algumas vezes, o conceito de uma tríade evolucionária confundiu-se com aquele da Trindade revelada; nesses casos, é muitas vezes impossível distinguir uma da outra.
104:1.1 (1143.4) A primeira revelação urantiana que conduziu à compreensão da Trindade do Paraíso foi feita pelos assessores do Príncipe Caligástia, há cerca de meio milhão de anos. Esse primeiro conceito da Trindade ficou perdido para o mundo, nos tempos incertos que se seguiram à rebelião planetária.
104:1.2 (1143.5) A segunda apresentação da Trindade foi feita por Adão e Eva, no primeiro e no segundo jardins. Esses ensinamentos não haviam sido totalmente obliterados, nem mesmo na época de Maquiventa Melquisedeque, cerca de trinta e cinco mil anos mais tarde, pois o conceito da Trindade, vindo dos setitas, perdurou tanto na Mesopotâmia quanto no Egito; mas mais especialmente na Índia, onde foi há muito perpetuado em Agni, o deus védico tricéfalo do fogo.
104:1.3 (1143.6) A terceira apresentação da Trindade foi feita por Maquiventa Melquisedeque, e a sua doutrina foi simbolizada pelos três círculos concêntricos que o sábio de Salém usava na medalha em seu peito. Contudo, Maquiventa achava muito difícil ensinar aos beduínos da Palestina sobre o Pai Universal, o Filho Eterno e o Espírito Infinito. A maioria dos seus discípulos julgava que a Trindade consistia dos três Altíssimos de Norlatiadeque; uns poucos concebiam a Trindade como o Soberano do Sistema, o Pai da Constelação e a Deidade Criadora do universo local; e um número, menor ainda, captava remotamente a idéia da associação, no Paraíso, do Pai, do Filho e do Espírito.
104:1.4 (1144.1) Graças às atividades dos missionários de Salém, os ensinamentos de Melquisedeque sobre a Trindade gradualmente espalharam-se por grande parte da Eurásia e pela África do Norte. Muitas vezes é difícil distinguir entre as tríades e as trindades, na idade andita mais recente, e nas idades pós-Melquisedeque, quando esses dois conceitos, em uma certa medida, misturaram-se entre si, fundindo-se.
104:1.5 (1144.2) Entre os indianos, o conceito trinitário criou raiz como o Ser, a Inteligência e a Alegria. (Uma concepção indiana mais recente foi Brahma, Shiva, e Vishnu.) Enquanto as primeiras descrições da Trindade foram trazidas para a Índia pelos sacerdotes setitas, as idéias mais recentes da Trindade foram importadas pelos missionários de Salém, e foram desenvolvidas pelos intelectos nativos da Índia por meio de uma composição dessas doutrinas com as concepções evolucionárias das tríades.
104:1.6 (1144.3) A fé budista desenvolveu duas doutrinas de natureza trinitária: a mais primitiva foi Mestre, Lei e Fraternidade; esta foi a apresentação feita por Gautama Sidarta. A idéia posterior, desenvolvida entre os seguidores do ramo nortista de Buda, abrangia o Senhor Supremo, o Espírito Santo e o Salvador Encarnado.
104:1.7 (1144.4) E essas idéias, entre os indianos e os budistas, constituiam postulados realmente trinitários, ou seja, a idéia de uma manifestação tríplice de um Deus monoteísta. Uma verdadeira concepção trinitária não é apenas um agrupamento de três deuses separados.
104:1.8 (1144.5) Das tradições quenitas vindas dos dias de Melquisedeque, os hebreus souberam sobre a Trindade, mas o seu ardor monoteísta por Yavé, como o Deus único, eclipsou todos esses ensinamentos de um tal modo que, por volta da época do aparecimento de Jesus, a doutrina do Eloim havia sido praticamente erradicada da teologia judaica. A mente hebraica não podia conciliar o conceito trinitário com a crença monoteísta em um Senhor único, o Deus de Israel.
104:1.9 (1144.6) Os seguidores da fé islâmica do mesmo modo não captaram a idéia da Trindade. É sempre difícil para um monoteísmo emergente, que ainda faz oposição ao politeísmo, tolerar o trinitarismo. A idéia da trindade implanta-se melhor naquelas religiões que têm uma tradição monoteísta firme, combinada à elasticidade de doutrina. Os grandes monoteístas hebreus e maometanos acharam difícil diferençar entre o trinitarismo e o politeísmo, entre adorar três deuses e a adoração de uma Deidade que existe em uma manifestação trina de divindade e de personalidade.
104:1.10 (1144.7) Jesus ensinou aos seus apóstolos a verdade a respeito das pessoas da Trindade do Paraíso, mas eles pensaram que ele falava figurativa e simbolicamente. Havendo sido educados no monoteísmo hebraico, eles acharam difícil nutrir qualquer crença que parecesse entrar em conflito com o conceito dominante que eles tinham de Yavé. E os primeiros cristãos herdaram o preconceito hebraico contra o conceito da Trindade.
104:1.11 (1144.8) A primeira Trindade do cristianismo foi proclamada na Antioquia e consistia de Deus, a sua Palavra e a sua Sabedoria. Paulo sabia da Trindade do Paraíso de Pai, Filho e Espírito, mas ele raramente pregava sobre ela e fez menção à Trindade apenas em umas poucas das suas cartas às igrejas que eram de formação recente. Mesmo então, como o fizeram os seus irmãos apóstolos, Paulo confundiu Jesus, o Filho Criador do universo local, com a Segunda Pessoa da Deidade, o Filho Eterno do Paraíso.
104:1.12 (1144.9) O conceito cristão da Trindade, que começou a ganhar reconhecimento perto do fim do primeiro século depois de Cristo, compreendia o Pai Universal, o Filho Criador de Nébadon, e a Ministra Divina de Sálvington — o Espírito Materno do universo local e a consorte criativa do Filho Criador.
104:1.13 (1145.1) A identidade real da Trindade do Paraíso não ficou conhecida em Urântia, nem mesmo desde os tempos de Jesus (exceto por uns poucos indivíduos a quem ela foi especialmente revelada) até a sua apresentação nestes documentos de abertura reveladora. No entanto, embora o conceito cristão da Trindade haja sido de fato errado, ele era praticamente verdadeiro com respeito às relações espirituais. Apenas pelas suas implicações filosóficas e nas suas conseqüências cosmológicas, esse conceito gerava embaraços: havia sido difícil para muitos dos dotados com a mente cósmica acreditar que a Segunda Pessoa da Deidade, o segundo membro de uma Trindade infinita, haja certa vez residido em Urântia; e conquanto isso seja verdade em espírito, factualmente não é real. Os Michaéis Criadores incorporam plenamente a divindade do Filho Eterno, mas eles não são a personalidade absoluta.
104:2.1 (1145.2) O monoteísmo surgiu como um protesto filosófico contra a inconsistência do politeísmo. Ele desenvolveu-se, primeiro, por intermédio de organizações tipo panteão, com a departamentalização das atividades supranaturais, e, em seguida, por meio da exaltação henoteísta de um deus acima dos muitos e, finalmente, por meio da exclusão de todos, exceto do Deus único de valor final.
104:2.2 (1145.3) O trinitarismo cresceu do protesto experiencial contra a impossibilidade de conceber a unicidade de uma Deidade desantropomorfizada solitária de significância não relacionada ao universo. Passado um período suficiente de tempo, a filosofia tende a abstrair-se das qualidades pessoais no conceito de Deidade do monoteísmo puro, reduzindo, assim, essa idéia à de um Deus não relacionado ao status de um Absoluto panteísta. Foi sempre difícil entender a natureza pessoal de um Deus que não tem relações pessoais em igualdade com outros seres coordenados e pessoais. A personalidade na Deidade exige que tal Deidade exista em relação a outra Deidade igual e pessoal.
104:2.3 (1145.4) Por intermédio do reconhecimento do conceito da Trindade, a mente do homem pode esperar captar alguma coisa das inter-relações de amor e de lei nas criações do tempo e do espaço. Por meio da fé espiritual, o homem adquire a clarividência sobre o amor de Deus, mas descobre logo que essa fé espiritual não tem nenhuma influência nas leis ordenadas do universo material. Independentemente da firmeza da crença do homem em Deus como o seu Pai no Paraíso, os horizontes cósmicos em expansão requerem que ele também dê reconhecimento à realidade da Deidade do Paraíso como uma lei universal, que ele reconheça a soberania da Trindade como se estendendo até fora do Paraíso e abrangendo até mesmo os universos locais em evolução dos Filhos Criadores e das Filhas Criativas das três pessoas eternas, cuja união de deidade é o fato e a realidade e a indivisibilidade eterna da Trindade do Paraíso.
104:2.4 (1145.5) E essa mesma Trindade do Paraíso é uma entidade real — não uma personalidade, mas uma realidade verdadeira e absoluta. Contudo, mesmo sem ser uma personalidade, é compatível com as personalidades coexistentes — as personalidades do Pai, do Filho e do Espírito. A Trindade é uma realidade de Deidade que é uma supersomatória e factualiza-se na conjunção das três Deidades do Paraíso. As qualidades, as características e as funções da Trindade não são a simples soma dos atributos das três Deidades do Paraíso; as funções da Trindade são, de um certo modo, únicas, originais e não totalmente previsíveis a partir de uma análise dos atributos do Pai, do Filho e do Espírito.
104:2.5 (1146.1) Por exemplo: O Mestre, quando na Terra, preveniu aos seus seguidores que a justiça nunca é um ato pessoal; é sempre uma função grupal. E que nem os Deuses, como pessoas, administram a justiça. Contudo, eles exercem essa mesma função como um todo coletivo, na Trindade do Paraíso.
104:2.6 (1146.2) Captar o conceito da associação na Trindade de Pai, Filho e Espírito prepara a mente humana para a apresentação posterior de algumas outras relações tríplices. A razão teológica pode satisfazer-se plenamente com o conceito da Trindade do Paraíso; mas as razões filosófica e cosmológica requerem o reconhecimento de outras associações trinas da Primeira Fonte e Centro, daquelas triunidades nas quais as funções Infinitas estão em várias capacidades não-Pai de manifestação universal — as relações do Deus da força, energia, poder, causação, reação, potencialidade, factualização, gravidade, tensão, arquétipo, princípio e unidade.
104:3.1 (1146.3) Se bem que, algumas vezes, a humanidade haja alcançado uma compreensão da Trindade das três pessoas da Deidade, a coerência exige que o intelecto humano perceba que há algumas relações entre todos sete Absolutos. Entretanto, nem tudo que é verdadeiro sobre a Trindade do Paraíso é necessariamente verdadeiro sobre uma triunidade, pois uma triunidade é algo diferente de uma trindade. Sob certos aspectos funcionais, uma triunidade pode ser análoga a uma trindade, mas não é nunca homóloga à natureza de uma trindade.
104:3.2 (1146.4) Em Urântia o homem mortal está passando por uma grande idade de expansão de horizontes e de ampliação de conceitos, e a sua filosofia cósmica deve acelerar a sua evolução para acompanhar a expansão na arena intelectual do pensamento humano. À medida que a consciência cósmica do homem mortal expande-se, este percebe o inter-relacionamento entre tudo o que ele encontra por meio da ciência material, da filosofia intelectual e do discernimento espiritual. Ainda, com toda essa crença na unidade do cosmo, o homem percebe a diversidade entre todas as existências. A despeito de todos os conceitos sobre a imutabilidade da Deidade, o homem percebe que vive num universo de constante mudança e crescimento experiencial. Independentemente da compreensão dos valores de sobrevivência espiritual, o homem tem sempre de contar com a matemática e a pré-matemática da força, da energia e da potência.
104:3.3 (1146.5) De alguma maneira, a repleção eterna da infinitude deve ser reconciliada com o crescimento, no tempo, dos universos em evolução e com a característica que os seus habitantes experienciais têm de ser incompletos. De algum modo, a concepção da infinitude total deve ser, assim, segmentada e especificada, para que o intelecto mortal e a alma moroncial possam captar esse conceito de valor final e de significado espiritualizante.
104:3.4 (1146.6) Conquanto a razão demande uma unidade monoteísta da realidade cósmica, a experiência finita exige que sejam postuladas a pluralidade dos Absolutos e a coordenação deles nas relações cósmicas. Sem existências coordenadas, nenhuma possibilidade há do aparecimento da diversidade de relações absolutas, nenhuma probabilidade haverá de que os diferenciais, variáveis, modificadores, atenuadores, qualificadores ou diminuidores tenham a oportunidade de operar.
104:3.5 (1146.7) Nestes documentos, a realidade total (a infinitude) tem sido apresentada como ela existe nos sete Absolutos:
104:3.6 (1146.8) 1. O Pai Universal.
104:3.7 (1146.9) 2. O Filho Eterno.
104:3.8 (1146.10) 3. O Espírito Infinito
104:3.9 (1147.1) 4. A Ilha do Paraíso.
104:3.10 (1147.2) 5. O Absoluto da Deidade.
104:3.11 (1147.3) 6. O Absoluto Universal.
104:3.12 (1147.4) 7. O Absoluto Inqualificável.
104:3.13 (1147.5) A Primeira Fonte e Centro, que é Pai do Filho Eterno, é também o Arquétipo da Ilha do Paraíso. Ele é uma personalidade inqualificável no Filho, mas é uma personalidade potencializada no Absoluto da Deidade. O Pai é energia revelada no Paraíso-Havona e, ao mesmo tempo, energia oculta no Absoluto Inqualificável. O Infinito é sempre revelado nos atos incessantes do Agente Conjunto, enquanto ele funciona eternamente nas atividades compensadoras, mas veladas, do Absoluto Universal. Assim, o Pai está relacionado com os seis Absolutos coordenados, e assim todos os sete abrangem o círculo da infinitude, por intermédio dos ciclos infindáveis da eternidade.
104:3.14 (1147.6) Poderia parecer que a triunidade das relações absolutas seja inevitável. A personalidade busca uma associação com outra personalidade em um nível absoluto, bem como em todos os outros níveis. E a associação das três personalidades do Paraíso eterniza a primeira triunidade, a união das personalidades do Pai, do Filho e do Espírito. Pois quando essas três pessoas, enquanto pessoas, unem-se em uma função conjunta, por meio dessa conjunção, elas constituem uma triunidade de unidade funcional, não uma trindade — uma entidade orgânica — que, no entanto, é uma triunidade, uma unanimidade tríplice funcional agregada.
104:3.15 (1147.7) A Trindade do Paraíso não é uma triunidade; não é uma unanimidade funcional; é mais uma Deidade indivisa e indivisível. O Pai, o Filho e o Espírito (enquanto pessoas) podem sustentar relações com a Trindade do Paraíso, pois a Trindade é a Deidade indivisa deles. O Pai, o Filho e o Espírito não sustentam tal relação pessoal com a primeira triunidade, pois esta é a união funcional deles enquanto três pessoas. Apenas como Trindade — como Deidade indivisa — é que eles sustentam coletivamente uma relação externa com a triunidade, que é a agregação pessoal Deles.
104:3.16 (1147.8) Assim, a trindade do Paraíso permanece única entre as relações absolutas; há várias triunidades existenciais, mas apenas uma Trindade existencial. Uma triunidade não é uma entidade. Ela é mais funcional do que orgânica. Os seus membros são mais associativos do que corporativos. Os componentes das triunidades podem ser entidades, mas uma triunidade, em si, é uma associação.
104:3.17 (1147.9) Há, contudo, um ponto de comparação entre trindade e triunidade: ambas se factualizam em funções que são algo mais do que a soma discernível dos atributos dos membros componentes. Ainda, porém, que elas sejam comparáveis assim, de um ponto de vista funcional, por outro lado, elas não exibem nenhuma relação categórica. Elas estão, grosso modo, relacionadas como em uma relação de função de estrutura. Todavia, a função da associação de triunidade não é a função da estrutura da trindade, nem a entidade.
104:3.18 (1147.10) Contudo as triunidades são reais; são bastante reais. Nelas, a realidade total é funcionalizada, e, por intermédio delas, o Pai Universal exerce o controle imediato e pessoal sobre as funções mestras da infinitude.
104:4.1 (1147.11) Ao tentar efetuar a descrição das sete triunidades, a atenção é dirigida para o fato de que o Pai Universal é membro primordial de cada uma delas. Ele é, foi e para sempre será: o Primeiro Pai-Fonte Universal, o Centro Absoluto, a Causa Primal, o Controlador Universal, o Energizador Ilimitado, a Unidade Original, o Sustentador Irrestrito, a Primeira Pessoa da Deidade, o Arquétipo Cósmico Primordial e a Essência da Infinitude. O Pai Universal é a causa pessoal dos Absolutos; Ele é o absoluto dos Absolutos.
104:4.2 (1148.1) A natureza e o significado das sete triunidades podem ser sugeridos por:
104:4.3 (1148.2) A Primeira Triunidade — a triunidade com propósito pessoal. Este agrupamento é aquele das três personalidades da Deidade:
104:4.4 (1148.3) 1. O Pai Universal.
104:4.5 (1148.4) 2. O Filho Eterno.
104:4.6 (1148.5) 3. O Espírito Infinito.
104:4.7 (1148.6) Essa é a união tríplice do amor, da misericórdia e da ministração — a associação pessoal e plena de propósito das três Personalidades Eternas do Paraíso. Essa é a associação divinamente fraternal, amante das criaturas, de ação paternal e promotora da ascensão. As personalidades divinas dessa primeira triunidade são as dos Deuses que conferem a personalidade, outorgam o espírito e dotam com a mente.
104:4.8 (1148.7) Essa é a triunidade da volição infinita; ela atua por meio do eterno presente e em todo o fluir passado-presente-futuro do tempo. Essa associação produz a infinitude volicional e provê os mecanismos por meio dos quais a Deidade pessoal torna-se auto-reveladora às criaturas do cosmo em evolução.
104:4.9 (1148.8) A Segunda Triunidade — a triunidade do arquétipo do poder. Quer se trate de um minúsculo ultímaton, de uma estrela ardente, ou de uma nebulosa turbilhonante, ou mesmo do universo central, ou dos superuniversos, da menor à maior das organizações materiais, sempre o arquétipo físico — a configuração cósmica — é derivado da função dessa triunidade. Esta associação consiste em:
104:4.10 (1148.9) 1. O Pai-Filho.
104:4.11 (1148.10) 2. A Ilha do Paraíso.
104:4.12 (1148.11) 3. O Agente Conjunto.
104:4.13 (1148.12) A energia é organizada pelos agentes cósmicos da Terceira Fonte e Centro; a energia é modelada segundo o arquétipo do Paraíso, a materialização absoluta; mas, por trás de toda essa incessante manipulação, está a presença do Pai-Filho, cuja união primeiro ativou o arquétipo do Paraíso no surgimento de Havona, concomitantemente com o nascimento do Espírito Infinito, o Agente Conjunto Deles.
104:4.14 (1148.13) Na experiência religiosa, as criaturas fazem contato com o Deus que é amor, mas essa clarividência espiritual não deve nunca eclipsar o reconhecimento inteligente do fato universal do arquétipo que é o Paraíso. Por meio do poder irresistível do amor divino, as personalidades do Paraíso atraem a adoração de livre-arbítrio de todas as criaturas e conduzem todas essas personalidades nascidas do espírito às delícias supernas do serviço interminável dos filhos finalitores de Deus. A segunda triunidade é a arquiteta do cenário do espaço no qual tais transações se desdobram; ela determina os arquétipos da configuração cósmica.
104:4.15 (1148.14) O amor pode caracterizar a divindade da primeira triunidade, mas o arquétipo é a manifestação galáctica da segunda triunidade. O que a primeira triunidade é para as personalidades em evolução, a segunda triunidade é para a evolução dos universos. Arquétipo e personalidade são duas das grandes manifestações dos atos da Primeira Fonte e Centro; e não importa quão difícil possa ser compreender tal coisa, é verdade, no entanto, que o arquétipo do poder e a pessoa amorosa são uma e a mesma realidade universal; a Ilha do Paraíso e o Filho Eterno são coordenados, mas são revelações antípodas da natureza insondável da força do Pai Universal.
104:4.16 (1149.1) A Terceira Triunidade — a triunidade da evolução do espírito. A inteireza da manifestação espiritual tem o seu começo e fim nesta associação, que consiste em:
104:4.17 (1149.2) 1. O Pai Universal.
104:4.18 (1149.3) 2. O Filho-Espírito.
104:4.19 (1149.4) 3. O Absoluto da Deidade.
104:4.20 (1149.5) Desde a potência do espírito até o espírito do Paraíso, todo espírito encontra expressão de realidade nessa associação trina da pura essência do espírito do Pai, os valores ativos do espírito do Filho-Espírito e os potenciais ilimitados do espírito do Absoluto da Deidade. Os valores existenciais do espírito têm a sua gênese primordial, a sua manifestação completa e o seu destino final nessa triunidade.
104:4.21 (1149.6) O Pai existe antes do espírito; o Filho-Espírito funciona como espírito criativo ativo; o Absoluto da Deidade existe como um espírito todo-abrangente, mesmo daquilo que está além do espírito.
104:4.22 (1149.7) A Quarta Triunidade — a triunidade da infinitude da energia. Dentro desta triunidade, eternizam-se os começos e os fins de toda a realidade da energia, desde a potência de espaço até a monota. Esse agrupamento abrange o seguinte:
104:4.23 (1149.8) 1. O Pai-Espírito.
104:4.24 (1149.9) 2. A Ilha do Paraíso.
104:4.25 (1149.10) 3. O Absoluto Inqualificável.
104:4.26 (1149.11) O Paraíso é o centro da ativação da energia-força do cosmo — a posição no universo da Primeira Fonte e Centro, o ponto focal cósmico do Absoluto Inqualificável, e a fonte de toda a energia. Existencialmente presente nessa triunidade está o potencial de energia do cosmo-infinito, do qual o grande universo e o universo-mestre são apenas manifestações parciais.
104:4.27 (1149.12) A quarta triunidade controla absolutamente as unidades fundamentais da energia cósmica e libera-as do alcance do Absoluto Inqualificável, na proporção direta do aparecimento, nas Deidades experienciais, da capacidade subabsoluta de controlar e de estabilizar o cosmo em metamorfose.
104:4.28 (1149.13) Essa triunidade é força e energia. As possibilidades infindáveis do Absoluto Inqualificável estão centradas à volta do absolutum da Ilha do Paraíso, de onde emanam as agitações inimagináveis da quietude, de outro modo estática, do Inqualificável. E as pulsações sem fim do coração material do Paraíso do cosmo infinito batem em harmonia com o arquétipo insondável e com o plano impenetrável do Energizador Infinito, a Primeira Fonte e Centro.
104:4.29 (1149.14) A Quinta Triunidade — a triunidade da infinitude reativa. Esta associação consiste de:
104:4.30 (1149.15) 1. O Pai Universal.
104:4.31 (1149.16) 2. O Absoluto Universal.
104:4.32 (1149.17) 3. O Absoluto Inqualificável.
104:4.33 (1149.18) Esse agrupamento produz a eternização da realização da infinitude funcional de tudo que é factualizável dentro dos domínios da realidade da não-deidade. Essa triunidade manifesta uma capacidade reativa ilimitada às ações arquetípicas volicionais, causativas, tensionais e às presenças das outras triunidades.
104:4.34 (1150.1) A Sexta Triunidade — a triunidade da Deidade em associação cósmica. Este agrupamento consiste de:
104:4.35 (1150.2) 1. O Pai Universal.
104:4.36 (1150.3) 2. O Absoluto da Deidade.
104:4.37 (1150.4) 3. O Absoluto Universal.
104:4.38 (1150.5) Essa é a associação da Deidade-no-cosmo, a imanência da Deidade em conjunção com a transcendência da Deidade. Essa é a última expansão da divindade, até os níveis da infinitude, na direção daquelas realidades que estão fora do domínio da realidade deificada.
104:4.39 (1150.6) A Sétima Triunidade — a triunidade da unidade infinita. Esta é a unidade da infinitude funcionalmente manifesta no tempo e na eternidade, a unificação coordenada dos factuais e dos potenciais. Este grupo consiste em:
104:4.40 (1150.7) 1. O Pai Universal.
104:4.41 (1150.8) 2. O Agente Conjunto.
104:4.42 (1150.9) 3. O Absoluto Universal.
104:4.43 (1150.10) O Agente Conjunto integra universalmente os aspectos funcionais variáveis de toda a realidade factualizada em todos os níveis de manifestação, desde os finitos, passando pelos transcendentais e indo até os absolutos. O Absoluto Universal compensa perfeitamente os diferenciais inerentes aos aspectos variáveis de toda a realidade incompleta, desde as potencialidades ilimitadas da realidade da Deidade volicional-ativa e causativa às possibilidades sem fim da realidade não-deificada estática e reativa, nos domínios incompreensíveis do Absoluto Inqualificável.
104:4.44 (1150.11) À medida que funcionam nessa triunidade, o Agente Conjunto e o Absoluto Universal são igualmente sensíveis às presenças da Deidade e da não-deidade, como também o é a Primeira Fonte e Centro, que nessa relação é, para todos os intentos e propósitos, conceitualmente indistinguível do EU SOU.
104:4.45 (1150.12) Essas abordagens aproximativas são suficientes para elucidar o conceito das triunidades. Não conhecendo o nível último das triunidades, vós não podeis compreender plenamente as primeiras sete. Se bem que nós não consideremos sábio tentar qualquer elaboração posterior, podemos dizer que existem quinze associações trinas da Primeira Fonte e Centro, oito das quais não são reveladas nestes documentos. Essas associações não reveladas estão envolvidas com as realidades, as factualidades e as potencialidades que estão além do nível experiencial da supremacia.
104:4.46 (1150.13) As triunidades são como grandes rodas volantes gerando o equilíbrio funcional da infinitude, são a unificação na unicidade dos sete Absolutos da Infinitude. São as presenças existenciais das triunidades que capacitam o Pai-EU SOU a experienciar a unidade de infinitude funcional, a despeito da diversificação da infinitude nos sete Absolutos. A Primeira Fonte e Centro é o membro unificador de todas as triunidades; Nele, todas as coisas têm os seus começos inqualificáveis, as suas existências eternas e os seus destinos infinitos — “Nele consistem todas as coisas”.
104:4.47 (1150.14) Embora essas associações não possam aumentar a infinitude do Pai-EU SOU, elas parecem tornar possíveis as manifestações subinfinitas e subabsolutas da Sua realidade. As sete triunidades multiplicam a versatilidade, eternizam novas profundidades, deificam novos valores, desvelam novas potencialidades, revelam novos significados; e todas essas manifestações diversificadas no tempo e no espaço, e no cosmo eterno, são existentes na estase hipotética da infinitude original do EU SOU.
104:5.1 (1151.1) Há algumas outras relações trinas que têm uma constituição do tipo não-Pai, mas elas não são triunidades reais e sempre se distinguem das triunidades do tipo Pai. Elas são chamadas de modos variados: triunidades associadas, triunidades coordenadas e triodidades. Elas são uma conseqüência da existência das triunidades. Duas dessas associações são constituídas do seguinte modo:
104:5.2 (1151.2) A Triodidade da Factualidade. Esta triodidade consiste na inter-relação dos três factuais absolutos:
104:5.3 (1151.3) 1. O Filho Eterno.
104:5.4 (1151.4) 2. A Ilha do Paraíso.
104:5.5 (1151.5) 3. O Agente Conjunto.
104:5.6 (1151.6) O Filho Eterno é o absoluto da realidade do espírito, a personalidade absoluta. A Ilha do Paraíso é o absoluto da realidade cósmica, o arquétipo absoluto. O Agente Conjunto é o absoluto da realidade da mente, o coordenado da realidade absoluta do espírito e a síntese da Deidade existencial da personalidade e do poder. Essa associação trina realiza a coordenação da soma total da realidade factualizada — do espírito, do cosmo e da mente. É inqualificável na factualidade.
104:5.7 (1151.7) A Triodidade da Potencialidade. Esta triodidade consiste na associação dos três Absolutos da potencialidade:
104:5.8 (1151.8) 1. O Absoluto da Deidade.
104:5.9 (1151.9) 2. O Absoluto Universal.
104:5.10 (1151.10) 3. O Absoluto Inqualificável.
104:5.11 (1151.11) Assim, estão interassociados os reservatórios da infinitude de toda realidade de energia latente — do espírito, da mente e do cosmo. Essa associação produz a integração de toda a realidade de energia latente. E é infinita em potencial.
104:5.12 (1151.12) Do mesmo modo que as triunidades estão primariamente ocupadas com a unificação funcional da infinitude, as triodidades estão envolvidas com o surgimento cósmico das Deidades experienciais. As triunidades ocupam-se indiretamente, mas as triodidades estão diretamente envolvidas com as Deidades experienciais — o Supremo, o Último e o Absoluto. Elas aparecem na síntese emergente do poder de personalidade do Ser Supremo. E, para as criaturas temporais do espaço, o Ser Supremo é uma revelação da unidade do EU SOU.
104:5.13 (1151.13) [Apresentado por um Melquisedeque de Nébadon.]
O Livro de Urântia
Documento 105
105:0.1 (1152.1) MESMO para as ordens mais elevadas de inteligências do universo, a infinitude é compreensível apenas parcialmente, e a finalidade da realidade só é compreensível relativamente. Quando a mente humana procura penetrar o mistério eterno de origem e destino de tudo que é chamado de real, pode ser-lhe útil abordar a questão concebendo a eternidade-infinitude como uma elipse quase sem limite, que é gerada por uma causa absoluta e que funciona nesse círculo universal de diversificação infindável, buscando sempre algum potencial de destino absoluto e infinito.
105:0.2 (1152.2) Quando o intelecto mortal tenta captar o conceito da totalidade da realidade, essa mente finita fica frente a frente com a realidade da infinitude; a totalidade da realidade é a infinitude e, portanto, não pode nunca ser plenamente compreendida por qualquer mente que é subinfinita na sua capacidade de conceituação.
105:0.3 (1152.3) Dificilmente a mente humana consegue elaborar um conceito sobre a existência na eternidade que seja adequado e, sem essa compreensão, é impossível descrever na íntegra os nossos conceitos da realidade. Contudo, podemos tentar fazer essa apresentação, se bem que estejamos plenamente cientes de que os nossos conceitos estarão sujeitos a uma profunda distorção no processo de traduzi-los, modificando-os para o nível de compreensão da mente mortal.
105:1.1 (1152.4) A causação primeira absoluta na infinitude é atribuída, pelos filósofos do universo, ao Pai Universal atuando como o infinito, o eterno e absoluto EU SOU.
105:1.2 (1152.5) A apresentação, para o intelecto humano, dessa idéia de um EU SOU infinito traz em si muitos elementos de perigo, posto que esse conceito está tão distante do entendimento experiencial humano a ponto de envolver distorções sérias de significados e erros quanto aos valores. Contudo, o conceito filosófico do EU SOU proporciona aos seres finitos formar uma certa base para uma aproximação de entendimento parcial das origens absolutas e dos destinos infinitos. Todavia, em todas as nossas tentativas de elucidar a gênese e a fruição da realidade, que fique claro que esse conceito do EU SOU é, em todos os significados e valores relacionados à personalidade, sinônimo da Primeira Pessoa da Deidade, o Pai Universal de todas as personalidades. Todavia, esse postulado do EU SOU não é muito claramente identificável nos domínios não-deificados da realidade universal.
105:1.3 (1152.6) O EU SOU é o Infinito; o EU SOU é também a infinitude. De um ponto de vista seqüencial no tempo, toda realidade tem a sua origem no infinito EU SOU, cuja existência solitária na eternidade passada infinita deve ser um postulado filosófico primeiro da criatura finita. O conceito do EU SOU denota infinitude inqualificável, a realidade indiferenciada de tudo o que poderia ser em toda uma eternidade infinita.
105:1.4 (1153.1) Como conceito existencial, o EU SOU não é nem deificado, nem não-deificado; nem factual, nem potencial; nem pessoal, nem impessoal; nem estático, nem dinâmico. Nenhuma qualificação pode ser aplicada ao Infinito, exceto afirmar que o EU SOU é. O postulado filosófico do EU SOU é um conceito no universo que é um pouco mais difícil de ser compreendido do que o Absoluto Inqualificável.
105:1.5 (1153.2) Para a mente finita, simplesmente deve haver um começo e, embora nunca tenha havido um começo real para a realidade, ainda há certas relações de fonte que a realidade mantém com a infinitude. A situação primordial de pré-realidade da eternidade pode ser pensada como algo assim: em algum momento infinitamente distante, hipotético, na eternidade passada, o EU SOU pode ser concebido como coisa tanto quanto como não-coisa, como causa tanto quanto como efeito, como volição e como resposta. Nesse momento hipotético na eternidade, não há diferenciação em toda a infinitude. A infinitude é preenchida pelo Infinito; o Infinito abrange a infinitude. Esse é o momento estático hipotético da eternidade; os factuais estão ainda contidos dentro dos potenciais, e os potenciais ainda não apareceram dentro da infinitude do EU SOU. Mas, mesmo nessa situação de conjectura, devemos assumir que exista a possibilidade da vontade própria.
105:1.6 (1153.3) Lembrai-vos sempre de que a compreensão que os homens têm do Pai Universal é a de uma experiência pessoal. Deus, como o vosso Pai espiritual, é compreensível para vós e para todos os outros mortais; mas o conceito que a vossa adoração experiencial tem do Pai Universal deve ser sempre menos que o vosso postulado filosófico da infinitude da Primeira Fonte e Centro, o EU SOU. Quando falamos do Pai, queremos referir-nos a Deus como compreensível pelas suas criaturas, tanto as elevadas quanto as inferiores, mas há muito mais da Deidade que não é compreensível para as criaturas do universo. Deus, o vosso Pai e meu Pai, é aquele aspecto do Infinito que percebemos nas nossas personalidades como uma realidade factual experiencial, mas o EU SOU permanece para sempre como a nossa hipótese de tudo que sentimos ser incognoscível sobre a Primeira Fonte e Centro. E mesmo essa hipótese, provavelmente, fica longe da infinitude insondável da realidade original.
105:1.7 (1153.4) O universo dos universos, com as suas inumeráveis hostes de personalidades que o habitam, é um organismo vasto e complexo, mas, a Primeira Fonte e Centro é infinitamente mais complexa do que os universos e as personalidades que se tornaram reais, em resposta aos mandados da Sua vontade. Ao admirardes a magnitude do universo-mestre, parai para considerar que, mesmo essa criação inconcebível, pode não ser nada mais do que uma revelação parcial do Infinito.
105:1.8 (1153.5) A infinitude, verdadeiramente, está muito longe do nível da experiência da compreensão dos mortais, mas, mesmo nesta idade em Urântia, os vossos conceitos de infinitude estão-se ampliando e continuarão a crescer durante as vossas carreiras sem fim, que se estenderão adiante pela eternidade futura. A infinitude inqualificável não tem sentido para a criatura finita, mas a infinitude é capaz de autolimitação e é susceptível de exprimir a realidade para todos os níveis de existências no universo. E o rosto que o Infinito apresenta a todas as personalidades do universo é a face de um Pai, o Pai Universal do amor.
105:2.1 (1153.6) Considerando a gênese da realidade, tende sempre em mente que toda a realidade absoluta vem da eternidade, e que não tem começo de existência. Por realidade absoluta, entendemos as três pessoas existenciais da Deidade, a Ilha do Paraíso e os três Absolutos. Essas sete realidades são coordenadamente eternas, não obstante hajamos recorrido à linguagem do tempo e do espaço para apresentar as suas origens seqüenciais aos seres humanos.
105:2.2 (1154.1) Ao proceder a uma descrição cronológica das origens da realidade, é preciso admitir um instante teórico, postulado como sendo a “primeira” expressão volicional e a “primeira” reação de repercussão dentro do EU SOU. Nas nossas tentativas de descrever a gênese e a geração da realidade, esse estágio pode ser concebido como a autodiferenciação que o Infinito Uno faz da Infinitude. Contudo, a postulação dessa relação dual deve sempre ser expandida até uma concepção trina mediante o reconhecimento do contínuo eterno da Infinitude, o EU SOU.
105:2.3 (1154.2) Essa autometamorfose do EU SOU culmina na diferenciação múltipla da realidade deificada e da realidade não-deificada, da realidade potencial e da realidade factual e de algumas outras realidades que dificilmente podem ser classificadas assim. Essas diferenciações do EU SOU teórico e monista estão eternamente integradas por relações simultâneas que surgem dentro do mesmo EU SOU — a pré-realidade monoteísta pré-potencial, pré-factual e pré-pessoal que, embora infinita, é revelada como absoluta na presença da Primeira Fonte e Centro e como personalidade no amor ilimitado do Pai Universal.
105:2.4 (1154.3) Mediante essas metamorfoses internas, o EU SOU passa a estabelecer a base para uma auto-relação sétupla. O conceito filosófico (no tempo) do EU SOU solitário e o conceito transitório (temporal) do EU SOU, como trino, podem ser, agora, ampliados para abranger o EU SOU como sétuplo. Essa natureza sétupla — ou de sete fases — pode ser mais bem apresentada em relação aos Sete Absolutos da Infinitude:
105:2.5 (1154.4) 1. O Pai Universal. EU SOU pai do Filho Eterno. Esta é a relação primordial de personalidade das factualidades. A personalidade absoluta do Filho torna absoluto o fato da paternidade de Deus e estabelece a filiação potencial de todas as personalidades. Essa relação estabelece a personalidade do Infinito e consuma a Sua revelação espiritual na personalidade do Filho Original. Essa fase do EU SOU é parcialmente experienciável em níveis espirituais, até mesmo pelos mortais que, enquanto ainda estão na carne, podem adorar o nosso Pai.
105:2.6 (1154.5) 2. O Controlador Universal. EU SOU a causa do Paraíso eterno. Esta é a relação impessoal primordial das factualidades, a associação não-espiritual original. O Pai Universal é Deus, enquanto é amor; o Controlador Universal é Deus, enquanto arquétipo. Essa relação estabelece o potencial da forma — a configuração — e determina o modelo mestre do relacionamento impessoal e não-espiritual — o modelo mestre do qual todas as cópias são feitas.
105:2.7 (1154.6) 3. O Criador Universal. EU SOU um com o Filho Eterno. Esta união do Pai e do Filho (na presença do Paraíso) inicia o ciclo criativo, que é consumado no aparecimento da personalidade conjunta e do universo eterno. Do ponto de vista finito do mortal, a realidade tem o seu verdadeiro começo com o aparecimento eterno da criação de Havona. Esse ato criativo da Deidade é feito pelo Deus da Ação e por intermédio dele, que é, em essência, a unidade do Pai-Filho manifestada nos níveis, e para todos os níveis, do factual. E, por isso, a divina criatividade é infalivelmente caracterizada pela unidade e essa unidade é o reflexo exterior da unicidade absoluta da dualidade de Pai e Filho e da Trindade do Pai-Filho-Espírito.
105:2.8 (1155.1) 4. O Sustentador Infinito. EU SOU auto-associável. Esta é a associação primordial da estática e dos potenciais da realidade. Nessas relações, todos os fatores qualificáveis e inqualificáveis são compensados. A noção que permite a melhor compreensão dessa fase do EU SOU é a do Absoluto Universal — o unificador da Deidade e dos Absolutos Inqualificáveis.
105:2.9 (1155.2) 5. O Potencial Infinito. EU SOU autoqualificável. Esta é a marca da infinitude que dá o testemunho eterno da autolimitação volitiva do EU SOU, em virtude da qual foi alcançada a auto-expressão, a auto-revelação tríplice. Essa fase do EU SOU é geralmente compreendida como o Absoluto da Deidade.
105:2.10 (1155.3) 6. A Capacidade Infinita. EU SOU estático-reativo. Esta é a matriz sem fim, a possibilidade de toda a expansão cósmica futura. A melhor maneira de conceber essa fase do EU SOU talvez seja a noção da presença da supergravidade do Absoluto Inqualificável.
105:2.11 (1155.4) 7. O Uno Universal da Infinitude. EU SOU enquanto EU SOU. Esta é a estase, ou a relação da Infinitude com ela própria, o fato eterno da realidade da infinitude e da verdade universal, que é a infinitude da realidade. Já que essa relação é discernível, como personalidade, ela é revelada aos universos na figura do Pai divino de toda personalidade e mesmo da personalidade absoluta. Até onde essa relação for exprimível impessoalmente, o universo toma contato com ela como coerência absoluta da energia pura e do espírito puro na presença do Pai Universal. Já que essa relação é concebível como um absoluto, ela é revelada na primazia da Primeira Fonte e Centro; Nela, todos nós vivemos, nos movemos e temos os nossos seres, desde as criaturas do espaço aos cidadãos do Paraíso; e isso é verdadeiro tanto para o universo-mestre quanto para o ultímaton infinitesimal, e é tão verdadeiro sobre o que será e sobre o que é, tanto quanto sobre o que foi.
105:3.1 (1155.5) As sete relações primordiais, dentro do EU SOU, eternizam-se como Sete Absolutos da Infinitude. Embora, porém, possamos descrever as origens da realidade e a diferenciação da infinitude por uma narrativa seqüencial, de fato, todos sete Absolutos são, inqualificável e coordenadamente, eternos. Pode ser necessário às mentes mortais conceber os seus começos, mas essa concepção deveria ser sempre dominada pela compreensão de que os sete Absolutos não tiveram nenhum começo; eles são eternos e têm sempre sido. Os sete Absolutos são a premissa da realidade. Eles têm sido descritos nestes documentos do modo seguinte:
105:3.2 (1155.6) 1. A Primeira Fonte e Centro. Primeira Pessoa da Deidade e arquétipo primordial da não-deidade, Deus, o Pai Universal, criador, controlador e sustentador; amor universal, espírito eterno e energia infinita; potencial de todos os potenciais e fonte de todos os factuais; estabilidade de toda a estática e dinamismo de toda mudança; fonte dos modelos e dos arquétipos e Pai das pessoas. Coletivamente, todos os sete Absolutos equivalem à infinitude, mas o Pai Universal é, Ele próprio, de fato infinito.
105:3.3 (1155.7) 2. A Segunda Fonte e Centro. Segunda Pessoa da Deidade, o Filho Eterno e Original; realidade da personalidade absoluta do EU SOU e base para a compreensão-revelação do “EU SOU personalidade”. Nenhuma personalidade pode esperar alcançar o Pai Universal, a não ser por intermédio do Seu Filho Eterno; nem a personalidade pode alcançar níveis espirituais de existência fora da ação e da ajuda desse modelo absoluto de todas as personalidades. Na Segunda Fonte e Centro, o espírito é inqualificável, enquanto a personalidade é absoluta.
105:3.4 (1156.1) 3. A Fonte e Centro do Paraíso. O segundo modelo da não-deidade, a Ilha Eterna do Paraíso; base para a compreensão-revelação do “EU SOU força” e fundação para o estabelecimento do controle da gravidade em todos os universos. Com relação a toda realidade factualizada, não-espiritual, impessoal e não-volicional, o Paraíso é o absoluto dos arquétipos. Do mesmo modo que a energia do espírito está relacionada ao Pai Universal, por intermédio da personalidade absoluta do Filho-Mãe, assim, toda a energia cósmica é mantida sob o controle gravitacional da Primeira Fonte e Centro, por intermédio do modelo absoluto da Ilha do Paraíso. O Paraíso não está no espaço; o espaço existe em relação ao Paraíso, e a cronicidade do movimento é determinada pela sua relação com o Paraíso. A Ilha Eterna está absolutamente em repouso; todas as outras energias organizadas e em organização estão em movimento eterno; em todo o espaço, apenas a presença do Absoluto Inqualificável está quieta, e o Inqualificável está coordenado com o Paraíso. O Paraíso existe no foco do espaço, o Inqualificável penetra-o, e toda existência relativa tem o seu princípio dentro desse domínio.
105:3.5 (1156.2) 4. A Terceira Fonte e Centro. Terceira Pessoa da Deidade, o Agente Conjunto, é o integrador infinito das energias cósmicas do Paraíso com as energias do espírito do Filho Eterno, o coordenador perfeito dos motivos da vontade e mecânica da força; unificador de toda realidade factual e em factualização. Mediante as ministrações dos seus múltiplos filhos, o Espírito Infinito revela a misericórdia do Filho Eterno, enquanto funciona, ao mesmo tempo, como o manipulador infinito, tecendo para sempre o arquétipo do Paraíso nas energias do espaço. Esse mesmo Agente Conjunto, esse Deus da Ação, é a expressão perfeita dos planos e dos propósitos sem limite do Pai-Filho, pois funciona, ele próprio, como fonte da mente e outorgador do intelecto às criaturas de um vastíssimo cosmo.
105:3.6 (1156.3) 5. O Absoluto de Deidade. As possibilidades causais potencialmente pessoais de realidade universal, a totalidade de todo potencial de Deidade. O Absoluto de Deidade é o qualificador intencional das realidades inqualificáveis, das realidades absolutas e das realidades não-deidades. O Absoluto de Deidade é qualificador do absoluto e absolutizador do qualificado — o iniciador do destino.
105:3.7 (1156.4) 6. O Absoluto Inqualificável. Estático, reativo e passivo; é a infinitude cósmica não revelada do EU SOU; a totalidade da realidade não-deificada e a finalidade de todo potencial não pessoal. O espaço limita as funções do Inqualificável, mas a presença do Inqualificável é ilimitada, infinita. Há um conceito de periferia para o universo-mestre, mas a presença do Inqualificável é ilimitada; mesmo a eternidade não pode exaurir a quiescência ilimitada desse Absoluto não-deidade.
105:3.8 (1156.5) 7. O Absoluto Universal. Unificador do deificado e do não-deificado; correlator do absoluto e do relativo. O Absoluto Universal (sendo estático, potencial e associativo) compensa a tensão entre o sempre-existente e o incompleto (ou inacabado).
105:3.9 (1156.6) Os Sete Absolutos de Infinitude constituem os começos da realidade. Como as mentes mortais considerá-la-iam, a Primeira Fonte e Centro pareceria ser antecedente a todos os absolutos. Contudo, tal postulado, ainda que ajude, é invalidado pela coexistência, na eternidade, do Filho, do Espírito, dos três Absolutos e da Ilha do Paraíso.
105:3.10 (1157.1) É uma verdade que os Absolutos sejam manifestações do EU SOU — Primeira Fonte e Centro; é um fato que esses Absolutos nunca tiveram um começo, e que são coordenados eternos com a Primeira Fonte e Centro. As relações dos absolutos na eternidade não podem sempre ser apresentadas sem envolver paradoxos na linguagem do tempo e nos arquétipos conceituais do espaço. Mas, apesar de qualquer confusão relativa à origem dos Sete Absolutos da Infinitude, não apenas é um fato, mas uma verdade que toda realidade baseia-se na existência deles, na eternidade, e nas suas relações de infinitude.
105:4.1 (1157.2) Os filósofos do universo postulam a existência na eternidade do EU SOU, como força primordial de toda realidade. E, concomitantemente, eles postulam a auto-segmentação do EU SOU nas auto-relações primárias — as sete fases da infinitude. E, simultaneamente com essa suposição, vem o terceiro postulado — o surgimento, na eternidade, dos Sete Absolutos da Infinitude e a eternização da associação de dualidade das sete fases do EU SOU, com esses sete Absolutos.
105:4.2 (1157.3) A auto-revelação do EU SOU, assim, procede do eu estático, por meio da segmentação dele próprio e do seu auto-relacionamento com as relações absolutas, os relacionamentos com os Absolutos autoderivados. A dualidade torna-se, assim, existente na associação eterna dos Sete Absolutos da Infinitude com a infinitude sétupla das fases auto-segmentadas do EU SOU auto-revelador. Essas relações duais, eternizando-se para os universos, como os sete Absolutos, eternizam os fundamentos básicos para toda a realidade do universo.
105:4.3 (1157.4) Foi afirmado, certa vez, que a unidade origina a dualidade, que a dualidade gera a triunidade e que a triunidade é o antepassado eterno de todas as coisas. Há, na verdade, três grandes classes de relações primordiais, e elas são:
105:4.4 (1157.5) 1. Relações de unidade. Relações existentes internamente no EU SOU, quando a unidade é concebida Dele, como autodiferenciações tríplices e então sétuplas.
105:4.5 (1157.6) 2. Relações de dualidade. Relações existentes entre o EU SOU, como sétuplo, e os Sete Absolutos da Infinitude.
105:4.6 (1157.7) 3. Relações de triunidade. Estas são as associações funcionais dos Sete Absolutos da Infinitude.
105:4.7 (1157.8) As relações de triunidade surgem dos fundamentos da dualidade, por causa da inevitabilidade das interassociações dos Absolutos. Tais associações de triunidade eternizam o potencial de toda realidade; elas englobam tanto a realidade deificada quanto a não-deificada.
105:4.8 (1157.9) O EU SOU é infinitude inqualificável enquanto é unidade. As dualidades eternizam os fundamentos da realidade. As triunidades factualizam o entendimento da infinitude como função universal.
105:4.9 (1157.10) Os preexistenciais tornam-se existenciais nos sete Absolutos, e os existenciais tornam-se funcionais nas triunidades, a associação básica dos Absolutos. E, concomitantemente com a eternização das triunidades, o cenário do universo é estabelecido — os potenciais são existentes, e os factuais estão presentes — e a plenitude da eternidade testemunha a diversificação da energia cósmica, a difusão do espírito do Paraíso, e a dotação da mente junto com o outorgamento da personalidade, em virtude do qual todos esses derivados das Deidades e do Paraíso são unificados na experiência, no nível da criatura e, por outras técnicas, no nível das supracriaturas.
105:5.1 (1158.1) Assim como a diversificação original do EU SOU deve ser atribuída à volição inerente e autocontida, do mesmo modo, a promulgação da realidade finita deve ser imputada aos atos volicionais da Deidade do Paraíso e aos ajustes repercussionais das triunidades funcionais.
105:5.2 (1158.2) Antes da deificação do finito, deveria parecer que todas as diversificações da realidade aconteceram em níveis absolutos; mas o ato volicional promulgando a realidade finita conota uma qualificação de absolutez e implica o aparecimento das relatividades.
105:5.3 (1158.3) Se bem que apresentemos esta narrativa como uma seqüência, e retratemos o aparecimento histórico do finito como um derivativo direto do absoluto, dever-se-ia ter em mente que os transcendentais tanto precederam quanto sucederam a tudo que é finito. Os últimos transcendentais são, em relação ao finito, tanto a causa quanto a consumação.
105:5.4 (1158.4) A possibilidade finita é inerente ao Infinito, mas a transmutação da possibilidade em probabilidade e em inevitabilidade deve ser atribuída ao livre-arbítrio auto-existente da Primeira Fonte e Centro, ativando todas as associações de triunidade. Somente a infinitude da vontade do Pai poderia ter qualificado assim o nível absoluto da existência, como para dar existência a um último ou para criar um finito.
105:5.5 (1158.5) Com o surgimento da realidade relativa e qualificável, vem à existência um novo ciclo da realidade — o ciclo do crescimento — , um gesto majestoso de transbordamento, desde as alturas da infinitude até o domínio do finito, para sempre convergindo no Paraíso e na Deidade, buscando sempre aqueles destinos elevados correspondentes de uma fonte infinita.
105:5.6 (1158.6) Essas transações inconcebíveis marcam o começo da história do universo, marcam a vinda à existência do tempo em si mesmo. Para uma criatura, o começo do finito é a gênese da realidade; vista pela mente da criatura, nenhuma factualidade anterior ao finito seria concebível. A recém-surgida realidade finita existe em duas fases originais:
105:5.7 (1158.7) 1. Máximos primários, a realidade supremamente perfeita, o tipo havonal de universo e de criatura.
105:5.8 (1158.8) 2. Máximos secundários, a realidade supremamente perfeccionada, a criatura e a criação do tipo superuniversal.
105:5.9 (1158.9) Essas, então, são as duas manifestações originais: a que é perfeita por constituição e aquela que é perfeccionada por intermédio de uma evolução. As duas são coordenadas nas relações de eternidade, mas, dentro dos limites do tempo, parecem diferentes. O fator tempo significa crescimento para aquela que cresce; os finitos secundários crescem; e, pois, aqueles que estão crescendo devem parecer incompletos no tempo. Mas essas diferenças, que são tão importantes deste lado de cá do Paraíso, são inexistentes na eternidade.
105:5.10 (1158.10) Falamos do perfeito e do perfeccionado como máximos primários e máximos secundários, mas há ainda um outro tipo: a trinitarização e as outras relações entre os primários e os secundários resultam no aparecimento dos máximos terciários — coisas, significados e valores que não são nem perfeitos, nem perfeccionados, mas que ainda são coordenados aos seus fatores ancestrais.
105:6.1 (1159.1) O conjunto das promulgações das existências finitas representa uma transferência dos potenciais para os factuais, dentro das associações absolutas da infinitude funcional. Entre as muitas repercussões da factualização criativa do finito, podem ser citadas:
105:6.2 (1159.2) 1. A resposta da deidade, o surgimento dos três níveis de supremacia experiencial: a factualidade da supremacia do espírito pessoal em Havona, o potencial de supremacia do poder pessoal no grande universo que virá a ser, e a capacidade de alguma função desconhecida de mente experiencial atuando em algum nível de supremacia no universo-mestre futuro.
105:6.3 (1159.3) 2. A resposta do universo envolveu uma ativação dos planos arquitetônicos para o nível espacial do superuniverso, e essa evolução está ainda em progresso, em todas as partes da organização física dos sete superuniversos.
105:6.4 (1159.4) 3. A repercussão sobre as criaturas. Esta repercussão da promulgação da realidade finita resultou na aparição de seres perfeitos da ordem dos habitantes eternos de Havona e dos seres ascendentes evolucionários perfeccionados, vindos dos sete superuniversos. Mas, para alcançar a perfeição, por meio da experiência evolucionária (temporal-criativa), é necessário algo diferente da perfeição como ponto de partida. Assim, a imperfeição surge nas criações evolucionárias. E essa é a origem do mal potencial. As não-adaptações, a falta de harmonia e o conflito são inerentes ao crescimento evolucionário, abrangendo desde os universos físicos até as criaturas pessoais.
105:6.5 (1159.5) 4. A resposta da divindade à imperfeição, inerente ao lapso de tempo que a evolução leva, é revelada na presença de Deus, o Sétuplo, por meio de cujas atividades aquilo que se está perfeccionando é integrado tanto com o perfeito quanto com o perfeccionado. Esse lapso de tempo, ou demora, é inseparável da evolução, que é a criatividade no tempo. Por causa dele, bem como por outras razões, o poder Todo-Poderoso do Supremo é baseado nos êxitos da divindade de Deus, o Sétuplo. Essa demora no tempo torna possível a participação da criatura na criação divina, permitindo às personalidades criaturas tornarem-se parceiras, com a Deidade, na realização do desenvolvimento máximo. Até mesmo a mente material da criatura mortal, assim, torna-se sócia, com o Ajustador divino, na dualização da alma imortal. Deus, o Sétuplo, também provê técnicas de compensação para as limitações experienciais da perfeição inerente, assim como para compensar as limitações pré-ascensionais da imperfeição.
105:7.1 (1159.6) Os transcendentais são subinfinitos e subabsolutos, mas superfinitos e supercriados. Os transcendentais factualizam-se como um nível integrador, correlacionando os supervalores dos absolutos com os valores máximos dos finitos. Do ponto de vista da criatura, o que é transcendental pareceria haver-se factualizado por conseqüência do finito; do ponto de vista da eternidade, em antecipação do finito; e há aqueles que o têm considerado como um “pré-eco” do finito.
105:7.2 (1159.7) Aquilo que é transcendental não implica necessariamente a ausência de desenvolvimento, mas é superevolucionário no sentido finito; é não-experiencial, mas é uma supra-experiência, no sentido que as criaturas compreendem a experiência. A melhor ilustração desse paradoxo talvez seja o universo central de perfeição: dificilmente Havona é absoluta — apenas a Ilha do Paraíso é verdadeiramente absoluta no sentido “materializado”. Nem é uma criação finita evolucionária, como são os sete superuniversos. Havona é eterna, mas não é imutável, no sentido de ser um universo de não-crescimento. É habitada por criaturas (os nativos de Havona) que nunca foram factualmente criadas, pois são eternamente existentes. Havona, assim, ilustra algo que não é exatamente finito e tampouco ainda absoluto. Além disso, Havona atua como um amortecedor entre o Paraíso absoluto e as criações finitas, ilustrando, ainda mais, a função dos transcendentais. Todavia, Havona ela própria não é um transcendental — é Havona.
105:7.3 (1160.1) Assim como o Supremo está associado com os finitos, o Último é identificado com os transcendentais. No entanto, embora comparemos assim o Supremo e o Último, eles diferem por algo mais do que o grau; a diferença é também uma questão de qualidade. O Último é algo mais do que um super-Supremo projetado no nível transcendental. O Último é tudo isso, mas é mais: o Último é uma factualização de novas realidades da Deidade, a qualificação de novas fases daquilo que até então era inqualificável.
105:7.4 (1160.2) Entre aquelas realidades que estão associadas ao nível transcendental, estão as seguintes:
105:7.5 (1160.3) 1. A presença do Último como Deidade.
105:7.6 (1160.4) 2. O conceito do universo-mestre.
105:7.7 (1160.5) 3. Os Arquitetos do Universo-Mestre.
105:7.8 (1160.6) 4. As duas ordens de organizadores da força do Paraíso.
105:7.9 (1160.7) 5. Algumas modificações na potência espacial.
105:7.10 (1160.8) 6. Alguns valores do espírito.
105:7.11 (1160.9) 7. Alguns significados da mente.
105:7.12 (1160.10) 8. As qualidades e as realidades absonitas.
105:7.13 (1160.11) 9. A onipotência, a onisciência e a onipresença.
105:7.14 (1160.12) 10. O espaço.
105:7.15 (1160.13) O universo em que existimos, agora, pode ser considerado como existindo em níveis finitos, transcendentais e absolutos. E esse é o estágio cósmico no qual se representa o drama sem fim das realizações da personalidade e das metamorfoses da energia.
105:7.16 (1160.14) E todas essas múltiplas realidades são unificadas, absolutamente, por várias triunidades, funcionalmente, pelos Arquitetos do Universo-Mestre, relativamente, pelos Sete Espíritos Mestres, os coordenadores subsupremos da divindade de Deus, o Sétuplo.
105:7.17 (1160.15) Deus, o Sétuplo, representa a revelação da personalidade e da divindade do Pai Universal para as criaturas, não só de status máximo, mas também de status submáximo; mas há outras relações sétuplas da Primeira Fonte e Centro que não pertencem à manifestação do ministério espiritual divino do Deus que é espírito.
105:7.18 (1160.16) Na eternidade do passado, as forças dos Absolutos, os espíritos das Deidades e as personalidades dos Deuses mobilizaram-se para responder à vontade autônoma primordial da vontade existente por si própria. Na idade atual do universo, estamos todos testemunhando as repercussões estupendas do vasto panorama cósmico das manifestações subabsolutas dos potenciais ilimitados de todas essas realidades. E é totalmente possível que a diversificação continuada da realidade original da Primeira Fonte e Centro possa continuar a sua manifestação para frente e para fora, idade após idade, para sempre e sempre, até distâncias inconcebíveis da infinitude absoluta.
105:7.19 (1161.1) [Apresentado por um Melquisedeque de Nébadon.]
O Livro de Urântia
Documento 106
106:0.1 (1162.1) NÃO É suficiente que o mortal ascendente deva saber alguma coisa sobre as relações da Deidade com a gênese e as manifestações da realidade cósmica; ele deveria também compreender alguma coisa das relações existentes entre ele próprio e os inúmeros níveis das realidades existenciais e experienciais, das realidades potenciais e factuais. A orientação terrestre do homem, o seu discernimento cósmico e o seu direcionamento espiritual, todos se elevam mais por meio de uma compreensão melhor das realidades do universo e suas técnicas de interassociação, integração e unificação.
106:0.2 (1162.2) O grande universo atual e o universo-mestre que está surgindo são feitos de muitas formas e fases de realidade, as quais, por sua vez, existem em vários níveis de atividade funcional. Esses múltiplos “existentes” e “latentes” têm sido sugeridos previamente nestes documentos, e agora passam a ser agrupados, por conveniência conceitual, nas categorias seguintes:
106:0.3 (1162.3) 1. Finitos incompletos. Este é o status presente das criaturas ascendentes do grande universo, o estado presente dos mortais de Urântia. Esse nível abrange a existência da criatura, desde os humanos planetários até os finalitores, ou que atingiram o destino, sem incluir estes últimos. Diz respeito aos universos, desde os seus começos físicos, até o estabelecimento em luz e vida, mas não inclui esse estágio. Esse nível constitui a periferia presente da atividade criativa, no tempo e no espaço. Parece estar movendo-se para fora do Paraíso, para o fechamento da presente idade do universo, que irá testemunhar a realização do grande universo em luz e vida; e irá também, e certamente, testemunhar o surgimento de alguma nova ordem de crescimento, de desenvolvimento, no primeiro nível do espaço exterior.
106:0.4 (1162.4) 2. Finitos máximos. Este é o estado presente de todas as criaturas experienciais que atingiram o destino — o destino enquanto revelado dentro do escopo da presente idade do universo. Mesmo os universos podem atingir o máximo em status, tanto espiritual quanto fisicamente. Mas o termo “máximo” é, em si mesmo, um termo relativo — máximo em relação a quê? E aquilo que o máximo é, aparentemente o máximo final, na presente idade do universo, pode não ser nada mais do que o verdadeiro começo, em termos das idades futuras. Algumas fases de Havona parecem estar na ordem máxima.
106:0.5 (1162.5) 3. Transcendentais. Este nível suprafinito (antecedentemente) segue uma progressão finita. Ele implica a gênese prefinita dos começos finitos e a significância pós-finita de todos os fins aparentes finitos, ou destinos. Grande parte do Paraíso-Havona parece ser da ordem transcendental.
106:0.6 (1162.6) 4. Últimos. Este nível engloba o que for de significância para o nível do universo-mestre e impinge-se ao nível do destino do universo-mestre completo. O Paraíso-Havona (especialmente o circuito dos mundos do Pai) é, sob muitos pontos de vista, de significação última.
106:0.7 (1163.1) 5. Co-absolutos. Este nível implica a projeção de experienciais em um campo de expressão criativa que é superior ao universo-mestre.
106:0.8 (1163.2) 6. Absolutos. Este nível conota a presença, na eternidade, dos sete Absolutos existenciais. Pode também englobar algum grau de realização associativa experiencial, no entanto, se assim for, ficamos sem entender como possa ser; talvez por intermédio de um contato potencial de personalidade.
106:0.9 (1163.3) 7. Infinitude. Este nível é preexistencial e pós-experiencial. A unidade inqualificável da infinitude é uma realidade hipotética, anterior a todos os começos e após todos os destinos.
106:0.10 (1163.4) Esses níveis de realidade são símbolos, do compromisso de conveniência da idade atual do universo, e, da perspectiva dos mortais. Há um sem número de outros modos de ver a realidade da perspectiva não-mortal e do ponto de vista de outras idades do universo. Assim, deveria ser reconhecido que os conceitos aqui apresentados são inteiramente relativos; e relativos no sentido de serem condicionados e limitados:
106:0.11 (1163.5) 1. Pelas limitações da linguagem dos mortais.
106:0.12 (1163.6) 2. Pelas limitações da mente mortal.
106:0.13 (1163.7) 3. Pelo desenvolvimento limitado dos sete superuniversos.
106:0.14 (1163.8) 4. Pela vossa ignorância dos seis propósitos primordiais do desenvolvimento do superuniverso, no que não é pertinente à ascensão dos mortais ao Paraíso.
106:0.15 (1163.9) 5. Pela vossa incapacidade de compreender um ponto de vista da eternidade, ainda que de modo parcial.
106:0.16 (1163.10) 6. Pela impossibilidade de retratar a evolução cósmica e o destino com relação a todas as idades do universo, e não apenas com respeito à idade presente do desdobrar evolucionário dos sete superuniversos.
106:0.17 (1163.11) 7. Pela incapacidade que qualquer criatura tem de captar o que realmente significam os preexistenciais, ou os pós-experienciais — aquilo que se situa antes dos começos e depois dos destinos.
106:0.18 (1163.12) O crescimento da realidade é condicionado pelas circunstâncias das sucessivas idades universais. O universo central não passou por nenhuma alteração evolucionária na idade Havonal, mas, nas épocas presentes da idade do superuniverso, ele está passando por certas mudanças progressivas, induzidas em coordenação com os superuniversos evolucionários. Os sete superuniversos, ora em evolução, atingirão, em algum momento, o status de estabelecidos em luz e vida; atingirão o limite de crescimento na idade universal atual. Sem nenhuma dúvida, porém, a próxima idade, a idade do primeiro nível do espaço exterior, liberará os superuniversos das limitações do destino, próprias da idade atual. A repleção está-se sobrepondo continuamente à fase do completar.
106:0.19 (1163.13) Essas são algumas das limitações que encontramos, ao tentar apresentar um conceito unificado do crescimento cósmico das coisas, dos significados e dos valores e das suas sínteses, em níveis sempre ascendentes de realidade.
106:1.1 (1163.14) As fases primárias da realidade finita ou aquelas que têm origem no espírito encontram a expressão imediata, de personalidades perfeitas, nos níveis da criatura e, de criação perfeita de Havona, nos níveis do universo. E até a Deidade experiencial é assim expressa na pessoa espiritual de Deus, o Supremo, em Havona. Mas as fases secundárias do finito, que são evolucionárias, condicionadas pelo tempo e pela matéria, tornam-se cosmicamente integradas apenas em resultado do seu crescimento e realização. Todos os finitos secundários ou perfeccionantes finalmente estão para alcançar um nível igual àquele da perfeição primária, mas tal destino está sujeito à demora do tempo, a uma qualificação constitutiva superuniversal, que não é geneticamente encontrada na criação central. (Sabemos da existência dos finitos terciários, mas a técnica da sua integração ainda é irrevelada.)
106:1.2 (1164.1) Essa demora superuniversal no tempo, esse obstáculo à realização da perfeição permite à criatura participar do crescimento evolucionário. E torna, assim, possível à criatura entrar em co-participação, junto com o Criador, na evolução de si própria. E, durante esse tempo de crescimento expansivo, o incompleto é correlacionado ao perfeito, por meio da ministração de Deus, o Sétuplo.
106:1.3 (1164.2) Deus, o Sétuplo, significa o reconhecimento, da parte da Deidade do Paraíso, das barreiras do tempo nos universos evolucionários do espaço. Não importando quão afastada do Paraíso, quão longe no espaço seja a origem de uma personalidade material com potencial de sobrevivência, Deus, o Sétuplo, encontrar-se-á presente ali, junto a ela, e estará empenhado na ministração do amor e da misericórdia, da verdade, da beleza e da bondade, para com essa criatura evolucionária incompleta e em luta. A ministração da divindade do Sétuplo estende-se, na direção interior, por intermédio do Filho Eterno, até o Pai do Paraíso e, na direção externa, por intermédio dos Anciães dos Dias, até os Pais dos universos — os Filhos Criadores.
106:1.4 (1164.3) O homem, sendo pessoal e ascendendo por meio da progressão espiritual, encontra a divindade pessoal e espiritual da Deidade Sétupla; mas há outras fases do Sétuplo que não estão envolvidas com a progressão da personalidade. Os aspectos da divindade, desse agrupamento sétuplo de Deidades, no presente, estão integrados na ligação entre os Sete Espíritos Mestres e o Agente Conjunto; mas eles estão destinados a ser unificados, eternamente, na personalidade emergente do Ser Supremo. As outras fases da Deidade Sétupla estão integradas, de modos variados, na idade atual do universo, mas todas estão destinadas, do mesmo modo, a ser unificadas no Supremo. O Sétuplo, em todas as fases, é a fonte da unidade relativa da realidade funcional do presente grande universo.
106:2.1 (1164.4) Do mesmo modo que Deus, o Sétuplo, coordena funcionalmente a evolução finita, o Ser Supremo finalmente sintetiza o alcançar do destino. O Ser Supremo é a culminância da deidade da evolução do grande universo — a evolução física em torno de um núcleo de espírito e a dominação final, do núcleo do espírito, sobre os âmbitos da evolução física, que giram na circunvizinhança. E tudo isso acontece de acordo com os mandados da personalidade: a personalidade do Paraíso, no sentido mais elevado; a personalidade Criadora, no sentido universal; a personalidade mortal, no sentido humano; a personalidade Suprema, no sentido da culminância ou do sentido experiencial totalizador.
106:2.2 (1164.5) O conceito do Supremo deve proporcionar o reconhecimento diferencial da pessoa do espírito, do poder evolucionário e da síntese poder-personalidade — da unificação do poder evolucionário junto à personalidade espírito, e o predomínio dessa personalidade-espírito sobre o poder evolucionário.
106:2.3 (1164.6) O espírito, em última análise, vem do Paraíso, através de Havona. A energia-matéria parece evoluir nas profundezas do espaço, e é organizada, como força, pelos filhos do Espírito Infinito, em conjunção com os Filhos Criadores de Deus. E tudo isso é experiencial; é uma transação no tempo e no espaço, envolvendo uma ampla gama de seres vivos, incluindo mesmo as divindades Criadoras e as criaturas evolucionárias. A mestria e o controle do poder, por parte das divindades Criadoras, no grande universo, expande-se, lentamente, para englobar o estabelecimento e a estabilização evolucionária das criações tempo-espaciais, e esse é o florescimento do poder experiencial de Deus, o Sétuplo. Ele engloba toda a gama de realização da divindade no tempo e no espaço, desde os outorgamentos do Ajustador do Pai Universal até as auto-outorgas de vida dos Filhos do Paraíso. Esse é o poder ganho, o poder demonstrado, o poder experiencial; o qual contrasta com o poder eterno, o poder incomensurável, o poder existencial das Deidades do Paraíso.
106:2.4 (1165.1) Esse poder experiencial, advindo das realizações da divindade do próprio Deus, o Sétuplo, manifesta as qualidades coesivas da divindade, pela síntese — a totalização — , como a força todo-poderosa do domínio experiencial alcançado nas criações em evolução. E essa força todo-poderosa encontra, por sua vez, a coesão da personalidade do espírito, na esfera-piloto do cinturão externo dos mundos de Havona, em união com a personalidade espiritual, da presença Havonal de Deus, o Supremo. Assim, a Deidade experiencial culmina a longa luta evolucionária, investindo o produto do poder tempo-espacial na presença espiritual e na personalidade divina residente na criação central.
106:2.5 (1165.2) Assim, o Ser Supremo finalmente consegue abranger tudo, de todos atributos de todas as coisas que evoluem no tempo e no espaço, dotando esses atributos com uma personalidade espiritual. E já que as criaturas, até mesmo as mortais, são personalidades que participam dessa transação grandiosa, elas certamente atingem a capacidade de conhecer o Supremo e de perceber o Supremo como filhos verdadeiros de tal Deidade evolucionária.
106:2.6 (1165.3) Michael de Nébadon é como o Pai do Paraíso, porque ele compartilha a perfeição do Pai do Paraíso; e, assim, os mortais evolucionários irão, em algum momento, atingir a semelhança com o Supremo experiencial, pois eles irão verdadeiramente partilhar, junto com ele, da sua perfeição evolucionária.
106:2.7 (1165.4) Deus, o Supremo, é experiencial; e, assim, ele é completamente experienciável. As realidades existenciais dos sete Absolutos não são perceptíveis pela técnica da experiência; apenas as realidades de personalidade, do Pai, do Filho e do Espírito podem ser captadas pela personalidade da criatura finita, na atitude de oração-adoração.
106:2.8 (1165.5) À síntese poder-personalidade completa do Ser Supremo estará associada toda a absolutez das várias triodidades que poderiam estar a ele associadas, e essa personalidade grandiosa, advinda da evolução, será atingível e compreensível experiencialmente por todas as personalidades finitas. Quando os seres ascendentes atingirem o sétimo estágio postulado para a existência do espírito, eles irão experienciar, nele, a realização de um novo significado-valor da absolutez e da infinitude das triodidades, tal como foi revelado em níveis subabsolutos no Ser Supremo, que é experienciável. Contudo, o alcance desses estágios de desenvolvimento máximo, terá, provavelmente, que esperar o estabelecimento de todo o grande universo em luz e vida.
106:3.1 (1165.6) Os arquitetos absonitos tornam possível o plano; os Criadores Supremos trazem-no à existência; o Ser Supremo consumará a sua plenitude, tal como foi criado no tempo, pelos Criadores Supremos, e tal como foi previsto no espaço, pelos Arquitetos Mestres.
106:3.2 (1165.7) Durante a idade presente do universo, a coordenação administrativa do universo-mestre é função dos Arquitetos do Universo-Mestre. O surgimento do Supremo Todo-Poderoso, quando do término da idade presente do universo, significará, todavia, que o finito evolucionário terá atingido o primeiro estágio do destino experiencial. Esse acontecimento certamente conduzirá ao funcionamento completo da primeira Trindade experiencial — formada na união dos Criadores Supremos, do Ser Supremo e dos Arquitetos do Universo-Mestre. Essa Trindade está destinada a efetivar o prosseguimento da integração evolucionária da criação mestra.
106:3.3 (1166.1) A Trindade do Paraíso é verdadeiramente a Trindade da infinitude, e provavelmente nenhuma Trindade pode ser infinita se não incluir essa Trindade original. A Trindade original é, contudo, a realização tornada possível da associação exclusiva das Deidades absolutas; os seres subabsolutos nada têm a ver com essa associação primordial. As Trindades experienciais, a aparecerem subseqüentemente, abrangem até mesmo as contribuições das personalidades das criaturas. Certamente isso é verdade sobre a Trindade Última, e a própria presença dos Filhos Criadores Mestres, em meio aos membros do Criador Supremo, dentro dela, indica a presença concomitante da experiência factual e autêntica da criatura no interior dessa associação de Trindade.
106:3.4 (1166.2) A primeira Trindade experiencial proporciona a realização grupal de eventualidades últimas. As associações grupais estão capacitadas a antecipar, e mesmo a transcender as capacidades individuais; e isso é verdade, mesmo além do nível finito. Nas idades que virão, após os sete superuniversos haverem sido estabelecidos em luz e vida, o Corpo de Finalidade estará promulgando, sem dúvida, os propósitos das Deidades do Paraíso, como eles foram ditados pela Trindade Última, e como foram unificados em poder-personalidade no Ser Supremo.
106:3.5 (1166.3) Em todos os gigantescos desenvolvimentos universais da eternidade, passada e futura, nós detectamos a expansão dos elementos compreensíveis do Pai Universal. Como o EU SOU, filosoficamente nós postulamos a Sua permeação na infinitude total; mas nenhuma criatura é capaz de abarcar experiencialmente esse postulado. À medida que se expandem os universos e à medida que a gravidade e o amor estendem-se ao espaço que se organiza no tempo, somos capazes de compreender mais e mais sobre a primeira Fonte e Centro. Nós observamos a ação da gravidade penetrando a presença espacial do Absoluto Inqualificável, e detectamos as criaturas espirituais evoluindo e expandindo-se com a presença da divindade do Absoluto da Deidade, enquanto, a evolução cósmica, tanto quanto a espiritual está-se unificando pela mente e pela experiência, nos níveis finitos da deidade como o Ser Supremo, e, em níveis transcendentais, estão-se coordenando como a Trindade Última.
106:4.1 (1166.4) No sentido último, a Trindade do Paraíso certamente coordena; no entanto, para esse fim, funciona como um absoluto que qualifica a si próprio; a Trindade Última experiencial coordena o transcendental, enquanto transcendental. No futuro eterno, essa Trindade experiencial ativará, ainda mais, por meio do aumento da unidade, a presença factualizante da Deidade Última.
106:4.2 (1166.5) Enquanto a Trindade Última está destinada a coordenar a criação mestra, Deus, o Último, é o poder-personalização transcendental para o qual está direcionado todo o universo-mestre. A realização completa do Último implica o completar da criação do universo-mestre e denota a emergência plena dessa Deidade transcendental.
106:4.3 (1166.6) Que mudanças serão inauguradas pela emergência plena do Último? Não sabemos. Mas, como agora o Supremo está presente, espiritual e pessoalmente, em Havona, do mesmo modo, o Último está presente ali, mas no sentido absonito e suprapessoal. E vós fostes informados da existência dos Vice-regentes Qualificados do Último, embora não tenhais sido informados do paradeiro atual deles, nem da sua função.
106:4.4 (1167.1) Todavia, independentemente das repercussões administrativas que acompanham a emergência da Deidade Última, os valores pessoais da sua divindade transcendental serão experienciáveis, por todas as personalidades que houverem sido participantes da factualização desse nível de Deidade. A transcendência do finito pode conduzir apenas à realização última. Deus, o Último, existe transcendendo o tempo e o espaço, contudo, é subabsoluto, não obstante a sua capacidade inerente para a associação funcional com os absolutos.
106:5.1 (1167.2) O Último é o ápice da realidade transcendental, tanto quanto o Supremo é a cumeeira da realidade evolucionária experiencial. E a emergência factual dessas duas Deidades experienciais lança a base da fundação para a segunda Trindade experiencial. E esta é o Absoluto da Trindade: a união de Deus, o Supremo, de Deus, o Último, e do irrevelado Consumador do Destino do Universo. E essa Trindade tem capacidade teórica para ativar os Absolutos da potencialidade — o Absoluto da Deidade, o Absoluto Universal e o Absoluto Inqualificável. No entanto, a formação completa desse Absoluto da Trindade só poderia acontecer após a evolução completa de todo o universo-mestre, desde Havona até o quarto nível espacial, o mais externo.
106:5.2 (1167.3) Deveria ficar claro que essas Trindades experienciais são correlativas, não apenas em relação às qualidades de personalidade da Deidade experiencial, mas também quanto a todas as outras qualidades, que não as pessoais, que caracterizam a unidade de Deidades alcançadas por elas. Conquanto essa apresentação trate, primariamente, das fases pessoais da unificação do cosmo, verdade é, contudo, que os aspectos impessoais do universo dos universos estejam, do mesmo modo, destinados a passar pela unificação, como é ilustrado pela síntese de poder-personalidade ora encaminhando-se junto com a evolução do Ser Supremo. As qualidades pessoais de espírito do Supremo são inseparáveis das prerrogativas de poder do Todo-Poderoso, sendo, ambas, complementadas pelo potencial desconhecido da mente Suprema. Nem pode Deus, o Último, enquanto pessoa, ser considerado separadamente de aspectos outros, além dos pessoais, da Deidade Última. E, no nível absoluto, o Absoluto da Deidade e o Absoluto Inqualificável são inseparáveis e indistinguíveis, em presença do Absoluto Universal.
106:5.3 (1167.4) As Trindades são não pessoais, nelas próprias e por elas próprias; mas não contradizem a personalidade. Elas abrangem-na, antes, e correlacionam-na, em um sentido coletivo, com as funções impessoais. As Trindades são, pois, sempre, uma realidade da deidade, mas nunca uma realidade da personalidade. Os aspectos da personalidade de uma trindade são inerentes aos seus membros individuais e, enquanto pessoas individuais, eles não são aquela trindade. Apenas como um coletivo elas são a trindade; e assim é a trindade. Todavia, a trindade é sempre inclusiva de toda deidade que ela engloba; a trindade é a unidade da deidade.
106:5.4 (1167.5) Os três Absolutos — o Absoluto da Deidade, o Absoluto Universal e o Absoluto Inqualificável — não são uma trindade, pois nenhum deles é Deidade. Apenas o deificado pode vir a formar uma trindade; todas as outras associações são triunidades, ou triodidades.
106:6.1 (1167.6) O potencial atual do universo-mestre dificilmente é absoluto, embora possa muito bem ser quase-último; e nós consideramos impossível alcançar a revelação plena da significação absoluta de valores, dentro do escopo de um cosmo sub-absoluto. Nós encontramos, portanto, uma dificuldade considerável para tentar conceber uma expressão total das possibilidades, sem limite, dos três Absolutos, ou mesmo para tentar visualizar uma personalização experiencial de Deus, o Absoluto, no nível, agora impessoal, do Absoluto da Deidade.
106:6.2 (1168.1) O quadro espacial do universo-mestre parece ser adequado para a factualização do Ser Supremo, para a formação e para a função plena da Ultimidade da Trindade, para a realização de Deus, o Último, e mesmo para dar incipiência ao princípio do Absoluto da Trindade. Entretanto, os nossos conceitos a respeito da função plena dessa segunda Trindade experiencial parecem implicar alguma coisa para além mesmo de um universo-mestre em ampla expansão.
106:6.3 (1168.2) Ao admitirmos um cosmo infinito — algum cosmo ilimitado ultrapassando o universo-mestre — e se concebermos que os desenvolvimentos finais do Absoluto da Trindade acontecerão em um tal estágio superúltimo de ação, então, torna-se possível conjecturar que a função completa do Absoluto da Trindade alcançará a expressão final nas criações da infinitude, e que consumará a factualização absoluta de todos os potenciais. A integração e a associação dos segmentos da realidade, que se estão ampliando sempre, aproximar-se-ão de uma absolutez de status proporcional à inclusão de toda realidade dentro dos segmentos assim associados.
106:6.4 (1168.3) Em outros termos: O Absoluto da Trindade, como implica o seu nome, é realmente absoluto na sua função total. Não sabemos como uma função absoluta pode ter a sua expressão total em uma base qualificadamente limitada, ou restrita, de qualquer modo. Por isso, devemos assumir que qualquer função de totalidade, como essa, será incondicionada (em potencial). E pareceria, ainda, que o incondicionado seria ilimitado também, ao menos de um ponto de vista qualitativo, embora não estejamos tão seguros quanto a tais relações quantitativas.
106:6.5 (1168.4) Entretanto, estamos certos quanto ao seguinte: enquanto a Trindade existencial do Paraíso é infinita, e enquanto a Ultimidade da Trindade experiencial é subinfinita, o Absoluto da Trindade não é tão fácil de se classificar. Embora seja experiencial, pela sua gênese e constituição, ele definitivamente impinge-se aos Absolutos existenciais de potencialidade.
106:6.6 (1168.5) Ainda que seja de pouco proveito para a mente humana buscar compreender conceitos tão longínquos e supra-humanos, nós sugeriríamos que a ação do Absoluto da Trindade, na eternidade, fosse pensada como culminando em alguma espécie de experiencialização dos Absolutos da potencialidade. Isso pareceria ser uma conclusão razoável, a respeito do Absoluto Universal, se não sobre o Absoluto Inqualificável; ao menos sabemos que o Absoluto Universal não apenas é estático e potencial, mas que é também associativo no sentido total que essas palavras conferem à Deidade. No entanto, a respeito dos valores concebíveis da divindade e da personalidade, os acontecimentos, nessa conjectura, implicam a personalização do Absoluto da Deidade e o surgimento dos valores suprapessoais e dos significados ultrapessoais inerentes ao completar da personalidade de Deus, o Absoluto — a terceira e última das Deidades experienciais.
106:7.1 (1168.6) Algumas das dificuldades para formar conceitos sobre a integração da realidade infinita são inerentes ao fato de que todas essas idéias abrangem algo da finalidade do desenvolvimento universal, alguma espécie de realização experiencial de tudo o que poderia, um dia, existir. E é inconcebível que a infinitude quantitativa pudesse jamais ser completamente realizada em finalidade. Dos Absolutos potenciais, algumas possibilidades devem sempre permanecer inexploradas, pois nenhuma quantidade de desenvolvimento experiencial poderia jamais exauri-las. A eternidade mesma, embora seja absoluta, não é mais do que absoluta.
106:7.2 (1169.1) Mesmo uma tentativa de conceituar a integração final, torna-se inseparável das fruições da eternidade inqualificável, e é, portanto, praticamente não realizável em qualquer tempo futuro concebível.
106:7.3 (1169.2) O destino está estabelecido pelo ato volitivo das Deidades que constituem a Trindade do Paraíso; o destino está estabelecido, nas vastidões dos três grandes potenciais, cuja absolutez engloba as possibilidades de todo desenvolvimento futuro; o destino é consumado, provavelmente, por um ato do Consumador do Destino do Universo, e esse ato está, provavelmente, envolvido com o Supremo e o Último, no Absoluto da Trindade. Qualquer destino experiencial pode ser compreendido parcialmente, ao menos pelas criaturas que o experienciam; mas um destino que se impinge aos infinitos existenciais dificilmente é compreensível. O destino da finalidade é uma realização existencial-experiencial que parece envolver o Absoluto da Deidade. Contudo, o Absoluto da Deidade mantém-se em uma relação de eternidade com o Absoluto Inqualificável, em virtude do Absoluto Universal. E esses três Absolutos de possibilidades experienciais, de fato, são existenciais, e mais, são ilimitados, fora do tempo e do espaço, e sem fronteiras, e são incomensuráveis — verdadeiramente infinitos.
106:7.4 (1169.3) A improbabilidade de alcançar a meta, contudo, não impede a cogitação filosófica sobre esses destinos hipotéticos. A factualização do Absoluto da Deidade, como um Deus absoluto, alcançável, pode ser de realização impossível, praticamente; entretanto, a fruição dessa finalidade permanece como uma possibilidade teórica. O envolvimento do Absoluto Inqualificável em algum cosmo infinito inconcebível pode ser incomensuravelmente remoto, no futuro da eternidade sem fim, mas essa hipótese é válida, apesar disso. Os seres mortais, moronciais, espirituais, finalitores, Transcendentais e outros, bem como os próprios universos e todas as outras fases da realidade, certamente têm um destino final, em potencial, que é absoluto em valor; mas duvidamos que qualquer ser ou universo jamais alcance completamente a todos dentre os aspectos desse destino.
106:7.5 (1169.4) Não importa o quanto possais crescer na compreensão que tendes do Pai, a vossa mente estará sempre confusa com a infinitude irrevelada do Pai-EU SOU, cuja vastidão inexplorada permanecerá sempre insondável e incompreensível, em todos os ciclos da eternidade. Não importa o quanto de Deus vós podeis alcançar, muito mais restará Dele, ainda, de cuja existência vós nem mesmo suspeitais. E, pois, nós acreditamos que isso é tão verdade em níveis transcendentais, quanto o é nos domínios da existência finita. A busca de Deus é infindável!
106:7.6 (1169.5) Essa incapacidade de alcançar a Deus, em um sentido final, não deveria, de nenhum modo, desencorajar as criaturas do universo; de fato, vós podeis atingir, e alcançareis, os níveis da Deidade do Sétuplo, do Supremo e do Último; e isso significa, para vós, o que a realização infinita de Deus, o Pai, significa para o Filho Eterno e para o Agente Conjunto, no seu estado absoluto de existência na eternidade. Longe de atormentar a criatura, a infinitude de Deus deveria ser a suprema segurança de que, em todo o futuro sem fim, uma personalidade ascendente terá sempre, diante de si, as possibilidades de desenvolvimento de personalidade e de associação com a Deidade que nem mesmo a eternidade irá exaurir, ou terminar.
106:7.7 (1169.6) Para as criaturas finitas do grande universo, o conceito do universo-mestre parece ser quase infinito, mas, sem dúvida, os seus arquitetos absonitos percebem a sua ligação ao futuro e os desenvolvimentos inimagináveis dentro do EU SOU, que não têm fim. Mesmo o espaço em si não é senão uma condição última, uma condição de qualificação dentro da absolutez relativa das zonas quietas do interespaço intermediário.
106:7.8 (1170.1) Em um momento inconcebivelmente distante, na eternidade futura, do completar final de todo o universo-mestre, não há dúvida de que todos nós olharemos para o passado de toda a sua história como se fora apenas o começo, simplesmente a criação de certas fundações finitas e transcendentais para uma metamorfose ainda maior, e mais encantadora, na infinitude inexplorada. Nesse momento da eternidade futura, o universo-mestre ainda parecerá jovem; de fato, será sempre jovem, em face das possibilidades sem limites da eternidade, que nunca terá fim.
106:7.9 (1170.2) A improbabilidade de alcançar-se o destino infinito em nada impede que idéias sejam alimentadas sobre esse destino, e não hesitamos em dizer que, ainda que os três absolutos potenciais não possam jamais ser completamente factualizados, ainda seria possível conceber a integração final da realidade total. Essa realização de desenvolvimento é pregada sobre a factualização completa do Absoluto Inqualificável, do Absoluto Universal e do Absoluto da Deidade, três potencialidades cuja união constitui a latência do EU SOU, das realidades suspensas da eternidade, das possibilidades irrealizadas de todo o futuro, e mais.
106:7.10 (1170.3) Tais eventualidades são bastante remotas, e isso é o mínimo que se pode dizer; contudo, nos mecanismos, nas personalidades e nas associações das três Trindades, acreditamos detectar a possibilidade teórica da reunião das sete fases absolutas do Pai-EU SOU. E isso coloca-nos de frente ao conceito da Trindade tríplice, englobando a Trindade do Paraíso, de status existencial, e as duas Trindades que surgem subseqüentemente, de natureza e de origem experiencial.
106:8.1 (1170.4) A natureza da Trindade das Trindades é difícil de retratar para a mente humana; é a soma factual da totalidade da infinitude experiencial, como esta se encontra manifestada em uma infinitude teórica de realização na eternidade. Na Trindade das Trindades, a infinitude experiencial alcança identidade com o infinito existencial; e ambos são como um no EU SOU pré-experiencial e preexistencial. A Trindade das Trindades é a expressão final de tudo que está implicado nas quinze triunidades e triodidades associadas. As finalidades são de compreensão difícil, para os seres relativos, sejam elas existenciais ou experienciais; e, por isso, elas devem ser sempre apresentadas como relatividades.
106:8.2 (1170.5) A Trindade das Trindades existe em várias fases. Contém possibilidades, probabilidades e inevitabilidades que desconcertam a imaginação de seres muito acima mesmo do nível humano. Tem implicações que são, provavelmente, inesperadas pelos filósofos celestes, pois as implicações que geram estão nas triunidades; e, em última análise, as triunidades são impenetráveis.
106:8.3 (1170.6) Há um certo número de modos pelos quais a Trindade das Trindades pode ser retratada. Nós escolhemos apresentar o conceito em três níveis, que são os descritos a seguir:
106:8.4 (1170.7) 1. O nível das três Trindades.
106:8.5 (1170.8) 2. O nível da Deidade experiencial.
106:8.6 (1170.9) 3. O nível do EU SOU.
106:8.7 (1170.10) Esses níveis são crescentes em unificação. De fato, a Trindade das Trindades é o primeiro nível, enquanto o segundo e terceiro níveis são uma unificação derivada do primeiro.
106:8.8 (1171.1) O PRIMEIRO NÍVEL: neste nível inicial de associação, acredita-se que as três Trindades funcionem de modo perfeitamente sincronizado, embora sejam agrupamentos distintos de personalidades da Deidade.
106:8.9 (1171.2) 1. A Trindade do Paraíso, a associação das três Deidades do Paraíso — o Pai, o Filho e o Espírito. Deveria ser lembrado que a Trindade do Paraíso implica uma função tríplice — uma função absoluta, uma função transcendental (a Trindade da Ultimidade) e uma função finita (a Trindade da Supremacia). A Trindade do Paraíso é, em todo e qualquer tempo, todas e quaisquer uma delas.
106:8.10 (1171.3) 2. A Trindade Última. Esta é a associação dos Criadores Supremos, de Deus, o Supremo, e dos Arquitetos do Universo-Mestre. Conquanto seja esta uma apresentação adequada de aspectos da divindade dessa Trindade, deveria ficar registrado que há outras fases dessa Trindade que, contudo, parecem estar perfeitamente coordenadas com os aspectos da divindade.
106:8.11 (1171.4) 3. A Trindade Absoluta. Esta vem do agrupamento de Deus, o Supremo, de Deus, o Último, e do Consumador do Destino do Universo, no que concerne a todos os valores da divindade. Certas outras fases desse grupo trino têm a ver com valores outros, que não os da divindade, no cosmo em expansão. Contudo, estes se estão unificando com as fases da divindade, exatamente como os aspectos do poder e da personalidade das Deidades experienciais estão agora no processo de síntese experiencial.
106:8.12 (1171.5) A associação dessas três Trindades na Trindade das Trindades proporciona uma possível integração ilimitada da realidade. Esse agrupamento tem causas, atividades intermediárias e efeitos finais; tem iniciadores, realizadores e consumadores; tem começos, existências e destinos. A co-participação do Pai-Filho tornou-se do Filho-Espírito e, então, Espírito-Supremo e depois Supremo-Último e Último-Absoluto, indo mesmo até o Absoluto e ao Pai Infinito — o completar do ciclo da realidade. Do mesmo modo, em outras fases não tão imediatamente envolvidas com a divindade e a personalidade, a Primeira Fonte e Centro auto-realiza a ilimitabilidade da realidade em torno do círculo da eternidade, desde a absolutez da auto-existência, passando pela auto-revelação infindável, até a finalidade de auto-realização — do absoluto dos existenciais à finalidade dos experienciais.
106:8.13 (1171.6) O SEGUNDO NÍVEL: a coordenação das três Trindades envolve, inevitavelmente, a união associativa das Deidades experienciais, geneticamente associadas a essas Trindades. A natureza desse segundo nível tem sido algumas vezes apresentada como se segue:
106:8.14 (1171.7) 1. O Supremo. Esta é a deidade-conseqüência da unidade da Trindade do Paraíso, na ligação experiencial com os filhos Criadores-Criativos das Deidades do Paraíso. O Supremo é a deidade da incorporação da realização completa do primeiro estágio da evolução finita.
106:8.15 (1171.8) 2. O Último. Esta é a deidade conseqüência da unidade da segunda Trindade, tornada possível, a personificação transcendental e absonita da divindade. O Último consiste de uma unidade considerada, de modos variáveis, de muitas qualidades, e, para a concepção humana dele, seria bom incluir, ao menos, aquelas fases da ultimidade que geram o controle, que são pessoalmente experienciáveis e que geram tensões unificadoras; mas há muitos outros aspectos irrevelados da Deidade factualizada. Embora sejam comparáveis, o Último e o Supremo não são idênticos; e o Último não é uma mera amplificação do Supremo.
106:8.16 (1172.1) 3. O Absoluto. Muitas são as teorias sustentadas quanto ao caráter do terceiro membro do segundo nível da Trindade das Trindades. Deus, o Absoluto, está, indubitavelmente, envolvido nessa associação como a personalidade conseqüência da função final do Absoluto da Trindade, e o Absoluto da Deidade ainda é uma realidade existencial com status de eternidade.
106:8.17 (1172.2) A dificuldade de conceituar esse terceiro membro é inerente ao fato de que a pressuposição de tal participação, como membro, realmente implique um único Absoluto. Teoricamente, se esse evento pudesse realizar-se, deveríamos testemunhar a unificação experiencial dos três Absolutos como um. E foi-nos ensinado que, na infinitude, e existencialmente, existe um Absoluto. Conquanto esteja menos claro quanto a quem possa ser esse terceiro membro, é postulado sempre que ele pode consistir no Absoluto da Deidade, no Absoluto Universal e no Absoluto Inqualificável, em alguma forma de ligação inimaginada e de manifestação cósmica. Certamente, a Trindade das Trindades dificilmente poderia atingir a função completa sem a plena unificação dos três Absolutos; e os três Absolutos dificilmente podem ser unificados sem a completa realização de todos os potenciais infinitos.
106:8.18 (1172.3) Caso o terceiro membro da Trindade das Trindades seja concebido como sendo o Absoluto Universal, provavelmente isso irá representar um mínimo de distorção da verdade, posto que esse conceito vê o Universal não apenas como estático e potencial, mas também como associativo. Contudo, nós ainda não percebemos a relação com os aspectos criativos e evolucionários da função da Deidade total.
106:8.19 (1172.4) Embora seja difícil de se ter um conceito completo sobre a Trindade das Trindades, um conceito limitado não seria tão difícil. Se o segundo nível da Trindade das Trindades for concebido como essencialmente pessoal, torna-se bastante possível postular a união de Deus, o Supremo, de Deus, o Último, e de Deus, o Absoluto, como a repercussão pessoal da união das Trindades pessoais, que são ancestrais dessas Deidades experienciais. Arriscamo-nos a emitir a opinião de que essas três Deidades experienciais certamente unificar-se-ão no segundo nível, por conseqüência direta da unidade crescente das suas Trindades ancestrais e causadoras que constituem o nível primeiro.
106:8.20 (1172.5) O primeiro nível consiste de três Trindades; o segundo nível existe como a associação das personalidades da Deidade, compreendendo as personalidades evoluídas-experienciais, factualizadas-experienciais e existenciais-experienciais. E, independentemente de qualquer dificuldade conceitual, na compreensão da Trindade das Trindades completa, a associação pessoal dessas três Deidades, no segundo nível, tornou-se manifesta, para a nossa própria idade universal, no fenômeno da deificação de Majeston, que foi factualizado, nesse segundo nível, pelo Absoluto da Deidade, atuando por intermédio do Último e em resposta ao mandado criador inicial do Ser Supremo.
106:8.21 (1172.6) O TERCEIRO NÍVEL: para uma hipótese inqualificável do segundo nível, da Trindade das Trindades, fica abrangida a correlação entre todas as fases de todas as espécies de realidade que existem, ou existiram, ou poderiam existir no conjunto global da infinitude. O Ser Supremo é não-apenas-espírito, mas é também mente e poder, e experiência. O Último é tudo isso e muito mais, pois, enquanto é o conceito conjunto da unicidade do Absoluto da Deidade, do Absoluto Universal e do Absoluto Inqualificável, fica incluída a finalidade absoluta de toda compreensão de realização.
106:8.22 (1172.7) Na união do Supremo, do Último e do Absoluto completo, poderia ocorrer a reconstituição funcional desses aspectos da infinitude, que foram originalmente segmentados pelo EU SOU e que resultaram no aparecimento dos Sete Absolutos da Infinitude. Embora os filósofos do universo considerem esta como sendo uma probabilidade bastante remota, nós, freqüentemente, ainda fazemos a seguinte pergunta: Se o segundo nível da Trindade das Trindades pudesse algum dia atingir a unidade trinitária, o que então sucederia em conseqüência dessa unidade da deidade? Não sabemos, mas confiamos na suposição de que conduziria diretamente à compreensão do EU SOU, como um experiencial alcançável. Do ponto de vista dos seres pessoais, poderia significar que o incognoscível EU SOU se houvesse tornado experienciável como o Pai-Infinito. O que esses destinos absolutos poderiam significar, de um ponto de vista não pessoal, seria uma outra questão, a qual possivelmente apenas a eternidade poderá esclarecer. Ao vermos, porém, essas eventualidades remotas deduzimos, enquanto criaturas pessoais, que o destino final de todas as personalidades seja, afinal, conhecer plenamente o Pai Universal de todas essas mesmas personalidades.
106:8.23 (1173.1) Enquanto, filosoficamente, nós concebemos o EU SOU, na eternidade passada, ele está só, não há ninguém ao lado dele. Se olharmos para a eternidade futura, possivelmente não veremos que o EU SOU possa mudar, como um existencial, mas estamos inclinados a prever uma vasta diferença experiencial. Esse conceito do EU SOU implica a autocompreensão plena — ele abrange aquela galáxia ilimitada de personalidades que se fizeram participantes voluntárias da auto-revelação do EU SOU, e que permanecerão eternamente como partes volitivas absolutas da totalidade da infinitude, filhos da finalidade do Pai absoluto.
106:9.1 (1173.2) No conceito da Trindade das Trindades, postulamos a unificação experiencial possível da realidade ilimitada e, algumas vezes, cogitamos de que tudo isso possa acontecer no distanciamento super-remoto da eternidade. Há, no entanto, uma unificação factual presente, de infinitude, nessa mesma idade, tanto quanto em todas as idades passadas e futuras do universo; tal unificação é existencial, na Trindade do Paraíso. A unificação da infinitude, como realidade experiencial, é inconcebivelmente remota, mas uma unidade inqualificável da infinitude domina, agora, o momento presente da existência no universo, unindo e unificando as divergências de toda a realidade com uma majestade existencial que é absoluta.
106:9.2 (1173.3) Quando as criaturas finitas tentam conceber a unificação infinita, nos níveis da finalidade da eternidade consumada, elas se vêem face a face com as limitações do intelecto, inerentes à existência finita delas. O tempo, o espaço e a experiência são limitações para os conceitos que as criaturas conseguem e podem formar; e, ainda sem o tempo, apartadas do espaço e afora a experiência, nenhuma criatura poderia, nem mesmo, ter uma compreensão limitada da realidade do universo. Sem a sensibilidade para o tempo, provavelmente, nenhuma criatura evolucionária poderia perceber as relações de seqüência. Sem a percepção espacial, nenhuma criatura poderia conceber as relações de simultaneidade. Sem a experiência, a criatura evolucionária não poderia nem existir; apenas os Sete Absolutos da Infinitude realmente transcendem à experiência e, mesmo, eles podem ser experienciais em certas fases.
106:9.3 (1173.4) O tempo, o espaço e a experiência são os grandes auxiliares do homem, em uma percepção relativa da realidade, mas são também os obstáculos mais formidáveis à sua percepção completa da realidade. Os mortais e muitas outras criaturas do universo julgam necessário pensar nos potenciais como sendo factualizados no espaço e evoluindo na fruição do tempo; mas todo esse processo é um fenômeno tempo-espacial que, em verdade, não acontece no Paraíso nem na eternidade. No nível absoluto, não há o tempo, nem o espaço; nesse nível, todos os potenciais podem ser percebidos como factuais.
106:9.4 (1173.5) O conceito da unificação de toda realidade, estando ela nesta ou em qualquer outra idade do universo, é basicamente duplo: existencial e experiencial. Tal unidade está em processo de realização experiencial, na Trindade das Trindades; mas o grau da factualização aparente dessa Trindade tríplice é diretamente proporcional ao desaparecimento das qualificações e das imperfeições da realidade no cosmo. No entanto, a integração total da realidade está inqualificável, eterna e existencialmente presente na Trindade do Paraíso, no interior da qual, mesmo neste momento, no universo, a realidade infinita está absolutamente unificada.
106:9.5 (1174.1) O paradoxo criado pelo ponto de vista experiencial e pelo existencial é inevitável; e é, em parte, baseado no fato de que a Trindade do Paraíso e a Trindade das Trindades constituem, cada uma, uma relação de eternidade, e as quais os mortais apenas podem perceber como relatividades tempo-espaciais. O conceito humano da factualização gradual experiencial da Trindade das Trindades — o ponto de vista do tempo — deve ser suplementado pelo postulado adicional de que essa é já uma factualização — o ponto de vista da eternidade. Como, porém, podem ser conciliados esses dois pontos de vista? Para os mortais finitos, sugerimos a aceitação da verdade de que a Trindade do Paraíso seja a unificação existencial da infinitude, de que a incapacidade de detectar a presença factual e a manifestação completa da Trindade das Trindades, experiencial, seja devida, em parte, à distorção recíproca causada:
106:9.6 (1174.2) 1. Pelo ponto de vista humano limitado, pela incapacidade de compreender o conceito da eternidade irrestrita.
106:9.7 (1174.3) 2. Pelo status humano de imperfeição, pelo distanciamento humano do nível absoluto dos experienciais.
106:9.8 (1174.4) 3. Pelo propósito da existência humana, pelo fato de que a humanidade está destinada a evoluir pela técnica da experiência e que, inerentemente e pela sua constituição, por isso, deva ser dependente da experiência. Apenas um Absoluto pode ser tanto existencial quanto experiencial.
106:9.9 (1174.5) O Pai Universal, na Trindade do Paraíso, é o EU SOU da Trindade das Trindades; e são as limitações finitas que impedem que o Pai seja experienciado enquanto infinito. O conceito do EU SOU existencial, solitário, pré-Trinitário e não alcançável e o postulado do EU SOU experiencial, pós-Trinitário e alcançável, na Trindade das Trindades, são uma única e a mesma hipótese; nenhuma mudança de fato aconteceu no Infinito; todos os desenvolvimentos aparentes são devidos às capacidades crescentes para a recepção da realidade e para a apreciação cósmica.
106:9.10 (1174.6) O EU SOU, na análise final, deve existir antes de todos os existenciais e após todos os experienciais. Conquanto essas idéias possam não esclarecer os paradoxos da eternidade e da infinitude dentro da mente humana, deveriam, ao menos, estimular os intelectos finitos a se atracar de novo a esses problemas sem fim, problemas que continuarão a intrigar-vos seja em Sálvington, seja mais tarde, como finalitores, e durante o futuro sem fim das vossas carreiras eternas, nos universos em ampla expansão.
106:9.11 (1174.7) Mais cedo ou mais tarde, todas as personalidades do universo começam a compreender a realidade de que a busca final da eternidade é a exploração sem fim da infinitude, na viagem, que nunca acaba, da descoberta da absolutez da Primeira Fonte e Centro. Mais cedo ou mais tarde, tornamo-nos todos cientes de que o crescimento de todas as criaturas é proporcional à identificação com o Pai. Chegamos ao entendimento de que viver a vontade de Deus é o passaporte eterno para a possibilidade infindável da própria infinitude. Os mortais compreenderão, em algum momento, que o êxito na busca do Infinito é diretamente proporcional ao grau atingido de semelhança com o Pai, e que, nesta idade do universo, as realidades do Pai são reveladas dentro das qualidades da divindade. E que as criaturas do universo apropriam-se dessas qualidades da divindade, pessoalmente, na experiência de viver divinamente; e viver divinamente significa de fato viver a vontade de Deus.
106:9.12 (1175.1) Para as criaturas materiais, evolucionárias e finitas, uma vida baseada em viver a vontade do Pai conduzirá diretamente ao alcance realizado da supremacia do espírito, na arena da personalidade, e conduz essas criaturas a estarem um passo mais próximo de realizar a compreensão do Pai-Infinito. Essa vida dedicada ao Pai é baseada na verdade, é sensível à beleza e dominada pela bondade. E essa pessoa conhecedora de Deus está interiormente iluminada pela adoração e externamente devotada, com todo o poder do seu coração, ao serviço da fraternidade universal de todas as personalidades, serviço este de ministração, repleto de misericórdia e motivado pelo amor. E, ao mesmo tempo, todas essas qualidades de vida unificam-se na personalidade que evolui até níveis sempre ascendentes de sabedoria cósmica, de auto-realização, de encontro com Deus e de adoração do Pai.
106:9.13 (1175.2) [Apresentado por um Melquisedeque de Nébadon.]
O Livro de Urântia
Documento 107
107:0.1 (1176.1) EMBORA o Pai Universal resida pessoalmente no Paraíso, no centro mesmo dos universos, Ele está presente de fato, também, nos mundos do espaço, nas mentes dos seus incontáveis filhos do tempo, pois Ele reside neles sob a forma dos Monitores Misteriosos. O Pai Eterno está, a um tempo, distante e, ao mesmo tempo, ligado o mais intimamente possível aos Seus filhos mortais planetários.
107:0.2 (1176.2) Os Ajustadores são o amor do Pai, tornado realidade e encarnado nas almas dos homens; eles são a verdadeira promessa de uma carreira eterna para o homem, enclausurada dentro da mente mortal; são a essência da personalidade perfeccionada de finalitor que o homem tem, e que ele pode pré-degustar no tempo, à medida que, progressivamente, consegue a mestria da técnica divina de realizar a vivência da vontade do Pai, passo a passo, por meio da ascensão de universo a universo, até que alcance, de fato, a presença divina do seu Pai no Paraíso.
107:0.3 (1176.3) Tendo comandado ao homem que seja perfeito, como Ele próprio é perfeito, Deus desceu, sob a forma do Ajustador, para tornar-se cúmplice experiencial com o homem, na realização do destino superno que foi assim ordenado. O fragmento de Deus que reside na mente do homem é a garantia absoluta e irrestrita de que o homem pode encontrar o Pai Universal por meio da sua conexão com esse Ajustador divino, que veio de Deus para estar com o homem e torná-lo um filho ainda nos dias da carne.
107:0.4 (1176.4) Qualquer ser mortal que tenha visto um Filho Criador viu o Pai Universal; e quem é residido por um Ajustador divino é residido pelo Pai do Paraíso. Cada mortal que, consciente ou inconscientemente, esteja seguindo o guiamento do seu Ajustador residente, está vivendo de acordo com a vontade de Deus. Estar consciente da presença do Ajustador é estar consciente da presença de Deus. A fusão eterna do Ajustador com a alma evolucionária do homem é a experiência factual da união eterna com Deus como uma Deidade coligada universal companheira.
107:0.5 (1176.5) É o Ajustador que cria, dentro do homem, aquele anseio infindável, a aspiração insaciável de ser como Deus, de alcançar o Paraíso, e ali, diante da pessoa factual da Deidade, adorar a Fonte Infinita da dádiva divina. O Ajustador é a presença viva que, de fato, liga o filho mortal ao seu Pai no Paraíso, levando-o cada vez mais para perto do Pai. O Ajustador é uma compensação equalizadora, que possuímos, para equilibrar a enorme tensão no universo, criada pela distância que separa o homem de Deus e pelo enorme grau da sua parcialidade em relação à universalidade do Pai eterno.
107:0.6 (1176.6) O Ajustador é a essência absoluta de um Ser infinito, atada à mente de uma criatura finita. E, dependendo da escolha de tal criatura mortal, essa união temporária poderá finalmente consumar-se, ligando Deus e o homem permanentemente e, de modo verdadeiro, tornar real uma nova ordem de ser, a serviço eterno do universo. O Ajustador é a realidade universal divina que torna real a verdade de que Deus é o Pai do homem. O Ajustador é, para o homem residido por ele, a bússola cósmica infalível que sempre conduz a sua alma, sem erros, na direção de Deus.
107:0.7 (1177.1) Nos mundos evolucionários, as criaturas volitivas passam por três estágios de desenvolvimento do ser: em Urântia, desde a chegada do Ajustador até um crescimento relativamente completo, perto dos vinte anos de idade, quando os Monitores são algumas vezes designados Mutadores do Pensamento. Dessa idade, até atingir a idade do discernimento, que se dá aos quarenta anos, os Monitores Misteriosos são chamados de Ajustadores do Pensamento. Depois de atingir a idade do discernimento até a libertação da carne, eles são, muitas vezes, chamados de Controladores do Pensamento. Essas três fases da vida mortal não têm nenhum vínculo com os três estágios do progresso feito pelo Ajustador na duplicação da mente e na evolução da alma.
107:1.1 (1177.2) Ninguém pode presumir discorrer com autoridade sobre a natureza e origem dos Ajustadores do Pensamento, pois eles são da essência da Deidade original; e eu posso apenas transmitir as tradições de Sálvington e as crenças de Uversa; posso apenas explicar como consideramos esses Monitores Misteriosos e as entidades a eles coligadas, em todo o grande universo.
107:1.2 (1177.3) Embora haja opiniões diversas sobre o modo de outorgamento dos Ajustadores do Pensamento, não existem diferenças no que concerne à sua origem; todos estão de acordo que eles procedem diretamente do Pai Universal, a Primeira Fonte e Centro. Eles não são seres criados; são entidades fragmentadas do Pai, e constituem a presença factual do Deus infinito. Juntamente com os seus inúmeros colaboradores não revelados, os Ajustadores são a divindade não diluída, pura e intacta, são partes inqualificáveis e não atenuadas da Deidade; eles são de Deus, e, até onde podemos discernir, eles são Deus.
107:1.3 (1177.4) Quanto ao seu começo no tempo, como existências separadas, fora da absolutez da Primeira Fonte e Centro, nada sabemos; também nada sabemos sobre o número deles. Pouquíssimo é o que sabemos a respeito das suas carreiras, antes de chegarem aos planetas do tempo, para residir nas mentes humanas; mas, desse tempo em diante, nós estamos razoavelmente familiarizados com a sua progressão cósmica, até a consumação, inclusive, dos seus destinos trinos: a realização da personalidade por meio da fusão com um ser ascendente mortal, a realização da personalidade por um “fiat” do Pai Universal, ou a liberação dos conhecidos compromissos como Ajustador do Pensamento.
107:1.4 (1177.5) Ainda que não saibamos, presumimos que os Ajustadores estejam sendo constantemente individualizados, à medida que o universo cresce e à medida que crescem, em número, os candidatos à fusão com o Ajustador. No entanto, pode ser igualmente possível que estejamos cometendo um erro, ao tentar atribuir uma magnitude numérica aos Ajustadores. Como Deus, Ele próprio, esses fragmentos da Sua natureza insondável podem ter uma existência infinita.
107:1.5 (1177.6) A técnica da origem dos Ajustadores é uma das funções não reveladas do Pai Universal. Temos todos os motivos para acreditar que, dos outros coligados absolutos da Primeira Fonte e Centro, nenhum deles tenha a ver com a produção dos fragmentos do Pai. Os Ajustadores são, simples e eternamente, as dádivas divinas; eles são de Deus, provêm de Deus e são como Deus.
107:1.6 (1177.7) Na sua relação com as criaturas de fusão, eles revelam um amor superno e uma ministração espiritual que é profundamente confirmadora da declaração de que Deus é espírito. Mas muito há que acontece além desse ministério transcendente; muito que jamais foi revelado aos mortais de Urântia. E também não entendemos plenamente o que realmente acontece quando o Pai Universal doa a Si próprio, para ser uma parte da personalidade de uma criatura do tempo. E também a progressão ascendente dos finalitores do Paraíso ainda não apresentou todas plenas possibilidades inerentes a essa superna associação entre o homem e Deus. Em última análise, os fragmentos do Pai devem ser a dádiva do Deus absoluto àquelas criaturas cujo destino engloba a possibilidade de alcançar Deus, enquanto absoluto.
107:1.7 (1178.1) Do mesmo modo que o Pai Universal fragmenta a Sua Deidade pré-pessoal, também o Espírito Infinito individualiza porções do Seu espírito pré-mental para habitar e factualmente fundir-se com as almas evolucionárias dos mortais sobreviventes, pertencentes à série de fusão com o Espírito. A natureza do Filho Eterno, no entanto, não é fragmentável desse modo; o espírito do Filho Original ou é efundido ou permanece univocamente pessoal. As criaturas de fusão com o Filho unem-se com os outorgamentos individualizados do espírito dos Filhos Criadores do Filho Eterno.
107:2.1 (1178.2) Os Ajustadores são individualizados na forma de entidades virgens, e todos estão destinados a tornar-se Monitores liberados, ou Monitores fusionados, ou Monitores Personalizados. Nós entendemos que haja sete ordens de Ajustadores do Pensamento, se bem que não compreendamos inteiramente essas divisões. Sempre nos referimos às diferentes ordens do modo seguinte:
107:2.2 (1178.3) 1 Os Ajustadores Virgens: aqueles que estão servindo, no seu primeiro compromisso, na mente de candidatos evolucionários à sobrevivência eterna. Os Monitores Misteriosos são eternamente uniformes pela sua natureza divina. Eles são também uniformes pela sua natureza experiencial, ao saírem pela primeira vez de Divínington; uma diferenciação experiencial subseqüente resulta da sua experiência factual que adquirem de ministração no universo.
107:2.3 (1178.4) 2. Os Ajustadores Avançados: aqueles que serviram, em um período ou mais, nas criaturas volitivas, em mundos em que a fusão final acontece entre a identidade da criatura do tempo e uma porção individualizada do espírito da manifestação da Terceira Fonte e Centro, no universo local.
107:2.4 (1178.5) 3. Os Ajustadores Supremos: aqueles Monitores que serviram na aventura do tempo, nos mundos evolucionários, mas cujos parceiros humanos, por alguma razão, descartaram a sobrevivência eterna; e aqueles que foram designados, posteriormente, para outras aventuras, em outros mortais, em outros mundos em evolução. Um Ajustador supremo, mesmo não sendo mais divino do que um Monitor virgem, teve mais experiências e pode realizar coisas na mente humana que um Ajustador menos experiente não conseguiria fazer.
107:2.5 (1178.6) 4. Os Ajustadores Desaparecidos: Ocorre, nesse ponto, uma interrupção nos nossos esforços para acompanhar as carreiras dos Monitores Misteriosos. Há um quarto estágio de serviço sobre o qual não estamos seguros. Os Melquisedeques ensinam que esses Ajustadores do quarto estágio estão em compromissos isolados, percorrendo o universo dos universos. Os Mensageiros Solitários têm a tendência de acreditar que eles estão em unidade com a Primeira Fonte e Centro, gozando de um período de associação refrescante com o Pai, Ele Próprio. E é inteiramente possível, ainda, que um Ajustador possa estar percorrendo o universo-mestre, estando simultaneamente unido ao Pai onipresente.
107:2.6 (1178.7) 5. Os Ajustadores Liberados: aqueles Monitores Misteriosos que estão eternamente liberados do serviço do tempo, com os mortais das esferas em evolução. Quais funções possam ser as deles, não sabemos.
107:2.7 (1179.1) 6. Os Ajustadores Fusionados — ou finalitores: aqueles que se tornaram unos com as criaturas ascendentes dos superuniversos, os parceiros na eternidade dos seres ascendentes do tempo, do Corpo de Finalidade do Paraíso. Os Ajustadores do Pensamento ordinariamente fusionam-se com os mortais ascendentes do tempo e, junto com esses mortais sobreviventes, eles são registrados na entrada e na saída de Ascêndington; eles seguem o curso dos seres ascendentes. Quando se fusiona com a alma ascendente evolucionária, parece que o Ajustador translada-se do nível existencial absoluto do universo para o nível da experiência finita de associação funcional com uma personalidade ascendente. Ainda que retendo todo o caráter da natureza existencial divina, um Ajustador fusionado torna-se indissoluvelmente ligado à carreira ascendente de um mortal sobrevivente.
107:2.8 (1179.2) 7. Os Ajustadores Personalizados: aqueles que serviram com os Filhos do Paraíso encarnados, e ainda, muitos outros, que atingiram distinções inusitadas durante a residência mortal, mas cujos sujeitos rejeitaram a sobrevivência. Temos razões para crer que tais Ajustadores sejam personalizados sob as recomendações dos Anciães dos Dias do superuniverso do seu compromisso.
107:2.9 (1179.3) Há muitos modos pelos quais esses fragmentos misteriosos de Deus podem ser classificados: de acordo com o compromisso no universo, pela medida do êxito em residir um indivíduo mortal, ou até mesmo pelo ancestral racial do candidato mortal à fusão.
107:3.1 (1179.4) No universo, todas as atividades relacionadas ao envio, à gestão, à direção e ao retorno dos Monitores Misteriosos, a serviço em todos sete superuniversos, parecem estar centradas na esfera sagrada de Divínington. Até onde eu saiba, nenhuma entidade, a não ser os Ajustadores e outras entidades do Pai, esteve naquela esfera. Parece provável que numerosas entidades pré-pessoais, não reveladas, compartilhem Divínington, como uma esfera-lar, junto com os Ajustadores. Conjecturamos que essas entidades companheiras possam estar vinculadas, de alguma maneira, ao ministério presente e futuro dos Monitores Misteriosos, mas de fato não sabemos.
107:3.2 (1179.5) Quando os Ajustadores do Pensamento voltam para o Pai, eles vão para o Reino da sua suposta origem, Divínington; e, provavelmente, como uma parte dessa experiência haja um contato factual com a personalidade do Pai do Paraíso, bem como com a manifestação especializada da divindade do Pai, que, segundo é sabido, situa-se nessa esfera secreta.
107:3.3 (1179.6) Embora saibamos algo sobre todas as sete esferas secretas do Paraíso, sabemos menos de Divínington do que das outras. Seres de elevadas ordens espirituais recebem apenas três admoestações divinas; e elas são:
107:3.4 (1179.7) 1. Mostrar sempre respeito adequado pela experiência e pelos dons dos mais experientes e dos superiores.
107:3.5 (1179.8) 2. Levar sempre em consideração as limitações e a inexperiência dos seus inferiores e subordinados.
107:3.6 (1179.9) 3. Jamais intentar uma aterrissagem nas margens de Divínington.
107:3.7 (1179.10) Tenho sempre pensado que me seria totalmente inútil ir a Divínington; provavelmente, eu seria incapaz de ver qualquer ser residente ali, excetuando-se seres como os Ajustadores Personalizados, e eu os tenho visto em outros locais. Estou muito seguro de que nada há em Divínington que seja de proveito e de real valor para mim, nada de essencial ao meu crescimento e desenvolvimento, ou então não me teria sido proibido ir lá.
107:3.8 (1180.1) Desde que pouco ou nada podemos aprender, em Divínington, sobre a natureza e a origem dos Ajustadores, somos obrigados a reunir informações de mil e uma fontes diferentes e é necessário reunir, associar e correlacionar esses dados acumulados com o fito de transformá-los todos em um conhecimento informativo.
107:3.9 (1180.2) O valor e a sabedoria demonstrados pelos Ajustadores do Pensamento sugerem que hajam sido submetidos a aperfeiçoamentos de alcance e extensão prodigiosos. Posto que não sejam personalidades, tais aperfeiçoamentos devem ser administrados a eles nas instituições educacionais de Divínington. Os singulares Ajustadores Personalizados, sem dúvida, constituem o pessoal das escolas de Divínington que treina os Ajustadores. E sabemos que esse corpo central de supervisão é presidido pelo agora Personalizado Ajustador do Filho do Paraíso, da ordem dos Michaéis, que primeiro completou a sua auto-outorga sétupla nas raças e povos dos reinos do seu universo.
107:3.10 (1180.3) De fato, sabemos pouquíssimo sobre os Ajustadores não-personalizados; apenas contatamos e nos comunicamos com as ordens personalizadas. Esses, destas ordens, recebem um nome de batismo em Divínington, e são sempre conhecidos pelo nome, e não pelo número. Os Ajustadores Personalizados ficam domiciliados permanentemente em Divínington; aquela esfera sagrada é o seu lar. Eles saem daquela morada apenas segundo a vontade do Pai Universal. Pouquíssimos são encontráveis nos domínios dos universos locais, mas um número maior deles está presente no universo central.
107:4.1 (1180.4) Dizer que um Ajustador do Pensamento é divino é meramente reconhecer a natureza da sua origem. É altamente provável que tal pureza de divindade abranja a essência do potencial de todos os atributos da Deidade os quais podem estar contidos em tal fragmento da essência absoluta, da presença universal do Pai do Paraíso, eterno e infinito.
107:4.2 (1180.5) A fonte factual do Ajustador deve ser infinita e, antes do fusionamento com a alma imortal de um mortal em evolução, a realidade do Ajustador deve estar próxima da absolutez. Os Ajustadores não são absolutos no sentido universal, no sentido de Deidade, mas eles são, provavelmente, absolutos verdadeiros, dentro das potencialidades da sua natureza de fragmentos. Eles são qualificados quanto à universalidade, mas não quanto à natureza; são limitados em extensividade, mas, em intensividade de significado, de valor e de fato, eles são absolutos. Por essa razão, algumas vezes, nós denominamos tais dádivas divinas como os fragmentos qualificados absolutos do Pai.
107:4.3 (1180.6) Nenhum Ajustador jamais foi desleal ao Pai do Paraíso; as ordens mais baixas de criaturas pessoais podem, algumas vezes, ter de lutar contra companheiros desleais, mas nunca com os Ajustadores; eles são supremos e infalíveis, na sua esfera superna de função no universo e de ministração às criaturas.
107:4.4 (1180.7) Os Ajustadores não-personalizados são visíveis apenas para os Ajustadores Personalizados. A minha ordem, a dos Mensageiros Solitários, junto com a dos Espíritos Inspirados da Trindade, pode detectar a presença dos Ajustadores por meio de fenômenos de reação espiritual; e mesmo os serafins podem, algumas vezes, discernir a luminosidade do espírito, que é supostamente associada à presença dos Monitores, nas mentes materiais dos homens; mas nenhum de nós é capaz, de fato, de discernir a presença real dos Ajustadores, a menos que eles hajam sido personalizados, embora as suas naturezas sejam perceptíveis em união com as personalidades fusionadas dos mortais ascendentes dos mundos evolucionários. A invisibilidade universal dos Ajustadores é fortemente indicadora da sua natureza elevada e da sua exclusiva origem e natureza divina.
107:4.5 (1181.1) Há uma luz característica, uma luminosidade espiritual, que acompanha essa presença divina, a qual tem sido associada geralmente aos Ajustadores do Pensamento. No universo de Nébadon, essa luminosidade do Paraíso é largamente conhecida como a “luz piloto”; em Uversa, é chamada de a “luz da vida”. Em Urântia, esse fenômeno tem sido, algumas vezes, chamado de a “verdadeira luz que ilumina a cada homem que vem ao mundo”.
107:4.6 (1181.2) Para todos os seres que alcançaram o Pai Universal, os Ajustadores Personalizados do Pensamento são visíveis. Os Ajustadores, em todos os estágios, junto com todos os outros seres, entidades, espíritos, personalidades e manifestações espirituais, são sempre discerníveis por aquelas Personalidades Criadoras Supremas, que se originam das Deidades do Paraíso e que presidem aos governos maiores do grande universo.
107:4.7 (1181.3) Podeis realmente compreender o verdadeiro significado da presença interior do Ajustador? Podeis realmente avaliar o que significa ter um fragmento da Deidade absoluta e infinita, do Pai Universal, residindo e fundindo-se com a vossa natureza finita mortal? Quando o homem mortal fusiona-se com um fragmento factual da Causa existencial do cosmo total, nenhum limite pode jamais ser colocado ao destino de uma união tão inimaginável e sem par. Na eternidade, o homem estará descobrindo não apenas a infinitude da Deidade objetiva, mas também a potencialidade sem fim do fragmento subjetivo deste mesmo Deus. Para sempre, o Ajustador estará revelando à personalidade mortal a maravilha de Deus; e essa revelação superna nunca chegará a um fim, pois o Ajustador é de Deus e é como Deus para o homem mortal.
107:5.1 (1181.4) Os mortais evolucionários tendem a considerar a mente como uma mediação cósmica entre o espírito e a matéria, pois esse é, de fato, o principal serviço da mente, discernível por vós. Torna-se, pois, bastante difícil para os humanos perceberem que os Ajustadores do Pensamento têm mentes, pois os Ajustadores são fragmentações de Deus, num nível absoluto de realidade que não é apenas pré-pessoal, mas também anterior a toda divergência entre a energia e o espírito. Em um nível monista, antecedente à diferenciação entre energia e espírito, não poderia haver nenhuma função mediadora da mente, pois não há divergências a serem mediadas.
107:5.2 (1181.5) Posto que os Ajustadores podem planejar, trabalhar e amar, eles devem ter poderes de individualidade que sejam equiparáveis à mente. Eles possuem uma capacidade ilimitada de comunicar-se entre si, isto é, com todas as formas de Monitores acima do primeiro grupo, ou dos virgens. Quanto à natureza e ao propósito das suas intercomunicações, pouquíssimo é o que podemos revelar, pois não sabemos. Contudo, sabemos que eles devem ter mentes, pois, de outro modo, jamais poderiam ser personalizados.
107:5.3 (1181.6) O dom da mente, nos Ajustadores do Pensamento, é como a qualidade mental do Pai Universal e do Filho Eterno — como aquela que é a ancestral das mentes do Agente Conjunto.
107:5.4 (1181.7) O tipo de mente postulado para um Ajustador deve ser similar ao dom de mente próprio a numerosas outras ordens de entidades pré-pessoais que, presumivelmente, também se originaram, do mesmo modo, da Primeira Fonte e Centro. Embora muitas dessas ordens não hajam sido reveladas em Urântia, todas elas apresentam qualidades mentais. É também possível a essas individualizações da Deidade original tornar-se unificadas com inúmeros tipos de seres não mortais em evolução, e mesmo com um número limitado de seres não evolucionários que hajam desenvolvido a capacidade de fusão com tais fragmentos da Deidade.
107:5.5 (1182.1) Quando um Ajustador do Pensamento entra em fusão com a alma moroncial imortal, em evolução, do humano sobrevivente, a mente do Ajustador pode ser identificada como persistindo à parte da mente da criatura, tão somente até o momento em que o mortal ascendente atinge os níveis espirituais de progressão no universo.
107:5.6 (1182.2) Ao atingirem o nível de finalitores na experiência ascendente, esses espíritos do sexto estágio parecem transmutar algum fator da mente que representa uma união de algumas fases das mentes mortal e da do Ajustador, que haviam previamente funcionado como ligação entre as fases divinas e humanas dessas personalidades ascendentes. Essa qualidade experiencial da mente provavelmente “suprematiza” e subseqüentemente aumenta o dom experiencial da Deidade evolucionária — o Ser Supremo.
107:6.1 (1182.3) Os Ajustadores do Pensamento encontram-se na experiência da criatura revelando a presença e o comando de uma influência espiritual. O Ajustador de fato é um espírito, um espírito puro, mas também é mais do que espírito. Nunca fomos capazes de classificar satisfatoriamente os Monitores Misteriosos; tudo o que pode ser dito com segurança sobre eles é que eles são verdadeiramente como Deus.
107:6.2 (1182.4) O Ajustador é a possibilidade que o homem tem de eternidade; e o homem é a possibilidade que o Ajustador tem de ser uma personalidade. Os vossos Ajustadores individuais, na esperança de eternizar a vossa identidade temporal, trabalham para espiritualizar-vos. Os Ajustadores estão repletos do mesmo amor magnífico e auto-outorgante do Pai dos espíritos. Eles amam-vos verdadeira e divinamente; eles são como prisioneiros a manter a esperança espiritual, confinados nas mentes dos homens. Eles anseiam pela realização da divindade das vossas mentes mortais, para que a solidão deles possa ter fim, para que possam ser liberados, convosco, das limitações da investidura material e das indumentárias do tempo.
107:6.3 (1182.5) A vossa trajetória até o Paraíso é o caminho da realização do espírito, e a natureza do Ajustador irá fielmente desenvolver a revelação da natureza espiritual do Pai Universal. Depois da ascensão ao Paraíso, e nos estágios pós-finalitores da carreira eterna, provavelmente o Ajustador possa estabelecer contato com aquele que uma vez foi o seu parceiro humano, para prover-lhe um outro ministério que não o do espírito; no entanto, a ascensão ao Paraíso e a carreira de finalitor, basicamente, são o vínculo principal entre o mortal, sabedor de Deus, a se espiritualizar, e o ministério do revelador de Deus, o Ajustador.
107:6.4 (1182.6) Sabemos que os Ajustadores do Pensamento são espíritos, espíritos puros, presumivelmente espíritos absolutos. Todavia, o Ajustador deve também ser algo mais do que a realidade exclusivamente espiritual. Além dessa mentalidade conjecturada, fatores de pura energia estão presentes também. Se vós vos lembrardes de que Deus é a fonte da energia pura e do puro espírito, não será tão difícil perceber que os Seus fragmentos também sejam essas duas coisas. É um fato que os Ajustadores atravessam o espaço indo por sobre os circuitos instantâneos e universais da gravidade da Ilha do Paraíso.
107:6.5 (1182.7) Que os Monitores Misteriosos sejam assim associados aos circuitos materiais do universo dos universos é de fato intrigante. Entretanto, permanece verdadeiro que eles passam de um extremo a outro de todo o grande universo, por sobre os circuitos da gravidade material. É inteiramente possível que eles possam até mesmo penetrar os níveis do espaço exterior; eles certamente poderiam seguir a presença da gravidade do Paraíso nessas regiões; e, ainda que a minha ordem de personalidades tenha podido atravessar os circuitos da mente do Agente Conjunto também para além dos confins do grande universo, nós nunca estivemos certos de detectar a presença de Ajustadores nas regiões ainda não cartografadas do espaço exterior.
107:6.6 (1183.1) E ainda que utilizem os circuitos da gravidade material, os Ajustadores não ficam sujeitos a eles como está a criação material. Os Ajustadores são fragmentos do ancestral da gravidade, não são uma conseqüência da gravidade; eles foram segmentados em um nível de existência no universo que, hipoteticamente, é anterior ao surgimento da gravidade.
107:6.7 (1183.2) Os Ajustadores do Pensamento não descansam durante todo o tempo da sua outorga, até o dia da sua liberação para irem a Divínington, quando da morte natural dos seus sujeitos mortais. E aqueles, cujos sujeitos não passam pelos portais da morte natural, nem mesmo experienciam esse repouso temporário. Os Ajustadores do Pensamento não precisam absorver energia; eles são energia, energia da ordem mais elevada e mais divina.
107:7.1 (1183.3) Os Ajustadores do Pensamento não são personalidades; eles são entidades reais; são individualizados verdadeira e perfeitamente, se bem que, enquanto residindo nos mortais, não estejam ainda nunca personalizados de fato. Os Ajustadores do Pensamento não são personalidades verdadeiras; eles são realidades verdadeiras, realidades da ordem mais pura conhecida no universo dos universos — eles são a presença divina. Ainda que não sejam pessoais, esses maravilhosos fragmentos do Pai são comumente chamados de seres e, algumas vezes, de entidades do espírito, em vista das fases espirituais da sua presente ministração aos mortais.
107:7.2 (1183.4) Se os Ajustadores do Pensamento não são personalidades com prerrogativas de vontade e poderes de escolha, como então podem escolher o sujeito mortal e voluntariar-se para residir em tais criaturas dos mundos evolucionários? Essa é uma pergunta fácil de fazer, mas provavelmente nenhum ser, no universo dos universos, tenha jamais encontrado a resposta exata. Mesmo a minha ordem de personalidades, a dos Mensageiros Solitários, não entende plenamente o dom da vontade, da escolha e do amor em entidades que não sejam pessoais.
107:7.3 (1183.5) Muitas vezes, temos conjecturado que os Ajustadores devem ter volição em todos os níveis pré-pessoais de escolha. Eles fazem-se voluntários para residir nos seres humanos; fazem planos para a carreira eterna do homem; eles adaptam, modificam e substituem, de acordo com as circunstâncias, e essas atividades conotam uma volição genuína. Eles têm afeição pelos mortais, funcionam nas crises do universo e estão sempre à espera para atuar decisivamente de acordo com a escolha humana, e todas essas reações são altamente volicionais. Em todas as situações que não concernam ao domínio da vontade humana, inquestionavelmente, eles exibem uma conduta que denota o exercício de poderes, em todos os sentidos, equivalentes à vontade, ao máximo da decisão.
107:7.4 (1183.6) Por que então, posto que os Ajustadores do Pensamento possuem volição, seriam eles subservientes à vontade dos mortais? Acreditamos que seja porque a volição do Ajustador, embora absoluta, por natureza, seja pré-pessoal na sua manifestação. A vontade humana funciona, dentro da realidade do universo no nível da personalidade, e, em todo o cosmo, o impessoal — o não pessoal, o subpessoal e o pré-pessoal — sempre responde à vontade e aos atos da personalidade existente.
107:7.5 (1183.7) Em todo um universo de seres criados e de energias não-pessoais, nós não observamos a vontade, a volição, a escolha e o amor manifestando-se separadamente da personalidade. Excetuando-se nos Ajustadores e em outras entidades similares, nós não testemunhamos esses atributos da personalidade atuando junto com as realidades impessoais. Não seria correto designar um Ajustador como subpessoal, nem seria próprio aludir a essas entidades como suprapessoais, mas seria inteiramente permissível aplicar o termo pré-pessoal a esses seres.
107:7.6 (1184.1) Para as nossas ordens de seres, esses fragmentos da Deidade são conhecidos como dádivas divinas. Reconhecemos que os Ajustadores são divinos na sua origem; e que constituem a provável evidência e a demonstração de uma reserva que o Pai Universal tenha da possibilidade de comunicação, direta e ilimitada, com toda e qualquer criatura material, em todos os Seus reinos virtualmente infinitos; e tudo isso acontecendo independentemente da Sua presença, nas personalidades dos seus Filhos do Paraíso ou nas Suas ministrações indiretas, por meio das personalidades do Espírito Infinito.
107:7.7 (1184.2) Não há seres criados que não se deliciariam em hospedar os Monitores Misteriosos; mas nenhuma das ordens de seres é assim residida, a não ser as criaturas evolucionárias de vontade e com destino de finalitores.
107:7.8 (1184.3) [Apresentado por um Mensageiro Solitário de Orvônton.]
O Livro de Urântia
Documento 108
108:0.1 (1185.1) A MISSÃO dos Ajustadores do Pensamento junto às raças humanas é a de representar, de ser o Pai Universal, para as criaturas mortais do tempo e do espaço; é esse o trabalho fundamental das dádivas divinas. A sua missão também é a de elevar as mentes mortais e transladar as almas imortais dos homens às alturas divinas e até os níveis espirituais da perfeição do Paraíso. E, na experiência de transformar, assim, a natureza humana da criatura temporal na natureza divina do finalitor eterno, os Ajustadores trazem à existência um tipo único de ser; um ser que, constando da união eterna do Ajustador perfeito e da criatura perfeccionada, seria impossível duplicar por qualquer outra técnica no universo.
108:0.2 (1185.2) Nada, em níveis não existenciais no universo inteiro, pode substituir o fato da experiência. O Deus infinito é, como sempre, repleto e completo, infinitamente inclusivo de todas as coisas, exceto do mal e da experiência da criatura. Deus não pode fazer errado; Ele é infalível. Deus não pode experiencialmente conhecer aquilo que ele jamais experienciou pessoalmente; o pré-conhecimento de Deus é existencial. E é por isso que o espírito do Pai desce do Paraíso, para participar de toda a experiência de plena boa-fé, junto com os mortais finitos, na carreira ascendente; apenas por esse método o Deus existencial poderia tornar-se, na verdade e de fato, o Pai experiencial do homem. A infinitude do Deus eterno engloba o potencial para a experiência finita, a qual torna-se um fato, na ministração dos fragmentos Ajustadores, pois eles efetivamente compartilham das vicissitudes da experiência da vida dos seres humanos.
108:1.1 (1185.3) Quando os Ajustadores são despachados de Divínington para o serviço mortal, todos eles são idênticos, em dotação de divindade existencial; mas diferenciam-se pelas qualidades experienciais, na proporção do seu contato prévio com as criaturas evolucionárias, e nelas. Nós não podemos explicar a base do compromisso dos Ajustadores, mas conjecturamos que tais dons divinos sejam outorgados de acordo com alguma política sábia e eficiente; segundo a aptidão eterna para a adaptação à personalidade residida. Observamos que o Ajustador mais experiente é, freqüentemente, o residente do tipo mais elevado de mente humana; a herança humana deve, portanto, ser um fator considerável na escolha, durante a seleção e o comprometimento.
108:1.2 (1185.4) Ainda que não saibamos em definitivo, acreditamos firmemente que todos os Ajustadores do Pensamento sejam voluntários. Antes, todavia, mesmo de se fazerem voluntários, eles estão de posse de todos os dados a respeito do candidato a ser residido. As pesquisas seráficas sobre os ancestrais e o modelo projetado de condutas de vida são transmitidos, pela via do Paraíso, ao corpo de reserva dos Ajustadores, em Divínington, por meio da técnica de refletividade, que se estende para dentro, vinda das capitais dos universos locais, até as sedes-centrais dos superuniversos. Esse prognóstico não apenas abrange os antecedentes hereditários do candidato mortal, mas também a estimativa provável de seus dons intelectuais e capacidade espiritual. Os Ajustadores, assim, voluntariam-se para residir nas mentes daqueles cujas naturezas íntimas eles já teriam avaliado plenamente.
108:1.3 (1186.1) O Ajustador que se faz voluntário está particularmente interessado em três qualificações do candidato humano:
108:1.4 (1186.2) 1. A capacidade intelectual. A mente é normal? Qual é o potencial intelectual, a capacidade da inteligência? Pode o indivíduo desenvolver-se a ponto de ser uma criatura de vontade e de boa-fé? A sabedoria terá com ele uma oportunidade de atuar?
108:1.5 (1186.3) 2. A percepção espiritual. As perspectivas, no que se refere ao desenvolvimento, o nascimento e o crescimento da natureza religiosa. Qual é o potencial da alma, qual é a provável capacidade espiritual de receptividade?
108:1.6 (1186.4) 3. Os potenciais intelectuais e espirituais combinados. O grau em que estes dois dons podem, provavelmente, estar associados, combinados, de modo a resultar na força do caráter humano e contribuir para a evolução certa de uma alma imortal, com valor de sobrevivência.
108:1.7 (1186.5) De posse desses dados, acreditamos que os Monitores se voluntariem livremente para a sua missão. Provavelmente mais de um Ajustador voluntarie-se; talvez as ordens personalizadas supervisoras selecionem, desse grupo de Ajustadores voluntários, o mais adequado à tarefa de espiritualizar e de eternizar a personalidade do candidato mortal. (No comprometimento e no serviço dos Ajustadores, o sexo da criatura não entra em consideração.)
108:1.8 (1186.6) O curto espaço de tempo, entre o ato de se fazer voluntário e o momento em que o Ajustador é factualmente despachado, é passado, presumivelmente, nas escolas dos Monitores Personalizados, em Divínington, onde um modelo da mente mortal em expectativa é utilizado na instrução do Ajustador designado, quanto aos planos mais eficazes para aproximar-se da personalidade e para a espiritualização da mente. Esse modelo de mente é formulado por meio de uma combinação dos dados supridos pelo serviço de refletividade do superuniverso. Pelo menos esse é o nosso entendimento, uma crença que temos e que mantemos, resultante da junção de informações, asseguradas pelo contato com muitos Ajustadores Personalizados, ao longo das prolongadas carreiras dos Mensageiros Solitários no universo.
108:1.9 (1186.7) Uma vez que os Ajustadores sejam despachados, de fato, de Divínington, nenhum tempo, praticamente, decorre entre esse momento e a hora do seu surgimento, na mente do sujeito da sua escolha. O tempo médio, para o trânsito, de um Ajustador, de Divínington a Urântia, é de 117 horas, 42 minutos e 7 segundos. E todo esse tempo é, virtualmente, gasto com o registro em Uversa.
108:2.1 (1186.8) Embora se voluntariem para o serviço tão logo as previsões da personalidade sejam transmitidas a Divínington, os Ajustadores não se comprometem, de fato, antes que o sujeito humano tome a sua primeira decisão moral, de personalidade. A primeira escolha moral do filho humano fica automaticamente indicada, no sétimo ajudante da mente, que a registra, instantaneamente, por meio do Espírito Criativo Materno do universo local, no circuito da gravidade da mente universal do Agente Conjunto, na presença do Espírito Mestre da jurisdição do superuniverso; e, a partir daí, este despacha a informação para Divínington. Os Ajustadores chegam aos seus sujeitos humanos em Urântia, comumente, um pouco antes do sexto aniversário deles. Na geração atual, transcorrem cinco anos, dez meses e quatro dias; isto significa o dia 2 134 da sua vida terrestre.
108:2.2 (1187.1) Os Ajustadores não podem invadir a mente mortal, antes que ela haja sido devidamente preparada, pela ministração interior dos espíritos ajudantes da mente; e antes que seja conectada ao circuito do Espírito Santo. E isso requer a atuação coordenada de todos sete ajudantes, para qualificar a mente humana para a recepção de um Ajustador. A mente da criatura deve demonstrar um certo alcance de adoração e indicar a função da sabedoria, demonstrando capacidade de escolher entre os valores emergentes do bem e do mal — a escolha moral.
108:2.3 (1187.2) Assim, fica estabelecido qual é o estágio da mente humana para a recepção do Ajustador; mas, regra geral, ele não aparece, imediatamente, para residir nessas mentes, exceto naqueles mundos nos quais o Espírito da Verdade está atuando como um coordenador espiritual dessas diferentes ministrações espirituais. Se esse espírito dos Filhos auto-outorgados estiver presente, os Ajustadores infalivelmente chegam no instante em que o sétimo espírito ajudante da mente começa a funcionar e sinaliza ao Espírito Materno do Universo que já realizou, em potencial, a coordenação dos seis ajudantes interligados, que eram uma ministração prévia dada a esse intelecto mortal. E assim, pois, em Urântia, desde o Dia de Pentecostes, os Ajustadores divinos têm sido universalmente outorgados a todas as mentes mortais normais, de status moral.
108:2.4 (1187.3) Mesmo tratando-se de mentes dotadas com o Espírito da Verdade, os Ajustadores não podem, arbitrariamente, invadir um intelecto mortal antes do surgimento da decisão moral. Todavia, uma vez que essa decisão moral haja sido tomada, esse auxiliar espiritual assume a jurisdição diretamente de Divínington. Não há intermediários ou outras autoridades interferindo, nem poderes funcionando entre os Ajustadores divinos e os seus sujeitos humanos; Deus e o homem estão diretamente relacionados.
108:2.5 (1187.4) Antes da época da efusão do Espírito da Verdade sobre os habitantes de um mundo evolucionário, o outorgamento dos Ajustadores parece ser determinado por muitas influências espirituais e por atitudes da personalidade. Nós não compreendemos completamente as leis que comandam tais outorgas; não compreendemos o que determina exatamente a liberação dos Ajustadores, os quais se fizeram voluntários para residir em tais mentes em evolução. Contudo, observamos numerosas influências e condições que parecem estar associadas à chegada dos Ajustadores nessas mentes, antes do outorgamento e da efusão do Espírito da Verdade e, pois, são elas:
108:2.6 (1187.5) 1. A designação de guardiães seráficos pessoais. Se um mortal não houver sido previamente residido por um Ajustador, a designação de um guardião seráfico pessoal traz o Ajustador, em seguida. Existe uma relação definida, todavia desconhecida, entre a ministração dos Ajustadores e o ministério dos guardiães seráficos pessoais.
108:2.7 (1187.6) 2. O alcançar do terceiro círculo da realização intelectual e da realização espiritual. Tenho observado os Ajustadores chegando às mentes mortais, depois da conquista do terceiro círculo, mesmo antes que tal feito pudesse ser assinalado para as personalidades do universo local, a quem concerniriam tais questões.
108:2.8 (1187.7) 3. Quando da tomada de uma suprema decisão de importância espiritual inusitada. Esse comportamento humano pessoal durante uma crise planetária, via de regra, é seguido da chegada imediata do Ajustador o qual já aguardava.
108:2.9 (1187.8) 4. O espírito da fraternidade. A despeito da realização, nos círculos psíquicos e da designação de guardiães pessoais — na ausência de qualquer coisa semelhante a uma decisão de crise — , quando um mortal em evolução torna-se dominado pelo amor dos seus semelhantes e consagra-se à ministração não-egoísta a seus irmãos na carne, o Ajustador, que aguarda, invariavelmente desce para residir na mente desse ministro mortal.
108:2.10 (1188.1) 5. A declaração da intenção de fazer a vontade de Deus. Observamos que muitos mortais, nos mundos do espaço, podem estar aparentemente prontos para receber os Ajustadores e, ainda assim, os Monitores não aparecem. Continuamos observando tais criaturas na sua vida, dia a dia, até que silenciosa e subitamente, e inconscientemente quase, elas chegam à decisão de começar a querer fazer a vontade do Pai no Céu. E observamos, então, que os Ajustadores são imediatamente despachados.
108:2.11 (1188.2) 6. A influência do Ser Supremo. Em mundos onde os Ajustadores não se fusionam com as almas em evolução dos habitantes mortais, observamos que os Ajustadores, algumas vezes, são outorgados em resposta a influências que estão totalmente além da nossa compreensão. Conjecturamos que tais outorgamentos sejam determinados por alguma ação de reflexo cósmico originada no Ser Supremo. Quanto ao porquê de esses Ajustadores não poderem fundir-se, ou de não se fundirem, com certos tipos de mentes mortais em evolução, não sabemos. Tais transações nunca nos foram reveladas.
108:3.1 (1188.3) Até onde sabemos, os Ajustadores estão organizados como uma unidade independente de trabalho no universo dos universos e, aparentemente, são administrados diretamente a partir de Divínington. Eles são uniformes em todos sete superuniversos; todos os universos locais sendo servidos por tipos idênticos de Monitores Misteriosos. Sabemos, por observação, que há inúmeras séries de Ajustadores envolvendo uma organização em série, que se estende às raças, às dispensações e aos mundos, sistemas e universos. Contudo, é extremamente difícil seguir os passos dessas dádivas divinas, pois elas funcionam de modo intercambiável, em todo o grande universo.
108:3.2 (1188.4) O registro dos Ajustadores é feito e conhecido (fora de Divínington) apenas nas sedes-centrais dos sete superuniversos. O número e a ordem de cada Ajustador, residente em cada criatura ascendente, são reportados pelas autoridades do Paraíso, às sedes-centrais dos superuniversos, e, de lá, comunicados às sedes-centrais do universo local envolvido e transmitidos ao planeta particularmente em pauta. No entanto, os registros do universo local não revelam o número total dos Ajustadores do Pensamento; os registros de Nébadon contêm apenas o número daqueles que estão em compromissos no universo local, conforme designado pelos representantes dos Anciães dos Dias. O alcance real do número completo dos Ajustadores é conhecido apenas em Divínington.
108:3.3 (1188.5) Os sujeitos humanos são, muitas vezes, conhecidos pelos números dos seus Ajustadores; os seres mortais não recebem nomes reais, no universo, até que se fusionem com os seus Ajustadores, união esta que é assinalada pelo guardião do destino o qual faz a outorga de um novo nome à nova criatura.
108:3.4 (1188.6) Embora tenhamos os registros dos Ajustadores em Orvônton, se bem que não tenhamos absolutamente nenhuma autoridade sobre eles, nem tampouco nenhuma relação administrativa com eles, nós acreditamos firmemente que exista uma relação administrativa muito direta entre os mundos individuais dos universos locais e o alojamento central das dádivas divinas em Divínington. Sabemos que, em seguida ao aparecimento de um Filho do Paraíso auto-outorgado, um mundo evolucionário passa a ter um Ajustador Personalizado, designado para ele, como supervisor planetário dos Ajustadores.
108:3.5 (1189.1) É interessante notar que os inspetores do universo local, quando estão efetuando um exame planetário, sempre se referem ao dirigente planetário dos Ajustadores do Pensamento; e fazem do mesmo modo quando enviam as suas acusações aos dirigentes dos serafins e aos líderes de outras ordens de seres ligados à administração de um mundo em evolução. Recentemente, Urântia foi submetida a uma dessas inspeções periódicas de Tabamântia, supervisor soberano de todos os planetas de vida-experimental no universo de Nébadon. E os registros revelam que, além das suas admoestações e acusações dirigidas aos vários dirigentes das personalidades supra-humanas, ele também deu o testemunho seguinte aos comandantes dos Ajustadores, estivessem eles localizados no planeta, em Sálvington, em Uversa, ou Divínington, não sabemos ao certo, mas ele disse:
108:3.6 (1189.2) “Agora a vós, superiores, bem acima de mim, venho como um que tem a autoridade, temporariamente, sobre a série dos planetas experimentais; e venho expressar minha admiração e um profundo respeito por esse magnífico grupo de ministros celestes, os Monitores Misteriosos, o qual se tem voluntariado para servir nessa esfera irregular. Não importa quão sofridas tenham sido as crises, eles jamais falharam. Seja nos registros de Nébadon, seja perante as comissões de Orvônton, jamais foi feita uma acusação a um Ajustador divino. Eles têm sido leais à confiança depositada neles; e divinamente fiéis. Têm ajudado a ajustar os erros e a compensar as falhas de todos os que trabalham nesse planeta confuso. São seres maravilhosos, guardiães do bem nas almas deste reino retrógrado. A eles dedico o meu respeito, ainda que estejam aparentemente sob a minha jurisdição, como ministros voluntários. Eu me inclino perante eles, em humilde reconhecimento, pela delicada falta de egoísmo de todos eles, pela sua ministração compreensiva e devoção imparcial. Merecem o nome de servidores, semelhantes a Deus, dos habitantes mortais deste mundo dilacerado por conflitos, alquebrado por lamentos e afligido por doenças. Eu honro a todos eles! Chego mesmo a cultuá-los!”
108:3.7 (1189.3) Como resultado de muitas indicações sugestivas de evidências, acreditamos que os Ajustadores sejam cuidadosamente organizados, que exista uma diretiva administrativa profundamente inteligente e eficiente voltada para essas dádivas divinas, de alguma fonte central longínqua em Divínington provavelmente. Sabemos que eles vêm de Divínington para os mundos; e, indubitavelmente, retornam para ali quando da morte dos seus sujeitos.
108:3.8 (1189.4) Entre as ordens mais elevadas de espíritos torna-se extremamente difícil descobrir os mecanismos da sua administração. A minha ordem de personalidades, ainda que engajada na continuação dos nossos deveres específicos, está participando, de forma indiscutivelmente inconsciente, em inúmeros outros grupos de sub-Deidades pessoais e impessoais, funcionando unidos, como agentes de correlação, nesse imenso universo. Suspeitamos que estamos, dessa forma, servindo, porque somos o único grupo de criaturas personalizadas (à parte os Ajustadores Personalizados) que está consciente, uniformemente, da presença de numerosas ordens de entidades pré-pessoais.
108:3.9 (1189.5) Podemos dar ciência da presença dos Ajustadores, que são fragmentos da Deidade pré-pessoal da Primeira Fonte e Centro. Sentimos a presença dos Espíritos Inspirados da Trindade, que são expressões suprapessoais da Trindade do Paraíso. Do mesmo modo, infalivelmente, detectamos a presença espiritual de certas ordens não reveladas, provenientes do Filho Eterno e do Espírito Infinito. E não somos inteiramente insensíveis a outras entidades, não reveladas a vós.
108:3.10 (1190.1) Os Melquisedeques de Nébadon ensinam que os Mensageiros Solitários são as personalidades coordenadoras dessas várias influências que se registram nas Deidades em expansão do Ser Supremo evolucionário. É muito possível que nós possamos ser participantes da unificação experiencial de muitos dos fenômenos inexplicados do tempo; mas não estamos conscientemente seguros de estarmos assim funcionando.
108:4.1 (1190.2) À parte uma possível coordenação com outros fragmentos da Deidade, os Ajustadores estão inteiramente a sós na sua esfera de atividade, na mente mortal. Os Monitores Misteriosos demonstram, eloqüentemente, o fato de que, embora o Pai possa haver, aparentemente, renunciado ao exercício de todo poder e de toda autoridade pessoal direta, em todo o grande universo, e, não obstante esse ato de abnegação em favor dos filhos do Supremo Criador, das Deidades do Paraíso, o Pai certamente reservou a Si o direito intransferível de estar presente nas mentes e nas almas das suas criaturas evolucionárias, com o fito de poder atuar, desse modo, no sentido de atrair todas as criaturas da criação para Si Próprio, coordenadamente com a gravidade espiritual dos Filhos do Paraíso. O vosso Filho do Paraíso auto-outorgado, quando ainda em Urântia, disse: “Se me elevar, eu atrairei todos os homens”. Nós reconhecemos e compreendemos esse poder espiritual de atração dos Filhos do Paraíso e das suas Coligadas Criativas; mas não entendemos assim tão plenamente os métodos de funcionamento do Pai onisciente, por intermédio destes e nestes Monitores Misteriosos, que vivem e que atuam tão valentemente dentro da mente humana.
108:4.2 (1190.3) Ainda que não subordinados, coordenados, ou aparentemente relacionados com o trabalho no universo dos universos, embora atuando independentemente nas mentes dos filhos dos homens, essas presenças misteriosas impulsionam incessantemente as criaturas nas quais residem na direção dos ideais divinos, sempre os atraindo para cima no sentido dos propósitos e das metas de uma vida futura melhor. Esses Monitores Misteriosos estão atuando continuamente para o estabelecimento do domínio espiritual de Michael em todo o universo de Nébadon; e, ao mesmo tempo, contribuindo, misteriosamente, para a estabilização da soberania dos Anciães dos Dias em Orvônton. Os Ajustadores são a vontade de Deus; e, já que os Filhos do Deus Criador Supremo também incorporam, pessoalmente, essa mesma vontade, torna-se inevitável que as ações dos Ajustadores e a soberania dos governantes do universo devam ser mutuamente interdependentes. Ainda que aparentemente desconectadas, a presença do Pai, nos Ajustadores e a soberania do Pai, em Michael de Nébadon, devem ser manifestações diversas da mesma divindade.
108:4.3 (1190.4) Os Ajustadores do Pensamento parecem ir e vir de um modo totalmente independente de todas e quaisquer presenças espirituais; eles parecem funcionar de acordo com leis do universo, que são totalmente diferentes daquelas que governam e controlam as atuações de todas as outras influências espirituais. Contudo, apesar de tal independência aparente, a observação por um prazo mais longo revela, inquestionavelmente, que eles funcionam na mente humana em sincronia e coordenação perfeitas com todas as outras ministrações espirituais, incluindo a dos espíritos ajudantes da mente, do Espírito Santo, do Espírito da Verdade e de outras influências.
108:4.4 (1190.5) Quando um mundo fica isolado por causa de uma rebelião; quando um planeta é desligado de toda comunicação feita com os circuitos externos, como Urântia ficou depois da sublevação de Caligástia, com excessão dos mensageiros pessoais, não resta senão uma possibilidade de comunicação interplanetária ou universal, e esta é feita por meio da ligação efetuada com os Ajustadores das esferas. Não importa o que possa acontecer em um mundo ou universo, os Ajustadores nunca se envolvem diretamente. O isolamento de um planeta, de nenhum modo, afeta os Ajustadores, nem a sua capacidade de se comunicar com qualquer parte do universo local, do superuniverso ou do universo central. E essa é a razão pela qual os contatos com os Ajustadores supremos e os Ajustadores auto-atuantes do corpo de reserva do destino são feitos, tão freqüentemente, nos mundos em quarentena. Os recursos para essa técnica, são providos como um meio de contornar as limitações do isolamento planetário. Em anos recentes, os circuitos dos arcanjos têm funcionado em Urântia; mas esse meio de comunicação é grandemente limitado às transações feitas pelo próprio corpo de arcanjos.
108:4.5 (1191.1) Somos conhecedores de muitos fenômenos espirituais, na vastidão do universo, cujo entendimento pleno nos escapa. Não temos, ainda, a mestria do conhecimento de tudo o que ocorre à nossa volta; e acredito que muito desse trabalho inescrutável seja efetuado pelos Mensageiros da Gravidade e por alguns tipos de Monitores Misteriosos. Não creio que os Ajustadores estejam devotados apenas a recompor as mentes mortais. Estou persuadido de que os Monitores Personalizados e outras ordens de espíritos pré-pessoais ainda não reveladas sejam representativos do contato direto e inexplicável do Pai Universal com as criaturas dos reinos.
108:5.1 (1191.2) Os Ajustadores aceitam um compromisso difícil quando se fazem voluntários para residir em seres compostos, como esses que vivem em Urântia. No entanto, eles assumiram a tarefa de coexistir nas vossas mentes, para nelas receber as recomendações das inteligências espirituais dos reinos e assumir a tarefa de re-ditar ou de traduzir essas mensagens espirituais para a mente material; eles são indispensáveis à ascensão ao Paraíso.
108:5.2 (1191.3) Tudo que o Ajustador não pode aplicar à vossa vida atual, aquelas verdades que ele não pode transmitir com êxito ao homem ao qual se afiança, ele irá guardar fielmente para usar no próximo estágio de existência, do mesmo modo que ele agora transporta, de círculo para círculo, todos aqueles itens que ele não consegue registrar na experiência do seu sujeito humano, devido à incapacidade da criatura, ou ao fracasso dela em participar com um grau suficiente de cooperação.
108:5.3 (1191.4) Uma coisa na qual vós podeis confiar: os Ajustadores jamais deixarão que se perca qualquer coisa entregue aos seus cuidados; nunca soubemos que esses ajudantes espirituais houvessem falhado. Os anjos e outros tipos elevados de seres espirituais, não se excetuando os tipos de Filhos do universo local, podem ocasionalmente abraçar o mal, podem algumas vezes sair do caminho divino; mas os Ajustadores nunca falham. Eles são absolutamente confiáveis; e isso é verdadeiro, de modo igual, para todos os sete grupos deles.
108:5.4 (1191.5) O vosso Ajustador é o potencial da vossa nova e próxima ordem de existência, ele é uma dádiva em adiantamento da vossa filiação eterna a Deus. Por meio do consentimento da vossa vontade, e com esse consentimento, o Ajustador tem o poder de sujeitar as tendências da mente material às ações transformadoras das motivações e propósitos da alma moroncial que emerge.
108:5.5 (1191.6) Os Monitores Misteriosos não são meros assistentes do pensamento; eles são os ajustadores do vosso pensamento. Eles trabalham com a mente material no propósito de construir, por meio do ajustamento e da espiritualização, uma nova mente, para os novos mundos e para o novo nome da vossa carreira futura. A missão deles concerne, principalmente, à vida futura, não a esta vida. Eles são chamados de ajudantes celestes, não de ajudantes terrenos. Eles não estão interessados em tornar fácil a carreira mortal; antes, estão ocupados em tornar a vossa vida razoavelmente difícil e acidentada, de modo tal que as decisões sejam estimuladas e multiplicadas. A presença de um Ajustador do Pensamento especial não confere facilidade de vida, nem vos livra do raciocinar árduo; mas esse dom divino acaba por conferir uma paz sublime de mente e uma tranqüilidade magnífica de espírito.
108:5.6 (1192.1) As vossas emoções passageiras, e sempre em mutação, entre alegria e tristeza, são reações puramente humanas e materiais do vosso clima psíquico interior ao vosso meio ambiente externo. E, portanto, não encarai o Ajustador como um consolador egoístico, nem conteis com ele para o vosso conforto enquanto mortais. A tarefa do Ajustador é preparar-vos para a aventura eterna, é assegurar a vossa sobrevivência. Não faz parte da missão do Monitor Misterioso suavizar os vossos sentimentos turbulentos, nem vos curar no vosso orgulho ferido; é na preparação da vossa alma que o Ajustador coloca a sua atenção e ocupa o seu tempo; na preparação da vossa alma para a longa carreira ascendente.
108:5.7 (1192.2) Duvido que eu seja capaz de explicar-vos, exatamente, o que os Ajustadores fazem nas vossas mentes, nem o que fazem pelas vossas almas. Não sei se sou plenamente conhecedor do que realmente acontece nessa associação cósmica, a de um Monitor divino com uma mente humana. Tudo é como um mistério para nós, não o plano e o propósito em si, mas o modo factual da sua realização. E é exatamente por isso que nos defrontamos com tais dificuldades para encontrar um nome apropriado para esses dons supernos dados aos homens mortais.
108:5.8 (1192.3) Os Ajustadores do Pensamento gostariam de transformar os vossos sentimentos de medo em convicções de amor e de confiança; mas eles não podem, mecânica e arbitrariamente, fazer tais coisas; isso é tarefa vossa. Ao assumir essas decisões, que vos livram das correntes do medo, estareis literalmente criando o ponto de apoio psíquico para que o Ajustador possa subseqüentemente entrar com a sua iluminação espiritual equilibradora e elevadora, necessária ao vosso progresso.
108:5.9 (1192.4) Quando se trata dos conflitos agudos e bem definidos entre as tendências mais elevadas e as mais baixas das raças, entre o que realmente é certo ou errado (não aquilo que vós meramente chamais de certo e de errado), vós podeis confiar que o Ajustador sempre participará de alguma maneira definida e ativa em tais experiências. O fato de que essa atividade do Ajustador possa ser inconsciente, para o parceiro humano, não cria demérito de nenhum modo para essa realidade e o seu valor.
108:5.10 (1192.5) Se vós tiverdes um guardião pessoal do destino e falhardes na sobrevivência, esse anjo guardião deve ser julgado com o fito de receber o indulto devido à execução, fiel ou não, da missão a ele confiada. Todavia, os Ajustadores do Pensamento não são submetidos assim a nenhum exame quando os seus sujeitos falham, quanto à sobrevivência. Todos nós sabemos que, enquanto é possível que um anjo possa sair da perfeição na sua ministração, os Ajustadores trabalham à maneira da perfeição do Paraíso; a sua ministração é caracterizada por uma técnica sem jaça que permanece além da possibilidade da crítica de qualquer ser fora de Divínington. Vós tendes guias perfeitos; e, por isso, a meta da perfeição é atingível, com toda a certeza.
108:6.1 (1192.6) De fato, é uma maravilha da condescendência divina que os elevados e perfeitos Ajustadores ofereçam-se a si próprios para uma existência factual, nas mentes das criaturas materiais, tais como os mortais de Urântia; para consumar realmente uma união probacionária com os seres de origem animal da Terra.
108:6.2 (1193.1) Não importa qual seja o status prévio dos habitantes de um mundo, após a auto-outorga de um Filho divino e após a efusão do Espírito da Verdade sobre todos os humanos, os Ajustadores acorrem até esse mundo para residir nas mentes de todas as criaturas normais de vontade. Em seguida ao cumprimento da missão de um Filho do Paraíso auto-outorgante, esses Monitores verdadeiramente se tornam o “Reino do céu, dentro de vós”. Por intermédio do outorgamento dos dons divinos, o Pai aproxima-Se, o mais que pode, do pecado e do mal; pois é literalmente verdadeiro que o Ajustador deva coexistir na mente mortal, mesmo em meio à falta de retidão humana. Os Ajustadores residentes ficam particularmente atormentados pelos pensamentos que são puramente sórdidos e egoístas; ficam afligidos com a irreverência para com aquilo que é belo e divino; e muitos dos medos animais tolos e ansiedades infantis são obstáculos virtuais ao seu trabalho.
108:6.3 (1193.2) Os Monitores Misteriosos são, sem dúvida, a dádiva do Pai Universal, o reflexo da imagem de Deus projetado no universo. Um grande educador, certa vez, notificou aos homens de que eles deveriam renovar-se no espírito existente nas suas mentes; que eles tornar-se-iam homens novos que, como Deus, são criados na retidão e no cumprimento da verdade. O Ajustador é a marca da divindade, a presença de Deus. A “imagem de Deus” não se refere à semelhança física, nem à limitação circunscrita do dom da criatura material, mas, antes, à dádiva da presença do espírito do Pai Universal, no outorgamento superno dos Ajustadores do Pensamento às humildes criaturas dos universos.
108:6.4 (1193.3) O Ajustador é a fonte da realização espiritual e a esperança de um caráter divino dentro de vós. Ele é o poder, o privilégio e a possibilidade de sobrevivência, que, tão plena e definitivamente, vos distingue das criaturas meramente animais. Ele é o estímulo espiritual mais alto e verdadeiramente interno do pensamento, em contraste com o estímulo externo e físico, que alcança a mente pelo mecanismo energético nervoso do corpo material.
108:6.5 (1193.4) Esses fiéis custódios da carreira futura, infalivelmente, duplicam toda a criação mental, em uma contraparte espiritual; eles estão assim, vagarosa e seguramente, recriando-vos como vós realmente sois (apenas espiritualmente) para a ressurreição, nos mundos de sobrevivência. E todas essas delicadas recriações espirituais estão sendo preservadas, na realidade, que vai surgindo, da vossa alma imortal em evolução: o vosso eu moroncial. Essas realidades estão factualmente aí, não obstante o Ajustador raramente ser capaz de exaltar essas criações duplicadas, suficientemente, a ponto de exibi-las à luz da consciência.
108:6.6 (1193.5) E, do mesmo modo que sois o parentesco humano, o Ajustador é o parente divino do vosso eu real, o vosso eu mais elevado e avançado, o vosso eu moroncial melhor, o vosso eu espiritual futuro. E é essa alma moroncial, em evolução, que os juízes e censores discernem, quando vão decretar a vossa sobrevivência e a vossa passagem para cima, para os novos mundos e para uma existência infindável, em ligação eterna com o vosso parceiro fiel — Deus, o Ajustador.
108:6.7 (1193.6) Os Ajustadores são os ancestrais eternos, os originais divinos das vossas almas imortais evolucionárias; eles são o impulso incessante, que conduz o homem a conquistar a mestria material e presente da existência, à luz da carreira espiritual e futura. Esses Monitores são os reféns da esperança que não morre, são as fontes da progressão infindável. E como ficam felizes ao comunicarem-se com os seus sujeitos, por canais mais ou menos diretos! Como eles se regozijam, quando podem descartar os símbolos e outros métodos indiretos, e passam a poder comunicar as suas mensagens diretamente aos intelectos dos seus parceiros humanos!
108:6.8 (1194.1) Vós, humanos, iniciastes um desdobrar quase que sem fim de um panorama infinito, uma expansão sem limite de esferas de oportunidades, sempre mais amplas, de serviço jubiloso, de aventura sem par, de incerteza sublime e de alcances sem fronteiras. Quando nuvens se acumularem sobre as vossas cabeças, a vossa fé deveria aceitar o fato da presença do Ajustador residente e, assim, deveríeis ser capazes de olhar através das névoas da incerteza mortal, para o brilho claro do sol da retidão eterna, que clareia as alturas acolhedoras dos mundos das mansões de Satânia.
108:6.9 (1194.2) [Apresentado por um Mensageiro Solitário de Orvônton.]
O Livro de Urântia
Documento 109
109:0.1 (1195.1) OS Ajustadores do Pensamento são as crianças da carreira do universo e, de fato, os Ajustadores virgens devem ganhar experiência, enquanto as criaturas mortais crescem e desenvolvem-se. Do mesmo modo que a personalidade da criança humana se expande, para as lutas da existência evolucionária, o Ajustador cresce muito com os exercícios preparatórios para o próximo estágio na vida ascendente. Da mesma forma que a criança adquire a versatilidade para a adaptação, às suas atividades adultas, por meio da vida social e da vida nas brincadeiras da primeira infância, também o Ajustador residente aprimora as suas habilidades, para o próximo estágio da vida cósmica, em virtude de um planejamento preliminar para o mortal e do aprendizado daquelas atividades que têm a ver com a carreira moroncial. A existência humana constitui um período de prática, que é efetivamente utilizado pelo Ajustador, no preparo das responsabilidades crescentes e das oportunidades maiores de uma vida futura. Os esforços do Ajustador, enquanto vivem dentro de vós, contudo, não são muito ligados aos assuntos da vida temporal e da existência planetária. Nos momentos atuais, os Ajustadores do Pensamento estão preparando, por assim dizer, a introdução às realidades da carreira do universo, nas mentes em evolução dos seres humanos.
109:1.1 (1195.2) Deve haver um plano elaborado e abrangente para o aperfeiçoamento e desenvolvimento dos Ajustadores virgens, antes de serem enviados para fora de Divínington, mas realmente pouco sabemos a esse respeito. Indubitavelmente, também existe um sistema extenso para o reaperfeiçoamento dos Ajustadores com experiência de residente, antes que reembarquem nas suas missões de ligação aos mortais, mas também nada sabemos disso na realidade.
109:1.2 (1195.3) Foi-me dito, por Ajustadores Personalizados, que toda vez que um mortal, com um Monitor residente, falha na sua sobrevivência, quando o Ajustador retorna a Divínington, ele engaja-se num curso extensivo de aperfeiçoamento. Esse aperfeiçoamento adicional torna-se possível pela experiência de já haver residido em um ser humano e é sempre ministrado antes de o Ajustador ser reenviado para os mundos evolucionários do tempo.
109:1.3 (1195.4) A experiência real de vida não tem nenhum substituto cósmico. A perfeição da divindade, de um Ajustador recém-criado, de nenhuma maneira dota esse Monitor Misterioso com a habilidade e a experiência para a ministração à mente humana. A experiência é inseparável de uma existência viva; é algo que nem o dom divino, em nenhuma magnitude, pode eximir-vos da necessidade de ser obtida por meio de uma vivência real. Portanto, da mesma forma que todos os seres que vivem e funcionam dentro da esfera presente do Supremo, devem os Ajustadores do Pensamento adquirir experiência; devem evoluir de grupos mais baixos e inexperientes, até os mais elevados e experientes.
109:1.4 (1196.1) Os Ajustadores passam por uma carreira clara de desenvolvimento na mente mortal; adquirem uma realidade de êxito, a qual é eternamente deles. Eles adquirem, progressivamente, a perícia e a habilidade de Ajustador, em conseqüência dos contatos de residência nas raças materiais, a despeito da sobrevivência ou não dos seus sujeitos mortais. Eles têm, também, uma parceria igual à da mente humana, no fomento da evolução da alma imortal, com capacidade de sobrevivência.
109:1.5 (1196.2) O primeiro estágio da evolução do Ajustador é alcançado na fusão com a alma sobrevivente de um ser mortal. Assim, enquanto estais, por natureza, evoluindo para dentro e para cima, do homem até Deus, os Ajustadores estarão, por natureza, evoluindo para fora e para baixo, de Deus para o homem; e, assim, o produto final dessa união entre a divindade e a humanidade será eternamente um filho do homem e um filho de Deus.
109:2.1 (1196.3) Vós tendes sido informados sobre a classificação dos Ajustadores; em relação à experiência, há os virgens, os avançados e os supremos. Vós devíeis também conhecer uma certa classificação funcional — a dos chamados Ajustadores auto-atuantes. Um Ajustador que é capaz de atuar por si próprio, ou seja, auto-atuante, é aquele que:
109:2.2 (1196.4) 1. Teve uma certa experiência, de pré-requisito, na evolução da vida de uma criatura dotada de vontade, seja como um residente temporário, em um tipo de mundo em que os Ajustadores são apenas emprestados aos sujeitos mortais; seja num planeta de fusão real, em que o humano falhou na sua sobrevivência. Tal Monitor ou é um Ajustador avançado ou supremo.
109:2.3 (1196.5) 2. Adquiriu o equilíbrio, do poder espiritual, em um humano que atingiu o terceiro círculo psíquico e que teve designado para ele um guardião seráfico pessoal.
109:2.4 (1196.6) 3. Tem um sujeito que tomou a decisão suprema, que assumiu um compromisso solene e sincero com o Ajustador. O Ajustador, então, aguarda antecipadamente a época da fusão real e reconhece a união como um evento garantido.
109:2.5 (1196.7) 4. Tem um sujeito que pertence a um dos corpos de reserva do destino, em um mundo evolucionário de ascensão mortal.
109:2.6 (1196.8) 5. Em algum momento, durante o sono humano, foi temporariamente separado da mente do seu confinamento mortal, para realizar alguma missão de ligação, contato, reinscrição ou outro serviço extra-humano, associado à administração espiritual do mundo para o qual foi designado.
109:2.7 (1196.9) 6. Serviu, em tempo de crise, na experiência de algum ser humano que foi o complemento material de uma personalidade espiritual encarregada de alguma realização cósmica essencial à economia espiritual do planeta.
109:2.8 (1196.10) Esses Ajustadores, que atuam por si próprios, parecem possuir um grau considerável de vontade, em todas as questões que não envolvam as personalidades humanas nas quais residem diretamente, como está indicado pelas suas inúmeras obras, tanto dentro, quanto fora dos sujeitos mortais da sua vinculação. Tais Ajustadores participam de inúmeras atividades deste reino, porém, mais freqüentemente, eles funcionam como residentes não detectados nos tabernáculos terrenos da sua própria escolha.
109:2.9 (1196.11) Indubitavelmente, esses tipos mais elevados e mais experientes de Ajustadores podem comunicar-se com outros, de outros reinos. No entanto, ainda que esses Ajustadores auto-atuantes se intercomuniquem assim, eles o fazem apenas nos níveis dos seus trabalhos mútuos e com os propósitos de preservação dos dados de custódia, essenciais ao ministério do Ajustador, nos reinos da sua estada, embora se saiba que, em certas ocasiões, eles hajam funcionado em questões interplanetárias durante momentos de crise.
109:2.10 (1197.1) Os Ajustadores supremos e auto-atuantes podem deixar o corpo humano segundo a sua vontade. Os residentes não são uma parte orgânica ou biológica da vida mortal; eles são, sim, supraimposições divinas doadas às mentes mortais. Nos planos originais da vida, estava prevista a dotação de Ajustadores, mas eles não são indispensáveis à existência material. No entanto, deve ficar registrado que, só muito rara e temporariamente mesmo, eles abandonam os seus tabernáculos mortais, após haverem assumido a sua residência.
109:2.11 (1197.2) Os Ajustadores superatuantes são aqueles que realizaram a conquista das tarefas de que foram incumbidos e apenas aguardam a dissolução do veículo de vida material ou o translado da alma imortal.
109:3.1 (1197.3) O caráter do trabalho detalhado dos Monitores Misteriosos varia, de acordo com a natureza do seu compromisso e designação, conforme sejam, ou não, Ajustadores de ligação ou de fusão. Alguns Ajustadores são meramente emprestados, para os períodos de vida temporal dos seus sujeitos; outros são outorgados, como candidatos à personalidade, com permissão para a fusão permanente, se os seus sujeitos sobreviverem. Há também uma leve variação nos seus trabalhos, entre os diferentes tipos planetários, bem como entre os diferentes sistemas e universos. Em geral, porém, os seus trabalhos são notavelmente uniformes, mais do que o são os deveres de quaisquer das ordens criadas de seres celestes.
109:3.2 (1197.4) Em certos mundos primitivos (do grupot da série um), o Ajustador reside na mente da criatura como um aperfeiçoamento experiencial, principalmente para o autocultivo e para um desenvolvimento progressivo. Os Ajustadores virgens são comumente enviados a tais mundos durante os primeiros tempos, quando, então, os homens primitivos estão chegando ao vale da decisão, mas quando poucos, relativamente, elegerão ascender até grandes alturas morais, para além das colinas do autodomínio e da aquisição de caráter, para alcançar os níveis mais altos da espiritualidade emergente. (Contudo, muitos dos que não conseguem a fusão com o Ajustador sobrevivem como ascendentes de fusão com o Espírito.) Os Ajustadores recebem um aperfeiçoamento valioso e adquirem uma experiência maravilhosa, na associação transitória com mentes primitivas, e tornam-se capazes de utilizar, subseqüentemente, essa experiência, para benefício de seres superiores, em outros mundos. Nada de valor para a sobrevivência é perdido, nunca, em todo o amplo universo.
109:3.3 (1197.5) Em outro tipo de mundo (do grupo da série dois), os Ajustadores são meramente emprestados aos seres mortais. Ali, os Monitores nunca poderão atingir a fusão de personalidade por meio desse tipo de residência, mas prestam uma grande ajuda aos seus sujeitos humanos, durante o período da vida mortal; ajuda ainda maior do que a que são capazes de prestar aos mortais de Urântia. Os Ajustadores, nesses mundos, são emprestados às criaturas mortais, pelo período de uma única vida, como modelos para as suas metas espirituais mais elevadas, como ajudantes temporários, na intrigante tarefa de perfeccionamento do caráter que sobreviverá. Os Ajustadores não retornam para tais sobreviventes após a morte natural; estes atingem a vida eterna mediante a fusão com o Espírito.
109:3.4 (1197.6) Em mundos tais como Urântia (do grupo da série três) há um verdadeiro compromisso dos dons divinos, um engajamento de vida e morte. Se vós sobreviverdes, haverá uma união eterna, uma fusão perpétua, que unificará homem e Ajustador num único ser.
109:3.5 (1197.7) Nos mortais de três cérebros, dessa série de mundos, os Ajustadores são capazes de alcançar um contato mais real com os seus sujeitos, durante a vida temporal, do que com os tipos de um e de dois cérebros. Contudo, na sua carreira após a morte, o tipo de três cérebros procede exatamente como o povo de um cérebro e de dois cérebros — as raças de Urântia.
109:3.6 (1198.1) Nos mundos de humanos de dois cérebros, subseqüentemente à estada de um Filho auto-outorgado do Paraíso, os Ajustadores virgens raramente são designados para pessoas que têm capacidade inquestionável de sobrevivência. É da nossa crença que, em tais mundos, praticamente todos os Ajustadores que residem em homens e mulheres inteligentes, com capacidade de sobrevivência, são do tipo avançado ou do tipo supremo.
109:3.7 (1198.2) Em muitas das raças evolucionárias primevas de Urântia, três grupos de seres existiram. Havia aqueles que eram tão animalescos que lhes faltava quase inteiramente a capacidade para receber o Ajustador. Havia aqueles que demonstravam capacidade indubitável para receber o Ajustador, e prontamente os recebiam, quando a idade da responsabilidade moral era atingida. Havia, ainda, uma terceira classe, que ocupava uma posição limítrofe; eles tinham capacidade para receber os Ajustadores, mas os Monitores só podiam residir nas suas mentes por um pedido pessoal do indivíduo.
109:3.8 (1198.3) Entretanto, com aqueles seres que são virtualmente desqualificados para a sobrevivência, por causa de uma herança nefasta de antepassados inferiores e ineptos, muitos Ajustadores virgens serviram, adquirindo uma experiência preliminar valiosa de contato com a mente evolucionária, e assim tornaram-se mais bem qualificados, para compromissos subseqüentes, com um tipo mais elevado de mente em algum outro mundo.
109:4.1 (1198.4) As formas mais elevadas de comunicação inteligente entre os seres humanos são grandemente ajudadas pelos Ajustadores residentes. Os animais têm sentimentos de companheirismo, mas não transmitem idéias entre si; podem expressar emoções, mas não idéias e ideais. Nem podem os homens, dada a sua origem animal, experienciar um tipo elevado de troca intelectual ou de comunhão espiritual com os seus semelhantes antes de os Ajustadores do Pensamento lhes haverem sido outorgados, embora, quando tais criaturas evolucionárias desenvolvem a fala, já estejam a caminho de receber os Ajustadores.
109:4.2 (1198.5) Os animais comunicam-se uns com os outros de um modo primário, mas há pouca ou nenhuma personalidade em tal contato primitivo. Os Ajustadores não são personalidades, eles são seres pré-pessoais. Todavia, provêm da fonte da personalidade e a sua presença amplia as manifestações qualitativas da personalidade humana; e isso é especialmente verdadeiro se o Ajustador tiver passado por uma experiência prévia.
109:4.3 (1198.6) O tipo de Ajustador tem muito a ver com o potencial de expressão da personalidade humana. Ao longo dos tempos, muitos dos grandes líderes intelectuais e espirituais de Urântia têm exercido a sua influência, principalmente por causa da superioridade e da experiência prévia dos seus Ajustadores residentes.
109:4.4 (1198.7) Os Ajustadores residentes têm cooperado, em uma medida considerável, com outras influências espirituais, na transformação e humanização dos descendentes de homens primitivos de idades antigas. Se os Ajustadores que residem na mente humana dos habitantes de Urântia fossem retirados, aos poucos o mundo retornaria a muitas cenas e práticas dos homens de tempos primitivos; os Monitores divinos são um dos potenciais reais de avanço da civilização.
109:4.5 (1198.8) Eu observei o residente em uma mente de Urântia, um Ajustador do Pensamento que, de acordo com os registros de Uversa, residiu previamente em quinze mentes em Orvônton. Não sabemos se esse Monitor teve experiências similares em outros superuniversos, mas suspeito que sim. Esse é um Ajustador maravilhoso e uma das mais úteis e potentes forças em Urântia durante a era presente. O que outros perderam, porque se recusaram a sobreviver, esse ser humano (e todo o vosso mundo) ganha agora. Daquele que não tem qualidades de sobrevivência, será tirado até mesmo o Ajustador experiente que ele tem agora, enquanto àquele que tem projetos de sobrevivência, será dado mesmo um Ajustador pré-experimentado de um desertor folgazão.
109:4.6 (1199.1) Em determinado sentido, os Ajustadores podem estar fomentando um certo grau de intercâmbio planetário fertilizador nos domínios da verdade, da beleza e da bondade. Contudo, raramente são eles dados a experiências de residência no mesmo planeta; não há nenhum Ajustador agora servindo em Urântia que tenha estado anteriormente neste mundo. Eu sei do que estou falando, já que temos os seus números e registros nos arquivos de Uversa.
109:5.1 (1199.2) Os Ajustadores supremos e auto-atuantes freqüentemente são capazes de dar contribuições de importância espiritual para a mente humana, quando a imaginação criadora flui livremente, nos canais liberados, mas sob controle. Em tais momentos, e algumas vezes durante o sono, o Ajustador é capaz de conter as correntes mentais, de suster o seu fluxo, e então desviar a procissão de idéias; e tudo isso é feito com o fito de efetuar transformações espirituais profundas nos recessos mais elevados da supraconsciência. Assim, as energias e as forças da mente são mais plenamente ajustadas à clave dos tons próprios ao contato de nível espiritual do presente e do futuro.
109:5.2 (1199.3) Algumas vezes, é possível ter a mente iluminada, escutar a voz divina que continuamente fala dentro de vós, de forma tal que podeis tornar-vos parcialmente conscientes da sabedoria, da verdade, da bondade e da beleza da personalidade potencial constantemente residente em vós.
109:5.3 (1199.4) Atitudes mentais infirmes e irrequietas, como as vossas, contudo, sempre frustram os planos e interrompem o trabalho dos Ajustadores. O trabalho deles não apenas sofre a interferência das naturezas inatas das raças mortais, mas tal ministração é também grandemente retardada pelas vossas próprias opiniões preconcebidas, por idéias estratificadas e preconceitos antigos. Por causa desses obstáculos, muitas vezes apenas incompletas as criações deles emergem à consciência; e a confusão de conceitos torna-se inevitável. Portanto, ao escrutinar as situações mentais, a segurança repousa apenas no reconhecimento pronto de cada pensamento e de todas as experiências, pelo que real e fundamentalmente são, desconsiderando inteiramente o que poderiam ter sido.
109:5.4 (1199.5) O grande problema nesta existência é o ajustamento das tendências ancestrais de vida às demandas dos impulsos espirituais iniciados pela divina presença do Monitor Misterioso. Se bem que, nas suas carreiras no universo e no superuniverso, nenhum homem possa servir a dois senhores, todavia, na vida que levais agora, em Urântia, cada homem tem, forçosamente, de servir a dois senhores. Ele deve tornar-se apto na arte do compromisso temporal contínuo e, ao mesmo tempo, ser leal espiritualmente a apenas um senhor; e é por isso que tantos tropeçam e falham, tornam-se exauridos e sucumbem na estressante luta evolucionária.
109:5.5 (1199.6) Embora tanto o legado hereditário do dom cerebral quanto o do supercontrole eletroquímico operem para delimitar a esfera da atividade eficiente do Ajustador, nenhum obstáculo hereditário (nas mentes normais) jamais impede a realização espiritual final. A hereditariedade pode interferir no grau de conquista da personalidade, mas não impede a consumação final possível da aventura ascendente. Se cooperardes com o vosso Ajustador, esse dom divino irá, mais cedo ou mais tarde, fazer evoluir a alma moroncial imortal e, subseqüentemente à fusão com esta, irá apresentar a nova criatura ao soberano Filho Mestre do universo local e, finalmente, ao Pai dos Ajustadores do Paraíso.
109:6.1 (1200.1) Os Ajustadores nunca falham; nada que é digno de sobreviver jamais se perde; todo valor de significação em cada criatura volitiva tem a sua sobrevivência certa, independentemente da sobrevivência ou da não-sobrevivência da personalidade que descobriu ou avaliou tais significados. E assim é, uma criatura mortal pode rejeitar a sobrevivência; ainda assim, a experiência vivida não se desperdiça; o Ajustador eterno levando-a consigo, conserva as características de valor de uma tal vida de aparente fracasso até um outro mundo e até algum tipo de mente mais elevado e com capacidade de sobrevivência. Nenhuma experiência que valha a pena acontece em vão; nenhum significado de real valor jamais perece.
109:6.2 (1200.2) Com relação aos candidatos à fusão, se um Monitor Misterioso é desertado pelo seu companheiro mortal, se o parceiro humano recusa-se a prosseguir na carreira ascendente, quando libertado pela morte natural (ou antes desta), o Ajustador leva tudo o que seja de valor de sobrevivência que haja evoluído na mente dessa criatura não-sobrevivente. Se, repetidamente, um Ajustador deixar de conseguir a fusão de personalidade, por causa da não sobrevivência de sucessivos sujeitos humanos, e, se esse Monitor subseqüentemente for personalizado, toda a experiência adquirida, de já haver residido e haver tido a mestria em todas as mentes mortais, tornar-se-ia uma posse factual desse Ajustador Personalizado recentemente; e essa dádiva será usufruída e utilizada durante as futuras idades. Um Ajustador Personalizado dessa ordem é um conjunto composto de todas características de sobrevivência, de todas as criaturas hospedeiras anteriores suas.
109:6.3 (1200.3) Quando os Ajustadores de longa experiência no universo voluntariam-se para habitar os Filhos divinos nas suas missões de auto-outorga, eles sabem muito bem que uma realização de personalidade nunca pode ser atingida mediante esse serviço. Muito freqüentemente, porém, o Pai dos espíritos concede personalidade a esses voluntários e estabelece-os como diretores da sua espécie. Essas são personalidades honradas com a autoridade em Divínington. E a sua natureza única incorpora o mosaico da humanidade das suas múltiplas experiências de residência mortal e também o da transcrição espiritual da divindade humana da auto-outorga do Filho do Paraíso, na sua experiência terminal como mortal.
109:6.4 (1200.4) As atividades dos Ajustadores no vosso universo local são dirigidas pelo Ajustador Personalizado de Michael de Nébadon, aquele mesmo Monitor que o guiou passo a passo quando ele viveu a sua vida humana na carne como Joshua ben José. Esse extraordinário Ajustador foi fiel ao seu encargo, e sabiamente esse valente Monitor dirigiu a natureza humana, sempre guiando a mente mortal do Filho do Paraíso na escolha do caminho da vontade perfeita do Pai. Esse Ajustador havia servido anteriormente com Maquiventa Melquisedeque, nos dias de Abraão, e já se havia engajado em obras grandiosas tanto antes quanto entre essas duas experiências de auto-outorga.
109:6.5 (1200.5) Tal Ajustador de fato triunfou na mente humana de Jesus — aquela mente que, em cada situação recorrente da vida, manteve uma dedicação consagrada à vontade do Pai, dizendo: “Não a minha vontade, mas a Tua, seja feita”. Essa consagração, decisiva, constitui um verdadeiro passaporte para, de dentro das limitações da natureza humana, alcançar a finalidade da realização divina.
109:6.6 (1200.6) Esse mesmo Ajustador agora reflete, na natureza inescrutável da sua poderosa personalidade, a humanidade pré-batismal de Joshua ben José, a transcrição eterna e viva dos valores eternos e viventes que o maior dos urantianos criou, a partir das circunstâncias humildes de uma vida comum, que foi a que viveu até a plena exaustão dos valores espirituais atingíveis em uma experiência mortal.
109:6.7 (1201.1) Todas as coisas de valor permanente, que são confiadas a um Ajustador, têm assegurada a sua eterna sobrevivência. Em certos casos, o Monitor mantém essas posses, para outorgá-las a uma mente mortal da sua futura residência; em outros, e em caso de personalização, essas realidades sobreviventes e conservadas são mantidas sob guarda, para utilização futura, a serviço dos Arquitetos do Universo-Mestre.
109:7.1 (1201.2) Não podemos afirmar que os fragmentos não-Ajustadores do Pai sejam personalizáveis, mas vós tendes sido informados de que a personalidade é um outorgamento soberano da livre vontade do Pai Universal. Até onde sabemos, o tipo de fragmento Ajustador do Pai atinge a personalidade apenas pela aquisição de atributos pessoais, por meio do serviço-ministração a um ser pessoal. Esses Ajustadores Personalizados têm o seu lar em Divínington, onde instruem e dirigem os seus semelhantes pré-pessoais.
109:7.2 (1201.3) Os Ajustadores do Pensamento Personalizados são os estabilizadores e compensadores soberanos, livres de compromissos e de entraves, do vasto universo dos universos. Eles combinam a experiência do Criador e da criatura — existencial e experiencial. São seres conjuntamente do tempo e da eternidade. Eles associam o pré-pessoal e o pessoal na administração do universo.
109:7.3 (1201.4) Os Ajustadores Personalizados são os executivos oniscientes e poderosos dos Arquitetos do Universo-Mestre. São os agentes personalizados do ministério pleno do Pai Universal — pessoais, pré-pessoais e suprapessoais. Eles são os ministros pessoais do extraordinário, do inusitado e do inesperado em todos os reinos das esferas transcendentais absonitas do domínio de Deus, o Último, e mesmo nos níveis de Deus, o Absoluto.
109:7.4 (1201.5) Eles são os seres exclusivos dos universos que abarcam, dentro dos seus seres, todas as relações conhecidas de personalidade; são onipessoais — eles existem antes da personalidade, eles são a personalidade, e existem após a personalidade. Eles ministram a personalidade do Pai Universal no eterno passado, no eterno presente e no eterno futuro.
109:7.5 (1201.6) A personalidade existencial na ordem do infinito e do absoluto, o Pai a outorgou ao Filho Eterno, mas Ele escolheu reservar à Sua ministração própria a personalidade experiencial do tipo do Ajustador Personalizado, outorgada ao Ajustador existencial pré-pessoal; e ambos estão assim destinados à futura suprapersonalidade eterna de ministério transcendental dos reinos absonitos do Último, do Último-Supremo, até os níveis mesmo do Absoluto-Último.
109:7.6 (1201.7) É raro os Ajustadores Personalizados serem vistos livremente nos universos. Ocasionalmente, eles conferenciam com os Anciães dos Dias e, algumas vezes, os Ajustadores Personalizados dos Filhos Criadores sétuplos vêm aos mundos-sede das constelações, para conferenciar com os governantes Vorondadeques.
109:7.7 (1201.8) Quando o observador planetário Vorondadeque de Urântia — o custódio Altíssimo que assumiu, há não muito tempo, a regência emergencial do vosso mundo — declarou a sua autoridade na presença do governador-geral residente, ele começou a sua administração de emergência, em Urântia, com todos os auxiliares da sua própria escolha. Imediatamente designou os deveres planetários a todos os seus colaboradores e assistentes. Mas ele não escolheu, contudo, os três Ajustadores Personalizados que surgiram perante a sua presença no instante em que assumiu a regência. Ele não sabia nem que eles iriam aparecer assim, pois não manifestaram a sua divina presença no tempo de uma regência anterior. E o regente Altísssimo não designou serviço ou deveres a esses Ajustadores Personalizados voluntários. Entretanto, esses três seres onipessoais estiveram entre os mais ativos das inúmeras ordens de seres celestes então servindo em Urântia.
109:7.8 (1202.1) Os Ajustadores Personalizados prestam uma ampla gama de serviços a inúmeras ordens de personalidades do universo, mas não nos é permitido discorrer sobre esses ministérios para as criaturas evolucionárias que tenham Ajustadores residentes. Essas extraordinárias divindades-humanas estão entre as mais notáveis personalidades de todo o grande universo, e ninguém ousa predizer quais seriam as suas futuras missões.
109:7.9 (1202.2) [Apresentado por um Mensageiro Solitário de Orvônton.]
O Livro de Urântia
Documento 110
110:0.1 (1203.1) A LIBERDADE com a qual os seres imperfeitos são dotados gera tragédias inevitáveis; mas é da natureza da Deidade perfeita ancestral compartilhar, universal e afetuosamente, desses sofrimentos, em comunhão amorosa.
110:0.2 (1203.2) Do modo como estou familiarizado com os assuntos de um universo, considero o amor e a devoção de um Ajustador do Pensamento a mais divina afeição em toda a criação. O amor dos Filhos, na sua ministração às raças, é magnífico; mas a devoção de um Ajustador ao indivíduo é tocante e sublime, divinamente semelhante à do Pai. O Pai do Paraíso, aparentemente, reservou a Si essa forma de contato pessoal com as Suas criaturas individuais, como uma prerrogativa exclusiva de Criador. E não há nada, em todo o universo dos universos, comparável, com exatidão, à ministração maravilhosa dessas entidades impessoais que, de um modo tão fascinante, residem nos filhos dos planetas evolucionários.
110:1.1 (1203.3) Não se deve considerar que os Ajustadores vivam no cérebro material dos seres humanos. Eles não são parte orgânica das criaturas físicas dos reinos. O Ajustador do Pensamento pode ser visualizado mais apropriadamente como residindo na mente mortal do homem, do que existindo dentro dos confins de um único órgão físico. E o Ajustador, indiretamente e sem ser reconhecido, comunica-se constantemente com o seu sujeito humano, especialmente durante as experiências sublimes de contato adorador, da mente para com o espírito, na supraconsciência.
110:1.2 (1203.4) Gostaria que me fosse possível ajudar os mortais em evolução a alcançar um entendimento melhor e alcançar uma apreciação mais plena do trabalho sublime e altruísta dos Ajustadores, que neles residem, pelo devotamento e fidelidade deles à tarefa de promover o bem-estar espiritual do homem. Esses Monitores são ministros eficientes para as fases mais elevadas das mentes dos homens; são manipuladores sábios e experientes do potencial espiritual do intelecto humano. Esses ajudantes celestes são dedicados à tarefa estupenda de guiar-vos, de um modo seguro, para dentro e para cima, na direção do refúgio celestial da felicidade. Esses trabalhadores incansáveis consagram-se à personificação futura do triunfo da verdade divina na vossa vida eterna. Eles são como operários vigilantes, pilotos que timoneiam a mente humana consciente de Deus, afastando-a dos escolhos do mal e, ao mesmo tempo, guiando, com toda a mestria, a alma humana em evolução até os portos divinos da perfeição, nas distantes praias eternas. Os Ajustadores são condutores cheios de amor; são os vossos guias seguros e certos, em meio às névoas escuras da incerteza na vossa curta carreira terrena; são os instrutores pacientes que, com tanta constância, impulsionam os seus sujeitos à frente, nos caminhos da perfeição progressiva. Eles são os custódios meticulosos dos valores sublimes do caráter da criatura. Gostaria que vós pudésseis amá-los mais, que cooperásseis mais intensamente com eles e que os afagásseis com mais afeto.
110:1.3 (1204.1) Embora os residentes divinos estejam ocupados, principalmente, com a vossa preparação espiritual para a próxima etapa da existência, na perenidade, também estão profundamente interessados no vosso bem-estar temporal e nas vossas realizações na Terra. Eles regozijam-se de contribuir para a vossa saúde, felicidade e verdadeira prosperidade. Eles não ficam indiferentes ao vosso êxito em quaisquer questões de avanço planetário, desde que este não se oponha à vossa vida futura de avanço e de progresso eterno.
110:1.4 (1204.2) Os Ajustadores estão interessados e ocupados com os vossos atos diários e com os múltiplos detalhes da vossa vida, na medida em que tais atos e detalhes influenciam a determinação das vossas escolhas temporais significativas e as decisões espirituais vitais, as quais constituem, portanto, fatores a contribuir para a solução do problema da sobrevivência da vossa alma e do vosso progresso eterno. O Ajustador, mesmo permanecendo passivo com relação ao bem-estar puramente temporal, é divinamente ativo, no que concerne a todas as questões relacionadas ao vosso futuro eterno.
110:1.5 (1204.3) O Ajustador permanece convosco, mesmo em todos os desastres e durante todas as enfermidades, desde que não destruam por inteiro a vossa vida mental. E quão cruel para ele é saber que vós corrompeis, deliberadamente, ou que poluís o corpo físico, que deve servir de tabernáculo terreno para essa maravilhosa dádiva de Deus. Todos os venenos físicos retardam grandemente os esforços do Ajustador no sentido de elevar a mente material, e da mesma forma os venenos mentais do temor, da ira, da inveja, do ciúme, da suspeita e da intolerância interferem tremendamente no progresso espiritual da alma em evolução.
110:1.6 (1204.4) Na época de hoje, estais atravessando o período mais adequado para cortejar o vosso Ajustador; e se apenas demonstrardes fidelidade à confiança em vós depositada pelo espírito divino, que busca colocar a vossa mente e a vossa alma em eterna união, produzir-se-á afinal, em vós, a unidade moroncial, essa superna harmonia, aquela coordenação cósmica, a divina sintonização, a fusão celeste, a perene amalgamação da identidade, a unificação do ser que é tão perfeita e final que, mesmo as personalidades mais experientes, nunca poderão disjuntar, em identidades separadas, reconheendo os parceiros da fusão — homem mortal e Ajustador divino.
110:2.1 (1204.5) Quando os Ajustadores do Pensamento residem nas mentes humanas, eles trazem consigo o modelo da carreira, as vidas ideais, tais como foram determinadas e preordenadas por eles próprios e pelos Ajustadores Personalizados de Divínington, as quais foram certificadas pelo Ajustador Personalizado de Urântia. Assim, eles começam a trabalhar dentro de um plano definido e predeterminado, para o desenvolvimento intelectual e espiritual dos seus sujeitos humanos; mas não incumbe a nenhum ser humano ter de aceitar esse plano. Vós estais, todos, sujeitos à predestinação; não está preordenado, todavia, que devais aceitar essa predestinação divina; tendes a plena liberdade para rejeitar qualquer parte de todo o programa dos Ajustadores do Pensamento. A missão deles é efetuar alterações na mente e ajustamentos espirituais de forma tal que, como possais haver autorizado voluntária e inteligentemente, eles possam ganhar maior influência no direcionamento da personalidade; mas, sob nenhuma circunstância, esses Monitores divinos tirarão vantagem de vós, nem, de nenhum modo, vos influenciarão, arbitrariamente, nas vossas escolhas e decisões. Os Ajustadores respeitam a soberania da vossa personalidade; eles são sempre subservientes à vossa vontade.
110:2.2 (1204.6) Eles são persistentes, engenhosos e perfeitos nos seus métodos de trabalho, e jamais atuam com violência sobre o eu volitivo dos seus anfitriões. Nenhum ser humano será espiritualizado por um Monitor divino, contra a sua própria vontade; a sobrevivência é um dom dos Deuses, que deve ser almejado pelas criaturas do tempo. Em última análise, em tudo e por tudo que o Ajustador houver feito com êxito por vós os registros mostrarão que a transformação terá sido efetuada com o vosso consentimento cooperador; vós tereis sido, pois, parceiros volitivos do Ajustador, na realização de cada passo, na imensa transformação da carreira ascensional.
110:2.3 (1205.1) O Ajustador não está tentando controlar o vosso pensamento, enquanto tal; mas está, antes, tentando espiritualizá-lo, para eternizá-lo. Nem os anjos, nem os Ajustadores dedicam-se diretamente a influenciar o pensamento humano; esta é uma prerrogativa exclusiva da vossa personalidade. Os Ajustadores dedicam-se a aperfeiçoar, a modificar, a ajustar e coordenar os vossos processos de pensamento; mas, mais específica e especialmente, se devotam ao trabalho de construir as contrapartes espirituais das vossas carreiras, de fazer as transcrições moronciais dos vossos verdadeiros eus em avanço, com o propósito da vossa sobrevivência.
110:2.4 (1205.2) Os Ajustadores trabalham nas esferas de níveis mais elevados da mente humana, procurando incessantemente produzir duplicatas moronciais de cada conceito do intelecto mortal. Há, portanto, duas realidades que se impingem sobre os circuitos da mente humana e que neles estão centradas: uma, um eu mortal que evoluiu dos planos originais dos Portadores da Vida; e outra, uma entidade imortal proveniente das altas esferas de Divínington, um dom de Deus, que é residente. Contudo, o eu mortal é também um eu pessoal; ele tem personalidade.
110:2.5 (1205.3) Vós, enquanto criaturas pessoais, tendes mente e vontade. O Ajustador, como uma criatura pré-pessoal, tem pré-mente e pré-vontade. Se vós vos conformardes, tão plenamente, à mente do Ajustador, a ponto de verdes juntos, por meio de olho só, então, as vossas mentes tornar-se-ão uma; e vós recebereis o reforço da mente do Ajustador. Subseqüentemente, se a vossa vontade ordenar e reforçar a execução das decisões dessa nova mente, ou dessa combinação de mentes, a vontade pré-pessoal do Ajustador ater-se-á à expressão da personalidade por meio da vossa decisão, e, no que concerne a esse projeto em particular, vós e o vosso Ajustador estareis unificados. A vossa mente terá atingido a sintonização com a divindade; e a vontade do Ajustador terá alcançado uma expressão de personalidade.
110:2.6 (1205.4) À medida que essa identidade for realizando-se, estareis mentalmente aproximando-vos da ordem moroncial de existência. A mente moroncial é uma expressão que significa a essência e a soma total da cooperação plena entre mentes de naturezas diversas, a espiritual e a material. O intelecto moroncial, contudo, tem a conotação de uma mente dual, no universo local, dominada por uma vontade. E, no caso dos mortais, essa é uma vontade de origem humana, que se está tornando divina por meio da identificação da mente humana com o dom mental de Deus.
110:3.1 (1205.5) Os Ajustadores estão fazendo o jogo sagrado e superno das idades; estão empenhados em uma das aventuras supremas do tempo e do espaço. E quão felizes eles ficam, quando a vossa cooperação lhes permite prestar-vos alguma ajuda, na vossa curta luta do tempo, enquanto eles continuam com as suas tarefas mais amplas na eternidade. Usualmente, porém, quando o vosso Ajustador tenta comunicar-se convosco, a mensagem perde-se nos elos materiais da corrente de energia da mente humana; apenas ocasionalmente, ocorre-vos captar um eco, algo tênue e distante, da voz divina.
110:3.2 (1205.6) O êxito do vosso Ajustador, na tarefa de pilotar-vos durante a vida mortal e de alcançar a vossa sobrevivência, depende não tanto das teorias das vossas crenças, mas mais das vossas decisões, das vossas determinações e da constância e firmeza da vossa fé. Todos esses movimentos de crescimento da personalidade tornam-se influências poderosas a ajudar o vosso avanço, porque vos ajudam a cooperar com o Ajustador; e auxiliam-vos a deixar de resistir. Os Ajustadores do Pensamento têm êxito, ou, aparentemente, fracassam nas suas tarefas terrestres, no mesmo grau em que os mortais têm êxito ou fracassam na cooperação com o esquema por meio do qual eles avançarão na trajetória ascendente da realização de alcançar a perfeição. O segredo da sobrevivência está envolto no desejo humano supremo de ser semelhante a Deus e na conseqüente vontade empenhada no ato de fazer, e de ser, todas e quaisquer das coisas essenciais à maestria da realização final desse desejo.
110:3.3 (1206.1) Quando falamos do êxito ou do fracasso de um Ajustador, estamos falando em termos de êxito da sobrevivência humana. Os Ajustadores nunca fracassam; eles são da essência divina e sempre saem triunfantes em todas as suas tarefas.
110:3.4 (1206.2) Não posso observar senão que, muitos de vós, gastais muito tempo e pensamentos com as meras trivialidades do viver, enquanto vos esqueceis quase totalmente das realidades mais essenciais e de relevância mais perene, das próprias realizações que estão ligadas ao desenvolvimento de um acordo de trabalho mais harmônico entre vós e o vosso Ajustador. A grande meta da existência humana é a sintonização com a divindade do Ajustador residente; a grande realização da vida mortal é alcançar uma consagração verdadeira e abrangente dos objetivos eternos do espírito divino, que vigia e trabalha dentro da vossa mente. E, no entanto, um esforço determinado e devotado para realizar o destino eterno pode ser inteiramente compatível com uma vida plena de leveza e de alegria e com uma carreira honrada e cheia de êxito na Terra. A cooperação com o Ajustador do Pensamento não inclui autotortura, nem falsa piedade, nem auto-humilhação hipócrita ou ostensiva; a vida ideal é aquela do serviço com amor, muito mais do que uma existência de apreensões temerosas.
110:3.5 (1206.3) Estar confuso e perplexo e, algumas vezes, até mesmo desencorajado e distraído, não significa, necessariamente resistência aos guiamentos do Ajustador residente. Tais atitudes podem, algumas vezes, denotar falta de cooperação ativa, sim, com o Monitor divino e podem, por isso, retardar o progresso espiritual; mas essas dificuldades emocionais e intelectuais não interferem, em nada, na certeza da sobrevivência da alma que é sabedora de Deus. A ignorância, por si só, não impede a sobrevivência; nem as dúvidas e as confusões, nem a incerteza temerosa. Apenas a resistência consciente ao guiamento do Ajustador pode impedir a sobrevivência da alma imortal em evolução.
110:3.6 (1206.4) Vós não deveis encarar a cooperação com o vosso Ajustador como um processo especialmente consciente, pois não o é; mas os vossos motivos e as vossas decisões, as vossas determinações cheias de fé e os vossos desejos supremos constituem, sim, uma cooperação real e efetiva. Vós podeis aumentar conscientemente a vossa harmonia com o Ajustador por meio de:
110:3.7 (1206.5) 1. Escolher seguir o guiamento divino; baseando, com sinceridade, a vida humana na mais elevada consciência da verdade, da beleza e da bondade; e então coordenar essas qualidades da divindade, por meio da sabedoria, da adoração, da fé e do amor.
110:3.8 (1206.6) 2. Amar a Deus, desejando ser como Ele — pelo reconhecimento genuíno da paternidade divina e pela adoração amorosa do Pai celestial.
110:3.9 (1206.7) 3. Amar aos homens, desejando sinceramente servir a eles — no reconhecimento, de coração, da irmandade entre os homens, somado a um afeto sábio e inteligente, dirigido a cada um dos vossos semelhantes mortais.
110:3.10 (1206.8) 4. Aceitar, com alegria, a cidadania cósmica — o reconhecimento honesto das vossas obrigações progressivas para com o Ser Supremo, a consciência da interdependência entre o homem evolucionário e a Deidade evolutiva. Nisso está o nascimento da moralidade cósmica e do amanhecer da compreensão do dever universal.
110:4.1 (1207.1) Os Ajustadores são capazes de receber a contínua corrente da inteligência cósmica que provém dos circuitos mestres do tempo e do espaço; eles estão em contato pleno com a inteligência espiritual e a energia dos universos. Contudo, esses poderosos residentes tornam-se incapazes de transmitir muito dessa riqueza, em sabedoria e verdade, às mentes dos seus sujeitos mortais, por causa da falta de semelhança entre as duas naturezas e devido à ausência, do lado humano, de um reconhecimento à altura.
110:4.2 (1207.2) O Ajustador do Pensamento está empenhado, com um esforço constante, em espiritualizar a vossa mente e em fazer evoluir a vossa alma moroncial; mas vós próprios permaneceis quase completamente inconscientes dessa ministração interior. Vós sois praticamente incapazes de discernir entre o produto do vosso próprio intelecto material e aquilo que é fruto das atividades conjuntas entre a vossa alma e o Ajustador.
110:4.3 (1207.3) Certas apresentações abruptas de pensamentos, de conclusões e de outras imagens da mente, algumas vezes, são um trabalho direto ou indireto do Ajustador. São, porém, muito mais freqüentemente, fruto de uma emergência súbita, até a consciência, de idéias que se agruparam em níveis mentais submersos e que são ocorrências cotidianas naturais da função psíquica, corriqueira e normal, inerente aos circuitos da mente animal em evolução. (As revelações do Ajustador, ao contrário dessas emanações subconscientes, surgem por meio dos reinos da supraconsciência.)
110:4.4 (1207.4) Confiai todas as questões da vossa mente, que estão para além do alcance ordinário da consciência, à custódia dos Ajustadores. No tempo devido, se não for neste mundo, então será nos mundos das mansões, eles prestarão uma boa conta da sua função de condutores e guias e, finalmente, trarão à luz os significados e os valores entregues aos seus cuidados e guarda. Eles ressuscitarão cada tesouro valioso da mente mortal se vós sobreviverdes.
110:4.5 (1207.5) Existe um vasto abismo entre o humano e o divino, entre o homem e Deus. As raças de Urântia são controladas, elétrica e quimicamente, de um modo tão intenso, são tão altamente semelhantes aos animais, no seu comportamento comum, são tão emocionais nas suas reações corriqueiras que se torna excessivamente difícil, para os Monitores, guiá-las e dirigi-las. Vós sois tão desprovidos de decisões corajosas e de uma cooperação consagrada, que os vossos Ajustadores residentes acham quase impossível comunicar-se diretamente com a mente humana. Mesmo quando eles julgam ser possível dar à alma do mortal em evolução o impulso iluminador de uma nova verdade, essa revelação espiritual, freqüentemente, oblitera a vista da criatura, a ponto de precipitar uma convulsão de fanatismo ou iniciar alguma outra forma de transtorno intelectual que resulta em desastre. Muitas das religiões novas e alguns estranhos “ismos” surgiram de comunicações emitidas pelos Ajustadores do Pensamento e se tornaram abortadas, imperfeitas, mal interpretadas ou distorcidas pela mente.
110:4.6 (1207.6) Com o passar de muitos milhares de anos, assim mostram os registros de Jerusém, em cada geração, têm existido Ada vez menos seres capazes de funcionar com segurança por meio dos Ajustadores auto-atuantes. Esse é um quadro alarmante; e as personalidades supervisoras de Satânia encaram favoravelmente as propostas de alguns dos vossos supervisores planetários mais diretos, que recomendam a inauguração de medidas destinadas a favorecer e a conservar os tipos de espiritualidade mais elevada entre as raças de Urântia.
110:5.1 (1207.7) Não confundais, nem desvirtueis a missão e a influência do Ajustador, com aquilo que é comumente chamado de consciência, pois essas duas coisas não estão diretamente relacionadas. A consciência é um fenômeno humano e uma reação puramente psíquica. Não se deve desprezá-la, mas só raramente ela é a voz de Deus para a alma, coisa que o Ajustador seria se tal voz pudesse ser ouvida. A consciência, corretamente, admoesta-vos a fazer o certo; mas o Ajustador, além disso, esforça-se para dizer-vos aquilo que é verdadeiramente o mais certo; isto é, se e quando fordes capazes de perceber a orientação do Monitor.
110:5.2 (1208.1) As experiências humanas no sonho, aquela sucessão desconectada e desordenada na mente adormecida, não coordenada, apresentam-se como uma prova adequada do fracasso do Ajustador na harmonização e na associação dos fatores divergentes dentro da mente humana. Os Ajustadores simplesmente não podem, em um único período de vida, arbitrariamente, coordenar e sincronizar dois tipos tão dessemelhantes e diversos de pensamento, tais como o humano e o divino. Quando conseguem fazê-lo, como algumas vezes o fizeram, essas almas são transladadas diretamente para os mundos das mansões, sem a necessidade de passar através da experiência da morte.
110:5.3 (1208.2) Durante o período de sono, o Ajustador tenta realizar apenas aquilo que a vontade da personalidade residida já aprovou, prévia e totalmente, por meio de decisões e escolhas, feitas todas em períodos de consciência plenamente desperta, e que, conseqüentemente, já se hajam alojado nos reinos da supramente, nesta que é o domínio da inter-relação entre o humano e o divino.
110:5.4 (1208.3) Enquanto os seus hospedeiros mortais estão adormecidos, os Ajustadores tentam registrar as suas criações nos níveis mais elevados da mente material; e alguns, dentre os vossos sonhos grotescos, indicam o fracasso deles em estabelecer um contato eficiente. Os absurdos da vida nos sonhos não apenas atestam a pressão de determinadas emoções não exprimidas, mas também testemunham as distorções horríveis das representações dos conceitos espirituais, apresentadas pelos Ajustadores. As vossas próprias paixões, os impulsos e outras tendências inatas transladam-se para a imagem do sonho e substituem os seus desejos ainda inexprimidos apresentando-os como se fossem as mensagens divinas que os residentes tanto se esforçam para colocar nos registros psíquicos, durante a fase inconsciente do sono.
110:5.5 (1208.4) É extremamente perigoso postular qualquer coisa, quanto à participação do Ajustador, no conteúdo da vida nos sonhos. Os Ajustadores trabalham, sim, durante o sono; mas as vossas experiências no sonho, em geral, são fenômenos puramente fisiológicos e psicológicos. Da mesma forma, é arriscado tentar diferençar o registro dos conceitos dos Ajustadores, das recepções mais ou menos contínuas e conscientes, daquilo que é ditado a partir da consciência mortal. Tais problemas terão de ser solucionados por meio da discriminação individual e por meio da decisão pessoal. De qualquer modo é melhor, para o ser humano, errar, considerando uma expressão não como vinda do Ajustador, acreditando que se trata de uma experiência puramente humana, do que se precipitar no erro da exaltação de uma reação da mente mortal, considerando-a como sendo da esfera da dignidade divina. Lembrai-vos que a influência de um Ajustador do Pensamento é, em grande parte, se bem que não integralmente, uma experiência supraconsciente.
110:5.6 (1208.5) Vós vos comunicareis com os vossos Ajustadores, em vários graus e de forma crescente, à medida que ascenderdes nos círculos psíquicos, algumas vezes diretamente, mas, na maioria das vezes, indiretamente. Todavia, é perigoso alimentar a idéia de que todo novo conceito ou idéia originada na mente humana haja sido ditada pelo Ajustador. Mais freqüentemente, para a vossa ordem de seres, aquilo que aceitais como sendo a voz do Ajustador é, em realidade, uma emanação do vosso próprio intelecto. Esse é um terreno perigoso; e todo ser humano deve colocar essa questão para si próprio, de acordo com a sua sabedoria humana natural e com o seu discernimento ou intuição supra-humana.
110:5.7 (1208.6) O Ajustador do ser humano, por meio do qual esta comunicação está sendo feita, goza de uma tal amplidão no escopo da sua atividade, principalmente em função da indiferença, quase completa, desse ser humano, a qualquer manifestação externa da presença interna do Ajustador, coisa que é verdadeiramente uma sorte, que esse ser humano permaneça conscientemente tão despreocupado com todo o procedimento. Ele tem um dos Ajustadores altamente experientes desses dias e dessa geração; e, ainda assim, a sua reação de passividade e de despreocupação não resistente, em relação ao fenômeno da presença na sua mente desse Ajustador versátil, é considerada pelo seu guardião do destino como uma reação rara e fortuita. E tudo isso constitui uma coordenação positiva de influências favoráveis, tanto ao Ajustador, na sua elevada esfera de ação, quanto ao parceiro humano, do ponto de vista da sua saúde, eficiência e tranqüilidade.
110:6.1 (1209.1) O resultado final da realização da personalidade, no mundo material, está contido na conquista sucessiva dos sete círculos psíquicos da potencialidade mortal. O ingresso no sétimo círculo marca o começo da verdadeira função da personalidade humana. Completar o primeiro círculo denota uma certa maturidade do ser mortal. Embora atravessar os sete círculos do crescimento cósmico não seja equivalente à fusão com o Ajustador, a mestria de cada um desses círculos significa a realização dos passos preliminares à fusão com o Ajustador.
110:6.2 (1209.2) O Ajustador é o vosso parceiro igualitário, na passagem pelos sete círculos — até o alcance de uma maturidade mortal relativa. O Ajustador ascende, nos círculos, convosco, do sétimo ao primeiro; mas progride até o status de supremacia e auto-atividade, de modo inteiramente independente da cooperação ativa da mente mortal.
110:6.3 (1209.3) Os círculos psíquicos não são exclusivamente intelectuais, nem inteiramente moronciais; eles têm a ver com o status da personalidade, com o alcance mental, com o crescimento da alma e com a sintonização com o Ajustador. O êxito na travessia desses níveis demanda um funcionamento harmonioso de toda a personalidade e não, meramente, de uma parte dela. O crescimento das partes não se iguala ao amadurecimento verdadeiro do todo; as partes realmente crescem, na proporção da expansão inteira do eu — do eu total — , material, intelectual e espiritualmente.
110:6.4 (1209.4) Quando o desenvolvimento da natureza intelectual se dá de modo mais rápido do que o da natureza espiritual, tal situação torna a comunicação com o Ajustador tão difícil quanto perigosa. Da mesma forma, um superdesenvolvimento espiritual tende a produzir uma interpretação fanática e desvirtuada das orientações espirituais do residente divino. A falta de capacidade espiritual dificulta grandemente a transmissão, para um intelecto material, das verdades espirituais que residem na supraconsciência mais elevada. É na mente perfeitamente ponderada, abrigada por um corpo de hábitos limpos e de energias neurais estabilizadas e com as suas funções químicas em harmonia — quando os poderes físicos, mentais e espirituais estão na harmonia trina do desenvolvimento — , que um máximo de luz e de verdade podem ser induzidos, com um mínimo de perigo, ou de risco temporal, ao bem-estar real de um ser. Por meio de um crescimento assim equilibrado o homem ascende nos círculos da progressão planetária, um a um, do sétimo até o primeiro.
110:6.5 (1209.5) Os Ajustadores estão sempre perto de vós e em vós, mas raramente podem falar-vos diretamente, como a um outro ser. Círculo a círculo, as vossas decisões intelectuais, as vossas escolhas morais e o vosso desenvolvimento espiritual aumentam a capacidade do Ajustador de funcionar junto com a vossa mente; círculo a círculo, vós ascendereis dos estágios mais baixos de associação e de sintonização mental com o Ajustador, de modo que o Ajustador se torne cada vez mais capacitado a registrar as suas ilustrações do destino, sempre com mais vividez e convicção, na consciência em evolução dessa mente-alma que busca a Deus.
110:6.6 (1210.1) Cada decisão que tomardes estará sempre facilitando ou impedindo a função do Ajustador; e, da mesma forma, essas mesmas decisões determinam os vossos avanços nos círculos de realização humana. É verdade que a supremacia de uma decisão, a sua relação com uma crise, tem muito a ver com a sua influência na passagem dos círculos; entretanto, inúmeras decisões, repetições freqüentes e persistentes mostram-se também essenciais para a firmeza na formação do hábito de tais reações.
110:6.7 (1210.2) É difícil definir, com precisão, os sete níveis do progresso humano, pelo simples motivo de que esses níveis são pessoais; e, sendo diferentes para cada indivíduo, são determinados aparentemente pela capacidade de crescimento de cada ser humano. A conquista, de cada um desses níveis de evolução cósmica, reflete-se de três maneiras:
110:6.8 (1210.3) 1. Sintonização com o Ajustador. A mente que se espiritualiza aproxima-se da presença do Ajustador na mesma proporção que ascende nos círculos.
110:6.9 (1210.4) 2. Evolução da alma. O surgimento e crescimento da alma moroncial indica o grau e a profundidade na mestria dos círculos.
110:6.10 (1210.5) 3. Realidade da personalidade. A conquista dos círculos determina diretamente o grau de realidade do eu. As pessoas tornam-se mais reais, à medida que ascendem do sétimo ao primeiro nível da existência mortal.
110:6.11 (1210.6) À medida que os círculos são atravessados, o filho da evolução material vai crescendo, transformando-se em um ser humano com maturidade na sua potencialidade imortal. A realidade nublada, de natureza embrionária, de um ser do sétimo círculo, dá lugar à manifestação mais clara da natureza moroncial emergente, de um cidadão do universo local.
110:6.12 (1210.7) Ainda que seja impossível definir com precisão os sete níveis, ou círculos psíquicos do crescimento humano, é conveniente sugerir os limites mínimos e máximos desses estágios na realização da maturidade:
110:6.13 (1210.8) O sétimo círculo. Esse nível é atingido quando os seres humanos desenvolvem os poderes de escolha pessoal, decisão individual, responsabilidade moral e sua capacidade de atingir a individualidade espiritual. Isso significa um funcionamento já unificado dos sete espíritos ajudantes da mente, sob a direção do espírito da sabedoria; significa a admissão da criatura mortal nos circuitos de influência do Espírito Santo; e, em Urântia, significa o funcionamento inicial do Espírito da Verdade, junto com a recepção de um Ajustador do Pensamento na mente mortal. O ingresso no sétimo círculo faz de uma criatura mortal um verdadeiro cidadão, em potencial, do universo local.
110:6.14 (1210.9) O terceiro círculo. O trabalho do Ajustador torna-se muito mais eficaz após o ser humano ascendente haver atingido o terceiro círculo, quando recebe um guardião seráfico pessoal de destino. Se bem que não haja nenhuma articulação de esforços entre o Ajustador e o guardião seráfico, ainda assim deve ser constatado um inequívoco aperfeiçoamento, em todas as fases de realização cósmica e de desenvolvimento espiritual, após a designação do ajudante seráfico pessoal. Quando se chega ao terceiro círculo, o Ajustador esforça-se para moroncializar a mente do homem, durante o restante do seu tempo de vida mortal, para que atinja os círculos restantes e realize o estágio final da associação humano-divina, antes que a morte natural dissolva essa associação única.
110:6.15 (1210.10) O primeiro círculo. O Ajustador não pode, comumente, falar direta e imediatamente convosco, antes que vós atinjais o primeiro círculo, que é a etapa final do progresso de realização mortal. Esse nível representa a mais alta realização possível, na relação da mente com o Ajustador, dentro da experiência humana, anterior à liberação da alma moroncial das cadeias do corpo material. No que concerne à mente, às emoções e ao discernimento cósmico, essa realização do primeiro círculo psíquico significa a maior aproximação possível entre a mente material e o espírito Ajustador, na experiência humana.
110:6.16 (1211.1) Talvez uma denominação melhor para esses círculos psíquicos do progresso mortal fosse a de níveis cósmicos — a apreensão real dos significados e a compreensão progressiva dos valores de aproximação à consciência moroncial, que é a relação inicial da alma evolucionária com o Ser Supremo emergente. E é essa mesma relação que, para sempre, torna impossível explicar inteiramente a significação dos círculos cósmicos à mente material. Somente de um modo relativo a realização nesses círculos está ligada à consciência que o mortal tem de Deus. Um ser do sétimo ou do sexto círculo pode ser tão verdadeiramente sabedor de Deus — consciente da filiação — quanto um ser do primeiro ou do segundo círculo; todavia, os seres dos círculos inferiores encontram-se ainda muito menos conscientes da relação experiencial com o Ser Supremo, e é isso que é a cidadania do universo. O alcançar desses círculos cósmicos tornar-se-á uma parte da experiência dos seres ascendentes nos mundos das mansões, para aqueles que fracassarem nessa realização antes da morte natural.
110:6.17 (1211.2) A motivação da fé torna experiencial a compreensão plena da filiação do homem a Deus; mas a ação, a realização das decisões, é essencial para atingir-se, na evolução, a consciência da afinidade progressiva com a realidade cósmica do Ser Supremo. A fé transmuta os potenciais em realidades, no mundo espiritual, mas os potenciais tornam-se factuais nos reinos finitos do Supremo, somente por meio da compreensão na escolha-experiência, e graças a ela. Contudo, escolher cumprir a vontade de Deus une a fé espiritual às decisões materiais, na ação da personalidade; e, assim, provê um ponto de apoio espiritual e divino que permite um funcionamento mais eficaz para a alavanca humana e material que é a sede de Deus. Uma coordenação sábia, feita desse modo entre as forças materiais e as espirituais, aumenta consideravelmente tanto o entendimento cósmico do Supremo, e a sua realização, quanto a compreensão moroncial das Deidades do Paraíso.
110:6.18 (1211.3) A mestria sobre os círculos cósmicos está relacionada ao crescimento quantitativo da alma moroncial, à compreensão dos supremos significados. No entanto, o status qualitativo dessa alma imortal depende integralmente da compreensão que a fé viva pode proporcionar, ao homem mortal, sobre o valor factual do seu potencial-de-Paraíso, vindo do valor fatual de que esse homem mortal é um filho do Deus eterno. E é por isso que um ser que chegou ao sétimo círculo vai para os mundos das mansões, para atingir uma compreensão quantitativa adicional do crescimento cósmico, do mesmo modo que o faz alguém que haja atingido o segundo, ou mesmo, o primeiro círculo.
110:6.19 (1211.4) Há apenas uma relação indireta entre a realização da passagem pelos círculos cósmicos e a experiência religiosa espiritual real; é que tais realizações são recíprocas e, portanto, mutuamente benéficas. O desenvolvimento puramente espiritual pode ter pouco a ver com a prosperidade material planetária, mas a realização, de círculo para círculo, aumenta sempre o potencial do êxito humano e de realização do mortal.
110:6.20 (1211.5) Do sétimo ao terceiro círculo, ocorre uma crescente ação unificada, dos sete espíritos ajudantes da mente, na tarefa de libertar a mente mortal da sua dependência das realidades dos mecanismos da vida material; essa fase é preparatória para uma introdução mais nítida aos níveis moronciais de experiência. Do terceiro círculo em diante, a influência dos ajudantes diminui progressivamente.
110:6.21 (1211.6) Os sete círculos abrangem a experiência mortal, desde o mais alto nível puramente animal, ao mais baixo nível moroncial, de fato contatável, de autoconsciência, como experiência da personalidade. A mestria na conquista do primeiro círculo cósmico assinala a realização da maturidade mortal pré-moroncial e marca o término do ministério conjunto dos espíritos ajudantes da mente, como uma influência exclusiva de ação mental na personalidade humana. Após o primeiro círculo, a mente torna-se cada vez mais semelhante à inteligência do estágio moroncial de evolução, que é o ministério conjunto da mente cósmica e o dom supra-ajudante do Espírito Materno Criativo de um universo local.
110:6.22 (1212.1) Os grandes momentos na carreira individual dos Ajustadores são: primeiro, quando o sujeito humano irrompe no terceiro círculo psíquico, assegurando, assim, a auto-atividade do Monitor, com um alcance maior de funcionamento (considerando que o Monitor residente já não seja auto-atuante); depois, quando o parceiro humano atinge o primeiro círculo psíquico, pois, então, homem e Ajustador se tornam capacitados para intercomunicar-se, ao menos em algum grau; e por último, quando, final e eternamente, se tornam fusionados.
110:7.1 (1212.2) A realização dos sete círculos cósmicos não equivale à fusão com o Ajustador. Há muitos mortais em Urântia que realizaram os seus círculos; mas a fusão depende ainda de outras realizações espirituais maiores e mais sublimes; depende de uma sintonização final e completa da vontade mortal com a vontade de Deus, tal como esta se manifesta no Ajustador do Pensamento residente.
110:7.2 (1212.3) Quando um ser humano completou os seus círculos de realização cósmica e, mais adiante, quando a escolha final da vontade mortal permitir que o Ajustador complete a associação da identidade humana com a alma moroncial, durante a vida evolucionária física, então, essas ligações consumadas entre a alma e o Ajustador continuam independentemente, até os mundos das mansões; e, de Uversa, é emitido o mandado que autoriza a fusão imediata entre o Ajustador e a alma moroncial. Essa fusão, durante a vida física, consome instantaneamente o corpo material; os seres humanos que testemunhassem um tal espetáculo apenas observariam o mortal, que se translada, desaparecer em “carruagens de fogo”.
110:7.3 (1212.4) A maioria dos Ajustadores, que transladaram os seus sujeitos de Urântia, eram altamente experientes e já haviam sido previamente residentes em inúmeros mortais de outras esferas. Lembrai-vos de que os Ajustadores ganham valiosa experiência de residência, nos planetas da ordem do empréstimo; não é certo que os Ajustadores ganhem experiência, de trabalho avançado, apenas com os mortais que não conseguem a sua sobrevivência.
110:7.4 (1212.5) Subseqüentemente à fusão mortal, os Ajustadores compartilham do vosso destino e experiência; eles são vós. Após a fusão da alma moroncial imortal com o seu Ajustador solidário, toda a experiência e todos os valores de um, finalmente, tornam-se posse do outro; de forma tal que os dois passam a ser de fato uma única entidade. Num certo sentido, esse novo ser é do passado eterno, assim como também existe para o futuro eterno. Tudo o que foi humano, certa vez, na alma, sobrevive; e tudo o que é experiencialmente divino, no Ajustador, agora se torna posse real da nova personalidade, sempre ascendente, do universo. Contudo, em cada nível do universo, o Ajustador pode dotar a nova criatura apenas com aqueles atributos que têm significado e valor naquele nível. Uma absoluta unicidade com o Monitor divino e um completo esgotamento dos dons de um Ajustador só podem ser realizados na eternidade; ou seja, subseqüentemente ao alcançar do Pai Universal, o Pai dos espíritos, para sempre fonte dessas dádivas divinas.
110:7.5 (1212.6) Quando a alma em evolução e o Ajustador divino são, final e eternamente, fusionados, um terá granjeado para si todas as qualidades experienciáveis do outro. E essa personalidade, assim coordenada, possui toda a memória experiencial de sobrevivência que a mente mortal ancestral possuiu no passado e que, em seguida, é residente na alma moroncial; e, em acréscimo, esse finalitor em potencial abarca toda a memória experiencial do Ajustador, de todas as suas residências mortais, de todos os tempos. No entanto, uma eternidade no futuro será necessária para que um Ajustador possa dotar, por completo, a personalidade, constituída dessa associação, com os significados e valores que o Monitor divino traz consigo da eternidade do passado.
110:7.6 (1213.1) Todavia, com a grande maioria dos urantianos, o Ajustador deve esperar pacientemente pela chegada da libertação pela morte; deve esperar a liberação da alma emergente da dominação quase completa dos padrões da energia e das forças químicas, inerentes à vossa ordem material de existência. A dificuldade principal que vós experimentais para contatar o vosso Ajustador advém dessa mesma natureza material. Pouquíssimos mortais são pensadores realmente; vós não desenvolveis nem disciplinais espiritualmente as vossas mentes ao ponto de uma ligação favorável com os Ajustadores divinos. O ouvido da mente humana é quase surdo aos apelos espirituais, que o Ajustador traduz, das múltiplas mensagens das transmissões universais de amor, que procedem do Pai das misericórdias. O Ajustador considera quase impossível registrar tais guiamentos espirituais em uma mente animal inteiramente dominada pelas forças elétricas e químicas, inerentes à vossa natureza física.
110:7.7 (1213.2) Os Ajustadores rejubilam-se de poder fazer contato com a mente mortal; mas eles têm de ser pacientes, por longos anos de estada silenciosa, durante os quais eles são incapazes de romper a resistência animal para comunicar-se diretamente convosco. Quanto mais alto os Ajustadores do Pensamento ascendem, na escala do serviço, mais eficientes se tornam. No entanto, não podem nunca vos saudar, na carne, com a mesma afeição compassiva, cheia de expressividade e de solidariedade, com que eles vos saudarão, quando vós os discernirdes, de mente para mente, nos mundos das mansões.
110:7.8 (1213.3) Durante a vida mortal, o corpo e a mente material separam-vos do vosso Ajustador e impedem a comunicação livre; depois da morte, após a fusão eterna, vós e o vosso Ajustador sereis unificados — não sereis mais distinguíveis, como seres separados — e assim não existirá mais a necessidade de comunicação, do modo como vós poderíeis entender.
110:7.9 (1213.4) Ainda que a voz do Ajustador esteja sempre dentro de vós, a maioria de vós raramente a escutará durante a vida inteira. Os seres humanos, antes do terceiro e do segundo círculos de realização, raramente escutam diretamente a voz do Ajustador, exceto em momentos de aspiração suprema, em uma situação suprema e, conseqüentemente, por meio de numa decisão suprema.
110:7.10 (1213.5) Durante a realização e a ruptura do contato entre a mente mortal de um reservista do destino e os supervisores planetários, algumas vezes, o Ajustador residente está situado de uma forma tal que torna possível a ele transmitir uma mensagem ao parceiro mortal. Não faz muito tempo, em Urântia, uma mensagem assim foi transmitida por um Ajustador auto-atuante, ao seu companheiro humano, membro do corpo de reserva do destino. Essa mensagem começava com estas palavras: “E agora, sem perigo e sem ameaça ao sujeito da minha devoção solícita, e sem intenção de desencorajá-lo, nem de castigá-lo, por mim, registrai a minha súplica para ele”. Seguiu-se uma exortação tocante, bela e cheia de apelo. Entre outras coisas, o Ajustador implorou ao seu sujeito “que me dedicasse uma cooperação sincera e mais fé, que suportasse com mais leveza as tarefas decorrentes da minha colocação; que levasse adiante mais fielmente o programa organizado por mim e enfrentasse com mais paciência as provações da minha escolha; que mais persistente e alegremente trilhasse o caminho selecionado por mim e mais humildemente recebesse os créditos que fossem acumulados em conseqüência dos meus esforços intermináveis — assim, transmita esta minha exortação ao homem em quem tenho residência. A ele dedico a suprema devoção e o afeto de um espírito divino. E diga ainda, ao meu amado sujeito, que funcionarei com sabedoria e poder até o final, quando a última luta terrena estiver terminada; e que serei verdadeiro e fiel à personalidade a mim confiada. Eu exorto-o à sobrevivência, para que não me desaponte, e não me prive da recompensa da minha luta paciente e intensa. Da vontade humana dependerá a nossa realização, em uma só personalidade. Círculo a círculo venho pacientemente elevando essa mente humana e, disso, a aprovação que tenho do chefe de minha própria classe é testemunha. De círculo em círculo, estou procedendo até o juízo. Aguardo, com prazer e sem apreensão, a lista de chamada do destino; estou preparado para submeter tudo aos tribunais dos Anciães dos Dias”.
110:7.11 (1214.1) [Apresentado por um Mensageiro Solitário de Orvônton.]
O Livro de Urântia
Documento 111
111:0.1 (1215.1) A PRESENÇA do Ajustador divino na mente humana torna para sempre impossível, tanto para a ciência quanto para a filosofia, atingir uma compreensão satisfatória da alma em evolução da personalidade humana. A alma moroncial é uma criança do universo e apenas pode ser realmente conhecida por meio do discernimento cósmico e da descoberta espiritual.
111:0.2 (1215.2) O conceito da alma e de um espírito residente não é novo em Urântia; tem surgido freqüentemente nos vários sistemas de crenças planetárias. Muitas das fés orientais, bem como algumas entre as ocidentais, perceberam que o homem é divino na sua linhagem, bem como humano pela hereditariedade. O sentimento da presença interior, acrescentado à onipresença externa da Deidade, há muito constitui uma parte de muitas das religiões urantianas. Os homens têm acreditado, há muito tempo, que existe algo crescendo dentro da natureza humana, algo vital, que está destinado a perdurar além do curto período da vida temporal.
111:0.3 (1215.3) Antes que o homem houvesse compreendido que a sua alma em evolução tinha a paternidade de um espírito divino, julgou-se que ela residia em diferentes órgãos físicos — nos olhos, fígado, rins, coração e, posteriormente, no cérebro. Os selvagens associavam a alma ao sangue, à respiração, às sombras e aos reflexos do seu eu na água.
111:0.4 (1215.4) Na concepção do atman, os mestres hindus realmente se aproximaram de uma avaliação da natureza e da presença do Ajustador, mas falharam, por não distinguirem a co-presença da alma em evolução, potencialmente imortal. Os chineses, contudo, reconheceram dois aspectos num ser humano, o yang e o yin, a alma e o espírito. Os egípcios e muitas tribos africanas também acreditavam em dois fatores, o ka e o ba; e não acreditavam geralmente que a alma fosse preexistente, apenas o espírito.
111:0.5 (1215.5) Os habitantes do vale do Nilo acreditavam que todo indivíduo favorecido havia recebido, no nascimento, ou pouco depois, um espírito protetor a que chamavam ka. Eles ensinavam que esse espírito guardião permanecia com o sujeito mortal ao longo da vida e que passava, antes dele, para o estado futuro. Nas paredes de um templo em Luxor, onde está ilustrado o nascimento de Amenhotep III, o pequeno príncipe está retratado nos braços do deus do Nilo e, próximo a ele, está uma outra criança, idêntica ao príncipe na aparência, que é o símbolo daquela entidade a que os egípcios chamavam ka. Essa escultura foi terminada no décimo quinto século antes de Cristo.
111:0.6 (1215.6) Julgava-se que o ka era um gênio de espírito superior, que desejava guiar o mortal ligado a ele por caminhos melhores na vida temporal; porém, mais especialmente, que ele desejava influenciar a sorte do sujeito humano na próxima vida. Quando um egípcio desse período morria, era esperado que o seu ka estivesse aguardando por ele do outro lado do Grande Rio. A princípio, supunha-se que apenas os reis tivessem kas, mas, afinal, acreditou-se que todos os homens retos possuíam-nos. Um governante egípcio, falando do ka dentro do seu coração, disse: “Eu não desconsiderei o que ele me disse; eu temia transgredir os seus guiamentos. Por isso, progredi grandemente; e, assim, tive êxito em conseqüência do que ele me levou a fazer; fui distinguido com os seus guiamentos”. Muitos acreditavam que o ka era “um oráculo de Deus dentro de todos”. Muitos acreditavam que iriam “passar à eternidade com alegria no coração, sob os favores do Deus que está dentro deles”.
111:0.7 (1216.1) Cada raça de mortais evolutivos de Urântia tem uma palavra equivalente ao conceito de alma. Muitos povos primitivos acreditavam que a alma olhava para o mundo por meio dos olhos dos homens; portanto, de forma tão profunda, temiam a malevolência do mau-olhado. Por muito tempo, acreditaram que “o espírito do homem é a lâmpada do Senhor”. O Rig-Veda diz: “a minha mente fala ao meu coração”.
111:1.1 (1216.2) Embora o trabalho dos Ajustadores seja espiritual, na sua natureza, devem eles, forçosamente, efetuar todo o seu trabalho com base no intelecto. A mente é o solo humano a partir do qual o Monitor espiritual deve fazer a alma moroncial evoluir, em cooperação com a personalidade residida por ele.
111:1.2 (1216.3) Há uma unidade cósmica nos sete níveis da mente do universo dos universos. Os eus intelectuais têm a sua origem na mente cósmica, tal como as nebulosas têm origem nas energias cósmicas do espaço universal. No nível humano (e, portanto, pessoal) dos eus intelectuais, o potencial de evolução espiritual torna-se dominante, com o consentimento da mente mortal, por causa dos dons espirituais da personalidade humana, junto com a presença criativa de uma entidade de valor absoluto nesses eus humanos. Contudo, essa predominância do espírito sobre a mente material é condicionada por duas experiências: essa mente deve ter evoluído a partir do ministério dos sete espíritos ajudantes da mente; e o eu material (pessoal) deve escolher cooperar com o Ajustador residente, criando e fomentando o eu moroncial, ou seja, a alma evolucionária potencialmente imortal.
111:1.3 (1216.4) A mente material é a arena dentro da qual as personalidades humanas vivem, são autoconscientes, tomam decisões e escolhem a Deus ou abandonam-No, eternizam-se ou destroem a si próprias.
111:1.4 (1216.5) A evolução material proveu-vos com uma máquina de vida, o vosso corpo; o Pai, Ele próprio, dotou-vos com uma realidade espiritual, a mais pura conhecida no universo: o vosso Ajustador do Pensamento. No entanto, nas vossas mãos, foi-vos dada uma mente, sujeita às vossas próprias decisões, e é por meio dessa mente que vós viveis ou morreis. É dentro dessa mente e com essa mente que vós tomais as decisões morais que vos capacitam a alcançar a semelhança com o Ajustador, que é a semelhança com Deus.
111:1.5 (1216.6) A mente mortal é um sistema de intelecto temporário, cedido por empréstimo aos seres humanos, para uso durante o período da vida material; e, da forma pela qual usam essa mente, estão aceitando ou rejeitando o potencial de existência eterna. A mente é praticamente tudo o que vós tendes da realidade do universo, que é submissível à vossa vontade; e a alma — o eu moroncial — irá retratar fielmente a colheita das decisões temporais que o eu mortal está fazendo. A consciência humana repousa gentilmente sobre o mecanismo eletroquímico abaixo; e delicadamente toca o sistema de energia espiritual-moroncial acima. De nenhum desses dois sistemas, o ser humano encontra-se completamente consciente durante a sua vida mortal; portanto, ele deve trabalhar com a mente, da qual é consciente. E não é tanto o que a mente compreende, mas, sim, o que a mente deseja compreender, que assegura a sobrevivência; não é tanto o que a mente é que se constitui na identificação com o espírito, mas o que a mente está tentando ser. E não é tanto o fato de que o homem seja consciente de Deus que o leva a ascender no universo, mas o fato de que ele aspira a Deus. O que vós sois hoje não é tão importante quanto aquilo em que vos estais tornando dia a dia e na eternidade.
111:1.6 (1217.1) A mente é o instrumento cósmico no qual a vontade humana pode tocar as dissonâncias da destruição, ou no qual essa mesma vontade humana pode trazer o tom das melodias sutis de identificação com Deus e da conseqüente sobrevivência eterna. O Ajustador, outorgado como dádiva ao homem, em última análise, é impermeável ao mal e incapaz do pecado; mas a mente mortal pode, na verdade, ser torcida e distorcida, e transformar-se no mal e no horrendo por meio de maquinações pecaminosas de uma vontade humana perversa e egoísta. Da mesma forma pode, essa mente, tornar-se nobre, bela, verdadeira e boa — e grande, na verdade — , de acordo com a vontade iluminada pelo espírito de um ser humano sabedor de Deus.
111:1.7 (1217.2) A mente evolucionária é plenamente estável e confiável apenas quando se manifesta nos dois extremos da intelectualidade cósmica — o inteiramente mecanizado e o plenamente espiritualizado. Entre os extremos intelectuais do puro controle mecânico e da verdadeira natureza espiritual, é que se interpõe aquele enorme grupo de mentes em ascensão e em evolução, cuja estabilidade e tranqüilidade dependem da escolha da personalidade e da identificação com o espírito.
111:1.8 (1217.3) No entanto, o homem não deixa a sua vontade capitular passivamente, de forma escrava, ante o seu Ajustador. Antes ele escolhe, muito mais ativa, positiva e cooperativamente, seguir a orientação do Ajustador, quando e naquilo em que essa orientação difere dos desejos e impulsos da mente mortal natural. Os Ajustadores manipulam, mas nunca dominam a mente do homem contra a vontade dele; para os Ajustadores, a vontade humana é suprema. E assim consideram-na e respeitam-na em sua luta para realizar as metas espirituais de ajustamento dos pensamentos e de transformação do caráter, na arena quase sem limites do intelecto humano em evolução.
111:1.9 (1217.4) A mente é a vossa embarcação, o Ajustador é o vosso piloto, a vontade humana é o capitão. O mestre desse barco mortal deveria ter a sabedoria de confiar no piloto divino, para guiar a alma em ascensão até os portos moronciais da sobrevivência eterna. Somente por egoísmo, por preguiça e por pecado pode a vontade do homem rejeitar o guiamento desse piloto que age por amor e, finalmente, fazer naufragar a carreira mortal contra os arrecifes malévolos da misericórdia rejeitada e contra os rochedos submersos do pecado. Com o vosso consentimento, esse piloto fiel carregar-vos-á a salvo, por entre as barreiras do tempo e, apesar dos obstáculos do espaço, até a fonte mesma da mente divina, e mesmo adiante, até o Pai do Paraíso dos Ajustadores.
111:2.1 (1217.5) Nas funções mentais da inteligência cósmica, a totalidade da mente predomina sobre as partes de função intelectual. Na sua essência, a mente é uma unidade funcional; portanto, a mente nunca falha em manifestar essa unidade constitutiva, mesmo quando tolhida ou impedida pelas ações e escolhas pouco sábias de um eu mal conduzido. E essa unidade de mente procura invariavelmente a coordenação do espírito, em todos os níveis de associações com os eus de dignidade volitiva e de prerrogativas ascensionais.
111:2.2 (1217.6) A mente material do homem mortal é o tear cósmico em que se embasam os tecidos moronciais, sobre os quais o Ajustador do Pensamento residente tece os modelos espirituais de um caráter universal, que tem os valores permanentes e as significações divinas — uma alma sobrevivente, de destino último, com uma carreira infindável; um finalitor em potencial.
111:2.3 (1218.1) A personalidade humana é identificada com a mente e o espírito, mantidos juntos pela vida, numa relação funcional, num corpo material. Essa relação de funcionamento entre a mente e o espírito não resulta em nenhuma combinação das qualidades ou atributos da mente e do espírito, mas resulta, antes, em um valor universal, de duração eterna, inteiramente original, novo e único, a alma.
111:2.4 (1218.2) Há três fatores, e não dois, na criação evolucionária de uma alma imortal. Esses três antecedentes da alma humana moroncial são:
111:2.5 (1218.3) 1. A mente humana e todas as influências cósmicas, antecedentes a ela e que se impingem sobre ela.
111:2.6 (1218.4) 2. O espírito divino, residente nessa mente humana, e todos os potenciais inerentes a esse fragmento de espiritualidade absoluta, junto com todas as múltiplas influências e fatores espirituais na vida humana.
111:2.7 (1218.5) 3. A relação entre a mente material e o espírito divino, que conota um valor e carrega um significado não encontrável em nenhum dos fatores que contribuem para essa associação. A realidade dessa relação única não é nem material nem espiritual, mas moroncial. É a alma.
111:2.8 (1218.6) As criaturas intermediárias denominaram, há muito, essa alma humana em evolução, de mente intermediária, para distingui-la da mente mais baixa, ou material, e da mente mais alta, ou cósmica. Essa mente intermediária é realmente um fenômeno moroncial, já que existe no reino entre o material e o espiritual. O potencial dessa evolução moroncial é inerente aos dois impulsos universais da mente: o impulso da mente finita da criatura, para conhecer a Deus e alcançar a divindade do Criador, e o impulso da mente infinita do Criador, para conhecer o homem e alcançar a experiência da criatura.
111:2.9 (1218.7) Essa transação superna de evolução da alma imortal torna-se possível pois a mente mortal é, em primeiro lugar, pessoal e, em segundo lugar, porque está em contato com as realidades supra-animais; ela possui um dom supramaterial de ministração cósmica, que assegura a evolução de uma natureza moral capaz de tomar decisões morais, efetuando, por meio disso, um contato criativo, da mais plena boa-fé, com as ministrações espirituais interativas e com o Ajustador do Pensamento residente.
111:2.10 (1218.8) O resultado inevitável dessa espiritualização contatual da mente humana é o nascimento gradual de uma alma, fruto nascido de uma mente ajudante, dominada pela vontade humana que almeja conhecer a Deus, trabalhando em ligação com as forças espirituais do universo que estão sob o supercontole de um fragmento real do próprio Deus de toda a criação — o Monitor Misterioso. E, assim, a realidade mortal e material do eu transcende às limitações temporais da máquina da vida física e alcança uma nova expressão e uma nova identificação, no veículo em evolução, para a continuidade do eu: a alma moroncial imortal.
111:3.1 (1218.9) Os enganos da mente mortal e os erros da conduta humana podem atrasar, de forma intensa, a evolução da alma, embora não possam inibir tal fenômeno moroncial, uma vez iniciado pelo Ajustador residente, com o consentimento da vontade da criatura. Entretanto, a qualquer momento, antes da morte física, essa mesma vontade humana e material tem o poder de romper com essa escolha e rejeitar a sobrevivência. Mesmo após a sobrevivência, o mortal ascendente ainda detém essa prerrogativa de escolher rejeitar a vida eterna; a qualquer tempo, antes da fusão com o Ajustador, a criatura ascendente e em evolução pode escolher abandonar a vontade do Pai do Paraíso. A fusão com o Ajustador assinala o fato de que o mortal ascendente escolheu, eternamente e sem reservas, cumprir o desejo do Pai.
111:3.2 (1219.1) Durante a vida na carne, a alma em evolução está capacitada a reforçar as decisões supramateriais da mente mortal. A alma, sendo supramaterial, não funciona por si mesma no nível material da experiência humana. Nem pode essa alma subespiritual, sem a colaboração de algum espírito da Deidade, como o Ajustador, por exemplo, funcionar acima do nível moroncial. A alma também não toma decisões finais, até que a morte ou o translado a separe da ligação material com a mente mortal; exceto quando essa mente material delegar, e da forma que delegar, tal autoridade, de livre e espontânea vontade, a essa alma moroncial de função interligada. Durante a vida, a vontade mortal, ou o poder de escolha-decisão da personalidade, reside nos circuitos da mente material; à medida que o crescimento mortal terrestre continua, esse eu, com os seus inestimáveis poderes de escolha, torna-se crescentemente identificado com a entidade da alma moroncial emergente; após a morte, e em seguida à ressurreição, nos mundos das mansões, a personalidade humana identifica-se completamente com o eu moroncial. A alma é, assim, o embrião do futuro veículo moroncial de identidade da personalidade.
111:3.3 (1219.2) Essa alma imortal, de início, é inteiramente moroncial na sua natureza, mas tem uma tal capacidade para o desenvolvimento, que invariavelmente ascende até os níveis verdadeiros do espírito nos valores para a fusão com os espíritos da Deidade; geralmente, com o mesmo espírito do Pai Universal, que iniciou esse fenômeno de criação na mente da criatura.
111:3.4 (1219.3) Ambos, a mente humana e o Ajustador divino, estão conscientes da presença e da natureza diferencial da alma em evolução: o Ajustador, inteiramente; a mente, parcialmente. A alma torna-se cada vez mais cônscia, tanto da mente quanto do Ajustador, como identidades relacionadas, proporcionalmente, ao seu próprio crescimento evolucionário. A alma compartilha das qualidades, tanto da mente humana quanto do espírito divino, mas evolui, persistentemente, na direção de um aumento do controle do espírito e do predomínio do divino, por meio da ação de fomentar uma função da mente, cujos significados tentam coordenar-se com os verdadeiros valores do espírito.
111:3.5 (1219.4) Na carreira mortal, a evolução da alma não é tanto uma provação, é mais uma educação. A fé na sobrevivência dos valores supremos é o cerne do ato religioso; a experiência religiosa genuína consiste na união dos valores supremos e dos significados cósmicos na compreensão da realidade universal.
111:3.6 (1219.5) A mente conhece a quantidade, a realidade e os significados. Contudo, a qualidade — os valores — é sentida. Quem sente é a criação mútua da mente, que conhece, e do espírito solidário, que a torna real.
111:3.7 (1219.6) Na mesma medida que a alma moroncial em evolução se torna permeada pela verdade, pela beleza e pela bondade, como valores da realização e compreensão da consciência de Deus, esse ser resultante torna-se indestrutível. Se não há sobrevivência de valores eternos na alma em evolução do homem, então a existência mortal não tem sentido, e a vida, em si mesma, é uma ilusão trágica. Todavia, para sempre é verdade: aquilo que começais no tempo, com certeza, ireis terminar na eternidade — se valer a pena terminar.
111:4.1 (1219.7) O reconhecimento é o processo intelectual de adequar as impressões sensoriais recebidas do mundo externo aos padrões de memória do indivíduo. A compreensão denota que essas impressões sensoriais reconhecidas e os seus padrões de memória associados tornaram-se integrados ou organizados numa rede dinâmica de princípios.
111:4.2 (1220.1) Os significados são derivados de uma combinação de reconhecimento e de compreensão. Os significados são inexistentes, num mundo unicamente sensorial ou material. Os significados e os valores são percebidos apenas nas esferas internas ou supramateriais da experiência humana.
111:4.3 (1220.2) Os avanços da verdadeira civilização nascem todos nesse mundo interior da humanidade. Apenas a vida interior é verdadeiramente criativa. A civilização dificilmente pode progredir quando a maioria dos jovens de qualquer geração devota os seus interesses e energias às buscas materialistas do mundo sensorial ou exterior.
111:4.4 (1220.3) O mundo interior e o mundo exterior têm um conjunto diferente de valores. Qualquer civilização está em perigo, quando três quartos da sua juventude aderem a profissões materialistas e devotam-se à busca de atividades sensoriais no mundo exterior. A civilização está em perigo, quando a juventude negligencia o seu interesse pela ética, a sociologia, a eugenia, a filosofia, as artes, a religião e a cosmologia.
111:4.5 (1220.4) Apenas nos níveis mais elevados da mente supraconsciente, à medida que esses níveis impõem-se ao Reino espiritual da experiência humana, podereis encontrar esses conceitos mais elevados, relacionados a modelos originais efetivos, que irão contribuir para a construção de uma civilização melhor e mais duradoura. A personalidade é, inerentemente, criativa; mas funciona como tal apenas na vida interior do indivíduo.
111:4.6 (1220.5) Os cristais de neve são sempre hexagonais, na forma; mas nunca dois deles são iguais. As crianças correspondem a tipos, mas não há duas exatamente iguais, mesmo no caso de gêmeos. A personalidade tem tipos, mas é sempre única.
111:4.7 (1220.6) A felicidade e a alegria têm origem na vida interior. Vós não podeis experimentar o regozijo verdadeiro completamente a sós. Uma vida solitária é fatal para a felicidade. Até mesmo as famílias e as nações desfrutarão mais da vida, se a compartilharem com os outros.
111:4.8 (1220.7) Vós não podeis controlar completamente o mundo externo — o meio ambiente. É a criatividade do mundo interior que deve estar mais sob o foco da vossa direção, pois para ela a vossa personalidade está amplamente liberada das algemas das leis da causação antecedente. Associada à personalidade, há uma soberania limitada da vontade.
111:4.9 (1220.8) Posto que a vida interior do homem seja verdadeiramente criativa, a responsabilidade de escolher se essa criatividade será espontânea e totalmente aleatória, ou se será controlada, dirigida e construtiva, cabe a cada pessoa. Como pode uma imaginação criativa produzir filhos dignos, quando o cenário onde funciona já está preenchido com preconceitos, ódio, medos, ressentimentos, vinganças e fanatismo?
111:4.10 (1220.9) As idéias podem ter origem nos estímulos do mundo exterior, mas os ideais nascem apenas nos reinos criadores do mundo interior. Hoje, as nações do mundo estão sendo dirigidas por homens que têm uma superabundância de idéias, mas grande pobreza de ideais. Essa é a explicação para a pobreza, o divórcio, a guerra e os ódios raciais.
111:4.11 (1220.10) Esta é a questão: se o homem, que tem o livre-arbítrio, é dotado dos poderes da criatividade, vindos do seu mundo interior, então devemos reconhecer que a criação, no livre-arbítrio, abrange também o potencial de escolha na destrutividade. E quando a criatividade volta-se para a destrutividade, estareis face a face com a devastação do mal e do pecado — a opressão, a guerra e a destruição. O mal é uma parcialidade da criatividade, que tende para a desintegração e a destruição final. Todo conflito é em si um mal, pelo que inibe da função criadora da vida interior — é uma espécie de guerra civil na personalidade.
111:4.12 (1221.1) A criatividade interior contribui para o enobrecimento do caráter, mediante a integração da personalidade e da unificação do eu. É sempre verdade: o passado é imutável; apenas o futuro pode ser modificado pelo ministério da criatividade presente do eu interno.
111:5.1 (1221.2) Fazer a vontade de Deus é nada mais, nada menos do que uma demonstração da vontade da criatura de compartilhar a sua vida interior com Deus — com o mesmo Deus que tornou possível, para essa criatura, uma vida de valor com significado interior. Compartilhar é da natureza de Deus — é divino. Deus compartilha tudo com o Filho Eterno e com o Espírito Infinito, enquanto Estes, por sua vez, compartilham todas as coisas com os Filhos Criadores divinos e com as Filhas, os Espíritos Maternos dos universos.
111:5.2 (1221.3) A imitação de Deus é a chave da perfeição; fazer a Sua vontade é o segredo da sobrevivência e da perfeição na sobrevivência.
111:5.3 (1221.4) Os mortais vivem em Deus e, portanto, Deus tem querido viver nos mortais. Assim como os mortais se confiam a Deus, Ele também confiou — e antes — uma parte Dele próprio, para que ficasse dentro dos homens; Ele consentiu em viver nos homens e residir nos homens, sujeitando-Se à vontade humana.
111:5.4 (1221.5) A paz nesta vida, a sobrevivência na morte, a perfeição na próxima vida, o serviço na eternidade: tudo isso é realizado (em espírito) desde agora, quando a personalidade da criatura consente — escolhe — sujeitar a sua vontade de criatura à vontade do Pai. Pois o Pai já escolheu fazer com que um fragmento de Si próprio se sujeite à vontade da personalidade da criatura.
111:5.5 (1221.6) Tal escolha da criatura não é uma rendição da sua vontade. É uma consagração da vontade, uma expansão da vontade, uma glorificação da vontade, um perfeccionamento da vontade; e tal escolha eleva a vontade da criatura do nível da significância temporal ao estado mais elevado, em que a personalidade do filho-criatura comunga com a personalidade do Pai-espírito.
111:5.6 (1221.7) Essa escolha da vontade do Pai é o achado espiritual que o homem mortal tem, para ir ao encontro do Pai espiritual, ainda que idades no tempo devam passar antes que o filho-criatura possa de fato chegar à presença factual do Pai do Paraíso. Essa escolha não consiste tanto na negação da vontade da criatura — “Não a minha vontade, mas a Vossa, seja feita” — quanto consiste na afirmação positiva da criatura: “É da minha vontade que a Vossa vontade seja feita”. E se essa escolha é feita, mais cedo ou mais tarde, o filho que optou por escolher Deus irá encontrar a união interna (a fusão) com o fragmento residente de Deus, enquanto esse mesmo filho em perfeccionamento encontrará a suprema satisfação para a personalidade, na comunhão de adoração entre a personalidade do homem e a personalidade do seu Criador; duas personalidades cujos atributos criativos juntaram-se eternamente, numa mutualidade de expressão voluntária — para o nascimento de uma outra parceria eterna da vontade do homem com a vontade de Deus.
111:6.1 (1221.8) Muitos dos problemas temporais do homem mortal advêm da sua relação dupla com o cosmo. O homem é parte da natureza — existe na natureza — e, ao mesmo tempo, é capaz de transcender à natureza. O homem é finito; todavia, no seu interior reside uma faísca da infinitude. E essa situação dual proporciona não apenas um potencial para o mal, mas também engendra muitas situações sociais e morais carregadas de grande incerteza e de uma ansiedade considerável.
111:6.2 (1222.1) A coragem requerida para efetivar a conquista da natureza e para transcender ao próprio eu é uma coragem que poderia sucumbir diante das tentações do orgulho de si próprio. O mortal que pode transcender a si próprio poderia render-se à tentação de deificar a sua própria autoconsciência. O dilema mortal consiste no fato duplo de que o homem está atrelado à natureza, enquanto, ao mesmo tempo, possui uma liberdade única — a liberdade da escolha e ação espirituais. Nos níveis materiais, o homem encontra-se em estado de subserviência à natureza, enquanto, nos níveis espirituais, ele é triunfante sobre a natureza e sobre todas as coisas temporais e finitas. Tal paradoxo é inseparável da tentação, do mal potencial e erros decisórios; e, quando o ego torna-se orgulhoso e arrogante, o pecado pode evoluir.
111:6.3 (1222.2) O problema do pecado não existe por si só no mundo finito. O fato da finitude não é mau, nem pecaminoso. O mundo finito foi feito por um Criador infinito — é a obra da mão dos Seus Filhos divinos — e, portanto, deve ser bom. É o uso errôneo, a distorção e a deturpação do finito que dão origem ao mal e ao pecado.
111:6.4 (1222.3) O espírito pode dominar a mente; e assim, pois, a mente pode controlar a energia. Contudo, a mente só pode controlar a energia por meio da própria manipulação inteligente dos potenciais metamórficos inerentes ao nível matemático das causas e efeitos, nos domínios físicos. A mente da criatura não controla a energia inerentemente; essa é uma prerrogativa da Deidade. Todavia, a mente da criatura pode manipular a energia; e faz isso, na medida em que se torna mestra nos segredos da energia do universo físico.
111:6.5 (1222.4) Quando o homem quer modificar a realidade física, seja nele mesmo ou no meio ambiente, ele tem êxito apenas na proporção em que haja descoberto os modos e os meios de controlar a matéria e dirigir a energia. A mente sem assistência é impotente para influir sobre o mundo material, exceto sobre o próprio mecanismo físico ao qual ela está inseparavelmente vinculada. No entanto, pelo uso inteligente do mecanismo do corpo, a mente pode criar outros mecanismos e mesmo relações energéticas e relações vivas, com a utilização das quais essa mente pode controlar crescentemente e até dominar o seu nível físico no universo.
111:6.6 (1222.5) A ciência é a fonte dos fatos, e a mente não pode operar sem fatos. Os fatos estão edificando blocos, na construção da sabedoria, que vão sendo cimentados um ao lado do outro na experiência da vida. O homem pode alcançar o amor de Deus sem fatos, e pode descobrir as leis de Deus sem amor; mas o homem não pode começar a apreciar a simetria infinita, a harmonia superna, a excelsa plenitude da natureza todo-inclusiva da Primeira Fonte e Centro, sem antes haver encontrado a lei divina e o amor divino e sem antes havê-los experiencialmente unificado na sua própria filosofia evolutiva cósmica.
111:6.7 (1222.6) A expansão do conhecimento material permite uma maior apreciação intelectual dos significados das idéias e dos valores dos ideais. Um ser humano pode encontrar a verdade na sua experiência interior, mas ele necessita de um conhecimento claro dos fatos para aplicar a sua descoberta pessoal da verdade às demandas implacavelmente práticas da vida diária.
111:6.8 (1222.7) Nada é mais natural do que o homem mortal ser assediado por sentimentos de insegurança, quando se vê inextricavelmente atado à natureza, apesar de possuir poderes espirituais plenamente transcendentes a todas as coisas temporais e finitas. Somente a confiança religiosa — a fé viva — pode sustentar o homem em meio a problemas tão difíceis e de tamanha perplexidade.
111:6.9 (1223.1) De todos os perigos que cerceiam a natureza mortal do homem e que ameaçam a sua integridade espiritual, o orgulho é o maior. A coragem é de muita valia, mas o egocentrismo é vangloriador e suicida. Uma autoconfiança razoável não é de se deplorar. A capacidade do homem de transcender a si próprio é uma coisa que o distingue do reino animal.
111:6.10 (1223.2) O orgulho é enganoso, intoxicante e alimentador do pecado; é causador de decepções tanto para o indivíduo, quanto para um grupo, uma raça ou uma nação. É literalmente verdade que “o orgulho vem antes da queda”.
111:7.1 (1223.3) A essência da aventura do Paraíso é a incerteza com segurança — incerteza no tempo e na mente, incerteza quanto aos eventos do descortinar-se da ascensão até o Paraíso — ; e segurança no espírito e na eternidade, segurança na confiança incondicional de filho-criatura, na compaixão divina e no amor infinito do Pai Universal; incerteza por sermos cidadãos inexperientes do universo; segurança por sermos filhos ascendentes até as mansões do universo de um Pai Todo-Poderoso, onisciente e todo-amoroso.
111:7.2 (1223.4) Poderia eu aconselhar-vos a atender ao eco distante do apelo fiel do Ajustador à vossa alma? O Ajustador residente não pode parar, nem mesmo alterar materialmente a vossa luta, na carreira do tempo; o Ajustador não pode amenizar as durezas da vida, enquanto atravessais este mundo de trabalho extenuante. O residente divino pode apenas refrear-se, pacientemente, enquanto lutais na batalha da vida, como é vivida no vosso planeta; mas vós podeis, se quiserdes — enquanto trabalhais, lutais e suais — , permitir que o valente Ajustador lute convosco e para vós. Podeis, desse modo, ser confortados e inspirados, seduzidos e cativados, se apenas permitirdes ao Ajustador que ele constantemente vos mostre e ilustre os motivos reais, o objetivo final e o propósito eterno de toda essa difícil luta, montanha acima, contra os problemas banais do vosso mundo material atual.
111:7.3 (1223.5) Por que não ajudar o Ajustador na tarefa de mostrar-vos a contraparte espiritual de todos esses esforços materiais extenuantes? Por que não permitir ao Ajustador que vos fortaleça, com as verdades espirituais do poder cósmico, enquanto estais lutando corpo-a-corpo com as dificuldades temporais da existência de criatura? Por que não encorajar o ajudante celeste a vos alegrar, com a visão clara de um enfoque eterno da vida universal, enquanto estais meio cegos, na perplexidade dos problemas da hora presente? Por que vos recusais a ser esclarecidos e inspirados, pelo ponto de vista universal, enquanto vos debateis contra os obstáculos do tempo e vos afogais na névoa das incertezas que assediam a vossa jornada na vida mortal? Por que não permitir ao Ajustador espiritualizar o vosso modo de pensar, ainda que os vossos pés devam continuar pisando nas rotas materiais dos empreendimentos terrestres?
111:7.4 (1223.6) As raças humanas mais elevadas de Urântia foram miscigenadas de forma complexa; são uma mistura de muitos componentes raciais e de genes com origens diferentes. Essa natureza composta dificulta excessivamente a eficiência do trabalho dos Monitores, durante a vida, e aumenta definitivamente os problemas, tanto do Ajustador quanto do serafim guardião, após a morte. Não faz muito tempo, estive em Sálvington e escutei um guardião do destino apresentando uma declaração formal, como atenuação das dificuldades do ministério ao seu sujeito mortal. Esse serafim dizia:
111:7.5 (1223.7) “Muito da minha dificuldade deveu-se ao conflito interminável entre as duas naturezas do meu sujeito: a urgência da ambição, em oposição à indolência animal; os ideais de um povo superior, trespassados pelos instintos de uma raça inferior; os altos propósitos de uma grande mente, antagonizados pelo impulso de uma hereditariedade primitiva; a visão ampla de um Monitor perspicaz, contrafeita pela visão estreita de uma criatura do tempo; os planos progressivos de um ser em ascensão, modificados pelos desejos e aspirações de uma natureza material; os lampejos da inteligência universal, cancelados pelos comandos da energia química da raça em evolução; o impulso angélico, em oposição às emoções de um animal; o aperfeiçoamento de um intelecto, anulado pelas tendências do instinto; a experiência do indivíduo, em oposição às propensões acumuladas da raça; as aspirações ao que há de melhor, sendo obliteradas pela inconstância do pior; o vôo do gênio, neutralizado pelo peso da mediocridade; o progresso do bom, retardado pela inércia do mau; a arte da beleza, manchada pela presença do mal; a pujança da saúde, neutralizada pela debilidade da doença; a fonte da fé, poluída pelos venenos do medo; o manancial da alegria, amargurado pelas águas da dor; a felicidade da antecipação, desiludida pela amargura da realização; as alegrias da vida, sempre ameaçadas pelas dores da morte. Tal é a vida neste planeta! E ainda assim, por causa da ajuda e do impulso sempre presente do Ajustador do Pensamento, essa alma alcançou um nível razoável de felicidade e êxito e ainda agora ascendeu aos salões de julgamento de mansônia”.
111:7.6 (1224.1) [Apresentado por um Mensageiro Solitário de Orvônton.]
O Livro de Urântia
Documento 112
112:0.1 (1225.1) OS planetas evolucionários são as esferas da origem humana, os mundos iniciais da carreira mortal ascendente. Urântia é o vosso ponto de partida; aqui vós e o vosso Ajustador do Pensamento divino estais juntos em união temporal. Vós recebestes a dádiva de um guia perfeito; portanto, se percorrerdes a corrida do tempo com sinceridade e ganhardes a meta final da fé, a recompensa das idades será vossa; estareis eternamente unidos ao vosso Ajustador residente. E então começará a vossa vida real, a vida ascendente para a qual o vosso presente estado não é senão o vestíbulo. Logo começará a vossa elevada e progressiva missão, como finalitores, na eternidade que se descortina diante de vós. E, passando por todas essas sucessivas idades e estágios de crescimento evolucionário, há uma parte de vós que permanece absolutamente inalterada; e essa é a personalidade — a permanência, na presença da mudança.
112:0.2 (1225.2) Ainda que seja presunçoso ensaiar uma definição de personalidade, pode ser útil enunciar algumas entre as coisas que são conhecidas sobre a personalidade:
112:0.3 (1225.3) 1. A personalidade é aquela qualidade da realidade que é outorgada pelo Pai Universal, Ele próprio, ou pelo Agente Conjunto, atuando em nome do Pai.
112:0.4 (1225.4) 2. Ela pode ser conferida a qualquer sistema vivo de energia que inclua mente ou espírito.
112:0.5 (1225.5) 3. Ela não está totalmente sujeita às algemas da causação antecedente. Ela é relativamente criadora ou co-criadora.
112:0.6 (1225.6) 4. Quando conferida a criaturas materiais evolucionárias, ela leva o espírito a esforçar-se pela mestria sobre a matéria-energia, por meio da mediação da mente.
112:0.7 (1225.7) 5. A personalidade, embora desprovida de identidade, pode unificar a identidade de qualquer sistema vivo de energia.
112:0.8 (1225.8) 6. Ela tem apenas respostas qualitativas ao circuito da personalidade, em contraste com as três energias que demonstram sensibilidade, tanto qualitativa quanto quantitativa, à gravitação.
112:0.9 (1225.9) 7. A personalidade é imutável na presença da mudança.
112:0.10 (1225.10) 8. Ela pode proporcionar uma dádiva a Deus — a dedicação, por livre escolha, de fazer a vontade de Deus.
112:0.11 (1225.11) 9. Ela é caracterizada pela moralidade — a consciência da relatividade no relacionamento com outras pessoas. Ela discerne níveis de conduta e opta discriminadamente entre eles.
112:0.12 (1225.12) 10. A personalidade é única, absolutamente única: Ela é única no tempo e no espaço; é única na eternidade e no Paraíso; é única quando outorgada — não há duplicatas — ; é única durante cada momento da existência; e é única em relação a Deus — Ele não faz acepção de pessoas e também Ele não as soma entre si, pois elas não são somáveis — são associáveis, mas não totalizáveis.
112:0.13 (1226.1) 11. A personalidade é diretamente sensível à presença de uma outra personalidade.
112:0.14 (1226.2) 12. Ela é algo que pode ser acrescentado ao espírito, ilustrando, assim, a primazia do Pai em relação ao Filho. (Não há necessidade de adicionar-se mente ao espírito.)
112:0.15 (1226.3) 13. A personalidade pode sobreviver depois do fim mortal, com a identidade da alma sobrevivente. O Ajustador e a personalidade são imutáveis; a relação entre eles (na alma) não é nada senão a mudança, de evolução contínua; e se essa mudança (o crescimento) cessasse, a alma cessaria.
112:0.16 (1226.4) 14. A personalidade tem uma consciência singular do tempo, que é um tanto diferente da percepção que a mente ou o espírito têm do tempo.
112:1.1 (1226.5) A personalidade é outorgada pelo Pai Universal às Suas criaturas como um dom potencialmente eterno. Essa dádiva divina destina-se a funcionar em inúmeros níveis e em situações sucessivas no universo, que variam do finito mais baixo ao mais alto absonito, indo mesmo aos limites do absoluto. A personalidade, assim, atua em três planos cósmicos, ou em três fases do universo:
112:1.2 (1226.6) 1. Estado de posição. A personalidade funciona com igual eficiência, seja no universo local, seja no superuniverso, seja no universo central.
112:1.3 (1226.7) 2. Estado de significação. A personalidade atua efetivamente nos níveis do finito e do absonito, e mesmo naquilo que se impinge ao absoluto.
112:1.4 (1226.8) 3. Estado de valor. A personalidade pode realizar-se experiencialmente nos reinos progressivos do material, do moroncial e do espiritual.
112:1.5 (1226.9) A personalidade tem um campo perfeccionado de atuação cósmica dimensional. As dimensões da personalidade finita são três e, grosso modo, funcionam como é colocado a seguir:
112:1.6 (1226.10) 1. O comprimento representa a direção e a natureza da progressão — o movimento no espaço e de acordo com o tempo — , a evolução.
112:1.7 (1226.11) 2. A profundidade vertical abrange os impulsos e atitudes do organismo, os vários níveis de auto-realização e o fenômeno geral de reação ao meio ambiente.
112:1.8 (1226.12) 3. A largura abrange o domínio da coordenação, da associação e da organização do eu.
112:1.9 (1226.13) O tipo de personalidade conferido aos mortais de Urântia tem uma potencialidade de sete dimensões de auto-expressão ou de realização pessoal. Desses fenômenos dimensionais, três são compreensíveis-realizáveis no nível finito, três no nível absonito e um no nível absoluto. Em níveis subabsolutos, essa sétima dimensão, ou a da totalidade, é experienciável como fato da personalidade. Essa suprema dimensão é um absoluto associável e, ainda que não infinito, é dimensionalmente um potencial que permite uma penetração subinfinita do absoluto.
112:1.10 (1226.14) As dimensões finitas da personalidade têm a ver com as dimensões cósmicas do comprimento, da profundidade e da largura. O comprimento corresponde ao significado; a profundidade significa valor; a largura abrange o discernimento interior — a capacidade de experimentar uma consciência indubitável da realidade cósmica.
112:1.11 (1227.1) No nível moroncial, todas essas dimensões finitas do nível material ficam muito ampliadas, e certos valores dimensionais novos são integrados. Todas essas experiências dimensionais ampliadas do nível moroncial estão maravilhosamente articuladas com a dimensão suprema, ou a dimensão da personalidade, por meio da influência da mota e também por causa da contribuição das matemáticas moronciais.
112:1.12 (1227.2) Muitos dos problemas experienciados pelos mortais no seu estudo da personalidade humana poderiam ser evitados, se a criatura finita se lembrasse de que os níveis dimensionais e os níveis espirituais não estão coordenados na compreensão-realização experiencial da personalidade.
112:1.13 (1227.3) A vida realmente é um processo que ocorre entre o organismo (a individualidade) e o seu meio ambiente. A personalidade atribui valor de identidade e significados de continuidade a essa associação organismo-ambiente. Assim, será reconhecido que o fenômeno de estímulo-resposta não é um mero processo mecânico, pois a personalidade funciona como um fator na situação total. É sempre verdade que os mecanismos são inatamente passivos; e os organismos, inerentemente ativos.
112:1.14 (1227.4) A vida física é um processo que tem lugar, não tanto dentro do organismo, mas antes entre o organismo e o ambiente. Cada um desses processos tende a criar e estabelecer modelos de reação do organismo a esse ambiente. E todos esses modelos diretivos são altamente influenciadores na seleção de metas.
112:1.15 (1227.5) É por meio da intermediação da mente que o eu e o ambiente estabelecem um contato significativo. A habilidade e a disposição do organismo para fazer esses contatos significantes com o ambiente (a resposta a um estímulo) representam a atitude de toda a personalidade.
112:1.16 (1227.6) A personalidade não pode atuar bem em isolamento. O homem é inatamente uma criatura social; ele é dominado pela aspiração de pertencer. E é literalmente verdade que “nenhum homem vive para si próprio”.
112:1.17 (1227.7) Contudo, o conceito da personalidade, com o sentido do todo da criatura viva e em funcionamento, significa muito mais do que a integração das relações; significa a unificação de todos os fatores de realidade, bem como a coordenação das relações. As relações existem entre dois objetos, mas três ou mais objetos formam e explicitam um sistema; e tal sistema é muito mais do que apenas uma relação ampliada, ou tornada complexa. Essa diferenciação é vital, porque, num sistema cósmico, os membros individuais não estão conectados uns com os outros, mas estão numa relação com o todo, e mediante a individualidade do todo.
112:1.18 (1227.8) No organismo humano, a soma das suas partes constitui o eu — a individualidade — , mas esse processo não tem nada a ver com a personalidade, que é a unificadora de todos esses fatores relacionados às realidades cósmicas.
112:1.19 (1227.9) Nas agregações, as partes estão adicionadas; nos sistemas, as partes estão arranjadas. Os sistemas são significativos por causa da organização — os valores posicionais. Num bom sistema, todos os fatores estão em posição cósmica. Em um mau sistema, algo ou está faltando ou está fora do lugar — em desarranjo. No sistema humano, é a personalidade que unifica todas as atividades e que, por sua vez, lhes confere as qualidades de identidade e de criatividade.
112:2.1 (1227.10) Ao estudar o eu, seria útil lembrar:
112:2.2 (1227.11) 1. Que os sistemas físicos são subordinados.
112:2.3 (1227.12) 2. Que os sistemas intelectuais são coordenadores.
112:2.4 (1227.13) 3. Que a personalidade é supra-ordenadora.
112:2.5 (1227.14) 4. Que a força espiritual residente é potencialmente diretiva.
112:2.6 (1228.1) Em todos os conceitos da individualidade do eu, deveria ser reconhecido que a realidade da vida vem primeiro, a sua avaliação ou interpretação, depois. O filho humano primeiro vive e depois pensa sobre o seu viver. Na economia cósmica, o discernimento interior precede à previsão.
112:2.7 (1228.2) O fato universal de Deus tornando-se homem mudou para sempre todos os significados e alterou todos os valores da personalidade humana. Pelo verdadeiro significado da palavra, o amor denota respeito mútuo de personalidades inteiras, sejam humanas ou divinas, ou humanas e divinas. Partes do eu podem funcionar de inúmeros modos — pensando, sentindo, desejando — , mas apenas os atributos coordenados da personalidade total ficam focalizados na ação inteligente; e todos esses poderes ficam associados ao dom espiritual da mente mortal, quando, sincera e altruisticamente, um ser humano ama um outro ser humano ou divino.
112:2.8 (1228.3) Todos os conceitos mortais de realidade baseiam-se na suposição da existência real da personalidade humana; todos os conceitos de realidades supra-humanas são baseados na experiência da personalidade humana com e nas realidades cósmicas de certas entidades espirituais e de personalidades divinas interligadas. Tudo o que é não-espiritual na experiência humana, à exceção da personalidade, é um meio para um fim. Toda relação verdadeira do homem mortal com outras pessoas — humanas ou divinas — é um fim em si mesma. E um tal companheirismo com a personalidade da Deidade é a meta eterna da ascensão no universo.
112:2.9 (1228.4) A posse de personalidade identifica o homem como um ser espiritual, posto que a unidade do eu e a autoconsciência da personalidade são dons do mundo supramaterial. O fato mesmo de que um mortal materialista pode negar a existência de realidades supramateriais, em si e por si, demonstra e indica a presença e o trabalho da síntese do espírito e da consciência cósmica na sua mente humana.
112:2.10 (1228.5) Existe um grande abismo cósmico entre a matéria e o pensamento, e esse abismo é incomensuravelmente maior entre a mente material e o amor espiritual. A consciência não pode ser explicada, e a consciência de si, menos ainda, por qualquer teoria de associação eletrônica mecanicista ou por fenômenos materialistas de energia.
112:2.11 (1228.6) Enquanto a mente persegue a realidade até a sua análise última, a matéria escapa aos sentidos materiais, mas pode ainda permanecer real para a mente. Quando o discernimento espiritual persegue essa realidade que permanece depois do desaparecimento da matéria, e a persegue até uma última análise, ela desaparece para a mente, mas o discernimento do espírito pode ainda perceber as realidades cósmicas e os valores supremos de uma natureza espiritual. Da mesma forma, a ciência dá lugar à filosofia, enquanto a filosofia deve render-se às conclusões inerentes à genuína experiência espiritual. O pensar rende-se à sabedoria, e a sabedoria dissolve-se na adoração iluminada e reflexiva.
112:2.12 (1228.7) Na ciência, o eu humano observa o mundo material; a filosofia é a observação dessa observação do mundo material; a religião, a verdadeira experiência espiritual, é a compreensão experiencial da realidade cósmica dessa observação da observação de toda essa síntese relativa dos materiais energéticos do tempo e do espaço. Construir uma filosofia do universo na base exclusiva do materialismo é ignorar o fato de que todas as coisas materiais são inicialmente concebidas como reais na experiência da consciência humana. O observador não pode ser a coisa observada; a avaliação demanda algum grau de transcendência em relação à coisa que está sendo avaliada.
112:2.13 (1228.8) No tempo, o pensar conduz à sabedoria, e a sabedoria leva à adoração; na eternidade, a adoração conduz à sabedoria, e a sabedoria manifesta-se gerando a finalidade de pensamento.
112:2.14 (1229.1) A possibilidade de unificação do eu em evolução é inerente às qualidades dos seus fatores constituintes: as energias básicas, as contexturas mestras, o supercontole químico básico, as idéias supremas, os motivos supremos, as metas supremas e a outorga do espírito divino do Paraíso — o segredo da autoconsciência da natureza espiritual do homem.
112:2.15 (1229.2) O propósito da evolução cósmica é conseguir a unidade da personalidade, por meio da predominância crescente do espírito, que é a resposta da vontade ao ensinamento e ao guiamento do Ajustador do Pensamento. A personalidade, tanto a humana quanto a supra-humana, é caracterizada por uma qualidade cósmica inerente, que pode ser chamada “a evolução da predominância”, que é a expansão do controle tanto de si mesma quanto do seu ambiente.
112:2.16 (1229.3) Uma personalidade ascendente, de origem humana, passa por duas grandes fases, no universo, de predominância volitiva sobre o eu:
112:2.17 (1229.4) 1. A experiência pré-finalitora, ou buscadora de Deus, que é a experiência de compreensão e de aumento da auto-realização, por meio de uma técnica de expansão da identidade e da sua factualização, juntamente com a solução do problema cósmico e a conseqüente mestria sobre o universo.
112:2.18 (1229.5) 2. A experiência pós-finalitora, ou reveladora de Deus, que é a experiência da expansão criadora da compreensão-realização de si próprio por meio da revelação do Ser Supremo experiencial, para as inteligências buscadoras de Deus e que ainda não atingiram os níveis divinos de semelhança com Deus.
112:2.19 (1229.6) As personalidades descendentes alcançam experiências análogas por meio das suas várias aventuras no universo, na medida em que elas buscam o aumento da capacidade de determinar com certeza e de executar as vontades divinas das Deidades Suprema, Última e Absoluta.
112:2.20 (1229.7) O eu material, a entidade-ego da identidade humana, durante a vida física, depende da função continuada do veículo da vida material, da existência contínua do equilíbrio instável entre as energias e o intelecto, que, em Urântia, recebeu o nome de vida. Contudo, o eu de valor para a sobrevivência, o eu que pode transcender à experiência da morte só evolui com o estabelecimento de um transferidor potencial da sede da identidade da personalidade em evolução, que transfira do veículo transitório da vida — o corpo material — para a natureza mais duradoura e imortal da alma moroncial e, ainda mais adiante, que transfira a identidade para aqueles níveis em que a alma se torne infusa da realidade do espírito, e finalmente atinja o status de uma realidade espiritual. Essa transferência das ligações materiais para a identificação moroncial é efetuada, de fato, na sinceridade, persistência e na firmeza da decisão, tomada pela criatura humana, de buscar a Deus.
112:3.1 (1229.8) Em geral, os urantianos reconhecem apenas uma espécie de morte: a cessação física das energias da vida. No entanto, no que concerne à sobrevivência da personalidade, há realmente três tipos de morte:
112:3.2 (1229.9) 1. A morte espiritual (da alma). Se e quando o homem mortal finalmente rejeitar a sobrevivência, quando ele houver sido pronunciado espiritualmente insolvente, moroncialmente em bancarrota, na opinião conjunta do Ajustador e do serafim sobrevivente, quando esse conselho coordenado houver sido registrado em Uversa e após os Censores e os seus colaboradores reflectivos haverem verificado essas conclusões, então os governantes de Orvônton ordenam a imediata liberação do Monitor residente. Todavia, essa liberação do Ajustador de nenhum modo afeta os deveres do serafim pessoal, ou grupal, ligado àquele indivíduo abandonado pelo Ajustador. Essa espécie de morte é final no seu significado, a despeito de uma temporária continuação das energias de vida dos mecanismos físicos e mentais. Do ponto de vista cósmico, o mortal já está morto; a vida em continuação indica meramente a persistência do impulso material das energias cósmicas.
112:3.3 (1230.1) 2. A morte mental (ou intelectual, ou da mente). Quando os circuitos vitais da ministração ajudante mais elevada são interrompidos, por meio de aberrações do intelecto ou por causa de uma destruição parcial do mecanismo do cérebro; e, se essas condições ultrapassarem certo ponto crítico de irreparabilidade, o Ajustador residente é imediatamente liberado para partir para Divínington. Nos registros do universo, uma personalidade mortal é considerada como tendo encontrado a morte quando os circuitos mentais essenciais da vontade-ação humana tiverem sido destruídos. E, novamente, isso é morte, a despeito da continuação de funções do mecanismo vivo do corpo físico. O corpo, sem a mente volitiva, não mais é humano; no entanto, de acordo com a escolha anterior dessa vontade humana, a alma de tal indivíduo pode sobreviver.
112:3.4 (1230.2) 3. A morte física (do corpo e da mente). Quando a morte colhe um ser humano, o Ajustador permanece na cidadela da mente até que cesse a sua função como mecanismo inteligente; mais ou menos no momento em que as energias mensuráveis do cérebro cessam as suas pulsações vitais rítmicas. Em seguida a essa dissolução, o Ajustador deixa a mente em desvanecimento, de um modo tão pouco cerimonioso quanto, anos antes, dera entrada nela; seguindo logo para Divínington passando por Uversa.
112:3.5 (1230.3) Após a morte, o corpo material retorna ao mundo elementar do qual ele proveio, mas perduram dois fatores não-materiais da personalidade sobrevivente: o Ajustador do Pensamento preexistente, levando consigo a transcrição da memória da carreira mortal, e que se dirige para Divínington; e, perdura também, sob a custódia do guardião do destino, a alma imortal moroncial do humano falecido. Esses componentes, fases e formas da alma, esses que foram fórmulas cinéticas e que agora são fórmulas estáticas da identidade, são essenciais à repersonalização nos mundos moronciais. E é a reunião do Ajustador e da alma o que reconstitui a personalidade sobrevivente; e que vos reconscientiza no momento do despertar moroncial.
112:3.6 (1230.4) Para aqueles que não têm guardiães seráficos pessoais, os custódios grupais fazem, fiel e eficazmente, o mesmo serviço de salvaguarda da identidade e de ressurreição da personalidade. Os serafins são indispensáveis à reconstituição da personalidade.
112:3.7 (1230.5) Com a morte, o Ajustador do Pensamento perde temporariamente a personalidade, mas não a identidade; o sujeito humano temporariamente perde a identidade, mas não a personalidade; nos mundos das mansões, ambos reúnem-se em uma manifestação eterna. Um Ajustador que tenha partido da Terra nunca retorna para cá com o ser residido anteriormente; nunca a personalidade se manifesta sem a vontade humana; e nunca um ser humano, separado do seu Ajustador, depois da morte, manifesta identidade ativa ou de qualquer maneira estabelece comunicação com os seres vivos da Terra. Separadas dos seus Ajustadores, essas almas permanecem, total e absolutamente, inconscientes durante o longo ou curto sono da morte. Não pode haver nenhuma demonstração, de nenhuma espécie de personalidade, nem existir nada capaz de entrar em comunicação com outras personalidades, até depois de se completar a sobrevivência. Àqueles que vão para os mundos das mansões não lhes é permitido enviar mensagens de volta aos seus seres queridos. A política de todos os universos é proibir tal comunicação durante o período de uma dispensação corrente.
112:4.1 (1231.1) Quando ocorre a morte de uma natureza material, intelectual ou espiritual, o Ajustador despede-se do hospedeiro mortal e dirige-se para Divínington. Das sedes-centrais do universo local e do superuniverso, um contato refletivo é feito com os supervisores de ambos os governos, e o Monitor é registrado pelo mesmo número com que deu entrada nos domínios do tempo.
112:4.2 (1231.2) De algum modo, ainda não inteiramente entendido, os Censores Universais são capazes de ter a posse de um epítome da vida humana, tal qual está incorporado na transcrição duplicada do Ajustador dos valores espirituais e dos significados moronciais da mente residida. Os Censores são capazes de se apropriar da versão que o Ajustador tem, do caráter sobrevivente e das qualidades espirituais do humano falecido, e, todos esses dados, junto com os registros seráficos, estão disponíveis para apresentação, no momento do julgamento do indivíduo em questão. Essa informação é também utilizada para confirmar aqueles mandados do superuniverso que tornam possível a certos seres ascendentes começar imediatamente as suas carreiras moronciais, e esses seres ascendentes, após acontecer a sua dissolução mortal, prosseguem até os mundos das mansões antes do término formal de uma dispensação planetária.
112:4.3 (1231.3) Depois da morte física, exceto nos casos de indivíduos trasladados de entre os vivos, o Ajustador liberado vai imediatamente para a esfera do seu lar em Divínington. Os detalhes do que se passa em Divínington, durante o tempo de espera pelo reaparecimento do mortal sobrevivente, dependem principalmente de se aquele ser humano ascenderá aos mundos das mansões por seu próprio direito individual, ou se deve esperar por um chamado dispensacional dos sobreviventes adormecidos de uma idade planetária.
112:4.4 (1231.4) Se tal mortal pertence a um grupo que será repersonalizado no fim de uma dispensação, o seu Ajustador solidário não retornará imediatamente ao mundo das mansões do sistema prévio de serviço, mas, de acordo com a escolha, entrará numa das seguintes atribuições temporárias:
112:4.5 (1231.5) 1. Incorpora-se às fileiras dos Monitores desaparecidos, para serviço não revelado.
112:4.6 (1231.6) 2. É designado, por um período, para observar o regime do Paraíso.
112:4.7 (1231.7) 3. É incorporado a uma das muitas escolas de aperfeiçoamento de Divínington.
112:4.8 (1231.8) 4. Permanece, por um período, como estudante observador em uma das outras seis esferas sagradas que constituem o circuito do Pai, nos mundos do Paraíso.
112:4.9 (1231.9) 5. É designado para o serviço de mensageiros dos Ajustadores Personalizados.
112:4.10 (1231.10) 6. Torna-se um instrutor, vinculado às escolas de Divínington dedicadas ao aperfeiçoamento de Monitores pertencentes ao grupo virgem.
112:4.11 (1231.11) 7. Encarrega-se de selecionar um grupo de mundos possíveis, nos quais poderá servir, no caso de haver causa razoável para acreditar que o seu parceiro humano possa haver rejeitado a sobrevivência.
112:4.12 (1231.12) Se vós, quando a morte vos colher, houverdes alcançado o terceiro círculo ou um domínio mais elevado e se, portanto, tiverdes, já designado para vós, um guardião pessoal de destino, e se a transcrição final do sumário do caráter sobrevivente, submetida pelo Ajustador, for incondicionalmente certificada pelo guardião do destino — se ambos, o serafim e o Ajustador, essencialmente, concordarem em todos os itens dos seus registros de vida e recomendações — , se os Censores Universais e os seus colaboradores de reflexão, em Uversa, confirmarem esses dados e se o fizerem sem equívoco ou reservas, nesse caso, os Anciães dos Dias enviam um mandado de posição avançada, pelos circuitos de comunicação de Sálvington, e, uma vez assim autorizados, os tribunais do Soberano de Nébadon poderão decretar a passagem imediata da alma sobrevivente para as salas de ressurreição dos mundos das mansões.
112:4.13 (1232.1) Se o indivíduo humano tem sobrevivência imediata, assim eu fui instruído, o Ajustador registra-se em Divínington, continua até a presença do Pai Universal no Paraíso, retorna imediatamente e é abraçado pelos Ajustadores Personalizados do superuniverso e do universo local da sua atribuição, recebe o reconhecimento do Monitor Personalizado Dirigente de Divínington e então, imediatamente, passa à “realização da transição de identidade”, sendo convocado ao terceiro período para o mundo das mansões, na forma real da sua personalidade, assim preparada para receber a alma sobrevivente do mortal terrestre, do modo como essa forma foi projetada pelo guardião do destino.
112:5.1 (1232.2) O eu é uma realidade cósmica, seja ele material, moroncial ou espiritual. A realidade do pessoal é um dom do Pai Universal, que atua por si próprio ou por intermédio das Suas agências múltiplas no universo. Dizer que um ser é pessoal é reconhecer a relativa individualização de tal ser dentro do organismo cósmico. O cosmo vivo é uma agregação de unidades reais, nada mais do que infinita e totalmente integradas, todas as quais estão relativamente sujeitas ao destino do todo. Contudo, as que são pessoais foram dotadas com a escolha factual de uma aceitação do destino, ou de uma rejeição do destino.
112:5.2 (1232.3) O que provém do Pai é eterno como o Pai, e isso é também certo para a personalidade que Deus dá, por escolha do Seu próprio livre-arbítrio, como é o caso do Ajustador do Pensamento divino, o fragmento real de Deus. A personalidade do homem é eterna, mas, com respeito à identidade, ela é uma realidade eterna condicionada. Tendo surgido em resposta à vontade do Pai, a personalidade atingirá o seu destino até a Deidade, mas o homem deve escolher se ele estará ou não presente à realização desse destino. Na falta de tal escolha, a personalidade alcança a Deidade experiencial diretamente, tornando-se uma parte do Ser Supremo. O ciclo está predeterminado, mas a participação do homem nele é opcional, pessoal e experiencial.
112:5.3 (1232.4) A identidade do mortal é uma condição de vida-tempo transitória no universo; ela é real apenas na medida em que a personalidade escolheu tornar-se um fenômeno de continuidade no universo. A diferença essencial entre o homem e um sistema de energia é esta: o sistema de energia deve continuar, não tem escolha; mas o homem tem tudo a ver com a determinação do seu próprio destino. O Ajustador é verdadeiramente o caminho ao Paraíso, mas o homem deve, por si mesmo, seguir esse caminho, por decisão própria, por escolha do seu livre-arbítrio.
112:5.4 (1232.5) Os seres humanos possuem identidade apenas no sentido material. Essas qualidades do eu são expressas pela mente material, enquanto ela funciona no sistema de energia do intelecto. Quando se diz que o homem tem identidade, reconhece-se que ele está de posse de um circuito de mente que foi colocado em subordinação aos atos e à escolha da vontade da personalidade humana. No entanto, essa é uma manifestação material e puramente temporária, exatamente como o embrião humano é um estágio parasitário transitório da vida humana. Os seres humanos, dentro de uma perspectiva cósmica, nascem, vivem e morrem num instante relativo de tempo; eles não perduram. Contudo, a personalidade mortal, por sua própria escolha, possui o poder de transferir o seu assento de identidade, do sistema temporário do intelecto-material, para o sistema mais elevado da alma moroncial, que, em associação com o Ajustador do Pensamento, é criado como um veículo novo para a manifestação da personalidade.
112:5.5 (1233.1) E esse mesmo poder de escolha é a insígnia universal de que o homem é uma criatura com livre-arbítrio, o que constitui a grande oportunidade do homem e a sua responsabilidade cósmica suprema. O destino eterno do futuro finalitor depende da integridade da vontade humana; o Ajustador divino depende da sinceridade do livre-arbítrio, do mortal, para ter personalidade eterna; da fidelidade da escolha do mortal, o Pai Universal depende, para a realização-concretização de um novo filho ascendente; da firmeza e da sabedoria dessas decisões-ações, o Ser Supremo depende para transformar a experiência da evolução em um fato real.
112:5.6 (1233.2) Conquanto os círculos cósmicos do crescimento da personalidade devam finalmente ser atingidos, caso os acidentes do tempo e os obstáculos da existência material impeçam, não por vossa falta, que alcanceis a mestria sobre esses níveis no vosso planeta nativo, se as vossas intenções e desejos forem de valor para a sobrevivência, emitir-se-á a decretação de uma extensão do período de prova. Ser-vos-á dado um tempo adicional no qual vós vos comprovareis.
112:5.7 (1233.3) Quando houver dúvida quanto à aconselhabilidade do avanço de uma identidade humana até os mundos das mansões, os governos do universo determinam, invariavelmente, de acordo com os interesses pessoais daquele indivíduo, e, sem hesitação, fazem avançar tal alma até um status de transição do ser, enquanto eles continuam com as suas observações do intento moroncial nascente e do propósito espiritual. Desse modo, a justiça divina assegura-se de estar sendo cumprida, e à misericórdia divina é conferida uma oportunidade a mais de estender a sua ministração.
112:5.8 (1233.4) Os governos de Orvônton e Nébadon não proclamam a absoluta perfeição de funcionamento minucioso do plano universal de repersonalização do mortal, mas sustentam, sim, manifestar paciência, tolerância, compreensão e compaixão misericordiosa; e tudo isso eles realmente fazem. Seria preferível assumir o risco de uma rebelião sistêmica a arcar com o perigo de privar um mortal esforçado, vindo de qualquer mundo evolucionário, de continuar a sua luta até o eterno regozijo de perseguir a carreira ascensional.
112:5.9 (1233.5) Isso não quer absolutamente dizer que os seres humanos hão de desfrutar de uma segunda oportunidade, em face da rejeição da primeira; de fato, não. Significa, porém, que todas as criaturas de vontade devem experienciar uma verdadeira oportunidade de fazer a sua escolha final, que seja autoconsciente e que não deixe dúvidas. Os Juízes soberanos dos universos não prejudicarão nenhum ser com o status de personalidade, que não haja final e plenamente feito a escolha eterna; à alma do homem será dada uma oportunidade ampla e plena de revelar a sua verdadeira intenção e o seu propósito real.
112:5.10 (1233.6) Quando morrem, os mortais mais avançados, espiritual e cosmicamente, seguem diretamente para o mundo das mansões; em geral, essa disposição funciona para aqueles que já tenham, designados para si, um guardião seráfico pessoal. Os outros mortais podem ser detidos por um tempo tal até que se complete o julgamento dos seus assuntos, após o que eles podem continuar no seu caminho para os mundos das mansões, ou podem ser designados para as fileiras dos sobreviventes adormecidos, que serão repersonalizados em massa, ao final da dispensação planetária corrente.
112:5.11 (1233.7) Há duas dificuldades que são obstáculos para os meus esforços de explicar exatamente o que acontece a vós na morte, ao vós sobrevivente que é distinto do Ajustador que parte. Um dos obstáculos consiste na impossibilidade de passar ao vosso nível de compreensão uma descrição adequada de uma transação que se dá na fronteira entre o reino físico e o moroncial. O outro ocorre devido às restrições a mim colocadas, na minha missão como um revelador da verdade, pelas autoridades celestes governantes de Urântia. Há muitos detalhes interessantes que poderiam ser apresentados, mas eu os omito por conselho dos vossos supervisores planetários imediatos. Contudo, dentro dos limites da minha permissão, eu posso dizer o seguinte:
112:5.12 (1234.1) Há algo real, algo da evolução humana, algo além do Monitor Misterioso, que sobrevive à morte. Essa entidade recém-surgida é a alma; e ela sobrevive tanto à morte do vosso corpo físico quanto à da vossa mente material. Essa entidade é a criança conjunta da vida e dos esforços combinados do vosso eu humano em ligação com o vosso eu divino, o Ajustador. Essa criança, de parentesco humano e divino, constitui o elemento de sobrevivência de origem terrestre; é o eu moroncial, a alma imortal.
112:5.13 (1234.2) Essa criança de significado permanente, e de valor de sobrevivência, fica inteiramente inconsciente durante o período entre a morte e a repersonalização; e permanece sob a custódia do guardião seráfico do destino, em toda essa estação de espera. Vós não funcionareis como um ser consciente, em seguida à vossa morte, até que atinjais a nova consciência moroncial nos mundos das mansões de Satânia.
112:5.14 (1234.3) Na morte, a identidade funcional associada à personalidade humana é interrompida pela cessação do movimento vital. A personalidade humana, ainda que transcenda às suas partes componentes, é dependente delas para a sua identidade funcional. A paralisação da vida destrói os padrões do cérebro físico que proporcionam o dom da mente; e a interrupção da mente termina com a consciência mortal. A consciência dessa criatura não pode surgir depois, até que se haja arranjado uma situação cósmica tal que permita à mesma personalidade humana funcionar de novo, num relacionamento com a energia viva.
112:5.15 (1234.4) Durante o trânsito dos mortais sobreviventes, do seu mundo de origem para os mundos das mansões, quer experienciem a reconstituição da personalidade no terceiro período, quer ascendam na época de uma ressurreição grupal, o registro da constituição da personalidade é fielmente preservado pelos arcanjos nos seus mundos de atividades especiais. Esses seres não são os custódios da personalidade (como os serafins guardiães são da alma); no entanto, é bem verdade que cada fator identificável da personalidade fica eficazmente salvaguardado na custódia desses fiéis e confiáveis legatários da sobrevivência mortal. Quanto ao paradeiro exato da personalidade mortal durante o tempo entre a morte e a sobrevivência, não sabemos.
112:5.16 (1234.5) A situação que torna a repersonalização possível ocorre nas salas de ressurreição dos planetas receptores moronciais do universo local. Ali, nas câmaras de reconstituição da vida, as autoridades supervisoras providenciam as relações de energia — moroncial, mental e espiritual — do universo, que tornam possível a reconscientização do sobrevivente adormecido. A reconstituição das partes constituintes de uma personalidade, que em outro tempo foi material, compreende:
112:5.17 (1234.6) 1. A fabricação de uma forma adequada, um modelo de energia moroncial, na qual o novo sobrevivente possa efetuar contato com a realidade não-espiritual, e dentro da qual a variante moroncial da mente cósmica possa ser religada aos seus circuitos.
112:5.18 (1234.7) 2. O retorno do Ajustador para a criatura moroncial que aguarda. O Ajustador é o custódio eterno da vossa identidade ascendente; o vosso Monitor é a segurança absoluta de que vós, e não outrem, ocupareis a forma moroncial criada para a vossa personalidade que desperta. E o Ajustador estará presente à reconstituição da vossa personalidade para, uma vez mais, assumir o papel de guia do Paraíso para o vosso eu sobrevivente.
112:5.19 (1235.1) 3. Quando esses pré-requisitos de repersonalização houverem sido reunidos, o custódio seráfico das potencialidades da alma imortal adormecida, com a assistência de numerosas personalidades cósmicas, outorga à entidade moroncial a forma mente-corpo moroncial que estava aguardando, enquanto confia esse filho evolucionário do Supremo à vinculação eterna com o Ajustador, que aguarda. E isso completa a repersonalização, a reconstituição da memória, do discernimento interior e da consciência — a identidade.
112:5.20 (1235.2) O evento da repersonalização consiste no fato da tomada de posse, pelo humano que desperta, dessa fase moroncial recém-segregada e ligada aos circuitos da mente cósmica. O fenômeno da personalidade depende da persistência da identidade durante a reação do eu ao ambiente do universo; e esta só pode ser efetuada mediante a intermediação da mente. O eu persiste a despeito de mudanças contínuas, em todos os fatores componentes do ser; na vida física, a mudança é gradual; na morte e na repersonalização, a mudança é instantânea. A verdadeira realidade de toda a individualidade (a personalidade) é capaz de reagir adequadamente às condições do universo, graças à mudança incessante das suas partes constituintes; a estagnação culmina em uma morte inevitável. A vida humana é uma mudança interminável de fatores viventes, unificados pela estabilidade de uma personalidade imutável.
112:5.21 (1235.3) E, quando acordardes nos mundos das mansões de Jerusém, estareis mudados; assim, a transformação espiritual será tão grande que, não fosse pelo vosso Ajustador do Pensamento e pelo guardião do destino, que tão totalmente conectam a vossa nova vida em novos mundos com a vossa velha vida no primeiro mundo, vós teríeis a princípio dificuldade em ligar a nova consciência moroncial com a memória, que se revivifica, da vossa identidade prévia. Não obstante a continuidade da entidade pessoal do eu, muito da vida mortal a princípio pareceria um vago e nebuloso sonho. Todavia, o tempo irá esclarecer muitas lembranças associadas à vossa vida mortal.
112:5.22 (1235.4) O Ajustador do Pensamento recordará e repetirá para vós apenas as memórias e experiências que são uma parte da vossa carreira universal e que são essenciais a ela. Se o Ajustador tem sido um parceiro na evolução de tudo na mente humana, então as experiências válidas sobreviverão na consciência eterna do Ajustador. No entanto, muito da vossa vida passada e das vossas memórias, não tendo nenhum significado espiritual nem valor moroncial, irá perecer com o cérebro material; muito da experiência material irá desaparecer como o fazem os andaimes que, vos havendo conduzido já aos níveis moronciais, não mantêm mais nenhum propósito no universo. Contudo, a personalidade e as relações entre as personalidades nunca são andaimes; a memória mortal das relações das personalidades tem valor cósmico e perdurará. Nos mundos das mansões, vós conhecereis e sereis conhecidos, e mais, lembrareis e sereis lembrados pelos que foram, uma vez, companheiros vossos na vossa vida curta, mas estimulante, em Urântia.
112:6.1 (1235.5) Do mesmo modo que uma borboleta emerge do estágio de lagarta, assim irão emergir as verdadeiras personalidades dos seres humanos nos mundos das mansões, pela primeira vez reveladas livres das suas vestes de carne material. A carreira moroncial no universo local tem a ver com a elevação contínua do mecanismo da personalidade, do nível moroncial inicial de existência da alma até o nível moroncial final da espiritualidade progressiva.
112:6.2 (1235.6) É difícil instruir-vos a respeito das formas da vossa personalidade moroncial que servirão à vossa carreira no universo local. Vós sereis dotados com os modelos moronciais de manifestabilidade da personalidade, e estes são vestimentas que, em última análise, estão além da vossa compreensão. Tais formas, embora totalmente reais, não são os padrões de energia da ordem material, como vós entenderíeis agora. Contudo, elas vos servem, nos mundos do universo local, aos mesmos propósitos que os vossos copos materiais vos serviram nos planetas do vosso nascimento humano.
112:6.3 (1236.1) Até um certo ponto, o surgimento da forma-corpo material é uma resposta ao caráter da identidade da personalidade; o corpo físico reflete, em um determinado grau, algo da natureza inerente da personalidade. E, assim, mais ainda o faz a forma moroncial. Na vida física, os mortais podem ser belos por fora, ainda que sejam pouco amáveis por dentro; na vida moroncial, e de forma crescente, nos seus níveis mais elevados, a forma da personalidade variará diretamente de acordo com a natureza da pessoa interior. No nível espiritual, a forma externa e a natureza interna começam a aproximar-se de uma completa identificação, e isso se dá de forma cada vez mais perfeita nos níveis espirituais bem mais elevados.
112:6.4 (1236.2) No estado moroncial, o mortal ascendente é dotado com a modificação do tipo nebadônico de dom da mente cósmica, do Espírito Mestre de Orvônton. O intelecto mortal, enquanto tal, terá perecido, terá cessado de existir como uma entidade focalizada do universo, à parte dos circuitos mentais indiferenciados do Espírito Criador. Todavia, os significados e valores da mente mortal não terão perecido. Certas fases da mente têm continuidade na alma sobrevivente; certos valores experienciais da mente humana anterior são mantidos pelo Ajustador; e os registros da vida humana, como foi vivida na carne, persistem no universo local, junto com certos registros vivos, nos inúmeros seres que se relacionam com a avaliação final do mortal ascendente, seres que, em alcance e status, se estendem desde o nível de serafim aos de Censores Universais e, provavelmente, mais para além, até o Supremo.
112:6.5 (1236.3) A volição da criatura não pode existir sem mente, mas ela perdura, a despeito da perda do intelecto material. Durante os tempos imediatamente seguintes à sobrevivência, a personalidade ascendente é, em grande medida, guiada pelos padrões de caráter herdados da vida humana, e pela ação da mota moroncial que começa a surgir. E esses guias para a conduta em mansônia funcionam aceitavelmente nos estágios iniciais da vida moroncial e até que a vontade moroncial emerja como uma expressão volitiva plenamente desenvolvida da personalidade ascendente.
112:6.6 (1236.4) Na carreira do universo local, não há influências comparáveis às dos sete espíritos ajudantes da mente, para a existência humana. A mente moroncial deve evoluir pelo contato direto com a mente cósmica, assim como essa mente cósmica foi modificada e transladada para o universo local, pela fonte criativa do intelecto — a Ministra Divina do universo local.
112:6.7 (1236.5) A mente mortal, antes da morte, é autoconscientemente independente da presença do Ajustador; a mente ajudante necessita apenas do padrão de energia-material co-responsável para estar capacitada a funcionar. No entanto, a alma moroncial, sendo supra-ajudante, não retém a autoconscientização sem o Ajustador, quando privada do mecanismo da mente-material. Essa alma em evolução, contudo, possui um caráter contínuo, derivado das decisões da sua mente ajudante solidária anterior, e esse caráter transforma-se em memória ativa quando os seus padrões são energizados com o retorno do Ajustador.
112:6.8 (1236.6) A permanência da memória é prova da retenção da identidade do eu original; é essencial completar a autoconscientização da continuidade e da expansão da personalidade. Aqueles mortais que ascendem sem o Ajustador dependem da instrução dos ajudantes seráficos para a reconstrução da memória humana; fora desse aspecto, as almas moronciais dos mortais fusionados ao Espírito não são limitadas. O padrão de memória persiste na alma, mas esse padrão requer a presença do Ajustador anterior para se tornar imediatamente auto-realizável como memória em continuidade. Sem o Ajustador, o mortal sobrevivente requer um tempo considerável para reexplorar e reaprender, para recuperar a consciência da memória dos significados e dos valores de uma existência anterior.
112:6.9 (1237.1) A alma, com valor de sobrevivência, reflete fielmente tanto as ações e as motivações qualitativas, quanto as quantitativas do intelecto material, que foi o assento anterior da identidade do eu. Na escolha da verdade, da beleza e da bondade, a mente mortal entra na sua carreira pré-moroncial, no universo, sob a tutela dos sete espíritos ajudantes da mente, unificados sob a direção do espírito da sabedoria. Subseqüentemente, ao completar os sete círculos da realização pré-moroncial, a superimposição do dom da mente moroncial sobre a mente ajudante inicia a carreira pré-espiritual ou moroncial da progressão no universo local.
112:6.10 (1237.2) Quando uma criatura deixa o seu planeta nativo, ela deixa o ministério ajudante para trás e torna-se dependente somente do intelecto moroncial. Quando um ser ascendente deixa o universo local, ele terá atingido o nível espiritual de existência, tendo ultrapassado o nível moroncial. Essa entidade espiritual recém-surgida torna-se, então, sintonizada diretamente com o ministério da mente cósmica de Orvônton.
112:7.1 (1237.3) A fusão com o Ajustador do Pensamento confere à personalidade factualidades eternas que previamente eram apenas potenciais. Entre esses novos dons, podem ser mencionados: a fixação da qualidade da divindade, a experiência e a memória da eternidade passada, a imortalidade; e uma fase específica de absolutez potencial.
112:7.2 (1237.4) Quando o vosso curso terreno, na forma temporária, houver decorrido, vós estareis para acordar nas margens de um mundo melhor, até que, finalmente, estareis unidos ao vosso fiel Ajustador num amplexo eterno. E essa fusão constitui o mistério de fazer um, de Deus e do homem, o mistério da evolução da criatura finita, mistério que é eternamente verdadeiro. A fusão é um segredo da esfera sagrada de Ascêndington; e nenhuma criatura, salvo aquelas que experienciaram a fusão com o espírito da Deidade, pode compreender o verdadeiro significado dos valores reais que se somam à identidade quando uma criatura do tempo se torna eternamente una com o espírito da Deidade do Paraíso.
112:7.3 (1237.5) A fusão com o Ajustador é efetivada, de modo geral, enquanto o ser ascendente é residente no seu sistema local. Pode ocorrer no planeta do seu nascimento, como uma transcendência da morte natural; pode ter lugar num dos mundos das mansões ou na sede-central do sistema; pode até mesmo ser retardada até o momento final da estada na constelação; ou, em casos especiais, pode não ser consumada senão quando o ser ascendente estiver na capital do universo local.
112:7.4 (1237.6) Quando a fusão com o Ajustador houver sido efetivada, não mais poderá haver perigo futuro para a carreira eterna de tal personalidade. Os seres celestes são testados por uma longa experiência, os mortais, contudo, passam por uma carreira relativamente curta e por testes intensivos nos mundos evolucionários e nos mundos moronciais.
112:7.5 (1237.7) A fusão com o Ajustador nunca ocorre até que os mandados do superuniverso tenham pronunciado que a natureza humana haja, de fato, feito uma escolha final e irrevogável pela carreira eterna. Essa é a autorização da unicidade, a qual, quando emitida, constitui o caminho aberto de permissão para que a personalidade fusionada finalmente abandone os confins do universo local, para prosseguir, em algum momento, até a sede-central do superuniverso, ponto do qual o peregrino do tempo, num futuro distante, irá enseconafinar-se para o longo vôo até o universo central de Havona e para a aventura da Deidade.
112:7.6 (1238.1) Nos mundos evolucionários, a individualidade do eu é material; é uma coisa no universo e, como tal, está sujeita às leis da existência material. É um fato no tempo, e é sensível às vicissitudes dele. As decisões de sobrevivência devem ser formuladas nesse momento. No estado moroncial, o eu torna-se uma nova realidade do universo, mais duradoura; e o seu crescimento contínuo está baseado na sua crescente sintonia com os circuitos mentais e espirituais dos universos. As decisões de sobrevivência estão agora sendo confirmadas. Quando o eu atinge o nível espiritual, ter-se-á tornado um valor seguro no universo; e esse novo valor funda-se no fato de que as decisões de sobrevivência foram tomadas, fato este que foi confirmado pela fusão eterna com o Ajustador do Pensamento. E, tendo chegado ao status do valor verdadeiro no universo, a criatura torna-se liberada, em potencial, para a busca do valor mais elevado do universo — Deus.
112:7.7 (1238.2) Esses seres fusionados são duais nas suas reações no universo: são indivíduos moronciais separados, discretos, limitados espacialmente, não muito diferentes dos serafins; e são também, em potencial, seres da ordem dos finalitores do Paraíso.
112:7.8 (1238.3) Contudo, o indivíduo fusionado é realmente uma personalidade una, um ser cuja unidade desafia todas as tentativas de análise de qualquer inteligência dos universos. E assim, havendo passado pelos tribunais do universo local, do mais baixo ao mais alto, nenhum dos quais tendo sido capaz de identificar homem ou Ajustador, de distinguir uma parte da outra, vós sereis finalmente levados perante o soberano de Nébadon, o vosso Pai do universo local. E então, das mãos daquele mesmo ser cuja paternidade criadora, nesse universo do tempo, tornou possível a existência da vossa vida, ser-vos-á concedida a credencial que vos dará o direito de prosseguir para sempre na vossa carreira no superuniverso, ao encontro do Pai Universal.
112:7.9 (1238.4) O Ajustador triunfante terá ganhado personalidade pelo magnífico serviço à humanidade, ou haverá o valente ser humano adquirido a imortalidade por esforços sinceros de realizar a semelhança com o Ajustador? Nenhuma das duas coisas; juntos, entretanto, eles terão feito evoluir um membro de uma das ordens únicas de personalidades ascendentes do Supremo, um ser que estará sempre a serviço, que sempre se mostrará fiel e eficiente, um candidato ao crescimento e ao desenvolvimento ulteriores, sempre dirigido para cima e nunca cessando a sua superna ascensão, até que os sete circuitos de Havona hajam sido atravessados e até que aquela que uma vez foi uma alma de origem terrena esteja em atitude adoradora de reconhecimento à personalidade real do Pai no Paraíso.
112:7.10 (1238.5) Ao longo dessa magnífica ascensão, o Ajustador do Pensamento é a garantia divina da futura estabilização espiritual plena do mortal ascendente. Ao mesmo tempo, a presença do livre-arbítrio mortal confere ao Ajustador um canal para a libertação da sua natureza infinita e divina. E agora que essas duas identidades transformaram-se numa única, nenhum evento no tempo ou na eternidade pode jamais separar o homem e o Ajustador; eles são inseparáveis, eternamente fusionados.
112:7.11 (1238.6) Nos mundos de fusão com o Ajustador, o destino do Monitor Misterioso é idêntico ao do mortal ascendente — o Corpo de Finalidade do Paraíso. E nenhum deles, nem o Ajustador, nem o ser mortal, pode atingir essa meta única sem a plena cooperação e a fiel ajuda do outro. Essa extraordinária união constitui um dos mais assombrosos e fascinantes de todos os fenômenos desta idade do universo.
112:7.12 (1239.1) Desde o momento da fusão com o Ajustador, o status do ser ascendente é o da criatura evolucionária. O membro humano foi o primeiro a desfrutar de personalidade e, por conseguinte, está acima do Ajustador em todas as questões que concernem ao reconhecimento da personalidade. A sede-central no Paraíso desse ser fusionado é Ascêndington, não Divínington; e essa combinação, única, de Deus e homem, tem a categoria de um mortal ascendente em todo o seu caminho de elevação até o Corpo de Finalidade.
112:7.13 (1239.2) Uma vez que um Ajustador se haja fundido com um mortal ascendente, o número desse Ajustador é retirado dos registros do superuniverso. O que acontece nos registros de Divínington eu não sei, no entanto faço a conjectura de que o registro desse Ajustador seja removido para os círculos secretos das cortes internas de Grandfanda, o reitor atual do Corpo de Finalidade.
112:7.14 (1239.3) Com a fusão ao Ajustador, o Pai Universal completou a Sua promessa da dádiva de Si mesmo às Suas criaturas materiais; Ele haverá cumprido a promessa, e consumado o plano de outorga eterna da divindade à humanidade. Agora, inicia-se o intento humano de realizar e de tornar factuais as ilimitadas possibilidades que são inerentes à superna união com Deus, que assim se realizou.
112:7.15 (1239.4) O destino conhecido, no presente, dos mortais sobreviventes é o Corpo de Finalidade do Paraíso; essa é também a meta de destino para todos os Ajustadores do Pensamento que se tornam vinculados, em união eterna, aos seus companheiros mortais. No presente, os finalitores do Paraíso estão trabalhando por todo o grande universo, em muitos empeendimentos, mas todos nós conjecturamos que eles irão ter outras tarefas ainda mais supernas a cumprir no futuro distante, após os sete superuniversos haverem sido estabelecidos em luz e vida, e quando o Deus finito houver emergido finalmente do mistério que agora envolve essa Suprema Deidade.
112:7.16 (1239.5) Vós tendes sido instruídos, até uma certa medida, sobre a organização e o pessoal do universo central, dos superuniversos e dos universos locais; foi-vos dito algo sobre o caráter e a origem de algumas das várias personalidades que agora regem essas múltiplas criações. Vós fostes também informados de que, em processo de organização, existem vastas galáxias de universos muito além da periferia do grande universo, no primeiro nível do espaço exterior. E foi sugerido, no curso destas narrativas, que o Ser Supremo está para proclamar a sua função terciária não revelada nessas regiões ainda inexploradas do espaço exterior; e a vós também foi dito que os finalitores do corpo do Paraíso são as crianças experienciais do Supremo.
112:7.17 (1239.6) Acreditamos que os mortais fusionados com os Ajustadores, junto com os seus companheiros finalitores, estejam destinados a funcionar de alguma maneira na administração dos universos do primeiro nível do espaço exterior. Não temos a menor dúvida de que, no tempo devido, essas enormes galáxias transformar-se-ão em universos habitados. E estamos igualmente convencidos de que, entre os administradores daqueles universos, estarão os finalitores do Paraíso, cujas naturezas são uma conseqüência cósmica da combinação de criatura e Criador.
112:7.18 (1239.7) Que aventura! Que epopéia romanesca! Uma criação gigantesca a ser administrada pelos filhos do Supremo, esses Ajustadores personalizados e humanizados, esses mortais Ajustadorizados e eternizados, essas misteriosas combinações e essas eternas associações entre a mais alta manifestação conhecida da essência da Primeira Fonte e Centro e a mais baixa forma de vida inteligente, capaz de compreender e alcançar o Pai Universal. Nós acreditamos que tais seres amalgamados, tais uniões entre Criador e criatura tornar-se-ão governantes extraordinários, administradores incomparáveis, diretores compassivos e compreensivos de toda e qualquer forma de vida inteligente que possa vir a existir, espalhada por esses futuros universos do primeiro nível do espaço exterior.
112:7.19 (1240.1) Verdade, sim, é que vós mortais sois de origem terrena animal; a vossa estrutura é realmente o pó. Contudo, se realmente desejardes e se o quiserdes realmente, certamente a herança das idades será vossa e ireis, algum dia, servir aos universos no vosso verdadeiro caráter — de filhos do Deus Supremo da experiência: filhos divinos do Pai no Paraíso, Pai de todas as personalidades.
112:7.20 (1240.2) [Apresentado por um Mensageiro Solitário de Orvônton.]
O Livro de Urântia
Documento 113
113:0.1 (1241.1) TENDO apresentado as narrativas dos Espíritos Ministradores do Tempo e das Hostes de Mensageiros do Espaço, vamos considerar agora os anjos guardiães, os serafins devotados à ministração aos indivíduos mortais, para cuja elevação e perfeição tem sido provido um vasto esquema de sobrevivência e de progressão espiritual. Nas idades passadas, esses guardiães do destino eram o único grupo de anjos a ter reconhecimento em Urântia. Os serafins planetários, realmente, são espíritos ministradores enviados para servir àqueles que irão sobreviver. Esses serafins assistentes têm funcionado como ajudantes espirituais do homem mortal, em todos os grandes eventos do passado e do presente. Em muitas revelações, “a palavra foi dita pelos anjos”; muitos dos mandados do céu foram “recebidos através da ministração dos anjos”.
113:0.2 (1241.2) Os serafins são os anjos tradicionais do céu; eles são os espíritos ministradores que vivem muito perto de vós e que muito fazem por vós. Eles têm ministrado em Urântia desde os primeiros tempos da inteligência humana.
113:1.1 (1241.3) O ensinamento sobre os anjos guardiães não é um mito; certos tipos de seres humanos, de fato, têm anjos pessoais. Foi em reconhecimento disso que Jesus, ao falar das crianças do Reino do céu, disse: “Cuidai para que não desprezeis nenhum desses pequenos, pois vos digo: os seus anjos sempre discernem a presença do espírito do meu Pai”.
113:1.2 (1241.4) Os serafins, originalmente, eram designados e definidos para cada raça, em separado, de Urântia. Mas, desde a auto-outorga de Michael, eles são designados de acordo com a inteligência humana, a sua espiritualidade e destino. Intelectualmente, a humanidade é dividida em três classes:
113:1.3 (1241.5) 1. Os de mente subnormal — aqueles que não exercem um poder normal de vontade; aqueles que não tomam as decisões normais. Essa classe abrange aqueles que não podem compreender a idéia de Deus; e falta-lhes capacidade para a adoração inteligente da Deidade. Os seres subnormais de Urântia têm um corpo de serafins, uma companhia, com um batalhão de querubins, designados para ministrar a eles e vigiar para que a justiça e a misericórdia lhes sejam estendidas, nas lutas pela vida desta esfera.
113:1.4 (1241.6) 2. O tipo médio, o tipo de mente humana normal. Do ponto de vista da ministração seráfica, a maioria dos homens e mulheres é agrupada em sete classes, de acordo com o seu status de realização dentro dos círculos de progresso humano e de desenvolvimento espiritual.
113:1.5 (1241.7) 3. Os de mente supranormal — aqueles de grande decisão e potencial indubitável de realização espiritual; homens e mulheres que, mais ou menos, gozam de algum contato com os seus Ajustadores residentes; membros dos vários corpos de reserva do destino. Não importa em qual círculo um humano possa estar, se esse indivíduo é convocado para qualquer dos vários corpos de reserva do destino, então, exatamente nesse momento e nessa circunstância, serafins pessoais lhe são designados e, desse momento até que a sua carreira terrena termine, esse mortal vai desfrutar da contínua ministração e do incessante cuidado de um anjo da guarda. Também, quando qualquer ser humano toma a suprema decisão, quando há um compromisso real com o Ajustador, um guardião pessoal é imediatamente designado para aquela alma.
113:1.6 (1242.1) Para o ministério aos chamados seres normais, a designação do Serafim é feita de acordo com a realização humana dentro dos círculos de intelectualidade e de espiritualidade. Vós começais com a vossa mente, de investidura mortal, no sétimo círculo, e avançais interiormente na tarefa de autocompreensão, autoconquista e automestria, e, círculo a círculo, vós avançais até que (se a morte natural não terminar a vossa carreira e transferir as vossas lutas para os mundos das mansões) ireis alcançar o primeiro ou o círculo mais interno de relativo contato e comunhão com o Ajustador residente.
113:1.7 (1242.2) Os seres humanos, no círculo inicial ou sétimo, têm um anjo guardião com uma companhia de querubins assistentes designados para a custódia e guarda de mil mortais. No sexto círculo, um par seráfico, com uma companhia de querubins, é designado para guiar esses mortais ascendentes em grupos de quinhentos. Quando o quinto círculo é alcançado, os seres humanos são agrupados em companhias de aproximadamente cem, e um par de serafins guardiães, com um grupo de querubins, fica encarregado da guarda. Ao atingir o quarto círculo, os seres mortais são reunidos em grupos de dez e, de novo, a guarda é dada a um par de serafins, assistidos por uma companhia de querubins.
113:1.8 (1242.3) Quando uma mente mortal rompe a inércia do legado animal e atinge o terceiro círculo de intelectualidade humana e de espiritualidade adquirida, um anjo pessoal (na verdade, dois deles) irá, daí por diante, estar única e exclusivamente devotado a esse mortal ascendente. E assim, essas almas humanas, além do Ajustador do Pensamento residente sempre presente e cada vez mais eficiente, recebem a assistência integral desses guardiães pessoais do destino e continuam com todos os esforços para terminar a travessia do terceiro círculo e atravessar o segundo, até alcançar o primeiro.
113:2.1 (1242.4) Os serafins não são conhecidos como guardiães do destino até aquele momento em que são designados para se associarem a uma alma humana, a qual haja realizado um, ou mais de um, entre os três feitos seguintes: tomar a decisão suprema de tornar-se semelhante a Deus; alcançar o terceiro círculo; ou tornar-se participante de um dos corpos de reserva do destino.
113:2.2 (1242.5) Na evolução das raças, um guardião do destino é designado ao primeiro ser que alcance o círculo requisitado para essa conquista. Em Urântia, o primeiro mortal a assegurar um guardião pessoal foi Rantowoc, um homem sábio da raça vermelha, de muito tempo atrás.
113:2.3 (1242.6) Para todas as missões angélicas, os serafins são escolhidos de um grupo de voluntários, e as suas atribuições estão sempre de acordo com as necessidades humanas, e considerando o status do par angélico — à luz da experiência, da habilidade e da sabedoria seráficas. Apenas os serafins de longo tempo de serviço, os tipos mais experimentados e testados, são designados como guardiães do destino. Muitos guardiães ganharam experiências valiosas naqueles mundos que são da série de não-fusionamento com o Ajustador. Como os Ajustadores, os serafins atendem a esse tipo de seres apenas por um único período de vida e, em seguida, são liberados para novas designações. Muitos anjos de Urântia tiveram uma experiência prática anterior como guardiães em outros mundos.
113:2.4 (1243.1) Quando os seres humanos falham na sua sobrevivência, os seus guardiães pessoais ou grupais podem reiteradamente servir, numa função semelhante, no mesmo planeta. Os serafins desenvolvem uma consideração sentimental pelos mundos individuais e mantêm um afeto especial por certas raças e tipos de criaturas mortais, com as quais eles estiveram em associação muito próxima e íntima.
113:2.5 (1243.2) Os anjos desenvolvem um afeto duradouro para com os seus companheiros humanos; e vós também iríeis, se pudésseis enxergar os serafins, desenvolver um afeto caloroso por eles. Se vós pudésseis ser despojados dos vossos corpos materiais e se recebêsseis formas espirituais, vós seríeis muito próximos dos anjos, em muitos dos atributos de personalidade. Eles compartilham a maioria das vossas emoções e experimentam outras mais. A única emoção que atua em vós e que, de um certo modo, lhes é difícil de compreender é o medo animal herdado, que atinge, numa proporção muito grande, a vida mental do habitante médio de Urântia. Os anjos realmente acham difícil compreender por que vós permitis, com tanta persistência, que os vossos poderes intelectuais e mesmo a vossa fé religiosa sejam de tal forma dominados pelo medo, tão caprichosamente desmoralizados pelo pânico impensado, cheio de pavor e de ansiedade.
113:2.6 (1243.3) Todos os serafins têm nomes individuais, mas, nos registros de compromissos com o serviço no mundo, eles são freqüentemente designados pelos seus números planetários. Nas sedes-centrais do universo, eles são registrados por nome e número. O guardião de destino do sujeito humano usado para este contato de comunicação tem o número 3, do grupo 17, da companhia 126, do batalhão 4, da unidade 384, da legião 6, da hoste 37, do exército seráfico 182 314 de Nébadon. O número atual de designação planetária desse serafim em Urântia e para esse sujeito humano, é 3 641 852.
113:2.7 (1243.4) No ministério da custódia pessoal, para a designação de anjos como guardiães de destino, os serafins sempre oferecem os seus serviços voluntariamente. Na cidade em que houve essa visitação, um certo mortal foi recentemente admitido no corpo de reserva do destino, e, posto que todos os seres humanos nessas condições sejam pessoalmente atendidos por anjos guardiães, mais de cem serafins qualificados ofereceram-se para essa missão. O diretor planetário selecionou doze, entre os indivíduos mais experimentados, e, posteriormente, apontou o serafim que eles selecionaram como o mais adaptado para guiar esse ser humano na sua jornada na vida. Quer dizer, eles selecionaram um par de serafins igualmente qualificados; um dos dois, desse par seráfico, estará sempre de vigia.
113:2.8 (1243.5) As tarefas seráficas podem ser incansáveis, mas qualquer um dos dois do par angélico pode arcar com todas as responsabilidades do ministério. Como os querubins, geralmente, os serafins servem aos pares, mas, ao contrário dos seus colaboradores menos avançados, os serafins algumas vezes trabalham individualmente. Em quase todos os contatos com os seres humanos, eles podem funcionar como indivíduos. Apenas para a comunicação e o serviço em circuitos mais elevados nos universos é que se fazem necessários os dois anjos.
113:2.9 (1243.6) Quando um par seráfico aceita o compromisso de guardião, eles servem pelo resto da vida ao mesmo ser humano. O complemento do ser (um dos dois anjos) torna-se o registrador da missão. Esses serafins complementares são os anjos registradores dos mortais, nos mundos evolucionários. Os registros são mantidos pelo par de querubins (um querubim e um sanobim) que estão sempre ligados aos guardiães seráficos, mas esses registros estão sempre sob a responsabilidade de um dos serafins.
113:2.10 (1244.1) Com o propósito de descansar e de recarregar-se com a energia vital dos circuitos do universo, o guardião é periodicamente liberado pelo seu complemento e, durante a sua ausência, o querubim solidário funciona como o registrador, como é o caso, também, quando o serafim complementar encontra-se do mesmo modo ausente.
113:3.1 (1244.2) Uma das coisas mais importantes que faz um guardião do destino pelo seu sujeito mortal é efetivar uma coordenação pessoal das numerosas influências impessoais de espíritos que habitam, que rodeiam ou que se impingem à mente e à alma da criatura material em evolução. Os humanos são personalidades, e é extremamente difícil, para os espíritos não pessoais e para as entidades pré-pessoais, fazerem contato direto com mentes tão altamente materiais e isoladamente pessoais. Graças à ministração do anjo guardião, todas essas influências são mais ou menos unificadas e tornadas mais apreciáveis pela natureza moral em expansão da personalidade humana em evolução.
113:3.2 (1244.3) Mais especialmente, esse guardião seráfico pode correlacionar, e assim o faz, as múltiplas agências e influências do Espírito Infinito, abrangendo desde os domínios dos controladores físicos e dos espíritos ajudantes da mente até o Espírito Santo da Ministra Divina e também a presença do Espírito Onipresente da Terceira Fonte e Centro do Paraíso. Havendo, assim, unificado e tornado mais pessoais essas vastas ministrações do Espírito Infinito, o serafim então inicia a correlação entre essa influência integrada do Agente Conjunto e as presenças espirituais do Pai e do Filho.
113:3.3 (1244.4) O Ajustador é a presença do Pai; o Espírito da Verdade, a presença dos Filhos. Esses dons divinos são unificados e coordenados nos níveis mais baixos, que são os da experiência espiritual humana, por meio da ministração do serafim guardião. Os servidores angélicos são dotados para combinar o amor do Pai e a misericórdia do Filho, nas suas ministrações às criaturas mortais.
113:3.4 (1244.5) E nisso revela-se a razão pela qual o guardião seráfico finalmente se torna o custódio pessoal dos padrões mentais, dos padrões de memória e das realidades da alma do sobrevivente mortal, durante aquele intervalo entre a morte física e a ressurreição moroncial. Ninguém, a não ser os filhos ministradores do Espírito Infinito, poderia funcionar assim, visando o bem da criatura humana durante essa fase de transição, de um nível do universo para outro mais elevado. E, mesmo, quando vós entrardes no vosso sono terminal de transição, ao passardes do tempo à eternidade, um alto supernafim, do mesmo modo, compartilhará convosco desse trânsito, como custódio da identidade e da segurança da integridade pessoal da criatura.
113:3.5 (1244.6) No nível espiritual, o serafim torna pessoais muitas ministrações no universo, que, de outro modo, seriam impessoais ou pré-pessoais; eles são coordenadores. No nível intelectual, eles são os correlacionadores da mente e da morôncia; eles são intérpretes. E, no nível físico, eles manipulam o ambiente terrestre por meio da sua ligação com os Mestres Controladores Físicos e por meio da ministração cooperativa junto com as criaturas intermediárias.
113:3.6 (1244.7) Esta é uma exposição das funções múltiplas e intrincadas de um serafim guardião; mas como é que uma personalidade angélica subordinada, criada apenas um pouco acima do nível da humanidade no universo, faz coisas tão complexas e difíceis? Não sabemos realmente, mas conjecturamos que esse ministério fenomênico seja, de um modo não divulgado, facilitado pelo trabalho não revelado e não conhecido do Ser Supremo, a Deidade da factualização dos universos em evolução, do tempo e no espaço. Através de todo o reino de sobrevivência progressiva, no Ser Supremo e por meio Dele, os serafins são uma parte essencial na continuidade da progressão dos mortais.
113:4.1 (1245.1) Os serafins guardiães não são mente, se bem que venham da mesma fonte que também dá origem à mente mortal, o Espírito Criativo. Os serafins são estimuladores da mente; eles continuamente procuram promover decisões, que são realizadoras dos círculos, na mente humana. Eles fazem isso, não como o Ajustador o faz, operando de dentro e por meio da alma; eles o fazem mais de fora para dentro, trabalhando por intermédio do meio ambiente social, ético e moral dos seres humanos. Os serafins não são a atração divina do Pai Universal, o Ajustador; mas eles funcionam como um agência pessoal de ministração do Espírito Infinito.
113:4.2 (1245.2) O homem mortal, sujeito à condução do Ajustador, acha-se também submissível ao guiamento seráfico. O Ajustador é a essência da natureza eterna do homem; o serafim é o mestre para a natureza que evolui no homem — nesta vida, a mente mortal, na próxima, a alma moroncial. Nos mundos das mansões, vós estareis conscientes e sereis sabedores dos instrutores seráficos, mas, na primeira vida, os homens comumente são inconscientes deles.
113:4.3 (1245.3) Os serafins funcionam como mestres para os homens, guiando os passos da personalidade humana pelos caminhos de novas e progressivas experiências. Aceitar o guiamento de um serafim raramente significa conseguir uma vida fácil. Ao seguir essa liderança, vós podeis estar certos de encontrar e, se tiverdes a coragem, de atravessar as montanhas escarpadas da escolha moral e do progresso espiritual.
113:4.4 (1245.4) O impulso da adoração origina-se grandemente nas estimulações espirituais dos ajudantes da mente mais altos, reforçadas pela condução do Ajustador. Todavia, o impulso para a oração, tão freqüentemente experimentado pelos mortais conscientes de Deus, muitas vezes surge como conseqüência da influência seráfica. O serafim guardião está constantemente manipulando o ambiente dos mortais, com o propósito de aumentar o discernimento cósmico do humano ascendente, com o fito de que esse candidato à sobrevivência possa adquirir uma compreensão mais elevada da presença do Ajustador residente, para que se torne, assim, capacitado para alcançar uma cooperação crescente com a missão espiritual da divina presença.
113:4.5 (1245.5) Embora aparentemente não haja nenhuma comunicação entre os Ajustadores residentes e os serafins que rodeiam o homem, eles sempre parecem trabalhar em perfeita harmonia e em um acordo primoroso. Os guardiães são muito ativos, nos momentos em que os Ajustadores são menos ativos, mas a ministração deles é, de alguma maneira, estranhamente correlacionada. Uma cooperação tão extraordinária dificilmente poderia ser acidental, nem incidental.
113:4.6 (1245.6) A personalidade ministradora do serafim guardião, a presença de Deus no Ajustador residente, a ação do circuito do Espírito Santo e a consciência do Filho por meio do Espírito da Verdade estão todos divinamente correlacionados, em unidade significativa de ministração espiritual, em uma e para uma personalidade mortal. Embora partindo de fontes diferentes e de diferentes níveis, essas influências celestes estão todas integradas na presença envolvente e evolutiva do Ser Supremo.
113:5.1 (1245.7) Os anjos não invadem o santuário da mente humana; eles não manipulam a vontade dos mortais; nem fazem contato direto com os Ajustadores residentes. Os guardiães do destino influenciam-vos de todas as maneiras possíveis, coerentes com a dignidade da vossa personalidade; sob nenhuma circunstância, esses anjos interferem com a ação livre da vontade humana. Nem têm os anjos, ou qualquer outra ordem de personalidades no universo, poder ou autoridade para limitar ou cercear as prerrogativas da escolha humana.
113:5.2 (1246.1) Os anjos estão tão próximos de vós e, com tanto sentimento, cuidam de vós, que, figurativamente, “choram por causa da vossa intolerância voluntariosa e da vossa teimosia”. Os serafins não derramam lágrimas físicas; eles não têm corpos físicos; nem possuem asas. Efetivamente, porém, eles têm emoções espirituais e experimentam sensações e sentimentos de uma natureza espiritual, comparável, de certo modo, às emoções humanas.
113:5.3 (1246.2) Os serafins atuam em vosso favor, independentemente dos vossos apelos diretos; eles estão executando os mandados dos seus superiores e, assim, funcionam, apesar dos vossos caprichos ou da inconstância do vosso estado de ânimo. Isso não implica que vós não possais fazer com que a tarefa deles fique mais fácil ou mais difícil, mas significa, sim, que os anjos não se ocupam diretamente dos vossos apelos nem do que pedis nas vossas preces.
113:5.4 (1246.3) Durante a vida na carne, a inteligência dos anjos não está diretamente disponível para os homens mortais. Não são supervisores nem diretores; são simplesmente guardiães. Os serafins vos guardam; eles não procuram diretamente influenciar-vos; vós deveis traçar o vosso próprio curso, mas esses anjos, então, atuam para fazer o melhor uso possível do caminho que vós escolhestes. Eles não intervêm (de ordinário) arbitrariamente na rotina dos afazeres da vida humana. No entanto, quando eles recebem instruções dos seus superiores para executar alguma obra inusitada, vós podeis ficar seguros de que esses guardiães encontrarão algum meio de cumprir as suas ordens. E, pois, eles não se intrometem no quadro do drama humano, exceto nas emergências, e então, em geral, o fazem sob as ordens diretas dos seus superiores. Eles são os seres que irão seguir-vos por muitas idades e estão assim recebendo uma apresentação introdutória ao seu trabalho futuro e às suas associações com a personalidade.
113:5.5 (1246.4) Os serafins são capazes de funcionar como ministros materiais para os seres humanos, sob certas circunstâncias, mas a sua ação nessa função é muito rara. Eles são capazes, com a assistência de criaturas intermediárias e dos controladores físicos, de funcionar em uma ampla gama de atividades em prol dos seres humanos, até mesmo a de fazer contatos factuais com a humanidade, mas essas ocorrências são muito raras. Na maior parte das instâncias, as circunstâncias na esfera material permanecem inalteradas com a ação dos serafins, se bem que tenha havido ocasiões, envolvendo perigo para os laços vitais na evolução humana, nas quais os guardiães seráficos agiram, e adequadamente, por sua própria iniciativa.
113:6.1 (1246.5) Havendo dito algo a vós sobre a ministração dos serafins durante a vida natural, intentarei informar-vos sobre a conduta dos guardiães do destino no momento da dissolução mortal dos humanos a eles associados. Com a vossa morte, os vossos registros, as especificações de identidade e a entidade moroncial da alma humana — que evoluiu por meio do ministério conjunto da mente mortal e do Ajustador divino — são fielmente preservados pelo guardião do destino, junto com todos os outros valores relacionados à vossa futura existência, tudo o que constitui o vosso eu, o vosso eu real, exceto pela identidade de continuidade da existência e pela factualidade ou realidade da personalidade, representadas pelo Ajustador que parte.
113:6.2 (1246.6) No instante em que desaparece da mente humana a chama-piloto de luz, a luminosidade espiritual que o serafim associa à presença do Ajustador, a partir desse momento, o anjo que exerce a guarda reporta-se pessoalmente aos anjos comandantes, sucessivamente, do grupo, da companhia, do batalhão, da unidade, da legião e da hoste; e, após haver sido registrado devidamente para a aventura final no tempo e no espaço, esse anjo recebe a certificação do chefe planetário dos serafins, para que se reporte ao Estrela Vespertino (ou a outro assistente de Gabriel) no comando do exército seráfico desse candidato à ascensão no universo. E ao ser-lhe concedida essa permissão, pelo comandante dessa mais alta unidade organizacional, esse guardião do destino toma o seu caminho para o primeiro mundo das mansões e lá espera pela reconscientização do seu antigo protegido na carne.
113:6.3 (1247.1) No caso em que a alma humana não chega a sobreviver após haver recebido a designação de um anjo pessoal, o serafim atendente deve tomar o rumo da sede-central do universo local para ali testemunhar e atestar sobre a exatidão dos registros completos do seu complemento, como previamente reportado. Em seguida, vai ele perante os tribunais dos arcanjos para ser absolvido da responsabilidade na questão do fracasso do seu sujeito na sobrevivência eterna; e então ele retorna aos mundos para ser designado novamente a um outro mortal de potencialidade ascencional, ou para alguma outra divisão de ministração seráfica.
113:6.4 (1247.2) Os anjos, além disso, ministram às criaturas evolucionárias de muitos modos, além do serviço de guarda pessoal ou grupal. Os guardiães pessoais, cujos sujeitos não vão imediatamente para os mundos das mansões, não permanecem ociosos, à espera do chamado nominal do juízo dispensacional; eles são redesignados para inúmeras missões de ministração em todo o universo.
113:6.5 (1247.3) O serafim guardião é o fiel custódio dos valores de sobrevivência da alma adormecida dos homens mortais, do mesmo modo que o Ajustador, então ausente, é a identidade desse ser imortal no universo. Quando esses dois colaboram nas salas de ressurreição de mansônia, em conjunção com a forma moroncial recentemente fabricada, ocorre a reconstituição dos fatores que constituem a personalidade do mortal ascendente.
113:6.6 (1247.4) O Ajustador identificar-vos-á; o serafim guardião irá repersonalizar-vos e então vos reapresentar ao fiel Monitor dos vossos dias na Terra.
113:6.7 (1247.5) E ainda assim, quando uma idade planetária termina, quando aqueles seres dos círculos mais baixos de realização mortal são reunidos, são os seus guardiães de grupo que os reconstituem, nas salas de ressurreição nas esferas das mansões, assim como dizem as vossas escrituras: “E Ele enviará os seus anjos com uma voz poderosa e reunirá os seus eleitos de um extremo a outro do seu Reino.”
113:6.8 (1247.6) A técnica da justiça requer que os guardiães pessoais ou grupais respondam ao chamado dispensacional, em nome de todas as personalidades não-sobreviventes. Os Ajustadores desses não-sobreviventes não retornam e, quando é feita a chamada, os serafins respondem, mas o Ajustador não se manifesta. Isso constitui a “ressurreição dos injustos”, na realidade, é o reconhecimento formal da cessação da existência da criatura. Essa lista de chamada da justiça ocorre sempre depois do chamado de misericórdia, a ressurreição dos sobreviventes adormecidos. Entretanto, essas são questões que não concernem a ninguém senão aos Juizes supremos e todo-conhecedores dos valores de sobrevivência. Tais questões de julgamento, na verdade, não nos concernem.
113:6.9 (1247.7) Os guardiães grupais podem servir num planeta, idade após idade; e finalmente podem tornar-se os custódios das almas imergidas em sono de milhares e milhares de sobreviventes adormecidos. Eles podem servir assim, em muitos mundos diferentes, num dado sistema, posto que o ato da ressurreição ocorre nos mundos das mansões.
113:6.10 (1247.8) Todos os guardiães pessoais ou grupais, no sistema de Satânia, que se desviaram na rebelião de Lúcifer, não obstante muitos deles haverem-se arrependido sinceramente do seu desvario, estão detidos em Jerusém até o julgamento final da rebelião. Os Censores Universais já tomaram arbitrariamente desses guardiães desobedientes e infiéis todos os aspectos das almas confiadas a eles e colocaram essas realidades moronciais sob a custódia de seconafins voluntários para essa salvaguarda.
113:7.1 (1248.1) Realmente, na carreira de um mortal ascendente, esse primeiro despertar nas terras dos mundos das mansões é uma época memorável; e será ali, pela primeira vez, que podereis enxergar, de fato, os vossos companheiros angélicos há muito amados e sempre presentes nos dias terrenos; e ali também tornar-vos-eis verdadeiramente conscientes da identidade e da presença do Monitor divino que prolongadamente residiu nas vossas mentes na Terra. Essa experiência constitui um despertar glorioso, uma ressurreição verdadeira.
113:7.2 (1248.2) Nas esferas moronciais, os serafins guardiães (há dois deles) serão os vossos companheiros, às claras. Esses anjos não apenas associam-se a vós, de todos os modos possíveis, à medida que progredis na carreira dos mundos de transição, prestando-vos assistência na aquisição do vosso status moroncial e espiritual, mas eles também aproveitam a oportunidade para avançar por meio do estudo nas escolas de extensão para os serafins evolucionários, mantidas nos mundos das mansões.
113:7.3 (1248.3) A raça humana foi criada apenas um pouco abaixo dos tipos mais simples das ordens angélicas. E é por isso que a primeira designação que vos aguarda, na vida moroncial, imediatamente após acordardes e depois de terdes a vossa consciência de personalidade de volta, posteriormente à vossa liberação dos laços da carne, será a de assistentes dos serafins.
113:7.4 (1248.4) Antes de deixarem os mundos das mansões, todos os mortais terão companheiros seráficos ou guardiães permanentes. E, à medida que ascenderdes nas esferas moronciais, serão os guardiães seráficos que afinal testemunharão e certificarão o mandado da vossa união eterna com o Ajustador do Pensamento. Juntos, eles estabeleceram as vossas identidades de personalidade, como filhos da carne, nos mundos do tempo. Em seguida, com o vosso alcançar do estado moroncial maduro, eles vos acompanham, passando por Jerusém e pelos mundos interligados do sistema de progresso e cultura. Após isso, eles irão convosco a Edêntia, com as suas setenta esferas de socialização avançada, e, subseqüentemente, eles vos pilotarão até os mundos dos Melquisedeques e seguirão junto convosco, na magnífica carreira pelos mundos sedes-centrais do universo. E, quando vós houverdes aprendido a sabedoria e a cultura dos Melquisedeques, eles vos levarão até Sálvington, onde vós vos encontrareis face a face com o Soberano de todo o Nébadon. E esses guias seráficos ainda vos seguirão através dos setores maior e menor do superuniverso, e até os mundos de recepção de Uversa; permanecendo convosco até que vós, finalmente, vos enseconafinareis para o longo vôo até Havona.
113:7.5 (1248.5) Alguns dos guardiães do destino, ligados a vós durante a carreira mortal, seguem o curso dos peregrinos ascendentes até Havona. Outros dão um adeus temporário aos seus companheiros mortais de tanto tempo e, então, enquanto esses mortais atravessam os círculos do universo central, esses guardiães do destino fazem a travessia dos círculos de Seráfington. E eles estarão à espera, nas margens do Paraíso, quando os seus companheiros mortais acordarem do seu último sono, em trânsito, para as novas experiências na eternidade. Tais serafins ascendentes, subseqüentemente, abraçam serviços diferentes no corpo dos finalitores e no Corpo Seráfico dos Completos.
113:7.6 (1248.6) Homem e anjo podem, ou não, ser reunidos no serviço eterno; mas, para onde quer que os compromissos seráficos os levem, os serafins estão sempre em comunicação com os seus antigos protegidos dos mundos evolucionários, os mortais ascendentes do tempo. A associação íntima e as ligações afetuosas dos mundos de origem humana nunca são esquecidas, nem rompidas completamente. Nas idades eternas, homens e anjos cooperarão no serviço divino, tal como o fizeram na carreira do tempo.
113:7.7 (1249.1) Para os serafins, o caminho mais seguro de alcançar as Deidades do Paraíso é o de guiar, com êxito, uma alma de origem evolucionária até os portais do Paraíso. Conseqüentemente, esse compromisso de guardião do destino é a tarefa seráfica premiada de modo mais elevado.
113:7.8 (1249.2) Apenas os guardiães do destino são chamados para o Corpo de Finalidade primário ou mortal, e esses pares engajaram-se na aventura suprema da unicidade de identidade; pois os dois seres alcançaram a biunificação espiritual em Seráfington, antes da sua admissão ao Corpo de Finalitores. Durante essa experiência, as duas naturezas angélicas, tão complementares em todas as funções no universo, alcançam a condição espiritual última, dois-em-um, com a repercussão de terem uma nova capacidade para receber e se fundir com um fragmento do Pai do Paraíso, do tipo não-Ajustador. E assim o fazem alguns dos vossos companheiros no tempo, os amorosos serafins, que também se tornam os vossos companheiros finalitores na eternidade, crianças do Supremo e filhos perfeccionados do Pai do Paraíso.
113:7.9 (1249.3) [Apresentado pelo Comandante dos Serafins estacionados em Urântia.]
O Livro de Urântia
Documento 114
114:0.1 (1250.1) OS ALTÍSSIMOS governam nos reinos dos homens por meio de forças, agentes e agências celestes, mas principalmente por meio da ministração dos serafins.
114:0.2 (1250.2) Ao meio-dia de hoje, a lista de chamada dos anjos planetários, guardiães e outros, em Urântia, foi de 501 234 619 pares de serafins. Foram designadas ao meu comando duzentas hostes seráficas — 597 196 800 pares de serafins, ou 1 194 393 600 anjos individuais. O registro, contudo, mostra 1 002 469 238 indivíduos; conseqüentemente, 191 924 362 anjos estiveram ausentes desse mundo, para fazer transporte, como mensageiros e em dever devido a mortes. (Em Urântia há aproximadamente o mesmo número de serafins e de querubins; e são organizados de modo similar.)
114:0.3 (1250.3) Os serafins e os seus querubins solidários têm muito a ver com os detalhes do governo supra-humano de um planeta, especialmente em mundos que foram isolados pela rebelião. Os anjos, habilmente ajudados pelos seres intermediários, funcionam em Urântia, de fato, como os ministros supramateriais que executam os mandados do governador-geral residente e de todos os seus colaboradores e subordinados. Os serafins, como uma classe, estão ocupados com muitos outros compromissos, além daqueles de guarda pessoal ou grupal.
114:0.4 (1250.4) Urântia não está sem um supervisionamento próprio e efetivo dos governantes do sistema, da constelação e do universo. Contudo, o governo deste planeta é diferente do de qualquer outro mundo do sistema de Satânia, e mesmo de Nébadon. Essa singularidade, no vosso plano de supervisão, deve-se a uma série de circunstâncias pouco comuns:
114:0.5 (1250.5) 1. Ao status de Urântia ser um planeta de modificação de vida.
114:0.6 (1250.6) 2. Às premências geradas pela rebelião de Lúcifer.
114:0.7 (1250.7) 3. Às descontinuidades ocasionadas pela falta Adâmica.
114:0.8 (1250.8) 4. Às irregularidades advindas do fato de Urântia haver sido um dos mundos de auto-outorga do Soberano do Universo, Michael de Nébadon, e atual Príncipe Planetário de Urântia.
114:0.9 (1250.9) 5. À função especial dos vinte e quatro diretores planetários.
114:0.10 (1250.10) 6. À existência, no planeta, de um circuito de arcanjos.
114:0.11 (1250.11) 7. À designação, mais recente, de Maquiventa Melquisedeque, já encarnado anteriormente, como Príncipe Planetário vice-regente.
114:1.1 (1250.12) A soberania original de Urântia foi mantida nas mãos do soberano do sistema de Satânia. Inicialmente, delegada por ele a uma comissão conjunta de Melquisedeques e Portadores da Vida, esse grupo funcionou em Urântia até a chegada de um Príncipe Planetário, regularmente constituído. Após a queda do Príncipe Caligástia, à época da rebelião de Lúcifer, Urântia não manteve uma relação segura e estabelecida com o universo local e as suas divisões administrativas, até a consumação da auto-outorga de Michael na carne, quando ele foi proclamado Príncipe Planetário de Urântia, pelo União dos Dias. Tal proclamação, em princípio e com certeza, estabeleceu para sempre o status do vosso mundo, mas, na prática, o Filho Criador Soberano não fez nenhum gesto para a administração pessoal do planeta, a não ser por estabelecer uma comissão em Jerusém, de vinte e quatro outrora urantianos, com autoridade para representá-lo no governo de Urântia e de todos os outros planetas em quarentena, no sistema. Um dos seres desse conselho agora reside permanentemente em Urântia, como governador-geral residente.
114:1.2 (1251.1) Recentemente, foi conferida a Maquiventa Melquisedeque a autoridade de vice-regente, para atuar em nome de Michael, como Príncipe Planetário, mas esse filho do universo local não tomou medida alguma no sentido de modificar o atual regime planetário, que vem de administrações sucessivas dos governadores-gerais residentes.
114:1.3 (1251.2) Há pouca chance de que qualquer mudança marcante seja efetuada no governo de Urântia durante a presente dispensação, a menos que o Príncipe Planetário vice-regente venha para assumir as suas responsabilidades titulares. Quer parecer a alguns dos nossos colegas que em algum momento, no futuro próximo, o plano de enviar um dos vinte e quatro conselheiros a Urântia, para atuar como governador-geral, será substituído pela chegada formal de Maquiventa Melquisedeque, com o seu mandado de vice-regente na soberania de Urântia. Como Príncipe Planetário efetivo, ele continuaria, indubitavelmente, respondendo pelo planeta, até o julgamento final da rebelião de Lúcifer, e provavelmente continuaria até um futuro distante, quando do estabelecimento do planeta em luz e vida.
114:1.4 (1251.3) Alguns acreditam que Maquiventa não virá para assumir pessoalmente a direção dos assuntos urantianos até o fim da dispensação corrente. Outros sustentam que o Príncipe vice-regente pode não vir, como tal, até que Michael retorne em algum momento a Urântia, como prometeu, quando ainda na carne. Outros ainda, inclusive este narrador, aguardam o aparecimento de Melquisedeque a qualquer dia e hora.
114:2.1 (1251.4) Desde os tempos da auto-outorga de Michael no vosso mundo, a administração geral de Urântia tem sido confiada a um grupo especial de Jerusém, de vinte e quatro ex-habitantes de Urântia. A qualificação para ser membro dessa comissão não é conhecida por nós, mas temos observado que todos aqueles que têm sido indicados para ela têm contribuído para o crescimento da soberania do Supremo, no sistema de Satânia. Por natureza, todos eles foram líderes reais quando funcionaram em Urântia (à exceção de Maquiventa Melquisedeque) e essas qualidades de liderança têm sido aumentadas pela experiência nos mundos das mansões e suplementadas pelo aperfeiçoamento da cidadania de Jerusém. Os membros dos vinte e quatro [também chamados “os quatro e vinte”] são indicados pelo gabinete de Lanaforge, secundado pelos Altíssimos de Edêntia, aprovados pela Sentinela Designada de Jerusém, e escolhidos por Gabriel de Sálvington, de acordo com o mandado de Michael. Aqueles que forem apontados temporariamente funcionam tão plenamente quanto os membros permanentes dessa comissão de supervisores especiais.
114:2.2 (1251.5) Essa junta de diretores planetários ocupa-se especialmente da supervisão daquelas atividades que, neste mundo, resultam do fato de que aqui Michael experienciou a sua auto-outorga final. Eles mantêm-se em contato estreito e imediato com Michael, por meio das atividades de ligação de um certo Brilhante Estrela Vespertino, idêntico ao mesmo ser que acompanhou Jesus na sua auto-outorga mortal.
114:2.3 (1252.1) Nos tempos presentes, um certo João, conhecido de vós como o “Batista”, preside a esse conselho quando se reúne em Jerusém. No entanto, o dirigente ex officio desse conselho é a Sentinela Designada de Satânia, ou representante direta e pessoal do Inspetor Associado em Sálvington e do Executivo Supremo de Orvônton.
114:2.4 (1252.2) Os membros dessa mesma comissão de ex-habitantes de Urântia também agem como supervisores assessores dos outros trinta e seis mundos do sistema, isolados por causa da rebelião; eles prestam um serviço valioso, mantendo Lanaforge, o Soberano do Sistema, em contato estreito e compassivo com os assuntos desses planetas, que ainda permanecem mais ou menos sob o supercontole dos Pais da Constelação de Norlatiadeque. Esses “vinte e quatro” conselheiros fazem freqüentes viagens individuais a cada um dos planetas em quarentena, especialmente a Urântia.
114:2.5 (1252.3) Cada um dos outros mundos isolados é aconselhado por comissões semelhantes e de número variável de ex-habitantes, mas essas outras comissões estão subordinadas ao grupo dos vinte e quatro de Urântia. Ao mesmo tempo em que os membros desta última comissão estão ativamente interessados em cada fase do progresso humano, em cada mundo em quarentena de Satânia, eles estão preocupados, especial e particularmente, com o bem-estar e o avanço das raças mortais de Urântia, pois eles não supervisionam imediata e diretamente os assuntos de nenhum outro planeta, exceto Urântia, e mesmo aqui, a sua autoridade não é total, exceto em certos domínios vinculados à sobrevivência mortal.
114:2.6 (1252.4) Ninguém sabe por quanto tempo esses vinte e quatro conselheiros de Urântia continuarão no seu status atual, separados do programa regular de atividades no universo. Eles continuarão, sem dúvida, a servir nas suas funções atuais, até que se produza alguma mudança no status planetário, tal como o fim de uma dispensação ou a posse da autoridade total por parte de Maquiventa Melquisedeque, ou a decisão final no julgamento da rebelião de Lúcifer, ou o reaparecimento de Michael, no mundo da sua última auto-outorga. O atual governador-geral residente de Urântia parece inclinado à opinião de que todos, exceto Maquiventa, possam ser liberados das suas funções, para ascender ao Paraíso, no momento em que o sistema de Satânia for reintegrado aos circuitos da constelação. Contudo, existem também outras opiniões.
114:3.1 (1252.5) A cada cem anos do tempo de Urântia, o corpo de vinte e quatro supervisores planetários de Jerusém designa um, entre eles, para permanecer no vosso mundo e atuar como representante executivo deles, na função de governador-geral residente. Durante os tempos da preparação destas narrativas, esse oficial executivo, o décimo nono a servir como tal, foi mudado e foi sucedido pelo vigésimo. O nome do supervisor planetário atual é ocultado de vós, apenas porque o homem mortal tende a venerar e até mesmo a deificar os seus compatriotas extraordinários e superiores supra-humanos.
114:3.2 (1252.6) O governador-geral residente não tem nenhuma autoridade pessoal de fato, na administração dos assuntos do mundo, exceto como representante dos vinte e quatro conselheiros de Jerusém. Ele atua como coordenador da administração supra-humana e é o líder respeitado e o líder universalmente reconhecido dos seres celestes que atuam em Urântia. Todas as ordens de hostes angélicas consideram-no como o seu diretor coordenador, ao passo que, desde a partida de 1-2-3, o primeiro, o qual se tornou um dos vinte e quatro conselheiros, os seres intermediários unidos realmente consideram os sucessivos governadores-gerais como seus pais planetários.
114:3.3 (1253.1) Embora o governador-geral não possua autoridade pessoal de fato no planeta, ele emite, todo dia, dezenas de regulamentações e decisões, aceitas como finais pelas personalidades envolvidas. Ele é muito mais como um pai que aconselha, do que tecnicamente um mandatário formal. De certo modo, ele funciona como um Príncipe Planetário, mas a sua administração assemelha-se em muito àquela dos Filhos Materiais.
114:3.4 (1253.2) O governo de Urântia é representado, nos conselhos de Jerusém, de acordo com um arranjo por meio do qual o governador-geral que para lá retorna assenta-se como um membro temporário do gabinete do Soberano do Sistema, composto pelos Príncipes Planetários. Era esperado que, quando Maquiventa fosse designado Príncipe vice-regente, ele assumisse imediatamente o seu lugar no conselho dos Príncipes Planetários de Satânia, mas até o momento ele não fez nenhuma menção nesse sentido.
114:3.5 (1253.3) O governo supramaterial de Urântia não mantém uma relação orgânica muito estreita com as unidades mais altas do universo local. De um certo modo, o governador-geral residente representa Sálvington, bem como Jerusém, pois ele atua em nome dos vinte e quatro conselheiros, que são os representantes diretos de Michael e de Gabriel. E, sendo um cidadão de Jerusém, o governador planetário pode funcionar como porta-voz do Soberano do Sistema. As autoridades da constelação são representadas diretamente por um Filho Vorondadeque, o observador de Edêntia.
114:4.1 (1253.4) A soberania de Urântia torna-se ainda mais complicada pelo embargo arbitrário da autoridade planetária, da parte do governo de Norlatiadeque, pouco depois da rebelião planetária. Há, ainda, residente em Urântia, um Filho Vorondadeque, um observador em nome dos Altíssimos de Edêntia, o qual, na ausência de uma ação direta de Michael, é o fiel encarregado da soberania planetária. O observador atual dos Altíssimos (e ex-regente) é o vigésimo terceiro a servir, dessa forma, em Urântia.
114:4.2 (1253.5) Há certos tipos de problemas planetários que ainda estão sob o controle dos Altíssimos de Edêntia, pois a jurisdição sobre eles foi tomada no tempo da rebelião de Lúcifer. A autoridade nessas questões é exercida por um Filho Vorondadeque, o observador de Norlatiadeque, que mantém relações bastante estreitas de aconselhamento junto com os supervisores planetários. Os comissionados da raça são muito ativos em Urântia, e os seus vários chefes de grupo estão informalmente ligados ao observador Vorondadeque, que atua como o seu diretor conselheiro.
114:4.3 (1253.6) Numa crise, o factual dirigente e soberano do governo, exceto para os casos de questões puramente espirituais, seria esse Filho Vorondadeque de Edêntia, agora na posição de observador. (No caso de problemas puramente espirituais e para certas questões puramente pessoais, a autoridade suprema parece haver sido conferida ao arcanjo em comando, agregado da sede-central divisional dessa ordem, recentemente estabelecida em Urântia.)
114:4.4 (1253.7) Um observador Altíssimo detém o poder de tomar nas suas mãos, caso assim decida, o governo planetário em tempos de crise planetária grave, e os registros mostram que isso já aconteceu, trinta e três vezes, na história de Urântia. Em tais momentos, o observador Altíssimo funciona como regente Altíssimo exercendo autoridade inquestionável sobre todos os ministradores e administradores, residentes no planeta, excetuando-se apenas a organização divisional dos arcanjos.
114:4.5 (1253.8) As regências dos Vorondadeques não são peculiares aos planetas isolados pela rebelião, pois os Altíssimos podem intervir a qualquer tempo nos assuntos em tais mundos habitados, interpondo a sabedoria superior dos governantes da constelação aos assuntos dos reinos dos humanos.
114:5.1 (1254.1) A administração de fato, em Urântia, é realmente difícil de descrever. Não existe nenhum governo formal que siga as linhas da organização do universo, como, por exemplo, a separação entre os setores legislativo, executivo e judiciário. Os vinte e quatro conselheiros aproximam-se o mais possível de uma ramificação legislativa do governo planetário. O governador-geral é um chefe executivo provisório e de assessoria, permanecendo o poder do veto com o observador Altíssimo. E não há absolutamente nenhum poder judiciário com autoridade operativa no planeta — apenas as comissões conciliatórias.
114:5.2 (1254.2) A maioria dos problemas que envolve os serafins e os seres intermediários é, por consenso mútuo, decidida pelo governador-geral. No entanto, exceto quando pronuncia os mandados dos vinte e quatro conselheiros, todas as suas decisões estão sujeitas a apelações, às comissões conciliatórias, a autoridades locais, constituídas para funcionar planetariamente, ou mesmo, sujeitas ao Soberano do Sistema de Satânia.
114:5.3 (1254.3) A ausência de um grupo de assessores corpóreos do Príncipe Planetário e a ausência do regime material de um Filho e de uma Filha Adâmica é parcialmente compensada pelo ministério especial dos serafins e pelos serviços incomuns das criaturas intermediárias. A ausência de um Príncipe Planetário é efetivamente compensada pela presença trina, composta dos arcanjos, do observador Altíssimo e do governador-geral.
114:5.4 (1254.4) Esse governo planetário, não muito rigidamente organizado e, de um certo modo, de administração personalizada, tornou-se mais eficiente do que o esperado, em conseqüência da assistência poupadora de tempo dos arcanjos e do seu circuito sempre pronto, o qual é tão freqüentemente utilizado nas emergências planetárias e dificuldades administrativas. Do ponto de vista técnico, o planeta permanece ainda espiritualmente isolado dos circuitos de Norlatiadeque, mas, em uma emergência, essa dificuldade pode ser agora contornada, pela utilização do circuito dos arcanjos. O isolamento planetário não atinge, de fato, os mortais individualmente, desde a efusão do Espírito da Verdade sobre toda a carne realizada há dezenove séculos.
114:5.5 (1254.5) Cada dia administrativo em Urântia começa com uma reunião de consulta, feita com a presença do governador-geral, do dirigente planetário dos arcanjos, do observador Altíssimo, do supernafim supervisor, do dirigente dos Portadores da Vida e dos hóspedes convidados, dentre os altos Filhos do universo ou dentre certos estudantes visitantes que possam estar de permanência no planeta.
114:5.6 (1254.6) O gabinete administrativo, diretamente a serviço do governador-geral, consiste de doze serafins, dos chefes em atuação dos doze grupos de anjos especiais que funcionam como diretores supra-humanos imediatos do progresso e da estabilidade planetários.
114:6.1 (1254.7) Quando o primeiro governador-geral chegou a Urântia, e isso coincidiu com o momento do envio e da efusão do Espírito da Verdade, ele veio acompanhado por doze corpos de serafins especiais, graduados em Seráfington, que foram imediatamente designados para certos serviços planetários especiais. Esses anjos elevados são conhecidos como os serafins mestres da supervisão planetária e, além de estarem sob o supercontole do observador Altíssimo planetário, eles estão sob a direção imediata do governador-geral residente.
114:6.2 (1255.1) Esses doze grupos de anjos, ainda que funcionando sob a supervisão geral do governador-geral residente, são dirigidos diretamente pelo conselho seráfico dos doze, composto dos dirigentes titulares de cada grupo. Esse conselho também serve como gabinete voluntário do governador-geral residente.
114:6.3 (1255.2) Como dirigente planetário dos serafins, eu presido a esse conselho de chefes seráficos; e sou um supernafim da primeira ordem, voluntariamente a serviço em Urântia, como sucessor daquele que, no passado, foi chefe das hostes angélicas do planeta e que caiu em falta na época da secessão de Caligástia.
114:6.4 (1255.3) Os doze corpos de serafins mestres da supervisão planetária funcionam em Urântia como a seguir é exposto:
114:6.5 (1255.4) 1. Os anjos epocais. Estes são os anjos da idade presente, o grupo dispensacional. Esses ministros celestes estão incumbidos da supervisão e direção dos assuntos de cada geração, pois são designados para adequar-se ao mosaico da época em que os fatos estão ocorrendo. O corpo atual de anjos epocais, a serviço em Urântia, é o terceiro grupo designado para o planeta durante a presente dispensação.
114:6.6 (1255.5) 2. Os anjos do progresso. A estes serafins é confiada a tarefa da iniciação do progresso evolucionário das sucessivas idades sociais. Eles fomentam o desenvolvimento, dentro da trajetória inerente às criaturas evolucionárias, e trabalham incessantemente para fazer com que as coisas sejam como elas deveriam ser. O grupo em função, nesse momento, foi o segundo a ser designado para o planeta.
114:6.7 (1255.6) 3. Os guardiães religiosos. Estes são os “anjos das igrejas”, os defensores honestos pelo que é e pelo que tem sido. Eles trabalham para manter os ideais daquilo que sobreviveu, para que seja feita a passagem segura, de uma época para outra, dos valores morais. Eles são como um xeque-mate para os anjos do progresso, a todo tempo buscando transladar, de uma geração a outra, os valores imperecíveis, transformando as formas velhas e passageiras em novas e, portanto, em padrões menos cristalizados de pensamento e conduta. Esses anjos lutam pelas formas espirituais, mas eles não são fonte de ultra-sectarismo, nem das divisões sem sentido surgidas da controvérsia entre os religiosos professos. O corpo em funcionamento, atualmente em Urântia, é o quinto a servir como tal.
114:6.8 (1255.7) 4. Os anjos da vida nacional. Estes são os “anjos das trombetas”, diretores das atuações políticas da vida nacional em Urântia. O grupo agora em funcionamento no supercontole das relações internacionais é o quarto corpo a servir no planeta. É particularmente por intermédio da ministração dessa divisão seráfica que “os Altíssimos governam nos reinos dos homens”.
114:6.9 (1255.8) 5. Os anjos das raças. Aqueles que trabalham para a conservação das raças evolucionárias do tempo, independentemente das suas questões políticas e agrupamentos religiosos. Em Urântia, há remanescentes de nove raças humanas miscigenadas e que culminaram no povo destes tempos modernos. Esses serafins estão intimamente ligados ao ministério dos comissionados da raça, e o grupo atualmente em Urântia é o corpo originalmente designado ao planeta, logo após o Dia de Pentecostes.
114:6.10 (1255.9) 6. Os anjos do futuro. Estes são os anjos dos projetos, que prognosticam uma época futura e planejam a realização de coisas melhores para uma dispensação nova e avançada; eles são os arquitetos das eras sucessivas. O grupo que agora está no planeta tem funcionado como tal desde o começo da dispensação corrente.
114:6.11 (1256.1) 7. Os anjos do esclarecimento. Urântia está recebendo, agora, a ajuda do terceiro corpo de serafins, dedicado a fomentar a instrução no planeta. Esses anjos ocupam-se com o aperfeiçoamento mental e moral, em tudo o que isso concerne aos indivíduos, famílias, grupos, escolas, comunidades, nações e raças inteiras.
114:6.12 (1256.2) 8. Os anjos da saúde. Estes são os ministros seráficos, designados para a assistência às agências mortais que se dedicam à promoção da saúde e à prevenção de doenças. O corpo atualmente presente no planeta é o sexto grupo a servir durante essa dispensação.
114:6.13 (1256.3) 9. Os serafins do lar. Urântia desfruta, agora, dos serviços do quinto grupo de ministros angélicos dedicados à preservação e ao avanço do lar, a instituição básica da civilização humana.
114:6.14 (1256.4) 10. Os anjos da indústria. Este grupo seráfico ocupa-se em fomentar o desenvolvimento industrial e em melhorar as condições econômicas dos povos de Urântia. Esse corpo foi mudado sete vezes, desde a auto-outorga de Michael.
114:6.15 (1256.5) 11. Os anjos das diversões. Estes são os serafins que fomentam o valor do divertimento, do humor e do descanso. Eles procuram elevar sempre as diversões e as recreações do homem, promovendo, desse modo, um aproveitamento melhor do lazer humano. O corpo atual é o terceiro da sua ordem a ministrar em Urântia.
114:6.16 (1256.6) 12. Os anjos do ministério supra-humano. Estes são os anjos dos anjos, são os serafins que estão designados à ministração a todas as outras vidas supra-humanas no planeta, temporária ou permanentemente. Esse corpo tem servido desde o início da dispensação presente.
114:6.17 (1256.7) Quando esses grupos de serafins mestres discordam sobre questões de política ou de procedimento planetário, as suas diferenças são usualmente resolvidas pelo governador-geral, mas todas essas resoluções ficam sujeitas ao apelo, de acordo com a natureza e a gravidade das questões que geram desacordos.
114:6.18 (1256.8) Nenhum desses grupos angélicos exerce o controle direto ou arbitrário sobre o domínio dos seus compromissos. Eles não podem controlar totalmente os assuntos dos seus respectivos domínios de ação, mas podem manipular, e assim o fazem, as condições planetárias; e, assim, associar as circunstâncias de modo a influenciar favoravelmente as esferas da atividade humana às quais estão ligados.
114:6.19 (1256.9) Os serafins mestres da supervisão planetária utilizam-se de muitos meios para levar adiante as suas missões. Eles funcionam como centros ideacionais de compensação, como focalizadores da mente e promotores de projetos. Embora incapazes de injetar concepções novas ou mais elevadas nas mentes humanas, eles atuam, freqüentemente, para intensificar algum ideal mais elevado que já haja surgido em um intelecto humano.
114:6.20 (1256.10) Todavia, fora esses vários meios de ação positiva, os serafins mestres asseguram o progresso planetário contra a ameaça vital, por meio da mobilização, aperfeiçoamento e manutenção do corpo de reserva do destino. A função principal desses reservistas é a de assegurar-se de que não haverá interrupção do progresso evolucionário; eles são as precauções que as forças celestes tomaram contra a surpresa; eles são as garantias contra o desastre.
114:7.1 (1257.1) O corpo de reserva do destino consiste em homens e mulheres vivos, que foram admitidos no serviço especial da administração supra-humana de assuntos do mundo. Esse corpo é constituído de homens e mulheres de cada geração, escolhidos pelos diretores do espírito deste reino para prestar assistência na condução da ministração da misericórdia e da sabedoria aos filhos do tempo nos mundos evolucionários. É prática geral, na condução dos assuntos dos planos de ascensão, começar essa ligação de utilização de criaturas volitivas mortais, tão logo elas hajam-se tornado competentes e confiáveis para assumir tais responsabilidades. Portanto, tão logo surjam os homens e mulheres no cenário da ação temporal, com capacidade mental suficiente, status moral adequado e a espiritualidade requisitada, eles são rapidamente designados para o grupo celeste apropriado de personalidades planetárias, para serem as ligações humanas, os assistentes mortais.
114:7.2 (1257.2) Quando os seres humanos são escolhidos como protetores do destino planetário, quando se tornam indivíduos-chave nos planos que a administração mundial está levando adiante, nesse momento, o dirigente planetário dos serafins confirma a sua entronização com o corpo seráfico e aponta os guardiães pessoais de destino temporais, para servir a tais mortais reservistas. Todos os reservistas têm Ajustadores autoconscientes, e a maioria deles funciona em círculos cósmicos mais elevados de realização intelectual e de alcance espiritual.
114:7.3 (1257.3) Os mortais do reino são escolhidos para o serviço no corpo de reserva do destino nos mundos habitados, em virtude da:
114:7.4 (1257.4) 1. Capacidade especial para ser secretamente treinado para inúmeras missões possíveis de emergência, na conduta de várias atividades dos assuntos do mundo.
114:7.5 (1257.5) 2. Dedicação, com plenitude de coração, a alguma causa especial, seja social, econômica, política, espiritual ou outras; e tendo, em acréscimo, disposição de servir, sem reconhecimento, nem recompensas humanas.
114:7.6 (1257.6) 3. Posse de um Ajustador do Pensamento com extraordinária versatilidade e com provável experiência anterior a esta de Urântia, de enfrentar as dificuldades planetárias e de lutar em situações de emergência iminente no mundo.
114:7.7 (1257.7) Cada divisão do serviço celeste planetário tem direito a um corpo de ligação, constituído desses mortais do destino. Os mundos habitados médios empregam setenta corpos separados do destino, os quais estão intimamente vinculados à condução supra-humana corrente de assuntos do mundo. Em Urântia, existem doze corpos de reserva do destino, um para cada um dos grupos planetários de supervisão seráfica.
114:7.8 (1257.8) Os doze grupos de reservistas do destino de Urântia são compostos de habitantes mortais da esfera, os quais foram treinados para inúmeras posições cruciais na Terra e são mantidos em prontidão, para atuar em possíveis emergências planetárias. Esse corpo combinado consiste, atualmente, em 962 pessoas. O corpo menor conta com 41, e o maior, com 172 pessoas. À exceção de menos de vinte personalidades de contato, os membros desse grupo exclusivo são inteiramente inconscientes da sua preparação para uma possível atuação em certas crises planetárias. Esses reservistas mortais são escolhidos pelo corpo ao qual eles ficam respectivamente ligados e por ele são treinados e preparados, na sua mente profunda, pela técnica combinada do Ajustador do Pensamento e da ministração do guardião seráfico. Muitas vezes, numerosas outras personalidades celestes participam desse aperfeiçoamento inconsciente e, em toda essa preparação especial, os seres intermediários prestam serviços valiosos e indispensáveis.
114:7.9 (1258.1) Em muitos mundos, as criaturas intermediárias secundárias, mais bem adaptadas, são capazes de atingir níveis variáveis de contato com os Ajustadores do Pensamento de certos mortais favoravelmente constituídos, por meio da penetração habilidosa nas mentes resididas pelos referidos Ajustadores (E foi por meio de uma combinação fortuita, de ajustamentos cósmicos, que estas revelações foram materializadas na língua inglesa, em Urântia.) Tais mortais, com potencial de contato nos mundos evolucionários, são mobilizados pelos numerosos corpos de reserva, e é, até certo ponto, por intermédio desses pequenos grupos de personalidades de visão ampla que a civilização espiritual tem o seu avanço, e os Altíssimos tornam-se capacitados para governar nos reinos dos homens. Os homens e as mulheres desses corpos de reserva do destino têm, pois, vários graus de contato com os seus Ajustadores, por meio da ministração intercedente das criaturas intermediárias; mas tais mortais são pouco conhecidos dos seus companheiros, exceto nessas raras emergências sociais e exigências espirituais em que essas personalidades reservistas funcionam para a prevenção da quebra da cultura evolucionária ou da extinção da luz da verdade viva. Esses reservistas do destino, em Urântia, raramente receberam destaque nas páginas da história humana.
114:7.10 (1258.2) Os reservistas atuam inconscientemente como conservadores da informação planetária essencial. Muitas vezes, diante da morte de um reservista, uma transferência de certos dados vitais da mente do reservista agonizante é feita, para a de um sucessor mais jovem, por meio da ligação dos dois Ajustadores do Pensamento. Os Ajustadores, indubitavelmente, funcionam de muitos outros modos desconhecidos para nós, quando vinculados a esse corpo de reserva.
114:7.11 (1258.3) Em Urântia, o corpo de reserva do destino, mesmo não tendo um dirigente permanente, tem os seus próprios conselhos permanentes que constituem a sua organização de governo. Esta abrange o conselho judiciário, o conselho de historicidade, o conselho de soberania política e ainda outros. De tempos em tempos, de acordo com a organização do corpo, os líderes (mortais) titulares de todo o corpo de reserva têm sido indicados por esses conselhos permanentes para funções específicas. A duração da permanência desses chefes da reserva no cargo é, via de regra, uma questão de poucas horas, ficando limitadas ao cumprimento de alguma tarefa específica à mão.
114:7.12 (1258.4) O corpo de reserva de Urântia teve a sua quantidade de membros mais numerosa nos dias dos adamitas e anditas, baixando de forma constante, com a diluição do sangue violeta, e tendo o seu ponto mais baixo por volta da época de Pentecostes, época desde a qual o número de membros do corpo de reserva tem crescido de modo contínuo.
114:7.13 (1258.5) (O corpo cósmico de reserva de cidadãos conscientes do universo, em Urântia, conta atualmente com mais de mil mortais, cujo discernimento interno de cidadania cósmica transcende, em muito, à esfera do seu âmbito terrestre, mas estou proibido de revelar a natureza verdadeira da função deste grupo único de seres humanos vivos.)
114:7.14 (1258.6) Os mortais de Urântia não deveriam permitir que o relativo isolamento do vosso mundo, em relação a certos circuitos do universo local, produza um sentimento de deserção cósmica, nem de orfandade planetária. Há, em operação no planeta, uma supervisão supra-humana muito eficiente e definida para os assuntos do mundo e dos destinos humanos.
114:7.15 (1258.7) É bem verdade, contudo, que, na melhor das hipóteses, vós podeis ter uma idéia apenas limitada do que seria um governo planetário ideal. Desde os tempos iniciais do Príncipe Planetário, Urântia tem sofrido com o desvio do plano divino de crescimento do mundo e de desenvolvimento racial. Os mundos habitados de Satânia, que se mantiveram leais, não são governados como Urântia o é. Contudo, comparados a outros mundos isolados, os vossos governos planetários não têm sido absolutamente tão inferiores; em um ou dois mundos pode o governo ser pior e em uns poucos outros ser ligeiramente melhor, mas a maioria está em um plano de igualdade convosco.
114:7.16 (1259.1) Ninguém no universo local parece saber quando terminará o status não estabelecido da administração planetária. Os Melquisedeques de Nébadon estão inclinados a opinar que pouca mudança ocorrerá no governo e na administração do planeta, até a segunda chegada pessoal de Michael, em Urântia. Indubitavelmente nessa época, se não antes, mudanças enormes serão efetuadas na administração do planeta. Contudo, quanto à natureza de tais modificações nessa administração do mundo, ninguém parece ser capaz, nem mesmo de conjecturar. Não há precedente, para esse episódio, em toda a história dos mundos habitados do universo de Nébadon. Entre as muitas coisas que tornam difícil de compreender qualquer coisa sobre o futuro governo de Urântia, uma das mais importantes tornou-se a localização, no planeta, de um circuito e de uma sede-central divisional de arcanjos.
114:7.17 (1259.2) O vosso mundo isolado não está esquecido, nos conselhos do universo. Urântia não é um órfão cósmico estigmatizado pelo pecado e sem acesso ao cuidado divino, em conseqüência da rebelião. De Uversa a Sálvington, e até abaixo, em Jerusém, mesmo em Havona e no Paraíso, todos sabem que estamos aqui; e vós, mortais, ora residindo em Urântia, estais sendo tão ternamente amados e tão fielmente cuidados, que é como se a esfera nunca houvesse sido traída por um Príncipe Planetário, e mesmo até mais. É eternamente verdadeiro que “o Pai, Ele próprio, vos ama”.
114:7.18 (1259.3) [Apresentado pelo Comandante dos Serafins, estacionado em Urântia.]
O Livro de Urântia
Documento 115
115:0.1 (1260.1) COM Deus, o Pai, a filiação é o grande relacionamento. Com Deus, o Supremo, a realização é o pré-requisito para o status — é preciso fazer alguma coisa, assim como ser alguma coisa.
115:1.1 (1260.2) Os intelectos parciais, incompletos e em evolução estariam desamparados no universo-mestre, seriam incapazes de formar o primeiro modelo de pensamento racional, não fosse pela capacidade inata de toda mente, mais elevada ou mais baixa, de formar um quadro do universo dentro do qual pensar. Se a mente não pode estabelecer conclusões, se não pode penetrar as verdadeiras origens, então essa mente irá, infalivelmente, postular conclusões e inventar origens para que possa ter um meio de pensar logicamente dentro da moldura desses postulados criados pela mente. E, conquanto essas molduras do universo para o pensamento da criatura sejam indispensáveis à operação intelectual racional, elas são, sem exceção, errôneas num grau maior ou menor.
115:1.2 (1260.3) Os quadros conceituais para o universo são apenas relativamente verdadeiros; eles são um andaime útil que deve finalmente ceder o seu lugar diante das expansões de uma compreensão cósmica ampliada. As compreensões da verdade, beleza e bondade, bem como da moralidade, ética, dever, amor, divindade, origem, existência, propósito, destino, tempo, espaço e, até mesmo, da Deidade são apenas relativamente verdadeiras. Deus é muito, muito mais do que um Pai, no entanto, o conceito mais elevado que o homem faz de Deus é o do Pai; um retrato Pai-Filho para a relação Criador-criatura, entretanto, será ampliado por aquelas concepções supramortais da Deidade, que serão alcançadas em Orvônton, em Havona e no Paraíso. O homem deve pensar segundo uma moldura mortal do universo, mas isso não quer dizer que ele não possa visualizar outros quadros mais elevados, dentro dos quais o pensamento possa ter lugar.
115:1.3 (1260.4) Com o fito de facilitar a compreensão mortal do universo dos universos, os níveis diversos da realidade cósmica têm sido designados como finitos, absonitos e absolutos. Desses, apenas o absoluto é eterno irrestritamente, verdadeiramente existencial. Os absonitos e os finitos são derivativos, modificações, qualificações e atenuações da realidade absoluta, original e primordial da infinitude.
115:1.4 (1260.5) Os domínios do finito existem em virtude do propósito eterno de Deus. As criaturas finitas, superiores ou inferiores, podem propor teorias quanto à necessidade do finito na economia cósmica e, assim, o têm feito; mas, em última análise, o finito existe porque Deus assim o quis. O universo não pode ser explicado, nem pode uma criatura finita oferecer uma razão racional para a sua própria existência individual, sem apelar para os atos anteriores e para a vontade preexistente de seres ancestrais, Criadores ou procriadores.
115:2.1 (1261.1) Do ponto de vista existencial, nada de novo pode acontecer nas galáxias, pois o completar da infinitude, inerente ao EU SOU, está eternamente presente nos sete Absolutos, está funcionalmente associado às triunidades e está associado às triodidades de maneira transmissível. Contudo, o fato de que a infinitude esteja assim existencialmente presente nessas associações absolutas, de nenhum modo torna impossível realizar novas experiências cósmicas. Do ponto de vista de uma criatura finita, a infinitude contém muito daquilo que é potencial, muito do que está na ordem de uma possibilidade futura, mais do que na ordem da factualidade presente.
115:2.2 (1261.2) O valor é um elemento único na realidade do universo. Nós não compreendemos como o valor de qualquer coisa infinita e divina provavelmente possa aumentar. No entanto, descobrimos que os significados podem ser modificados, se não ampliados, até mesmo nas relações dentro da Deidade infinita. Para os universos experienciais, até os valores divinos crescem como factualidades, quando se dá a ampliação da compreensão dos significados da realidade.
115:2.3 (1261.3) Todo o esquema da criação universal e da evolução, em todos os níveis da experiência, aparentemente, é uma questão de conversão de potencialidades em factualidades; e essa transmutação, do mesmo modo, tem a ver com os domínios da potência do espaço, da potência da mente e da potência do espírito.
115:2.4 (1261.4) O método aparente, por meio do qual as possibilidades do cosmo são trazidas à existência factual, varia de nível para nível; no finito, é a evolução experiencial e, no absonito, a factualização experiencial. A infinitude existencial é, de fato, não condicionada na sua total-inclusividade, e essa inclusividade total, mesma, deve forçosamente englobar até a possibilidade para a experiência evolucionária finita. A possibilidade para esse crescimento experiencial torna-se uma factualidade no universo, por meio das relações de triodidade que se impingem ao Supremo, e que passam a fazer parte dele.
115:3.1 (1261.5) O cosmo absoluto existe, conceitualmente, sem limitações; definir a extensão e a natureza dessa realidade primordial é atribuir qualificações à infinitude e atenuar o conceito puro de eternidade. A idéia do eterno infinito e do infinito eterno é não condicionada, ou seja, não é definida em extensão, é absoluta de fato. Nenhuma língua de Urântia, seja do passado, do presente ou do futuro, é adequada para expressar a realidade da infinitude ou a infinitude da realidade. O homem, uma criatura finita num cosmo infinito, deve contentar-se com reflexões distorcidas e conceitos pouco nítidos dessa existência ilimitada, sem fronteiras, sem começo nem fim, cuja compreensão fica de fato muito além da capacidade dele.
115:3.2 (1261.6) A mente nunca pode esperar apreender o conceito de um Absoluto sem primeiro intentar quebrar a unidade dessa realidade. A mente é unificadora de todas as divergências, mas, na ausência mesma dessas divergências, a mente não encontra uma base sobre a qual tentar formular conceitos compreensíveis.
115:3.3 (1261.7) A estática primordial da infinitude requer uma segmentação, antes de quaisquer tentativas humanas de compreensão. Há, na infinitude, uma unidade que tem sido expressa, nestes documentos, pelo EU SOU — o postulado primeiro da mente da criatura. No entanto, uma criatura nunca pode compreender de que modo essa unidade se transforma numa dualidade, numa triunidade e numa diversidade, permanecendo ainda como uma unidade inqualificável, ou sem condicionamentos. O homem encontra um problema semelhante quando faz uma pausa e contempla a Deidade indivisa da Trindade, de um lado e, de outro lado, a personalização múltipla de Deus.
115:3.4 (1262.1) Apenas a distância que separa o homem da infinitude é o que leva esse conceito a ser expresso em uma única palavra. Enquanto a infinitude, de um lado, é a UNIDADE, de outro, é a DIVERSIDADE sem fim ou limite. A infinitude, como observada pelas inteligências finitas, é o paradoxo máximo da filosofia da criatura e da metafísica finita. Embora a natureza espiritual do homem alcance, na experiência da adoração, o Pai que é infinito, a capacidade intelectual de compreensão do homem se exaure antes que ele conceba o máximo do Ser Supremo. Além do Supremo, os conceitos passam a ser cada vez mais apenas nomes e cada vez menos designações verdadeiras da realidade; mais e mais se tornam projeções do entendimento finito da criatura na direção do suprafinito.
115:3.5 (1262.2) Uma concepção básica do nível absoluto envolve um postulado de três fases:
115:3.6 (1262.3) 1. Original. O conceito inqualificável (inominável) da Primeira Fonte e Centro, aquela manifestação da fonte do EU SOU na qual toda realidade tem origem;
115:3.7 (1262.4) 2. Factual. A união dos três absolutos da factualidade, da Segunda Fonte e Centro, da Terceira Fonte e Centro, e da Fonte e Centro do Paraíso. Essa triodidade, de Filho Eterno, de Espírito Infinito e de Ilha do Paraíso, constitui a revelação factual da originalidade da Primeira Fonte e Centro;
115:3.8 (1262.5) 3. Potencial. A união dos três Absolutos de potencialidade, o Absoluto da Deidade, o Absoluto Inqualificável e o Absoluto Universal. Essa triodidade de potencialidade existencial constitui a revelação potencial da originalidade da primeira Fonte e Centro.
115:3.9 (1262.6) A interassociação do Original, do Factual e do Potencial produz as tensões, dentro da infinitude, que resultam na possibilidade de crescimento de todo o universo; e o crescimento é a natureza do Sétuplo, do Supremo e do Último.
115:3.10 (1262.7) Na associação do Absoluto da Deidade, do Absoluto Universal e do Absoluto Inqualificável, a potencialidade é absoluta, enquanto a factualidade é emergente; na associação entre a Segunda, a Terceira, e a Fonte e Centro do Paraíso, a factualidade é absoluta, enquanto a potencialidade é emergente; na originalidade da Primeira Fonte e Centro, não podemos dizer que a factualidade e a potencialidade sejam nem existentes nem emergentes — o Pai é.
115:3.11 (1262.8) De um ponto de vista temporal, o Factual é aquilo que foi e que é; o Potencial é aquilo que está vindo a ser e que será; o Original é aquilo que é. De um ponto de vista da eternidade, as diferenças entre o Original, o Factual e o Potencial não são assim aparentes. Essas qualidades trinas não são diferenciadas assim nos níveis da eternidade, do Paraíso. Na eternidade tudo é — só que tudo não foi ainda revelado no tempo e no espaço.
115:3.12 (1262.9) Do ponto de vista de uma criatura, factualidade é substância, potencialidade é capacidade. A factualidade existe sobretudo no centro e, daí, expande-se para o infinito da periferia; a potencialidade vem da periferia da infinitude para dentro e converge para o centro de todas as coisas. A originalidade é aquilo que primeiro causa e, depois, equilibra os movimentos duais do ciclo da realidade, em que os potenciais metamorfoseiam-se em factuais, e em que os factuais existentes são potencializados.
115:3.13 (1262.10) Os três Absolutos da potencialidade operam no nível puramente eterno do cosmo e, pois, nunca funcionam como tais, em níveis subabsolutos. Nos níveis descendentes da realidade, a triodidade da potencialidade é manifestada com o Último e no Supremo. O potencial pode não ter êxito em factualizar-se no tempo, com respeito a uma parte em algum nível subabsoluto, mas com respeito ao conjunto, sempre tem êxito. A vontade de Deus prevalece em ultimidade; nem sempre concernindo ao indivíduo, mas invariavelmente, no que concerne ao todo.
115:3.14 (1263.1) É na triodidade da factualidade que as existências do cosmo têm o seu centro; sejam espírito, mente ou energia, todas estão centradas nessa associação do Filho, do Espírito e do Paraíso. A personalidade do Filho espiritual é o modelo mestre para todas as personalidades em todos os universos. A substância da Ilha do Paraíso é o modelo mestre do qual Havona é uma revelação perfeita e do qual os superuniversos são uma revelação em perfeccionamento. O Agente Conjunto é, a um só tempo, a ativação mental da energia cósmica, a conceituação do propósito do espírito e a integração das causas e efeitos matemáticos dos níveis materiais com os propósitos e motivos volicionais do nível espiritual. Em um universo finito e para um universo finito, o Filho, o Espírito e o Paraíso funcionam no Último, e sobre o Último, do modo como ele está condicionado e qualificado no Supremo.
115:3.15 (1263.2) A Factualidade (da Deidade) é o que o homem busca, na ascensão ao Paraíso. A Potencialidade (da divindade humana) é aquilo que evolui no homem ao longo dessa busca. O Original é o que torna possível a coexistência e a integração entre o homem factual, o homem potencial e o homem eterno.
115:3.16 (1263.3) A dinâmica final do cosmo tem a ver com a transferência contínua que se dá na realidade, da potencialidade para a factualidade. Em teoria, pode haver um final para essa metamorfose, mas, de fato, isso é impossível, já que o Potencial e o Factual estão ambos dentro de um circuito no Original (o EU SOU), e essa identificação torna impossível, para sempre, colocar um limite na progressão do desenvolvimento do universo. O que quer que seja identificado com o EU SOU, não pode nunca ter um fim na sua progressão, já que a factualidade dos potenciais do EU SOU é absoluta, e a potencialidadade dos factuais do EU SOU também é absoluta. Os factuais estarão sempre abrindo novas vias para a realização dos potenciais, até então impossíveis — cada decisão humana não apenas factualiza uma nova realidade, na experiência humana, como também abre uma nova capacidade de crescimento humano. Um homem vive em toda criança, e o progressor moroncial reside no homem maduro conhecedor de Deus.
115:3.17 (1263.4) Uma paralisação, ou estática, no crescimento nunca pode se estabelecer no cosmo total, desde que a base para o crescimento — os factuais absolutos — seja não especificada, e desde que as possibilidades de crescimento — os potenciais absolutos — sejam ilimitadas. De um ponto de vista prático, os filósofos do universo chegaram à conclusão de que não existe uma coisa como um fim.
115:3.18 (1263.5) De um ponto de vista limitado, de fato, há muitos fins, muitas conclusões de atividades; mas, de um ponto de vista mais amplo, e em um nível mais elevado no universo, não existe nenhum fim, o que há são meras transições de uma fase do desenvolvimento para outra. A cronicidade maior, no universo-mestre, diz respeito a várias idades do universo: a idade de Havona, a do superuniverso e as idades dos universos exteriores. Contudo, até mesmo essas divisões básicas, na seqüência das relações, nada mais podem ser do que marcos relativos no interminável caminho da eternidade.
115:3.19 (1263.6) A penetração final na verdade, na beleza e na bondade do Ser Supremo pode dar, à criatura em progresso, apenas uma abertura para as qualidades absonitas da divindade última, as quais repousam muito além dos níveis dos conceitos de verdade, de beleza e de bondade.
115:4.1 (1263.7) Qualquer consideração sobre as origens de Deus, o Supremo, deve começar pela Trindade do Paraíso, pois a Trindade é a Deidade original, enquanto o Supremo é uma Deidade derivada. Qualquer consideração sobre o crescimento do Supremo deve levar em conta as triodidades existenciais, pois elas abrangem toda a factualidade absoluta e toda a potencialidade infinita (em conjunção com a Primeira Fonte e Centro). E o Supremo evolucionário é o foco culminante e pessoalmente volicional da transmutação — a transformação — dos potenciais em factuais, para o nível finito de existência e dentro desse nível. As duas triodidades, a factual e a potencial, abrangem a totalidade das inter-relações para o crescimento dos universos.
115:4.2 (1264.1) A fonte do Supremo está na Trindade do Paraíso — Deidade eterna, factual e indivisa. O Supremo é, antes de tudo, uma pessoa-espírito, e essa pessoa espiritual brota da Trindade. Contudo, o Supremo é, em segundo lugar, uma Deidade de crescimento — crescimento evolucionário — , e esse crescimento deriva-se das duas triodidades, a factual e a potencial.
115:4.3 (1264.2) Se for difícil compreender que as triodidades infinitas possam funcionar no nível finito, fazei uma pausa para considerar que a infinitude nelas deve conter, em si próprias, a potencialidade do finito; a infinitude engloba todas as coisas, que vão da existência finita mais baixa e mais qualificável e condicionada às realidades absolutas mais elevadas e não condicionadas, ou inqualificáveis.
115:4.4 (1264.3) Não é tão difícil compreender que o infinito de fato contenha o finito, quanto compreender como, exatamente, esse infinito factualmente manifesta-se no finito. Todavia, os Ajustadores do Pensamento residentes no homem mortal são uma das provas eternas de que mesmo o Deus absoluto (e enquanto absoluto) pode fazer, e de fato faz, contato direto até mesmo com as mais baixas e insignificantes de todas as criaturas volitivas do universo.
115:4.5 (1264.4) As triodidades, que coletivamente abrangem o factual e o potencial, estão manifestadas no nível finito, em conjunção com o Ser Supremo. A técnica de tal manifestação é tanto direta quanto indireta: direta, visto que as relações de triodidade repercutem diretamente no Supremo, e indireta, visto que elas são derivadas do nível manifesto do absonito.
115:4.6 (1264.5) A realidade suprema, que é a realidade total finita, está em processo de crescimento dinâmico entre os potenciais não qualificáveis do espaço exterior e os factuais não qualificáveis (ilimitados) no centro de todas as coisas. O domínio finito, assim, factualiza-se por meio da cooperação das agências absonitas do Paraíso e das Personalidades Criadoras Supremas do tempo. O ato de amadurecimento das possibilidades qualificáveis dos três grandes Absolutos potenciais é função absonita dos Arquitetos do Universo-Mestre e dos seus associados transcendentais. E, quando essas eventualidades houverem atingido um certo ponto de maturação, as Personalidades Criadoras Supremas emergem do Paraíso para engajar-se na tarefa, que dura toda uma idade, de trazer os universos em evolução à existência factual.
115:4.7 (1264.6) O crescimento da Supremacia deriva-se das triodidades; a pessoa espiritual do Supremo deriva-se da Trindade; mas as prerrogativas de poder do Todo-Poderoso são fundamentadas nos êxitos de divindade de Deus, o Sétuplo, ao passo que a junção das prerrogativas de poder do Supremo Todo-Poderoso com a pessoa-espírito de Deus, o Supremo, dá-se em virtude da ministração do Agente Conjunto, que outorgou a mente do Supremo como fator de conjunção para essa Deidade evolucionária.
115:5.1 (1264.7) O Ser Supremo é absolutamente dependente da existência e da ação da Trindade do Paraíso, no tocante à realidade da sua natureza pessoal e espiritual. Enquanto o crescimento do Supremo é uma questão de relações de triodidade, a personalidade espiritual de Deus, o Supremo, é derivada e dependente da Trindade do Paraíso, que permanece sempre como o centro-fonte absoluto da estabilidade perfeita e infinita em torno da qual o crescimento evolucionário do Supremo desenvolve-se progressivamente.
115:5.2 (1265.1) A função da Trindade está relacionada à função do Supremo, pois a Trindade é funcional em todos os níveis (totais), incluindo o nível de função da Supremacia. Do mesmo modo, porém, que a idade de Havona dá oportunidade à idade dos superuniversos, a ação discernível da Trindade, como criadora imediata, também dá oportunidade aos atos criativos da progênie das Deidades do Paraíso.
115:6.1 (1265.2) A triodidade da factualidade continua a funcionar diretamente nas épocas pós-Havona; a gravidade do Paraíso capta as unidades básicas da existência material, a gravidade espiritual do Filho Eterno opera diretamente sobre os valores fundamentais da existência espiritual, e a gravidade mental do Agente Conjunto inequivocamente arrebata todos os significados vitais da existência intelectual.
115:6.2 (1265.3) No entanto, cada estágio da ação criativa, à medida que avança para fora no espaço não cartografado, funciona e existe cada vez mais distanciado da ação direta das forças criativas e das personalidades divinas da localização central — a absoluta Ilha do Paraíso e as Deidades infinitas ali residentes. Esses níveis sucessivos de existência cósmica tornam-se, portanto, crescentemente dependentes dos desenvolvimentos internos das potencialidades dos três Absolutos da infinitude.
115:6.3 (1265.4) O Ser Supremo engloba possibilidades de ministração cósmica que, aparentemente, não são manifestadas no Filho Eterno, nem no Espírito Infinito, nem nas realidades não pessoais da Ilha do Paraíso. Essa afirmação é feita levando-se devidamente em conta a absolutez dessas três factualidades básicas da deidade, mas o crescimento do Supremo não tem os seus fundamentos apenas nessas factualidades da Deidade e do Paraíso, pois envolve também os desenvolvimentos internos no Absoluto da Deidade, no Absoluto Universal e no Absoluto Inqualificável.
115:6.4 (1265.5) O Supremo cresce não apenas quando os Criadores e as criaturas dos universos em evolução alcançam a semelhança com Deus, mas essa Deidade finita também experimenta crescimento como resultado da mestria, da parte das criaturas e dos Criadores, das possibilidades finitas do grande universo. O movimento do Supremo é duplo: em intensidade, na direção do Paraíso e da Deidade, e em extensão, na direção ilimitada dos Absolutos do potencial.
115:6.5 (1265.6) Na idade presente do universo, esse movimento dual revela-se nas personalidades descendentes e ascendentes do grande universo. As Personalidades Criadoras Supremas e todos os seus associados divinos refletem o movimento divergente, do centro para fora do Supremo, enquanto os peregrinos ascendentes dos sete superuniversos estão indicando o movimento para o centro, a tendência convergente da Supremacia.
115:6.6 (1265.7) A Deidade finita está sempre buscando uma correlação dual: a interna, na direção do Paraíso e suas Deidades, e a externa, na direção da infinitude e seus Absolutos. A erupção poderosa da divindade criadora do Paraíso, personalizada nos Filhos Criadores, cujo poder é manifestado nos controladores do poder, significa um amplo movimento da Supremacia até os domínios da potencialidade, enquanto a procissão interminável das criaturas ascendentes do grande universo é testemunha da poderosa insurgência da Supremacia, na direção de uma unidade com a Deidade do Paraíso.
115:6.7 (1265.8) Os seres humanos têm aprendido que o movimento do invisível pode, algumas vezes, ser discernido observando-se os seus efeitos sobre o visível; e nós, nos universos, há muito aprendemos a detectar os movimentos e tendências da Supremacia, observando as repercussões de tais evoluções nas personalidades e nos modelos do grande universo.
115:6.8 (1266.1) Acreditamos, ainda, embora sem nenhuma certeza, que o Supremo, como um reflexo finito da Deidade do Paraíso, esteja engajado numa progressão eterna até o espaço exterior. Todavia, como uma qualificação dos três potenciais Absolutos do espaço exterior, esse Ser Supremo está sempre buscando a coerência do Paraíso. E esses movimentos duais parecem ser os responsáveis pela maioria das atividades básicas, nos universos atualmente organizados.
115:7.1 (1266.2) Na Deidade do Supremo, o Pai-EU SOU alcançou uma liberação relativamente completa das limitações inerentes ao status da infinitude, à eternidade do ser e à absolutez da natureza. Contudo, Deus, o Supremo, foi libertado de todas as limitações existenciais apenas por haver-se sujeitado às qualificações experienciais da função universal. Alcançando a capacidade para a experiência, o Deus finito igualmente se sujeita à necessidade de adquiri-la; alcançando a liberação da eternidade, o Todo-Poderoso encontra as barreiras do tempo; e o Supremo só pôde conhecer o crescimento e o desenvolvimento como conseqüência de uma existência parcial e de uma natureza incompleta, ou seja, a da não-absolutez do ser.
115:7.2 (1266.3) Tudo isso deve estar de acordo com o plano do Pai, o qual tem pregado o progresso finito por meio do esforço, a realização da criatura pela perseverança e o desenvolvimento da personalidade por meio da fé. Ordenando que a experiência-evolução do Supremo seja assim, o Pai fez com que fosse possível às criaturas finitas existirem nos universos e algum dia alcançarem, pelo progresso experiencial, a divindade da Supremacia.
115:7.3 (1266.4) Toda a realidade, incluindo o Supremo e, mesmo, o Último, é relativa, exceção feita aos valores não condicionados dos sete Absolutos. O fato da existência da Supremacia é fundado no poder do Paraíso, na personalidade do Filho e na ação Conjunta; o crescimento do Supremo, contudo, está ligado ao Absoluto da Deidade, ao Absoluto Inqualificável e ao Absoluto Universal. E essa Deidade sintetizante e unificante — Deus, o Supremo — é a personificação da sombra finita projetada pela unidade infinita da natureza insondável do Pai do Paraíso, a Primeira Fonte e Centro, ao longo do grande universo.
115:7.4 (1266.5) Na medida em que as triodidades são diretamente operativas no nível finito, elas impingem-se ao Supremo, que é a focalização da Deidade e a totalização cósmica das qualificações finitas das naturezas do Factual Absoluto e do Potencial Absoluto.
115:7.5 (1266.6) Considera-se a Trindade do Paraíso como sendo a inevitabilidade absoluta; os Sete Espíritos Mestres aparentemente são as inevitabilidades da Trindade; a factualização em poder-mente-espírito-personalidade do Supremo deve ser a inevitabilidade evolucionária.
115:7.6 (1266.7) Deus, o Supremo, não parece haver sido o inevitável da infinitude irrestrita (ou inqualificável), mas ele parece estar em todos os níveis de relatividade. Ele é o focalizador indispensável da experiência evolucionária, aquele que a sumariza, resume e engloba, unificando efetivamente os resultados dessa modalidade de percepção do real, na sua natureza de Deidade. E tudo isso ele parece fazer com o propósito de contribuir para o surgimento da factualização inevitável, a manifestação supra-experiencial e suprafinita de Deus, o Último.
115:7.7 (1267.1) O Ser Supremo não pode ser plenamente apreciado, sem levar-se em consideração a fonte, a função e o destino: a relação com a Trindade de origem, o universo de atividade e a Trindade Última, de destino imediato.
115:7.8 (1267.2) Pelo processo da somatória das experiências evolucionárias, o Supremo conecta o finito com o absonito, do mesmo modo que a mente do Agente Conjunto integra a espiritualidade divina do Filho pessoal com as energias imutáveis do modelo do Paraíso, e assim como a presença do Absoluto Universal unifica a ativação da Deidade com a reatividade Inqualificável. E essa unidade deve ser uma revelação do trabalho não detectável da unidade original da Primeira Causa-Pai e Fonte-Modelo de todas as coisas e seres.
115:7.9 (1267.3) [Promovido por um Mensageiro Poderoso com permanência temporária em Urântia.]
O Livro de Urântia
Documento 116
116:0.1 (1268.1) SE O HOMEM reconhecesse que, conquanto os seus Criadores — os Seus supervisores imediatos — sejam divinos, são também finitos, e que o Deus do tempo e do espaço é uma Deidade em evolução e não absoluta, então as inconsistências das desigualdades temporais cessariam de ser paradoxos religiosos profundos. Não mais a fé religiosa se prostituiria na auto-suficiência social dos afortunados, ao mesmo tempo em que serviria apenas para encorajar a resignação estóica das vítimas desafortunadas da privação social.
116:0.2 (1268.2) Ao visualizar as esferas primorosamente perfeitas de Havona, não apenas é lógico, mas razoável, acreditar que elas foram feitas por um criador perfeito, infinito e absoluto. Contudo, essa mesma razão e essa mesma lógica compelem qualquer ser honesto, ao ver a confusão, imperfeições e injustiças em Urântia, a concluir que o vosso mundo foi feito, e está sendo administrado por Criadores subabsolutos, pré-infinitos e outros, que não os perfeitos.
116:0.3 (1268.3) O crescimento experiencial implica uma co-participação criatura-Criador — Deus e o homem em uma associação. O crescimento é a marca da Deidade experiencial: Havona não cresceu; Havona é, e sempre tem sido; é existencial como os Deuses eternos, que são a sua fonte. O crescimento, no entanto, é o que caracteriza o grande universo.
116:0.4 (1268.4) O Supremo Todo-Poderoso é uma Deidade de poder e personalidade, viva e em evolução. O seu domínio atual, o grande universo, é também um reino de poder e personalidade em crescimento. O seu destino é a perfeição, mas a sua experiência presente abrange os elementos do crescimento e do status incompleto do ser.
116:0.5 (1268.5) O Ser Supremo funciona primariamente, no universo central, como uma personalidade espiritual; e, secundariamente, no grande universo, como Deus, o Todo-Poderoso, uma personalidade de poder. A função terciária do Supremo, no universo-mestre, é atualmente latente, existindo apenas como um potencial desconhecido de mente. Ninguém sabe o que esse terceiro desenvolvimento do Ser Supremo irá revelar. Alguns acreditam que, quando os superuniversos estiverem estabelecidos em luz e vida, o Supremo funcionará desde Uversa, sendo o soberano Todo-Poderoso e experiencial do grande universo, ao mesmo tempo em que se expandirá em poder como o Todo-Super-Poderoso dos universos exteriores. Outros fazem a conjectura de que o terceiro estágio de Supremacia envolverá o terceiro nível da manifestação da Deidade. Nenhum de nós, porém, sabe realmente.
116:1.1 (1268.6) A experiência da personalidade de toda criatura em evolução é uma fase da experiência do Supremo Todo-Poderoso. A subjugação inteligente de todo segmento físico dos superuniversos é uma parte do controle crescente do Supremo Todo-Poderoso. A síntese criativa de poder e de personalidade é uma parte da urgência criativa da Mente Suprema, e é a essência mesma do crescimento evolucionário da unidade no Ser Supremo.
116:1.2 (1269.1) A união dos atributos de poder e personalidade da Supremacia é função da Mente Suprema; e a evolução completa do Supremo Todo-Poderoso resultará em uma Deidade unificada e pessoal — não em uma associação qualquer, frouxamente coordenada, de atributos divinos. De uma perspectiva mais ampla, não haverá nenhum Todo-Poderoso separadamente do Supremo, nenhum Supremo separadamente do Todo-Poderoso.
116:1.3 (1269.2) Durante as idades evolucionárias, o potencial de poder físico do Supremo, investido nos Sete Diretores do Poder Supremo, e o potencial de mente recaem sobre os Sete Espíritos Mestres. A Mente Infinita é função do Espírito Infinito; a mente cósmica, o ministério dos Sete Espíritos Mestres. A Mente Suprema está em processo de factualização, na coordenação do grande universo e na associação funcional com a revelação e a realização de Deus, o Sétuplo.
116:1.4 (1269.3) A mente do tempo-espaço, a mente cósmica, funciona diferencialmente nos sete superuniversos, mas é coordenada por alguma técnica associativa no Ser Supremo. O controle do grande universo pelo Todo-Poderoso não é exclusivamente físico e espiritual. Nos sete superuniversos, é primordialmente material e espiritual, mas estão presentes também fenômenos do Supremo que são tanto intelectuais quanto espirituais.
116:1.5 (1269.4) Realmente sabemos menos sobre a mente da Supremacia do que sobre qualquer outro aspecto dessa Deidade em evolução. A sua mente é inquestionavelmente ativa em todo o grande universo, e acredita-se que tenha um destino potencial de função no universo-mestre, que é de uma abrangência bem vasta. Eis, porém, o que sabemos bem: conquanto o físico possa alcançar um crescimento completo, e conquanto o espírito possa realizar a perfeição de desenvolvimento, a mente nunca cessa de progredir — ela é a técnica experiencial do progresso sem fim. O Supremo é uma Deidade experiencial, portanto, nunca alcança uma realização completa da mente.
116:2.1 (1269.5) O surgimento da presença do poder universal do Todo-Poderoso é concomitante com o aparecimento do estágio da ação cósmica dos altos criadores e controladores dos superuniversos evolucionários.
116:2.2 (1269.6) Deus, o Supremo, recebe os seus atributos de espírito e de personalidade da Trindade do Paraíso, mas ele factualiza o seu poder nos feitos dos Filhos Criadores, dos Anciães dos Dias e dos Espíritos Mestres, cujos atos coletivos são a fonte do seu poder crescente como soberano Todo-Poderoso para e nos sete superuniversos.
116:2.3 (1269.7) A Deidade Inqualificável do Paraíso é incompreensível para as criaturas em evolução, do tempo e do espaço. A eternidade e a infinitude conotam um nível de realidade da deidade que as criaturas tempo-espaciais não podem compreender. A infinitude da deidade e a absolutez da soberania são inerentes à Trindade do Paraíso, e a Trindade é uma realidade que está algo além do entendimento do homem mortal. As criaturas tempo-espaciais devem ter origens, relatividades e destinos, a fim de captarem as relações do universo e para que compreendam os valores significativos da divindade. Por essa razão, a Deidade do Paraíso atenua e qualifica, ainda, as personalizações extra-Paradisíacas da divindade, trazendo assim, à existência, os Criadores Supremos e os seus coligados, que levam a luz da vida sempre e cada vez mais para longe da sua fonte no Paraíso até encontrarem a sua expressão mais longínqua e bela nas vidas terrenas dos Filhos auto-outorgados nos mundos evolucionários.
116:2.4 (1270.1) E essa é a origem de Deus, o Sétuplo, cujos níveis sucessivos são encontrados pelo homem mortal na seguinte ordem:
116:2.5 (1270.2) 1. Os Filhos Criadores (e os Espíritos Criativos).
116:2.6 (1270.3) 2. Os Anciães dos Dias.
116:2.7 (1270.4) 3. Os Sete Espíritos Mestres.
116:2.8 (1270.5) 4. O Ser Supremo.
116:2.9 (1270.6) 5. O Agente Conjunto.
116:2.10 (1270.7) 6. O Filho Eterno.
116:2.11 (1270.8) 7. O Pai Universal.
116:2.12 (1270.9) Os três primeiros níveis são os Criadores Supremos; os três últimos são as Deidades do Paraíso. O Supremo interpõe-se sempre como a personalização espiritual experiencial da Trindade do Paraíso e como o foco experimental do poder Todo-Poderoso evolucionário dos filhos criadores das Deidades do Paraíso. O Ser Supremo é a revelação máxima da Deidade para os sete superuniversos e para a presente idade do universo.
116:2.13 (1270.10) Pela técnica da lógica dos mortais, poderia ser inferido que a reunificação experiencial dos atos coletivos dos primeiros três níveis de Deus, o Sétuplo, equivaleria ao nível da Deidade do Paraíso, mas não é esse o caso. A Deidade do Paraíso é uma Deidade existencial. Os Criadores Supremos, na sua divina unidade de poder e personalidade, constituem e expressam um novo potencial de poder da Deidade experiencial. E esse potencial de poder, de origem experimental, tem união inevitável e inescapável com a Deidade experiencial originária da Trindade — o Ser Supremo.
116:2.14 (1270.11) Deus, o Supremo, não é a Trindade do Paraíso, e ele também não é nenhum dos Criadores superuniversais, cujas atividades funcionais factualmente sintetizam o seu poder Todo-Poderoso em evolução. Deus, o Supremo, mesmo tendo origem na Trindade, torna-se manifesto às criaturas evolucionárias como uma personalidade de poder apenas por intermédio das funções coordenadas dos três primeiros níveis de Deus, o Sétuplo. O Supremo Todo-Poderoso está-se factualizando agora, no tempo e no espaço, por meio das atividades das Personalidades Criadoras Supremas, assim como o próprio Agente Conjunto, na eternidade, passou instantaneamente a ser, pela vontade conjunta do Pai Universal e do Filho Eterno. Esses seres dos três primeiros níveis de Deus, o Sétuplo, são a natureza mesma e a fonte do poder do Supremo Todo-Poderoso; e por isso eles devem sempre acompanhar e sustentar os seus atos administrativos.
116:3.1 (1270.12) As Deidades do Paraíso não apenas atuam diretamente nos seus circuitos de gravidade, em todo o grande universo, mas funcionam também por intermédio das suas várias agências e de outras manifestações, tais como:
116:3.2 (1270.13) 1. As focalizações de mente da Terceira Fonte e Centro. Os domínios finitos da energia e do espírito são literalmente mantidos unidos pelas presenças mentais do Agente Conjunto. Isso é verdade, desde os Espíritos Criativos, em um universo local, aos Espíritos Refletivos de um superuniverso e até os Espíritos Mestres no grande universo. Os circuitos da mente que emanam dos focos dessas várias inteligências representam a arena cósmica da escolha da criatura. A mente é a realidade flexível que as criaturas e os Criadores podem, muito prontamente, manipular; é o vínculo vital que conecta a matéria e o espírito. O outorgamento da mente, da Terceira Fonte e Centro, unifica a pessoa espiritual de Deus, o Supremo, com o poder experiencial do Todo-Poderoso evolucionário.
116:3.3 (1271.1) 2. As revelações de personalidade da Segunda Fonte e Centro. As presenças mentais do Agente Conjunto unificam o espírito da divindade com o modelo arquetípico de energia. As encarnações auto-outorgadas do Filho Eterno e dos seus Filhos do Paraíso unificam, fundem, na verdade, a natureza divina do Criador com a natureza em evolução de uma criatura. O Supremo é tanto a criatura quanto o criador; a possibilidade de ser assim é revelada nos atos de auto-outorga do Filho Eterno e dos seus Filhos coordenados e subordinados. As ordens de filiação que se auto-outorgam, os Michaéis e os Avonais, de fato acrescentam às suas naturezas divinas as naturezas das criaturas que, na boa-fé, se tornaram suas ao viver uma vida de criatura nos mundos evolucionários. Quando a divindade se transforma em humanidade, fica inerente a essa relação a possibilidade de que a humanidade possa tornar-se divina.
116:3.4 (1271.2) 3. As presenças residentes da Primeira Fonte e Centro. A mente unifica as causações espirituais com as reações de energia; o ministério da auto-outorga unifica a descida da divindade com as ascensões da criatura; e os fragmentos residentes do Pai Universal, de fato, unificam as criaturas em evolução com Deus, no Paraíso. Há muitas dessas presenças do Pai que residem em numerosas ordens de personalidades, e, no homem mortal, esses fragmentos divinos de Deus são os Ajustadores do Pensamento. Os Monitores Misteriosos são para os seres humanos o que a Trindade do Paraíso é para o Ser Supremo. Os Ajustadores são fundamentos absolutos e, sobre fundações absolutas, a escolha do livre-arbítrio pode fazer com que evolua a realidade divina de uma natureza eternalitora; no caso do homem, será finalitora; no caso de Deus, o Supremo, terá a natureza da Deidade.
116:3.5 (1271.3) As auto-outorgas das ordens de filiação do Paraíso, junto às criaturas, capacitam tais Filhos divinos a enriquecer as suas personalidades pela aquisição da natureza factual das criaturas do universo e, ao mesmo tempo, tais auto-outorgas infalivelmente revelam, para as próprias criaturas, o trajeto até o Paraíso, para alcançar a divindade. A dádiva dos Ajustadores, feita pelo Pai Universal, capacita-O a atrair para Si as personalidades das criaturas volitivas. E, por intermédio de todas essas relações, nos universos finitos, o Agente Conjunto é a fonte sempre presente da ministração da mente, em virtude da qual tais atividades acontecem.
116:3.6 (1271.4) Deste e de muitos outros modos, as Deidades do Paraíso participam das evoluções do tempo; desdobrando-se nos planetas que circulam no espaço, e culminando na emergência da personalidade do Supremo, conseqüência de toda a evolução.
116:4.1 (1271.5) A unidade do Todo Supremo depende da unificação progressiva das partes finitas; a factualização do Supremo resulta dessas mesmas unificações dos fatores da supremacia e as produz — os criadores, as criaturas, as inteligências e as energias dos universos.
116:4.2 (1272.1) Durante essas idades, nas quais a soberania da Supremacia está passando pelo tempo do seu desenvolvimento, o poder Todo-Poderoso do Supremo é dependente dos atos divinos de Deus, o Sétuplo, enquanto parece haver uma relação particularmente íntima entre o Ser Supremo e o Agente Conjunto e as suas personalidades primárias, os Sete Espíritos Mestres. O Espírito Infinito, enquanto Agente Conjunto, funciona de muitas maneiras que compensam o estado incompleto da Deidade evolucionária e sustenta relações muito íntimas com o Supremo. Essa proximidade de relação é compartilhada, na sua medida, por todos os Sete Espíritos Mestres, mas o é especialmente pelo Espírito Mestre Número Sete, que fala pelo Supremo. Esse Espírito Mestre conhece o Supremo — está em contato pessoal com ele.
116:4.3 (1272.2) Muito cedo, na proposição do esquema da criação do superuniverso, os Espíritos Mestres uniram-se à Trindade ancestral, para a co-criação dos quarenta e nove Espíritos Refletivos, e concomitantemente, o Ser Supremo funcionou criativamente como um culminador dos atos conjuntos da Trindade do Paraíso e dos filhos criativos da Deidade do Paraíso. Majeston surgiu e, desde então, tem focalizado a presença cósmica da Mente Suprema, enquanto os Espíritos Mestres continuam como fontes-centros para a vasta ministração da mente cósmica.
116:4.4 (1272.3) Contudo, os Espíritos Mestres continuam na supervisão dos Espíritos Refletivos. O Sétimo Espírito Mestre está (da sua supervisão geral de Orvônton, a partir do universo central) em contato pessoal com os sete Espíritos Refletivos localizados em Uversa (e tem o supercontrole deles). Nos seus controles e nas suas administrações intersuperuniversais e intra-superuniversais, ele está em contato refletivo com os Espíritos Refletivos do seu próprio tipo, localizados em cada capital dos superuniversos.
116:4.5 (1272.4) Esses Espíritos Mestres são não apenas os sustentadores e intensificadores da soberania da Supremacia, mas são, por sua vez, afetados pelos propósitos criativos do Supremo. Ordinariamente, as criações coletivas dos Espíritos Mestres são de uma ordem quase material (os diretores de potência, etc.), enquanto as suas criações individuais são da ordem espiritual (os supernafins, etc.). Todavia, quando os Espíritos Mestres produziram coletivamente os Sete Espíritos dos Circuitos, em resposta à vontade e ao propósito do Ser Supremo, deve ser notado que a progênie gerada nesse ato criativo é espiritual, não é material nem quase material.
116:4.6 (1272.5) E, como é com os Espíritos Mestres dos superuniversos, assim é com os governantes trinos dessas supercriações — os Anciães dos Dias. Essas personificações do julgamento-justiça da Trindade, no tempo e no espaço, são os campos de apoio para o poder mobilizador Todo-Poderoso do Supremo, servindo de pontos focais sétuplos para a evolução da soberania trinitária, nos domínios do tempo e do espaço. Do seu ponto vantajoso, entre o Paraíso e os mundos em evolução, esses soberanos originários da Trindade vêem nos dois sentidos, conhecem ambos os lados e coordenam ambos os lados.
116:4.7 (1272.6) Os universos locais são, porém, os laboratórios reais nos quais se realizam as experiências com a mente, as aventuras galáticas, os desdobramentos da divindade e as progressões da personalidade, que, quando totalizadas cosmicamente, constituem a fundação real sobre a qual o Supremo está concretizando a evolução da deidade, na experiência e por meio dela.
116:4.8 (1272.7) Nos universos locais, até mesmo os Criadores evoluem: a presença do Agente Conjunto evolui de um foco de poder vivo até o status da divina personalidade de um Espírito Materno do Universo; o Filho Criador evolui da natureza de uma divindade existencial do Paraíso até a natureza experiencial da soberania suprema. Os universos locais são os pontos de partida da verdadeira evolução, os locais de desova de personalidades imperfeitas de boa-fé, dotadas com o poder de livre escolha, para tornar-se co-criadoras de si próprias, tais como deverão ser.
116:4.9 (1273.1) Os Filhos Magisteriais, com as suas auto-outorgas nos mundos evolucionários, finalmente adquirem naturezas que expressam a divindade do Paraíso em unificação experiencial com os valores espirituais mais elevados da natureza humana material. E, por intermédio dessas e de outras auto-outorgas, os Michaéis Criadores, do mesmo modo, adquirem as naturezas e os pontos de vista cósmicos dos seus filhos reais do universo local. Esses Filhos, os Criadores Mestres, estão perto de completar a experiência subsuprema; e, quando a sua soberania no universo local se amplia até abraçar os Espíritos Criativos coligados, pode ser dito que ela se aproxima dos limites da supremacia, dentro dos potenciais presentes do grande universo evolucionário.
116:4.10 (1273.2) Quando os Filhos auto-outorgadores revelam novos caminhos para o homem encontrar Deus, eles não estão criando esses caminhos de alcance da divindade; eles estão, antes, iluminando as estradas perenes de progressão que, passando pela presença do Supremo, conduzem à presença do Pai do Paraíso.
116:4.11 (1273.3) O universo local é o ponto de partida para aquelas personalidades que estão mais distantes de Deus e que podem, por isso, experimentar o maior grau de ascensão espiritual no universo, que podem realizar o máximo de participação experiencial na co-criação de si próprias. Esses mesmos universos locais proporcionam, do mesmo modo, a maior profundidade possível de experiência para as personalidades descendentes, que assim realizam algo que para elas é tão significativo quanto a ascensão ao Paraíso o é para uma criatura evolucionária.
116:4.12 (1273.4) O homem mortal parece ser necessário à plena função de Deus, o Sétuplo, na medida em que esse agrupamento da divindade culmina no Supremo, em factualização. Há muitas outras ordens de personalidades do universo que são igualmente necessárias à evolução do poder Todo-Poderoso do Supremo, mas esse modo de retratar as coisas é apresentado para a edificação dos seres humanos, e, portanto, torna-se bastante limitado aos fatores que colaboram para a evolução de Deus, o Sétuplo, relacionados ao homem mortal.
116:5.1 (1273.5) Vós fostes instruídos sobre a relação de Deus, o Sétuplo, com o Ser Supremo, e devíeis agora reconhecer que o Sétuplo abrange os controladores tanto quanto os criadores do grande universo. Esses controladores sétuplos do grande universo abrangem o seguinte:
116:5.2 (1273.6) 1. Os Mestres Controladores Físicos.
116:5.3 (1273.7) 2. Os Centros Supremos de Poder.
116:5.4 (1273.8) 3. Os Diretores Supremos do Poder.
116:5.5 (1273.9) 4. O Supremo Todo-Poderoso.
116:5.6 (1273.10) 5. O Deus da Ação — o Espírito Infinito.
116:5.7 (1273.11) 6. A Ilha do Paraíso.
116:5.8 (1273.12) 7. A Fonte do Paraíso — o Pai Universal.
116:5.9 (1273.13) Esses sete grupos são funcionalmente inseparáveis de Deus, o Sétuplo, e constituem o nível de controle físico dessa associação da Deidade.
116:5.10 (1273.14) A bifurcação entre energia e espírito (que brota da presença conjunta do Filho Eterno e da Ilha do Paraíso) foi simbolizada no sentido do superuniverso, quando os Sete Espíritos Mestres se engajaram, unidos, no seu primeiro ato coletivo de criação. Esse episódio testemunhou o surgimento dos Sete Diretores Supremos do Poder. Ao mesmo tempo, os circuitos espirituais dos Espíritos Mestres diferenciaram-se, por contraste, das atividades físicas de supervisão dos diretores de potência e, imediatamente, a mente cósmica surgiu como um fator novo, coordenando a matéria e o espírito.
116:5.11 (1274.1) O Supremo Todo-Poderoso está evoluindo como supracontrolador do poder físico do grande universo. Na idade universal atual, esse potencial de poder físico parece estar centrado nos Sete Diretores Supremos do Poder, que operam por intermédio de localizações fixas dos centros de potência e por meio das presenças móveis dos controladores físicos.
116:5.12 (1274.2) Os universos do tempo não são perfeitos; a perfeição é o destino deles. A luta pela perfeição pertence não apenas aos níveis intelectuais e espirituais, mas também ao nível físico da energia e da massa. O estabelecimento dos sete super universos em luz e vida pressupõe que eles alcancem a sua estabilidade física. E conjectura-se que o alcançar final do equilíbrio material signifique a evolução completa do controle físico do Todo-Poderoso.
116:5.13 (1274.3) Nos primeiros tempos da elaboração do universo, até mesmo os Criadores do Paraíso estão envolvidos primordialmente com o equilíbrio material. O modelo de um universo local toma forma não apenas como resultado das atividades dos centros de potência, mas também em conseqüência da presença espacial do Espírito Criativo. E, durante essas épocas iniciais de construção dos universos locais, o Filho Criador demonstra atributos pouco compreensíveis de controle material, e não abandona o seu planeta capital até que haja sido estabelecido o equilíbrio global do universo local, em linhas gerais.
116:5.14 (1274.4) Em última análise, toda a energia responde à mente, e os controladores físicos são os filhos do Deus da mente, que é o ativador do arquétipo do Paraíso. A inteligência dos diretores de potência está ininterruptamente devotada à tarefa de estabelecer o controle material. A luta deles pelo domínio físico sobre as relações energéticas e os movimentos da massa nunca cessa, até que consigam a vitória finita sobre as energias e as massas, as quais constituem os domínios perpétuos da atividade deles.
116:5.15 (1274.5) As lutas do espírito no tempo e no espaço concernem à evolução da dominação do espírito sobre a matéria, pela intermediação da mente (pessoal); a evolução (não pessoal) física dos universos cuida de colocar a energia cósmica em harmonia com os conceitos mentais de equilíbrio, sujeitos ao supercontrole do espírito. A evolução total, no conjunto, do grande universo é uma questão de unificação, na personalidade, da mente que controla a energia, com o intelecto coordenado ao espírito, e será revelada no surgimento pleno do poder Todo- Poderoso do Supremo.
116:5.16 (1274.6) A dificuldade de alcançar um estado de equilíbrio dinâmico é inerente ao fato do crescimento do cosmos. Os circuitos estabelecidos da criação física estão sendo continuamente ameaçados pelo aparecimento de novas energias e de novas massas. Um universo em crescimento é um universo não estabelecido; conseqüentemente, nenhuma parte do todo cósmico pode encontrar estabilidade verdadeira antes que a plenitude do tempo testemunhe a realização completa dos sete superuniversos.
116:5.17 (1274.7) Nos universos estabelecidos em luz e vida, não há acontecimentos físicos inesperados de importância maior. Neles, um controle relativamente completo sobre a criação material já foi atingido; os problemas das relações entre os universos estabelecidos e os universos em evolução, entretanto, continuam a desafiar a habilidade dos Diretores do Poder do Universo. Contudo, esses problemas desaparecerão gradualmente com a diminuição da atividade de novas criações, à medida que o grande universo se aproxima da culminância da expressão evolucionária.
116:6.1 (1275.1) Nos superuniversos evolucionários, a energia-matéria é dominante, exceto na personalidade, dentro da qual o espírito luta pelo controle e mestria mediante a intermediação da mente. A meta dos universos evolucionários é a subjugação da energia-matéria, pela mente, a coordenação da mente com o espírito, e tudo isso em virtude da presença criativa e unificadora da personalidade. Assim, em relação à personalidade, os sistemas físicos tornam-se subordinados; os sistemas mentais, coordenados; e os sistemas espirituais tornam-se dirigentes.
116:6.2 (1275.2) Essa união de poder e personalidade exprime-se, nos níveis da deidade, no Supremo e como o Supremo. A evolução factual do domínio do espírito é, porém, um crescimento baseado nos atos de livre-arbítrio dos Criadores e das criaturas do grande universo.
116:6.3 (1275.3) Em níveis absolutos, a energia e o espírito são um. No entanto, no momento em que se sai desses níveis absolutos, a diferença aparece e, à medida que a energia e o espírito, saindo do Paraíso, movem-se no sentido do espaço, o abismo entre eles se amplia, até que, nos universos locais, eles se tornam completamente divergentes. Não mais são idênticos, nem semelhantes mais são, e a mente deve interferir para interrelacioná-los.
116:6.4 (1275.4) O fato de que a energia possa ser direcionada pela ação das personalidades controladoras revela a resposta da energia à ação da mente. Que a massa possa ser estabilizada por meio da ação dessas mesmas entidades controladoras é um fato que indica a resposta que a massa dá à presença da mente, a qual gera um comando de ordem. E que o próprio espírito, na personalidade volitiva, possa esforçar-se por meio da mente, para obter a mestria da energia-matéria, revela a unidade potencial de toda criação finita.
116:6.5 (1275.5) Há uma interdependência entre todas as forças e personalidades em todo o universo dos universos. Os Filhos Criadores e os Espíritos Criativos dependem da função cooperativa dos centros de potência e dos controladores físicos para a organização dos universos; os Diretores Supremos do Poder são incompletos, sem o supercontrole dos Espíritos Mestres. Em um ser humano, o mecanismo da vida física responde, em parte, aos ditames da mente (pessoal). Essa mesma mente pode, por sua vez, tornar-se dominada pelos guiamentos do espírito com propósito, e o resultado de tal desenvolvimento evolucionário é a produção de um novo filho do Supremo, uma nova unificação pessoal das várias espécies de realidade cósmica.
116:6.6 (1275.6) E assim como é com as partes, assim é com o todo; a pessoa espiritual da Supremacia requer o poder evolucionário do Todo-Poderoso para a realização completa da Deidade e para alcançar o destino de associação com a Trindade. O esforço é feito pelas personalidades do tempo e do espaço, mas, a culminância e a consumação desse esforço é ato do Supremo Todo-Poderoso. E, enquanto o crescimento do todo é, assim, uma totalização do crescimento coletivo das partes, segue-se igualmente que a evolução das partes seja um reflexo segmentado do crescimento propositado do todo.
116:6.7 (1275.7) No Paraíso, monota e espírito são como um — indistinguíveis, exceto pelo nome. Em Havona, matéria e espírito, conquanto sejam distinguivelmente diferentes, são, ao mesmo tempo, inatamente harmoniosos. Nos sete superuniversos, contudo, há uma grande divergência, há um grande abismo entre a energia cósmica e o espírito divino; e, por isso, há um maior potencial experiencial de ação da mente para harmonizar e finalmente unificar o modelo físico aos propósitos espirituais. Nos universos do espaço, em evolução com o tempo, há uma atenuação maior da divindade, e problemas mais difíceis de serem resolvidos, e mais oportunidade de adquirir experiência ao solucioná-los. E toda essa situação no superuniverso traz ao ser uma arena maior de existência evolucionária, na qual a possibilidade da experiência cósmica torna-se disponível, do mesmo modo, para a criatura e para o Criador — e até mesmo para a Deidade Suprema.
116:6.8 (1276.1) A predominância do espírito, que é existencial, em níveis absolutos, torna-se uma experiência evolucionária em níveis finitos e nos sete superuniversos. E essa experiência é compartilhada do mesmo modo por todos, do homem mortal ao Ser Supremo. Todos se empenham, pessoalmente esforçam-se, nesta realização; todos participam, pessoalmente partilham, do destino.
116:7.1 (1276.2) O grande universo não é apenas uma criação material de grandeza física, de sublimidade espiritual e de magnitude intelectual, é também um organismo vivo magnífico e sensível. Há vida real pulsando em todo o mecanismo da vasta criação do cosmo vibrante. A realidade física dos universos simboliza a realidade perceptível do Supremo Todo-Poderoso; e esse organismo material vivo é perpassado por circuitos de inteligência, do mesmo modo que o corpo humano é atravessado por uma malha de rotas de sensações neurais. Esse universo físico é permeado por canais de energia que ativam efetivamente a criação material, do mesmo modo que o corpo humano é nutrido e energizado pela distribuição circulatória dos produtos assimiláveis, portadores da energia de nutrição. O vasto universo não é desprovido dos centros coordenadores de um supercontrole magnífico, que poderiam ser comparados aos delicados sistemas de controle químico do mecanismo humano. Se vós, porém, conhecêsseis apenas um pouco sobre o físico de um centro de potência, então nós poderíamos, por analogia, contar-vos muito mais sobre o universo físico.
116:7.2 (1276.3) Do mesmo modo que os mortais contam com a energia solar para a manutenção da vida, o grande universo depende das energias inesgotáveis que emanam do Paraíso inferior, para sustentar as atividades materiais e os movimentos cósmicos do espaço.
116:7.3 (1276.4) A mente foi dada aos mortais para que possam tornar-se conscientes da própria identidade e da personalidade; e a mente — uma Mente Suprema mesmo — foi outorgada à totalidade do finito para que o espírito dessa personalidade nascente do cosmo se empenhe sempre na mestria sobre a matéria-energia.
116:7.4 (1276.5) O homem mortal é sensível ao guiamento do espírito, do mesmo modo que o grande universo responde à imensa atração da gravidade espiritual do Filho Eterno, à coesão supramaterial universal dos valores espirituais eternos de todas as criações do cosmo finito do tempo e do espaço.
116:7.5 (1276.6) Os seres humanos são capazes de fazer uma auto-identificação perene com a realidade total e indestrutível do universo — a fusão com o Ajustador do Pensamento residente. Do mesmo modo, o Supremo depende perenemente da estabilidade absoluta da Deidade Original, a Trindade do Paraíso.
116:7.6 (1276.7) O impulso do homem para a perfeição do Paraíso, o seu esforço de alcançar a Deus, cria uma tensão genuína de divindade, no cosmo vivo, que pode ser resolvida apenas com a evolução de uma alma imortal; é isso o que acontece na experiência de cada criatura mortal individual. Contudo, quando todas as criaturas e todos os Criadores no grande universo, do mesmo modo esforçam-se para alcançar a Deus e à perfeição divina, é gerada uma tensão cósmica profunda, que só pode encontrar sua resolução na síntese sublime do poder Todo-Poderoso na pessoa espiritual do Deus em evolução de todas as criaturas, o Ser Supremo.
116:7.7 (1277.1) [Promovido por um Mensageiro Poderoso com permanência temporária em Urântia.]
O Livro de Urântia
Documento 117
117:0.1 (1278.1) Á MEDIDA que fizermos a vontade de Deus, qualquer que seja o ponto do universo no qual possamos ter a nossa existência, nessa mesma medida, o potencial Todo-Poderoso do Supremo torna-se um passo mais factual. A vontade de Deus significa o propósito da Primeira Fonte e Centro, como é potencializado nos três Absolutos, personalizado no Filho Eterno, conjugado ao Espírito Infinito para atuação no universo e eternizado nos arquétipos eternos do Paraíso. E Deus, o Supremo, está-se transformando na mais elevada manifestação finita da vontade total de Deus.
117:0.2 (1278.2) Se todos os seres do grande universo sempre realizassem, ao menos relativamente, a vontade viva e plena de Deus, então as criações do tempo-espaço estabelecer-se-iam em luz e vida, e o Todo-Poderoso, deidade potencial da Supremacia, então, tornar-se-ia factual no surgimento da personalidade divina de Deus, o Supremo.
117:0.3 (1278.3) Quando uma mente em evolução coloca-se em sintonia com os circuitos da mente cósmica, quando um universo em evolução passa à estabilização, segundo o modelo do universo central, quando um espírito em avanço contata a ministração unificada dos Espíritos Mestres, quando uma personalidade mortal em ascensão finalmente sintoniza-se com a condução divina do Ajustador residente, então, a factualidade do Supremo torna-se um grau mais real nos universos; e a divindade da Supremacia terá avançado mais um passo no sentido da sua realização cósmica.
117:0.4 (1278.4) As partes e os indivíduos do grande universo evoluem como um reflexo da evolução total do Supremo, ao mesmo tempo em que, por sua vez, o Supremo é o total sintético acumulativo de toda a evolução do grande universo. Do ponto de vista do mortal, são recíprocos, evolucionários e experienciais.
117:1.1 (1278.5) O Supremo é a beleza da harmonia física, a verdade do significado intelectual e a bondade do valor espiritual. Ele é a doçura do êxito verdadeiro e o júbilo da realização eterna. É a supra-alma do grande universo, a consciência do cosmo finito, o completar da realidade finita e a personificação da experiência Criador- criatura. Em toda a eternidade futura, Deus, o Supremo, representará a realidade da experiência volicional nas relações trinitárias da Deidade.
117:1.2 (1278.6) Do Paraíso desceram os Deuses, até os domínios do tempo e do espaço, nas pessoas dos Criadores Supremos, para ali criarem e fazerem evoluir criaturas dotadas com a capacidade de ascender e de alcançar o Paraíso na busca pelo Pai. Essa procissão, no universo, de Criadores descendentes, reveladores de Deus, e de criaturas ascendentes, que buscam a Deus, é reveladora da evolução da Deidade do Supremo, em quem os descendentes e os ascendentes realizam a mutualidade da compreensão, a descoberta da irmandade eterna e universal. O Ser Supremo, assim, torna-se a síntese finita da experiência da causa Criadora perfeita e da resposta da criatura em perfeccionamento.
117:1.3 (1279.1) O grande universo contém a possibilidade da unificação completa, e busca-a sempre; e isso surge do fato de que a existência cósmica é uma conseqüência dos atos criativos e mandados de poder da Trindade do Paraíso, a qual é de uma unidade inqualificável. Essa mesma unidade trinitária é expressa, no cosmo finito, no Supremo, cuja realidade torna-se crescentemente aparente, à medida que os universos atingem o seu nível máximo de identificação com a Trindade.
117:1.4 (1279.2) A vontade do Criador e a vontade da criatura são qualitativamente diferentes, mas também são experiencialmente semelhantes, pois a criatura e o Criador podem colaborar na realização da perfeição no universo. O homem pode trabalhar em ligação com Deus e, por intermédio dessa ligação, efetivar a co-criação de um finalitor eterno. Deus pode trabalhar, até mesmo humanamente, nas encarnações dos seus Filhos, os quais realizam, assim, a supremacia da experiência da criatura.
117:1.5 (1279.3) No Ser Supremo, Criador e criatura estão unidos em uma Deidade cuja vontade expressa uma personalidade divina. E essa vontade do Supremo é algo mais do que a vontade da criatura e do que a vontade do Criador; assim como a vontade soberana do Filho Mestre de Nébadon passa a ser agora algo mais do que uma combinação da vontade da divindade e da humanidade. A união da perfeição do Paraíso e da experiência tempo-espacial produz um valor de significado novo nos níveis de realidade da deidade.
117:1.6 (1279.4) A natureza divina em evolução, do Supremo, está-se tornando um retrato fiel da experiência, sem par, de todas as criaturas e todos os Criadores, no grande universo. No Supremo, a natureza criadora e a natureza da criatura são como uma; estão unidas, para sempre, pela experiência que surgiu das vicissitudes conseqüentes da solução dos múltiplos problemas que envolvem toda a criação finita, enquanto esta prossegue no caminho eterno de busca da perfeição e de liberação dos entraves de ser incompleta.
117:1.7 (1279.5) A verdade, a beleza e a bondade estão correlacionadas na ministração do Espírito, na grandeza do Paraíso, na misericórdia do Filho e na experiência do Supremo. Deus, o Supremo, é verdade, beleza e bondade, pois esses conceitos de divindade representam os máximos finitos da experiência ideacional. As fontes eternas dessas qualidades trinas de divindade estão nos níveis suprafinitos e, pois, uma criatura poderia conceber tais fontes apenas como supraverdade, suprabeleza e suprabondade.
117:1.8 (1279.6) Michael, enquanto criador, revelou o amor divino do Pai Criador para os seus filhos da Terra. E, havendo descoberto e recebido essa afeição divina, os homens podem aspirar a revelar esse amor aos seus irmãos na carne. Essa afeição pela criatura é um reflexo verdadeiro do amor do Supremo.
117:1.9 (1279.7) O Supremo é simetricamente inclusivo. A Primeira Fonte e Centro é potencial nos três grandes absolutos; é factual no Paraíso, no Filho e no Espírito; mas o Supremo é tanto factual quanto potencial, é um ser de supremacia pessoal e de poder Todo-Poderoso, sensível tanto ao esforço da criatura quanto ao propósito do Criador; é auto-atuante sobre o universo e auto-reativo para com a soma total do universo; é o criador supremo e, ao mesmo tempo, a suprema criatura. A Deidade da Supremacia exprime, desse modo, a totalidade do finito completo.
117:2.1 (1280.1) O Supremo é Deus-no-Tempo, é o segredo do crescimento da criatura no tempo; e é também a conquista do presente incompleto e a consumação do futuro em perfeccionamento. E os frutos finais de todo o crescimento finito são: o poder controlado pelo espírito, por intermédio da mente em virtude da unificação e da presença criativa da personalidade. A conseqüência culminante de todo esse crescimento é o Ser Supremo.
117:2.2 (1280.2) Para o homem mortal, a existência é equivalente ao crescimento. E, assim, de fato pareceria ser, mesmo no sentido mais amplo do universo, pois a existência guiada pelo espírito parece resultar no crescimento experiencial — a elevação do status. Nós temos, contudo, sustentado, durante muito tempo, que o crescimento atual que caracteriza a existência da criatura na idade presente do universo é uma função do Supremo. Igualmente sustentamos que essa espécie de crescimento é peculiar à idade de crescimento do Supremo, e que terminará quando o crescimento do Supremo se completar.
117:2.3 (1280.3) Considerai o status dos filhos trinitarizados-por-criaturas: eles nascem e vivem na presente idade do universo; têm personalidades, como têm dotações de mente e de espírito. Têm experiências e a memória delas, mas não crescem como o fazem os ascendentes. É da nossa crença e compreensão que esses filhos trinitarizados- por-criaturas, conquanto estejam na idade presente do universo, na verdade, são da próxima idade do universo — a idade que se seguirá, depois que se der o crescimento completo do Supremo. E, portanto, não estão no Supremo, no seu status atual ainda incompleto, porquanto ainda em crescimento. E assim eles não participam do crescimento experiencial da idade presente do universo, sendo mantidos como reserva para a próxima idade do universo.
117:2.4 (1280.4) A minha própria ordem, dos Mensageiros Poderosos, sendo abraçada pela Trindade, é uma ordem de não-participantes do crescimento da idade presente do universo. Em um certo sentido, nós temos o status da idade precedente do universo, como de fato o têm os Filhos Estacionários da Trindade. Uma coisa é certa: o nosso status foi estabelecido pelo abraço da Trindade, e não mais experienciamos manifestações sob a forma de crescimento.
117:2.5 (1280.5) Isso não é verdade para os finalitores, nem para qualquer outra ordem evolucionária e experiencial que esteja participando do processo de crescimento do Supremo. Vós, mortais, agora vivendo em Urântia, que podeis aspirar a atingir o Paraíso e alcançar o status de finalitores, deveríeis entender que esse destino só é realizável porque estais no Supremo e sois do Supremo, tendo por isso participação no ciclo de crescimento do Supremo.
117:2.6 (1280.6) O crescimento do Supremo chegará a um fim, em alguma época; o seu status atingirá a realização completa (no sentido energético-espiritual). Esse término da evolução do Supremo testemunhará também o fim da evolução da criatura, como parte da supremacia. Que espécie de crescimento poderá caracterizar os universos do espaço exterior? Não sabemos. Contudo, estamos bastante seguros de que será algo muito diferente de qualquer coisa que haja sido vista na idade presente da evolução dos sete superuniversos. Será, indubitavelmente, função dos cidadãos evolucionários do grande universo compensar os habitantes dos espaços exteriores pelo fato de haverem sido privados do crescimento da Supremacia.
117:2.7 (1280.7) Enquanto for existente, quando da consumação da idade presente do universo, o Ser Supremo funcionará como soberano experiencial no grande universo. Os cidadãos do espaço exterior — seres da próxima idade do universo — terão um potencial de crescimento pós-superuniversal, uma capacidade de alcance evolucionário que pressupõe a soberania do Supremo Todo-Poderoso a qual, assim, exclui a participação da criatura na síntese de poder-personalidade da idade atual do universo.
117:2.8 (1281.1) E, assim, a incompletude do Supremo pode ser encarada como uma virtude, já que possibilita o crescimento evolucionário da criatura-criação dos universos presentes. O vazio tem a sua virtude, pois pode ser experiencialmente preenchido.
117:2.9 (1281.2) Uma das indagações mais interessantes da filosofia finita é esta: será que o Ser Supremo se factualiza em resposta à evolução do grande universo, ou será que o cosmo finito evolui progressivamente em resposta à factualização gradativa do Supremo? Ou será possível que, quanto ao desenvolvimento, sejam eles mutuamente interdependentes, e que sejam os recíprocos evolucionários, cada um iniciando o crescimento do outro? De uma coisa estamos certos: criaturas e universos, elevados e inferiores, estão evoluindo dentro do Supremo e, enquanto evoluem, está surgindo a somatória unificada de toda a atividade finita desta idade no universo. E esse é o surgimento do Ser Supremo e, para todas as personalidades, a evolução do poder Todo-Poderoso de Deus, o Supremo.
117:3.1 (1281.3) A realidade cósmica, designada de outra forma como Ser Supremo, como Deus, o Supremo, e como Todo-Poderoso Supremo, é a síntese complexa e universal das fases emergentes de todas as realidades finitas. A vasta diversificação da energia eterna, do espírito divino e da mente universal atinge a culminação finita na evolução do Supremo, que é a soma total de todo crescimento finito, auto-realizado nos níveis da deidade no seu completar finito máximo.
117:3.2 (1281.4) O Supremo é o canal divino por meio do qual flui a infinitude criativa das triodidades, que se cristaliza no panorama galático do espaço, em fundo ao qual tem lugar o drama magnífico da personalidade no tempo: a conquista espiritual da energia-matéria, por meio da intermediação da mente.
117:3.3 (1281.5) Jesus disse: “Eu sou o caminho vivo”; e, com efeito, ele é o caminho vivo do nível material da autoconsciência para o nível espiritual da consciência de Deus. E, do mesmo modo que ele é o caminho vivo para a ascensão do eu, a Deus, o Supremo é o caminho vivo da consciência finita à transcendência da consciência, e mesmo até o discernimento da absonitude.
117:3.4 (1281.6) O vosso Filho Criador, efetivamente, pode ser o canal vivo que liga a humanidade à divindade, pois ele experimentou pessoalmente, em toda a plenitude, a travessia desse caminho de progressão no universo, desde a verdadeira humanidade de Joshua ben José, o Filho do Homem, à divindade original do Paraíso, de Michael de Nébadon, o Filho do Deus infinito. E o Ser Supremo pode, de um modo semelhante, funcionar como a abordagem-aproximação universal para a transcendência de limitações finitas, pois ele é a incorporação real e a epítome pessoal de toda a evolução, de toda a progressão e toda a espiritualização da criatura. Mesmo as experiências, no grande universo, das personalidades que descem do Paraíso são a parte da experiência do Supremo, a qual é complementar para a sua totalização de experiências dos peregrinos do tempo.
117:3.5 (1281.7) O homem mortal é feito à imagem de Deus, de um modo mais do que figurativo. De um ponto de vista físico, essa afirmação dificilmente é verdadeira, mas, com referência a certas potencialidades no universo, é um fato real. Na raça humana, desenrola-se um pouco do mesmo drama da realização evolucionária, que se desenvolve, em uma escala muito mais ampla, no universo dos universos. O homem, uma personalidade volitiva, torna-se criativo, em ligação com o Ajustador, uma entidade impessoal, em presença das potencialidades finitas do Supremo; e o resultado é o florescimento de uma alma imortal. Nos universos, as personalidades Criadoras do tempo e do espaço funcionam em ligação com o espírito impessoal da Trindade do Paraíso, tornando-se, assim, criadoras de um novo potencial de poder de realidade da Deidade.
117:3.6 (1282.1) O homem mortal, sendo uma criatura, não é exatamente como o Ser Supremo, que é deidade, mas a evolução do homem, de um certo modo, assemelha-se ao crescimento do Supremo. O homem cresce, conscientemente, do material para o espiritual, por meio da força, poder e persistência das suas próprias decisões; ele também cresce à medida que o seu Ajustador do Pensamento desenvolve novas técnicas para, dos níveis espirituais, tocar os níveis da alma moroncial; e, uma vez que a alma venha à existência, ela começa a crescer em si e por si própria.
117:3.7 (1282.2) E, de uma certa forma, esse é o modo pelo qual o Ser Supremo se expande. A sua soberania cresce nos atos e pelos atos e realizações das Personalidades Criadoras Supremas; e isso é a evolução da majestade do seu poder, como governante do grande universo. A natureza da sua deidade é, do mesmo modo, dependente da unidade preexistente da Trindade do Paraíso. No entanto, há ainda um outro aspecto da evolução de Deus, o Supremo: não apenas ele evoluiu por meio dos Criadores e derivou-se da Trindade; ele também evoluiu por si próprio e é de si próprio derivado. Deus, o Supremo, é, por si próprio, um participante volitivo e criativo da sua própria realização na deidade. A alma moroncial humana é, do mesmo modo, uma parceira volitiva, co-criativa da sua própria imortalização.
117:3.8 (1282.3) O Pai colabora com o Agente Conjunto na manipulação das energias do Paraíso e para torná-las sensíveis ao Supremo. O Pai colabora com o Filho Eterno na produção das personalidades Criadoras cujos atos irão, em algum momento, culminar na soberania do Supremo. O Pai colabora com o Filho e o Espírito, na criação das personalidades da Trindade, para que funcionem como governantes do grande universo até a época em que uma evolução completa do Supremo qualifique-o para assumir essa soberania. O Pai coopera com os seus coordenados, sejam eles Deidades ou não-Deidades, desse e de tantos outros modos, para fazer progredir a evolução da Supremacia, mas também Ele funciona sozinho nessas questões. E a Sua função solitária é, provavelmente, mais bem revelada na ministração dos Ajustadores do Pensamento e entidades interligadas a eles.
117:3.9 (1282.4) A Deidade é unidade existencial na Trindade, experiencial no Supremo e, nos mortais, realizada como criatura por meio da fusão com o Ajustador. A presença do Ajustador do Pensamento no homem mortal revela a unidade essencial do universo, pois o homem, o tipo mais baixo possível de personalidade do universo, contém, assim, dentro de si próprio um fragmento real da realidade mais elevada e eterna, do próprio Pai original de todas as personalidades.
117:3.10 (1282.5) O Ser Supremo evolui, em virtude da sua ligação com a Trindade do Paraíso e em conseqüência dos êxitos da divindade dos filhos criadores e administradores da Trindade. A alma imortal do homem faz o seu próprio destino eterno evoluir, por meio da associação com a presença divina do Pai do Paraíso e de acordo com as decisões de personalidade, da mente humana. O que a Trindade é para Deus, o Supremo, o Ajustador é para o homem em evolução.
117:3.11 (1282.6) Durante a idade atual do universo, o Ser Supremo encontra-se aparentemente incapacitado de funcionar diretamente como criador, exceto naquelas instâncias em que as possibilidades finitas de ação foram esgotadas pelas agências criativas do tempo e do espaço. Até agora, na história do universo, isso não havia acontecido senão uma vez; quando as possibilidades da ação finita na questão da refletividade do universo foram exauridas, e então, o Supremo funcionou como um culminador criativo de todas as ações criadoras antecedentes. E acreditamos que ele irá novamente funcionar como um culminador, em idades futuras, quando a faculdade antecedente de criação houver completado um ciclo apropriado de atividade criativa.
117:3.12 (1283.1) O Ser Supremo não criou o homem, mas o homem foi literalmente criado a partir da potencialidade do Supremo; a própria vida do homem derivou-se deste. O Supremo também não faz o homem evoluir; pois o próprio Supremo é ainda a própria essência da evolução. Do ponto de vista finito, nós vivemos, movemo-nos e temos os nossos seres, efetivamente, dentro da imanência do Supremo.
117:3.13 (1283.2) O Supremo aparentemente não pode iniciar a causação original, mas parece ser ele o catalisador de todo crescimento no universo, e está destinado, aparentemente, a prover a culminação da totalidade, no que concerne ao destino de todos os seres que evoluem por meio da experiência. O Pai dá origem ao conceito de um cosmo finito; os Filhos Criadores factualizam essa idéia no tempo e no espaço, com o assentimento e a cooperação dos Espíritos Criativos; o Supremo culmina no finito total e estabelece a sua relação com o destino do absonito.
117:4.1 (1283.3) Ao observarmos as lutas incessantes das criaturas de toda a criação pela perfeição de status e pela divindade do ser, não podemos senão acreditar que esses esforços sem fim sejam uma indicação da luta incessante do Supremo pela auto- realização divina. Deus, o Supremo, é a Deidade finita, e deve defrontar-se com os problemas do finito, no sentido total dessa palavra. As nossas lutas, com as vicissitudes do tempo e nas evoluções do espaço, são reflexos dos seus esforços para alcançar a realidade e o completar da sua natureza e soberania, dentro da esfera de ação que a sua natureza em evolução está abrindo até os limites mais externos da possibilidade.
117:4.2 (1283.4) Em todo o grande universo, o Supremo labuta pela própria expressão. A sua evolução divina está, numa certa medida, baseada na sabedoria-ação de todas as personalidades em existência. Quando um ser humano escolhe a sobrevivência eterna, ele está co-criando o destino; e, na vida desse mortal ascendente, o Deus finito encontra uma medida acrescida da auto-realização da personalidade e uma amplificação na soberania experiencial. Entretanto, se uma criatura rejeita a carreira eterna, aquela parte do Supremo que dependia da escolha de tal criatura experimenta um retardamento inevitável, uma carência que deve ser compensada por uma experiência substitutiva ou de equivalência colateral; quanto à personalidade do não-sobrevivente, ela é absorvida pela supra-alma da criação, tornando-se uma parte da Deidade do Supremo.
117:4.3 (1283.5) De tão confiante e tão cheio de amor, Deus coloca uma parte da Sua natureza divina nas próprias mãos dos seres humanos, para a salvaguarda e para a auto-realização dos mesmos. A natureza do Pai, na presença do Ajustador, é indestrutível, independentemente da escolha do ser mortal. O eu em evolução, uma criança do Supremo, pode ser destruído, não obstante a personalidade potencialmente unificadora, desse eu mal guiado, vá persistir como um fator da Deidade da Supremacia.
117:4.4 (1283.6) A personalidade humana pode, verdadeiramente, destruir a individualidade da sua situação de criatura e, embora tudo o que valha a pena na vida desse suicida cósmico vá persistir, tais qualidades não persistirão em uma criatura individual. De novo o Supremo encontrará expressão nas criaturas dos universos, mas nunca mais como aquela pessoa em particular; a personalidade única de um não-ascendente retorna para o Supremo como uma gota de água retorna para o mar.
117:4.5 (1284.1) Qualquer ação isolada das partes pessoais do finito é, relativamente, irrelevante para o aparecimento final do Todo Supremo; o todo, contudo, depende dos atos totais das múltiplas partes. A personalidade do indivíduo mortal é insignificante, em face do todo da Supremacia, mas a personalidade de cada ser humano representa um valor-significado insubstituível no finito; a personalidade tendo sido expressa uma vez, nunca encontra, de novo, expressão idêntica, exceto na continuação da existência daquela personalidade viva.
117:4.6 (1284.2) E assim, na medida em que lutamos pela expressão pessoal, o Supremo está lutando em nós, e conosco, pela expressão da deidade. E, quando encontrarmos o Pai, o Supremo terá de novo encontrado o Criador do Paraíso de todas as coisas. À medida que nós conseguirmos a mestria dos problemas da auto-realização, o Deus da experiência irá alcançar a supremacia todo-poderosa nos universos do tempo e do espaço.
117:4.7 (1284.3) A humanidade não ascende sem esforço no universo, nem o Supremo evolui sem ação propositada e inteligente. As criaturas não alcançam a perfeição por meio de mera passividade, nem pode o espírito da Supremacia factualizar o poder do Todo-Poderoso sem uma ministração incessante de serviço à criação finita.
117:4.8 (1284.4) A relação temporal do homem com o Supremo é o fundamento da moralidade cósmica, da sensibilidade universal e da aceitação do dever. Tal moralidade transcende ao sentido temporal do certo e do errado relativos; é uma moralidade diretamente baseada na apreciação autoconsciente que a criatura faz da obrigação experiencial para com a Deidade experiencial. O homem mortal e todas as outras criaturas finitas são criadas a partir do potencial vivo de energia, mente e espírito, existente no Supremo. É no Supremo que o ascendente, composto de um mortal e de um Ajustador, inspira-se para a criação do caráter imortal e divino de um finalitor. É com a própria realidade do Supremo que o Ajustador, com o consentimento da vontade humana, tece os modelos da natureza eterna de um filho ascendente de Deus.
117:4.9 (1284.5) A evolução do progresso do Ajustador, na espiritualização e na eternização de uma personalidade humana, produz, na medida direta, uma ampliação na soberania do Supremo. Tais feitos, na evolução humana, são, ao mesmo tempo, realizações na factualização evolucionária do Supremo. Se for verdade que as criaturas não poderiam evoluir sem o Supremo, também será verdade, provavelmente, que a evolução do Supremo não possa nunca ser plenamente alcançada independentemente da evolução completa de todas as criaturas. E nisso repousa a grande responsabilidade cósmica das personalidades autoconscientes: que a Deidade Suprema seja, em um certo sentido, dependente da escolha da vontade mortal. E as progressões mútuas da evolução da criatura e da evolução do Supremo são, fiel e plenamente, indicadas aos Anciães dos Dias, pelos mecanismos inescrutáveis da refletividade do universo.
117:4.10 (1284.6) O grande desafio que tem sido feito ao homem mortal é este: decidireis vós personalizar os significados dos valores experimentáveis do cosmo, na vossa própria individualidade em evolução? Ou, rejeitando a sobrevivência, ireis permitir que esses segredos da Supremacia permaneçam adormecidos, aguardando a ação de uma outra criatura, em outro tempo, que, a seu modo, vá intentar uma contribuição de criatura para a evolução do Deus finito? Esta, porém, seria a contribuição dela para o Supremo, não a vossa.
117:4.11 (1284.7) A grande luta desta idade do universo se dá entre o potencial e o factual — a busca da factualização de tudo o que ainda não chegou a ter expressão. Se o homem mortal prosseguir na aventura até o Paraíso, ele estará seguindo os movimentos do tempo, que seguem, como correntes, dentro do fluxo da eternidade; se o homem mortal rejeitar a carreira eterna, ele mover-se-á contra a corrente dos acontecimentos nos universos finitos. A criação mecânica move-se inexoravelmente de acordo com o desenvolvimento do propósito do Pai do Paraíso, mas cada ser volitivo criado tem opção de aceitar ou de rejeitar o papel de participação da sua personalidade na aventura da eternidade. O homem mortal não pode destruir os valores supremos da existência humana, mas, muito nitidamente, pode impedir a evolução desses valores na sua própria experiência pessoal. Se o eu humano recusa-se, assim, a tomar parte na ascensão ao Paraíso, nessa medida fica o Supremo retardado na realização da expressão da divindade no grande universo.
117:4.12 (1285.1) Ao homem mortal foi dada, pois, a custódia, não apenas da presença Ajustadora do Pai do Paraíso, mas também o controle sobre o destino de uma fração infinitesimal do futuro do Supremo. Pois, se o homem alcança o destino humano, assim também o Supremo alcançará o destino nos níveis da deidade.
117:4.13 (1285.2) E, assim, de cada um de vós é esperada a decisão, a qual certa vez foi esperada de cada um de nós: ireis trair ao Deus do tempo, que é tão dependente das decisões da mente finita? Ireis estar em falta para com a personalidade Suprema dos universos, por causa de uma indolência, num retrocesso animalista? Ireis falhar para com o grande irmão de todas as criaturas, que tanto depende de cada criatura? Podeis permitir a vós próprios passar ao reino do irrealizado, quando tendes diante de vós a visão encantadora da carreira do universo — a descoberta divina do Pai do Paraíso e a participação divina na busca e na evolução do Deus da Supremacia?
117:4.14 (1285.3) As dádivas de Deus — Seu outorgamento da realidade — não são um divórcio Dele próprio; Ele não aliena a criação de Si próprio, mas estabelece tensões nas criações que giram em torno do Paraíso. Antes de tudo, Deus ama o homem e confere a ele o potencial da imortalidade — a realidade eterna. E, se o homem ama a Deus, ele torna-se eterno na realidade. E eis aqui um mistério: quanto mais um homem se aproxima de Deus, pelo amor, tanto maior será a realidade — a factualidade — desse homem. Quanto mais um homem afasta-se de Deus, tanto mais próximo ele fica da não-realidade — a cessação da existência. Quando o homem consagra a sua vontade a cumprir a vontade do Pai, quando o homem dá a Deus tudo o que ele tem, então Deus faz daquele homem mais do que ele é.
117:5.1 (1285.4) O grande Supremo é a supra-alma cósmica do grande universo. Nele, as qualidades e as quantidades do cosmo encontram o seu reflexo de deidade; a sua natureza de deidade é o mosaico composto da vastidão total de toda a natureza criatura-Criador, em todos os universos em evolução. E o Supremo é também uma Deidade em factualização que incorpora uma vontade criativa, abrangendo um propósito universal que evolui.
117:5.2 (1285.5) Os eus intelectuais, e potencialmente pessoais do finito emergem da Terceira Fonte e Centro e efetivam uma síntese finita, tempo-espacial, da Deidade no Supremo. Quando a criatura submete-se à vontade do Criador, ela não submerge nem abandona a sua personalidade. Os indivíduos que participam, como personalidades, da factualização do Deus finito, não perdem a sua individualidade volitiva por funcionarem assim. Essas personalidades antes crescem progressivamente, pela sua participação nessa grande aventura da Deidade; por meio dessa união, com a divindade, o homem exalta, enriquece, espiritualiza e unifica o seu eu em evolução até o limiar mesmo da supremacia.
117:5.3 (1286.1) A alma imortal em evolução do homem, criação conjunta que é da mente material e do Ajustador, ascende como tal ao Paraíso; e, subseqüentemente, quando alistada no Corpo de Finalidade, torna-se aliada, de um novo modo, ao circuito da gravidade espiritual do Filho Eterno, por uma técnica de experiência conhecida como transcendentalização finalitora. Assim, tais finalitores transformam- se em candidatos aceitáveis ao reconhecimento, por meio da experiência, como personalidades de Deus, o Supremo. E, quando esses intelectos mortais, em compromissos futuros irrevelados do Corpo de Finalidade, atingirem o sétimo estágio da existência espiritual, tais mentes duais tornar-se-ão trinas. Essas duas mentes sintonizadas, a humana e a divina, tornar-se-ão glorificadas, em união com a mente experiencial do então factualizado Ser Supremo.
117:5.4 (1286.2) No eterno futuro, Deus, o Supremo, estará factualizado — criativamente expresso e espiritualmente retratado — na mente espiritualizada, na alma imortal do homem ascendente, do mesmo modo que o Pai Universal foi revelado na vida terrena de Jesus.
117:5.5 (1286.3) O homem não se une, ao Supremo, submergindo a sua identidade pessoal; mas as repercussões, no universo, da experiência de todos os homens assim formam uma parte da experienciação divina do Supremo. “O ato é nosso, as conseqüências são de Deus.”
117:5.6 (1286.4) A personalidade em progresso deixa um rastro de realidade factualizada, quando passa pelos níveis ascendentes dos universos. Sejam mente, espírito ou energia, as criações do tempo e do espaço, em crescimento, são modificadas pela progressão da personalidade ao longo dos domínios universais. Quando o homem age, o Supremo reage, e essa transação constitui o fato da progressão.
117:5.7 (1286.5) Os grandes circuitos da energia, da mente e do espírito não são nunca posse permanente das personalidades em ascensão; tais ministrações continuam, para sempre, como sendo uma parte da Supremacia. Na experiência mortal, o intelecto humano reside nas pulsações rítmicas dos espíritos ajudantes da mente, e ele efetiva as suas decisões na arena produzida por circuitamento, dentro dessa ministração. Com a morte, o eu humano fica eternamente separado do circuito de tais ajudantes. Conquanto esses ajudantes pareçam nunca transmitir experiência de uma personalidade para outra, eles podem transmitir e transmitem, de Deus, o Sétuplo, para Deus, o Supremo, as repercussões impessoais da ação- decisão. (Pelo menos, isso é verdadeiro quanto aos ajudantes da adoração e da sabedoria.)
117:5.8 (1286.6) E assim é com os circuitos espirituais: o homem utiliza-os na sua ascensão pelos universos, mas nunca os possui como uma parte da sua personalidade eterna. Contudo, esses circuitos de ministração espiritual, como o do Espírito da Verdade, o do Espírito Santo ou o das presenças espirituais do superuniverso, são receptivos e reativos aos valores emergentes, nas personalidades ascendentes, e esses valores são fielmente transmitidos por meio do Sétuplo, para o Supremo.
117:5.9 (1286.7) Conquanto tais influências espirituais, como a do Espírito Santo e do Espírito da Verdade, sejam ministrações do universo local, a sua orientação não é totalmente confinada a limitações geográficas de uma certa criação local. À medida que o mortal ascendente ultrapassa as fronteiras do seu universo local de origem, ele não fica inteiramente privado da ministração do Espírito da Verdade, que tão constantemente lhe ensinou e o guiou pelos labirintos filosóficos dos mundos materiais e moronciais, em todas as crises da ascensão, dirigindo infalivelmente o peregrino ao Paraíso, sempre dizendo: “É este o caminho”. Quando deixardes os domínios do universo local, por meio da ministração do espírito do Ser Supremo emergente e pelas provisões da refletividade do superuniverso, vós ainda sereis guiados, na vossa ascensão ao Paraíso, pelos espíritos diretivos confortadores dos Filhos de Deus auto-outorgadores do Paraíso.
117:5.10 (1287.1) Como esses circuitos múltiplos de ministração cósmica registram os significados, os valores e os fatos da experiência evolucionária no Supremo? Não sabemos com exatidão; mas acreditamos que esse registro ocorra por intermédio das pessoas dos Criadores Supremos originários do Paraíso, que são os outorgadores diretos desses circuitos, no tempo e no espaço. As acumulações de experiência mental dos sete espíritos ajudantes da mente, nas suas ministrações aos níveis físicos do intelecto, é uma parte da experiência, no universo local, da Ministra Divina e, por meio desse Espírito Criativo, eles provavelmente encontram registro na mente da Supremacia. Do mesmo modo são as experiências mortais com o Espírito da Verdade e com o Espírito Santo, provavelmente, registradas por técnicas semelhantes na pessoa da Supremacia.
117:5.11 (1287.2) Mesmo a experiência feita pelo homem junto com o Ajustador deve encontrar eco na divindade de Deus, o Supremo; pois, pelo modo que os Ajustadores experienciam, eles são como o Supremo; e a alma em evolução do homem mortal é criada a partir da possibilidade preexistente de tal experiência dentro do Supremo.
117:5.12 (1287.3) Dessa maneira, as experiências múltiplas de toda a criação tornam-se uma parte da evolução da Supremacia. As criaturas utilizam meramente as qualidades e quantidades do finito, na medida em que ascendem ao Pai; as conseqüências impessoais dessa utilização permanecem para sempre uma parte do cosmo vivo, a pessoa Suprema.
117:5.13 (1287.4) O que o próprio homem leva consigo, como posse da personalidade, são as conseqüências do caráter da experiência de haver usado os circuitos da mente e do espírito do grande universo, durante a sua ascensão ao Paraíso. Quando o homem decide, e quando ele consuma essa decisão na ação, o homem tem uma experiência, e os significados e os valores dessa experiência são, para sempre, uma parte do seu caráter eterno, em todos os níveis, do finito ao final. O caráter cosmicamente moral e divinamente espiritual representa o mais importante das decisões pessoais, acumuladas pela criatura, as quais foram iluminadas pela adoração sincera, glorificadas pelo amor inteligente e consumadas no serviço fraterno.
117:5.14 (1287.5) O Supremo em evolução irá compensar, finalmente, as criaturas finitas pela incapacidade de elas não haverem realizado senão um contato, e mais do que limitado, de experiência, com o universo dos universos. As criaturas podem alcançar o Pai no Paraíso, mas as suas mentes evolucionárias, sendo finitas, são incapazes de compreender realmente o Pai infinito e absoluto. Todavia, posto que todas as experiências das criaturas registram-se no Supremo, e fazem parte do Supremo, quando todas as criaturas atingirem o nível final da existência finita, e depois que o desenvolvimento total do universo tornar possível que alcancem a Deus, o Supremo, como uma presença factual da divindade, então, inerentemente ao fato desse próprio contato, ocorre o contato delas com a experiência total. A finitude do tempo, em si mesma, contém as sementes da eternidade; e é-nos ensinado que, quando a plenitude da evolução testemunhar a exaustão da capacidade para o crescimento cósmico, o finito total irá embarcar nas fases absonitas da carreira eterna, em busca do Pai, como Último.
117:6.1 (1287.6) Nós buscamos o Supremo nos universos, mas nós não o encontramos. “Ele é o interior e o exterior de todas as coisas e seres, está-se movendo, e está quieto. Irreconhecível no seu mistério, embora distante, ele também está próximo.” O Supremo Todo-Poderoso é “a forma daquilo que ainda não se formou, o arquétipo daquilo que ainda não foi criado”. O Supremo é o vosso lar no universo e, quando o encontrardes, será como retornar ao lar. Ele é o vosso pai experiencial e, na própria experiência dos seres humanos, ele cresceu na sua experiência de progenitor divino. Ele vos conhece porque é como uma criatura, tanto quanto um criador.
117:6.2 (1288.1) Se desejais, verdadeiramente, encontrar Deus, não podeis deixar de ter nas vossas mentes a consciência do Supremo. Como Deus é o vosso Pai divino, também o Supremo é a vossa mãe divina, em quem sois nutridos durante as vossas vidas, como criaturas do universo. “Quão universal é o Supremo — ele está em todos os lados! As coisas sem limites da criação dependem da presença dele, para viver, e a nenhuma delas ele vai recusar-se.”
117:6.3 (1288.2) O que Michael é para Nébadon, o Supremo é para o cosmo finito; a sua deidade é o grande canal pelo qual o amor do Pai flui exteriormente para toda a criação, e ele é o grande canal através do qual as criaturas finitas passam ao interior na busca do seu Pai, que é amor. Mesmo os Ajustadores do Pensamento relacionam-se com ele; pela sua natureza original e divindade, eles são como o Pai, mas, quando experimentam as transações do tempo, nos universos do espaço, eles tornam-se como o Supremo.
117:6.4 (1288.3) O ato da escolha da criatura de fazer a vontade do Criador é um valor cósmico e tem um significado no universo, ao qual uma força irrevelada, mas ubíqua, de coordenação, reage imediatamente, provavelmente como o funcionamento da ação que sempre se amplia, do Ser Supremo.
117:6.5 (1288.4) A alma moroncial de um mortal em evolução é realmente filha da ação do Ajustador do Pai Universal, e é filha da reação cósmica do Ser Supremo, a Mãe Universal. A influência da mãe domina a personalidade humana durante toda a infância da alma, que cresce, no universo local. A influência dos Pais- Deidade torna-se mais semelhante depois da fusão ao Ajustador e durante a carreira no superuniverso, mas, quando as criaturas do tempo começam a travessia do universo central da eternidade, a natureza do Pai torna-se crescentemente manifesta, alcançando o máximo da sua manifestação finita junto com o reconhecimento do Pai Universal e a admissão no Corpo de Finalidade.
117:6.6 (1288.5) Por meio da experiência de realização como finalitor, e nessa experiência, as qualidades experienciais maternas do eu ascendente tornam-se tremendamente afetadas pelo contato e pela infusão na presença espiritual do Filho Eterno e na presença mental do Espírito Infinito. Então, em todos os domínios da atividade finalitora, no grande universo, acontece um novo despertar do potencial materno latente do Supremo, uma nova realização de significados experienciais e uma nova síntese de valores experienciais de toda a carreira de ascensão. Parece que essa realização do eu continuará nas carreiras dos finalitores do sexto estágio no universo, até que a herança materna do Supremo atinja a sincronia finita com a herança Ajustadora do Pai. Esse período curioso, na função do grande universo, representa a continuação da carreira adulta do mortal ascendente perfeccionado.
117:6.7 (1288.6) Com o completar do sexto estágio da existência e com a entrada no sétimo estágio, o final, de status espiritual, seguir-se-ão provavelmente as idades avançadas na divindade: de experiência enriquecedora, sabedoria amadurecida e realização da divindade. Na natureza do finalitor, isso provavelmente igualar- se-á à completa realização na luta mental pela auto-realização espiritual: o completar da coordenação da natureza ascendente do homem com a natureza divina do Ajustador, dentro dos limites das possibilidades finitas. Esse magnífico eu universal torna-se, assim, o filho finalitor eterno do Pai do Paraíso, bem como o filho eterno do universo da Mãe Suprema, um eu universal qualificado para representar a ambos, ao Pai e à Mãe dos universos e personalidades, em qualquer atividade ou empreendimento pertinente à administração finita das coisas e dos seres criados, em criação ou em evolução.
117:6.8 (1289.1) Todos os seres humanos que evoluíram de almas são, literalmente, filhos evolucionários de Deus, o Pai, e de Deus, a Mãe, o Ser Supremo. Contudo, até a época em que o homem mortal torna-se consciente, dentro da sua alma, da sua herança divina, essa certeza de parentesco com a Deidade deve ser alcançada pela fé. A experiência da vida humana é o casulo cósmico no qual a dotação universal do Ser Supremo e a presença do Pai Universal no universo (nenhuma das quais, nem presença, nem dotação, são personalidades) estão fazendo evoluir a alma moroncial do tempo e o caráter humano-divino de finalitor de destino universal e serviço eterno.
117:6.9 (1289.2) Muito freqüentemente, os homens, esquecem-se de que Deus é a maior experiência da existência humana. Outras experiências são limitadas na sua natureza e conteúdo, mas a experiência de Deus não tem limites, a não ser aqueles da capacidade de compreensão da criatura, e essa experiência, por si mesma, é ampliadora da capacidade. Quando os homens buscam a Deus, eles estão buscando tudo. Quando eles encontram Deus, eles encontram tudo. A busca de Deus é o outorgamento irrestrito de amor, acompanhado de descobertas surpreendentes de um amor novo e maior a ser outorgado.
117:6.10 (1289.3) Todo amor verdadeiro vem de Deus; e o homem recebe a afeição divina à medida que ele próprio confere esse amor aos seus semelhantes. O amor é dinâmico. Nunca pode ser capturado; é vivo, livre, emotivo e sempre em movimento. O homem nunca pode tomar o amor do Pai e aprisioná-lo no fundo do seu coração. O amor do Pai pode tornar-se real para o homem mortal, apenas passando pela personalidade desse homem, enquanto ele, por sua vez, concede esse amor aos seus semelhantes. O grande circuito do amor vem do Pai, por intermédio dos filhos, para os irmãos e, deles, para o Supremo. O amor do Pai surge, na personalidade mortal, por meio da ministração do Ajustador residente. E tal filho conhecedor de Deus revela esse amor aos seus irmãos do universo, e essa afeição fraterna é a essência do amor do Supremo.
117:6.11 (1289.4) Não é possível aproximar-se do Supremo, a não ser pela experiência; e, nas épocas atuais da criação, há apenas três vias para a criatura chegar à Supremacia:
117:6.12 (1289.5) 1. Os cidadãos do Paraíso descem da Ilha Eterna indo até Havona, onde adquirem a capacidade de compreender a Supremacia, por meio da observação do diferencial da realidade Paraíso-Havona e pela descoberta exploratória das atividades múltiplas das Personalidades Criadoras Supremas, que vão desde os Espíritos Mestres até os Filhos Criadores.
117:6.13 (1289.6) 2. Os ascendentes do tempo e do espaço, vindos dos universos evolucionários dos Criadores Supremos, aproximam-se intimamente do Supremo, ao atravessarem Havona, como uma preliminar à apreciação crescente da unidade da Trindade do Paraíso.
117:6.14 (1289.7) 3. Os nativos de Havona adquirem uma compreensão do Supremo por intermédio de contatos com os peregrinos descendentes do Paraíso e de contatos com os peregrinos ascendentes dos sete superuniversos. Os nativos de Havona estão inerentemente em posição de harmonizar os pontos de vista, essencialmente diferentes, dos cidadãos da Ilha Eterna com os dos cidadãos dos universos evolucionários.
117:6.15 (1290.1) Para as criaturas evolucionárias há sete grandes modos de aproximação do Pai Universal, e cada uma dessas ascensões ao Paraíso passa pela divindade de um dos Sete Espíritos Mestres; e cada uma dessas aproximações é tornada possível por uma ampliação da receptividade experiencial, conseqüência de a criatura haver servido no superuniverso que reflete a natureza daquele Espírito Mestre. A soma total dessas sete experiências constitui os limites atualmente conhecidos da consciência da criatura sobre a realidade e a factualidade de Deus, o Supremo.
117:6.16 (1290.2) Não são apenas as próprias limitações do homem que o impedem de encontrar o Deus finito; é também o estado incompleto do universo. E é o próprio estado incompleto de todas as criaturas — passadas, presentes e futuras — o que torna o Supremo inacessível. Deus, o Pai, pode ser encontrado por qualquer indivíduo que haja alcançado o nível divino de semelhança com Deus, mas Deus, o Supremo, nunca será pessoalmente descoberto por uma criatura, antes aquele momento longínquo em que, por intermédio da realização universal da perfeição, todas as criaturas, simultaneamente, irão encontrá-lo.
117:6.17 (1290.3) Independentemente do fato de que vós não podeis, nesta idade do universo, encontrar pessoalmente o Supremo, do modo como podereis e ireis encontrar Pai, Filho e Espírito, contudo, a ascensão, até o Paraíso, e a subseqüente carreira no universo, gradualmente, irão criar na vossa consciência o reconhecimento da presença no universo e da ação cósmica do Deus de toda a experiência. Os frutos do espírito são a essência do Supremo, do modo como ele é realizável na experiência humana.
117:6.18 (1290.4) O fato de o homem alcançar, em algum momento, o Supremo, é conseqüência da sua fusão com o espírito da Deidade do Paraíso. Com os urantianos, esse espírito é a presença Ajustadora do Pai Universal; e, embora o Monitor Misterioso venha do Pai e seja como o Pai, duvidamos que, mesmo essa dádiva divina, possa realizar a tarefa impossível de revelar a natureza do Deus infinito a uma criatura finita. Suspeitamos que aquilo que os Ajustadores revelarão aos futuros finalitores do sétimo estágio seja a divindade e a natureza de Deus, o Supremo. E essa revelação será, para uma criatura finita, o que a revelação do Infinito seria para um ser absoluto.
117:6.19 (1290.5) O Supremo não é infinito, mas provavelmente ele abraça toda uma infinitude a qual uma criatura finita jamais poderá compreender realmente. Compreender além do Supremo é ser mais do que finito!
117:6.20 (1290.6) Todas as criações experienciais são interdependentes, na sua realização do destino. Apenas a realidade existencial é autocontida e auto-existente. Havona e os sete superuniversos necessitam uns dos outros, para realizar o máximo do alcance finito de realização; e, do mesmo modo, eles serão, em algum tempo, dependentes dos universos futuros do espaço exterior para a transcendência do finito.
117:6.21 (1290.7) Um ascendente humano pode encontrar o Pai; Deus é existencial e, portanto, real, independentemente do status da experiência no universo total. Todavia, nem um único ascendente jamais encontrará o Supremo, até que todos os ascendentes hajam encontrado aquela maturidade máxima, no universo, que os qualificará simultaneamente a participar dessa descoberta.
117:6.22 (1290.8) O Pai não tem preferências por pessoas; Ele trata a todos os Seus filhos ascendentes como indivíduos cósmicos. O Supremo, do mesmo modo, não tem preferência por pessoas; ele trata os seus filhos experienciais como um único todo cósmico.
117:6.23 (1290.9) O homem pode descobrir o Pai no seu coração, mas ele terá de procurar pelo Supremo nos corações de todos os outros homens; e, quando todas as criaturas revelarem perfeitamente o amor do Supremo, então, ele transformar-se-á em uma realidade, no universo, para todas as criaturas. E esse é apenas mais um modo de dizer que os universos serão estabelecidos em luz e vida.
117:6.24 (1291.1) O alcançar da auto-realização perfeccionada da parte de todas as personalidades e mais a realização do equilíbrio perfeito, em todos os universos, é igual à realização do Supremo; e testemunha a liberação de toda a realidade finita das limitações da existência incompleta. Essa exaustão de todos os potenciais finitos gera a realização completa do Supremo, e pode ser definida, de um outro modo, como a factualização evolucionária completa do próprio Ser Supremo.
117:6.25 (1291.2) Os homens não encontram o Supremo súbita e espetacularmente, como um terremoto abre as fendas nas rochas, mas eles o encontram lenta e pacientemente, como um rio mansamente desbasta o solo por baixo.
117:6.26 (1291.3) Quando encontrardes o Pai, encontrareis a grande causa da vossa ascensão espiritual nos universos; quando encontrardes o Supremo, vós ireis descobrir a grandeza do resultado da vossa carreira de progresso até o Paraíso.
117:6.27 (1291.4) Contudo, nenhum mortal conhecedor de Deus pode, jamais, estar a sós na sua jornada pelo cosmo, pois ele sabe que o Pai caminha a seu lado, em cada passo da estrada, enquanto o caminho mesmo em que está andando é a presença do Supremo.
117:7.1 (1291.5) A realização completa de todos os potenciais finitos iguala-se ao completar da realização de toda experiência evolucionária. Isso sugere a emergência final do Supremo, como uma deidade de presença todo-poderosa nos universos. Acreditamos que o Supremo, nesse estágio do desenvolvimento, será tão distintamente personalizado quanto o é o Filho Eterno; será tão concretamente detentor dos poderes quanto o é a Ilha do Paraíso; e tão completamente unificado quanto o é o Agente Conjunto, e tudo isso dentro das limitações das possibilidades finitas da Supremacia, na culminação da idade atual do universo.
117:7.2 (1291.6) Conquanto esse seja um conceito totalmente apropriado do futuro do Supremo, nós chamaríamos a atenção para alguma questões inerentes a esse conceito:
117:7.3 (1291.7) 1. Os Supervisores Inqualificáveis do Supremo dificilmente poderiam ser deificados, em qualquer estágio anterior à sua completa evolução, e, ainda, esses mesmos supervisores, agora mesmo, exercem, qualificadamente, a soberania da supremacia no que concerne aos universos estabelecidos em luz e vida.
117:7.4 (1291.8) 2. O Supremo dificilmente poderia funcionar na Ultimidade da Trindade, antes que houvesse atingido a factualização completa de status no universo; e, ainda, a Ultimidade da Trindade é, mesmo agora, uma realidade qualificada, e vós fostes informados sobre a existência dos Vice-Regentes Qualificados do Último.
117:7.5 (1291.9) 3. O Supremo não é completamente real para as criaturas do universo, mas há muitas razões para deduzir que seja bastante real para a Deidade Sétupla, estendendo- se desde o Pai Universal no Paraíso aos Filhos Criadores e Espíritos Criativos dos universos locais.
117:7.6 (1291.10) Pode ser que, nos limites superiores do finito, onde o tempo se une ao tempo transcendido, haja alguma espécie de obscuridade e mistura de seqüência. Pode ser que o Supremo seja capaz de prever a sua presença no universo, nesses níveis supratemporais e que, então, em um grau limitado, antecipe a evolução futura, refletindo essa previsão futura de volta aos níveis criados, como Imanência do Incompleto Projetado. Esses fenômenos podem ser observados onde quer que o finito faça contato com o suprafinito, tal como as experiências dos seres humanos resididos pelos Ajustadores do Pensamento podem ser verdadeiras predições das futuras realizações do homem no universo, em toda a eternidade.
117:7.7 (1292.1) Quando os ascendentes mortais são admitidos no corpo de finalidade do Paraíso, eles fazem um juramento à Trindade do Paraíso e, fazendo esse juramento de fidelidade, estão prometendo fidelidade eterna a Deus, o Supremo, que é a Trindade tal como é compreendida por todas as personalidades das criaturas finitas. Subseqüentemente, na medida em que as companhias de finalitores funcionarem pelos universos em evolução, elas apenas prestarão obediência aos mandados com origem no Paraíso, até os tempos memoráveis do estabelecimento dos universos locais em luz e vida. À medida que as novas organizações governamentais dessas criações perfeccionadas comecem a refletir a soberania emergente do Supremo, observamos que as remotas companhias de finalitores então reconhecem a autoridade jurídica desses novos governos. Parece que Deus, o Supremo, está evoluindo como o unificador do Corpo evolucionário da Finalidade, mas é altamente provável que o destino eterno desses sete corpos seja dirigido pelo Supremo, como membro da Trindade Última.
117:7.8 (1292.2) O Ser Supremo contém três possibilidades suprafinitas de manifestação no universo:
117:7.9 (1292.3) 1. A colaboração absonita na primeira Trindade experiencial.
117:7.10 (1292.4) 2. A relação co-absoluta na segunda Trindade experiencial.
117:7.11 (1292.5) 3. A participação co-infinita na Trindade das Trindades; mas não estamos de posse de nenhuma concepção satisfatória sobre o que isso realmente significa.
117:7.12 (1292.6) Essa é uma das hipóteses geralmente aceitas sobre o futuro do Supremo, mas há também muitas conjecturas a respeito das suas relações com o atual grande universo, depois que ele haja alcançado o status de luz e vida.
117:7.13 (1292.7) A meta atual dos superuniversos, tais como eles são e dentro dos seus potenciais, é tornarem-se perfeitos, como Havona o é. Essa perfeição concerne a realizações físicas e espirituais, atingindo, mesmo, o desenvolvimento na administração, governo e fraternidade. Acredita-se que, em idades que virão, as possibilidades de desarmonia, desajustamento e desadaptação finalmente acabem nos superuniversos. Os circuitos de energia estarão em perfeito equilíbrio e serão completamente submissos à mente, enquanto o espírito, em presença da personalidade, terá alcançado o domínio da mente.
117:7.14 (1292.8) Conjectura-se que, nessa época ainda muito distante, a pessoa espiritual do Supremo e o poder adquirido pelo Todo-Poderoso haverão alcançado um desenvolvimento coordenado e que, ambos, unificados na e pela Mente Suprema, factualizar-se-ão como o Ser Supremo, de factualidade completa nos universos — uma factualidade que será observável por todas as inteligências criadas, merecerá reações de todas as energias criadas, será coordenada a todas as entidades espirituais e que será experimentada por todas as personalidades do universo.
117:7.15 (1292.9) Esse conceito implica a soberania efetiva do Supremo no grande universo. É bastante provável que os atuais administradores da Trindade continuem sendo seus vice-regentes, mas acreditamos que as demarcações atuais entre os sete superuniversos tendam a desaparecer gradualmente, e que todo o grande universo funcione como um todo perfeccionado.
117:7.16 (1292.10) É possível que o Supremo possa então estar residindo pessoalmente em Uversa, a sede-central de Orvônton, de onde ele irá dirigir a administração das criações do tempo, mas isso na realidade é apenas uma conjectura. Certamente, contudo, a personalidade do Ser Supremo será definitivamente contatável em alguma localidade específica, embora a ubiqüidade da presença da sua Deidade continue provavelmente a permear o universo dos universos. Nessa idade, não sabemos qual poderá ser a relação dos cidadãos do superuniverso com o Supremo; mas pode ser algo como a relação atual entre os nativos de Havona e a Trindade do Paraíso.
117:7.17 (1293.1) O grande universo perfeccionado das épocas futuras será imensamente diferente do que é no presente. As aventuras emocionantes da organização das galáxias do tempo, tudo estará no passado: a implantação da vida nos mundos incertos do tempo, o nascimento da harmonia a partir do caos, a beleza nascendo dos potenciais, a verdade brotando dos significados e, a bondade, dos valores. Os universos do tempo haverão realizado o destino finito de um modo pleno e total! E talvez haja um repouso durante um intervalo, um descanso da luta de toda uma idade, pela perfeição evolucionária. Mas não por muito tempo! Certa, segura e inexoravelmente, o enigma da Deidade emergente de Deus, o Último, desafiará os cidadãos perfeccionados dos universos estabelecidos, exatamente como os seus antepassados de luta evolucionária, certa vez, foram desafiados pela busca de Deus, o Supremo. A cortina do destino cósmico abrir-se-á para revelar a grandeza transcendente da busca absonita fascinante de alcançar o Pai Universal naqueles níveis novos e mais elevados, revelados na ultimidade da experiência da criatura.
117:7.18 (1293.2) [Promovido por um Mensageiro Poderoso permanecendo temporariamente em Urântia.]
O Livro de Urântia
Documento 118
118:0.1 (1294.1) A RESPEITO das várias naturezas da Deidade, pode ser dito que:
118:0.2 (1294.2) 1. O Pai é o eu auto-existente em si.
118:0.3 (1294.3) 2. O Filho é o eu coexistente.
118:0.4 (1294.4) 3. O Espírito é o eu existente-conjuntamente.
118:0.5 (1294.5) 4. O Supremo é o eu evolucionário-experiencial.
118:0.6 (1294.6) 5. O Sétuplo é a divindade autodistributiva.
118:0.7 (1294.7) 6. O Último é o eu transcendental-experiencial.
118:0.8 (1294.8) 7. O Absoluto é o eu existencial-experiencial.
118:0.9 (1294.9) Do mesmo modo que Deus, o Sétuplo, é indispensável à realização evolucionária do Supremo, o Supremo também é indispensável à emergência final do Último. E a presença dual do Supremo e do Último constitui a associação básica da Deidade subabsoluta e derivada, pois eles são interdependentemente complementares na realização do destino. Juntos, eles constituem a ponte experiencial que liga os começos e as realizações completas de todo o crescimento criativo no universo-mestre.
118:0.10 (1294.10) O crescimento criativo é interminável e, sendo sempre satisfatório, sem fim em extensão, é sempre pontuado pelos momentos de satisfação da personalidade, é o alcançar das metas transitórias, que tão efetivamente serve de prelúdio, na mobilização para as novas aventuras de crescimento cósmico: a exploração do universo e a realização do alcançar da Deidade.
118:0.11 (1294.11) Ainda que o domínio da matemática esteja tolhido por limitações qualitativas, ele proporciona à mente finita uma base conceitual para a contemplação da infinitude. Não há limitação quantitativa para os números, mesmo na compreensão da mente finita. Não importa quão grande seja o número concebido, podeis visualizar sempre uma unidade a mais sendo adicionada a ele. E também, podeis compreender que ele está aquém da infinitude, pois, não importando quantas vezes repetis esta adição ao número, ainda lhe poderá sempre ser adicionada mais uma unidade.
118:0.12 (1294.12) Ao mesmo tempo, a série infinita pode ser totalizada a qualquer dado ponto, e esse total (um subtotal, mais propriamente) proporciona a plenitude da doçura do alcançar da meta a uma certa pessoa, em um determinado tempo e status. Contudo, mais cedo ou mais tarde, essa mesma pessoa começa a ter fome e a ansiar por novas e maiores metas, e tais aventuras de crescimento estarão renovando- se, para sempre, na plenitude do tempo e nos ciclos da eternidade.
118:0.13 (1294.13) Cada idade sucessiva do universo é a antecâmara da próxima era de crescimento cósmico, e cada época do universo proporciona um destino imediato para todos os estágios precedentes. Havona, em si e por si própria, é uma criação perfeita, mas de perfeição limitada; a perfeição de Havona, expandindo-se até os superuniversos evolucionários, encontra, não apenas um destino cósmico, mas também a liberação das limitações da existência pré-evolucionária.
118:1.1 (1295.1) É útil para a orientação cósmica do homem alcançar toda a compreensão possível da relação da Deidade com o cosmos. Embora a Deidade absoluta seja eterna por natureza, os Deuses estão relacionados ao tempo como uma experiência na eternidade. Nos universos evolucionários, a eternidade é a perpetuidade temporal — o agora perdurando para sempre.
118:1.2 (1295.2) A personalidade da criatura mortal pode-se eternizar por auto-identificação com o espírito residente, por intermédio da técnica de escolher cumprir o desejo do Pai. Tal consagração da vontade equivale à compreensão da realidade- eternidade de propósito. Isso quer dizer que o propósito da criatura tornou-se fixo em relação à sucessão de momentos; ou, colocado de outro modo, que a sucessão dos momentos não testemunhará nenhuma alteração no propósito da criatura. Um milhão ou um bilhão de momentos não farão diferença. Os números cessaram de ter um significado relacionado ao propósito da criatura. Assim, a escolha da criatura, somada à escolha de Deus, torna-se um fato nas realidades eternas da união perpétua do espírito de Deus e da natureza do homem, no serviço perene dos filhos de Deus e do seu Pai do Paraíso.
118:1.3 (1295.3) Há uma relação direta entre a maturidade e a consciência da unidade de tempo, para qualquer intelecto. A unidade de tempo pode ser um dia, um ano, ou um período mais longo; contudo, inevitavelmente, é o critério pelo qual o eu consciente avalia as circunstâncias da vida, e pelo qual o intelecto, que está concebendo, mede e avalia os fatos da existência temporal.
118:1.4 (1295.4) A experiência, a sabedoria e o julgamento são concomitantes, na duração da unidade de tempo na experiência mortal. Quando a mente humana reconhece o passado e a ele remonta, está avaliando a experiência passada, com o propósito de fazer com que ela se ligue a uma situação presente. Na medida em que a mente tenta alcançar o futuro, ela está tentando avaliar a significação futura da ação possível. E reconhecendo, assim, tanto a experiência quanto a sabedoria, a vontade humana exercita a decisão-julgamento no presente, e o plano de ação, que desse modo nasce do passado e do futuro, passa a ser existente.
118:1.5 (1295.5) Com a maturidade do eu em desenvolvimento, o passado e o futuro são trazidos ao mesmo tempo para iluminar o significado verdadeiro do presente. Quando amadurece, o eu busca e alcança a experiência mais e mais a fundo no passado, enquanto a previsão da sua sabedoria busca penetrar sempre mais profundamente o futuro desconhecido. E, na medida que o eu, que está concebendo, estende esse alcance mais a fundo, tanto ao passado quando ao futuro, assim também o julgamento torna-se menos dependente do presente momentâneo. Desse modo, a ação-decisão começa a escapar dos liames do presente que se move, enquanto começa a tomar os aspectos da significação passado-futura.
118:1.6 (1295.6) A paciência é exercida pelos mortais cujas unidades de tempo são curtas; a maturidade verdadeira transcende a paciência, com uma tolerância nascida da compreensão real.
118:1.7 (1295.7) Tornar-se maduro é viver mais intensamente no presente, escapando, ao mesmo tempo, das limitações do presente. Os planos da maturidade, fundados na experiência passada, estão vindo a ser no presente, de um modo tal que engrandece os valores do futuro.
118:1.8 (1295.8) A unidade de tempo da imaturidade concentra o valor-significado no momento presente, de um modo tal que separa o presente da sua verdadeira relação com o não-presente — o passado-futuro. A unidade de tempo da maturidade é proporcionada de modo a revelar a relação coordenada entre passado, presente e futuro, que o eu começa a discernir, no todo dos acontecimentos, pois começa a ver a paisagem do tempo da perspectiva panorâmica de horizontes amplificados, começando, talvez, a suspeitar de um não-começo, de um contínuo eterno sem fim, cujos fragmentos são chamados de tempo.
118:1.9 (1296.1) Nos níveis do infinito e do absoluto, o momento presente contém tudo do passado, bem como do futuro. EU SOU significa também EU FUI e EU SEREI. E isso representa o nosso melhor conceito de eternidade e do eterno.
118:1.10 (1296.2) No nível absoluto e eterno, a realidade potencial é tão significativa quanto a realidade factual. Apenas no nível finito, e para as criaturas presas ao tempo, parece haver uma diferença tão grande. Para Deus, como absoluto, um mortal ascendente que tomou a decisão eterna é já um finalitor do Paraíso. Todavia, o Pai Universal, por intermédio do Ajustador do Pensamento residente, não é limitado assim em consciência, podendo também conhecer e participar de toda luta temporal com os problemas da ascensão da criatura, desde os níveis animais de existência aos níveis de semelhança com Deus.
118:2.1 (1296.3) É preciso não confundir a ubiqüidade da Deidade com a ultimidade da onipresença divina. É um ato volitivo do Pai Universal que o Supremo, o Último e o Absoluto devam compensar, coordenar e unificar a ubiqüidade Dele no espaço- tempo e a Sua onipresença transcendida tempo-espacialmente com a Sua presença absoluta e universal fora do tempo e do espaço. E deveríeis lembrar- vos de que, se bem que a ubiqüidade da Deidade possa tão freqüentemente ser associada ao espaço, ela não é necessariamente condicionada pelo tempo.
118:2.2 (1296.4) Como ascendentes mortais e moronciais, vós discernis a Deus, progressivamente, por intermédio da ministração de Deus, o Sétuplo. Por intermédio de Havona, descobris Deus, o Supremo. No Paraíso, vós O encontrais como uma pessoa e, então, como finalitores, ireis em breve intentar conhecê-Lo como o Último. Enquanto finalitores, poderia parecer não existir senão um curso a ser seguido, após haverdes alcançado o Último, e esse seria começar a busca do Absoluto. Nenhum finalitor será perturbado por incertezas quanto a alcançar a Deidade Absoluta, pois, ao fim das ascensões suprema e última, ele já terá encontrado Deus, o Pai. Os finalitores, sem dúvida, irão acreditar que, ainda que tenham êxito em encontrar Deus, o Absoluto, eles estariam apenas descobrindo o mesmo Deus, o Pai do Paraíso, manifestando a Si próprio em níveis mais próximos do infinito e do universal. Sem dúvida que o alcançar a Deus, no absoluto, seria revelar o Ancestral Primordial dos universos, bem como o Pai Final das personalidades.
118:2.3 (1296.5) Deus, o Supremo, pode não ser uma demonstração da onipresença tempo-espacial da Deidade, mas é literalmente uma manifestação da ubiqüidade divina. Entre a presença espiritual do Criador e as manifestações materiais da criação, existe um vasto domínio do estar-sendo ubíquo — o surgimento da Deidade evolucionária no universo.
118:2.4 (1296.6) Se, em algum tempo, Deus, o Supremo assumir o controle direto dos universos do tempo e do espaço, estamos confiantes de que a administração dessa Deidade funcionará sob o supercontrole do Último. Nesse caso, Deus, o Último, começaria a se tornar manifesto para os universos do tempo, e como o Todo-Poderoso transcendental (o Onipotente), exercendo o supercontrole do supratempo e do espaço transcendido, no que concerne às funções administrativas do Supremo Todo-Poderoso.
118:2.5 (1297.1) A mente mortal pode perguntar, como nós próprios o fazemos: se a evolução de Deus, o Supremo, até a autoridade administrativa no grande universo é acompanhada de manifestações ampliadas de Deus, o Último, então, uma emergência correspondente de Deus, o Último, nos universos postulados do espaço exterior, será acompanhada de revelações, similares e realçadas, de Deus, o Absoluto? No entanto, não o sabemos realmente.
118:3.1 (1297.2) Apenas pela ubiqüidade pode a Deidade unificar as manifestações no tempo-espaço para a concepção finita, pois o tempo é uma sucessão de instantes, enquanto o espaço é um sistema de pontos interligados. Afinal, percebeis o tempo por meio da análise, e o espaço, por meio da síntese. Coordenais e associais essas duas concepções dessemelhantes, por meio do discernimento integrador interno da personalidade. Em todo o mundo animal, apenas o homem possui essa perceptibilidade tempo-espacial. Para um animal, o movimento tem um significado, mas o movimento adquire valor apenas para uma criatura com status de personalidade.
118:3.2 (1297.3) As coisas são condicionadas pelo tempo, mas a verdade está fora do tempo. Quanto mais verdade vós conheceis, mais verdade sois e, assim, tanto mais podereis entender do passado e mais compreendereis do futuro.
118:3.3 (1297.4) A verdade é inabalável — e isenta, para sempre, de todas as vicissitudes transitórias, se bem que nunca sendo morta, nem formal, sempre é vibrante e adaptável — e radiantemente viva. Quando, porém, a verdade se torna ligada a fatos, então, tanto o tempo quanto o espaço condicionam seus significados e correlacionam seus valores. Tais realidades da verdade, casadas aos fatos, transformam-se em conceitos e, desse modo, ficam relegadas ao domínio das realidades cósmicas relativas.
118:3.4 (1297.5) A ligação da verdade absoluta e eterna do Criador com a experiência factual da criatura finita e temporal forma um novo valor emergente do Supremo. O conceito do Supremo é essencial à coordenação do supramundo divino, e imutável, com o inframundo, finito e sempre-mutante.
118:3.5 (1297.6) Entre todas as coisas não absolutas, o espaço é que chega mais próximo de ser absoluto. O espaço é absolutamente último, aparentemente. A dificuldade real que temos de entender o espaço no nível material deve-se ao fato de que, enquanto os corpos materiais existem no espaço, o espaço também existe nesses mesmos corpos materiais. E, se bem que haja muita coisa do espaço que é absoluta, isso não significa que o espaço seja absoluto.
118:3.6 (1297.7) Pode ser de ajuda, para o entendimento das relações no espaço, se vós conjecturásseis que, falando relativamente, o espaço é, afinal, uma propriedade de todos os corpos materiais. E, pois, quando um corpo se move pelo espaço, ele também leva todas as suas propriedades com ele, até mesmo o espaço que está no corpo e que é desse corpo que se move.
118:3.7 (1297.8) Todos os modelos de realidade ocupam espaço nos níveis materiais, mas os modelos espirituais apenas existem em relação ao espaço; eles não ocupam espaço nem deslocam espaço, nem o contêm. Para nós, porém, o enigma-chave do espaço pertence ao modelo de uma idéia. Quando entramos no domínio da mente, encontramos muitas questões embaraçosas. O modelo de uma idéia — a sua realidade — ocupa espaço? Realmente não sabemos, embora estejamos certos de que o modelo de uma idéia não contém espaço. No entanto, dificilmente seria seguro postular que o imaterial seja sempre não espacial.
118:4.1 (1298.1) Muitas das dificuldades teológicas e dos dilemas metafísicos do homem mortal são devidos ao fato de o homem não situar bem a personalidade da Deidade, bem como ao fato conseqüente de que ele consigne atributos infinitos e absolutos à Divindade subordinada e à Deidade evolucionária. Não deveis esquecer-vos de que, conquanto exista, de fato, uma verdadeira Primeira Causa, existe, também, uma hoste de causas coordenadas e subordinadas, essas últimas sendo, ambas, causas associadas e secundárias.
118:4.2 (1298.2) A distinção vital entre as primeiras causas e as segundas causas é que as primeiras causas geram efeitos originais que são livres da herança de qualquer fator derivado de qualquer causação antecedente. As causas secundárias produzem efeitos que, invariavelmente, demonstram herança de outra causação precedente.
118:4.3 (1298.3) Os potenciais puramente estáticos inerentes ao Absoluto Inqualificável reagem às causações do Absoluto da Deidade produzidas pelas ações da Trindade do Paraíso. Em presença do Absoluto Universal, esses potenciais estáticos, impregnados de causações, incontinenti tornam-se ativos e sensíveis à influência de certas agências transcendentais, cujas ações resultam na transmutação desses potenciais ativados para o status de verdadeiras possibilidades de desenvolvimento no universo, de capacidades factuais de crescimento. É com esses potenciais amadurecidos que os criadores e controladores do grande universo geram a representação do drama sem fim da evolução cósmica.
118:4.4 (1298.4) A causação, independentemente das existencialidades, é tríplice na sua constituição básica. Do modo como opera nesta idade do universo, e no que concerne ao nível finito dos sete superuniversos, ela pode ser concebida do seguinte modo:
118:4.5 (1298.5) 1. A ativação dos potenciais estáticos. O estabelecimento do destino, no Absoluto Universal, por meio das ações do Absoluto da Deidade, operando no Absoluto Inqualificável e sobre este, e em conseqüência dos mandados volicionais da Trindade do Paraíso.
118:4.6 (1298.6) 2. A factualização das capacidades do universo. Isso envolve a transformação dos potenciais indiferenciados em planos separados e definidos. Este é o ato da Ultimidade da Deidade e das múltiplas agências do nível transcendental. Tais atos encontram-se em perfeita antecipação das necessidades futuras de todo o universo-mestre. É em ligação com a separação dos potenciais que os Arquitetos do Universo-Mestre existem, como verdadeiras corporificações do conceito da Deidade dos universos. Os planos deles parecem ser limitados espacialmente, em última análise, em extensão, pelo conceito de periferia do universo-mestre, mas, enquanto planos, eles não são condicionados pelo tempo ou pelo espaço de qualquer outro modo.
118:4.7 (1298.7) 3. A criação e a evolução dos factuais do universo. É com um cosmo impregnado pela presença da Ultimidade da Deidade, produtora de capacidades, que os Criadores Supremos operam para efetuar as transmutações, no tempo, dos potenciais amadurecidos, em factuais experienciais. Dentro do universo- mestre, toda a factualização da realidade potencial é limitada pela capacidade última para desenvolvimento e é condicionada tempo-espacialmente nos estágios finais de emergência. Os Filhos Criadores que saem do Paraíso são, na realidade, criadores transformadores, no sentido cósmico. Isso, porém, de nenhuma maneira invalida o conceito humano deles como criadores; do ponto de vista finito, certamente, eles podem criar e, de fato, criam.
118:5.1 (1299.1) A onipotência da Deidade não implica o poder de fazer o não-factível. Dentro da moldura do tempo-espacial, e do ponto de referência intelectual da compreensão mortal, mesmo o Deus infinito não pode criar círculos quadrados nem produzir um mal que seja inerentemente bom. Deus não pode fazer coisas que não sejam divinas. Tal contradição, em termos filosóficos, seria o equivalente da negação da entidade e implica que nada seja assim criado. Um traço da personalidade não pode, ao mesmo tempo, ser Divino e não divino. A compossibilidade é inata ao poder divino. E tudo isso deriva do fato de que a onipotência não apenas cria as coisas com uma natureza, mas que também dá origem à natureza de todas as coisas e seres.
118:5.2 (1299.2) No começo, o Pai tudo faz, mas, à medida que o panorama da eternidade se desdobra, em resposta à vontade dos mandados do Infinito, torna-se cada vez mais aparente que as criaturas, mesmo os homens, devam tornar-se co-partícipes junto com Deus na realização da finalidade do destino. E isso é verdadeiro até mesmo na vida na carne; quando o homem e Deus entram em co-participação, nenhuma limitação pode ser colocada diante das possibilidades futuras dessa consorciação. Quando compreende que o Pai Universal é o seu parceiro na progressão eterna, quando se funde com a presença do Pai que nele reside, o homem terá, em espírito, quebrado as algemas do tempo e já haverá entrado na progressão da eternidade, na busca do Pai Universal.
118:5.3 (1299.3) A consciência mortal parte do fato para o significado, e, então, para o valor. A consciência do Criador parte do valor-em-pensamento, por intermédio do significado- da-palavra, indo ao fato-da-ação. Deus deve sempre atuar no sentido de romper a paralisia da unidade inqualificável inerente à infinitude existencial. A Deidade deve sempre prover o modelo de universo, de personalidades perfeitas, de verdade original, de beleza e bondade, na direção das quais há o empenho de todas as criações da subdeidade. Deus deve sempre primeiro encontrar o homem, para que, mais tarde, o homem possa encontrar Deus. Sempre deve haver um Pai Universal, antes que possa haver a filiação universal e a conseqüente irmandade universal.
118:6.1 (1299.4) Deus é verdadeiramente onipotente, mas não é onificente — Ele não faz pessoalmente tudo o que deve ser feito. A onipotência abrange o potencial de poder do Todo-Poderoso Supremo e do Ser Supremo, mas os atos volicionais de Deus, o Supremo, não são feitos pessoais de Deus, o Infinito.
118:6.2 (1299.5) Advogar a onificência da Deidade primordial seria desautorizar quase um milhão de Filhos Criadores do Paraíso, para não mencionar as hostes inumeráveis de várias outras ordens de assistentes que concorrem com a sua colaboração criativa. Não há senão uma Causa não-causada em todo o universo. Todas as outras causas são derivadas desta, que é a Primeira Grande Fonte e Centro. E nada, nessa filosofia, causa nenhuma violência ao livre-arbítrio das miríades de filhos da Deidade espalhados por um vasto universo.
118:6.3 (1299.6) Dentro de uma moldura local, a volição parece funcionar como uma causa não-causada, mas ela demonstra, infalivelmente, fatores de herança que estabelecem uma relação com a única, a absoluta e original Primeira das Causas.
118:6.4 (1299.7) Toda volição é relativa. No sentido em que se originou, apenas o Pai-EU SOU possui a finalidade da volição; no sentido absoluto, apenas o Pai, o Filho e o Espírito demonstram ter as prerrogativas da volição incondicionada pelo tempo e ilimitada no espaço. O homem mortal é dotado de livre-arbítrio, de poder de escolha e, embora essa escolha não seja absoluta, contudo, ela é relativamente final, no nível finito e no que concerne ao destino da personalidade que escolhe.
118:6.5 (1300.1) A volição, em qualquer nível que não seja o absoluto, encontra as limitações constitutivas de toda personalidade que exerce o poder da escolha. O homem não pode escolher além do âmbito daquilo que é escolhível. Ele não pode, por exemplo, escolher ser outra coisa a não ser um ser humano, excetuando-se o fato que ele pode tornar-se mais do que um homem; ele pode escolher embarcar na viagem da ascensão no universo, mas isso se dá porque a escolha humana e a vontade divina são coincidentes nesse ponto. E se aquilo que um filho deseja é da vontade do Pai, então certamente acontecerá.
118:6.6 (1300.2) Na vida mortal, os caminhos para diferentes condutas estão continuamente abrindo-se e fechando-se e, na época em que a escolha é possível, a personalidade humana está constantemente decidindo entre as muitas linhas de ação. A volição temporal está ligada ao tempo e deve aguardar o passar do tempo para ter a oportunidade de expressão. Na volição espiritual, já se começa a experimentar a liberação das amarras do tempo, havendo realizado uma escapada parcial da seqüência do tempo; e isso acontece porque a volição espiritual está se auto-identificando com a vontade de Deus.
118:6.7 (1300.3) A volição, o ato da escolha, deve funcionar dentro da moldura do universo, que é tornada factual, em resposta a uma escolha anterior e superior. Todo o alcance da vontade humana está estritamente limitado ao finito, exceto por um particular: quando o homem escolhe encontrar Deus e ser como ele, tal escolha é suprafinita; apenas a eternidade pode revelar se essa escolha é também supra- absonita.
118:6.8 (1300.4) Reconhecer a onipotência da Deidade é desfrutar da segurança na vossa experiência de cidadania cósmica, é possuir a certeza da segurança na longa jornada ao Paraíso. Aceitar, porém, a falácia da onificência seria abraçar o erro colossal que é o panteísmo.
118:7.1 (1300.5) No grande universo, a função da vontade do Criador e a vontade da criatura exercem-se segundo os limites e de acordo com as possibilidades estabelecidas pelos Arquitetos Mestres. O preestabelecimento desses limites máximos, contudo, não reduz em nada a soberania da vontade da criatura dentro dessas fronteiras. Nem o pré-conhecimento último — um consentimento pleno de toda a escolha finita — constitui um anulamento da volição finita. Um ser humano maduro e previdente poderia ser capaz de prever apuradamente a decisão de alguns colegas mais jovens, mas esse conhecimento prévio não diminui em nada a liberdade e a autenticidade da decisão em si. Os Deuses limitaram sabiamente o campo de ação da vontade imatura; no entanto ela continua sendo vontade, apesar disso, dentro desses limites definidos.
118:7.2 (1300.6) Mesmo a correlação suprema de toda escolha do passado, do presente e do futuro não invalida a autenticidade dessas escolhas. Antes indica uma tendência preordenada do cosmo e sugere um pré-conhecimento daqueles seres volitivos que podem, ou não, escolher tornarem-se partes contribuidoras da atualização experiencial de toda a realidade.
118:7.3 (1300.7) O erro na escolha finita está ligado e limitado ao tempo. Pode existir apenas no tempo e dentro da presença evolutiva do Ser Supremo. Essa escolha errônea é possível no tempo e (além de indicar que o Supremo é incompleto) indica uma certa amplitude de escolha que deve ser dada às criaturas imaturas, de modo que elas possam desfrutar da progressão no universo efetuando contatos com a realidade segundo a sua livre escolha.
118:7.4 (1301.1) O pecado no espaço condicionado-ao-tempo dá provas claras da liberdade temporal — e até mesmo da licença — da vontade finita. O pecado retrata a imaturidade confundida pela liberdade da vontade relativamente soberana da personalidade deixando, ao mesmo tempo, de perceber as obrigações supremas e os deveres da cidadania cósmica.
118:7.5 (1301.2) A iniqüidade, nos domínios finitos, revela a realidade transitória de toda individualidade não identificada com Deus. Apenas quando uma criatura torna-se identificada com Deus, é que ela torna-se verdadeiramente real nos universos. A personalidade finita não se autocriou; entretanto, na arena da escolha, no super universo, ela determina o próprio destino.
118:7.6 (1301.3) O outorgamento da vida torna os sistemas de energia material capazes de autoperpetuação, autopropagação e auto-adaptação. O outorgamento da personalidade confere aos organismos vivos outras prerrogativas de autodeterminação, auto-avaliação e auto-identificação com um espírito da Deidade com o qual se podem fusionar.
118:7.7 (1301.4) As coisas vivas subpessoais apresentam a indicação de uma energia-matéria ativadora da mente, primeiro nos controladores físicos, e, em seguida, nos espíritos ajudantes da mente. O dom da personalidade vem do Pai e confere prerrogativas únicas de escolha ao sistema vivo. Se, porém, a personalidade tem a prerrogativa de exercer uma escolha volitiva de identificação com a realidade, e se essa for uma escolha verdadeira e livre, então essa personalidade em evolução deve possuir também a possibilidade da escolha de se autodesorientar, autofragmentar e autodestruir. A possibilidade da autodestruição cósmica não pode ser evitada se a personalidade em evolução tem de ser verdadeiramente livre, no exercício da vontade finita.
118:7.8 (1301.5) É por isso que a segurança aumenta quando se reduzem os limites da escolha da personalidade nos níveis mais baixos de existência. A escolha torna-se mais liberada à medida que se ascende nos universos; e finalmente, a escolha aproxima-se da liberdade divina, quando a personalidade ascendente alcança a divindade de status, a supremacia na consagração aos propósitos do universo, o alcance completo da visão cósmica e a finalidade de identificação da criatura com a vontade e o caminho de Deus.
118:8.1 (1301.6) Nas criações do tempo e do espaço, o livre-arbítrio é resguardado com restrições e limitações. A evolução da vida material primeiro é mecânica, depois ativada pela mente e (após o outorgamento da personalidade) pode tornar-se dirigida pelo espírito. A evolução orgânica nos mundos habitados é fisicamente limitada pelos potenciais das implantações originais de vida física dos Portadores da Vida.
118:8.2 (1301.7) O homem mortal é uma máquina, um mecanismo vivo; as suas raízes estão verdadeiramente no mundo físico da energia. Muitas reações humanas são mecânicas, pela sua natureza; muito da vida é maquinal. Contudo o homem, um mecanismo, é muito mais do que uma máquina; ele é dotado de mente e é residido por um espírito; e, embora, em toda sua vida material, ele nunca possa escapar da mecânica química e elétrica da sua existência, ele pode aprender cada vez mais como subordinar essa máquina de vida física à sabedoria diretiva da experiência, pelo processo de consagrar a mente humana à execução dos estímulos espirituais do seu Ajustador do Pensamento residente.
118:8.3 (1301.8) O mecanismo limita a função da vontade, enquanto o espírito a libera. A escolha imperfeita, não controlada pelo mecanismo, não identificada com o espírito, é perigosa e instável. O predomínio do mecânico assegura a estabilidade às custas do progresso; a aliança com o espírito libera a escolha do nível físico e ao mesmo tempo assegura a estabilidade divina produzida por meio de um discernimento interior universal ampliado e de uma compreensão cósmica crescente.
118:8.4 (1302.1) O grande perigo que acossa a criatura é, ao conseguir a liberação das algemas do mecanismo da vida, que ela deixe de compensar essa perda de estabilidade e de efetuar uma ligação harmoniosa operante com o espírito. A escolha da criatura, quando relativamente liberada da estabilidade mecânica, pode ser intentar uma outra autoliberação, independentemente de uma identificação maior com o espírito.
118:8.5 (1302.2) O princípio mesmo da evolução biológica torna impossível que o homem primitivo surja nos mundos habitados com uma dotação grande de mestria de si próprio. E, por isso, o próprio desígnio criativo que propôs a evolução, do mesmo modo, provê aquelas restrições externas de tempo e espaço, de fome e medo, que efetivamente circunscrevem o campo da escolha subespiritual dessas criaturas não cultivadas. À medida que a mente suplanta, com êxito, barreiras cada vez mais difíceis, esse mesmo desígnio criativo também provê uma lenta acumulação de herança racial de sabedoria experiencial dolorosamente armazenada — em outras palavras, para a manutenção de um equilíbrio entre as restrições externas que diminuem e as restrições internas que aumentam.
118:8.6 (1302.3) A lentidão na evolução do progresso cultural humano atesta a eficácia daquele freio — a inércia material — que tão eficazmente opera para retardar as velocidades perigosas de progresso. Assim, o tempo, ele mesmo, amortece e distribui os resultados, de outro modo letais, do escapar prematuro das barreiras sucessivas à atividade humana. Pois se a cultura avança depressa demais, quando a realização material ultrapassa a evolução da sabedoria e da adoração, então, a civilização contém, em si própria, as sementes do retrocesso; e, a menos que respaldadas por um aumento rápido na sabedoria experiencial, tais sociedades humanas irão retroceder dos níveis altos, mas prematuros, alcançados, e as “idades de trevas” de interregno da sabedoria serão testemunhas da restauração inexorável do desequilíbrio entre a autoliberdade e o autocontrole.
118:8.7 (1302.4) A iniqüidade de Caligástia foi passar por cima do tempo regulador da liberação progressiva humana. Ele destruiu arbitrariamente as barreiras da restrição, sobre as quais as mentes mortais daqueles tempos não haviam triunfado por experiência.
118:8.8 (1302.5) Aquela mente que pode efetuar uma síntese parcial do tempo e do espaço, por esse ato mesmo demonstra que possui as sementes da sabedoria, as quais podem efetivamente servir em lugar da barreira transcendida de restrição.
118:8.9 (1302.6) Lúcifer, do mesmo modo, buscou romper o funcionamento regulador que é o tempo, o qual funcionava como restritor de uma realização prematura de certas liberdades no sistema local. Um sistema local estabelecido em luz e vida já adquiriu experimentalmente os pontos de vista, bem como o discernimento, que tornam factível a operação de muitas técnicas que causariam a ruptura e mesmo a destruição, nas eras anteriores daquele mesmo reino.
118:8.10 (1302.7) Quando um homem se livra dos grilhões do medo, à medida que, com as suas máquinas, ele une continentes e oceanos, gerações e séculos, por meio dos seus registros, ele deve substituir cada restrição transcendida por uma nova restrição voluntariamente assumida, de acordo com os ditames morais da visão humana em expansão. Essas restrições auto-impostas são, ao mesmo tempo, os mais poderosos e os mais tênues de todos os fatores da civilização humana — conceitos de justiça e ideais de irmandade. O homem qualifica-se mesmo para usar as vestes restritivas que lhe trazem a misericórdia, quando ele ousa amar os seus semelhantes, quando ele realiza o começo da fraternidade espiritual, ao eleger dar-lhes aquele mesmo tratamento que ele próprio gostaria de receber, aquele mesmo tratamento que ele concebe que Deus dispensaria a eles.
118:8.11 (1303.1) Uma reação automática no universo é estável e, de alguma forma, contínua no cosmo. Uma personalidade que conhece a Deus e que deseja fazer a Sua vontade, que tem discernimento espiritual, é divinamente estável e eternamente existente. A grande aventura do homem no universo consiste no trânsito que a sua mente mortal faz, da estabilidade da estática mecânica até a divindade da dinâmica espiritual; e ele realiza essa transformação por meio da força e da constância das suas próprias decisões de personalidade, em cada uma das situações da vida, declarando: “É da minha vontade que a Vossa vontade seja feita”.
118:9.1 (1303.2) O tempo e o espaço são um mecanismo conjunto do universo-mestre. São dispositivos por meio dos quais as criaturas finitas tornam-se capazes de coexistir, no cosmo, com o Infinito. As criaturas finitas ficam efetivamente isoladas dos níveis absolutos, pelo tempo e pelo espaço. No entanto, esses meios de isolamento, sem os quais nenhum mortal poderia existir, operam diretamente para limitar o alcance da ação finita. Sem eles, nenhuma criatura poderia atuar; no entanto, por meio deles, os atos de toda criatura tornam-se definitivamente limitados.
118:9.2 (1303.3) Os mecanismos produzidos por mentes mais elevadas funcionam para liberar as suas fontes criativas, mas, em um determinado grau, eles limitam invariavelmente a ação de todas as inteligências subordinadas. Para as criaturas dos universos, tal limitação torna-se visível como o mecanismo dos universos. O homem não tem um livre-arbítrio sem freio; há limites para o alcance da sua escolha; todavia, dentro do raio dessa escolha, a sua vontade é relativamente soberana.
118:9.3 (1303.4) O mecanismo vital da personalidade mortal, o corpo humano, é produto de um projeto supramortal criativo; e, portanto, nunca pode ser perfeitamente controlado pelo próprio homem. Apenas quando o homem ascendente, em ligação com o Ajustador fusionado, gera para si próprio um mecanismo de expressão da personalidade, é que ele alcança o controle perfeito desse mecanismo.
118:9.4 (1303.5) O grande universo é um mecanismo, tanto quanto um organismo, mecânico e vivo — um mecanismo vivo, ativado por uma Mente Suprema, coordenado pelo Espírito Supremo e encontrando expressão nos níveis máximos de unificação de poder e personalidade no Ser Supremo. No entanto, negar o mecanismo da criação finita é negar um fato e desconsiderar a realidade.
118:9.5 (1303.6) Os mecanismos são produtos da mente, da mente criativa, atuando sobre os potenciais cósmicos, e por meio deles. Os mecanismos são as cristalizações fixadas do pensamento criador, e funcionam sempre com fidelidade ao conceito volicional que lhes deu origem. Todavia, o propósito de qualquer mecanismo está na sua origem, não na sua função.
118:9.6 (1303.7) Tais mecanismos não deveriam ser vistos como limitadores da ação da Deidade; é mais verdade que, por meio desses mesmos mecanismos, a Deidade haja alcançado uma fase de expressão eterna. Os mecanismos básicos do universo vieram à existência em resposta à vontade absoluta da Primeira Fonte e Centro, e funcionarão, portanto, eternamente, em perfeita harmonia com o plano do Infinito; eles são, de fato, os modelos não volicionais daquele plano.
118:9.7 (1303.8) Compreendemos alguma coisa de como o mecanismo do Paraíso está correlacionado à personalidade do Filho Eterno; essa é a função do Agente Conjunto. E temos teorias sobre as operações do Absoluto Universal, com respeito aos mecanismos teóricos do Inqualificável e da pessoa potencial da Deidade Absoluta. Nas Deidades em evolução, do Supremo e do Último, nós observamos, entretanto, que certas fases impessoais estão sendo factualmente unidas às suas contrapartes volicionais e, desse modo, está evoluindo uma nova relação entre o modelo e a pessoa.
118:9.8 (1304.1) Na eternidade do passado, o Pai e o Filho encontraram união na unidade de expressão em torno do Espírito Infinito. Se, na eternidade do futuro, os Filhos Criadores e os Espíritos Criativos dos universos locais do tempo e do espaço devessem alcançar uma união criativa nos reinos do espaço exterior, o que essa sua unidade criaria como expressão combinada das suas naturezas divinas? Pode muito bem aontecer que estejamos para testemunhar uma manifestação até então não revelada, da Deidade Última, um novo tipo de superadministrador. Tais seres, sendo a união do Criador pessoal ao Espírito Criativo Materno impessoal e à experiência da criatura mortal e à personalização progressiva da Ministra Divina, englobariam prerrogativas únicas de personalidade. E esses seres poderiam encontrar-se no nível último, no sentido de que abrangeriam a realidade pessoal e a impessoal, combinando as experiências de Criador e Criatura. Quaisquer sejam os atributos das terceiras pessoas nas trindades que funcionam, postuladas para as criações do espaço exterior, elas sustentarão, com os seus Pais Criadores e as suas Mães Criativas, algo semelhante àquilo que o Espírito Infinito mantém com o Pai Universal e o Filho Eterno.
118:9.9 (1304.2) Deus, o Supremo, é a personalização de toda experiência no universo, a focalização de toda evolução finita, a realidade de toda criatura levada ao máximo, a consumação da sabedoria cósmica, a incorporação das belezas harmoniosas das galáxias do tempo, a verdade dos significados da mente cósmica e a bondade dos valores do espírito supremo. E Deus, o Supremo, no futuro eterno, irá sintetizar essas múltiplas diversidades finitas divinas em um todo único, experimentalmente significativo, do mesmo modo que elas estão agora existencialmente unidas em níveis absolutos, na Trindade do Paraíso.
118:10.1 (1304.3) A providência não significa que Deus haja decidido para nós, sobre todas as coisas, e adiantadamente. Deus nos ama demais para fazer isso, pois isso não seria nada menos do que tirania cósmica. O homem tem poderes relativos de escolha. E o amor divino não é um afeto de visão curta que mima e estraga os filhos dos homens.
118:10.2 (1304.4) O Pai, o Filho e o Espírito — considerados como Trindade — não são o Supremo Todo-Poderoso, mas, sem eles, a supremacia do Todo-Poderoso não poderia nunca se tornar manifesta. O crescimento do Todo-Poderoso é centrado nos Absolutos da factualidade e baseado nos Absolutos da potencialidade. Contudo, as funções do Supremo Todo-Poderoso encontram-se relacionadas às funções da Trindade do Paraíso.
118:10.3 (1304.5) Poderia parecer que, no Ser Supremo, todas as fases da atividade do universo estariam sendo reunidas parcialmente pela personalidade dessa Deidade experiencial. Em conseqüência, quando desejamos visualizar a Trindade enquanto um único Deus, e limitamos esse conceito ao atualmente conhecido e organizado grande universo, descobrimos que o Ser Supremo, em evolução, é uma imagem parcial da Trindade do Paraíso. E descobrimos, ainda, que essa Deidade Suprema está evoluindo como síntese de personalidade da matéria finita, da mente e do espírito no grande universo.
118:10.4 (1304.6) Os Deuses têm atributos, mas a Trindade tem funções, e, a exemplo da Trindade, a providência é uma função, composta de um supercontrole outro além-do-pessoal, do universo dos universos, estendendo-se desde os níveis evolucionários do Sétuplo sintetizado no poder do Todo-Poderoso até os domínios transcendentais da Ultimidade da Deidade.
118:10.5 (1304.7) Deus ama cada criatura como a uma criança Sua, e esse amor abriga cada criatura em todo o tempo e na eternidade. A providência funciona considerando o todo e lida com a função de qualquer criatura, naquilo que essa função se relaciona com o total. Uma intervenção providencial, em relação a qualquer ser, é indicativa da importância da função daquele ser, no que concerne ao crescimento evolucionário de algum total; esse total pode ser toda a raça, toda a nação, todo o planeta ou mesmo um todo ainda mais elevado. É a importância da criatura na sua função que ocasiona a intervenção providencial, não a importância da criatura como pessoa.
118:10.6 (1305.1) Contudo, como pessoa, o Pai pode, a qualquer momento, interpor uma mão paterna na corrente de eventos cósmicos, e tudo de acordo com a vontade de Deus, em consonância com a sabedoria de Deus e motivado pelo amor de Deus.
118:10.7 (1305.2) No entanto, o que o homem chama de providência, muito freqüentemente, é o produto da sua própria imaginação, da justaposição fortuita das circunstâncias ao acaso. Há, contudo, uma providência real e emergente no reino finito da existência no universo, uma correlação verdadeira, que se atualiza, das energias do espaço, dos movimentos do tempo, dos pensamentos do intelecto, dos ideais de caráter, dos desejos das naturezas espirituais e dos atos volicionais propositais das personalidades em evolução. As circunstâncias dos reinos materiais têm uma integração finita final nas presenças interligadas do Supremo e do Último.
118:10.8 (1305.3) À medida que os mecanismos do grande universo vão perfeccionando-se até o ponto de uma precisão final por meio do supercontrole da mente, a mente da criatura se eleva à perfeição da realização da divindade por intermédio da integração perfeita com o espírito, e à medida que o Supremo emerge, conseqüentemente, como um unificador factual de todos esses fenômenos do universo, a providência torna-se, desse modo cada vez mais discernível.
118:10.9 (1305.4) Algumas das condições espantosamente fortuitas que prevalecem ocasionalmente nos mundos evolucionários podem ser devidas à presença gradativamente emergente do Supremo, à antecipação das suas atividades futuras no universo. A maioria dos acontecimentos que um mortal chamaria de providencial não o é; o seu julgamento de tais questões é bastante prejudicado pela falta de uma visão mais penetrante dos verdadeiros significados das circunstâncias da vida. Muito daquilo que um mortal chamaria de boa sorte poderia ser realmente má sorte; o sorriso da fortuna, que concede riqueza e lazeres não merecidos nem conquistados, pode ser a maior das aflições humanas; a crueldade aparente de um destino perverso, a acumular atribulações sobre um mortal sofredor, pode, em realidade, ser o fogo temperador que esteja transmutando o ferro doce da personalidade imatura no aço temperado do caráter real.
118:10.10 (1305.5) Uma providência há, nos universos em evolução, que pode ser descoberta pelas criaturas apenas à medida que elas houverem alcançado a capacidade de perceber o propósito dos universos em evolução. A capacidade completa para discernir os propósitos do universo é igual ao completar evolucionário da criatura e pode, por outro lado, ser expressa como a realização do Supremo dentro dos limites do presente estado incompleto dos universos.
118:10.11 (1305.6) O amor do Pai atua diretamente no coração do indivíduo, independentemente das ações ou reações de todos os outros indivíduos; a relação é pessoal — o homem e Deus. A presença impessoal da Deidade (o Supremo Todo-Poderoso e a Trindade do Paraíso) manifesta consideração pelo todo, não pela parte. A providência do supercontrole da Supremacia torna-se crescentemente aparente, em partes sucessivas do progresso do universo na realização dos destinos finitos. À medida que os sistemas, constelações, universos e superuniversos tornam-se estabelecidos em luz e vida, o Supremo emerge, cada vez mais, como um correlacionador significativo de tudo o que está acontecendo, enquanto o Último gradativamente emerge como o unificador transcendental de todas as coisas.
118:10.12 (1306.1) Nos começos, em um mundo evolucionário, as ocorrências naturais de ordem material e os desejos pessoais dos seres humanos, freqüentemente, parecem antagônicos. Muito daquilo que acontece em um mundo em evolução é bastante difícil para o homem mortal compreender — freqüentemente a lei natural é aparentemente cruel, sem coração e indiferente a tudo o que é verdadeiro, belo e bom, segundo a compreensão humana. À medida, porém, que a humanidade progride no desenvolvimento planetário, nós observamos que esse ponto de vista é modificado pelos fatores seguintes:
118:10.13 (1306.2) 1. A ampliação da visão do homem — o entendimento crescente do mundo no qual ele vive; a sua capacidade ampliada de compreensão dos fatos materiais do tempo, as idéias significativas do pensamento e os ideais valiosos de discernimento espiritual. Enquanto os homens mantiverem como padrão de medida apenas o escalão da natureza física das coisas, eles não poderão nunca esperar encontrar a unidade no tempo e no espaço.
118:10.14 (1306.3) 2. O controle crescente de mestria do homem — a acumulação gradual do conhecimento das leis do mundo material, os propósitos da existência espiritual e as possibilidades da coordenação filosófica dessas duas realidades. O homem selvagem era impotente diante dos massacres causados pelas forças naturais, era servil diante do domínio cruel dos seus próprios medos interiores. O homem semicivilizado está começando a destravar a reserva de segredos dos reinos naturais, e essa ciência está, lenta, mas efetivamente, destruindo as suas superstições, enquanto, ao mesmo tempo, está provendo uma base factual nova e ampliada para a compreensão dos significados da filosofia e dos valores da verdadeira experiência espiritual. O homem civilizado alcançará, algum dia, uma mestria relativa das forças físicas do seu planeta; o amor de Deus irá jorrar efetivamente do fundo do coração, como o amor nutrido pelo seu semelhante, e os valores da existência humana estarão aproximando-se dos limites da capacidade mortal.
118:10.15 (1306.4) 3. A integração do homem ao universo — o crescimento do discernimento humano mais o aumento da realização experiencial humana trazem maior harmonia com as presenças unificadoras da Supremacia — a Trindade do Paraíso e o Ser Supremo. E é isso que estabelece a soberania do Supremo nos mundos há muito estabelecidos em luz e vida. De fato, esses planetas avançados são poemas de harmonia, quadros feitos na beleza da bondade concretizada, alcançada por intermédio da busca da verdade cósmica. E se tais coisas podem acontecer em um planeta, então coisas ainda maiores podem acontecer a um sistema e às unidades maiores do grande universo, na medida em que elas também alcancem um estabelecimento que indique os potenciais máximos do crescimento finito.
118:10.16 (1306.5) Em um planeta dessa ordem avançada, a providência tornou-se um fato, as circunstâncias da vida encontram-se correlacionadas, mas isso não acontece apenas porque o homem chegou a dominar os problemas materiais do seu mundo; é também porque ele começou a viver de acordo com a tendência dos universos; porque ele está seguindo a trajetória da Supremacia para alcançar o Pai Universal.
118:10.17 (1306.6) O Reino de Deus está nos corações dos homens, e, quando esse Reino torna-se factual no coração de todos os indivíduos em um mundo, então a regra de Deus ter-se-á tornado factual em um planeta; e essa é a soberania alcançada pelo Ser Supremo.
118:10.18 (1306.7) Para realizar a providência no tempo, o homem deve cumprir a tarefa de alcançar a perfeição. Contudo, o homem pode, mesmo agora, ter um gosto prévio dessa providência, nos seus significados eternos, ponderando sobre o fato de que no universo as coisas, sendo boas ou más, trabalham todas juntas para o avanço dos mortais conhecedores de Deus, na sua busca pelo Pai de todos.
118:10.19 (1306.8) A providência torna-se crescentemente mais discernível, na medida que os homens alcançam níveis superiores, desde o material até o espiritual. O atingir do discernimento espiritual completo capacita a personalidade ascendente a detectar a harmonia naquilo que anteriormente era o caos. A própria mota moroncial representa um avanço real nessa direção.
118:10.20 (1307.1) A providência é, em parte, o supercontrole do Supremo incompleto, manifestado nos universos incompletos, e deve, portanto, sempre ser:
118:10.21 (1307.2) 1. Parcial — devido à factualização do Ser Supremo ser incompleta; e
118:10.22 (1307.3) 2. Imprevisível — devido às flutuações na atitude da criatura, a qual sempre varia de nível para nível, causando, assim, aparentemente, uma resposta recíproca variável no Supremo.
118:10.23 (1307.4) Quando os homens oram pela intervenção da providência nas circunstâncias da vida, muitas vezes, a resposta às suas orações é uma mudança nas suas próprias atitudes perante a vida. Contudo, a providência não é caprichosa, nem fantástica ou mágica. Ela é a emergência lenta e certa do poderoso soberano dos universos finitos, cuja presença majestosa as criaturas em evolução ocasionalmente detectam na sua progressão no universo. A providência é a marcha certa e segura das galáxias do espaço e das personalidades do tempo, no sentido das metas da eternidade, primeiro, no Supremo e, depois, no Último; e talvez no Absoluto. E na infinitude acreditamos haver a mesma providência, e essa é a vontade, as ações, o propósito da Trindade do Paraíso, motivando assim o panorama cósmico de universos após universos.
118:10.24 (1307.5) [Promovido por um Mensageiro Poderoso permanecendo temporariamente em Urântia.]
O Livro de Urântia
Documento 119
119:0.1 (1308.1) FUI DESIGNADO para Urântia por Gabriel, com a missão de revelar a história das sete auto-outorgas do Soberano do Universo, Michael de Nébadon; meu nome é Gavália, e sou o comandante dos Estrelas Vespertinos de Nébadon. Ao fazer esta apresentação, vou ater-me estritamente às limitações impostas pela minha missão.
119:0.2 (1308.2) O atributo da auto-outorga é inerente aos Filhos do Paraíso do Pai Universal. No seu anseio de aproximar-se das experiências das suas criaturas subordinadas viventes, as várias ordens de Filhos do Paraíso refletem a natureza divina dos seus Pais no Paraíso. O Filho Eterno da Trindade do Paraíso liderou o caminho dessa prática, havendo, por sete vezes, outorgado a si próprio nos sete circuitos de Havona, durante os tempos da ascensão de Grandfanda e dos primeiros peregrinos do tempo e do espaço. E o Filho Eterno continua a outorgar-se aos universos locais do espaço, nas pessoas dos seus representantes, os Filhos Michaéis e Avonais.
119:0.3 (1308.3) Quando o Filho Eterno outorga um Filho Criador a um universo local projetado, esse Filho Criador assume a inteira responsabilidade de completar, controlar e compor esse novo universo; e isso inclui uma promessa, à Trindade eterna, de não assumir a plena soberania da nova criação antes de completar com êxito, como criatura, as suas sete auto-outorgas, e até que estas estejam certificadas pelos Anciães dos Dias do superuniverso da sua jurisdição. Essa obrigação é assumida por todos os Filhos Michaéis, que se fazem voluntários para sair do Paraíso e engajar-se na organização e na criação de um universo.
119:0.4 (1308.4) O propósito dessas encarnações, como criatura, é capacitar esses Criadores a tornarem-se soberanos sábios, compassivos, justos e compreensivos. Esses Filhos divinos são inatamente justos, entretanto, em conseqüência das sucessivas experiências de auto-outorga, eles tornam-se mais compreensivos na misericórdia; eles são naturalmente misericordiosos, mas essas experiências os fazem misericordiosos de um modo adicionalmente novo. Tais auto-outorgas são os últimos passos, na sua educação e aprendizado, para a sublime tarefa de governar o universo local com a retidão divina e o julgamento justo.
119:0.5 (1308.5) Embora numerosos benefícios incidentais sejam acrescidos aos vários mundos, sistemas e constelações, bem como às diferentes ordens de inteligências do universo, afetadas e beneficiadas por essas auto-outorgas, ainda assim, elas têm a finalidade precípua de completar o aperfeiçoamento pessoal e o preparo do próprio Filho Criador para o universo. Essas outorgas não são essenciais a uma gestão sábia, justa e eficiente de um universo local; mas são absolutamente necessárias a uma administração que queira ser equânime, misericordiosa e compreensiva para com essa criação, pois nela abundam as mais variadas formas de vida e miríades de criaturas inteligentes, mas imperfeitas.
119:0.6 (1308.6) Os Filhos Michaéis começam os seus trabalhos de organização de um universo tendo uma compreensão plena e justa das várias ordens de seres que eles criaram. São grandes as reservas de misericórdia que eles têm por todas essas diferentes criaturas, e também grande é a piedade por todos aqueles que erram e se debatem dentro do pântano egoísta gerado por eles próprios. Todavia, esses dons de justiça e retidão não serão suficientes, segundo estimam os Anciães dos Dias. Estes governantes trinos dos superuniversos nunca certificarão um Filho Criador, como Soberano do Universo, antes que ele haja realmente adquirido o ponto de vista das suas próprias criaturas, por meio da experiência factual no ambiente das existências delas e como uma dessas mesmas criaturas. Desse modo, esses Filhos transformam-se nos governantes informados e compreensivos, chegam a conhecer os vários grupos de seres aos quais eles governam e sobre os quais exercem a autoridade universal. Pela experiência viva, eles adquirem a misericórdia prática, o juízo equânime e a paciência, nascidos da experimentação de uma existência como a da própria criatura.
119:0.7 (1309.1) O universo local de Nébadon é agora governado por um Filho Criador que completou o seu serviço de auto-outorgas; ele tem, agora, a soberania em supremacia justa e misericordiosa sobre todos os vastos reinos do seu universo em evolução e perfeccionamento. Michael de Nébadon é a outorga de número 611 121 do Filho Eterno aos universos do tempo e do espaço; e ele começou a organização do vosso universo local há cerca de quatrocentos bilhões de anos. Michael preparou-se para a sua primeira aventura de auto-outorga por volta da época em que Urântia estava tomando a sua forma atual, há um bilhão de anos. As suas auto-outorgas ocorreram em intervalos de cento e cinqüenta milhões de anos, a última tendo tido lugar em Urântia, há cerca de dezenove séculos. Agora, prosseguirei descrevendo a natureza e o caráter dessas auto-outorgas de um modo tão completo quanto me permitir a minha missão.
119:1.1 (1309.2) Foi uma ocasião solene, em Sálvington, há quase um bilhão de anos, quando os diretores e dirigentes do universo de Nébadon, reunidos, ouviram Michael anunciar que o seu irmão mais velho, Emanuel, iria dentro em breve assumir a autoridade sobre Nébadon, enquanto ele (Michael) estaria ausente para uma missão não explicada. Nenhuma outra anunciação foi feita sobre essa operação, exceto que a transmissão da despedida, aos Pais da Constelação, entre outras instruções, dizia: “E, por esse período, eu deixo-vos entregues aos cuidados de Emanuel, enquanto vou cumprir o mandado do meu Pai, do Paraíso”.
119:1.2 (1309.3) Após enviar essa transmissão de despedida, Michael surgiu no campo de embarque de Sálvington, exatamente como nas ocasiões anteriores, quando preparava a sua partida para Uversa ou para o Paraíso, com a diferença de que, desta vez, ele estava só. E concluiu a sua declaração de partida com estas palavras: “Eu vos deixo, mas por uma breve temporada. Muitos entre vós, eu sei, iriam comigo, entretanto, para onde vou, não podeis ir. O que irei fazer, não podeis fazê-lo. Vou cumprir a vontade das Deidades do Paraíso; e, quando houver terminado a minha missão e houver adquirido essa experiência, retornarei a este meu lugar, junto de vós”. E tendo dito isso, Michael de Nébadon desapareceu da vista de todos aqueles seres reunidos; e não reapareceu senão após vinte anos do tempo-padrão. Em toda a Sálvington, apenas a Ministra Divina e Emanuel sabiam o que se passava; e o União dos Dias compartilhou esse segredo apenas com o dirigente executivo do universo, Gabriel, o Brilhante Estrela Matutino.
119:1.3 (1309.4) Todos os habitantes de Sálvington e os habitantes dos mundos-sede das constelações e dos sistemas reuniram-se, nas suas respectivas estações de recepção, para escutar a informação do universo, esperando obter uma palavra sobre a missão e o paradeiro do Filho Criador. Até o terceiro dia, depois da partida de Michael, nenhuma mensagem de significado maior havia sido recebida. Nesse dia, uma comunicação foi registrada em Sálvington, vinda da esfera Melquisedeque, a sede dessa ordem, em Nébadon, que dava simplesmente a notícia de um acontecimento extraordinário e nunca antes registrado: “Ao meio-dia de hoje apareceu, no campo de recepção deste mundo, um estranho Filho Melquisedeque, cuja numeração não é a nossa, mas que é exatamente como os da nossa ordem. Ele estava acompanhado de um omniafim solitário, que trazia credenciais de Uversa e que apresentou as ordens, dirigidas ao nosso chefe, vindas dos Anciães dos Dias e certificadas por Emanuel de Sálvington, instruindo que esse novo Filho Melquisedeque fosse recebido na nossa ordem e designado ao serviço de emergência dos Melquisedeques de Nébadon. E assim foi ordenado; e assim foi feito”.
119:1.4 (1310.1) E isso é tudo o que aparece nos registros de Sálvington a respeito da primeira auto-outorga de Michael. Nada mais consta, até que, na medida de tempo de Urântia, se houvessem passado cem anos, quando, então, foi registrado o fato do retorno de Michael, que reassumiu, sem anúncios, a direção dos assuntos do universo. Entretanto, um estranho registro deve ser encontrado, no mundo Melquisedeque: uma narração sobre os serviços daquele Filho Melquisedeque único, do corpo de emergência daquela época. Esse registro está conservado em um templo simples, que ocupa agora a parte da frente da casa do Pai Melquisedeque; e que compreende a narrativa do serviço desse Filho Melquisedeque transitório, e sobre o seu desempenho, em vinte e quatro missões de emergência em todo o universo. E esse registro, que eu revi muito recentemente, é encerado do modo seguinte:
119:1.5 (1310.2) “E nesse dia, ao meio-dia, sem anúncio prévio e testemunhado apenas por três seres da nossa fraternidade, esse Filho visitante da nossa ordem desapareceu do nosso mundo, tal como chegara, acompanhado apenas de um omniafim solitário; e esse registro é agora fechado com o certificado de que esse visitante viveu como um Melquisedeque; à semelhança de um Melquisedeque; que trabalhou como um Melquisedeque e que cumpriu todos os seus compromissos fielmente, como um Filho emergencial da nossa ordem. Por consenso universal, tornou-se dirigente dos Melquisedeques, havendo conquistado o nosso amor e a nossa adoração, pela sua incomparável sabedoria, amor supremo e uma devoção extraordinária ao dever. Ele nos amou, compreendeu-nos e serviu a nós; e, para sempre, seremos os seus leais e devotados companheiros Melquisedeques, pois esse estranho no nosso mundo tornou-se agora eternamente um ministro de natureza Melquisedeque”.
119:1.6 (1310.3) E, pelo que me é permitido contar-vos, isso é tudo, sobre a primeira auto-outorga de Michael. Nós entendemos plenamente, claro está, que esse Melquisedeque desconhecido, que serviu tão misteriosamente junto aos Melquisedeques, há um bilhão de anos, não era ninguém senão Michael, encarnado na missão da sua primeira auto-outorga. Os registros não declaram, especificamente, que esse Melquisedeque tão único e eficiente fosse Michael, mas é nisso que se crê universalmente. É provável que a afirmação real desse fato não seja encontrada fora dos registros de Sonárington; e os registros desse mundo secreto não estão abertos para nós. Apenas nesse mundo sagrado, dos Filhos divinos, os mistérios da encarnação e da auto-outorga são inteiramente conhecidos. Todos nós sabemos dos fatos das auto-outorgas de Michael, mas não entendemos como são efetuadas. Nós não sabemos como pode um governante de um universo, o próprio criador dos Melquisedeques, tão súbita e misteriosamente, tornar-se um dentre os da numeração deles e, como um deles, viver e trabalhar entre eles como um Filho Melquisedeque, por cem anos. No entanto, foi assim que aconteceu.
119:2.1 (1310.4) Durante quase cento e cinqüenta milhões de anos, depois da auto-outorga de Michael como um Melquisedeque, tudo ia bem no universo de Nébadon, até que problemas começaram a ser gerados no sistema 11, da constelação 37. Esses problemas envolviam um mal-entendido da parte de um Filho Lanonandeque, o Soberano do Sistema, sobre algo que havia sido sentenciado pelos Pais da Constelação e aprovado pelo Fiel dos Dias, o conselheiro do Paraíso para aquela constelação; no entanto, o Soberano daquele Sistema, que mantinha um protesto, não se resignou completamente quanto ao veredicto. Após mais de cem anos de insatisfação, ele levou os seus colaboradores a uma rebelião contra a soberania do Filho Criador, das mais vastas e desastrosas que jamais foram instigadas no universo de Nébadon; uma rebelião que, há muito tempo, já foi julgada e terminada pela ação dos Anciães dos Dias de Uversa.
119:2.2 (1311.1) Lutêntia, o rebelde Soberano de Sistema, havia reinado supremo no seu planeta- sede por mais de vinte anos do tempo-padrão de Nébadon; após o que, com a aprovação de Uversa, os Altíssimos ordenaram a sua segregação e requisitaram aos governantes de Sálvington a designação de um novo Soberano do Sistema, para assumir a direção daquele sistema de mundos habitados, então confuso e destroçado.
119:2.3 (1311.2) Com a recepção desse pedido em Sálvington, simultaneamente Michael iniciou a segunda daquelas proclamações extraordinárias com a intenção de manter-se ausente da sede-central do universo, com o propósito de “cumprir o mandado do meu Pai do Paraíso”; prometendo “voltar no tempo devido” e concentrando toda a autoridade nas mãos do seu irmão do Paraíso, Emanuel, União dos Dias.
119:2.4 (1311.3) E então, pela mesma técnica observada na época da sua partida para a sua outorga junto aos Melquisedeques, Michael, novamente, deixou a esfera da sua sede-central. Três dias após essa inexplicada partida, apareceu, no corpo de reserva dos Filhos Lanonandeques primários de Nébadon, um membro novo e desconhecido. Esse novo Filho surgiu ao meio-dia, sem anúncio prévio e acompanhado apenas por um tertiafim solitário, que trazia as credenciais dos Anciães dos Dias de Uversa, certificadas por Emanuel de Sálvington, ordenando que esse novo Filho fosse designado para o sistema 11, da constelação 37, como sucessor do deposto Lutêntia e, com autoridade plena, como Soberano do Sistema, até que fosse apontado um novo soberano.
119:2.5 (1311.4) Por mais de dezessete anos do tempo universal, esse estranho e desconhecido governante temporário administrou os assuntos e sabiamente sentenciou sobre as dificuldades daquele sistema local, confuso e desmoralizado. Nenhum Soberano de Sistema jamais foi amado tão ardentemente, nem honrado e respeitado com maior unanimidade. Com justiça e com misericórdia, esse novo governante colocou em ordem aquele turbulento sistema; enquanto ministrava com cuidado a todos os seus súditos, oferecendo, até mesmo ao seu predecessor rebelde o privilégio de compartilhar do trono de autoridade, caso ele apenas pedisse perdão a Emanuel, pelos seus abusos. Lutêntia, porém, desprezou todas essas aberturas de misericórdia, sabendo bem que esse novo e estranho soberano do sistema não era nenhum outro senão Michael, o mesmo governante do universo a quem ele havia, muito recentemente, desafiado. Todavia, milhões de seguidores desviados e iludidos aceitaram o perdão desse novo governante, conhecido, naquela época, como o Soberano Salvador do sistema de Palônia.
119:2.6 (1311.5) E afinal veio aquele dia jubiloso, no qual chegou o Soberano de Sistema, recentemente apontado e designado pelas autoridades do universo, como o sucessor permanente do deposto Lutêntia; e todo o sistema de Palônia lamentou a partida do mais nobre e mais benigno governante de sistema que Nébadon jamais conhecera. Ele foi amado por todo o sistema e adorado pelos seus companheiros de todos os grupos de Filhos Lanonandeques. A sua partida não aconteceu sem cerimônias; uma grande celebração foi organizada, quando ele deixou a sede do sistema. Até mesmo o seu predecessor faltoso enviou uma mensagem: “Justo e reto és tu em todas as tuas ações. Mesmo continuando eu a rejeitar a lei do Paraíso, sou compelido a confessar que tu és um administrador justo e misericordioso”.
119:2.7 (1312.1) E, então, esse governante transitório de um sistema rebelde partiu do planeta, onde teve permanência administrativa tão curta; e depois, ao terceiro dia, Michael aparecia em Sálvington e reassumia a direção do universo de Nébadon. Logo em seguida, surgiu a terceira proclamação de Uversa, de que a jurisdição da soberania de Michael avançara. A primeira proclamação fora feita na época da sua chegada em Nébadon, a segunda emitida logo depois de completada a auto-outorga junto aos Melquisedeques; e agora, a terceira, seguia-se, depois da consumação completa da segunda missão, ou missão Lanonandeque.
119:3.1 (1312.2) O conselho supremo de Sálvington havia acabado de completar a consideração sobre o pedido dos Portadores da Vida, no planeta 217, do sistema 87, da constelação 61, de envio de um Filho Material, como assistente para eles. Ora, esse planeta estava situado em um sistema de mundos habitados, no qual outro Soberano do Sistema havia-se desviado, em uma segunda dessas rebeliões em Nébadon, até aquela época.
119:3.2 (1312.3) A pedido de Michael, a ação solicitada pelos Portadores da Vida desse planeta foi deferida, dependendo da consideração de Emanuel e do seu relatório sobre o assunto. Esse era um procedimento irregular, e eu bem me lembro como todos nós antecipamos algo inusitado; e não fomos mantidos aguardando por muito tempo. Michael novamente colocou a direção do universo nas mãos de Emanuel e, ao mesmo tempo, confiava o comando das forças celestes a Gabriel; e, havendo assim disposto das suas responsabilidades administrativas, despediu- se do Espírito Materno do Universo e desapareceu, no campo de embarque de Sálvington, precisamente como havia feito nas duas ocasiões anteriores.
119:3.3 (1312.4) E, como poderia ter sido esperado, ao terceiro dia, surgia, sem ser anunciado, no mundo-sede-central do sistema 87, na constelação 61, um estranho Filho Material, acompanhado por um seconafim solitário, a quem havia sido dado o crédito dos Anciães dos Dias de Uversa e certificado por Emanuel de Sálvington. Imediatamente, o Soberano do Sistema em exercício apontou esse novo e misterioso Filho Material, como Príncipe Planetário do mundo 217; e essa designação foi imediatamente confirmada pelos Altíssimos da constelação 61.
119:3.4 (1312.5) Assim, esse Filho Material único começou a sua difícil carreira em um mundo em quarentena, por motivo de secessão e rebelião, mundo este localizado em um sistema sitiado e sem nenhuma comunicação direta com o resto do universo; e ele trabalhou sozinho, durante uma geração inteira de uma época planetária. Esse Filho Material emergencial conseguiu o arrependimento e a regeneração do Príncipe Planetário e de todo o seu grupo de assessores; e testemunhou a restauração do planeta ao serviço leal, à lei do Paraíso, do modo como havia sido estabelecida, para os universos locais. No devido tempo, um Filho e uma Filha Material chegaram a esse mundo rejuvenescido e redimido; e, depois de estarem devidamente instalados como governantes planetários visíveis, o Príncipe Planetário transitório ou emergencial partiu formalmente, desaparecendo pouco tempo depois, ao meio-dia. Ao terceiro dia depois disso, Michael aparecia no seu lugar costumeiro, em Sálvington; e logo em seguida a transmissão do superuniverso difundia a quarta proclamação dos Anciães dos Dias, anunciando um novo avanço na soberania de Michael de Nébadon.
119:3.5 (1312.6) Lamento que não tenha eu permissão para descrever a paciência, a força de caráter e a habilidade com as quais esse Filho Material enfrentou as situações difíceis, naquele planeta em confusão. A regeneração desse mundo isolado é um dos capítulos mais belos e tocantes, nos anais da salvação, de todo o Nébadon. Ao final dessa missão, havia ficado evidente, para todo o Nébadon, por que o seu amado governante escolhera engajar-se nessas auto-outorgas reiteradas, doando- se à semelhança de certas ordens subordinadas de seres inteligentes.
119:3.6 (1313.1) As auto-outorgas de Michael, como um Filho Melquisedeque, depois como um Filho Lanonandeque, e, em seguida, como um Filho Material, são igualmente misteriosas e além de quaisquer explicações. Em cada instância, apareceu ele subitamente e como um indivíduo totalmente desenvolvido, na ordem da auto-outorga. O mistério de tais encarnações não será jamais conhecido, exceto para aqueles que têm acesso ao círculo interno dos registros, na esfera sagrada de Sonárington.
119:3.7 (1313.2) Nunca, depois dessa maravilhosa outorga como Príncipe Planetário, em um mundo em isolamento e rebelião, nenhum dos Filhos ou Filhas Materiais em Nébadon se viu na tentação de reclamar das suas designações ou de ficar faltoso perante as dificuldades das suas missões planetárias. Os Filhos Materiais sabem que, para todo o sempre, têm no Filho Criador do universo um soberano compreensivo e um amigo compassivo, daqueles que foram “testados, provados e aprovados sob todos os pontos de vista”, como devem ser testados e provados, eles próprios.
119:3.8 (1313.3) A cada uma dessas missões, seguiu-se uma idade de serviço crescente e de lealdade, entre todas as inteligências celestes que têm a sua origem neste universo; enquanto cada idade, após essas auto-outorgas, foi caracterizada pelo avanço e aperfeiçoamento, em todos os métodos de administração do universo e em todas as técnicas de governo. Desde essa outorga, nenhum Filho ou Filha Material jamais se colocou conscientemente em rebelião contra Michael; eles amam-no e honram-no, devotadamente, por demais, para rejeitá-lo conscientemente. Apenas por meio de enganos e sofismas, os Adãos dos tempos recentes deixaram-se levar, por tipos mais altos de personalidades, até à rebeldia.
119:4.1 (1313.4) Foi no final de uma lista de chamada milenar periódica de Uversa que Michael procedeu no sentido de colocar o governo de Nébadon nas mãos de Emanuel e Gabriel; e, claro está, relembrando o que acontecera nas vezes passadas, depois de tal ação, todos nós nos preparamos para testemunhar o desaparecimento de Michael, a caminho da sua quarta missão de auto-outorga; e não fomos mantidos à espera por muito tempo, pois, muito rapidamente, ele foi para o campo de embarque de Sálvington e desapareceu da nossa vista.
119:4.2 (1313.5) Ao terceiro dia, após o seu desaparecimento para a outorga, observamos, nas transmissões universais para Uversa, novas e significativas notícias, vindas da sede-central seráfica de Nébadon “reportando a chegada não anunciada de um serafim desconhecido, acompanhado por um supernafim solitário e por Gabriel de Sálvington. Esse serafim, sem registro, qualifica-se como sendo da ordem de Nébadon e traz as credenciais dos Anciães dos Dias de Uversa, certificadas por Emanuel de Sálvington. Esse serafim responde às provas demonstrando pertencer à ordem suprema dos anjos de um universo local, e foi já designado para o corpo de conselheiros de ensino”.
119:4.3 (1313.6) Michael ficou ausente de Sálvington, durante essa auto-outorga, a seráfica, por um período de mais de quarenta anos-padrão do universo. Durante esse tempo, ele permaneceu como conselheiro seráfico de ensino, aquilo que vós poderíeis chamar de um secretário particular, para vinte e seis instrutores-mestres diferentes, funcionando em vinte e dois mundos diferentes. O seu compromisso último, ou terminal, foi como conselheiro e ajudante ligado a uma missão de auto-outorga de um Filho Instrutor da Trindade, no mundo 462, no sistema 84, da constelação 3, no universo de Nébadon.
119:4.4 (1314.1) Nunca, durante os sete anos desse compromisso, esse Filho Instrutor da Trindade esteve inteiramente persuadido quanto à identidade do seu colaborador seráfico. Bem verdade é que todos os serafins, durante aquela época, foram encarados com interesse e curiosidade peculiares. Pois sabíamos muito bem que o nosso amado Soberano estava fora, no universo, na pele da figura de um Serafim; todavia, nunca poderíamos estar seguros quanto à sua identidade. Nunca foi ele definitivamente identificado, até o momento do seu serviço na missão de auto-outorga desse Filho Instrutor da Trindade. No entanto, os serafins supremos foram sempre, em toda essa era, encarados com uma solicitude especial, pois nenhum de nós queria ver-se surpreendido, como tendo sido o anfitrião do Soberano do universo em uma missão de auto-outorga, sem nada saber. E assim tornou-se para sempre verdadeiro, a respeito dos anjos, que o seu Criador e Governante havia sido, “sob todos os pontos de vista, provado e testado, à semelhança da personalidade seráfica”.
119:4.5 (1314.2) À medida que essas auto-outorgas sucessivas iam participando da natureza das formas cada vez mais baixas de vida no universo, Gabriel tornava-se cada vez mais um colaborador dessas aventuras de encarnação, funcionando na qualidade de ligação universal entre o auto-outorgado Michael e Emanuel, o governante atuante do universo.
119:4.6 (1314.3) Agora, Michael havendo já passado pela experiência de outorga em três ordens de filhos seus, criados no universo: os Melquisedeques, os Lanonandeques, e os Filhos Materiais. Em seguida, havia ele condescendido em personalizar-se à semelhança da vida angélica, como um serafim supremo, antes de volver a sua atenção para as várias fases das carreiras ascendentes das suas criaturas volitivas, da mais inferior das formas: os mortais evolucionários do tempo e do espaço.
119:5.1 (1314.4) Há pouco mais de trezentos milhões de anos, do modo como o tempo é reconhecido em Urântia, testemunhamos uma daquelas transferências, para Emanuel, da autoridade sobre o universo; e constatamos as preparações de Michael para a partida. Essa ocasião foi diferente das anteriores, pois ele anunciou que o seu destino era Uversa, a sede-central do superuniverso de Orvônton. No tempo devido, o nosso Soberano partiu; contudo as transmissões do superuniverso jamais fizeram menção à chegada de Michael nas cortes dos Anciães dos Dias. Pouco depois da sua partida de Sálvington, surgiu, nas transmissões de Uversa, uma afirmação significativa: “Chegou hoje um peregrino ascendente, não anunciado e não numerado, de origem mortal, vindo do universo de Nébadon, certificado por Emanuel de Sálvington e acompanhado por Gabriel de Nébadon. Esse ser, não identificado, apresenta o status de um verdadeiro espírito e foi recebido na nossa fraternidade”.
119:5.2 (1314.5) Se fôsseis a Uversa hoje, poderíeis ouvir contar sobre os dias em que Eventod permaneceu lá, esse peregrino especial e desconhecido, do tempo e do espaço, que ficou conhecido em Uversa por esse nome. E esse mortal ascendente, uma personalidade no mínimo extraordinária, auto-outorgado e doado à semelhança exata do estágio já espiritual dos mortais ascendentes, viveu e atuou em Uversa, por um período de onze anos, do tempo-padrão de Orvônton. Esse ser recebeu as designações e cumpriu os deveres de um espírito mortal, em comum com os seus companheiros de vários universos locais de Orvônton. Sob “todos os pontos de vista, foi testado e provado, do mesmo modo que os seus companheiros”; e, em todas as ocasiões, demonstrou ser digno da confiança e da fé dos seus superiores e, ao mesmo tempo, infalivelmente atraiu para si o respeito e a admiração leal dos espíritos semelhantes seus.
119:5.3 (1315.1) De Sálvington, seguimos a carreira desse espírito peregrino com um interesse evidente, sabendo muito bem, pela presença de Gabriel, que esse espírito peregrino despretensioso e sem número não era nenhum outro senão o soberano, em auto-outorga, do nosso universo local. Essa primeira aparição de Michael, encarnado na função de uma etapa da evolução mortal, foi um evento que emocionou e cativou todo Nébadon. Nós havíamos ouvido sobre tais coisas, mas agora nós as contemplávamos. Ele apareceu em Uversa, como um espírito mortal, totalmente desenvolvido e perfeitamente aperfeiçoado e, como tal, continuou a sua carreira, até o momento do avanço de um grupo de mortais ascendentes até Havona; depois do que manteve uma conversa com os Anciães dos Dias e, imediatamente, em companhia de Gabriel, deixou Uversa, subitamente e sem maior cerimônia, aparecendo, pouco depois, no seu lugar habitual em Sálvington.
119:5.4 (1315.2) Só depois da consumação dessa auto-outorga, começamos a perceber que Michael iria encarnar-se provavelmente à semelhança das suas várias ordens de personalidades no universo: dos Melquisedeques mais elevados até os mortais de carne e sangue, nos mundos evolucionários, do tempo e do espaço. Nessa época, as universidades Melquisedeques começaram a ensinar sobre a probabilidade de Michael, em algum momento, encarnar-se como um mortal na carne; e, então, aconteceu muita especulação quanto à possível técnica de uma auto- outorga tão inexplicável. O fato de que Michael houvesse, em pessoa, agido no papel de um mortal ascendente, emprestava um interesse novo e maior a todo o esquema de progressão da criatura, em todo o caminho ascendente, tanto no universo local, quanto no superuniverso.
119:5.5 (1315.3) E, ainda assim, a técnica dessas auto-outorgas sucessivas permanece um mistério. Até mesmo Gabriel confessa que não compreende o método pelo qual esse Filho do Paraíso e Criador de um universo, voluntariamente, assume a personalidade e vive a vida de uma das suas próprias criaturas subordinadas.
119:6.1 (1315.4) Agora, que toda a Sálvington estava familiarizada com os preliminares de uma auto-outorga iminente, Michael reuniu os residentes da sede-central do planeta e, pela primeira vez, revelou o restante do plano de encarnação, anunciando que estava a ponto de deixar Sálvington, com o propósito de assumir a carreira de um mortal moroncial, nas cortes dos Pais Altíssimos, no planeta sede-central, da quinta constelação. E então, pela primeira vez, ouvimos o anúncio de que a sua sétima auto-outorga, a da sua autodoação final, seria efetuada em algum mundo evolucionário, à semelhança da carne mortal.
119:6.2 (1315.5) Antes de deixar Sálvington para a sexta auto-outorga, Michael dirigiu-se aos habitantes reunidos na esfera e partiu, sob a vista de todos, acompanhado por um serafim solitário e pelo Brilhante Estrela Matutino de Nébadon. Ao mesmo tempo em que a direção do universo havia sido confiada a Emanuel, havia uma distribuição, mais aberta, de responsabilidades administrativas.
119:6.3 (1315.6) Michael apareceu na sede-central da constelação cinco, como um mortal moroncial amadurecido, de status ascendente. Lamento que esteja eu proibido de revelar os detalhes da carreira desse mortal moroncial, sem número, pois essa foi uma das mais extraordinárias e surpreendentes épocas nas experiências de auto-outorga de Michael; mais extraordinária mesmo do que a sua dramática e trágica permanência em Urântia. Contudo, entre as muitas restrições a mim impostas, ao aceitar essa missão, está uma que me proíbe de desvelar os detalhes dessa maravilhosa carreira de Michael, como o mortal moroncial de Endantum.
119:6.4 (1316.1) Quando Michael retornou dessa auto-outorga moroncial, ficou claro, para todos nós, que o nosso Criador se havia transformado em uma criatura companheira, que o Soberano do Universo era também um amigo e um ajudante compassivo, até para a mais baixa forma de inteligência criada nos seus reinos. Antes disso, havíamos tomado conhecimento da conquista progressiva, do ponto de vista da criatura, na administração do universo, pois esta viera evidenciando- se gradativamente, tornando-se mais aparente após a consumação completa da outorga moroncial mortal; e, mais ainda, quando do seu retorno, da sua carreira como filho de um carpinteiro em Urântia.
119:6.5 (1316.2) Fomos informados previamente, por Gabriel, da época em que Michael se liberaria da outorga moroncial; e pudemos preparar uma recepção adequada em Sálvington. Milhões e milhões de seres, vindos dos mundos-sede centrais das constelações de Nébadon, e a maioria dos residentes nos mundos adjacentes a Sálvington reuniu-se para dar-lhe as boas-vindas, como governante do universo. Diante das nossas manifestações de boas-vindas e das expressões de apreço feitas a um Soberano tão vitalmente interessado nas suas criaturas, ele respondeu tão somente: “Eu tenho apenas cuidado dos assuntos do meu Pai. Estou apenas dando cumprimento à satisfação dada aos Filhos do Paraíso, de amar e buscar compreender as suas criaturas”.
119:6.6 (1316.3) Todavia, daquele dia em diante, até a hora em que Michael embarcou para a sua aventura em Urântia, como o Filho do Homem, todo o Nébadon continuou a falar sobre as muitas obras do seu Governante Soberano, e como ele atuara em Endantum, na sua encarnação de auto-outorga como um mortal moroncial de ascensão evolucionária; tendo sido testado, sob todos os pontos de vista, como os seus companheiros repersonalizados dos mundos materiais de toda a constelação de sua permanência.
119:7.1 (1316.4) Por dezenas de milhares de anos, todos nós esperamos, ansiosamente, pela sétima e última auto-outorga de Michael. Gabriel mostrara-nos que essa outorga terminal seria feita à semelhança da carne mortal, mas ignorávamos inteiramente o modo, a época e o local dessa aventura culminante.
119:7.2 (1316.5) O anúncio público de que Michael havia selecionado Urântia, como cenário dessa outorga final, foi feito pouco após havermos sabido do erro cometido por Adão e Eva. E assim, por mais de trinta e cinco mil anos, o vosso mundo ocupou um lugar muito conspícuo nos conselhos de todo o universo. Não havia segredo (excetuando-se o mistério da encarnação) sobre nenhum passo da auto-outorga em Urântia. Desde o primeiro passo até o último, até o retorno final e triunfante de Michael a Sálvington, como Soberano supremo do Universo, havia a mais completa divulgação universal sobre tudo que transpirava no vosso pequeno, mas altamente honorificado mundo.
119:7.3 (1316.6) Ao mesmo tempo em que nós acreditávamos que o método seria esse, nunca soubemos, até a época do próprio evento, que Michael surgiria na Terra como um infante desamparado deste reino. Até então, ele sempre surgira como um indivíduo plenamente desenvolvido, com a personalidade da ordem selecionada para a auto-outorga; e foi um anúncio emocionante aquele que foi transmitido de Sálvington, propalando que a criança de Belém havia nascido em Urântia.
119:7.4 (1316.7) Nós, então, não apenas encaramos o fato de que o nosso Criador e amigo estava dando o passo mais incerto de toda a sua carreira, arriscando, aparentemente, a sua posição e autoridade nessa auto-outorga, como um recém-nascido desamparado; contudo, também entendemos que a sua experiência nessa outorga final e mortal iria eternamente entronizá-lo, como o Soberano ímpar e supremo do universo de Nébadon. Por um terço de século, no tempo da Terra, todos os olhos, em todas as partes deste universo, focalizaram-se em Urântia. Todas as inteligências entenderam que a última auto-outorga estava em progresso, e, como havíamos sabido, havia muito ainda, da rebelião de Lúcifer, em Satânia, e do desafeto de Caligástia em Urântia, e assim todos nós entendemos a intensidade do embate que aconteceria, quando o nosso condescendente governante se encarnasse, em Urântia, na forma humilde, à semelhança da carne mortal.
119:7.5 (1317.1) Joshua ben José, o menino judeu, foi concebido e nasceu no mundo, exatamente como quaisquer outros meninos, antes e depois, exceto pelo fato de que este menino, em particular, era a encarnação de Michael de Nébadon, um Filho divino do Paraíso e o Criador de todo este universo local de coisas e seres. E esse mistério da encarnação da Deidade na forma humana de Jesus, cuja origem pareceria natural ao mundo, permanecerá insolúvel para sempre. Na eternidade mesmo, jamais ireis conhecer a técnica e o método da encarnação do Criador, na forma e à semelhança das suas criaturas. Esse segredo pertence a Sonárington; e tais mistérios são da exclusiva posse desses Filhos divinos que passaram pela experiência da auto-outorga.
119:7.6 (1317.2) Alguns homens sábios, na Terra, sabiam da chegada iminente de Michael. E, por intermédio dos contatos de um mundo com o outro, tais homens sábios e possuidores do discernimento espiritual souberam da auto-outorga vindoura de Michael em Urântia. E, por meio das criaturas intermediárias, dois serafins fizeram o anúncio a um grupo de sacerdotes caldeus, cujo líder era Arnon. Esses homens de Deus visitaram o menino recém-nascido. O único evento sobrenatural associado ao nascimento de Jesus foi esse anúncio a Arnon e aos seus companheiros, feito pelos serafins anteriormente designados para Adão e Eva, no primeiro jardim.
119:7.7 (1317.3) Os pais humanos de Jesus foram pessoas dentro da média, daquela geração e daquela época; e esse Filho de Deus, encarnado assim, nasceu de uma mulher e foi criado da maneira peculiar a todas as crianças daquela raça e daquele tempo.
119:7.8 (1317.4) A história da permanência de Michael em Urântia, a narrativa da auto-outorga mortal do Filho Criador, no vosso mundo, é matéria além do escopo e do propósito desta narrativa.
119:8.1 (1317.5) Após a sua outorga final, e plena de êxito, em Urântia, Michael foi aceito, não apenas pelos Anciães dos Dias, como o governante soberano de Nébadon, mas também pelo Pai Universal, que o reconheceu como o dirigente estabelecido do universo local da sua própria criação. Quando do seu retorno a Sálvington, este Michael, Filho do Homem e Filho de Deus, foi proclamado como o governante estabelecido de Nébadon. De Uversa, veio a oitava proclamação da soberania de Michael, enquanto, do Paraíso, veio o pronunciamento conjunto do Pai Universal e do Filho Eterno, que constituía essa união de Deus e de homem, como o governante único do universo, e ordenando ao União dos Dias permanente de Sálvington que desse indicações sobre a sua intenção de retirar-se para o Paraíso. Os Fiéis dos Dias, da sede-central da constelação, foram também instruídos para retirar-se dos conselhos dos Altíssimos. Michael, porém, não consentiria na retirada dos Filhos Trinitários do conselho e da cooperação com ele. Reuniu-os em Sálvington e pessoalmente solicitou-lhes que permanecessem, para sempre, a serviço em Nébadon. Eles manifestaram-se sobre o seu desejo de atender a esse pedido aos seus diretores no Paraíso; e, pouco depois disso, foram emitidos os mandados das suas separações do Paraíso, o que ligava, para sempre, esses Filhos do universo central à corte de Michael de Nébadon.
119:8.2 (1318.1) Foi necessário um período de quase um bilhão de anos, do tempo de Urântia, para completar a carreira de auto-outorgas de Michael e para efetivar o estabelecimento final da sua autoridade suprema no universo da sua própria criação. Michael nasceu um criador, foi educado como um administrador e aperfeiçoado como um executivo; no entanto, foi-lhe pedido que conquistasse a sua própria soberania, por meio da experiência. E assim, o vosso pequeno mundo tornou-se conhecido, em todo o Nébadon, como a arena onde Michael completou a experiência, que é requerida de todo Filho Criador do Paraíso, antes de ser-lhe dado o controle ilimitado e a direção do universo que ele próprio edificara. À medida que ascenderdes no universo local, ireis conhecer mais sobre os ideais das personalidades envolvidas nas auto-outorgas anteriores de Michael.
119:8.3 (1318.2) Ao completar as suas outorgas como criatura, Michael estava, não apenas estabelecendo a sua própria soberania, como estava, também, implementando a soberania, em evolução, de Deus, o Supremo. No decurso dessas outorgas, o Filho Criador, não apenas se engajou em uma exploração descendente das várias naturezas das personalidades das criaturas, mas também realizou a revelação das vontades, variadamente diversificadas, das Deidades do Paraíso, cuja unidade sintética, como revelada pelos Criadores Supremos, é reveladora da vontade do Ser Supremo.
119:8.4 (1318.3) Esses vários aspectos da vontade das Deidades são personalizados, eternamente, nas diferentes naturezas dos Sete Espíritos Mestres; e cada uma das auto-outorgas de Michael foi, peculiarmente, reveladora de uma dessas manifestações da divindade. Na sua outorga Melquisedeque, ele manifestou o desejo unificado do Pai, do Filho e do Espírito; na sua outorga Lanonandeque, o desejo do Pai e do Filho; na sua outorga Adâmica, ele revelou a vontade do Pai e do Espírito; na sua outorga seráfica, a vontade do Filho e do Espírito; na sua outorga como mortal em Uversa, ele retratou a vontade do Agente Conjunto; na sua outorga moroncial mortal, a vontade do Filho Eterno; e na sua outorga material, em Urântia, ele viveu a vontade do Pai Universal, como um mortal, mesmo, em carne e sangue.
119:8.5 (1318.4) A consumação completa dessas sete auto-outorgas resultou na liberação da soberania suprema de Michael e também na criação da possibilidade da soberania do Supremo, em Nébadon. Em nenhuma das suas outorgas Michael revelou Deus, o Supremo; contudo, o conjunto e a soma total de todas as sete outorgas é uma nova revelação do Ser Supremo para Nébadon.
119:8.6 (1318.5) Com a experiência descendente, de descer de Deus até o homem, Michael esteve concomitantemente experimentando a ascensão, da parcialidade da manifestabilidade, até a supremacia da ação finita e da finalidade, da liberação do seu potencial até a função absonita. Michael, um Filho Criador, é um criador no espaço e no tempo, mas Michael, um Filho Mestre sétuplo, é um membro de um dos corpos divinos que constituem a Ultimidade da Trindade.
119:8.7 (1318.6) Ao passar pela experiência de revelar as vontades dos Sete Espíritos Mestres, saídos da Trindade, o Filho Criador passou pela experiência de revelar a vontade do Supremo. Ao funcionar como revelador da vontade da Supremacia, Michael, junto com todos os outros Filhos Mestres, identificou-se eternamente com o Supremo. Na idade presente do universo, ele revela o Supremo e participa da factualização da soberania da Supremacia. No entanto, na próxima idade do universo, acreditamos, ele vai estar colaborando, com o Ser Supremo, na primeira Trindade experiencial, para universos do espaço exterior, e naqueles universos.
119:8.8 (1319.1) Urântia é o templo sentimental de todo o Nébadon, o mais importante entre os dez milhões de mundos habitados, o lar mortal de Cristo Michael, o soberano de todo o Nébadon, o ministro Melquisedeque dos reinos, o salvador de um sistema, o redentor Adâmico, o companheiro seráfico, o companheiro dos espíritos ascendentes, o progressor moroncial, o Filho do Homem, à semelhança da carne mortal, e o Príncipe Planetário de Urântia. Os vossos registros dizem a verdade quando fazem constar que esse mesmo Jesus prometeu, em algum tempo, voltar ao mundo da sua outorga terminal, o Mundo da Cruz.
119:8.9 (1319.2) [Este documento, que descreve as sete outorgas de Cristo Michael, é o sexagésimo terceiro de uma série de apresentações, promovidas por inúmeras personalidades, narrando a história de Urântia, até o tempo do aparecimento de Michael na Terra, à semelhança da carne mortal. A existência destes documentos foi autorizada por uma comissão de Nébadon, de doze membros ativos, sob a direção de Mantútia Melquisedeque. Nós ditamos estas narrativas e as colocamos na língua inglesa, por uma técnica autorizada pelos nossos superiores, no ano 1935 d.C. do tempo de Urântia.]